(Por Arnaldo Silva) Popularmente chamada de barro, a argila, é um dos minerais mais conhecidos e utilizados pela humanidade. Seu uso era bastante comum, desde as antigas civilizações, há milhares de anos, em tratamentos de estética e medicamentos, bem como na fabricação de utensílios domésticos e artesanato. E até os dias de hoje, continua sendo usada para esses fins, em todo o mundo.
É um mineral riquíssimo, composto por magnésio, cal, alumínio, ferro, sódio, potássio, alumínio, sílica e titânio. É bastante comum e bem fácil de encontrar. Além de ser muito usada em tratamentos medicinais, devido a seus vários benefícios para a pele, é bastante usada ainda para fins estéticos.
São vários os tipos de argila presentes no mundo, com pigmentos e cores diferentes, como verde, amarela, branca, marrom, vermelha, rosa, cinza e preta.
Além do uso terapêutico e estético, a argila é bastante usada no artesanato, como matéria principal, sem adição de outro material. Na fabricação de telhas, tijolos porcelanas, louças, pias e vasos sanitários, etc., a argila é usada como complemento a outro material, já que permite o rápido endurecimento da massa, dando assim mais resistência aos produtos.
O Vale do Jequitinhonha
Em Minas Gerais, a argila é bastante usada para fins medicinais e terapêuticos. É também a argila, que dá vida e cores ao artesanato mineiro, principalmente no Vale do Jequitinhonha, uma região mineira formada por 55 municípios, a Nordeste de Minas.
Os primeiros habitantes, em nossa terra a usar a argila, tanto para fins medicinais, quanto para o uso doméstico, foram os índios. Faziam com a argila, urnas funerárias, máscaras para rituais religiosos e objetos para uso domésticos, como panelas, pratos, copos, etc.
São vários os tipos de argila presentes no mundo, com pigmentos e cores diferentes, como verde, amarela, branca, marrom, vermelha, rosa, cinza e preta.
Além do uso terapêutico e estético, a argila é bastante usada no artesanato, como matéria principal, sem adição de outro material. Na fabricação de telhas, tijolos porcelanas, louças, pias e vasos sanitários, etc., a argila é usada como complemento a outro material, já que permite o rápido endurecimento da massa, dando assim mais resistência aos produtos.
O Vale do Jequitinhonha
Em Minas Gerais, a argila é bastante usada para fins medicinais e terapêuticos. É também a argila, que dá vida e cores ao artesanato mineiro, principalmente no Vale do Jequitinhonha, uma região mineira formada por 55 municípios, a Nordeste de Minas.
Os primeiros habitantes, em nossa terra a usar a argila, tanto para fins medicinais, quanto para o uso doméstico, foram os índios. Faziam com a argila, urnas funerárias, máscaras para rituais religiosos e objetos para uso domésticos, como panelas, pratos, copos, etc.
Foi através dos índios, que a arte de trabalhar o barro, surgiu no Vale do Jequitinhonha. Saberes ancestrais, passados ao povo simples do Vale, desde a chegada do sertanejo à região.
Ao longo dos anos, a arte de trabalhar o barro, recebeu influência do negro africano e também, influência do branco português. Assim, o artesanato do Vale do Jequitinhonha, foi formando sua identidade, com os saberes e seu modo artesanal, passados de geração, para geração.
Ao longo dos anos, a arte de trabalhar o barro, recebeu influência do negro africano e também, influência do branco português. Assim, o artesanato do Vale do Jequitinhonha, foi formando sua identidade, com os saberes e seu modo artesanal, passados de geração, para geração.
A argila dá vida a um dos mais valiosos artesanatos do mundo, o artesanato em barro do Vale do Jequitinhonha. Além do artesanato, do próprio barro do Jequitinhonha, saem as cores que dão vida às peças.
As pinturas, nas peças em argila, não são feitas com tinta e sim com pigmentos das diferentes tonalidades de cores das argilas. Trata-se da própria argila, triturada e peneirada.
Coloca o pó peneirado em um pote com água, mistura e deixa curtindo bem. Em seguida, coa-se bem para que não fique nenhum grão de areia, para não atrapalhar a pintura ou estragar a peça. Deve-se deixar o barro curtir bem em um pote, para que fique bom.
