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domingo, 21 de maio de 2023

As cidades da Região do Médio Piracicaba

(Por Arnaldo Silva) As cidades do Médio Piracicaba formam o berço histórico do início da mineração no Estado de Minas Gerais. Fundadas a partir do final do século XVII, durante o século XVIII e XIX, a região é formada por 9 municípios. Em ordem alfabética: Alvinópolis, Bela Vista de Minas, Itabira, João Monlevade, Nova Era, Rio Piracicaba, Santa Bárbara, São Domingos do Prata e São Gonçalo do Rio Abaixo.
          São cidades tradicionais, históricas, cheias de belezas naturais e arquitetônicas, com forte predominância econômica, até os dias de hoje, da mineração e em menor proporção a agricultura, pecuária, prestação de serviços, outras atividades industriais, além do turismo já que são cidades de origem secular com grande patrimônio cultural, artísticos e arquitetônico, dotadas ainda de belezas. Naturais.
          Juntos, esses nove municípios somam 320.156 habitantes (dados do IBGE/2021), além de responderem por 2,5% do PIB de Minas Gerais.
          Além disso, preservam em sua maioria, as tradições genuínas de Minas Gerais, desde suas origens, no século XVIII, preservando o Montanhês, que é o sotaque tradicional mineiro, a culinária típica, o folclore, tradições religiosas, bem como suas características arquitetônicas, barrocas e coloniais.
As 9 cidades do Médio Piracicaba
- Itabira          
          A conhecida cidade onde nasceu o poeta Carlos Dumont de Andrade, está a 111 km de Belo Horizonte e conta hoje com cerca de 114 mil habitantes. Itabira é um município de grande extensão territorial, ocupando uma área de 1.253,704 km². Faz divisa com Itambé do Mato Dentro, Jaboticatubas, Nova União, Bom Jesus do Amparo, João Monlevade, São Gonçalo do Rio Abaixo, Bela Vista de Minas, Nova Era e Santa Maria de Itabira. (na foto acima de Arnaldo Quintão, o Centro Histórico de Itabira e a abaixo a Mata do Intelecto com vista parcial da cidade.)
          Sua origem data do final do século XVII, sendo povoada a partir do século XVIII, graças a exploração mineral, principalmente de minério de ferro, estando instaladas no município mineradoras, como a Vale S.A, por exemplo.
          Além da beleza do casario do Centro Histórico da cidade com casarões e sobrados do século XVIII e XIX, a Praça do Centenário, a Catedral de Nossa Senhora do Rosário, o Museu de Território Caminhos Drummondianos, o Parque Municipal da Água Santa, onde estão as águas térmicas que brotam das profundezas da terra.
          Conta ainda com atrativos naturais como a Mata do Limoeiro, a Pedra da Igreja, a Serra do Bicudo e a Serra dos Alves, bem como diversas cachoeiras em destaque as cachoeiras dos Cristais, do Campo, da Boa Vista, do Limoeiro e do Meio.
          Além disso, em Itabira está a Serra dos Alves, uma charmosa e atraente vila colonial e Ipoema, um dos mais tradicionais distritos de Minas Gerais, onde está o Museu do Tropeiro e o Morro Redondo. (na foto acima do Nacip Gômez)
- Alvinópolis
          Distante 162 km de Belo Horizonte, o município conta com um pouco mais de 15 mil habitantes. Faz divisas com Barra Longa, Catas Altas, Dom Silvério, Mariana, Rio Piracicaba, Santa Bárbara e São Domingos do Prata. (fotografia acima do Elpídio Justino de Andrade)
          O povoamento de Alvinópolis começou no final do século XVII, quando foi encontrado ouro no Rio Gualaxo Norte, pelo sertanista Paulo Moreira da Silva. A partir da descoberta, fixou moradia às margens do Rio do Peixe, devido a ótima fertilidade das terras no local, iniciando assim um povoamento que cresceu, foi elevado a freguesia, vila, distrito e à cidade em fevereiro de 1891. A cidade passou a adotar o nome Alvinópolis em homenagem ao ex governador mineiro, Cesário Alvin.
          Já no século XX, o município recebeu um grande número de imigrantes italianos, vindos do norte da Itália. Por esse motivo, nomes e sobrenomes italianos são bastante comuns na cidade. Além disso, a centenária Companhia Fabril Mascarenhas atua na cidade desde o início do século XX, e ainda na ativa até os dias de hoje, produzindo para todo o Brasil, tecidos de chita e chitão, gerando centenas de empregos diretos e indiretos no município. Alvinópolis é a Capital da Chita no Brasil.
          Por suas terras férteis, foi durante o Ciclo do Ouro um importante centro de produção de alimentos para as cidades de grande fluxo de mineração. Além disso, o município foi uma importante rota de tropeiros, estando ainda inserido na Estrada Real.
          Cidade de boa estrutura urbana, comércio variado e um bom setor de prestação de serviços, Alvinópolis preserva sua arquitetura colonial, suas igrejas históricas, bem como sua vocação para a agropecuária.
- Bela Vista de Minas
          O município com pouco mais de 10 mil habitantes, está a 120 km de Belo Horizonte e faz divisa com João Monlevade, Nova Era, Itabira, São Domingos do Prata e Rio Piracicaba. (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade, vista parcial da cidade)
          Até 30 de dezembro de 1962, Bela Vista de Minas era distrito de Nova Era MG, tendo sido elevada à cidade emancipada nesta data.
          Cidade tipicamente mineira, tem boa parte de seu território cortado pela Estrada de Ferro Vitória Minas. Além do trem, tem como destaque a estátua do Cristo, de 4 metros de altura, construída em fibra de vidro. O monumento, um dos atrativos turísticos da cidade, foi doado pela família de Luci de Melo Bastos e está localizado às margens da BR-381.
          Além disso, a Matriz de São Sebastião, a Igreja de Nossa Senhora de Fátima e as festas do Reinado são atrativos religiosos da cidade. Tem ainda a Cachoeira do Taquaril que é um atrativo natural estruturado com acampamento, churrasqueira e banheiros.
          Outro evento atrativo Belo Vista de Minas é a Cavalgada e o Bellafolia, eventos que atraem um grande número de visitantes à cidade.
- João Monlevade
          Com cerca de 81 mil habitantes, João Monlevade, a 110 km de Belo Horizonte, faz divisa com Itabira, Bela Vista de Minas, São Gonçalo do Rio Abaixo e Rio Piracicaba. Cidade desenvolvida, muito bem estruturada, com boa estrutura de prestação de serviços, comércio diversificado, possui acesso fácil pela BR-381, bem como ligação à Belo Horizonte e Vitória, através do Trem Vitória-Minas que passa dentro da cidade. (na foto acima de Marley Mello, vista parcial da cidade)
          A cidade da cidade começou em agosto de 1817 com a chegada à região do francês Jean-Antoine Félix Dissandes de Monlevade. Conhecido por Jean Monlevade, o francês era engenheiro e pesquisador. Na região, à época coberta por densa Mata Atlântica, comandou estudos sobre o potencial mineralógico e geológico do local, encontrando vastas jazidas de minério de ferro.
          Com a descoberta das jazidas, Jean Monlevade fixou-se na região, dando origem assim a formação de um povoado, que se tornou freguesia, vila, distrito e finalmente cidade emancipada em 29 de abril de 1964, adotando o nome de João Monlevade, em homenagem ao engenheiro francês Jean Monlevade.
          Nessa época, a cidade era uma das mais desenvolvidas de Minas, graças a mineração e instalação, em 1921, da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, indústria hoje pertencente a Arcelor Mittal Aços Longos.
          Como atrativos, João Monlevade conta com vários atrativos históricos, culturais e naturais.
          Em destaque, a Matriz de São José Operário, construída na década de 1940, única igreja no mundo construída em V, lembrando um cálice (na foto acima da Elvira Nascimento); a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes; a Fazenda Solar, formada no século XIX, por escravos e a Forja Catalã, construída na década de 1910 para abrigar Jean-Antoine Félix Dissandes de Monlevade; a Serra do Seara, o ponto mais alto do município, o Floresta Clube Henry Meyers um clube social, que conta ainda com uma imensa área verde com 100 mil m², ótimos para passeios ambientais e prática de esportes.
