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segunda-feira, 4 de abril de 2022

Noiva do Cordeiro: a vila das mulheres

(Por Arnaldo Silva) Noiva do Cordeiro é distrito da cidade de Belo Vale, no Vale do Paraopeba. A cidade está a 82 km de Belo Horizonte e Noiva do Cordeiro a 17 km distante de Belo Vale.
História
          A história de Noiva do Cordeiro começa a partir de 1890, no século XIX, quando Maria Senhorinha de Lima, nascida em Casa Branca, distrito de Belo Vale, foi forçada por seu pai a casar-se com Arthur Pierre. Mas o grande amor de Maria Senhorinha era Francisco Fernandes, morador do distrito de Roças Novas.
          Mesmo casada, mantinha relacionamento com seu antigo amor. Quando se descobriu grávida de Chico Fernandes, como era chamado, decidiu abandonar seu casamento e viver com seu amante.
          O ato de Maria Senhorinha de Lima foi um escândalo na época, considerado uma afronta aos preceitos religiosos católicos. Era uma época de rígidas normas religiosas e sociais e de extremo preconceito para quem ousasse desafiar tais normas.
          Maria Senhorinha de Lima foi excomungada, bem como sua descendência até a quarta geração amaldiçoada, pelo padre Jacinto, da paróquia local. Sem contar a reação de sua família, que não escondeu a excomunhão de Senhorinha de Lima e a atitude do casal, fazendo questão de tornar o fato público. Isso gerou ações de extremo preconceito e hostilidades ao casal, por parte dos moradores da região.
          O casal optou em viver em Roças Novas, mas chegando ao local, foram hostilizados pelos moradores. Chico Fernandes tinha terreno, herdado de seu pai e para lá foi com Senhorinha.
O velho e o novo casarão
          Chico e Senhorinha passaram a viver de forma isolada, longe da sociedade, nas terras herdadas por Chico, no mesmo lugar que está hoje a comunidade de Noiva do Cordeiro.
          Construíram sua moradia e nesse local formaram uma família de 12 filhos.
          Os filhos de Chico e Senhorinha cresceram, formaram novas famílias. A comunidade crescia e o casarão também. Mesmo quem viesse de outras localidades, eram acolhidos e ficavam. Com o tempo, se transformaram em uma grande família, vivendo num só lugar.
          A antiga casa construída pelo casal já não comportava mais tanta gente. Um outro casarão foi construído, com dois pavimentos, mais cômodos, salas grandes, cozinha enorme e muitos quartos. Esse casarão é chamado pelos moradores de Noiva do Cordeiro de “Casa Mãe”. É nesse casarão que a comunidade se reúne e faz suas refeições. Além de ser a casa de várias famílias atualmente, foi a casa de praticamente toda a comunidade, em décadas passadas.
          A antiga casa que viveu o casal Chico e Senhorinha foi reformada e nela atualmente, vivem duas famílias. Além desta casa e da “Casa Mãe”, atualmente toda a comunidade de Noiva do Cordeiro é formada por 85 casas.
          Francisco Fernandes e Maria Senhorinha de Lima foram sepultados no cemitério do distrito de Santana em Belo Vale MG, ao lado da Igreja de Santana.
Isolamento, preconceito e discriminação
          Mesmo vivendo isolados e distante da sociedade, o casal, bem como seus filhos, continuaram a serem vítimas de hostilidades, preconceitos e discriminações. As mulheres que viviam no casarão, eram tidas como prostitutas e adúlteras pela sociedade, e o lugar não era bem visto na região.
          A sociedade não perdoava o adultério de Senhorinha, além das consequências morais e sociais impostas pela excomunhão e maldição por 4 gerações, que o casal sofreu.
          Chico e Senhorinha e seus descendentes sofreram um violento lacre social, principalmente nas primeiras décadas do século XX. Fruto de uma sociedade que julga, condena e discrimina, tendo como base preceitos de puritanismo religioso e social.
          As mulheres de Noiva do Cordeiro eram difamadas, maltratadas e discriminadas pela sociedade e não conseguiam trabalho. Eram isoladas socialmente.
          A vida era dura naqueles tempos, muito difícil. O casarão abrigava todas a mulheres solteiras e não solteiras. As que tinham um companheiro, conheceram seu par na própria comunidade.
          Como Noiva do Cordeiro foi formada por uma família e ao longo do tempo, outras pessoas foram acolhidas pela comunidade, a maioria tem algum tipo de parentesco entre si, mesmo que bem distante.
          Viver no casarão, compartilhar e dividir o que tinham, era a forma que encontraram para sobreviverem à solidão e o isolamento. No casarão, tudo era compartilhado e dividido entre todos.
          As mulheres trabalhavam duro na roça. Plantar e colher era a única forma que encontraram para sobreviverem à fome. Plantavam para comer, comia do que plantavam.
Porque Noiva do Cordeiro?
          Noiva do Cordeiro é um termo bíblico. O cordeiro simboliza Cristo e noiva, a Igreja. É o que tira o pecado do mundo. Soa contraditório uma comunidade ter sido formada a partir da excomunhão de Chico e Senhorinha de Lima, ter o nome religioso de Noiva do Cordeiro.
          A história do nome começa a partir da década de 1950, quando chega à comunidade, Anísio Pereira, pastor evangélico. O pastor ficou na comunidade, fundou uma igreja denominada Noiva do Cordeiro e por fim, casou-se com Delina Fernandes, nascida em 25 de agosto de 1944. Na época, Anísio Pereira tinha 43 anos e Delina, apenas 16. O casal teve 15 filhos.
          Pastor Anísio Pereira deu início a um processo de conversão de todos da comunidade e mudança radical no comportamento social e religioso das mulheres.
          Os cultos eram realizados no próprio casarão. A comunidade passou a ser conhecida por Noiva do Cordeiro.
          O porque que Anísio Pereira escolheu esse nome, é mistério, embora obviamente, a noiva de Cristo é a igreja. Ou seja, cada pessoa que se arrepende de seus pecados, aceita Jesus como seu salvador e se converte, passa a fazer parte da Igreja.
          Segundo a fé Cristã, é Jesus quem tira os pecados do mundo e salva o pecador. A noiva é a igreja se preparando para o casamento com o cordeiro, o Cristo, segundo a cristandade.
          Baseado em suas crenças, o pastor criou regras rígidas como orações diárias e longas, jejuns constantes e até castigos públicos. Proibiu ainda, entre outras coisas, bebidas alcoólicas, música, cigarros, cortar os cabelos e considerava um pecado gravíssimo o uso de qualquer tipo de contraceptivos. Dai a explicação para as famílias com grande número de filhos, nessa época.
          O fato de a comunidade ter uma igreja evangélica, aumentou mais ainda o preconceito da sociedade local, majoritariamente católica, contra as mulheres de Noiva do Cordeiro.