Coloca o pó peneirado em um pote com água, mistura e deixa curtindo bem. Em seguida, coa-se bem para que não fique nenhum grão de areia, para não atrapalhar a pintura ou estragar a peça. Deve-se deixar o barro curtir bem em um pote, para que fique bom.
O nome que os artesãos e artesãs do Vale do Jequitinhonha, chamam essa composição simples é, “oleio”. Para fazer o oleio, a argila tem que ser bem selecionada, não sendo a mesma que fez a peça. A melhor argila para moldar as peças e para fazer o oleio, vem dos saberes passados aos artesãos e artesãs, por gerações e segundo os artesãos do Vale, a argila na cor preta, é a melhor para se fazer oleio.
As pinturas com o oleio são feitas com muita delicadeza, paciência e criatividade. Para fazer os desenhos e texturas nas peças, com o oleio, não usam o pincel comum e sim, pena de galinha, pequenos pedaços de pano, para alisar e olear as peças e sabugo de milho, para moldar peças.
É o modo artesanal de fazer a arte, com o sabugo, o pano, a pena de galinha. Cada um com suas utilidades, para o realce e definição das cores e estilos das peças.
O desenho, a forma e os tons de cores, dependerá da criatividade de cada artesão ou artesã. É o talento e sensibilidade dos artistas que darão às peças, suas identidades e características originais. Após a pintura, as peças são levadas ao forno para a queima. Com a queima, as pinturas e as peças, ficarão mais resistentes e firmes.
O desenho, a forma e os tons de cores, dependerá da criatividade de cada artesão ou artesã. É o talento e sensibilidade dos artistas que darão às peças, suas identidades e características originais. Após a pintura, as peças são levadas ao forno para a queima. Com a queima, as pinturas e as peças, ficarão mais resistentes e firmes.
Patrimônio Cultural de Minas Gerais
O artesanato do Vale do Jequitinhonha é totalmente artesanal, desde a extração do barro, preparação dos pigmentos para o oleio, moldagem das peças, até sua queima, nos fornos.
O artesanato em argila do Jequitinhonha é tão importante para Minas Gerais, que faz parte da identidade cultural do Estado. O ofício dos artesãos e artesãs, bem como, seus saberes na arte de trabalhar o barro, preservados há gerações, são reconhecidos, como Patrimônio Cultural do Estado de Minas Gerais, desde dezembro de 2018.
No Vale do Jequitinhonha, o artesanato está presente em todos os 55 municípios. É um complemento na renda de milhares de família e às vezes, a única fonte de renda muitas famílias.
O artesanato em argila do Jequitinhonha é tão importante para Minas Gerais, que faz parte da identidade cultural do Estado. O ofício dos artesãos e artesãs, bem como, seus saberes na arte de trabalhar o barro, preservados há gerações, são reconhecidos, como Patrimônio Cultural do Estado de Minas Gerais, desde dezembro de 2018.
No Vale do Jequitinhonha, o artesanato está presente em todos os 55 municípios. É um complemento na renda de milhares de família e às vezes, a única fonte de renda muitas famílias.
Destaque para as cidades de Santana do Araçuaí, distrito de Ponto dos Volantes, famosa pelas bonecas da Dona Isabel. Do artesanato de Pasmado em Itaobim e Pasmadinho, em Itinga. Além de Campo Alegre, Coqueiro Campo e Campo Buriti, comunidades rurais, entre Minas Novas e Turmalina, com grande tradição no artesanato em argila.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), diz que um patrimônio cultural imaterial: “São práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades ou grupos, e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.
Segundo a Unesco: “Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos, em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo para promover o respeito à diversidade cultura e à criatividade humana”.
A artesã Lilia Xavier
Em uma dessas comunidades, Campo Alegre, nasceu, em 1988, Lilia Xavier, artesã, já na quarta geração de sua família.
A artesã Lilia Xavier
Em uma dessas comunidades, Campo Alegre, nasceu, em 1988, Lilia Xavier, artesã, já na quarta geração de sua família.