          Além disso tem o Parque Municipal do Areão, onde são realizados exposições agropecuárias, além de contar ainda com uma pequena reserva ambiental. No decorrer do ano, várias festas populares e religiosas acontece em João Monlevade como o Carnaval, as comemorações do aniversário da cidade em abril, o Dia do Trabalhador, as Festas Juninas, a Cavalgada, Reinado e Folia de Reis, além das festas Natalinas.
- Nova Era
          É uma das mais antigas povoações de Minas Gerais. Nova Era tem origens em 19 de março 1703, com a chegada à região dos bandeirantes Antônio Dias de Oliveira e irmãos Camargos, em busca de pedras preciosas. São José, desde a origem da cidade é seu santo padroeiro, por ter sido no dia do santo, 19 de março, o dia da chegada dos bandeirantes e início da formação do povoado, chamado no início de São José da Lagoa. (fotografia acima de Thiago Andrade)
          Mesmo sendo uma das mais antigas povoações mineiras, foi elevada à cidade apenas em 17 de dezembro de 1938.
          O município está a 137 km de Belo Horizonte e tem ligação com a capital através da BR-381, pela BR-262 já que está a 20 km desta rodovia e por ferrovia, através Trem Vitória Minas. Faz divisa com Santa Maria de Itabira, Itabira, Bela Vista de Minas, São Domingos do Prata e Antônio Dias.
          Cidade tranquila, bem estruturada, com um casario histórico charmoso e bem preservado e com boa estrutura urbana, Nova Era se destaca na mineração, como a maioria das cidades do Médio Piracicaba, mas também no turismo, justamente por sua história e belezas naturais.
          Em destaque a Matriz de São José da Lagoa e o seu casario colonial, a Lagoa São José, a Ponte Benedito Valadares, a Gruta de São José, O Centro de Educação Ambiental, as festas Juninas, a Semana Santa, a Coração de Nossa Senhora em maio, o Desagravo ao Sagrado Coração de Jesus em junho, o tradicional Pastel de São José e o Rio Piracicaba, que banha a cidade. 
- Rio Piracicaba
          Rio Piracicaba, distante 127 km de Belo Horizonte, conta cerca de 15 mil habitantes. O município faz divisa com Bela Vista, João Monlevade, São Gonçalo do Rio Abaixo, Santa Bárbara, Alvinópolis e São Domingos do Prata. Também banhada pelo Rio Piracicaba de ponta a ponta, a cidade que recebe o nome do rio, foi fundada em 29 de setembro de 1713 e emancipada em 30 de agosto de 1911. (foto acima de Elpídio Justino de Andrade, a estação ferroviária e a cidade ao fundo)
          Cidade tranquila, charmosa, com boa estrutura urbana e um comércio variado, tem acesso rodoviário fácil pela BR-262 e BR-381, além de acesso por ferrovia, através do trem de passageiros Vitória Minas, que faz parada na cidade.
          A base de sua economia é a agricultura de subsistência, a pecuária leiteira, pequenos comércios e principalmente a extração do minério de ferro.
          Como atrativos, a cidade tem o Rio Piracicaba, a Estação Ferroviária, as igrejas de São Miguel, do Bom Jesus e de Nossa Senhora do Rosário, a Praça Getúlio Vargas, a Gruta de São Judas Tadeu e as cachoeiras do Carvalho, do Ribeirão Caxambu e do Talho Aberto.
- Santa Bárbara
          Fundada em 4 de dezembro de 1704, no início do Ciclo do Ouro, é uma das mais antigas povoações de Minas Gerais e uma das mais belas cidades históricas de Minas Gerais. Santa Bárbara está a 105 km de Belo Horizonte, com acesso pela BR-381, BR-262 e MG-436. O município faz divisa com Alvinópolis, Barão de Cocais, Catas Altas, Caeté, Itabirito, Mariana, Ouro Preto, Rio Acima, Rio Piracicaba e São Gonçalo do Rio Abaixo. (na foto acima da Elvira Nascimento as igrejas de Santo Antônio de Pádua e de Nossa Senhora do Rosário)
          Cidade histórica de beleza única, turística, com paisagens bucólicas, harmoniosas e cênicas, conta com 32 mil habitantes, atualmente. Encontra-se bem no centro da Estrada Real e seu povo é muito acolhedor e hospitaleiro.
          Sua economia tem como base a extração mineral do ouro e principalmente do ferro e ainda na produção de mel e derivados da silvicultura, no plantio de eucalipto para a produção de celulose, na agropecuária e também no turismo, atraídos por sua relevante beleza arquitetônica colonial, cultura, religiosidade, culinária típica, paisagens naturais deslumbrantes, que permitem a prática de esportes radicais e fazendas centenárias.
          Destacam-se no turismo os casarões e sobrados coloniais, o Santuário do Caraça, o Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens, a Matriz de Santo Antônio, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, a Casa do Mirante, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o Relógio do Sol, a Capela da Arquiconfraria do Cordão de São Francisco, o Memorial Affonso Penna, a Casa de Cultura, a antiga estação ferroviária e o Parque Recanto Verde, além de cachoeiras, trilhas e paisagens montanhosas belíssimas e a Vila Colonial de Brumal, uma das mais antigas povoações de Minas.
- São Domingos do Prata
          Distante 30 km de João Monlevade e 136 km de Belo Horizonte, São Domingos do Prata conta com cerca de 18 mil habitantes. A base de sua economia é a pequena e média indústria, pequenos comércios e principalmente a agricultura e pecuária. Faz divisa com Antônio Dias, Jaguaraçu, Nova Era, Bela Vista de Minas, Rio Piracicaba, Alvinópolis, Dom Silvério, Sem-Peixe, São José do Goiabal, Dionísio e Marliéria. Cidade bem estruturada e bem organizada, conta com um comércio variado e um setor de prestação de serviços de boa qualidade. (fotografia acima de Elvira Nascimento)
          Sua origem tem início a partir de meados do século XVIII, com a chegada à região de Domingos Marques Afonso, detentor de uma sesmaria de terras férteis na região.
          Região tomada por imensas florestas de Mata Atlântica, habitada pelo povo indígena Botocudo, Domingos adentrou-se no meio da mata, se perdendo de seu ponto de origem. Temia por sua vida, já que podia ser atacado pelos Botocudos ou mesmo, por animais selvagens. Era o ano de 1.758.
          Sem esperanças de sair vivo da mata, deixou gravado no tronco de uma sapoquema a frase: "Aqui passei uma noite às claras, esperando o momento de ser atacado pelos Bugres e pelas onças ou ser picado por uma cobra venenosa". 23 de março de 1758, Domingos Marques Afonso. A árvore com essa inscrição foi encontrada em 1870, confirmando o relato popular da época.
          Como era devoto de São Domingos de Gusmão, prometeu ao santo Católico que se saísse vivo da mata, doaria uma parte de suas terras para a construção de uma igreja em honra ao santo. Por sua fé, conseguiu sair da mata e chegar são e salvo a sua casa. E cumpriu a promessa iniciando a construção da capela em honra a São Domingos de Gusmão em 1760. Em torno da capela formou-se um povoado que cresceu, se tornou freguesia, vila, distrito e cidade emancipada. Três de março de 1891 é oficialmente a data de fundação da cidade.
          Hoje, a primitiva capela deu origem a uma belíssima igreja, a Matriz de São Domingos de Gusmão. A cidade manteve o nome de São Domingos, substituindo “de Gusmão” para “do Prata” em alusão ao Rio da Prata que banha a cidade. (foto acima de Thiago Andrade)
          São Domingos do Prata faz parte do Circuito Turístico Mata Atlântica de Minas por isso mesmo é dotado de belezas naturais de tirar o fôlego como belíssimas cachoeiras, trilhas, prática de esportes radicais como voo livre, a Pedra da Baleia, mata nativa preservada, além de suas igrejas e construções históricas, seu artesanato variado e seu povo acolhedor e bastante hospitaleiro.
          Além disso, a cidade tem tradição em festas de grande participação regional como por exemplo o Festival Gastronômico com a participação de bares, lanchonetes e restaurantes da cidade e região, o Carnaval do Prata, as cavalgadas, o Encontro Nacional de Motociclistas, o Concerto das Estações, os festejos de aniversário da cidade, além de eventos culturais diversos e festividades religiosas como a Festa de São Domingos.
- São Gonçalo do Rio Abaixo
          Cidade pacata, tradicional, charmosa, com um povo bom e hospitaleiro, São Gonçalo do Rio Abaixo, distante 84 km de Belo Horizonte, conta atualmente com cerca de 12 mil habitantes. Faz divisa com João Monlevade, Rio Piracicaba, Santa Bárbara, Barão de Cocais, Bom Jesus do Amparo e Itabira. (fotografia acima de Marley Mello)

