(Por Arnaldo Silva) Desde sua construção em 1897, a Praça da Liberdade em Belo Horizonte foi palco de encontros de amigos, de feiras, passeios, manifestações culturais e políticas, além de ser, desde sua origem, o ponto turístico mais importante de Minas. É na Praça da Liberdade que estão as principais construções em ecléticas, o Palácio da Liberdade, coreto e belos jardins, inspirados nos belos jardins franceses e até bem há pouco tempo, foi o centro administrativo de Minas, sediando o Governo do Estado.
Construída para homenagear a emancipação da República da Coroa Portuguesa e para ser o centro administrativo e político do Estado, a Praça da Liberdade foi palco entre os dias 2 e 3 de agosto de 2024, de um marco histórico para Minas Gerais. (fotografia acima e abaixo de Nacip Gômez)
Foram dois dias de manifestação de uma das mais autênticas e genuínas festas folclóricas mineira que nasceu nas senzalas mineiras no século XVIII, as Congadas e Reinados de Nossa Senhora do Rosário.
A Festa do Rosário dos Homens Pretos
Reconhecimento oficial
É uma festa que surgiu do sincretismo religioso, ou seja, a união da fé cristã às memórias das culturas africanas, trazidas para Minas Gerais durante o Ciclo do Ouro entre os séculos XVII, XVIII e XIX por diversos povos trazidos da África. (fotografia acima e abaixo de Nacip Gômez)
A presença dos povos negros em Minas, não se resume em mais de 300 anos erguendo pedras, escavando rochas em minas de ouro ou calçando ruas. A influência dos povos africanos em Minas Gerais está presente na culinária, no sotaque, na formação social, cultural e política mineira.
A sabedoria e memórias da cultura e história dos escravizados foram repassadas aos seus descendentes e permanecem vivas até o dias de hoje, manifestadas principalmente na Festa de Nossa Senhora do Rosário por toda Minas Gerais.Reconhecimento oficial
Nesses dois, a cultura mineira pôde celebrar e comemorar o reconhecimento oficial das Congados e Reinadeiros como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais. Trata-se do reconhecimento da afromineiridade presente na festa, majoritariamente formada por negros e pardos. (fotografia acima e abaixo da Márcia Rodrigues)
A origem e os cânticos tradicionais das Congadas e Reinadeiros, as indumentárias, os mastros, vilões, tambores, rezas, cânticos e a cor da pele não nega a origem histórica dessa cultura, nascidas a partir dos modos de vida dos africanizados. A simbologia dos ternos de Congadas e Reinadeiros é a expressão da arte, fé, resistência e principalmente da união dos povos negros mineiros. É a materialização concreta da força dessa união que resiste há mais de 300 anos.
Reconhecer as Congadas e Reinados como Patrimônio Cultural de Minas, visa exatamente isso. Reconhecer a origem, a luta e resistência dos povos negros mineiros. Não é apenas um reconhecimento da contribuição dos negros em nossa história e cultura. É a valorização.
36 ternos e 1500 Reinadeiros
Reconhecer as Congadas e Reinados como Patrimônio Cultural de Minas, visa exatamente isso. Reconhecer a origem, a luta e resistência dos povos negros mineiros. Não é apenas um reconhecimento da contribuição dos negros em nossa história e cultura. É a valorização.
36 ternos e 1500 Reinadeiros
Nesses dois dias, a Praça da Liberdade ficou repleta de Congadeiros e Reinadeiros que vieram de várias cidades mineiras para acompanhar o ato oficial. Vestidos com suas tradicionais fardas e indumentárias, tocando seus tradicionais instrumentos, venerando a fé nos santos ligados à origem do Reinado e Congado, São Benedito, Santa Efigênia, Nossa Senhora das Mercês e Nossa Senhora do Rosário, deram mostras da força e resistência ao resistem 3 séculos de opressão, racismo e preconceito. Venceu a fé e a coragem desse valioso povo. (fotografia acima e abaixo de Nacip Gômez)
Foram mais de 1500 Reinadeiros e Congadeiros e Reinadeiros que vieram de várias cidades mineiras para acompanhar a solenidade, acompanhados também de diversos secretários de cultura e turismo. A praça ficou colorida com a beleza das cores vivas dos 36 ternos de reinados e congados. Com suas danças e cantos tradicionais, despertaram a curiosidades dos frequentadores da Praça da Liberdade, que ficaram sem entender do que se tratava. Paravam para ver e muitos até participavam das rezas e cantorias.