Lilia aprendeu a trabalhar com a argila com sua mãe, Sergina Xavier, que aprendeu com sua avó, Maria Gomes Ferreira, hoje com 85 anos, que aprendeu com sua bisavó, Augusta Gomes Ferreira, já falecida, que aprendeu com sua trisavó, Rosa Gomes Ferreira. (na foto acima de Michel/Sebrae, as três últimas gerações de artesãs da família)
Lilia Xavier, hoje com 33 anos, conta que cresceu vendo sua mãe buscar a argila no mato e a fazer as peças. Incentivada por sua mãe, aos 10 anos de idade, já fazia peças, e as vendia. Eram pequenas peças, do imaginário de uma criança, como porquinhos, pintinhos, sapinhos, etc.
Com o passar do tempo, foi aprimorando seus conhecimentos e práticas, sempre incentivada por sua mãe e avó. Hoje, seu artesanato tem identidade própria, sua leitura pessoal da realidade e sua própria forma de entender a arte, moldada em barro, detalhes e cores vivas das pinturas que faz, em suas peças.
Com o passar do tempo, foi aprimorando seus conhecimentos e práticas, sempre incentivada por sua mãe e avó. Hoje, seu artesanato tem identidade própria, sua leitura pessoal da realidade e sua própria forma de entender a arte, moldada em barro, detalhes e cores vivas das pinturas que faz, em suas peças.
A menina que fazia pequenos bichinhos com o barro, hoje transforma esse mesmo barro em filtros, queijeiras, moringas, cachepô, jogo de prato, copos, pratos, bonecas, galinha em tamanho natural, potes, flores, pimenteiras, sopeiras, vasos, etc.
Além disso, Lilia Xavier, foi a primeira artesã do Vale a fazer queijeiras. Quem deu a ideia e mostrou o modelo, para que a artesã fizesse, fui eu, Arnaldo Silva. Para mim, queijo é a maior identidade mineira e nada melhor que ter uma queijeira em casa, bem no estilo tradicional da arte em barro do Vale do Jequitinhonha. Queijeira está presente nas casas dos mineiros, porque queijo não falta nunca na cozinha mineira. Melhor ainda colocar o queijo numa queijeira feita pelas mãos talentosas das artesãs do Vale.
Era uma peça que faltava no artesanato de barro do Vale e Lilia, com seu talento, conseguiu captar a sugestão que dei e fez a primeira queijeira, no qual, tive o privilégio de ter sido o primeiro a adquiri-la. De novembro para cá, quando fez a primeira queijeira, foram várias outras feitas por Lilia, em tons branco, bege e vermelho. São peças lindas e perfeitas!
O barro que vira arte
É um trabalho difícil, desde a busca do barro na mata, até estar pronto para a venda. O processo é lento e leva dias para ser concluído, seguindo essas etapas:
É um trabalho difícil, desde a busca do barro na mata, até estar pronto para a venda. O processo é lento e leva dias para ser concluído, seguindo essas etapas:
01 - A argila tem todo um processo, desde o barreiro, até a queima das peças. Primeiro tira a argila no barreiro com uma enxada. A argila tem que ser bem escolhida e não pode ser qualquer uma. O melhor, para o artesanato, é a argila mais escura.
02 - Em seguida, coloca a argila no pilão, já que ele vem em torrões. No pilão, tem que socar bem a argila com a gangorra.
03 - Depois de socado, ele é peneirado, em seguida, coloca-se um pouco de água, para ser amassado, até ficar na consistência de uma massa firme, estando já pronto para modelar as peças.
05 - Depois da peça modelada, é necessário o acabamento e deixar secando.
06 - Depois de modelada a peça com as mãos, usa-se uma faca para aparar as arestas, bem como sabuco de milho, para que a peça fique lisa e homogênea. Em seguida, deixa a peça secando sob o sol, para que toda a água e umidade presente na argila, seja eliminada. Essa secagem é de grande importância para evitar que as peças trinquem.
07 - Depois de bem sequinha, passa-se o oleio em toda a peça, com um pedaço de pano.
08 - Após passar o oleio, deixa a peça secando novamente e quando bem seca, começa a pintura das peças, usando pena de galinha.
09 - Já pintadas e secas, as peças vão para o forno.
10 - Após a queima, espera esfriar e as peças já estão prontas para serem comercializadas.
10 - Após a queima, espera esfriar e as peças já estão prontas para serem comercializadas.
Após as peças serem pintadas, estão prontas para irem para o forno e serem queimadas. O forno é rústico, feito com tijolos de adobe e barreado com a argila do vale. A parte inferior, é onde fica a lenha que será queimada.