          O município tem origens no século XVIII, com a mineração, sendo até os dias de hoje sua principal atividade econômica. Do povoado que surgiu em 1720 com o nome de Rio Abaixo, tendo como padroeiro São Gonçalo do Amarante, surgiu a cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo, elevado a distrito em 1880 e emancipada em 30 de dezembro de 1962, quando se desmembrou de Santa Bárbara.
          Por existir outro distrito, também de Santa Bárbara, com o nome de São Gonçalo do Rio Acima, optou-se pelo nome São Gonçalo do Rio Abaixo, apenas para diferenciar uma da outra.
          Entre os atrativos turísticos em terras são-gonçalenses, destacam-se uma das principais atrações turísticas da Cemig, a Usina Hidrelétrica e Estação Ambiental do Peti. A usina, além de abastecer o município, abastece com energia elétrica os municípios vizinhos de Catas Altas, Barão de Cocais e Santa Bárbara e promove programas voltados para educação ambiental.
          Além disso, tem a Praça 1º de Março, onde encontra-se um belíssimo exemplar do estilo rococó mineiro, a Igreja Nossa Senhora do Rosário, o busto do Padre João e um charmoso casario em seu entorno.
          A cidade conta ainda como atrativos o Cruzeiro da Matriz, a Matriz de São Gonçalo, a Igreja de São Sebastião, a Igreja de Santa Efigênia, além da beleza da Serra do Catungui, o Centro Cultural São Gonçalo do Rio Abaixo e das cachoeiras da Cascata, do Seara e de São José.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

