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sábado, 17 de abril de 2021

Artesã Lilia Xavier: as mãos que transformam o barro em arte

(Por Arnaldo Silva) Popularmente chamada de barro, a argila, é um dos minerais mais conhecidos e utilizados pela humanidade. Seu uso era bastante comum, desde as antigas civilizações, há milhares de anos, em tratamentos de estética e medicamentos, bem como na fabricação de utensílios domésticos e artesanato. E até os dias de hoje, continua sendo usada para esses fins, em todo o mundo.
          É um mineral riquíssimo, composto por magnésio, cal, alumínio, ferro, sódio, potássio, alumínio, sílica e titânio. É bastante comum e bem fácil de encontrar. Além de ser muito usada em tratamentos medicinais, devido a seus vários benefícios para a pele, é bastante usada ainda para fins estéticos.
          São vários os tipos de argila presentes no mundo, com pigmentos e cores diferentes, como verde, amarela, branca, marrom, vermelha, rosa, cinza e preta.
Além do uso terapêutico e estético, a argila é bastante usada no artesanato, como matéria principal, sem adição de outro material. Na fabricação de telhas, tijolos porcelanas, louças, pias e vasos sanitários, etc., a argila é usada como complemento a outro material, já que permite o rápido endurecimento da massa, dando assim mais resistência aos produtos.
O Vale do Jequitinhonha
          Em Minas Gerais, a argila é bastante usada para fins medicinais e terapêuticos. É também a argila, que dá vida e cores ao artesanato mineiro, principalmente no Vale do Jequitinhonha, uma região mineira formada por 55 municípios, a Nordeste de Minas.
          Os primeiros habitantes, em nossa terra a usar a argila, tanto para fins medicinais, quanto para o uso doméstico, foram os índios. Faziam com a argila, urnas funerárias, máscaras para rituais religiosos e objetos para uso domésticos, como panelas, pratos, copos, etc.
          Foi através dos índios, que a arte de trabalhar o barro, surgiu no Vale do Jequitinhonha. Saberes ancestrais, passados ao povo simples do Vale, desde a chegada do sertanejo à região.
          Ao longo dos anos, a arte de trabalhar o barro, recebeu influência do negro africano e também, influência do branco português. Assim, o artesanato do Vale do Jequitinhonha, foi formando sua identidade, com os saberes e seu modo artesanal, passados de geração, para geração.
A transformação da argila em tinta e em arte 
          A argila dá vida a um dos mais valiosos artesanatos do mundo, o artesanato em barro do Vale do Jequitinhonha. Além do artesanato, do próprio barro do Jequitinhonha, saem as cores que dão vida às peças.
          As pinturas, nas peças em argila, não são feitas com tinta e sim com pigmentos das diferentes tonalidades de cores das argilas. Trata-se da própria argila, triturada e peneirada. 
           Coloca o pó peneirado em um pote com água, mistura e deixa curtindo bem. Em seguida, coa-se bem para que não fique nenhum grão de areia, para não atrapalhar a pintura ou estragar a peça. Deve-se deixar o barro curtir bem em um pote, para que fique bom.
          O nome que os artesãos e artesãs do Vale do Jequitinhonha, chamam essa composição simples é, “oleio”. Para fazer o oleio, a argila tem que ser bem selecionada, não sendo a mesma que fez a peça. A melhor argila para moldar as peças e para fazer o oleio, vem dos saberes passados aos artesãos e artesãs, por gerações e segundo os artesãos do Vale, a argila na cor preta, é a melhor para se fazer oleio.
          As pinturas com o oleio são feitas com muita delicadeza, paciência e criatividade. Para fazer os desenhos e texturas nas peças, com o oleio, não usam o pincel comum e sim, pena de galinha, pequenos pedaços de pano, para alisar e olear as peças e sabugo de milho, para moldar peças. 
          É o modo artesanal de fazer a arte, com o sabugo, o pano, a pena de galinha. Cada um com suas utilidades, para o realce e definição das cores e estilos das peças.