Na "bacia", do tamanho de uma caixa d´água, no fundo, tem alguns "furos". Para o fogo não ir direto nas peças, esses "furos" são cobertos com pedaços de cerâmicas, para o fogo não ir direto nas peças. Assim, o calor do fogo, "assa" as peças, que são todas colocadas dentro da "bacia".
Ficam no fogo por pelo menos por 10 horas, numa temperatura entre 600 a 900 graus.
A queima é de grande importância, já que dará firmeza e resistência às peças e pinturas.
A cor natural do oleio, não será a mesma, durante a queima das peças. Quando no forno, as peças mudam de cores. A peça poderá ter a tonalidade branca, bege ou vermelha. Isso acontece devido a ação do calor, quando as peças vão para a queima, no forno. A queima faz com que a argila, se transforme e modifique a cor. Oleio amarelo, fica vermelho, o preto ou na cor cinza-azulado, muda para a cor amarela, bege, branca ou vermelha, dependendo da tonalidade do pigmento.
O fenômeno acontece porque durante a queima, a argila é submetida a altas temperaturas, o que ocasiona reação química de todos os seus componentes, principalmente da alumina, que se deforma, no calor. Como consequência da ação do calor na argila, ocorre modificação de suas tonalidades, de acordo com a composição química da argila usada.
A cor natural do oleio, não será a mesma, durante a queima das peças. Quando no forno, as peças mudam de cores. A peça poderá ter a tonalidade branca, bege ou vermelha. Isso acontece devido a ação do calor, quando as peças vão para a queima, no forno. A queima faz com que a argila, se transforme e modifique a cor. Oleio amarelo, fica vermelho, o preto ou na cor cinza-azulado, muda para a cor amarela, bege, branca ou vermelha, dependendo da tonalidade do pigmento.
O fenômeno acontece porque durante a queima, a argila é submetida a altas temperaturas, o que ocasiona reação química de todos os seus componentes, principalmente da alumina, que se deforma, no calor. Como consequência da ação do calor na argila, ocorre modificação de suas tonalidades, de acordo com a composição química da argila usada.
A vida dura das mulheres do Vale
"É uma sensação muito boa, pegar o barro e transformá-lo em peças e cores maravilhosas. É um dom de Deus”, diz a artesã Lilia Xavier, com alegria.
A artesã demonstra essa alegria, que sai de seu coração: “Lembro que minha mãe trabalhava na casa de minha avó, porque não tinha um local certo de fazer as peças. Eu e minha irmã, Vanderléia, ficávamos ansiosas para chegar o dia seguinte, para irmos com a mãe lá, na casa da nossa avó. Era muita alegria nesse tempo!”
Lilia conta que, quando chegavam compradores das peças em sua casa, ela e a irmã, tinham que ir até a casa da avó, avisar à mãe. “Eu e minha irmã, íamos correndo para avisar minha mãe e avó, que os compradores tinham chegado, na comunidade. Andávamos mais de três quilômetros de distância, para chama-las”.
Com os compradores à porta, mãe e avó, enchiam balaios de peças, colocavam na cabeça e iam às pressas mostrar as artes aos compradores, com todo o peso das peças na cabeça. Assim que chegavam, logo esparramavam as peças no chão, para que escolhessem, conta Lília. (na foto abaixo, a mãe de Lilia Xavier, dona Sergina, hoje com 54 anos, buscando argila no mato)
Lilia conta que, quando chegavam compradores das peças em sua casa, ela e a irmã, tinham que ir até a casa da avó, avisar à mãe. “Eu e minha irmã, íamos correndo para avisar minha mãe e avó, que os compradores tinham chegado, na comunidade. Andávamos mais de três quilômetros de distância, para chama-las”.
Com os compradores à porta, mãe e avó, enchiam balaios de peças, colocavam na cabeça e iam às pressas mostrar as artes aos compradores, com todo o peso das peças na cabeça. Assim que chegavam, logo esparramavam as peças no chão, para que escolhessem, conta Lília. (na foto abaixo, a mãe de Lilia Xavier, dona Sergina, hoje com 54 anos, buscando argila no mato)
Jequitinhonha: o Vale das Mulheres
No século XX, o Vale do Jequitinhonha era conhecido como Vale da Miséria. A vida era dura demais, o trabalho era escasso e a única alternativa dos pais de família, era buscar serviço fora.