12 principais identidades mineiras - Segunda Parte

(Por Arnaldo Silva) Dando sequência ao tema sobre as principais identidades mineiras, essa é segunda parte com mais 12 identidades mineiras. A parte anterior, também com 12 identidades mineiras, somada com a segunda, formam um conjunto de 24 identidades mineiras formada pela cultura, culinária, folclore e religiosidade mineira. 
01- Esmaltados
          Bule, chaleira e principalmente canecas esmaltadas não faltavam nas casas mineiras. Era um luxo só! Estavam presentes nos currais para tomar leite ao pé da vaca, no bule, para tomar aquele cafezinho feito na hora. Mesmo hoje com tanta coisa nova, os esmaltados não saíram de moda e continua sendo sonho de consumo e luxo nas casas mineiras, usadas até como enfeites. É uma identidade mineira que realça a beleza da nossa cozinha. (foto acima de Chico do Vale)
02 - Viola Caipira 
           A viola faz parte da alma mineira, é uma das nossas identidades culturais, presente em Minas desde os tempos do Brasil Colônia. Presente na vida das famílias mineiras seja no campo ou na cidade. Uma cena comum e tradicional são as rodas de viola á beira de uma fogueira, entoando canções que retratam a vida do povo do interior. Na cidade, era instrumento imprescindível nas românticas serestas ao luar. Viola é tão importante para Minas que foi reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado de Minas. Viola é a alma musical do mineiro. (na foto acima de @arnaldosilva_oficial, viola caipira feita de bambu pelo luthier Cabral de Bom Despacho MG)
03 - Doce de leite
          Minas sempre foi destaque na produção de leite no Brasil. Atualmente é o maior produtor e claro, produz o melhor doce de leite. Ainda estamos numa briga danada com os argentinos, sobre quem inventou o doce de leite. Nós mineiros ou os Hermanos. Eu tenho certeza que fomos nós, isso faz tempo, desde o século 18 o doce de leite existe em Minas. Mas deixa essa briga pra lá, o importante é que doce de leite é uma das mais antigas e fortes tradições da nossa culinária. Saiu das senzalas das fazendas mineiras para nossa mesa. Doce mineiro é o melhor do Brasil, sem dúvida e combina perfeitamente com o nosso queijo Minas. Mineiro sentado numa mesa com queijo e aquele docindileite, tudo a ver.
04 - Carro de bois
          Antigamente, carro de bois era um trem que servia pra tudo. Era carro funerário, transportava mercadorias, servia de lotação e nas fazendas, era pau pra toda obra. O ouro de Minas ia para o porto de Paraty em carros de bois. Com o surgimento da indústria automobilística, foram com tempo caindo em desuso, se restringindo a poucas atividades nas fazendas. Mas é uma das mais nostálgicas identidades mineiras, tanto é que todos os anos, praticamente em toda Minas, as carreadas de carros de bois estão presentes. (foto acima de Wilson Fortunato)
05 - Queijo com goiabada
          Há mais de 200 anos que queijo com goiabada faz parte da nossa identidade. Nossa mais importante sobremesa. A partir da década de 1960 o Brasil e o mundo passaram a conhecer melhor nossa sobremesa e foi só provarem para coloca-la no cardápio. Hoje está presente em todos os cantos do mundo. Há mais de 200 anos que nós mineiros sabemos disso. O melhor queijo do Brasil com a goiabada mineira é fenomenal. É a cara de Minas! (Foto acima de Lucas Rodrigues/Queijo do Dinho de Piumhi MG)
06 - Tacho de Cobre
           A cena de fazer doces nos tachos de cobres é comum até os dias de hoje nas cozinhas das fazendas e até em casas na cidade mineiras. Sabe por que a preferência do mineiro pelo tacho de cobre? Porque ele preserva a cor original da fruta. Ou seja, o doce de mamão fica verdinho, de laranja da terra, amarelo. O doce de limão fica da cor do limão. O doce de figo fica da mesma cor quando os frutos foram colhidos.
          Por isso que nossos doces são feitos no tacho de cobre, que além de manter a cor original, preserva o sabor original das frutas também. Não são a toa que nossos doces sempre foram considerados os melhores. Pronto, contei nosso segredo.
07 - Mancebo 
          Mancebo é uma armação maior em madeira ou ferro que sustenta o coador. Nesse caso, o bule é grande e o coador também. Isso porque as famílias antigamente eram numerosas. Para as famílias pequenas existe a mariquinha, que é mesma coisa do mancebo, mas só que bem menor, com um pequeno coador e uma caneca esmaltada, no lugar do bule. 
          Seja num mancebo ou numa mariquinha, coar café no coador de pano é identidade de nosso povo do interior, desde os tempos antigos até os dias de hoje. Em minha casa, na cidade, o café é coado num coador de pano sobre esse mancebo que vê ai na foto. Sou mineiro, uai!
08 - Panela de Ferro
             Além da panela em pedra sabão, outra panela é uma de nossas identidades. É a panela de ferro fundido. No final do século 19 e início do século 20, os famosos caldeirões de ferro já dominavam as cozinhas mineiras. Era raro não serem encontradas nas cozinhas das casas na cidade e das fazendas. 
          As panelas são resistentes, duram décadas e muitas delas passam de geração a geração. Em Minas tem famílias que tem essas panelas e caldeirões com mais de 150 anos de uso. Uma cozinha mineira sem panela de pedra sabão e de ferro, não é cozinha mineira. Elas dão mais sabor à nossa rica gastronomia e nos identificam.
09 - Festa do Reinado
            As cores vivas dos estandartes e das roupas coloridas dos reinadeiros revelam a mais pura identidade religiosa mineira, já incorporada à vida do nosso povo (na foto acima em Bom Despacho MG)
           As comemorações em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, que começa em julho e se estende até outubro, por todas as cidades mineiras, teve origem no século 18, com o escravo Chico Rei, em Ouro Preto. Antes uma festa de origem negra, hoje é festa de todo o povo mineiro, expandida para outros estados brasileiros. As congadas com seus cortes são uma das mais belas manifestações folclóricas e religiosas de Minas. Uma das mais fortes identidades mineiras.
10 - Goiabada Cascão
           Uma das mais gostosas identidades mineiras. A receita saiu das senzalas para nossa mesa. Eles faziam o doce cremoso de goiaba normal, com a polpa da, para os senhores. E nas cozinhas das senzalas, eles aproveitavam a casca inteira e a polpa e fazia para si o doce que chamavam de goiabada. Pela grande quantidade de cascas grandes da fruta que ficavam à mostra no doce, acrescentaram a palavra cascão. Assim ficou, goiabada cascão, mais apreciada que o doce comum de goiaba. 
          Quer conhecer a original e única goiabada cascão? Conheça São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto MG (na foto acima, Dona Doquinha, uma das mais antigas doceiras de São Bartolomeu, batendo a goiabada cascão no tacho). Lá é a terra desse doce. Experimenta a Cascão com doce de leite mineiro e queijo Minas. É divino. Mineiro tem bom gosto não é?
11 - Bolo de fubá assado na brasa
           Num tempo em que não existia trigo no Brasil, no início da colonização, o fubá e o polvilho eram o ingredientes para tudo. Do fubá surgiram várias receitas tradicionais mineiras, como as broas e o bolo de fubá na brasa. Além do trigo, não existia fermento, mas existia bicarbonato e fogão a lenha. Não tinha forno de barro ainda não. A criatividade mineira se sobressaiu. A massa era feita, colocada numa panela de ferro e ia para o fogão em brasa. Por cima colocavam uma chapa de ferro e brasa ardente.
          Quem já experimentou bolo assim sabe o quanto é saboroso. E o cheiro exala pela casa toda e fica guardado em nossa memória aquele cheirinho bom. Bolo assado na brasa é uma identidade mineira marcante, pela delícia que é.
12 - Café no coador de pano
           E por fim, termino com café porque é minha bebida café. Minas sozinha lidera a produção de café no Brasil com a qualidade dos grãos reconhecida internacionalmente, com várias premiações nos principais concurso internacionais de café. (foto acima de Chico do Vale) A bebida desde o século 18, quando os primeiros grãos de café foram plantados na Zona da Mata Mineira, virou tradição. É uma bebida imprescindível no dia a dia do mineiro. 
          Mesmo antigamente, indo pra roça trabalhar, o mineiro levava seu cafezinho numa cabaça. Hoje leva na garrafa térmica. Tem uma história que diz que entre paciência e café, o mineiro prefere a paciência porque se der café a ele, com certeza, vai tomar tudo, de tanto que adora café.

