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sábado, 8 de janeiro de 2022

Esmaltados: origem, tradição e arte

(Por Arnaldo Silva) Canecas, bules, chaleiras, pratos e outros utensílios esmaltados, fizeram parte da vida da maioria do povo brasileiro. Substituídas pelos utensílios de vidro e cerâmica, os esmaltados estão voltando às nossas casas, para uso e até mesmo, decoração.
          São peças com acabamentos simples, mas carregada de beleza, charme e nostalgia, principalmente. Ter um utensílio esmaltado, hoje, é como ter um pedaço de nosso passado em casa. É uma gostosa lembrança, uma saudade da casa da avó, da vida no interior.
          Mesmo que seja uma simples canequinha branca, ela traz sempre lembranças em nossas vidas. É esse o encanto que os esmaltados proporcionam. É nostalgia pura.
Origem dos esmaltados
          Esmaltar utensílios é uma prática bem mais antiga que se pensa. Essa técnica surgiu no século 13 a.C, no antigo Egito. Era usada pelos egípcios na decoração de pedras, utensílios domésticos de cerâmicas, artesanatos e objetos de metal, principalmente joias. (acima, esmaltados da década de 1960 em antiquário em Bom Despacho MG)
          A partir do Egito, a técnica se expandiu para o mundo antigo e passou a ser usada também pelos persas, celtas, gregos, chineses, georgianos, romanos, bretões, etc. 
          Na antiguidade, o esmalte era usado na decoração e ornamentação, joias em metal, utensílios e artesanato em cerâmica e nos ornamentos religiosos.
          Uma técnica revolucionária, desde a antiguidade, presente na decoração dos mais belos templos religiosos e palácios e em detalhes arquitetônicos de cidades.
          Artesanatos e joias esmaltadas da antiguidade, são hoje valiosíssimas peças de museus em vários países do mundo, principalmente na Ásia e Oriente Médio.
O processo dos esmaltados
 
          O esmalte é obtido através da dissolução de vidro em pó com outros componentes minerais. As peças já prontas, em metal ou cerâmica, mergulhadas no esmalte. (escondidinho debaixo da cama, estava sempre o penico esmaltado. Peça que fotografei em fazenda do início século XX em Bom Despacho MG)
          Após secarem, as peças são levadas ao forno, onde são aquecidas entre 750°C a 850°C. Com o aquecimento, acontece a fusão do esmalte com o suporte (metal ou cerâmica) ocasionando a incorporação do esmalte às peças, garantindo assim sua fixação e segurança no uso.
A popularização dos esmaltados
          Até o século XVIII, esmaltado era restrito a camadas mais abastadas, já que seu uso era mais comum nas artes e na decoração de joias. Foi durante a Revolução Industrial (1760/1840), na Alemanha, que a antiga técnica egípcia começou a se popularizar. (acima, uma foto que fiz de uma máquina de fazer sorvetes no século passado, em uma antiquário em Bom Despacho MG)
          Com o surgimento da siderurgia, utensílios domésticos em ferro fundido como panelas e canecas, começaram a serem feitos em larga escala. Eram mais práticos e mais resistentes que os utensílios em cerâmica e pedras, que existiam.
          Porém, eram bastantes rústicos, enferrujavam com rapidez e modificavam o sabor dos alimentos, já que desprendiam os metais existentes no ferro durante o cozimento e obviamente, causavam problemas à saúde.
          A necessidade de melhorar a qualidade dos utensílios feitos em ferro fundido, fez com que se buscasse um revestimento que evitasse os problemas causados pelo ferro bruto fundido.
          Além disso buscavam melhorar a qualidade e aumentar a segurança dos utensílios em ferro fundido durante o cozimento e que não encarecesse muito as peças, para que fossem acessíveis à todas as camadas da sociedade.
          Foi aí que a antiga técnica de esmaltar peças dos egípcios começou a ser usada pelos alemães, sendo aperfeiçoada, surgindo assim uma tinta esmaltada que atendesse às indústrias de fundição na época.
          Esse tipo de esmalte garantia a qualidade e beleza das peças, além de torna-las mais resistentes, por exemplo, aos ácidos presentes nos alimentos e evitar a ferrugem e desprendimento de metais.
A popularização dos esmaltados
          Com o avanço da Revolução Industrial e popularização da tinta esmaltada, foram surgindo inovações ao longo do tempo como o uso do esmalte em fogões, utensílios para lojas, hospitais, móveis, sinalizações de ruas, brinquedos em metal, outros utensílios domésticos como penicos, bacias, lavatórios, etc. (na imagem acima que fiz em um antiquário em Bom Despacho MG, bicicletas do século passado)
          Com a industrialização e novas tecnologias, novos tipos de esmaltes foram surgindo, bem como a inovação de cores e produção industrial em larga escala. Antes tradicionalmente brancos, passaram a ter a coloração vermelha, preta, amarela, azul, verde, etc.
          São peças lindas e acima de tudo, refletem a cultura, estilo de vida e tradição de uma família, comunidade e até de uma cidade.
A arte nos esmaltados
          Esmaltar objeto de cerâmica como vasos e jarras, joias e metais, na antiguidade, tinha fins artísticos. Os objetos esmaltados recebiam por fim, acabamentos em pinturas diversas, de acordo com as tradições e estilo de vida dos povos e de quem os encomendava. (a imagem acima de autoria de Sila Moura, mostra um bule e canecas esmaltadas)
          As peças esmaltadas, encontradas no antigo Egito, na Pérsia, Grécia, Roma, China e outros países, mostram claramente isso. São desenhos que retratam a arquitetura, personagens, instrumentos camponeses, animais, batalhas, etc.
          A beleza da arte antiga nos esmaltados, impressiona, principalmente no acabamento final das joias.
Diferencial
          Os esmaltados coloridos e artísticos se destacam, tem personalidade e um diferencial que cristais e peças mais bem trabalhadas, não tem. (a imagem acima da Katita Jardim da loja Trem de Ferro em Belo Horizonte, mostra uma pratos e canecas esmaltadas com desenhos feito pela artesão Fabiana Natalino)
          Esse diferencial é a nostalgia, o laço sentimental e familiar que esses utensílios carregam, até mesmo por gerações.
          Em algumas famílias, esmaltados compõe herança familiar. São relíquias herdadas de pais, avós e bisavós, de alto valor sentimental, que os herdeiros guardam e preservam com muito carinho e dificilmente vendem.
          Isso porque seria como se fossem vender uma parte da vida de seus antepassados, uma parte de suas histórias.
Em Minas Gerais
          Em sua origem, o esmalte era usado pelos povos antigos para fazer pinturas nas peças, em cerâmica e metal. Na produção em larga escala predominava a cor branca, sem desenhos. (acima, uma chaleira esmaltada e com desenhos artísticos feitos por Fabiana Natalino de Espera Feliz MG, fotografada pela Katita Jardim da loja Trem de Ferro em Belo Horizonte)
          Essa prática de mais de 3 mil anos, está voltando aos esmaltados pelas mãos de nossos artistas, que colocam seus talentos na arte de pintar, em bules, chaleiras, pratos, copos e canecas.
          No caso de Minas Gerais, as pinturas nos utensílios esmaltados retratam o cotidiano do interior, a vida na roça, o mineirês e a simplicidade do povo mineiro. (na imagem acima e abaixo, canecas esmaltadas com escrita em mineirês e com direito a caixa personalizada, feita pela Thalyta Moreira/@amoreira_loja em Divinópolis MG)
          Os esmaltados são trabalhados com a arte mineira, com figuras de galinhas, ovos, vacas, carro de bois, fogão a lenha, cavalos, paisagens rurais, café no coador, flores, etc.
As canequinhas
 