No século XX, o Vale do Jequitinhonha era conhecido como Vale da Miséria. A vida era dura demais, o trabalho era escasso e a única alternativa dos pais de família, era buscar serviço fora.
Deixavam suas mulheres e filhos e iam em grupos, para outras regiões de Minas ou outros estados, para trabalharem em lavouras de café, cana-de-açúcar ou outras atividades. Ficavam meses fora e até mais de ano. No Vale, ficavam as mulheres e por isso a região era também chamada de Vale das Mulheres.
Eram elas que assumiam o sustento de seus filhos, com a ausência dos maridos. E o artesanato era a garantia da entrada de algum dinheiro, que pudesse ajudar no sustento de suas famílias. Praticamente, todas as mulheres do Vale, no século passado, trabalhavam com o artesanato. Até os dias de hoje, a maioria do artesanato feito no Vale do Jequitinhonha, saem de mãos femininas.
Sempre apareciam compradores. Eram pessoas vindas de outras cidades e até estados. Compravam peças, para revenderem. Pagavam pouco, mas ajudavam em muito às mulheres do Vale.
Quando vendiam as peças, mesmo por um valor baixo, era uma alegria imensa, conta Lilia. Com o dinheiro da venda das peças, sua mãe e avó, iam direto para o pequeno armazém da comunidade, comprar alimentos.
Mesmo ainda criança, Lilia conta que percebia as dificuldades da família, em manter casa: “fui vendo as dificuldades delas e com isso aprendi muito. Meu pai trabalhava fora, no sertão, e demorava para voltar e trazer dinheiro, para nossas despesas. As coisas não eram fáceis, nessa época”, conclui.
“Aos 16 anos me casei com Erinaldo Dias dos Santos. Fui morar na casa de minha sogra. Morei lá por mais ou menos um ano. Depois meu marido viajou para trabalhar numa usina de açúcar e fiquei na casa de minha mãe. Com isso, fui aperfeiçoando mais ainda meus conhecimentos sobre a arte em barro, pois, ajudava minha mãe. Um ano depois, meu marido voltou e compramos uma casinha. Mas o marido continuava viajando para trabalhar e eu ficava aqui, trabalhando com o artesanato”, conta a artesã.
Eram elas que assumiam o sustento de seus filhos, com a ausência dos maridos. E o artesanato era a garantia da entrada de algum dinheiro, que pudesse ajudar no sustento de suas famílias. Praticamente, todas as mulheres do Vale, no século passado, trabalhavam com o artesanato. Até os dias de hoje, a maioria do artesanato feito no Vale do Jequitinhonha, saem de mãos femininas.
Sempre apareciam compradores. Eram pessoas vindas de outras cidades e até estados. Compravam peças, para revenderem. Pagavam pouco, mas ajudavam em muito às mulheres do Vale.
Quando vendiam as peças, mesmo por um valor baixo, era uma alegria imensa, conta Lilia. Com o dinheiro da venda das peças, sua mãe e avó, iam direto para o pequeno armazém da comunidade, comprar alimentos.
Mesmo ainda criança, Lilia conta que percebia as dificuldades da família, em manter casa: “fui vendo as dificuldades delas e com isso aprendi muito. Meu pai trabalhava fora, no sertão, e demorava para voltar e trazer dinheiro, para nossas despesas. As coisas não eram fáceis, nessa época”, conclui.
“Aos 16 anos me casei com Erinaldo Dias dos Santos. Fui morar na casa de minha sogra. Morei lá por mais ou menos um ano. Depois meu marido viajou para trabalhar numa usina de açúcar e fiquei na casa de minha mãe. Com isso, fui aperfeiçoando mais ainda meus conhecimentos sobre a arte em barro, pois, ajudava minha mãe. Um ano depois, meu marido voltou e compramos uma casinha. Mas o marido continuava viajando para trabalhar e eu ficava aqui, trabalhando com o artesanato”, conta a artesã.