terça-feira, 9 de maio de 2023

Viçosa é oficialmente a capital mineira do doce de leite

(Por Arnaldo Silva) Um dos mais premiados e populares doces de leite do Brasil, o Doce de Leite Viçosa, tem sua origem na cidade de mesmo nome, na Zona da Mata Mineira, distante 225 km de Belo Horizonte. É produzido desde os anos 1980 pelo Laticínio Escola da Fundação Arthur Bernardes (Funarbe), da Universidade Federal de Viçosa, com o nome de Doce de Leite em Pasta Funarbe, tendo adotado o nome atual a partir de 1992, com a criação da marca Viçosa.
          Inicialmente criado para consumo interno, dos estudantes e funcionários da Universidade, a qualidade e o sabor do doce foi saindo do Campus da UFV, para os paladares regionais, do estado e de todo o Brasil, se tornando o que é hoje em referência nacional em doce de leite de altíssima qualidade. (fotos acima do Chico do Vale)
 
          É o doce de leite mais premiado do Brasil, desde o ano 2000, quando começou a participar do Concurso Nacional de Produtos Lácteos, vencendo o concurso de melhor doce de leite do país por 10 vezes.(fotografia acima do Alexandre Vidigal o lago do Campus da UFViçosa e ao fundo, a cidade)
          O doce é reconhecido desde 2022, como patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais, pela Lei n° 24.033 e agora, a cidade onde o doce é produzido, Viçosa, se torna oficialmente a capital mineira do doce de leite.
Viçosa: A capital estadual do doce de leite
          O sucesso do Doce de Leite Viçosa é tanto que passou a ser um dos principais símbolos da gastronomia local e identidade do município de Viçosa.
          Por esse motivo, Viçosa foi reconhecida por Lei, como a capital estadual do doce de leite em Minas Gerais. Isso porque foi publicada no Diário Oficial do estado no dia 9/5/2023, a lei de número 24.318, proposta pelo deputado estadual Coronel Henrique que concede. esse título à cidade. A lei entrou em vigor imediatamente após sua publicação oficial. (foto acima do Chico do Vale)
          Segundo o autor do projeto, deputado estadual Coronel Henrique, em seus argumentos para defender o projeto de sua autoria, afirma que o Doce de Leite Viçosa “trata-se de uma iguaria da gastronomia mineira, de qualidade única, reconhecido por dez vezes como o melhor do Brasil no Concurso Nacional de Produtos Lácteos, transformando-se em um símbolo da cidade e, gradativamente, de Minas Gerais. E de fato, o Município de Viçosa acabou se tornando conhecido em razão da notoriedade do Doce de Leite, tanto em Minas Gerais, quanto em todo o país e até no exterior.”

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Rua de Ouro Preto entre as 6 mais inesquecíveis do mundo

(Por Arnaldo Silva) Mais uma vez Minas Gerais é destaque no mundo. A Rua Conde Bobadela, em Ouro Preto MG, foi selecionada pela plataforma de viagens Booking.com entre as ruas mais inesquecíveis do mundo.
          Foram apenas seis ruas indicadas e apenas uma é brasileira, a Conde de Bobadela da cidade histórica, Patrimônio da Humanidade desde 1980. As outras cinco indicadas pela plataforma são: Duval Street, Key West, EUA; Caminito, Buenos Aires, Argentina; Spiegelgracht, Amsterdã, Países Baixos; Via Celio Vibenna, Roma, Itália e Yonge Street, Toronto, Canadá. (na foto acima de Sônia Fraga e abaixo da Ane Souz a Rua Conde de Bobadela, a popular Rua Direita)
          Tendo como critério a opção dos viajantes em visitar lugares “instagramáveis” ou seja, lugares ideais para vídeos e fotos interessantes para postagens em redes sociais.
          Baseado nessa tendência mundial, a maior plataforma de reserva de viagens do mundo, a Booking.com entendeu que lugares assim impactam a opção dos viajantes na hora da escolha de seu destino. É o caso do viajante brasileiro, que, segundo a própria plataforma de viagens, 82% brasileiros optam por destinos “instagramáveis”. Por esse motivo, a opção da plataforma em indicar as seis ruas mais memoráveis e inesquecíveis em todo o mundo.
A Rua Conde de Bobadela
          A rua tem o nome em referência o militar português Gomes Freire de Andrade, governador da Capitania do Rio de Janeiro e o primeiro a receber o título de Conde. (na foto acima da Ane Souz, a rua Conde de Bobadela à noite)
          Repleta de casarões centenários, preservadíssimos e charmosos, lojinhas de artesanato e comércio variado, bares, cafés e restaurantes, além de ser cenário de vários eventos como a icônica Festa do Doze. 
          A via dá acesso à Praça Tiradentes, a praça principal da cidade, próximo ao Museu da Inconfidência, à direita de quem está em frente ao museu. A rua ligava antigamente a Matriz de Ouro Preto, Matriz do Pilar, à Praça Tiradentes, sendo por isso chamada de Rua Direita. (na foto acima da Ane Souz, a Praça Tiradentes dá para ver a entrada da Rua Direita)
          Ao longo do século XIX e XX, o traçado da Rua Direita foi alterado com o tempo, devido o surgimento de novos casarões e novas ruas, deixando de ligar diretamente a Matriz à Praça. Hoje o nome da rua atual é Conde de Bobadela. Mesmo assim, até os dias de hoje, é, para o povo de Ouro Preto, Rua Direita.
          Portanto, façam suas malas, venham para Minas Gerais, venham conhecer nossas cidades, nossas ruas charmosas, nossas tradições e claro, venham conhecer Ouro Preto e todas as suas ruas. (na foto acima da Ane Souz, o casario da Rua Direita)
          Em cada cantinho de Ouro Preto está um pouco da história do Brasil. A cidade é a preciosa joia do barroco brasileiro.

domingo, 7 de maio de 2023

Pão de Queijo assado na folha de bananeira

(Por Arnaldo Silva) Tem o formato de pão, é assado na folha de bananeira, tradição em Esmeraldas, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
INGREDIENTES
. 1 quilo de polvilho doce
. 500 gramas de queijo Minas curado ralado
. 8 ovos caipira
. 1 copo (requeijão) de água
. 1 copo (requeijão) de leite integral
. 1 copo (requeijão) óleo
. 1 colher (sopa) de sal
. Folhas de bananeira
MODO DE PREPARO
- Em uma panela, coloque o leite, a água, o óleo, o sal, mexa e leve ao fogo até ferver
- Assim que ferver despeje todo o polvilho em uma bacia e comece a escaldar o polvilho, despejando todo o líquido na bacia.
- Mexa com uma colher até esfriar.
- Assim que esfriar, mexa com as mãos, espremendo as bolinhas que se formam.
- Comece a colocar os ovos, um a um e sovando com as mãos.
- Quando a massa estiver lisa, coloque o queijo ralado e continue sovando, até encorpar bem à massa.
- A massa não pode ficar nem muito mole e nem muito dura, tem que estar ao ponto de enrolar.
- Com uma colher grande, vá colocando a massa na folha de bananeira, enrole e coloque na fôrma para assar. (não é para fazer molde em bolinhas tradicional, é espalhar em espiral a massa de ponta a ponta da folha).
- Leve para assar a 180 graus por 30 minutos.
- Após esse tempo, retire a folha de bananeira e deixe assando por mais 30 minutos ou até ficarem dourados.
- Por fim, corte em pedaços e sirva acompanhado de um bom café.
Imagens fornecidas pelo Geraldo Leroy de Esmeraldas MG