          As charmosas canequinhas esmaltadas são as queridinhas, tanto para uso doméstico, quanto para a arte e decoração. Estão mais presentes no cotidiano da vida no interior e também, na vida dos que deixam sua terra natal, para viverem na cidade grande. (a imagem acima da Marluce Ferreira Barros, de Ipatinga, mostra a hora do cafezinho e sempre uma canequinha esmaltada está presente)
          Não tem um que não conheça, tenha em casa ou ao menos, usado um dia na vida uma canequinha esmaltada.
          Elas transmitem simplicidade, nos faz voltar ao tempo e reviver uma gostosa saudade da vida no interior, em família. É a lembrança da casa de vó, da infância, dos cafés da manhã e da tarde nas canequinhas. (na imagem acima, prato esmaltado com desenhos feitos pela artesã Daniela, registrado pela Katita Jardim da loja Trem de Ferro em Belo Horizonte)
          Os esmaltados antigos são difíceis de encontrar. Bem resistentes, pesados, mas charmosos. São relíquias de famílias, encontradas em casarões seculares e em antiquários, mas continuam sendo fabricadas e presentes em nossas casas.
          Tanto as canecas, como os bules, panelas, chaleiras, copos, são práticos, bem resistentes e até os dias de hoje, continuam a nos encantar e emocionar. Continuam ainda acessíveis a todas as camadas sociais sendo feitos em escala industrial.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Diferenças entre broa e bolo, biscoito e bolacha

(Por Arnaldo Silva) A cozinha mineira, em sua origem, tem como base a gordura de porco, a galinha caipira, a mandioca e seus derivados, como o polvilho. A carne de porco, a galinha caipira, o fubá, as hortaliças de quintal e pomar como couve, ora-pro-nobis, quiabo e frutas, além do leite e seus derivados como queijos e doces.
          São sabores, que se tornaram fazeres e saberes de Minas Gerais, responsáveis pela identidade da culinária mineira. (acima, foto de bolo da Regina Rodrigues, de broa do Arnaldo Silva, bolacha da Lúcia Barcelos e biscoito da Luciana Albano)
          O leite e a nata, que é a camada de gordura que se forma na superfície do leite do leite, são ingredientes indispensáveis na culinária. É a nata que dá sabor às roscas, broas e biscoitos mineiros, sem falar no queijo, claro.
          Da nata do leite, são feitos em Minas Gerais, biscoitos, roscas e broas. Receitas centenárias, tradicionais, que sobrevivem a gerações. Quitandas presentes no cotidiano das cozinhas de toda Minas Gerais.
          São tradições mineiras, que saíram dos fornos de nossas cozinhas para todo o Brasil.
          Algumas quitandas populares no Brasil, como bolos e bolachas, se confundem com as broas e biscoitos mineiros. Embora pareçam a mesma coisa, não são. Tem suas diferenças que veremos a seguir
Biscoito ou bolacha?
          É uma das grandes confusões que existem. Em Minas Gerais é tradicionalmente, biscoito. Bolacha não é um termo usado para os biscoitos mineiros. Embora pareçam ser a mesma coisa, não são. Biscoito é biscoito, bolacha é bolacha. (biscoitos, rosquinha e pão, feitos por Mariline Rodrigues de Felício dos Santos MG)
          Na região Sul e Centro Oeste e parte do Norte do Brasil, se fala bolacha. Em vários estados nordestinos, é biscoito, bem como em Minas Gerais.
          Bolacha ou biscoito não é opção de nome. São quitandas diferentes. Em Minas Gerais biscoito é biscoito porque é biscoito, simples assim.
          Mesmo sendo feito com ingredientes parecidos, a diferença entre biscoito e bolacha está no modo de preparo e formato. Bolachas são secas. Já os biscoitos são mais macios e úmidos, além de boa parte, serem escaldados com água, óleo ou leite quente.
          Biscoito não tem uma forma e nem tamanho padronizados, já que seus moldes são feitos à mão, seja em formato anelar, rosqueado ou espiral. Já as bolachas ao contrário. Tem o formato mais padronizado. São geralmente planas e achatadas. As bolachas são mais comuns na indústria alimentícia do que os biscoitos.
- A origem do nome
          Essa diferença é explicada na origem do nome das duas iguarias.
          A palavra Biscoito tem origem francesa. É a junção das palavras “bis” = duas com “coctus” = cozido. Traduzindo: Cozido duas vezes.
          Já a palavra Bolacha tem origem na palavra do latim, “bulla” = Objeto esférico, com a palavra “acha” = diminutivo. Dai o nome, bolacha, no literal, um objetivo esférico pequeno.
          Então, bolacha não é biscoito e nem biscoito é bolacha.
É Broa ou Bolo?
          Um leigo dirá que tanto faz, que é a mesma coisa. Mas não é mesmo. (na foto acima, broa de nata feita pela Lourdinha Vieira de Bom Despacho MG)
          As broas mineiras, estão presentes nos fornos de nossas cozinhas desde o século XVIII. Numa época de carência de alimentos e com a chegada cada vez mais de portugueses, durante o Ciclo do Ouro em Minas Gerais, novas receitas foram surgindo ou adaptadas da original, para atender a demanda.
          Como naquela época, o trigo, não existia no Brasil, e bolo era uma tradição antiga na Europa, o fubá substituiu o trigo. Essa é a diferença entre broa e bolo.
          No bolo, a farinha de trigo predomina. Já na broa, é o fubá o ingrediente principal. Com a facilidade de encontrar trigo hoje, nos bolos de fubá, a farinha de trigo foi incluída à receita para dar mais liga.
          Se a predominância for de farinha de trigo, é bolo. Se na receita, tiver mais fubá, que farinha de trigo, é broa. No original, broa mineira é feita somente com fubá.
          A diferença também pode ser percebida na cor da massa. A broa, tem a coloração da cor do fubá. Já o bolo, segue a tonalidade da farinha de trigo, mais claro.
- Origem da palavra broa