A decisão de oficializar as Congadas e Reinados
A decisão de oficializar as Congadas e Reinados
Nos últimos anos, várias cidades mineiras vem requisitando junto aos órgãos culturais, o reconhecimento oficial das respectivas festas do Rosário e ternos de Congadas e Reinados mineiros. Foram mais de 900 pedidos de reconhecimento. Diante disso, em vez de reconhecer a festa do Rosário, Congadas e Reinadeiros por cidade ou por terno, optou-se por viabilizar o reconhecimento das Congadas e Reinados do Rosário como um todo, reconhecendo oficialmente o que fato a Festa do Rosário, os ternos de Congadas e Reinado é para os mineiros há mais de 200 anos, uma das nossas mais valiosas manifestações culturais e históricas.(fotografia acima de Nacip Gômez)
Diante disso, em 2021, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG) iniciou pequisas visando a catalogação, importância histórica, social e cultural da Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, dos Reinadeiros e Congadas de Minas Gerais, a fim de produzir um dossiê, visando o reconhecimento como Patrimônio Cultural de Minas Gerais. O dossiê foi concluído em 2024 e a divulgação oficial se deu no dia 3 de agosto, às 15 horas, no Palácio da Liberdade. Coube ao Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) apresentar o dossiê.
Solenidade oficial
Diante disso, em 2021, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG) iniciou pequisas visando a catalogação, importância histórica, social e cultural da Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, dos Reinadeiros e Congadas de Minas Gerais, a fim de produzir um dossiê, visando o reconhecimento como Patrimônio Cultural de Minas Gerais. O dossiê foi concluído em 2024 e a divulgação oficial se deu no dia 3 de agosto, às 15 horas, no Palácio da Liberdade. Coube ao Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) apresentar o dossiê.
Solenidade oficial
O reconhecimento das Congadas e Reinados pelo Estado é de grande importância porque significa a garantia de ações governamentais de salvaguarda e proteção de suas origens e história, desde sua popularização, a partir de Ouro Preto MG, na segunda metade do século XVIII, até os dias de hoje. (fotografia acima de Dirceu Aurélio/Imprensa-MG)
A importância da antiga Vila Rica foi reconhecida durante o hasteamento da histórica bandeira de Nossa Senhora do Rosário na frente do Palácio da Liberdade. Ao lado, foi colocada a bandeira de Ouro Preto MG, feita com técnicas africanas, em ferro fundido, há mais de 200 anos. Essa bandeira foi encontrada na Capela de Nossa Senhora das Necessidades em 2020, em Ouro Preto MG, nossa joia histórica, Patrimônio da Humanidade desde 1980.
A importância da antiga Vila Rica foi reconhecida durante o hasteamento da histórica bandeira de Nossa Senhora do Rosário na frente do Palácio da Liberdade. Ao lado, foi colocada a bandeira de Ouro Preto MG, feita com técnicas africanas, em ferro fundido, há mais de 200 anos. Essa bandeira foi encontrada na Capela de Nossa Senhora das Necessidades em 2020, em Ouro Preto MG, nossa joia histórica, Patrimônio da Humanidade desde 1980.