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Pão de Queijo: 3ª melhor comida de café da manhã do mundo

(Por Arnaldo Silva) Numa eleição com 100 quitutes de café da manhã no mundo, o tradicional Pão de Queijo dos mineiros, iguaria feita com massa de polvilho escaldado, queijo e ovo, ficou na terceira posição com 4,7 de pontuação.
          Ficou atrás apenas do Komplet Lepinja, um pão com creme e ovo, tradicional da Sérvia, país europeu, que ficou na segunda colocação e do Roti Canai, um quitute da Malásia, na Ásia, que lembra muito uma panqueca, feito com massa folheada de farinha, ovos, água e gordura, que levou a primeira colocação atingindo 4,8 pontos. (na foto acima, o Pão de Queijo feito pela Marluce Ferreira de Ipatinga MG)
          A eleição das 100 melhores comidas de café da manhã do mundo foi promovida pela enciclopédia gastronômica Taste Atlas, especializada em avaliação de comidas típicas de todo o mundo. A pontuação máxima era 5, com votação feita por público ligado a gastronomia em todo o mundo, através do site da Taste Atlas (tasteatlas.com). A apuração foi em abril passado, com o resultado divulgado no início de maio de 2023.
Quarto melhor lanche do mundo
          A tradicional receita do Pão de Queijo levou ainda o 4° lugar como o melhor lanche do mundo. Além de muito apreciado no café da manhã, o pão de queijo acompanha recheios com molhos, carnes e frango desfiado, muito apreciados nos lanches da tarde.
O Pão de Queijo
O Pão de Queijo nasceu em Minas Gerais no século XVIII. É uma das mais genuínas comidas do Brasil. Surgiu da necessidade dos portugueses, terem pão, já que na colônia não existia trigo.
          Os índios consumiam a mandioca e com ela faziam farinha. Os negros escravos passaram a fazer o mesmo, ralavam a mandioca, mas também peneiravam os resíduos mais finos da farinha e deixavam secar ao sol. Dessa prática surgiu o polvilho. Ao molhar o polvilho em água quente com gordura, virava uma massa. Essa massa era dividida em punhados, enrolada nas mãos em forma de bola, e assada.
          Era sim que era feito o nosso pão de queijo original, polvilho, água e gordura, em sua origem, no século XVIII. No século XIX, o pão foi ganhando novos ingredientes como os ovos pouco tempo depois, leite e queijo, passando a ser o pão de queijo como conhecemos hoje.
          A tradicional iguaria mineira não se restringe hoje somente à Minas Gerais. Está presente desde o século XX nas mesas de todo o Brasil, popularizada quando Juscelino Kubitschek foi presidente do Brasil.
          Hoje o Pão de Queijo, nascido nas montanhas de Minas, é popular no mundo inteiro, sendo estando agora entre as 3 melhores comidas de café da manhã do planeta.

sábado, 29 de abril de 2023

As 3 capitais por um dia de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Segundo o Artigo 256 da Constituição do Estado de Minas Gerais, no seu parágrafo 1° o dia 21 de abril, Dia de Tiradentes; o dia 16 de julho, Dia de Minas e o dia 8 de dezembro, como o Dia dos Gerais. São as três datas magnas de Minas Gerais.
          A capital administrativa de Minas Gerais é Belo Horizonte desde 12 de dezembro de 1897, mas durante três dias do ano, 21 de abril, 16 de julho e 8 de dezembro a capital mineira é transferida simbolicamente para Ouro Preto, Mariana e Matias Cardoso, respectivamente, com a presença do Governador do Estado, que despacha nessas cidades e participa de solenidades cívicas, religiosas, entregas de comendas e medalhas. (na foto acima do Nacip Gômez, vista parcial de Mariana MG)
Ouro Preto – Dia de Tiradentes
          O Dia de Tiradentes é uma das mais importantes datas magnas do Estado de Minas Gerais pela importância da Inconfidência Mineira para o Brasil e ainda por ser esse o dia da morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Dia de Tiradentes, Mártir da Inconfidência Mineira. (na foto acima de Nacip Gômez, Ouro Preto MG)
          Nesse dia, a capital mineira é transferida para Ouro Preto, uma das mais importantes cidades do mundo durante o Ciclo do Ouro e Patrimônio da Humanidade desde 1980, fundada em 1711. Ouro Preto foi capital de Minas Gerais entre 1720 a 1897 e é uma das mais belas e importantes cidades históricas do Brasil.
          Nesse dia, 21 de abril, a capital é transferida para a cidade, onde ocorre solenidades diversas com a presença do Governador do Estado, além da entrega da Medalha da Inconfidência, principal honraria de Minas Gerais. A medalha foi criada em 1952 pelo então Governador Juscelino Kubitschek.
Mariana – Dia de Minas Gerais
          No dia 16 de julho, a capital de Minas Gerais volta a ser Mariana, que já foi capital entre 1712 a 1720. Nesse dia, a cidade comemora sua fundação, que ocorreu em 16 de julho de 1696, quando chega à região a bandeira chefiada pelo Coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça. Foi nesse ano e dia que começou a povoação de Mariana, após a descoberta de ouro no que é hoje a cidade. (na foto acima de Nacip Gômez, Mariana)
          Isso fez com que a região prosperasse, cresce com o enorme contingente de bandeirantes, mineradores, garimpeiros, portugueses e outros povos que vieram para a região, dando origem assim a formação social, cultural, religiosa e política de Minas Gerais.
          Por isso a data do surgimento da povoação de Mariana, é um dos mais importantes fatos históricos do Estado de Minas, embora não seja primeira povoação mineira, mas sim a origem da formação das primeiras características de Minas Gerais, sendo reconhecida por ser Mariana a base organizada da politica na capitania.
        Mariana surgiu em 1696, pouco tempo depois já era elevada a Vila do Ouro em 8 de abril de 1711, cidade e capital de Minas Gerais em 1712 e primeira diocese de Minas Gerais em 1745. Foi a primeira Vila reconhecida pela Coroa Portuguesa e a primeira cidade oficial de Minas Gerais, sendo por esse motivo chamada de Mãe de Minas.
          A data de aniversário de Mariana é o Dia de Minas Gerais, instituída em 1979 pela lei n°561, sancionada pelo então governador Francelino Pereira e inserida na Constituição Mineira em 1997. Nesse dia, Mariana volta a ser capital de Minas Gerais, com a presença do Governador do Estado, despachando e participando de solenidades cívicas.
Matias Cardoso – Dias das Gerais
          Matias Cardoso, distante 683 km de BH, cidade mineira no Norte de Minas, conta com pouco mais de 11 mil habitantes. Sua origem data de 1660, quando chega à região, vindo da Bahia, pelo Rio São Francisco, o bandeirante português radicado em São Paulo, Matias Cardoso de Almeida e seu pai Januário. O bandeirante foi., contratado na época pelo Governo da Capitania da Bahia para combater indígenas e negros aquilombados. (na foto acima do Manoel Freitas, Matias Cardoso e ao fundo, o Rio São Francisco)
          Matias Cardoso resolveu fixar-se com sua bandeira na região, fundando um arraial com o nome de Morrinhos, que é hoje a cidade que e leva seu nome. Esse arraial prosperou e se transformou num importante polo comercial e de abastecimento para a Coroa, em sua sede, Salvador. Matias Cardoso está às margens do Rio São Francisco. As mercadorias, na época, eram transportadas por barcos e tropeiros.
          Entre 1670 e 1673 foi construída a Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, reconhecida oficialmente como a primeira igreja, ainda de pé, em Minas Gerais, além da cidade ser reconhecida oficialmente como o primeiro núcleo de povoamento de Minas Gerais. (na foto acima do Manoel Freitas, a Matriz de N. S. da Conceição, a primeira igreja de Minas) 
          Por ser Matias Cardoso a mais antiga povoação de Minas, além de estar na cidade a primeira igreja erguida no Estado, Matias Cardoso é uma das capitais de Minas Gerais. No dia 8 de dezembro, a capital é transferida para a cidade, com a presença do Governador do Estado e autoridades.
          A data de 8 dezembro foi escolhida por ser o dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade e por ser a igreja de Matias Cardoso a mais antiga de Minas Gerais.
          Minas tem o privilégio de ter, além de Belo Horizonte, capital administrativa do Estado, mais três capitais, simbólicas, por um dia. Matias Cardoso, Mariana e Ouro Preto, são as origens da história e formação arquitetônica, social, religiosa, política e folclórica de Minas Gerais.