O fim da liderança de Anísio Pereira
          Por desconhecer ou não entender a vocação feminista e o espírito de luta das mulheres da comunidade, pastor Anísio foi perdendo força e influência. Tudo que elas faziam era considerado pecado, até que uma de suas filhas, Rosalee Fernandes Pereira, casada desde os 16 anos e aos 21, já com 3 filhas, decidiu contrariar as ordens do pai.
          Rosalee, escondida do pai e do próprio marido, liderou um grupo de mulheres da comunidade e se submeteram à cirurgia de laqueadura. Começa a partir desse ato o início do fim da liderança e domínio do pastor sobre a comunidade.
          Já idoso e desacreditado pela comunidade, pastor Anísio faleceu em 1995. Os dogmas e rígidos preceitos religiosos aplicados pelo pastor, foram sendo abandonados pela comunidade. Resta hoje apenas o nome, Noiva do Cordeiro, que permaneceu como nome da comunidade.
          Mesmo passando mais de um século após a fuga de Senhorinha e Chico, o preconceito e hostilidades da sociedade, continuaram. Se antes o casarão era mal falado e considerado abrigo de adúlteros e prostitutas, passou a ser chamado, após a morte do pastor Anísio de “morada do diabo”.
Delina Fernandes
          Com a morte de Anísio Pereira, sua viúva, Delina, assumiu a condição de líder da comunidade, bem como a propriedade do casarão e de toda a gleba, formada por 41 hectares.
          A comunidade, principalmente os jovens, começaram a experimentar o sabor da liberdade que nunca tiveram, como cortes diferentes no cabelo, roupas justas, maquiagens, além de experimentar o cigarro e o álcool. Tudo que era proibido, durante a vigência da liderança do pastor Anísio, começaram a experimentar.
          Delina assumiu a liderança da comunidade e buscou orientar os jovens, principalmente. Conseguiu conscientizá-los que o caminho que estavam indo não era o ideal, além de ser prejudicial à vida família, provocar atritos e dividir a comunidade.
          Fez questão de mostrar que, apesar da falta de liberdade nos anos de vida religiosa a que foram submetidos, a vida em comunidade, o amor ao próximo e a união, foram positivas para o fortalecimento de Noiva do Cordeiro. Que deviam ser livres sim, mas com responsabilidade
          Além disso, mostrou aos que excediam, que a comunidade podia aproveitar a liberdade que conquistaram e solidificar o amor, a união e o respeito que todos tinham entre si. Delina queria transformar a liberdade que passaram a ter em algo bom, para toda a comunidade. E conseguiu!
          Todos da comunidade são livres para viverem a vida conforme se sintam bem, mas longe de más companhias e das consequências do vício. Hoje, todos usam suas liberdades em prol da comunidade, da família, do respeito e união.
A Grande Mãe
          Delina, hoje com 77 anos, viveu, sentiu e presenciou todo o preconceito e discriminação sofridas por seus avós, pais, filhos e netos. As gerações mais novas, sabem da história de Noiva do Cordeiro e todo o sofrimento que as primeiras gerações passaram através da vida e memória de sua matriarca.
          Sua capacidade, equilíbrio, consciência, experiência, sabedoria e conhecimento da história de seus antepassados, fez de Delina, mestre, guru, líder e a “Grande Mãe” de Noiva do Cordeiro.
          Foi Delina a responsável pela união das mulheres de Noiva do Cordeiro. É a espinha dorsal da comunidade, a mãe de todos. Até mesmo quem não tem parentesco com Delina, a chama de mãe, tamanho o respeito e liderança da matriarca.
          Delina criou regras de convivência, comportamento e defesa das mulheres do povoado com base na união e respeito mútuo, sem imposições. “Todos são por um, e um é por todos”, essa era sua filosofia e a que rege a comunidade atualmente.
          Delina conseguiu unir todas as mulheres e homens da comunidade em torno de sua filosofia, formando com isso uma comunidade sólida e unida.
A união que fortalece
          Com o tempo, os papéis de todos começaram a serem definidos. As mulheres cuidavam dos afazeres do casarão e da lavoura e os homens buscaram trabalhos fora, para garantir a subsistência de suas famílias e comunidades. As mulheres foram cuidar das terras e os homens, partiram em busca de trabalhos na indústria de mineração e outros segmentos, em outras cidades.
          De todo o rigor imposto pelo pastor Anísio, Delina reconhece que o pastor ensinou à comunidade sobre o que é o amor e a importância da união de todos. Mas concluiu que não precisa passar fome, frio e fazer sacrifícios para se tornar filha de Deus. Por isso, continuou a reunir a comunidade e fortalecer a união de todos.
          Deus está presente no coração e vida das famílias de Noiva do Cordeiro, mas não em templos de paredes e sim em seus corações, que consideram morada de Deus.
          Creem e temem a Deus, respeitam a todas as doutrinas religiosas, mas não veem necessidade de uma religião, para ter fé em Deus, manifestar amor ao próximo e viver em harmonia. Vivem o amor em família, ao próximo e o respeito, pois acreditam ser que é a base da fé em Deus.
          São conscientes de sua história e da experiência de terem convivido, há mais de um século com preconceitos, difamações, calúnias, fofocas e humilhações. A dor depura a alma, fortalece o coração e o discernimento. Isso tudo se transforma em um aprendizado e experiência de vida, que passa de geração por geração.
Vila das mulheres
          Embora a comunidade de Noiva do Cordeiro seja formada por mulheres e homens, praticamente em proporções iguais. São 45% são mulheres, 40% homens e 15%, crianças. Mas o que mais se vê na comunidade são mulheres. Isso dá a impressão de que Noiva do Cordeiro é uma comunidade só de mulheres.
          Os homens não são vistos sempre na comunidade, por um motivo muito simples. Não tem emprego na comunidade e para conseguir o sustento de suas famílias, tem que ir para outras cidades em busca de trabalho.
          Os homens de Noiva do Cordeiro trabalham em empresas de mineração da região e em outras cidades, como em Horizonte. Só retornam à comunidade nos fins de semana ou em dias de folga, para ficarem com suas famílias. Durante a semana, somente mulheres, crianças e adolescentes ficam em Noiva do Cordeiro.
Uma grande família
          A vida em Noiva do Cordeiro, é desde sua formação, em torno do casarão. A comunidade de Noiva do Cordeiro é formada por cerca de 420 pessoas. Atualmente, são cerca de 90 famílias, formando uma comunidade de cerca de 300 pessoas. Estima-se que mais ou menos 120 pessoas com origens na comunidade, vivam em outras cidades de Minas e até em outros estados.
          Como Noiva do Cordeiro foi formada por uma família, que ao longo do tempo acolheu outras pessoas que passaram a residir na comunidade, todos de Noiva do Cordeiro, de alguma forma, tem algum grau de parentesco, mesmo que bem distante.