          O desenho, a forma e os tons de cores, dependerá da criatividade de cada artesão ou artesã. É o talento e sensibilidade dos artistas que darão às peças, suas identidades e características originais. Após a pintura, as peças são levadas ao forno para a queima. Com a queima, as pinturas e as peças, ficarão mais resistentes e firmes.         
Patrimônio Cultural de Minas Gerais
          O artesanato do Vale do Jequitinhonha é totalmente artesanal, desde a extração do barro, preparação dos pigmentos para o oleio, moldagem das peças, até sua queima, nos fornos.
          O artesanato em argila do Jequitinhonha é tão importante para Minas Gerais, que faz parte da identidade cultural do Estado. O ofício dos artesãos e artesãs, bem como, seus saberes na arte de trabalhar o barro, preservados há gerações, são reconhecidos, como Patrimônio Cultural do Estado de Minas Gerais, desde dezembro de 2018.
          No Vale do Jequitinhonha, o artesanato está presente em todos os 55 municípios. É um complemento na renda de milhares de família e às vezes, a única fonte de renda muitas famílias. 
          Destaque para as cidades de Santana do Araçuaí, distrito de  Ponto dos Volantes, famosa pelas bonecas da Dona Isabel. Do artesanato de Pasmado em Itaobim e Pasmadinho, em Itinga. Além de Campo Alegre, Coqueiro Campo e Campo Buriti, comunidades rurais, entre Minas Novas e Turmalina, com grande tradição no artesanato em argila.
          A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), diz que um patrimônio cultural imaterial: “São práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades ou grupos, e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.
          Segundo a Unesco: “Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos, em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo para promover o respeito à diversidade cultura e à criatividade humana”.
A artesã Lilia Xavier
          Em uma dessas comunidades, Campo Alegre, nasceu, em 1988, Lilia Xavier, artesã, já na quarta geração de sua família.
          Lilia aprendeu a trabalhar com a argila com sua mãe, Sergina Xavier, que aprendeu com sua avó, Maria Gomes Ferreira, hoje com 85 anos, que aprendeu com sua bisavó, Augusta Gomes Ferreira, já falecida, que aprendeu com sua trisavó, Rosa Gomes Ferreira. (na foto acima de Michel/Sebrae, as três últimas gerações de artesãs da família)
          Lilia Xavier, hoje com 33 anos, conta que cresceu vendo sua mãe buscar a argila no mato e a fazer as peças. Incentivada por sua mãe, aos 10 anos de idade, já fazia peças, e as vendia. Eram pequenas peças, do imaginário de uma criança, como porquinhos, pintinhos, sapinhos, etc.
           Com o passar do tempo, foi aprimorando seus conhecimentos e práticas, sempre incentivada por sua mãe e avó. Hoje, seu artesanato tem identidade própria, sua leitura pessoal da realidade e sua própria forma de entender a arte, moldada em barro, detalhes e cores vivas das pinturas que faz, em suas peças.
          A menina que fazia pequenos bichinhos com o barro, hoje transforma esse mesmo barro em filtros, queijeiras, moringas, cachepô, jogo de prato, copos, pratos, bonecas, galinha em tamanho natural, potes, flores, pimenteiras, sopeiras, vasos, etc.
          Além disso, Lilia Xavier, foi a primeira artesã do Vale a fazer queijeiras. Quem deu a ideia e mostrou o modelo, para que a artesã fizesse, fui eu, Arnaldo Silva. Para mim, queijo é a maior identidade mineira e nada melhor que ter uma queijeira em casa, bem no estilo tradicional da arte em barro do Vale do Jequitinhonha. Queijeira está presente nas casas dos mineiros, porque queijo não falta nunca na cozinha mineira. Melhor ainda colocar o queijo numa queijeira feita pelas mãos talentosas das artesãs do Vale. 
          Era uma peça que faltava no artesanato de barro do Vale e Lilia, com seu talento, conseguiu captar a sugestão que dei e fez a primeira queijeira, no qual, tive o privilégio de ter sido o primeiro a adquiri-la. De novembro para cá, quando fez a primeira queijeira, foram várias outras feitas por Lilia, em tons branco, bege e vermelho. São peças lindas e perfeitas!