          A palavra broa passou a ser usada a partir de meados do século XIX. Tem origem na palavra inglesa “bread”, que significa pão. Nessa época, Minas Gerais recebeu um grande número de imigrantes ingleses que vieram para o Estado explorar minas de ouro.
          Pão feito com trigo não existia muito no Brasil, já que a farinha de trigo vinha da Europa e demorava para chegar. Também, bolo não era uma iguaria popular, principalmente em Minas Gerais.
          Os ingleses sentiam a necessidade de seus bolos e deram um jeito de adaptar a broa feita de fubá dos mineiros às suas tradicionais fôrmas para bolos, estreitas e retangulares.
          As cozinheiras que trabalhavam nas casas dos ingleses, passaram a fazer o “bread” que os ingleses pediam. Como as cozinheiras e mineiros não entendiam bem como se pronunciava “bread”, passaram a falar como entendiam, broa. E assim ficou broa, o nome de uma de nossas mais tradicionais iguarias.
- Bolo Cake e Bolo Queca
          Caso parecido é do tradicional bolo Queca de Nova Lima, a 35 km de Belo Horizonte. É uma iguaria de enorme tradição na cidade, sendo inclusive patrimônio imaterial do município.

          O Queca é outra influência da língua inglesa, no sotaque mineiro.
          Os ingleses vieram para Nova Lima, explorar a Mina de Morro Velho. As esposas dos ingleses, queriam fazer o seu tradicional “English Cake” (Bolo Inglês)
          Esse bolo tem como cobertura frutas típicas europeias como cerejas, framboesas, morangos, etc., não existentes no Brasil à época. As cozinheiras adaptaram à receita do cake, frutas tropicais.
          O bolo tão bom, que as próprias cozinheiras passaram a fazer para suas famílias e vizinhos. Só que tinham dificuldades em pronunciar corretamente a palavra “cake”. Pronunciavam como entendia, “queca”. E assim ficou nome e surgiu um dos mais saborosos e tradicionais bolos de Nova Lima MG.
Rosca e pão
          A diferença de rosca e pão é apenas no formato. Rosca é um pão enroscado. O pão tem suas características definidas e formatos definidos, bem como, fôrmas próprias. (na foto acima, rosca e pão, feitos pela Mariline Rodrigues de Felicio dos Santos)
          Já a rosca não, pode ser feita em vários formatos como redondos ou formato menor, as chamadas, rosquinhas. O molde é sempre em forma de rosca.
          O nome tem origem em Portugal e Espanha, inspirado nas formas cilíndricas dos parafusos, porcas, tubos e peças metálicas em rotação. É uma forma diferente de moldar um pão. Apenas isso.
          Aprenda a fazer biscoito, rosca e broa tradicionais. Veja as receitas:
Receita de biscoito de nata
Ingredientes
. 500 gramas de farinha de trigo peneirada
. 50 gramas de nata fresca, de preferência
. 2 ovos
. 1 xícara (chá) de açúcar
. 1 colher (sopa) de fermento em pó
. 1 pitada de sal
Modo de preparo
- Coloque a nata e o açúcar na batedeira e deixe batendo até conseguir uma consistência cremosa.
- Acrescente os ovos e bata até os ingredientes ficarem homogêneos.
- Desligue, acrescente o fermento e misture com uma colher.
- Acrescente a farinha de trigo e comece a mexer, com as mãos.
- Sove bastante
- Pegue um punhado de massa com as mãos, enrole, faça uma tira, pegue a tira pelo meio e enrosque, torcendo e unindo as duas pontas.
- Coloque as rosquinhas num tabuleiro untado com manteiga e farinha e espalhe e um pouco de açúcar refinado sobre as rosquinhas.
- Leve para assar em forno pré-aquecido a 180 graus por uns 15 minutos ou até que doure.
- Só esperar esfriar um pouco e servir com café!
Receita de rosca
Ingredientes

. 1 quilo de farinha de trigo + ou -
. 2 copos (americano) de nata
. 3 ovos
. 1 xícara de açúcar
. 1 colher (sopa) de fermento biológico
. 2 colheres (sopa) de manteiga
. 1 copo (americano) de óleo
. 1 pitada de sal
Modo de preparo
- Coloque no liquidificador o açúcar, os ovos, o sal, a nata, a manteiga, o óleo e bata por 5 minutos.
- Desligue e acrescente o fermento, misturando com uma colher.
- Despeje numa vasilha e vá colocando aos poucos a farinha de trigo, mexendo com as mãos.
- Como a massa estiver grossa, comece a sovar bem firme, até que a massa desgrude das mãos.
- Cubra a massa e deixe descansando por 30 minutos
- Após esse tempo, espalhe a massa sobre uma bancada enfarinhada, passe um rolo de macarrão e corte a massa em várias tiras.
- Pegue duas tiras, junte as pontas e vá trançando, até unir a outra ponta.
- Coloque em fôrmas já untadas e enfarinha, cubra e deixe descansando por 1 hora.
- Após esse tempo, leve para assar em forno pré-aquecido a 180 graus por 30 minutos ou até que fique dourada.
Receita de Broa de nata
Ingredientes
. 500 gramas de nata
. 1 quilo de fubá mimoso
. 1 ½ xícara de farinha de trigo
. ½ xícara de manteiga
. 2 xícaras (chá) de açúcar
. 6 ovos
. 1 copo americano de leite
. Erva doce a gosto
. 1 colher rasa (sopa) de fermento em pó
Modo de preparo
- Coloque numa vasilha a nata, o leite, os ovos, a manteiga, a erva doce e o açúcar e mexa com uma colher.
. Acrescente a farinha de trigo e mexa.
. Aos poucos, vá despejando o fubá, mexendo com as mãos até adquirir consistência e estar desgrudando das mãos.
- Unte uma fôrma retangular com manteiga e fubá e leve para asar em forno pré-aquecido a 180 graus por 25 minutos ou até que fique dourada.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Ah, Minas!

A verdade de Minas
é de quem
nunca saiu de lá
mesmo que os sonhos
tenham engendrado voos
para as grandes capitais
onde não se ouve o rorejar das águas cristalinas
despencando do alto
virando rio
buscando outras águas
pra alimentar o Velho Chico.

Quem não sabe de Minas a verdade
por certo não sabe do pó
da terra
da pedra
da limalha de ferro
que vai entrando pelos pulmões
sufocando vozes
no seu grito de liberdade
ou vira arte bela
nas mãos dos artesãos....

Quem nunca andou pelo solo mineiro
quem não parou pra ouvir o sotaque brejeiro
que é assim meio caipira
meio poesia
não sabe das angústias de um povo
que tem o horizonte encurtado pelas montanhas
as alterosas tão lindas
que impressionam o visitante
mas não revelam o grande segredo
dessa terra gigante
desse estado-diamante.

Quem sabe de Minas a verdade?
A que se esconde nas fissuras gigantescas
abertas por mãos ávidas de lucro
que transformam rejeitos tóxicos
em lama avassaladora e faminta
que a tudo devora num minuto
sem fazer distinção de nada?