Trabalho em comunidade
          O dia a dia de trabalho em Noiva do Cordeiro é muito bem organizado. Trabalharam em forma de mutirão. As mulheres exercem as funções de acordo com suas vocações.
          Quem gosta de cuidar da lavoura, vai para a lavoura. Quem gosta de cozinhar e arrumar a casa, exerce essas funções. Quem prefere educar as crianças na escola da vila, dá aulas. Quem prefere trabalhar na fábrica, com artesanato, vai fazer o que gosta.
          A vida é em comunidade, mas todas são donas de si e suas escolhas e gostos são respeitados. A ninguém é imposto nada.
          A exceção é pela faixa etária. Evita-se ao máximo pessoas de mais idade, seja homem ou mulher, exercer atividades na lavoura, que é um trabalho mais pesado. Os mais velhos fazem trabalhos mais leves, como por exemplo, na fábrica de confecções. 
          Caso os idosos da comunidade não tenham condições de trabalhar, ajudam com parte de suas aposentadorias quando alguém precisa comprar remédios, viajar para fazer consultas e outras necessidades. Todos se ajudam de alguma forma. Ninguém fica desamparado em nada na comunidade.
Mulheres belas e vistosas
          Jovens, entre 20 e 35 anos, as mulheres de Noiva do Cordeiro são belas e vistosas e não tem dia ruim para o trabalho. Seja com sol, chuva ou frio, seguem para o trabalho do dia a dia com um sorriso no rosto.
          É assim desde o começo. Vão para o trabalho juntas e retornam juntas. Colhem o que plantam, comem do que colhem.
Trabalho na roça e na fábrica
          O dia começa antes do amanhecer do sol com o tilintar das brasas no fogão a lenha do velho casarão. É o café da manhã sendo preparado. Após a refeição da manhã, seguem para o trabalho, todas juntas.
          O trabalho na roça e na comunidade é dividido e organizado em forma de cooperativa. Uma parte das mulheres ordenham, alimentam os porcos e cuidam das galinhas. Outras aram a terra, capinam e cortam lenha. Outras trabalham na lavoura, plantando arroz, feijão, milho, mexerica, café, mandioca e hortaliças em geral.
          Quando podem, os homens da comunidade também ajudam nos serviços da roça, como na capina.
          Outra parte fica na comunidade cuidando dos filhos, fazendo produtos de limpeza e outras na pequena fábrica de roupas, tapetes e colchas. Boa parte da matéria prima da fábrica vem de doação como retalhos, que possam ser reaproveitados na produção de roupas e adereços de acordo com a necessidade da comunidade e demanda comercial.
           As peças feitas na fábrica, tem hoje um bom mercado, mas o começo não foi fácil. Tentaram inicialmente vender a produção da fábrica em Belo Vale e comunidades rurais, mas as vendas eram pequenas.
          Mesmo assim, não desanimaram. Pegaram a produção da fábrica e foram para Belo Horizonte, oferecendo seus produtos de porta em porta.
          Hoje, uma parte da produção da fábrica é vendida na própria comunidade para turistas e visitantes, que sempre vem à Noiva do Cordeiro. Outra parte da produção é vendida em feiras e exposições de artesanato em várias cidades mineiras. Uma parte da produção agrícola fica na própria comunidade, outra parte, é vendida para a Ceasa de Belo Horizonte.
          As máquinas da pequena fábrica só param na época da colheita quando todas se juntam e vão para roça.
A comunidade de todos
          Com o dinheiro da venda da produção agrícola, da fábrica e juntando com o dinheiro que os homens da comunidade, doam, conseguem comprar sementes, bois, porcos, galinhas, ferramentas, além de ajudar em tratamentos médicos, reforma de casas, transporte dos moradores para outras localidades, caso necessitem, etc.
          Além disso, com esse dinheiro, compram matérias primas para a pequena fábrica e ainda, investem em melhorias na comunidade, além de manter as despesas da “Casa Mãe”, que são muito grandes.
          Todo o serviço comunitário é voltado para o sustento de todas as famílias da comunidade. Trabalham muito, mas não ao ponto de levantarem 4 da manhã e só retornarem no fim da tarde. Não são escravas do serviço. Isso porque trabalham em comunidade, em mutirão. Assim, o trabalho rende mais, é feito em menos tempo e se torna menos cansativo. Não trabalham para enriquecer e sim para terem o necessário e manter a qualidade de vida de todos da comunidade.
          Embora ninguém em Noiva do Cordeira seja rico, todos vivem na fartura, com conforto, segurança e tranquilidade.
          Em horas de folga, boa parte das mulheres da vila fazem pequenos trabalhos, como cigarro de palha, artesanato, ou seja, cada uma encontra uma forma de ganhar um dinheiro extra para comprar coisas pessoais como por exemplo, produtos de beleza, uma roupa nova, um celular melhor, fazer um passeio, etc.
          Quando alguém da comunidade quer algo e não tem condições financeiras para conseguir, todos ajudam, fazendo vaquinha.
          O foco da vida em Noiva do Cordeiro não é o dinheiro e sim no bem estar de todos e preservação vida em comunidade, da união, fraternidade, amor e respeito ao próximo.
          O trabalho em comunidade de Noiva do Cordeiro é um trabalho coletivo para o bem de todos, seguindo a filosofia da matriarca Delina: “Todos são por um, e um é por todos”
Lazer, diversão e o Sábado da Viola
          O maior lazer dos moradores de Noiva do Cordeiro é o prazer em estarem todos juntos, seja nas refeições, no trabalho da roça e nas horas de descanso. A maior diversão e alegria em Noiva do Cordeiro é o convívio saudável em família.
          Mulheres e homens da Vila, tem talentos natos para a música, artes cênicas e dança. Todos os sábados, no grande salão da Casa Mãe, acontece o sábado da Viola com a presença de toda a comunidade.
          São apresentações artísticas feitas pelos próprios moradores em apresentações solo, em duplas, como a dupla sertaneja Márcio e Maciel que compõem inspirados na história de Noiva do Cordeiro ou em grupos, como o grupo da Keyla Gaga (cover de Lady Gaga).
          Além disso, durante o Sábado da Viola, tem apresentações do grupo de teatro Quinta Geração, o Coral da Noiva e outras atividades culturais.
          É uma diversão para todas as idades e envolve toda a comunidade, além ser um momento de manifestação da união de Noiva do Cordeiro. Após as apresentações, alguns moradores sobem no palco para agradecer algo ou mesmo, se desculpar por algo que tenha feito.
          O Sábado do Viola é um momento de cultura, diversão e lazer, mas também de fortalecer a união, amizade e sentimento de amor e respeito que todos tem uns pelos outros.
O mundo e o Brasil descobre Noiva do Cordeiro
          No século XX, a história de Noiva do Cordeiro, era pouco conhecida em Minas e no Brasil. No século XXI, foi diferente.