O barro que vira arte
          É um trabalho difícil, desde a busca do barro na mata, até estar pronto para a venda. O processo é lento e leva dias para ser concluído, seguindo essas etapas:
01 - A argila tem todo um processo, desde o barreiro, até a queima das peças. Primeiro tira a argila no barreiro com uma enxada. A argila tem que ser bem escolhida e não pode ser qualquer uma. O melhor, para o artesanato, é a argila mais escura.
02 - Em seguida, coloca a argila no pilão, já que ele vem em torrões. No pilão, tem que socar bem a argila com a gangorra.
03 - Depois de socado, ele é peneirado, em seguida, coloca-se um pouco de água, para ser amassado, até ficar na consistência de uma massa firme, estando já pronto para modelar as peças.
04 - O barro já estando pronto é colocado sobre uma mesa para dar início a modelagem das peças.
05 - Depois da peça modelada, é necessário o acabamento e deixar secando.
06 - Depois de modelada a peça com as mãos, usa-se uma faca para aparar as arestas, bem como sabuco de milho, para que a peça fique lisa e homogênea. Em seguida, deixa a peça secando sob o sol, para que toda a água e umidade presente na argila, seja eliminada. Essa secagem é de grande importância para evitar que as peças trinquem.
07 - Depois de bem sequinha, passa-se o oleio em toda a peça, com um pedaço de pano.          
08 - Após passar o oleio, deixa a peça secando novamente e quando bem seca, começa a pintura das peças, usando pena de galinha.
09 - Já pintadas e secas, as peças vão para o forno.
10 -  Após a queima, espera esfriar e as peças já estão prontas para serem comercializadas.
          Após as peças serem pintadas, estão prontas para irem para o forno e serem queimadas. O forno é rústico, feito com tijolos de adobe e barreado com a argila do vale. A parte inferior, é onde fica a lenha que será queimada.
          Na "bacia", do tamanho de uma caixa d´água, no fundo, tem alguns "furos". Para o fogo não ir direto nas peças, esses "furos" são cobertos com pedaços de cerâmicas, para o fogo não ir direto nas peças. Assim, o calor do fogo, "assa" as peças, que são todas colocadas dentro da "bacia".
          Ficam no fogo por pelo menos por 10 horas, numa temperatura entre 600 a 900 graus.
          A queima é de grande importância, já que dará firmeza e resistência às peças e pinturas.
          A cor natural do oleio, não será a mesma, durante a queima das peças. Quando no forno, as peças mudam de cores. A peça poderá ter a tonalidade branca, bege ou vermelha. Isso acontece devido a ação do calor, quando as peças vão para a queima, no forno. A queima faz com que a argila, se transforme e modifique a cor. Oleio amarelo, fica vermelho, o preto ou na cor cinza-azulado, muda para a cor amarela, bege, branca ou vermelha, dependendo da tonalidade do pigmento.
          O fenômeno acontece porque durante a queima, a argila é submetida a altas temperaturas, o que ocasiona reação química de todos os seus componentes, principalmente da alumina, que se deforma, no calor. Como consequência da ação do calor na argila, ocorre modificação de suas tonalidades, de acordo com a composição química da argila usada.
 
A vida dura das mulheres do Vale 
          "É uma sensação muito boa, pegar o barro e transformá-lo em peças e cores maravilhosas. É um dom de Deus”, diz a artesã Lilia Xavier, com alegria.
          A artesã demonstra essa alegria, que sai de seu coração: “Lembro que minha mãe trabalhava na casa de minha avó, porque não tinha um local certo de fazer as peças. Eu e minha irmã, Vanderléia, ficávamos ansiosas para chegar o dia seguinte, para irmos com a mãe lá, na casa da nossa avó. Era muita alegria nesse tempo!” 
          Lilia conta que, quando chegavam compradores das peças em sua casa, ela e a irmã, tinham que ir até a casa da avó, avisar à mãe. “Eu e minha irmã, íamos correndo para avisar minha mãe e avó, que os compradores tinham chegado, na comunidade. Andávamos mais de três quilômetros de distância, para chama-las”.