É preciso ser mineiro
de coração ou de nascença
pra entender a verdade possível
a que escapole por uma pequenina fresta
quando um olhar mais atento
aquele que sai do fundinho do coração
olha assim de soslaio
e apreende o tesouro escondido.

Minas não é evidente!
Não. E nunca será.
E pra saber de Minas
é preciso intenção
e pernas pra andar.
Bom também ter ouvidos desejosos de prosa boa
e um olhar perscrutador
Se tiver ainda poesia na alma,
aí sim
a verdade de Minas se revelará
não de forma escancarada
mas aos poucos
como água saindo da nascente
à espera do tropeiro-viajante.

As riquezas de Minas
as que provocam rompimentos de barragens
explosões, inundações
vidas interrompidas
são fantasias capitalistas

O essencial
a verdade mais bonita
Ah!
É preciso ter olhos pra ver e sentir
todos os nossos Brumadinhos
Bentos Rodrigues
Marianas
tudo tão pequenino
lembrando presépio a céu aberto
e soberbo a um só tempo.

Minas é um grande mosaico
costurado de amores
Nenhum retalho é igual ao outro
mas essas sutilezas
só quem sabe da verdade de Minas
vai decifrar.

Poema de Amarília T. Couto
Imagem ilustrativa de Marselha Rufino em Itumirim MG

domingo, 19 de dezembro de 2021

1910: ano que Minas comprou acesso ao mar

(Por Arnaldo Silva) Minas encanta por seus rios, paisagens naturais, culinária, cachoeiras, arquitetura, hospitalidade e deslumbrantes montanhas. Um cenário idílico e cinematográfico, chegando à quase perfeição de tão espetacular que é.
          