Receita de goiabada cascão caseira de São Bartolomeu

(Por Arnaldo Silva) Goiabada Cascão é uma das tradições mais gostosas de nossa culinária. Sempre acompanhada com queijo, está presente em nossas mesas há mais de 200 anos, principalmente em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto MG, que, na época do ouro, teve lá seus garimpos pelas nascentes do Rio das Velhas. Tempos depois a exploração do ouro concentrou em Ouro Preto e a economia de São Bartolomeu entrou em queda. 
          Como subsistência, começaram a produzir doces e a goiabada logo pegou fama. Ainda hoje o distrito é reconhecido pelos seus doces e doceiros. A goiabada continua fazendo o gosto.
          Vamos aprender aqui a fazer uma deliciosa goiabada cascão em barra bem no estilo mineiro, enrolada na folha de bananeira.
INGREDIENTES
. 50 goiabas vermelhas grandes e maduras
. 1 quilo de açúcar
. 300 ml de água
Utensílios: folha de bananeira e forma retangulares tipo de rapadura ou então, pode usar as formas de alumínio para pão ou bolo inglês.
MODO DE PREPARO
- Forre as formas com a folha da bananeira e reserve.
- Lave bem as goiabas e corte-as ao meio com a casca
- Com uma colher, retire as sementes das goiabas com a polpa.
- Corte as goiabas em pedaços grandes, com a casca e reserve.
- Coloque somente as sementes das goiabas no liquidificador e bata bem.
- Em seguida, passe as sementes batidas numa peneira e reserve o que foi peneirado, descartando o restante.
- Coloque as goiabas num tacho, de preferência de cobre e despeje  água.
- Acrescente as sementes peneiradas e o açúcar, mexa até misturar bem e leve ao fogo médio até ferver.
- Mexa com uma colher de pau para não grudar. 
- Quando o doce começar a se soltar do fundo, comece a mexer mais rápido por uns 5 minutos batendo forte, até ficar com uma consistência bem grossa.
- Desligue, coloque o doce nas formas forradas que reservou e deixe esfriar, de um dia para o outro.
- Retire das formas, faça os cortes e sirva acompanhada de um bom queijo.
- Se sobrar, enrole o doce na mesma folha de bananeira, amarre e guarde na geladeira.
Nota: A folha de bananeira garantirá a higiene do doce e ainda tem o benefício de conservar o sabor, a cor e e manter a firmeza e textura do doce por muitos dias, mesmo fora da geladeira.
Fotos da goiabada Cascão da Mercearia Paraopeba em Itabirito MG - Tel.: 31 9864-5021

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Trem do Sertão

(Por Marina Alves/Lagoa da Prata MG) E não é o Trem do Sertão? Entre fumaças e brumas, a hora de embarcar em viagem inusitada: um passeio atravessando os distantes dias, os anos, o tempo...
          Manobra o Trem do Sertão! Envolto em nebulosa purpurina que se mescla ao céu coalhado de nuvens, ele se recorta ao sol da manhã, banhado em luz cristalina que radia detrás da grande figueira. Ao fundo, os fornos das caieiras apregoam tempos que esbarram nos idos de 1950.
          Saltando de um conto antigo, a estação se entrincheira à beira da lagoa. Ao rés-da-plataforma, os trilhos se desenham em duras e brilhantes paralelas que levam a tantos destinos: serpentes de ferro que corcoveiam sob as bênçãos da rosa dos ventos, desbravando sortes e caminhos.
          Na travessa do telhado, o pêndulo de bronze adverte desavisados: hora de partida, maria-fumaça em movimento. De súbito, a vida para sob o clique mágico de quem flagra o belo nos desvãos de qualquer hora. A chapa batida num repente, de repente, nem queria, mas pegou gentes desprevenidas a boiar coincidentes num dia qualquer... Seria dia de semana? Talvez domingo? Ah, se alguém pudesse se lembrar, se alguém se atrevesse a contar!
          Porte elegante, o homem de bota e chapéu espicha-se em sombra no concreto rústico, alegorias do sol nascedouro. Sem nem sentir, sem nem premeditar, imortalizou-se nos umbrais do tempo. Perdido nas brumas da história, o escuso cavalheiro em secretos anonimatos virou lenda no retrato sem pose nem ensaio... Mas quanta beleza e mistério guardou para a posteridade nas entrelinhas das outras gentes que viriam.
          À parte, o Trem do Sertão com seus ilustres passageiros, maquinistas, foguistas, apitos e vagões, certamente seguiu moroso, cortando ventos e pontes e matas e encostas de outras eras que não voltam mais.
Texto baseado no icônico registro do fotógrafo Câncio de Oliveira, feita em 1950 na antiga Estação de Lagoa da Prata MG. Câncio era natural de Santo Antônio do Monte MG, faleceu em 2020, aos 95 anos. Fez várias fotos icônicas e marcantes de Minas Gerais, como esta de Lagoa da Prata, de sua cidade e de outras cidades mineiras, além de Belo Horizonte, cidade para onde se mudou em em 1941.