           Com os compradores à porta, mãe e avó, enchiam balaios de peças, colocavam na cabeça e iam às pressas mostrar as artes aos compradores, com todo o peso das peças na cabeça. Assim que chegavam, logo esparramavam as peças no chão, para que escolhessem, conta Lília. (na foto abaixo, a mãe de Lilia Xavier, dona Sergina, hoje com 54 anos, buscando argila no mato)
Jequitinhonha: o Vale das Mulheres
           No século XX, o Vale do Jequitinhonha era conhecido como Vale da Miséria. A vida era dura demais, o trabalho era escasso e a única alternativa dos pais de família, era buscar serviço fora.
          Deixavam suas mulheres e filhos e iam em grupos, para outras regiões de Minas ou outros estados, para trabalharem em lavouras de café, cana-de-açúcar ou outras atividades. Ficavam meses fora e até mais de ano. No Vale, ficavam as mulheres e por isso a região era também chamada de Vale das Mulheres.
           Eram elas que assumiam o sustento de seus filhos, com a ausência dos maridos. E o artesanato era a garantia da entrada de algum dinheiro, que pudesse ajudar no sustento de suas famílias. Praticamente, todas as mulheres do Vale, no século passado, trabalhavam com o artesanato. Até os dias de hoje, a maioria do artesanato feito no Vale do Jequitinhonha, saem de mãos femininas.
          Sempre apareciam compradores. Eram pessoas vindas de outras cidades e até estados. Compravam peças, para revenderem. Pagavam pouco, mas ajudavam em muito às mulheres do Vale.
          Quando vendiam as peças, mesmo por um valor baixo, era uma alegria imensa, conta Lilia. Com o dinheiro da venda das peças, sua mãe e avó, iam direto para o pequeno armazém da comunidade, comprar alimentos.
          Mesmo ainda criança, Lilia conta que percebia as dificuldades da família, em manter casa: “fui vendo as dificuldades delas e com isso aprendi muito. Meu pai trabalhava fora, no sertão, e demorava para voltar e trazer dinheiro, para nossas despesas. As coisas não eram fáceis, nessa época”, conclui.
          “Aos 16 anos me casei com Erinaldo Dias dos Santos. Fui morar na casa de minha sogra. Morei lá por mais ou menos um ano. Depois meu marido viajou para trabalhar numa usina de açúcar e fiquei na casa de minha mãe. Com isso, fui aperfeiçoando mais ainda meus conhecimentos sobre a arte em barro, pois, ajudava minha mãe. Um ano depois, meu marido voltou e compramos uma casinha. Mas o marido continuava viajando para trabalhar e eu ficava aqui, trabalhando com o artesanato”, conta a artesã. 
          Segundo Lilia, seu marido, atualmente, não viaja mais para trabalhar fora, e sim, lhe ajuda nos trabalhos mais pesados, como buscar argila no mato, socar, etc. O casal tem um filho, hoje com 8 anos. (na foto abaixo, Lilia Xavier, sua mãe e seu artesanato)
          Lilia Xavier, na foto acima ao lado de sua mãe, é hoje, uma das mais conhecidas artesãs de sua região e seus trabalhos, valorizados e presentes em todos os estados brasileiros, já que a artesã, usa as redes sociais para divulgar seus trabalhos. O contato com a artesã, mais fácil é pelo WhatsApp: (38) 99852-0991 e pelo Instagram: @atelieliliaxavier
O artesanato do Vale no Século XXI
          A vida no Vale mudou, nessas duas décadas iniciais do século XXI. Realidade bem diferente, da vivida pelo povo no século passado. Falta muito que melhorar ainda, mas, em relação há décadas atrás, melhorou um pouco.
          Os artesãos e artesãs, são hoje conscientes do valor e importância de seus trabalhos. Estão organizados em Cooperativas e Associações de classes. No de Campo Alegre, distrito de Turmalina, onde mora Lilia Xavier, os lavradores, artesãos e artesãs, estão organizados na Associação de Lavradores, Artesãos e Artesãs de Campo Alegre, fundada em 1985.
          A entidade tem parceria com o Sebrae, que ajuda, oferecendo cursos com certificados, como curso de marketing, embalagens, como colocar preços nas peças, etc. Além disso, na sede da Associação, tem uma loja que comercializa peças dos artistas locais, bem como, a entidade, representa os artesãos e artesãs em feiras e exposições, no Estado e no Brasil.