Só falta o mar, banhar Minas, o que já aconteceu. Isso foi há pouco mais de 120 anos. O “litoral mineiro” era formado por 12 km de largura e 142 km de extensão. São 12 km de praia.
          Esse pedaço de chão “mineiro”, iniciava em Serra dos Aimorés/MG na Divisa com a Bahia, seguindo pelo extremo sul baiano, até Ponta de Areia, no Oceano Atlântico (na foto ilustrativa acima do Tom Alves/@tomalvesfotografia, a costa sul da Bahia, em Porto Seguro)
A Estrada de Ferro Bahia e Minas
          Esse filete de terra fazia parte dos 578 km de extensão da Estrada de Ferro Bahia e Minas. Inaugurada em 1881, ainda a época do Império, a ferrovia ligava Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, a Ponta de Areia, distrito de Caravelas, no litoral baiano. Foi construída pela Companhia Estrada de Ferro Bahia e Minas, em parceria com o Governo de Minas. (na fotografia acima do Sérgio Mourão/@sergio.mourão, Pontilhão da EFBM sobre o Rio Mucuri)
          A ferrovia foi desativada em 1966, na época do Governo Militar, sob o argumento de que asfalto e transporte rodoviário, traria mais desenvolvimento para a região, do que manter os trens de passageiros. Na visão dos políticos do século XX, asfalto significava desenvolvimento e trilhos, atraso.
          Optaram então por desativar as ferrovias e abrir estradas. Na verdade, esse era o argumento para o desmonte da malha ferroviária brasileira, desde Juscelino Kubistchek, sacramentado durante os 20 anos do Governo Militar no Brasil. Com o fim dos trilhos, estradas federais (BR´s) e rodovias estaduais, começaram a serem abertas por todo o Brasil. Saíram os trilhos e os trens, entrou o asfalto, caminhões, ônibus e carros.
A compra que ficou na história
          Essa história começou em 1881, ainda no período imperial com a criação da Estrada de Ferro Bahia e Minas com a abertura da linha férrea que ligava o Vale do Jequitinhonha, ao litoral da Bahia, construído e gerenciado pela Companhia Estrada de Ferro Bahia e Minas.(na foto acima da do Sérgio Mourão/@sergio.mourão, Estação Caporanga em Novo Cruzeiro MG)
          A visão da época era ligar o Brasil através dos trens para escoar a produção agroindustrial e ligar cidades e pessoas, através dos trens de passageiros. O trem significava desenvolvimento e encurtava a distâncias num país de dimensões continentais, como o Brasil
          Para incentivar os investimentos privados nas ferrovias, o Imperador do Brasil, Dom Pedro II (1825/1891), criou vários incentivos. No caso da Companhia Estrada de Ferro Bahia e Minas, Dom Pedro II concedeu à empresa, 12 km de extensão de terras devolutas, margeando os trilhos, por 142 km, em território baiano, na divisa com Minas Gerais. Eram seis quilômetros em cada lado da ferrovia.
          No início do século XX, na era republicana, a companhia começou a enfrentar dificuldades financeiras, tendo que recorrer a financiamento junto ao Banco de Crédito Real do Brasil, hipotecando 142 km das terras devolutas da ferrovia, concedidas à época do Império.
          O financiamento não foi pago e em 1908, o banco executou a dívida, ficando com as terras devolutas do extremo sul baiano. Em 1910, o próprio banco entrou em liquidação, com seu patrimônio tendo sido liquidado.
Governo de Minas compra as terras hipotecadas
          Ciente disso, o Governo de Minas à época, se interessou pelas terras hipotecadas pelo banco. Foi feita a compra, no valor de 300:000$000 (trezentos contos de réis, algo em torno hoje de R$40 milhões), pagos com títulos da dívida pública, lavrada em escritura de cessão de crédito e transferência de direito. (na foto acima de Sérgio Mourão/@sergio.mourão, antigo túnel da EFBM em Ladainha MG)
          Há época, a compra dessas terras significava a ligação que faltava de Minas Gerais com o Oceano Atlântico.
          Pagou, mas não levou. A grande questão a saber é por quê Minas Gerais não levou, pelo que pagou.
Minas comprou o acesso ao mar
          Dos 578 km de extensão da ferrovia, Minas Gerais comprou 142 km do trecho, com margem de 12 km, sendo seis km de cada lado, pertencentes à Companhia Estrada de Ferro Bahia e Minas iniciando em Serra dos Aimorés/MG, na divisa com a Bahia. 
          Em território baiano, essas terras margeavam a ferrovia, passando por Argolo, Posto da Mata e Helvécia, distritos de Nova Viçosa/BA, Aparaju, distrito de Alcobaça/BA, entrando na cidade histórica de Caravelas/BA e estações nos seus distritos de Juerana, Barra de Caravelas e Ponta de Areia, na Costa Sul da Bahia.
          O km 0 da Ferrovia Bahia e Minas era Ponta de Areia, na Bahia e o km 578, final, era em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. (na foto acima de Sérgio Mourão/sergio.mourao, a Estaçaõ Queixada em Novo Cruzeiro MG)
Por que Minas não explorou as terras compradas?
          Minas não tomou posse de imediato de sua compra. Entre 1908 e 1910, época da aquisição das terras do litoral baiano, Minas Gerais vivia momentos conturbados em sua vida política, com trocas constantes de governadores, em espaços curtos de tempo, além da questão do Contestado, entre Minas e Espírito Santo e outros problemas.
          O primeiro foi Júlio Bueno Brandão que governou o Estado de 27/10/1908 até 03/04/1909, quando nesse dia, assumiu Wenceslau Brás Pereira, se afastando em 05/02/1910. Em seu lugar, assumiu o governo mineiro, Antônio do Prado Lopes Pereira, que ficou no cargo até 21/03/1910, quando Wenceslau Brás Pereira, retornou ao cargo, ficando até 07/09/1910. Em seguida, assumiu o Governo de Minas, Júlio Bueno Brandão, que voltou ao governo, ficando no cargo até 07/09/1914.
          Com o momento conturbado da vida política mineira, a compra do acesso ao mar, acabou ficando em segundo plano. Com o tempo, esquecido por completo e até mesmo, desconhecido por boa parte dos governadores mineiros e do próprio povo, que desconhecia essa história.
          Isso porque a compra foi um ato corriqueiro do Estado e não teve muito alarde à época, ficando o assunto restrito ao círculo político e empresarial mineiro da época.
          Boa parte dessa região do extremo sul baiano, onde passavam os trilhos da “Baiminas”, estão hoje em áreas de manguezais, sistema de transição entre o ambiente terrestre e marinho, portanto, áreas de preservação ambiental.
“Olha aí o Mar de Minas”
          Décadas depois, a história do Mar de Minas volta à tona pelas mãos de Fernando Brant, mineiro, natural de Caldas MG. Formado em direito e um dos grandes compositores brasileiros, com mais de 200 músicas feitas em parceria com Milton Nascimento. (imagem ilustrativa acima do Deocleciano Mundim, praia do litoral Sul da Bahia)
          Na a partir da década de 1960, se dedicou ao jornalismo, exercendo a função de repórter em veículos de comunicação, entre eles, a extinta Revista O Cruzeiro.
          Na revista O Cruzeiro, uma de suas reportagens de maior impacto, feita em 23 de maio de 1973, com o título ‘Olha aí o Mar de Minas”, trouxe de volta à tona a questão das terras do litoral baiano compradas por Minas Gerais em 1910 e esquecida há décadas.
          A reportagem teve grande repercussão e discussão à época, deixando boa parte dos mineiros perplexos. Isso porque, a ligação de Minas ao mar da Bahia era desconhecida pela maioria dos mineiros e até das autoridades.
          Viajando até a região fazendo fotos, entrevistas e pesquisando fatos e documentos sobre a compra feita por Minas das terras baianas, Fernando Brant fez uma reportagem que entrou para a história da imprensa mineira. Mais que isso, graças ao alcance da revista, mineiros e baianos tomaram conhecimento de um fato sequer imaginado até então. Minas tinha acesso ao mar.
          Além da reportagem, o tema inspirou Fernando Brant, que compôs, em parceria com Milton Nascimento, Ponta de Areia, uma de suas mais populares canções.
          “...Ponta de areia, ponto final, da Bahia a Minas, estrada natural, que ligava Minas, ao porto, ao mar, caminho de ferro mandaram arrancar...” é um dos mais nostálgicos e emocionantes versos da música, composta durante sua viagem de trabalho à região.
          Em um dos trechos da reportagem, Fernando Brant descreve a possibilidade de Minas ter acesso ao mar: “É o fim da nostalgia do mar. Minas Gerais já têm o seu, de direito, desde 1910. O Cruzeiro descobre e mostra documentos e fatos que comprovam: Minas é um estado marítimo. A história começa no segundo Império e se arrasta até hoje (23/05/1973), encoberta por inexplicável silêncio”.
          Mesmo sendo um pequeno trecho de terras, Fernando Brant valorizou a importância da aquisição do Governo de Minas, em 1910: “É apenas um fiapo no mapa, mas é o quanto basta para Minas. Um fio de linha, uma modesta e tímida maneira de se chegar ao mar. O direito real é aclarado pelos documentos; falta a posse de fato para que o mineiro possa um dia dizer, debaixo das amendoeiras de Grauçá e Aracaré: ‘Olha aí o nosso mar’”.
O Contestado
          Fernando Brant deixa bem claro na reportagem que a compra das terras baianas pelo governo mineiro, não tinha relação alguma com o Contestado, uma disputa territorial entre mineiros e capixabas, que quase culminou em guerra entre os dois estados.
          O Contestado começou no início do século XVIII, quando o Rio Doce foi aberto a navegação, dando início a ferrenha disputa sobre a divisões territoriais entre Minas Gerais e o Espírito Santo. 
          Mineiros e capixabas contestavam as divisões territoriais em suas divisas, seja na esfera politica, judicial e até armada, com os dois estados vivendo décadas de tensão de um possível conflito armado. 
          Tropas mineiras e capixabas se entrincheiraram em suas divisas, com o conflito se intensificando no início do século XX, tendo como epicentro a região de Mantena no Vale do Rio Doce e Barra do São Francisco, Noroeste do Espírito Santo.
          A situação começou a ser resolvida a partir de 1958, quando os dois estados decidiram retirar suas tropas das divisas em busca de um acordo de paz entre mineiros e capixabas.
          Em 1963 o conflito foi finalmente resolvido, quando as armas deram lugar ao diálogo e consequentemente, definições das divisas territoriais de Minas Gerais e Espírito Santo. O acordo foi firmado entre o Governador de Minas Gerais à época, Magalhães Pinto e Lacerda Aguiar, do Espirito Santo. 
          Durante os mais de 150 anos de disputa entre mineiros e capixabas, não houve guerra declarada, mas ocorreram ao longo desses anos todos, confrontos armados isolados. O saldo, entre mineiros e capixabas, foi um incontável saldo de mortes de ambos os lados, entre civis e militares.
          Por isso Fernando Brant, deixou bem claro, em um dos trechos de sua reportagem que a compra das terras baianas por Minas, em 1910, ligando o Estado ao mar, não tinha nada a ver com a disputa dos mineiros com os capixabas de 1800 a 1958. “Não se trata do Contestado, motivo de tanta briga, em passado recente, entre mineiros e capixabas. Uma briga inútil, pois, desde 1910, trezentos contos de réis tornaram Minas Gerais proprietário, de direito, de um trecho no extremo Sul da Bahia, que vai dar em Caravelas, Ponta de Areia e Barra de Caravelas”.
O que significa a compra de terras baianas?
          Minas Gerais não comprou terras do Governo da Bahia e sim, terras pertencentes à Companhia Estrada de Ferro Bahia e Minas, hipotecadas pelo Banco de Crédito Real do Brasil. O negócio foi feito entre o Governo de Minas e o banco, que tinha posse das terras. Nenhum centavo foi pago ao Governo da Bahia e nem o tema foi discutido ou negociado entre os dois governos na época. (na foto acima do Sérgio Mourão/@sergio.mourao, a Estação de Novo Cruzeiro MG)
          O fato de Minas Gerais ter adquirido terras em outro estado da Federação, não significa um acréscimo à extensão territorial de Minas Gerais e nem pode. Os estados são soberanos em suas divisas.
           O que Minas fez foi o que qualquer pessoa jurídica ou física no Brasil pode fazer. Comprar bens e imóveis à venda em território nacional. Evidentemente, respeitando-se as leis vigentes nos estados.
          Foram simplesmente terras adquiridas da iniciativa privada que Minas Gerais pagou, mas não levou. E ainda, não recebeu de volta o dinheiro gasto com a compra. Ao menos, é o que se sabe.
          Como foi uma compra escriturada e documentada, cabe uma análise mais detalhada da documentação, saber onde foi registrada, de qual instituição sucedeu o extinto banco e o destino de sua massa falida, para uma análise mais profunda desta questão.
O que fez o governo mineiro?
          Desde 1910, apenas três governadores se interessaram pelo tema. (na arte acima, trecho de 12 quilômetros de largura por 142 quilômetros de extensão da Bahia e Minas, adquiridos por Minas, que inicia na atual divisa com a Bahia, se estendendo as praias do sul baiano, em Ponta de Areia. Arte Jornal O Estado de Minas/divulgação)
          O primeiro foi Milton Campos que governou Minas de 19/03/1947 a 31/01/1951. Ao tomar conhecimento dessas terras adquiridas por Minas Gerais em 1910, Milton Campos solicitou oficialmente informações ao Governo da Bahia sobre a questão. Não obteve resposta ou pelo menos, não tornou público a resposta do governo baiano, com o caso voltando ao esquecimento.
          Nos anos 1980, durante o Governo Newton Cardoso (15/03/87 a 15/03/1991), também ocorreu discussões na imprensa e governo sobre as terras que Minas teria comprado da Bahia, mas não houve avanços na discussão do Governo Mineiro sobre a questão.
          Em 19 de agosto de 2015, após uma série de reportagens e vídeos do Jornal O Estado de Minas, baseada na matéria da Revista O Cruzeiro em 1973, trouxe novamente à tona, a questão do Mar de Minas, no litoral baiano.
          A reportagem e os vídeos feitos pelo Jornal O Estado de Minas sobre a Ferrovia Bahia e Minas, teve enorme repercussão, despertando novamente o interesse do povo mineiro pela intrigante história do acesso de Minas ao Oceano Atlântico. 
          O próprio governador de Minas Gerais, à época, Fernando Pimentel (2015/2019), se interessou pela história, mas sem nenhuma conclusão final sobre o assunto. 
          Apenas a reafirmação de que não foi encontrado no mapa de Minas Gerais, nenhum acréscimo da citada faixa de terras adquiridas em 1910. E o assunto parou por ai.
          Minas Gerais comprou terras hipotecadas de um banco. Não foi um acordo de extensão territorial entre governos, por isso não podia ser inserida no mapa geográfico de Minas. As divisas de Minas Gerais com a Bahia foram definidas pelo decreto 24.155 e não pode ser mudada.

