(Por Arnaldo Silva) Saber como era a vida das mulheres, não só mineiras, como brasileiras em geral, no século XIX e anteriores, é uma curiosidade que todos temos. Como no século XIX a fotografia era rara no Brasil, embora existisse, era restrita a poucos. A base para nossa imaginação eram as gravuras feitas por artistas plásticos da época que hoje ilustram livros de história.
A influência dos modos e costumes caipira
Com base em gravuras existentes nesses livros e pinturas de artistas entre 1800 a 1860, é possível hoje refazê-las usando a IA. Foi assim, usando informações iconográficas disponíveis em livros de histórias e gravuras que retratam a vestimenta feminina dessa época, que Felipe Oliveira, editor da Paulistânia Caipira/@paulistaiacaipira, fez as imagens que ilustram essa matéria. Não é a reprodução 100% exata de como eram as feições e vestimentas das mulheres naquela época, já que pinturas não são reproduções exatas das feições e dos lugares pintados em tela. Mas as imagens em IA são bem próximas da realidade, além de nos permitir entender como as mulheres se vestiam, seus hábitos e costumes nos anos de 1800-1860.
Nessa época, a cultura, a música, a vestimenta, as tradições, o linguajar, os modos e costumes tinham fortes influências da cultura bandeirante e tropeira. Minas Gerais, juntamente com Mato Grosso, Goiás, parte do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande Sul, fazia parte parte da área de abrangência e influência cultural da Paulistânia Caipira, expandida pelos bandeirantes e tropeiros por toda essa região. Minas Gerais, durante o Ciclo do Ouro, foi o Estado que mais recebeu bandeirantes e tropeiros paulista, por isso, recebeu uma grande influência da cultura caipira, não apenas na música, linguajar, mas na vestimenta, modos e costumes.
Os costumes e modos de vestir dos bandeirantes e tropeiros naquela época, são bastante parecidos entre mineiros e paulistas, principalmente na vestimenta das mulheres, com pouquíssimas diferenças. Tanto as mulheres paulistas, quanto mineiras, principalmente nas regiões Sul de Minas, Triângulo Mineiro, Centro-Oeste e Região Central, tinha modos, costumes e vestimentas que pouco se diferenciavam.
Seguiam a tendência da moda da época, como acontece até os dias de hoje. Segue-se uma moda, um estilo. Antigamente era assim também.A influência dos modos e costumes caipira
A vestimenta das mulheres mineiras, paulistas, goianas, mato-grossenses, paranaenses, catarinenses e gaúchas, teve influência da cultura ibérica com costumes castelhanos, presentes no cotidiano e costumes paulistas. Este estilo foi introduzido pelos colonizadores portugueses em São Paulo, entre os séculos XVI e XVI. Foi nessa época que teve origem a cultura caipira, que abrange os costumes, tradições, cultura, música, estilo de vida, de se vestir, fala, comer. Enfim, que abrangia todo o cotidiano da região de influência paulista, nessa época.
Esse estilo foi se expandindo pela área de influência da Paulistânia Caipira, na medida que bandeirantes e tropeiros foram adentrando pelas regiões Sul do Brasil, Centro-Oeste e Sudeste. O estado que recebeu maior influência foi Minas Gerais, devido a descoberta de ouro no final do século XVII. Como consequência, dezenas de milhares de pessoas começaram a chegar à Minas Gerais para trabalharem na mineração. Em sua maioria, paulistas, em busca da riqueza do ouro.
Foi nessa época que aumentou a influência da cultura caipira em Minas, bem como todos os seus modos e costumes. Uma das dessas influências era no modo de vestir das mulheres mineiras. Esse tipo de vestimenta, bastante estranha aos olhos de hoje, era normal entre a meninas, moças e mulheres daquele tempo, não só em Minas, mas nas regiões da presença da influência da cultura caipira.
Vestimenta de influência Ibérica
Foi nessa época que aumentou a influência da cultura caipira em Minas, bem como todos os seus modos e costumes. Uma das dessas influências era no modo de vestir das mulheres mineiras. Esse tipo de vestimenta, bastante estranha aos olhos de hoje, era normal entre a meninas, moças e mulheres daquele tempo, não só em Minas, mas nas regiões da presença da influência da cultura caipira.
Vestimenta de influência Ibérica
As mulheres dessa época trajavam sempre roupas relativamente escuras e sóbrias, acompanhada de um manto de lã feltrado e preto, chamado de baeta. Completava ainda a vestimenta um xale ou sua mantilha preta, véu e rendas nas mãos, igualmente escuras. Essa vestimenta envolvia todo o corpo da mulher.
Esse modo de vestir das mulheres foi introduzido no processo civilizatório português em São Paulo, e estabelecendo-se definitivamente com a União Ibérica (que foi unificação da Coroa Portuguesa e Espanhola que regeu a política dessas nações entre 1580-1640). Esse modo de vestir, bem como vários outros costumes, teve então a influência mesclada dos estilos português e espanhol, introduzido no cotidiano paulista entre os séculos XVI e XVII e expandido para a área de influência das entradas e bandeiras paulistas.
Esse modo de vestir das mulheres foi introduzido no processo civilizatório português em São Paulo, e estabelecendo-se definitivamente com a União Ibérica (que foi unificação da Coroa Portuguesa e Espanhola que regeu a política dessas nações entre 1580-1640). Esse modo de vestir, bem como vários outros costumes, teve então a influência mesclada dos estilos português e espanhol, introduzido no cotidiano paulista entre os séculos XVI e XVII e expandido para a área de influência das entradas e bandeiras paulistas.