Segundo Lilia, seu marido, atualmente, não viaja mais para trabalhar fora, e sim, lhe ajuda nos trabalhos mais pesados, como buscar argila no mato, socar, etc. O casal tem um filho, hoje com 8 anos. (na foto abaixo, Lilia Xavier, sua mãe e seu artesanato)
Lilia Xavier, na foto acima ao lado de sua mãe, é hoje, uma das mais conhecidas artesãs de sua região e seus trabalhos, valorizados e presentes em todos os estados brasileiros, já que a artesã, usa as redes sociais para divulgar seus trabalhos. O contato com a artesã, mais fácil é pelo WhatsApp: (38) 99852-0991 e pelo Instagram: @atelieliliaxavier
O artesanato do Vale no Século XXI
A vida no Vale mudou, nessas duas décadas iniciais do século XXI. Realidade bem diferente, da vivida pelo povo no século passado. Falta muito que melhorar ainda, mas, em relação há décadas atrás, melhorou um pouco.
Os artesãos e artesãs, são hoje conscientes do valor e importância de seus trabalhos. Estão organizados em Cooperativas e Associações de classes. No de Campo Alegre, distrito de Turmalina, onde mora Lilia Xavier, os lavradores, artesãos e artesãs, estão organizados na Associação de Lavradores, Artesãos e Artesãs de Campo Alegre, fundada em 1985.
A entidade tem parceria com o Sebrae, que ajuda, oferecendo cursos com certificados, como curso de marketing, embalagens, como colocar preços nas peças, etc. Além disso, na sede da Associação, tem uma loja que comercializa peças dos artistas locais, bem como, a entidade, representa os artesãos e artesãs em feiras e exposições, no Estado e no Brasil.
Organizadas e melhor informadas, tem mais condições de negociarem suas peças, por um preço justo, valorizando seus trabalhos e se valorizando. As mulheres do Vale, por estarem mais organizadas e unidas, além de inseridas no mundo digital, conseguem vender com mais rapidez e facilidade, suas peças. Isso faz com que a arte do Vale do Jequitinhonha, seja conhecida, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
A arte das ceramistas do Vale do Jequitinhonha, está na alma e pulsa no coração do sertanejo. Fazem suas peças com alegria e prazer, não para vender, apenas. Por amor à arte de trabalhar o barro, porque no barro, está a sua vida, a sua história, o passado das mulheres e homens do Vale.
A vida no Vale mudou, nessas duas décadas iniciais do século XXI. Realidade bem diferente, da vivida pelo povo no século passado. Falta muito que melhorar ainda, mas, em relação há décadas atrás, melhorou um pouco.
Os artesãos e artesãs, são hoje conscientes do valor e importância de seus trabalhos. Estão organizados em Cooperativas e Associações de classes. No de Campo Alegre, distrito de Turmalina, onde mora Lilia Xavier, os lavradores, artesãos e artesãs, estão organizados na Associação de Lavradores, Artesãos e Artesãs de Campo Alegre, fundada em 1985.
A entidade tem parceria com o Sebrae, que ajuda, oferecendo cursos com certificados, como curso de marketing, embalagens, como colocar preços nas peças, etc. Além disso, na sede da Associação, tem uma loja que comercializa peças dos artistas locais, bem como, a entidade, representa os artesãos e artesãs em feiras e exposições, no Estado e no Brasil.
Organizadas e melhor informadas, tem mais condições de negociarem suas peças, por um preço justo, valorizando seus trabalhos e se valorizando. As mulheres do Vale, por estarem mais organizadas e unidas, além de inseridas no mundo digital, conseguem vender com mais rapidez e facilidade, suas peças. Isso faz com que a arte do Vale do Jequitinhonha, seja conhecida, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
A arte das ceramistas do Vale do Jequitinhonha, está na alma e pulsa no coração do sertanejo. Fazem suas peças com alegria e prazer, não para vender, apenas. Por amor à arte de trabalhar o barro, porque no barro, está a sua vida, a sua história, o passado das mulheres e homens do Vale.
O Vale do Jequitinhonha, é arte, é de Minas Gerais. Na dureza da terra seca do sertão, saem das mãos calejadas, dos artesãos e artesãs, a sua própria identidade, única e autêntica. Do coração dessa gente, sai a sua própria história, moldadas por suas mãos e expressadas em seu artesanato.
Assim é a arte do Vale, assim é o povo do Jequitinhonha, assim é o sertão de Minas Gerais. Como bem disse o escritor Euclides da Cunha (1866/1909): “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
(Todas as peças que ilustram a matéria, foram feitas pela artesã Lilia Xavier para a edição)