          Organizadas e melhor informadas, tem mais condições de negociarem suas peças, por um preço justo, valorizando seus trabalhos e se valorizando. As mulheres do Vale, por estarem mais organizadas e unidas, além de inseridas no mundo digital, conseguem vender com mais rapidez e facilidade, suas peças. Isso faz com que a arte do Vale do Jequitinhonha, seja conhecida, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
          A arte das ceramistas do Vale do Jequitinhonha, está na alma e pulsa no coração do sertanejo. Fazem suas peças com alegria e prazer, não para vender, apenas. Por amor à arte de trabalhar o barro, porque no barro, está a sua vida, a sua história, o passado das mulheres e homens do Vale.
          O Vale do Jequitinhonha, é arte, é de Minas Gerais. Na dureza da terra seca do sertão, saem das mãos calejadas, dos artesãos e artesãs, a sua própria identidade, única e autêntica. Do coração dessa gente, sai a sua própria história, moldadas por suas mãos e expressadas em seu artesanato. 
          Assim é a arte do Vale, assim é o povo do Jequitinhonha, assim é o sertão de Minas Gerais. Como bem disse o escritor Euclides da Cunha (1866/1909): “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
(Todas as peças que ilustram a matéria, foram feitas pela artesã Lilia Xavier para a edição)

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Minas Gerais para todos os gostos e estilos

(Por Arnaldo Silva) São mais de 20 milhões de mineiros vivendo no Estado, em seus 853 municípios, 1712 distritos e milhares de pequenos povoados. Sem contar com outros centenas de milhares de mineiros, que vivem em outros estados e outros países. Minas Gerais, hoje é o quarto maior estado brasileiro, em número de habitantes e o maior Estado, em extensão territorial do Sudeste. É ainda o maior estado do Brasil, em número de municípios. 
          O “Ser Mineiro” não é apenas um adjetivo, mas uma característica peculiar, já que Minas Gerais é um estado que desenvolveu ao longo dos séculos de sua existência, identidade própria. Esta identidade está presente na arquitetura, belezas naturais, cultura, gastronomia, vida social, religiosidade e tradições peculiares. Sem contar o jeito autêntico do mineiro em falar o português, de forma autêntica e original, diferente do Brasil. O tradicional, mineirês. (na foto acima do John Brandão - In memoriam, o Santuário de Nossa Senhora da Piedade em Caeté MG)
           Isso faz com que Minas Gerais seja um dos melhores destinos turísticos do Brasil e reconhecido em nível mundial, como uma das 10 regiões mais acolhedoras do planeta, conforme lista divulgada pela Traveller Review Awards 2021, promovida pela Booking.com (na foto acima de Arnaldo Silva, Vila de Martins Guimarães, distrito de Lagoa da Prata MG)
          O jeito mineiro de ser e suas tradições, estão presentes em todas as cidades, através da identidade religiosa do povo mineiro, manifestada nas tradicionais festas populares.
           Com destaque para o Congado, Folia de Reis, Bumba-meu-boi, Festa do Divino, Cavalhadas, Dança de São Gonçalo, Festas Juninas, a tradição dos presépios, Guarda Romana de Diamantina, procissões religiosas e outras tantas tradições religiosas, vividas e preservadas no Estado.(na foto acima de Luís Leite, Folia de Reis em Guaranésia, no Sul de Minas)
          O artesanato é uma das fortes identidades mineiras. Reconhecida por sua beleza, tanto no Brasil, quanto no exterior, a arte que encanta o mundo, vem da terra e da natureza, moldadas pelas mãos e talento do povo mineiro.