Inclusive, os trajes que cobrem a imagem original e as réplicas de Nossa Senhora Aparecida, baseiam-se nos costumes e modo de vestir das mulheres dessa época.
Esse tipo de roupa era usado aos domingos, feriados religiosos e em dias de missa. Eram roupas bastante sóbrias e com ares bem sombrios. Todo em tom escuro, com xale ou mantilha preta, véu e rendas, também em tons escuros. Cobria o corpo todo, deixando apenas à mostra o rosto e mãos da mulher.
Esse tipo de roupa era usado aos domingos, feriados religiosos e em dias de missa. Eram roupas bastante sóbrias e com ares bem sombrios. Todo em tom escuro, com xale ou mantilha preta, véu e rendas, também em tons escuros. Cobria o corpo todo, deixando apenas à mostra o rosto e mãos da mulher.
No dia a dia, as vestimentas eram também sóbrias, sem muita extravagância, mas usando outras cores além do preto, como o vermelho, nos xales, rendas coloridas e chapéus com laços e flores. Muitas das mulheres não dispensavam o cachimbo.
Impressões de cientistas e pesquisadores estrangeiros
Impressões de cientistas e pesquisadores estrangeiros
Saint-Hilaire, cientista francês que teve autorização da Coroa Portuguesa para viajar pelo Brasil estudando e pesquisando a fauna, flora e costumes do brasileiro, quando esteve em São Paulo, conheceu e descreveu esse modo de vestir, deixando esse relato:
"Em São Paulo, as negras e mulatas, e em geral as mulheres do povo, aparecem nas igrejas com a cabeça e o corpo envoltos em pano preto. As mulheres de classe mais elevada põem na cabeça e nos ombros uma mantilha de casimira preta com que escondem quase inteiramente o rosto, mantilha esta debruada de larga renda da mesma cor"
Muitas mulheres paulistas, em pleno século XIX, apegavam-se às vestimentas e às posturas do tempo dos bandeirantes, e mesmo quem havia convivido com as novidades da Corte imperial, permanecia fiel aos confortáveis costumes dos primeiros séculos de colonização. A Marquesa de Santos, quando voltou a São Paulo depois do período de convivência com Dom Pedro I, fazia o uso destas vestes.
Isabel Burton, esposa do célebre viajante inglês Richard Burton, conheceu-a, na década de 1860, pouco antes de sua morte.
Isabel Burton conta que a marquesa, já idosa, se adaptara aos modos de sentar da velha São Paulo de Piratininga: “a última vez em que a vi, recebeu-me na intimidade de sua cozinha, onde sentava-se no chão, fumando, não um cigarro, mas um cachimbo”
Visitando Guaratinguetá em 1822, Saint-Hilaire descreveu a vestimenta das mulheres:
"Em São Paulo, as negras e mulatas, e em geral as mulheres do povo, aparecem nas igrejas com a cabeça e o corpo envoltos em pano preto. As mulheres de classe mais elevada põem na cabeça e nos ombros uma mantilha de casimira preta com que escondem quase inteiramente o rosto, mantilha esta debruada de larga renda da mesma cor"
Muitas mulheres paulistas, em pleno século XIX, apegavam-se às vestimentas e às posturas do tempo dos bandeirantes, e mesmo quem havia convivido com as novidades da Corte imperial, permanecia fiel aos confortáveis costumes dos primeiros séculos de colonização. A Marquesa de Santos, quando voltou a São Paulo depois do período de convivência com Dom Pedro I, fazia o uso destas vestes.
Isabel Burton, esposa do célebre viajante inglês Richard Burton, conheceu-a, na década de 1860, pouco antes de sua morte.
Isabel Burton conta que a marquesa, já idosa, se adaptara aos modos de sentar da velha São Paulo de Piratininga: “a última vez em que a vi, recebeu-me na intimidade de sua cozinha, onde sentava-se no chão, fumando, não um cigarro, mas um cachimbo”
Visitando Guaratinguetá em 1822, Saint-Hilaire descreveu a vestimenta das mulheres:
"As mulheres pobres andam com as pernas e muitas vezes os pés nus, usam saia e camisa de algodão, e levam aos ombros uma capa ou um grande pedaço de pano azul ou preto, tendo à cabeça um pequeno chapéu de feltro em forma de prato"
Além do cientista francês, outros ilustres pesquisadores e viajantes descreveram esse modo de vestir, como Carl Friedrich Gustav Seidler, um viajante suíço alemão, que em visita à São Paulo em 1825 fez essa análise sobre esse tipo de vestimenta:
Além do cientista francês, outros ilustres pesquisadores e viajantes descreveram esse modo de vestir, como Carl Friedrich Gustav Seidler, um viajante suíço alemão, que em visita à São Paulo em 1825 fez essa análise sobre esse tipo de vestimenta:
"...As senhoras e moças aqui se vestem de preto ou de cores variegadas, cada qual seguindo, quanto a cores, seu gosto pessoal e não os rigores da moda. Os povos meridionais(paulistas) sempre fizeram assim e é forçoso reconhecer que, nessa escolha, têm uma percepção segura. Veem-se as mulheres nas igrejas trajadas de modo belo e decente, com vestidos de seda preta, pesadamente ornados de vidrilhos ou com uma larga guarnição de encantadores babados.
Não lhes falta o véu, flutuando como leve nuvem sobre as fartas madeixas e permitindo, como o leque, variadíssimos jogos. No teatro e nos bailes, aparecem com vestidos de gases policrômicos, cobertos de inúmeras flores e laçarotes de fitas, saiotes de cetim, corpete igual, bordado a ouro ou prata, rico diadema, flores e plumas nos cabelos em agradável combinação".