          A epopeia de Noiva do Cordeiro despertou interesse da imprensa, com a comunidade e sua história se tornando conhecida, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
          O canal de televisão por assinaturas, GNT, foi o primeiro veículo de comunicação da documentar e tornar conhecida em todo o Brasil, a história de Noiva do Cordeiro. Mas foi no ano de 2014, que a epopeia de Noiva do Cordeiro ganhou os holofotes nacionais e internacionais, de forma mais contundente.
          De uma hora para outra, Noiva do Cordeiro virou notícia mundial através de reportagens de sites jornalísticos britânicos, alemães, americanos, turcos, tailandeses e chineses. Esses sites divulgaram matérias com um tema totalmente fora da realidade de Noiva do Cordeiro, apresentando a comunidade como terra de mulheres solteiras, para casamento.
          Nas reportagens dos sites de notícias estrangeiros, o vilarejo era mostrado como terra de mulheres solteiras em busca de casamentos. “Alerta aos solteiros: jovens de comunidade no Brasil estão em busca de homens’, era a manchete de um site. Em outro, a manchete era: “Cidade brasileira faz apelo aos solteiros.”. Até o Telegraph, de Londres entrou na história, com o título de sua matéria: “O vale das beldades brasileiras espera solteiros”.
          O erro das manchetes e reportagens, claro, causou enorme alvoroço na comunidade e perplexidade entre os mineiros.
          Além disso, as reportagens despertaram o interesse de vários homens solteiros de vários países do mundo, que acreditando na história, se interessaram em conhecer as mulheres solteiras de Noiva do Cordeiro. Foram vários homens, de vários países que vieram até Noiva do Cordeiro em busca de casamento.
          Com o tempo, a situação foi esclarecida através de informações corretas aos estrangeiros que apareceram na comunidade e à imprensa.
          Os estrangeiros e a imprensa de modo geral, conheceram melhor a história e a forma de vida das mulheres, bem como a história da comunidade. E ainda, que as mulheres da vila não estavam em busca de casamentos, e muito menos, desesperadas para casar, como mostravam às reportagens de jornais estrangeiros.
          O positivo nas matérias dos sites de notícias internacionais na comunidade foi o temor dos homens de Noiva do Cordeiro que não estavam levando muito a sério os namoros com as mulheres da comunidade. Trataram de assumir logo a relação, temendo perder suas namoradas para homens estrangeiros. O resultado foi o afloramento do amor entre os casais de Nova do Cordeiro e a solidificação de muitas uniões.
A epopeia de Noiva do Cordeiro na grande mídia
          Outro ponto positivo das reportagens internacionais foi que Noiva do Cordeiro se tornou conhecida não só no mundo, mas no Brasil e em Minas Gerais.
          A partir das reportagens internacionais, a imprensa brasileira se interessou mais à fundo Noiva do Cordeiro, bem como outros veículos de comunicação internacionais.
          Diversas emissoras de tv´s, jornais e revistas de Minas Gerais, do Brasil e de todo o mundo, já mostraram a história de Noiva do Cordeiro, bem como apresentadores de programas de TVs regionais e nacionais, além de Fernando Gabeira, que foi à Noiva do Cordeiro para fazer um documentário sobre a história da Comunidade, dentre outros tantos.
Estilo de vida únicos no mundo
          A presença de veículos de comunicação nacionais e internacionais, bem como de turistas brasileiros e de vários países do mundo, fez a comunidade entender que o estilo de vida da comunidade era diferente do restante do Brasil.
          Em Noiva do Cordeiro se vive em família, com foco no amor, na fraternidade, na solidariedade, na vida em comunidade e na busca de se tornarem pessoas melhores, a cada dia.
          É um ajudando o outro e todos trabalhando para todos. Perceberam com isso a diferença da vida na comunidade para o estilo de vida do restante do Brasil e do mundo. Não há a busca desenfreada por enriquecimento e individualidade, tradicional na sociedade capitalista que vivemos.
          Vivem de forma diferente e são felizes assim. Perceberam que eram diferentes e que a comunidade em que viviam era um lar familiar, um lugar onde são felizes e se sentem seguras.
          A forma de vida em Noiva do Cordeiro é única no Brasil. Foi um processo que surgiu naturalmente, ao longo de mais um século, para se protegerem da fome, do preconceito, da discriminação e solidão.
Exposição positiva
          Toda a exposição da mídia, ao longo dos últimos anos, foi muito importante para a comunidade, pois tiveram contato com a imprensa e pessoas de diferentes culturais, línguas e histórias de todo o mundo.
          Foi um aprendizado, que ajudou a comunidade a evoluir humanamente. Em Noiva do Cordeiro se valoriza o ser humano e não os bens materiais. Com tudo isso, aprenderam a dar mais valor ainda à comunidade e ao estilo de vida que viviam.
          É uma comunidade única no mundo. Todos são desapegados dos sonhos de consumo do capitalismo. Vivem o amor, a fraternidade, a amizade, o respeito ao próximo, a união entre todos e a vida em família.
Noiva do Cordeiro pelo mudo
          Foram inúmeros convites para cursos, palestras, estudos e viagens pelos Brasil e vários países do mundo. A convivência com pessoas de outras culturas foi muito importante para a comunidade, pelo conhecimento adquirido, pela maior evolução humana, principalmente, por entenderem o grande exemplo e valores humanos de Noiva do Cordeiro.
          Um fato importante a destacar é que mesmo com o convívio com outras culturas em viagens pelo Brasil e vários países do mundo, buscaram aprender e conhecer os estilos de vida diferentes do que vivem, com o objetivo de evoluírem humanamente. Em momento algum mostraram interesse em evolução material.
          As belas mulheres que cantam, dançam, interpretam, continuam na lida na roça, na fábrica, vivendo na comunidade e vivendo a vida em família, onde se sentem segura, protegidas e são felizes. Buscam sempre seguir o conselho da matriarca, Delina, que é sempre buscar ser melhor a cada dia.
Talento artístico para o mundo
          Com a exposição na mídia, o talento artístico da comunidade tornou-se conhecido com os grupos da comunidade, principalmente da banda de Keyla Gaga (a cover de Lady Gaga), se apresentando em eventos e mega eventos por Minas e outras cidades brasileiras, além da banda ser conhecida também em outros países, através de vídeos e reportagens diversas.
          Isso fez com que a comunidade e os artistas tivessem mais contato com a internet, entenderem sobre organização de shows, eventos, além de conhecerem as tendências musicais e outros idiomas. Foi um aprendizado profissional, que levou maior aprimoramento dos artistas de Noiva do Cordeiro.
          Com isso, os shows artísticos dos grupos de Noiva do Cordeiro, estão no mesmo nível dos grandes shows, de artistas famosos.
Estrutura para turistas
          Em Noiva do Cordeiro todo visitante e turista é bem-vindo e são recebidos com muito calor humano e alegria pela comunidade.