          Na época, a reportagem do Jornal O Estado de Minas, consultou o governo baiano sobre a questão, que respondeu não ter nenhuma informação sobre o assunto.
          Assim, retornou ao silêncio e esquecimento, a curiosa, interessante e intrigante história do “Mar de Minas”, sem ainda um capítulo final.
O que fazer com as terras que Minas comprou?
          A reivindicação das terras adquiridas por Minas Gerais, em 1910, não se discute. O Estado da Bahia é soberano em suas divisas, como todo estado brasileiro é. Seria uma discussão desnecessária e totalmente inútil no momento.
          O que se discute hoje é a reativação desse trecho, ligando novamente Minas Gerais ao litoral baiano, para transporte de cargas e passageiros. Mas através de discussão, interesse e acordo, envolvendo o Governo Federal, Governo da Bahia, Governo de Minas e iniciativa privada. Seria ótimo para Minas Gerais, Bahia e Brasil.
         Se não conseguir a reativação total do trecho, ao menos em partes, colocando nos trilhos, trem de passageiros, para fins de passeios turísticos, o que facilitaria a vida dos mineiros da região.
         Isso porque, mineiros do Vale do Mucuri, Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, são frequentadores assíduos das praias do extremo Sul da Bahia, como exemplos, Porto Seguro, Prado, Ponta de Areia, Alcobaça, Abrolhos e Trancoso, além das cidades históricas baianas como Caravelas, fundada em 1503, dentre outras. (na foto acima do Deocleciano Mundim, praia no litoral Sul da Bahia)
          É uma discussão longa e uma luta para sua concretização, mais longa ainda. Mas a sociedade brasileira vem se conscientizando da importância da volta dos trens, buscando sensibilizar deputados, governos estaduais e o governo Federal, sobre a importância da volta dos trens de passageiros.
         Seria também uma redenção econômica da região, principalmente das cidades do Vale do Jequitinhonha, que foram bastante afetadas em suas economias e crescimento, com a extinção da ferrovia em 1966.
          A reativação do trecho da Bahia e Minas, de Araçuaí a Ponta de Areia ou em partes, está em discussão por iniciativa popular, sem nada de concreto por enquanto, bem como a reativação de antigos ramais e construções de novos por todo o Brasil. A iniciativa vem do povo, que ver trilhos lingado todo o Brasil, não apenas transportando cargas, mas passageiros.
A necessidade dos trens de volta aos trilhos
          No século XXI, o debate da volta dos trens de passageiros, surge como solução como o melhor transporte de massa, principalmente em regiões metropolitanas.
          Além disso, trens facilitam a ligação de regiões brasileiras, reduz os gastos com manutenção de estradas, gera lucros, empregos, renda e desenvolvimento. Era esse o objetivo, quando da criação dos trilhos no Brasil no século XIX. Essa velha teoria, implantada por Dom Pedro II, não perdeu validade, está mais que atual e necessária, hoje.
          A volta dos trens é mais que um anseio e apelo popular. E uma necessidade devido ao aumento crescente da produção agroindustrial, e da necessidade urgente de alternativas de transportes de massas, nas grandes cidades, principalmente.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