Pastel de Farinha de Milho de Pouso Alegre

(Por Arnaldo Silva) Pouso Alegre, no Sul de Minas, distante 373 km de Belo Horizonte é uma das mais tradicionais cidades de Minas Gerais. O município surgiu de um pequeno arraial no início do século XIX, elevado a Vila em 7 de maio de 1832 e à cidade emancipada em 19 de outubro de 1848.
          O rápido crescimento em suas origens reflete na cidade hoje.
A cidade foi crescendo ao longo do século XX, se desenvolveu e se tornou uma das cidades mais prósperas, desenvolvidas, de boa estrutura urbana e qualidade de vida de Minas Gerais. Pouso Alegre conta atualmente com cerca de 155 ml habitantes.
          Dentre as relíquias históricas de Pouso Alegre a gastronomia é destaque, em especial o Pastel de Farinha de Milho, é uma tradição centenária e a identidade gastronômica de Pouso Alegre. A iguaria tornou-se conhecida a partir de 1928, quando surgiu no antigo Mercado Municipal da cidade. Agradou tanto o paladar do pouso-alegrense e logo caiu no gosto popular, tornando hoje uma marca da cidade hoje.
          O pastel de milho é tão importante para a história de Pouso Alegre (na foto acima) que foi declarado como Patrimônio Imaterial do Município. A secular iguaria é preservada em sua tradição, movimenta a economia da cidade gerando emprego e renda a inúmeras famílias que atuam na produção familiar da iguaria.
Aprenda a fazer o Pastel de Milho de Pouso Alegre
          A farinha de milho usada para fazer esse pastel não é a comum, em flocos, que encontramos nos mercados. Ela é triturada, não muito torrada e bem fininha, bem parecida com o fubá. Se for fazer com a farinha de milho comum, não dará certo. (na foto acima o Pastel de Farinha de Milho do "Sô Dito")
          Em Pouso Alegre encontra-se com facilidade a farinha de milho própria para o pastel, como podem ver na foto acima, bem fininha. (na foto abaixo o pastel de farinha de milho do Reginaldo)
A receita:
INGREDIENTES

. 1 quilo de farinha de milho
. 250 gramas de polvilho azedo
. 2 litros de água quente
. Sal a gosto
MODO DE PREPARO
- Em uma vasilha, coloque a farinha de milho, o polvilho e o sal, misture.
- Vá colocando a água quente aos poucos, escaldando até ficar uma massa densa e firme.
- Espalhe a massa em uma bancada, passe um rolo sobre a massa até ficar fina
- Corte a massa, coloque o recheio a seu gosto.
- Feche, aperte as pontas, com uma faca, faça corte nas pontas para que o pastel fique em formato retangular ou meia lua.
- Aperte as pontas com um garfo e frite em óleo quente a 200° até dourar.
- Escorra e sirva.
          Essa é a receita tradicional, mas como na cidade tem vários produtores pode variar um pouco de acordo com criatividade do produtor principalmente nos recheios que pode ser de pizza, carne moída, queijo, etc. (na foto acima o pastel de milho do "Sô Tião")
As fotos e informações nos foram passadas pelo professor Fernando Campanella de Pouso Alegre MG

Receita de biscoito Pele de Goma

Biscoito tradicional do Vale do Jequitinhonha, feito pela Marilene Rodrigues, que nos forneceu a receita e fotos.
INGREDIENTES
- 1 quilo de goma (polvilho doce)
- Água fervente
- Sal a gosto
MODO DE PREPARO
- Ferva a água com o sal.
- Coloque todo o polvilho numa bacia e vá despejando a água fervente aos poucos mexendo com uma colher de pau
- Vá mexendo até esfriar e já frio, comece a sovar a massa até que esteja bem firme e desgrudando por completo das mãos.
- Em seguida, pegue uma faca e corte a massa em pedaços grandes como pode ver na foto acima.
- Com uma garrafa ou um rolo passe sobre os pedaços da massa, até ficarem fininhos como na foto acima.
- Coloque os pedaços na água (como se faz com o nhoque de batata) e deixe fervendo até subirem à superfície.
- Quando subirem, retire os pedaços da água e deixe secando ao sol num tabuleiro ou em folha de bananeira por 6 a 8h.
- Quando estiver seca, coloque os pedaços no óleo bem quente e frite
- Escorra e sirva com café.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

A venda do Zé de Lagoa da Prata

(Por Marina Alves/Lagoa da Prata) A venda do Zé tem tudo. As coisas mais impensáveis? Lá tem. E parece que existe desde sempre, tão compridas são minhas lembranças. A venda do Zé é um armazém, e essa palavra armazém é aquela que dá um aconchego bom quando a gente fala, ouve e experimenta. É a venda do recurso. Aquela onde você pensa ir, quando quer um trem diferente — assim mesmo, um “trem” que não tem em outro lugar. E lá tem “trem” porque é uma venda que fica em Minas Gerais, num lugarzinho do interior, “bão dimais da conta” de morar — pra quem mora — e “bão dimais da conta” de passear, pra quem não mora.
          A venda do Zé resistiu ao tempo. É daquelas que ficam numa esquina com portas abrindo para duas ruas. Tem letreiro na parede, que se avista de longe. Tem coisas que da banda de fora já chamam a gente para entrar, só pra ver mais de pertinho E entrando, a gente vai ver, por exemplo, panela, socador de alho, chapéu, lamparina, filtro de barro, pomada para sapato, agulha pra máquina de costura, marmita, torrador de café, colher de raspar coco, xaxim, baleiro giratório, esmaltados, vassouras, moringa em barro decorado e tudo mais que se precisar.
          Dentro da venda há coisas empilhadas daquele jeito bonito de antigamente. Há balcão, prateleiras atravessadas, contando de um tempo que não volta mais. Na verdade, quando o tempo de outras épocas percebeu o perigo que corria de se perder, ele pediu guarida na Venda do Zé. O tempo mora lá. É por isso que a gente vai lá quando quer encontrar uma peça de outro tempo. E é só lá que tem — todo mundo da cidade sabe disso.
          Prova que tudo é verdade é um lampiãozinho que dia desses precisei de última hora. No sufoco, meu amigo Sebastião me disse:
— Uai, só se for no Zé Tem Tudo.
          E na venda tinha! E ainda pude escolher entre o vermelho e o amarelo. Graças a Deus e graças à Venda do Zé, pude levar minha ideia adiante.
          Faltou alguma coisa? Corre lá! Venda do Zé, patrimônio já consagrado na história desta bonita cidade chamada Lagoa da Prata MG.
Imagens: acervo do Armazém Zé Tem Tudo (celebração de seus 50 anos de existência

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