Não tem pousada e nem restaurante. Normalmente os turistas vem e voltam no mesmo dia. Caso alguém queira ficar, são recebidos nas casas das famílias da Vila, que preparam os quartos da casa, o café da manhã, bem como o almoço.
          Para atender às necessidades da comunidade, foi criada uma loja com produtos de beleza, bijuterias, calçados, etc. Isso evita que os moradores tenham que se deslocarem para a cidade grande para comprarem esses itens. O turista pode adquirir ainda os trabalhos feitos na fábrica, como tapetes, roupas e colchas.
Visão da sociedade atual
          Se no passado, Noiva do Cordeiro foi uma comunidade isolada, marginalizada e discriminada, devido ao amor de Chico Fernandes e Senhorinha, pela igreja evangélica instalada no local e pela opção da comunidade em não ter religião e nem frequentar igrejas, hoje é bem diferente.
          Noiva do Cordeiro é respeitada na cidade de Belo Vale, nos povoados e cidades das redondezas. As barreiras sociais que isolaram a comunidade, foram diminuindo ao longo do tempo, permitindo com isso uma convivência amigável e respeitosa com sociedade regional e a igreja, tanto católica, quanto evangélica.
Comunidade única
          Em termos gerais, a visão é de que Noiva do Cordeiro é uma comunidade única. Um jeito ideal e correto de viver em comunidade, sonhado por filósofos, intelectuais, por pacifistas, ambientalistas, enfim, por todos que buscam uma vida em sociedade harmoniosa, solidária, cooperativa, com respeito e união fraternal.
          Só que chegar a esse nível de convivência social, não é fácil. Não tem apenas que ter vontade, um grupo ou um sonho, mas uma opção pelo desprendimento de dogmas religiosos, de filosofias materialistas, do egoísmo, do consumismo desenfreado, da ganância pelo conforto material e do individualismo.
          Desprender disso tudo não é fácil e a maioria não está disposta a abrir mão do conforto individual, para viver uma vida coletiva. Por isso, vão à Noiva do Cordeiro, admiram a história, a forma como vivem em comunidade, o estilo de vida simples e desprendido de ambições materiais, mas param por aí. Optam por continuar a vida que levam.
          O estilo de vida da comunidade de Noiva do Cordeiro se formou ao longo de mais de um século, até ser o que é hoje. Pais dão exemplo de vida em comunidade, desprendimento e trabalho comunitário e os filhos aprendem. E assim segue o aprendizado e solidificação da vida em comunidade.
          O estágio atual atingido por Noiva do Cordeiro foi uma consequência gradual da união, respeito, amor ao próximo, aprendizado e evolução de todos da comunidade.
Melhor vila turística do mundo
          Melhor Vila Turística do Mundo é um concurso anual promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo do concurso é premiar pequenas comunidades alinhadas com 17 objetivos relativos ao desenvolvimento sustentável, definidos pela entidade. Entre esses objetivos destacam a preservação ambiental, preservação das tradições, da promoção da igualdade social e de gênero, produção agrícola sustentável, fome zero, consumo e produção responsáveis, etc.
          O concurso é anual e cada país pode indicar até 3 vilas. A indicação só pode ser feita pelo Ministério do Turismo. No caso, as prefeituras indicam suas vilas e a equipe do Ministério do Turismo analisa e escolhe três para concorrerem com as vilas do mundo.
          Noiva do Cordeiro preenche os quesitos para entrar para o seleto grupo das Melhores Vilas Turísticas do Mundo. Cabe a prefeitura de Belo Vale tomar a iniciativa junto ao Ministério do Turismo. Vale a dica.
Informações e fotografias fornecidas por Márcia Fernandes. Contato para informações sobre Noiva do Cordeiro, bem como agendamento de visitas: 31 99903-3531.
AVISO LEGAL: Proibida a reprodução sem prévia autorização do autor.

domingo, 3 de abril de 2022

Os queijos de altitude de Diamantina

(Por Arnaldo Silva) A produção de queijos artesanais em Diamantina e região, tem origens no século XVIII, a partir de 1734. Graças ao intenso trabalho da Emater e produtores de queijos, foi reivindicado, através de um estudo comprovando a tradição secular da produção de queijos em Diamantina. O estudo foi entregue ao Governo de Minas, com o reconhecimento oficial da nova região queijeira mineira pelo Estado,  oficializado em 29 de março de 2022. 
          A cidade histórica de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, juntamente com mais 8 cidades em seu entorno, foram reconhecidas em 29 de março de 2022 como região queijeira mineira, pelas autoridades sanitárias e pelo Governo de Minas. (fotografia acima de Giselle Oliveira)
          A nova região queijeira mineira formada pelas cidades de Diamantina, Felício dos Santos, Gouveia, Datas, Couto de Magalhães de Minas, Presidente Kubitschek, São Gonçalo do Rio Preto, Senador Modestino Gonçalves e Monjolos. Com o reconhecimento da região de Diamantina como queijeira, são agora 10 regiões mineiras reconhecidas como produtoras de Queijo Minas Artesanal (QMA).
          Com o reconhecimento de uma região como queijeira, as queijarias que seguem as normas sanitárias e exerçam a atividade formalmente, recebem o certificado de Identidade Geográfica (IG), expedido pelo Ima e Selo Arte (AS), expedido pelo Ministério da Agricultura.
          Os dois selos, permitem a comercialização de produtos lácteos, mel e embutidos, em todo o território nacional e reconhecimento oficial, da qualidade e boas práticas na produção dos produtos. As queijarias mineiras que recebem os selos IG e AS, passam por rigorosas adaptações e controles sanitários, além de fiscalizações constantes.
Características principais dos queijos
          As características dos queijos da região de Diamantina, somente podem ser encontradas nas 9 cidades que formam a região queijeira. Um dos maiores diferenciais dos queijos desta região é a altitude desses nove municípios, que varia de 800 metros a 1420 metros..
          Os efeitos da altitude e umidade, na incidência da flora bacteriana, que dão vida e sabor aos queijos, são características principais que formam a personalidade dos queijos de Diamantina e região, chamados também de “queijos de altitude”.
          Os queijos de altitude da microrregião de Diamantina, trazem não apenas a tradição do sabor do queijo, mas um pouco da vida e história de várias gerações familiares. (na foto acima, Queijos Datas Guzerá de Datas MG). 
Queijos de casca lavada
          São queijos artesanais finos, de sabor único, caracterizado principalmente por sua casca lavada, na forma de meia cura ou curado. (na foto acima, queijos da queijaria Datas Guzerá, de Datas MG)
          Os queijos de casca lavada sãos os característicos da região, embora existam alguns tipos de queijos que apresentem derivações com mofos brancos, com casca enrugada e espessa, sabor leve e um pouco crocante, estarem presentes em algumas queijarias, a tradição e história, tem como base os queijos de casca lavada. (na foto acima, queijo da Queijaria Recanto do Vale)
          De casca lavada ou com mofos esbranquiçados, em comum, apresentam o corpo firme, com textura densa, mas ao mesmo tempo, cremosa. E ainda, os queijos de Diamantina possuem baixa acidez e intensidade leve e crocância suave. Isso dá à iguaria, suaves notas de castanha. 