A padaria centenária do Pão do Padre de Santa Bárbara

(Por Arnaldo Silva) Fundada em 4 de dezembro de 1704, Santa Bárbara é uma das mais antigas cidades mineiras. Com cerca de 32 mil habitantes e distante 105 km da Capital, na parte central da Estrada Real, a cidade histórica faz divisa com Alvinópolis, Barão de Cocais, Catas Altas, Itabirito, Mariana, Ouro Preto, Rio Acima, Rio Piracicaba e São Gonçalo do Rio Abaixo. O acesso à cidade pode ser feito pela BR-381 e BR-262 e MG-436.
          Cidade idílica, agradável, tranquila e acolhedora. Suas riquezas naturais e paisagens bucólicas, como a imponente Serra do Caraça, faz de Santa Bárbara uma das mais belas cidades de Minas. Seu povo é hospitaleiro e bem simples e sua história é preservada em sua arquitetura colonial, bem como nas tradições culturais, folclóricas, gastronômicas e religiosas, preservadas há mais de 300 anos. (na fotografia acima de Judson Nani, o Pão do Padre com a Igreja de do Rosário ao fundo)
          Uma dessas tradições mais valiosas de Santa Bárbara é a culinária típica, principalmente, as quitandas que saem dos fornos das casas e padarias da cidade.
Padaria União – A mais antiga de Minas
         Uma dessas padarias é a Padaria União, em atividade desde 1911. A padaria fica na Rua João Mota, 107, no Centro da cidade.
          É a mais antiga padaria familiar em atividade de Minas Gerais e uma das mais antigas do Brasil, já na terceira geração da mesma família. Hoje é administrada por Rubens Nelson Magalhães Santos, que herdou a tradição de seu pai, Raymundo Cândido dos Santos Filho. (na foto acima de Judson Nani, a Padaria União e abaixo, fotos das três gerações da família fundadora da Padaria União)
          Desde sua origem, a Padaria União formou uma ampla e fiel clientela, graças ao empenho, dedicação dos pioneiros, bem como pela qualidade das guloseimas que saem de seus fornos, principalmente, o tradicional Pão do Padre.
          Este pão é o carro chefe de toda panificadora, mas na Padaria União e para Santa Bárbara, é bem mais que isso. O Pão do Padre e tornou um símbolo da própria cidade e da própria história da padaria, desde sua fundação. (na imagem abaixo, o folder de 2011 comemorativo dos 100 anos da Padaria União).
A história do Pão do Padre
          A 30 km do Centro de Santa Bárbara, está o Santuário do Caraça. No século XIX, no Caraça funcionava um colégio, bem como o seminário, da Congregação dos Lazaristas. (na foto acima de Judson Nani, a Matriz de Santo Antônio em Santa Bárbara MG e o Pão do Padre)
          Fazer pão e atender toda a cidade, naquela época, era muito difícil. Não era fácil encontrar trigo no Brasil, era muito pouca a produção nacional. Era importado. O transporte também era difícil.
          Além disso, transportar as guloseimas era outra dificuldade, principalmente quando os fregueses viviam mais distantes, como por exemplo, os padres e seminaristas do Santuário do Caraça. Era uma época de estradas de terra. Carros era raridade na época no Brasil. As encomendas eram transportas em carroças e carros de bois.
          Mesmo com todas as dificuldades de transporte, com frio ou chuva, os pães chegavam ao seu destino. Eram levados até o Santuário do Caraça e cidades da região em barricas colocadas em lombos de burros e em carroças. Assim garantia-se o pão de cada dia dos padres e dos moradores das redondezas.
          Quem recebia o pão sagrado do café da manhã, rotineiramente, eram os padres e seminaristas do Santuário do Caraça, distante 30 km do centro de Santa Bárbara. Logo pela manhã, seja com chuva ou frio, as barricas com guloseimas como pão de milho e o nosso tradicional pãozinho, saiam nos lombos dos burros e chegavam até os padres do Santuário.
           As guloseimas agradavam aos padres e seminaristas, principalmente o pão, que regularmente chegava até o seminário, garantindo assim o café da manhã dos padres que recebiam a iguaria. Antes do desjejum, rezavam, agradecendo e abençoando o pão de cada dia que recebiam.
          Por isso o pão ganhou o nome de Pão do Padre. Também chamado de Pão Santo, embora não se tenha registro de milagres recebidos por quem compra ou consome o pão, se tornou sagrado nas mesas dos moradores da região. Está sempre presente no café da manhã e na merenda da tarde, alimentando o corpo e a história de uma das mais antigas receitas mineiras.
           O Pão do Padre, é o queridinho de Minas, a mais antiga e mais popular receita que saiu dos fornos da Padaria União, de Santa Bárbara MG, há mais de 120 anos. Seu sabor lembra um pouco o famoso Pain de Brié, pão de origem francesa.
A receita do Pão do Padre
          Evidentemente que não irá ficar igual ao tradicional Pão do Padre, feito na Padaria que criou a receita, a Padaria União, já que conta com seus segredos próprios. Mas a receita é basicamente a que segue. (foto acima de Judson Nani com a Igreja do Rosário ao fundo)
INGREDIENTES PARA A PRIMEIRA MASSA
. 100 ml de água fria
. 100 gramas de fermento biológico fresco
. 100 gramas de farinha de trigo.
INGRENDIENTES DA SEGUNDA MASSA
. 1 quilo de farinha de trigo
. 200 ml de água
. 4 ovos grandes
. 200 gramas de manteiga em temperatura ambiente
. 150 gramas de açúcar cristal
. 1 pitada de sal
.. Gema de ovo para pincelar
MODO DE PREPARO DO PÃO DO PADRE
- Coloque numa vasilha a água, o fermento e a farinha de trigo, ingredientes da primeira massa e amasse com as mãos, até ficar uma mistura homogênea. Faça uma bola com a massa e deixe descansando por 15 minutos.
- Enquanto isso, comece a preparar a segunda massa.
- Coloque numa vasilha a farinha de trigo, os ovos, a manteiga, a pitada de sal e o açúcar. Misture tudo com as mãos.
- Vá despejando aos poucos a água e amassando, até que a massa fique lisa e bem firme. Se precisar, acrescente mais água.
- Pegue agora a primeira massa que deixou descansando e misture à segunda massa e sove bastante, até que esteja bem firme e desgrudando das mãos.
- Divida a massa em quatro partes e faça moldes no formato de baguete.
- Faça cortes horizontais e verticais sobre a massa com uma faca e em seguida, pincele a parte superior com gema de ovo.
- Coloque os pães em fôrmas já untadas com óleo e cubra com um pano. Deixe descansando em temperatura ambiente por 150 minutos.
- Leve ao forno pré-aquecido a 180 graus e deixe assando por cerca de 20 minutos ou até começar a dourar.
- Por fim, sirva com café!
          Ao visitar Santa Bárbara, conheças as belezas naturais e históricas da cidade e claro, visite a Padaria União, bem no Centro da cidade e aprecie as guloseimas feitas na Padaria, principalmente o Pão do Padre.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O Caminho de Saint-Hilaire na Serra do Espinhaço