Na abertura do anúncio do reconhecimento, foi feito o hasteamento da histórica bandeira de Nossa Senhora do Rosário, na frente do Palácio e, ao lado, foi exibida também a bandeira em ferro fundido de Ouro Preto, trazidos pelos Congadeiros e Reinadeiros em cortejo ao som dos tambores e cantoria dos ternos. (fotografia acima de Nacip Gômez)
No momento do anúncio do reconhecimento, em seu discurso, o vice-governador Mateus Simões pontou: "As primeiras festas de congado são do ano de 1697, conduzidas, obviamente, pelas comunidades escravas daquele momento. O reconhecimento e luta pela libertação, que inclusive compõem os enredos das congadas, é uma forma de reconhecer e valorizar o papel anterior e presente da cultura afromineira na formação do que é Minas Gerais. Então, eu tenho certeza que esse marco é uma forma de demonstrar a integração necessária deste Estado multicultural que é Minas Gerais, que os negros são parte importantíssima da construção da nossa história. Isso tudo mostra que eles foram, são e sempre serão parte da cultura de Minas Gerais".
Já o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas de Oliveira, em seu discurso, disse: "Acho que esse palácio está mais livre hoje. E também mais protegido. Porque, pela força da lei e do reconhecimento do patrimônio histórico, a gente protege e reconhece essas expressões. Esse povo (do Congado e Reinado) está mais protegido, para que as manifestações que eles desenvolvem tenham, através da história, permanência".
Presente na solenidade, o arquiteto e urbanista João Paulo Martins, atual presidente do Iepha/MG, disse que "Além da importância dessa valoração, também se trata de poder falar, trazer o congado para o centro das discussões. É ainda reafirmar uma posição anti racista, reconhecer o povo negro ao manter sua cultura e tradição, que constituem Minas Gerais".
Além disso, durante a solenidade, foi feito o anúncio das rotas do Rosário em Minas Gerais. São rotas turísticas criadas e outras que poderão vir a ser criadas de acordo com a tradição da região, seja apenas uma cidade ou formada por um número de cidades próximas. O objetivo é fortalecer a festa e a tradição, além de promover o turismo nas cidades dessas rotas, atraindo assim turistas e fomentando a economia nas cidades dessas rotas.
No momento do anúncio do reconhecimento, em seu discurso, o vice-governador Mateus Simões pontou: "As primeiras festas de congado são do ano de 1697, conduzidas, obviamente, pelas comunidades escravas daquele momento. O reconhecimento e luta pela libertação, que inclusive compõem os enredos das congadas, é uma forma de reconhecer e valorizar o papel anterior e presente da cultura afromineira na formação do que é Minas Gerais. Então, eu tenho certeza que esse marco é uma forma de demonstrar a integração necessária deste Estado multicultural que é Minas Gerais, que os negros são parte importantíssima da construção da nossa história. Isso tudo mostra que eles foram, são e sempre serão parte da cultura de Minas Gerais".
Já o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas de Oliveira, em seu discurso, disse: "Acho que esse palácio está mais livre hoje. E também mais protegido. Porque, pela força da lei e do reconhecimento do patrimônio histórico, a gente protege e reconhece essas expressões. Esse povo (do Congado e Reinado) está mais protegido, para que as manifestações que eles desenvolvem tenham, através da história, permanência".
Presente na solenidade, o arquiteto e urbanista João Paulo Martins, atual presidente do Iepha/MG, disse que "Além da importância dessa valoração, também se trata de poder falar, trazer o congado para o centro das discussões. É ainda reafirmar uma posição anti racista, reconhecer o povo negro ao manter sua cultura e tradição, que constituem Minas Gerais".
Além disso, durante a solenidade, foi feito o anúncio das rotas do Rosário em Minas Gerais. São rotas turísticas criadas e outras que poderão vir a ser criadas de acordo com a tradição da região, seja apenas uma cidade ou formada por um número de cidades próximas. O objetivo é fortalecer a festa e a tradição, além de promover o turismo nas cidades dessas rotas, atraindo assim turistas e fomentando a economia nas cidades dessas rotas.