          São características que simbolizam a tradição e vocação da região, na arte de transformar o leite cru, em um alimento vivo, saudável, saboroso e único. (queijos da Queijaria Andrade Vale)
          Esse é o terroir (pronuncia-se terruá), da região de Diamantina. Esse termo, é francês e é usado para definir todo o conjunto de aspectos físicos que definem a qualidade, sabor e características principais de produtos de uma região, como por exemplo, clima, relevo, pureza da água, pastagens, qualidade da terra, etc. Essas características específicas, torna os produtos oriundos dessas regiões, únicos e inigualáveis. (na foto acima, gado Guzerá da Queijaria Datas Guzerá de Datas MG e abaixo, gado holandês da Queijaria Soberana)
A valorização dos queijos da região
          Nos últimos anos, o Queijo Minas Artesanal (QMA), produzido com leite cru, se valorizou no cenário mundial, devido as seguidas premiações no exterior.
          Nas nove cidades que formam a microrregião, são produzidos queijos de altíssima qualidade, em diversas queijarias, como o queijo Datas Guzerá (na foto acima), dos produtores Richard e Maria Cristina Andrich, do município de Datas e o Queijo Braúnas (na foto abaixo), ambos premiados com medalhas de bronze e ouro, respectivamente, no Mondial Du Fromage, na França, em 2019, além de outras premiações regionais e nacionais, o que mostra o enorme potencial queijeiro a região.
          Tem ainda os queijos das queijarias Soberana, Mata Serena, Andrade Vale, Recanto do Vale, Pau de Fruta, Fazenda do Buraco, dentre outros produzidos na região.
          No maior concurso de queijos do Mundo, o Mondial du Fromage, realizado na França, os queijos brasileiros foram premiados com 58 medalhas. Dessas 58 medalhas, 50 foram para os queijos de Minas Gerais.
           Além disso, em outros concursos de queijos em países tradicionais na produção queijeira, como Noruega e Itália, por exemplo, novamente, os queijos mineiros se destacaram, com premiações diversas.
          Com a ascensão e valorização ainda maior do queijo mineiro, há mais de 300 anos reconhecido como o melhor do Brasil, os produtores de queijos do Estado, vem recebendo apoio e assistência dos órgãos governamentais para legalização, manejo adequado do gado e boas práticas na produção dos queijos. 
Aprodia
          Em Diamantina, são 15 produtores de queijos, que se uniram e fundaram em 4 de maio de 2018, a Associação de Produtores de Queijos da Microrregião de Diamantina (Aprodia). A entidade é presidida atualmente pelo produtor rural, vice-presidente da Associação Mineiro de Produtores de Queijo Artesanal (Amiqueijo), Leandro Assis, com sede à Rodovia MG 367, km 595, Alto do Guinda, em Diamantina MG. Juntaram-se ainda a, entidade, produtores dos outros 8 municípios, que formam a microrregião. (na foto acima, queijo da Queijaria Soberana) 
          A Aprodia busca unir os queijeiros da região, na defesa de seus interesses, melhorar a qualidade da produção de seus queijos, na profissionalizar das queijarias, visando o reconhecimento e recebimentos dos selos IG e AS dos queijos produzidos nas queijarias da região de Diamantina. (na foto acima, queijos da Queijaria Mata Serena)
          Além disso, a entidade organiza diversos eventos, oficinas e festivais de divulgação e comercialização dos queijos da região como o Festival de Queijos e Vinhos de Diamantina, além de ajudar na capacitação do produtor de queijos, intercâmbios com outras regiões queijeiras, dentre outras atividades. (foto acima Aprodia/Divulgação)
Queijo é tradição e história
          Ter um Queijo Minas Artesanal na mesa, é a valorização da herança familiar. Quando se leva para a mesa um queijo, leva junto a história do lugar, a tradição e o trabalho dos produtores, que sustentam ao longo de gerações, a mais pura vocação do povo mineiro, de fazer queijos. (fotografia acima de Leandro Assis)

          O queijeiro mineiro não vende, simplesmente, queijos e sim um pouco de sua história, da tradição especial de sua família e principalmente, o sabor de Minas Gerais.

sábado, 2 de abril de 2022

As diferentes altitudes de Belo Horizonte

(Por Arnaldo Silva) Belo Horizonte, a Capital de Minas Gerais, conta atualmente com cerca de 2,5 milhões de habitantes. Com uma área territorial de 331 km², é o município mais populoso do estado, o terceiro da região Sudeste e o sexto do país.
          Belo Horizonte foi considerada a metrópole de melhor qualidade de vida na América Latina, quando foi indicada pelo Population Crisis Commitee, da Organização das Nações Unidas (ONU). (Belo Horizonte na fotografia acima de Thelmo Lins)
          Além disso, por contar com 32 m² de área verde por habitante, o triplo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, Belo Horizonte recebeu o diploma de “Cidade Modelo na Área Ambiental”.
          Segundo dados da ONU, de 2008, Belo Horizonte está entre as 100 melhores cidades do mundo, ocupando aa 45.ª posição no ranking da entidade, nesta época.
          Em 2009, Belo Horizonte foi classificada pela revista América Economia, como uma das dez melhores cidades latino-americanas para fazer negócios. Ficou atrás apenas de São Paulo e à frente de Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba, segundo a revista.
          Embora tenha muito ainda que melhorar em todas as áreas, a cidade oferece boa infraestrutura urbana e de qualidade de vida a seus moradores, em relação a outras capitais do país.
Altitude da capital os mineiros
          O que chama atenção na capital mineira, além dos bares, botecos, sua gastronomia, arquitetura, festivais, dezenas de teatros, museus, parques, praças e jardins, são as montanhas em seu redor e principalmente suas diferenças climáticas, provocadas por diferentes altitudes. (na foto acima de Marley Mello, a região da Pampulha em BH)
          Belo Horizonte não é uma cidade plana. Sua altitude média é de 852 metros acima do nível do mar, mas isso não quer dizer que seja essa a altitude de toda a cidade. Em cada região, podemos perceber altitudes variadas e até discrepantes, entre e menor e a maior altitude.
Variações de altitudes de Belo Horizonte
          A altitude de Belo Horizonte está entre 673 e 1.506 metros acima do nível do mar, com variação média de 800 metros de altitude, segundo o setor de Geoprocessamento da Empresa de Informática e Informação de Belo Horizonte (PRODABEL). (fotografia acima de Charles Tôrres/@charles50mm)
          Com 673 metros de altitude, acima do nível do mar, o ponto mais baixo da capital mineira é o bairro Capitão Eduardo, nas proximidades da foz do Ribeirão do Onça com o Rio das Velhas, na região Nordeste de Belo Horizonte.