(Por Arnaldo Silva) O caminho percorrido por Saint-Hilaire, quando esteve na Região do Espinhaço e Vale do Jequitinhonha, no século XIX, se transformou num roteiro turístico de 170 km de trilhas, pela Serra do Espinhaço.
          Com a sigla CASHI (Caminho de Saint-Hilaire), o roteiro tem início em Conceição do Mato Dentro, cidade distante 170 km de Belo Horizonte, terminando na cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, Diamantina, a 292 km da Capital. (na foto acima do Nacip Gômez, a Cachoeira do Tabuleiro em Conceição do Mato Dentro, com 273 metros de queda livre. A maior de Minas)
          Idealizado pelo turismólogo Luciano Amador Santos Júnior, presidente do Instituto Auguste de Saint-Hilaire, o Cashi tem como objetivo estimular o turismo ecológico e saudável.
          Além disso, o percurso percorrido pelo naturalista francês há mais de 200 anos, permite uma viagem pelos sabores, saberes e fazeres das cidades e vilarejos, ao longo de todo o percurso do Caminho de Saint-Hilaire. (na foto acima de Nacip Gômez, vista parcial da cidade de Conceição do Mato Dentro)
Uma rota turística
          O Cashi é uma nova rota turística mineira, pela Cordilheira do Espinhaço. Cordilheira é um conjunto de montanhas relacionada geologicamente, no caso, a Serra do Espinhaço é uma extensão relacionada de cerca de 1 mil km, com largura entre 50 e 100 km.
          A Cordilheira do Espinhaço inicia na região do Caraça em Catas Altas, seguindo de forma contínua até a divisa de Minas, com o Sul da Bahia. (na foto acima de Elvira Nascimento, Diamantina e ao fundo, o maciço rochoso do Espinhaço)
          Todos os 170 km do percurso são feitos a pé. Há estudos para estruturar a trilha, com sinalização e demais adequações, para que o trajeto seja feito também por praticantes de cicloturismo e ecoturismo.

Duração do percurso
          Os 170 km do Cashi são percorridos entre 10 a 11 dias pelos caminhantes. Os grupos são pequenos, formado por 10 a 15 pessoas, acompanhadas por guias.
          Durante o trajeto, acontecem paradas para conhecer as cidades e vilarejos, bem como as cachoeiras, mirantes e paisagens pelo caminho. À noite, o grupo para em pousadas para descansar e seguir caminho, no dia seguinte. (na fotografia acima de Tom Alves/@tomalvesfotografia, parte da Serra do Espinhaço)
          Os 170 km do Cashi, percorre as deslumbrantes paisagens da Serra do Espinhaço, que encantaram Saint-Hilaire como as belezas naturais, a riqueza da fauna e flora.
          O caminhante terá ainda a oportunidade de conhecer a sabedoria do povo, preservada por gerações, como a medicina popular através das ervas e raízes, bem como o benzimento para todo tipo de males do corpo e espírito, praticado por benzedeiras e benzedeiros.
Cidades e vilarejos do Cashi
          Em todo o percurso, os caminhantes passarão por vilas, povoados e distritos charmosos e bem pitorescos, além de cidades formadas durante o Ciclo do Ouro.
          Saindo de Conceição do Mato Dentro, os caminhantes seguem rumo aos Córregos e Tapera, seguindo para Itapanhoacanga (na foto acima da Luciana Silva), distrito de Alvorada de Minas, passando por Mato Grosso, distrito do Serro, indo em seguida, para Condado, continuando até Três Barras da Estrada Real, Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras, distritos do Serro. Segue até Vau, já no município de Diamantina, continuando até Capão Maravilha e Curralinho, também em Diamantina, até encerrar o trajeto, na terra de JK e Chica da Silva.
Um caminho pelos sabores e tradições de Minas
          Percorrer todo o caminho feito por Saint-Hilaire é uma aventura de puro êxtase, além de propiciar aos caminhantes conhecer, desfrutar e sentir as belezas naturais de Minas Gerais, bem como sua cultura, artesanato, arquitetura e o estilo de vida simples do povo das alterosas.
          Além disso, pode-se experimentar e saborear as delícias da culinária mineira, também relatadas por Saint-Hilaire em suas andanças pela região, como o Queijo do Serro, além dos tradicionais vinhos finos que saem das várias vinícolas de Diamantina, tradição na cidade desde o século XVIII. (na foto acima de Elvira Nascimento, chegada a Milho Verde, distrito do Serro MG)
          Sem contar os pratos típicos da culinária mineira, como doces, pão de queijo, licores, biscoitos, além da intensa vida cultural da região como a Bolerata do Serro e a Vesperata de Diamantina, as festas folclóricas como a Festa do Divino, do Rosário e as Folias de Reis, bem como a diversidade e riqueza impressionante do artesanato do Vale do Jequitinhonha. (na foto acima do Nacip Gômez, São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro)
Mais informações
          Para saber mais sobre o Caminho de Saint Hilaire, datas de roteiros, custo, hospedagem, alimentação, o que levar, quando ir, etc., entre em contato com a organização através do site ww.caminhosainthilaire.com.br (na foto acima de Giselle Oliveira, artesanato com flores de Sempre-vivas em Diamantina)
Quem foi Saint-Hilaire
          Augustin François César Prouvençal de Saint Hilaire (Orleans, 4 de outubro 1779 – Orleans, 3 de setembro de 1853), foi um naturalista, botânico e viajante francês que esteve no Brasil, entre 1816 e 1822.
          Veio junto com vários outros cientistas, com o objetivo de fazer expedições pelo território brasileiro, quando da mudança do Reino Português para o Brasil. Entre os cientistas que aqui chegaram, no século XIX, Saint-Hilaire foi o mais empenhado em suas expedições e o que mais se destacou nas pesquisas sobre a fauna e flora brasileira.
          Nos seis anos em que esteve no Brasil, Saint Hilaire percorreu 16 mil quilômetros a cavalo e até mesmo, a pé.
        Saint-Hilaire percorreu várias cidades brasileiras da Bahia, Goiás, Rio de Janeiro e principalmente Minas Gerais, que recebeu atenção especial do cientista devido sua fauna e flora diversificada.
          O naturalista francês esteve no Santuário do Caraça em Catas Altas, Serra do Cipó, Serra da Canastra, Serra da Mantiqueira e Serra do Espinhaço, visitando cidades próximas, bem como várias outras cidades mineiras como Diamantina, Conceição do Mato Dentro, Formiga, Paracatu, Araxá, Uberaba, Baependi, Sabará, Passa Quatro, dentre outras tantas.
          Como resultado de suas expedições, foram mais de 30 mil amostras colhidas, nos seis anos de estudos, além de 24 mil espécies de plantas e 6 mil espécies de animais identificados, sendo 2 mil aves, além de 16 mil insetos e 135 mamíferos estudados.
          Saint-Hilaire deixou um vasto legado de estudos e pesquisas, bem como suas impressões sobre o estilo de vida e costumes do povo brasileiro. Estudos e impressões de grande importância, até os dias de hoje.

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