          O artesanato de Minas Gerais vem da argila, cerâmica, da madeira, das fibras vegetais, flores do Cerrado, bambus, do ouro, da prata, do estanho, da pedra sabão e fibras têxteis, que dão origem aos fios de linha, usados nos tapetes, crochês e bordados. (na foto acima da Giselle Oliveira, tapetes arraiolos feitos para artesã Vânia Ponto do Arraiolo de Diamantina MG)
          Cidades como Belo Horizonte, Tiradentes, Ouro Preto, Congonhas, Mariana, Diamantina, Paracatu, Itapecerica, Viçosa, além das cidades do Vale do Jequitinhonha, com a arte inigualável de suas ceramistas, são os destaques no artesanato mineiro. (na foto acima do Marlon Arantes, artesanato em argila de Minas Novas MG)
          Como o artesanato, a cozinha mineira é famosa no mundo inteiro. Desde o século XVIII, Minas se destaca na culinária com pratos feitos à base de carne de porco, fubá, leite, mandioca e carne de boi, além dos doces, quitandas e queijos. Além disso, cachaças, licores e vinhos finos, são produzidos em Minas, desde o século XVIII, com maior produção de cachaça, reconhecida como a melhor do Brasil.
          São quase duas centenas de pratos diferentes em Minas Gerais, sendo os mais apreciados a vaca atolada, o tutu de feijão, a canjiquinha, o frango com ora-pro-nóbis, o feijão tropeiro, o leitão à pururuca, o torresmo, a linguiça, o angu, a couve, o fubá suado, o frango com quiabo e ao molho pardo, farofa de carne, farofa de queijo, o arroz com pequi, o pão de queijo, mingau de milho verde, doces de leite, ambrosia, mamão, abóbora, laranja da terra, figo e goiabada cascão, além dos biscoitos de queijo, tareco, broa de milho, broa de fubá, broa de massa de queijo e outros saborosos pratos, que não cabem na lista. (na foto acima, a mineiríssima cozinha do Restaurante Jeitinho Mineiro de Santa Rita de Jacutinga MG)
          Sem contar o café de Minas Gerais, considerado um dos melhores do mundo e nossos queijos também. As porteiras das fazendas de azeites da Serra da Mantiqueira, de fazendas de cafés especiais do Sul de Minas e Zona da Mata, das queijarias da Serra da Canastra e as vinícolas do Sul de Minas, estão abertas para o turismo rural, com direito a degustação. (na foto acima de Camila Costa, a Queijaria da Cristina, na Zona Rural de Vargem Bonita MG, Serra da Canastra)
          A história do Brasil passa por Minas Gerais. Durante o Ciclo do Ouro, todas as atenções da Colônia se voltaram para Minas, que recebeu pessoas de todo o país e de vários países do mundo. Esses diferentes povos e cultura, foram os responsáveis pela formação social, política, arquitetônica, cultural e gastronômica do povo mineiro e suas tradições. Minas é um estado diferente, em relação aos outros estados brasileiros. 
          Mais de 60% do patrimônio histórico e cultural brasileiro estão em Minas Gerais, preservados e presentes nas cidades históricas mineiras, surgidas a partir final do século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII. (na foto acima de Ane Souz, a Praça Tiradentes em Ouro Preto MG)
          Cidades históricas com boa parte pertencendo aos caminhos da Estrada Real (Caminho dos Diamantes, Caminhos do Sabarabuçu, Caminho Velho e Caminho Novo). Foram caminhos abertos pelo sertão mineiro, para levar nossas riquezas para o porto de Paraty. 
          Ou ainda, por novos caminhos abertos, ligando Minas a Goiás e São Paulo, cortando o Cerrado do Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas, como por exemplo, a Picada de Goiás, em Paracatu (na foto acima de Neusa de Faria).