          Já o ponto mais alto é a Serra do Curral Del Rei, no outro extremo do ponto mais baixo, ao sul de Belo Horizonte. O pico mais alto da Serra do Curral, encontra-se no Parque do Rola Moça, a 1506 metros de altitude.
          Em termos de regiões e bairros, segundo dados da Prodabel, a região mais alta de Belo Horizonte é a região Centro-Sul, com destaque para os bairros Belvedere, a 1.284 metros de altitude e o bairro Mangabeiras, a 1400 metros de altitude.
          Na Zona Leste, o bairro Baleia registra 1.390 metros de altitude e o bairro Concórdia, 928 metros. Na Zona Norte, o bairro Serra Verde é o de maior altitude, com 943 metros. Já na região Noroeste da Capital, o bairro Califórnia está a 988 metros, acima do nível do mar.
          No restante das regionais de Belo Horizonte, a altitude está abaixo de 900 metros de altitude.
Alta e baixa pressão atmosférica
          Tanta diferença assim na altitude, faz com que o clima da capital mineira seja completamente diferente em vários bairros e regionais da capital. Isso porque a altitude influencia no clima, através da pressão atmosférica. Como consequência, ocorre o aumento ou diminuição da temperatura. Ou seja, quanto maior for a pressão do ar, o clima será mais quente e quanto menor for a pressão, será mais frio. (na foto acima de Leandro Leal, a Praça do Papa na região Centro Sul da capital)
          Sem contar os efeitos da altitude sobre o organismo. Quanto maior a altitude, mais leve é o ar e a circulação de oxigênio, menor. Como consequência, ocorre a diminuição da pressão atmosférica. O organismo humano sente as consequências da diminuição da pressão atmosférica, com reações como falta de ar, dores de cabeça, náuseas, fraquezas, abatimento e moleza.
          Em lugares de baixa altitude, ocorre é o aumento da pressão atmosférica. Isso faz com que a quantidade de ar seja maior e a sensação do ar estar “pesado”. O corpo humano reage quando ocorre mudanças bruscas de altitude, como por exemplo, sair de baixa altitude para outra de alta. Em 1 ou 2 dias, dependendo do organismo, podem ocorrer falta de ar, cansaço rápido, indisposição, aumento dos batimentos cardíacos, dores de cabeça, náuseas e distúrbios do sono.
          Essas sensações adversas, provocadas pelas diferentes altitudes da capital, são mais sentidas no outono e primavera, devido estiagem e baixa umidade, que torna o clima seco e o ar rarefeito. Já os visitantes e turistas, sentem a diferença de imediato, bem menos que os moradores da capital, que já tem o organismo mais adaptado às diferentes pressões atmosféricas.
          Em um bairro, o ar pode estar leve e úmido, em outro, pesado e seco. Pode estar frio em uma regional e quente em outra. Chover em uma região e em outras, nem sinal de chuvas. (na foto abaixo de Thelmo Lins, vista parcial de Belo Horizonte)
          Conhecendo as diferentes altitudes e características climáticas da capital, bem como suas variações, facilita a ação do poder público no planejamento de ações tanto na área de saúde, quanto em intervenções urbanas na capital.

sexta-feira, 25 de março de 2022

Belo Vale: um passeio pelas origens mineiras

(Arnaldo Silva) Atualmente com cerca de 8 mil habitantes, Belo Vale faz divisa com Congonhas do Campo, Ouro Preto, Moeda, Brumadinho, Bonfim, Piedade dos Gerais e Jeceaba. Está a 80 km de Belo Horizonte, a 797 metros de altitude, na região do Quadrilátero Ferrífero Mineiro.
          Além da sede, Belo Vale (na foto acima de Marcelo Melo) o município conta com vários povoados e distritos, como: Noiva do Cordeiro, Roças Novas, Santana, Boa Morte, Salgado, Laranjeiras, Costas, Pintos, Lajes, Curral Moreira, Chácara, Moreira, Posse, João Alves, Chacrinha, Pedra, Tróia, Arrojado, Palmital e Barra Nova. (na imagem abaixo de Mauro Euzébio/@mauroart, a Matriz do distrito de Roças Novas de Baixo)
Uma das primeiras povoações de Minas
          A história de Belo Vale começa com a formação de um arraial em 1681, no século XVII. Fundada por bandeirantes, foi uma das primeiras povoações surgidas em Minas Gerais. 
          O povoamento do pequeno arraial cresceu, graças a descoberta de ouro na região em 1700, nas roças de Matias Cardoso, atualmente, distrito de Roças Novas. Em 1735, era erguida a primeira igreja, dedicada a Sant´Ana, quando o arraial passou a se chamar Santana do Paraopeba.
          Devido a terras áridas, onde estava o arraial, em 1760, um novo povoado foi formado nas proximidades do Rio Paraopeba, onde as terras eram férteis e próprias para a lavoura e criação de gado.
          Com a mudança do local do povoado, uma nova igreja foi erguida em m 1764, dedicada a São Gonçalo, com o novo arraial se chamando, São Gonçalo. Tempos depois, com a construção de uma ponte de madeira sobre o Rio Paraopeba, o arraial passou a ser chamado de São Gonçalo da Ponte. Em 1839, no século XIX, a vila foi elevada a distrito, subordinada a Bonfim MG.
          A partir de 1914, São Gonçalo da Ponte adota o nome de Belo Vale, em alusão aos belos e imensos vales da região. Em 17 de dezembro de 1938, Belo Vale é elevada à cidade emancipada.
A chegada da ferrovia e do desenvolvimento
          Com a instalação do ramal do Paraopeba, da Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1914, começa de fato o desenvolvimento e crescimento de Belo Vale. Para abrigar os ferroviários e suas famílias, casas em estilo inglês, do início do século XX, para abrigar os ferroviários e suas famílias, bem como a Estação Ferroviária da cidade. (na foto acima de Leandro Leal e abaixo de Mauro Euzébio/@mauroart, pontilhão sobre o Rio Paraopeba em Belo Vale)
          Os trens que passavam por Belo Vale, levavam e traziam gente e também, levava me traziam minério de ferro e outros produtos. Hoje, o ramal ferroviário faz parte da Ferrovia do Aço e os trens continuam passando por dentro de Belo Vale, mas levando e trazendo apenas minério de ferro e outros produtos.
          Do saudoso tempo do trem de passageiros, restaram a charmosa Estação Ferroviária, as belas construções em estilo Inglês dos ferroviários e operários, fotos e lembranças de quem viveu nessa época. (na foto acima de Mauro Euzébio/mauroart, tem carregado de minério, onde antigamente, passava trem de passageiros em Belo Vale)
         Com o crescimento proporcionado pela ferrovia, novas construções em estilo inglês, eclético e modernista, começaram a surgir na cidade, ao longo do século XX. (na foto acima de Thelmo Lins, a antiga Estação Ferroviária de Belo Vale e a Vila Operária em seu entorno)
          Belo Vale continua com sua vocação original de ser uma cidade produtora de alimentos, se destacando em Minas Gerais na produção de frutas, como a mexerica e hortaliças, além da mineração. (fotografia acima de Mauro Euzébio/@mauroart)
Atrativos turísticos urbanos
          Belo Vale é um dos poucos municípios mineiros que reúne a história das origens de Minas, do Ciclo do Ouro, da religiosidade, das primeiras fazendas produtoras de alimentos, bem como a tradição das ferrovias. (fotografia acima de Marcelo Melo e abaixo de Mauro Euzébio/@mauroart)
         Além disso, sua arquitetura foi formada por todos os estilos arquitetônicos presentes em Minas Gerais, desde o século XVII como o Nacional Português, o Barroco Mineiro, o Eclético, o Modernista, o Contemporâneo, além do estilo Inglês, das primeiras décadas do século XX, com destaque para o Casarão dos Araújo, o popular sobrado da Praça, datado de 1929.
          Na cidade, uma construção em estilo colonial, chama a atenção dos visitantes. É o Museu do Escravo, inaugurado na cidade em 13 de maio de 1988. Instalado num casarão bem preservado, no Centro da cidade, o museu é o mais completo do gênero na América Latina. Humilhações e crueldades praticadas contra os escravos, estão reunidos em mais de 3.500 peças muito bem preservadas. (na fotografia acima de Evaldo Itor Fernandes)
          Em frente ao Museu do Escravo está a Matriz de São Gonçalo, construída em 1764, um ótimo ponto para visitação. (na fotografia acima de Mauro Euzébio/@mauroart)
Atrativos turísticos rurais
          Os principais atrativos de Belo Vale podem ser vistos em sua área rural, em todos os seus distritos. Tanto a cidade, quanto os povoados rurais, contam com boa estrutura e pousadas, para receberem os visitantes, mas as melhores pousadas da cidade, bem como a boa gastronomia mineira, estão nas comunidades rurais.
          Entre esses povoados está Boa Morte, 6 km distante do Centro de Belo Vale. Boa Morte tem origem na formação de quilombos na região. Na comunidade, destaque para a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, datada de 1760. (na fotografia acima de Thelmo Lins)
          Outra igreja na zona rural que merece uma visita é a Igreja de Santana, distante 9 km do Centro da cidade. Por ser o mais antigo templo do município, é de grande importância para a cidade.  (fotografia acima de Thelmo Lins)
          Embora sua fachada tenha sido modificada, principalmente no século XX, sua história e importância para a cidade está preservada. Da fachada o que restou de original foi apenas a placa, que data sua construção, 1735.
          A pequena igreja está bem cuidada e se destaca no local por estar no topo de uma colina, em tons brancos e azuis, ladeada por frondosas árvores e uma bela vista do vale de montanhas que circundam Belo Vale.
Ruinas do Forte e a Calçada de Pedras
          Outro local interessante para visitação é o Forte das Casas Velhas, construído em pedras pelos escravos, em 1790. Está a 12 km do Centro da Cidade, na Serra do Mascate. Durante o Ciclo do Ouro, no local funcionou a antiga alfândega e o forte militar, onde presos políticos, contrários à Coroa Portuguesa, eram encarcerados.
          Um pouco à frente do Forte das Casas Velhas, está a Calçada de Pedras, feita pelos escravos. Na época, a Calçada ligava a Fazenda Boa Esperança à antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto. Foi construída para fazer o escoamento da produção da fazenda Boa Esperança e também para receber mercadorias vindas da capital da província, que era Vila Rica. Atualmente, resta apenas um pequeno trecho da calçada.
A Fazenda Boa Esperança
          Por falar na Fazenda Boa Esperança, o lugar é ponto obrigatório para visitação. Está apensa 3 km do Centro da cidade. Formada entre 1760 e 1780, sua arquitetura foi inspirada nas construções do Norte de Portugal. Seu interior possui ainda pinturas do Mestre Ataíde.
           No auge da extração do ouro na Serra do Mascate, a Fazenda Boa Esperança chegou a ter cerca de 1000 escravos. A fazenda produzia ainda alimentos para a região, já que suas terras eram férteis.
          A sede da Fazenda Boa Esperança, foi residência do Barão de Paraopeba (Romualdo José Monteiro de Barros, nascido em Congonhas do Campo em 1756, foi presidente da província de Minas Gerais entre 10 de junho a 17 de julho de 1850. Faleceu em 16 de dezembro de 1855. (fotografia acima e abaixo de Evaldo Itor Fernandes)
          A sede da Fazenda Boa Esperança é um dos mais importantes patrimônios históricos de Minas Gerais e do Brasil, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, desde 1959 e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico - IEPHA/MG, desde 1975.
          Totalmente restaurada não consta nenhum mobiliário, apenas cômodos vazios, corredores, portas e janelas enormes, uma singela capela e toda a estrutura interna, muito bem conservada. Tanto na parte exterior, quanto interior, percebe-se a riqueza arquitetônica e estrutura da construção. É de impressionar! Ainda mais com a beleza em redor, com frondosas árvores a dar mais vida e charme ao casarão. (fotografias acima de Thelmo Lins)
Cachoeiras
          Completa a beleza do idílico cenário cinematográfico de Belo Vale, paradisíacas cachoeiras com destaque para a Cachoeira da Serra às margens da MG-442 que liga Belo Vale à BR-040 e a Cachoeira da Boa Esperança, próxima à Fazenda Boa Esperança. Essa cachoeira possui leves quedas e toboáguas naturais.
          No povoado da Pedra, a 7 km da sede, tem a Cachoeira da Usina. Outra cachoeira apreciada pelos banhistas é a Cachoeira do Moinho no povoado dos Costas, a 10 km do município e também a Cachoeira do Zé Pinto, a 7 km da sede, no povoado de Boca Calada.
          No povoado de Santana a 8 km da sede, está a Cachoeira do Geraldão. Tem ainda a Cachoeira das Lages, um pouco mais longe, a 20 km da cidade de Belo Vale, no povoado de Lages e a Cachoeira do Mascate, dentre outras tantas.
          Belo Vale (na foto acima de Evaldo Itor Fernandes) tem muitos encantos, naturais e arquitetônicos que vale a pena serem descobertos pelos mineiros e brasileiros. Uma das primeiras povoações de Minas Gerais, com uma rica e diversificada história e arquitetura, um povo gentil e acolhedor, merece ser conhecida, desvendada e visitada.

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