         São cidades, fazendo parte dos caminhos da Estrada Real ou não, de grande importância para a história de Minas Gerais, como Itapecerica, Dores do Indaiá, Onça do Pitangui, Formiga e Pitangui, no Centro Oeste Mineiro. (na foto acima de Sueli Santos, Dores do Indaiá MG)
          Barão de Cocais, Santa Bárbara, Catas Altas, Jaboticatubas, Caeté, Conceição do Mato Dentro, Entre Rios de Minas, Itambé do Mato Dentro, Ouro Preto, Mariana, Ouro Branco, Congonhas e Itabirito, na Região Central. (na foto acima da Elvira Nascimento, Santa Rita Durão, distrito de Mariana MG)
          Campanha, Baependi, Caxambu, Passa Quatro, São Lourenço, Caldas e Cruzília, no Sul de Minas. (na foto acima do Rildo Silveira, Cruzília MG)
          Barbacena, Lagoa Dourada, São João Del Rei, Prados e Tiradentes, no Campo das Vertentes. Santos Dumont, Rio Novo, Rio Preto, Belmiro Braga e Juiz de Fora, na Zona da Mata. (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade, o Museu Cabangu, em Santos Dumont MG)
          Belo Horizonte, Sabará, Santa Luzia, Brumadinho, Rio Acima na Grande Belo Horizonte. (na foto acima de Alexa Silva, o Centro Histórico de Santa Luzia MG)
          Diamantina, Chapada do Norte, Couto de Magalhães de Minas, Serro, Minas Novas, Pedra Azul, Chapada do Norte e Itamarandiba no Vale do Jequitinhonha e Januária, Pirapora, Grão Mogol e São Romão, no Norte de Minas. (na foto acima de Viih Soares Fotografia, Chapada do Norte MG)
          Estas cidades acima, são apenas algumas dentre outras tantas cidades históricas de Minas Gerais.
          Além disso, tem as cidades que surgiram ou se desenvolveram, durante o Ciclo do Café, no século XIX, após a decadência do ouro e surgimento dos Barões do Café. 
          A maioria dessas cidades, que viveram o auge da riqueza do Ciclo do Café, estão na Zona da Mata Mineira e boa parte das antigas fazendas, são hoje hotéis fazendas ou as que ainda permanecem, recebem visitantes. É o caso da Fazenda Santa Clara, em Santa Rita de Jacutinga. É o mais imponente e maior casarão deste período, na América Latina. O casarão sede da Fazenda Santa Clara tem 6 mil metros de área construída, 365 janelas, 54 quartos, 12 salões, 3 cozinhas, 2 terreiros para secagem de café, uma capela, senzala, masmorra, mirante, etc.
          A fazenda é o melhor lugar no Brasil para se conhecer a história do Ciclo do Café, da Escravidão, da riqueza gerada pelo café e os reflexos gerados pela decadência da cafeicultura. A Fazenda Santa Clara é a história viva desse período histórico, do Brasil. (na foto acima do Rildo Silveira, a sede da Fazenda Santa Clara)
          Para quem vem à Minas e gosta de aventuras, encontrará de sobra. São paredões, cachoeiras, grutas, cavernas, lagos, trilhas, picos e montanhas em todo o Estado, que propiciam paisagens de tirar o fôlego. (na foto acima de Giseli Jorge, Lapinha da Serra, distrito de Santana do Riacho MG)
          Boa parte das belezas naturais de Minas Gerais estão preservadas em parques municipais, estaduais e nacionais, como destaque para a Serra do Cipó, Serra da Canastra, Serra da Bocaina em Araxá, Serra da Mantiqueira, Ibitipoca, Serra do Caraça e Serra do Espinhaço. São imensas áreas verdes de preservação de nossa fauna e flora, nativas. (na foto acima do Tom Alvesa/tomalves.com.br, a beleza do Parque Estadual do Rio Preto, em São Gonçalo do Rio Preto MG)
          Sem contar as belezas das estâncias hidrominerais mineiras como as águas quentes de Felício dos Santos, no Vale do Jequitinhonha, as águas termais de Montezuma no Norte de Minas, as águas sulfurosas de Araxá, no Alto Paranaíba e as águas medicinais das estâncias hidrominerais do Sul de Mias, como Poços de Caldas e Pocinhos do Rio Verde. (na foto acima de Joseane Astério, a estância hidromineral de Lambari MG)
          Em Minas, o turista tem o Lago de Três Marias, conhecida como “Mar Doce de Minas” e o Lago de Furnas, o “Mar de Minas”, que banha 34 cidades das regiões Oeste, Sudoeste e Sul de Minas. (na foto acima do Raul Moura, balsa no Lago de Três Marias, entre Três Marias e Morada Nova de Minas)
          O Lago de Furnas, tem nas cidades de cidades de Boa Esperança, Capitólio e Fama, suas cidades de maior destaque, além da beleza do Paraíso Perdido e do Paraíso Achado, em São Sebastião do Glória, na região da Serra da Canastra. (na foto acima de Nilza Leonel, o lago de Furnas em Santo Hilário, distrito de Pimenta MG)
          Mesmo para quem vem à Minas, para compras e negócios, as opções são muitas. Cidades com ótimas infraestruturas urbanas, rede hoteleira e gastronômica de qualidade, com acesso terrestre e aérea e estruturas para eventos, como Belo Horizonte, Juiz de Fora, Uberaba, Ipatinga, Teófilo Otoni, Uberlândia, Araxá, Montes Claros, Governador Valadares, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Divinópolis, dentre tantas outras. (na foto acima de Elvira Nascimento, Ipatinga MG)
          Minas Gerais tem para todos os gostos, estilos e opções. Minas te espera! E como disse o nosso grande Guimarães Rosa, escritor natural de Cordisburgo MG: "Minas são muitas".

quarta-feira, 7 de abril de 2021

1835: ano da construção do Mercado Velho de Diamantina

(Por Arnaldo Silva) A Imponente construção, do século XIX, na atual Praça Barão do Guaicuí, hoje, é o Mercado Municipal de Diamantina MG, cidade histórica no Vale do Jequitinhonha, distante 292 km da Capital, Patrimônio da Humanidade desde 1999.
          Foi construído em 1835 a mando do Tenente Joaquim Cassimiro Lages, para moradia, rancho e também, uma intendência. (fotografia acima de Elvira Nascimento)  Na época, uma intendência era um lugar oficial, para descarregamento e comercialização de mercadorias, vindas de outras regiões. As mercadorias chegavam à cidade através das tropas que cortavam o sertão mineiro, levando e trazendo mercadorias. Por isso o local ficou conhecido, popularmente, por Mercado dos Tropeiros. 
          Uma construção muito bem planejada, imponente e suntuosa, com a frete pavimentada, em pedra, com esteios, onde os tropeiros amarravam os animais, enquanto descarregavam as mercadorias. (na foto acima de Giselle Oliveira, os fundos do Mercado Velho e abaixo, a frente e a Praça Barão do Guaicuí)
          Construído em estrutura de madeira, terra, alvenaria e tijolos, ocupa uma quadra inteira. Possui dois pavimentos, telhado em 8 águas, beiradas em cachorro, com pintura tradicional para época, em azul e branco. Possui várias fachadas, que dão de frente para vários pontos da cidade, com destaque para charmosos e atraentes arcos na entrada do Mercado. (na foto abaixo de Elvira Nascimento)
          Arcos no período colonial, eram usados para separar o altar-mor, da nave das igrejas, os chamados, arcos do cruzeiro e também, como ornamentação das vigas de sustentação dos templos. Em termos de construção colonial, sem ser em templos religiosos, uma novidade arquitetônica, para a época. Inclusive, Oscar Niemeyer, teria se inspirado nos arcos do Mercado Velho de Diamantina, terra de seu amigo, Juscelino Kubistchek, para desenhar os traços do Palácio da Alvorada, em Brasília.
          A função do Mercado Velho diamantinense, como intendência, foi encerrada em 1884. O imóvel foi adquirido pelo município em 1889, através de iniciativa da Câmara Municipal, que percebeu a necessidade de centralizar a distribuição de mercadorias, bem com evitar, monopólio de intendências, que surgiam em Diamantina. Com a aquisição pelo município, o local foi transformado em Mercado Municipal, permitindo assim uma maior organização do comércio na cidade. (fotografia acima de Elvira Nascimento, mostrando o Mercado de Flores que acontece nos fins de semana e feriados, em frente Mercado Velho)
          Hoje, o Mercado Municipal de Diamantina, também chamado de Mercado Velho, é um Centro Cultural e um dos lugares mais visitados turistas. (foto abaixo de Giselle Oliveira)
          No Mercado Velho estão o artesanato da cidade como o artesanato em flores de sempre-vivas, bordados, tapetes arraiolos, a culinária típica da cidade, tira gostos e as famosas quitandas, além dos produtos da agricultura familiar, como doces, vinhos, licores, cachaças, produtos caseiros, etc., direto do produtor, para o consumidor.

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