Arquivo do blog

Tecnologia do Blogger.

quinta-feira, 11 de março de 2021

12 vendas, botecos e mercearias antigas em Minas

(Por Arnaldo Silva) Populares no século XIX e principalmente no século XX, as antigas vendas, armazéns, mercearias e botecos estavam presentes nas cidades em cada esquina, em cada bairro, em cada vilarejo mineiro. Tinham de tudo e um pouco, desde fumo, bolas, produtos de limpeza, carnes, querosene, bebidas, sucos, fermentos, carne na lata, inseticidas, roupas, sapatos, utensílios domésticos, enfim, uma infinidade de utensílios.
          Mesmo os espaços pequenos das vendas, geralmente ocupando um cômodo das casas de seus donos, davam um jeito de colocar tudo lá dentro. Na foto acima e abaixo a Mercearia Carvalho, fundada na década de 1950, no distrito de Santo Antônio do Alto Rio Grande, Bocaina de Minas, no Sul de Minas na foto acima do arquivo de Rodrigo Carvalho.
          Eram espaço sociais, de encontro de amigos e de família, numa época que se podia comprar fiado, com tudo anotado em caderneta, sem preocupação alguma do dono dos estabelecimentos.
         E mesmo com toda a modernidade do século XXI, as nostálgicas vendas e os pitorescos botecos ainda existem da mesma forma como antigamente. (na foto acima do Sérgio Mourão/@sergio.mourao, uma tradicional venda em São Geraldo do Jataí, distrito de Curvelo MG)
          Para reviver essa boas lembranças, conheça 12 antigas vendas, armazéns, mercearias e botecos em Minas Gerais. A lista está em ordem alfabética.
01 - Armazém São João em Bom Despacho
          Bom Despacho, no Centro Oeste de Minas, distante 150 km de Belo Horizonte, é uma cidade moderna, nos seus quase 300 anos de existência. Do passado antigo, restaram a tradição das antigas vendas, presentes nos povoados e vilas rurais, como no Engenho do Ribeiro, Garça e Passagem. São pequenas vendas e armazéns, que ainda resistem à modernidade e ao tempo.
          O Armazém São João, popularmente chamada de Venda da Passagem, foi fundado, como dá para ver na foto que fiz, Arnaldo Silva, de uma foto pendurada na parede do armazém, em 1 de junho de 1935, por João Cardoso. Como todas as vendas, ficava na esquina e fazia parte da casa do proprietário. De 1935 para cá, parece que o armazém parou no tempo. Pouca coisa mudou. De diferente, a energia elétrica e uma geladeira, para guardar as bebidas, além do arroz, óleo, sal, açúcar, feijão e café, que não são mais vendidos a granel. Mas o estilo e charme das vendas interioranas, continua o mesmo. E ainda, na mesma casa, com a mesma fachada, tudo igual. Casa simples, com telhado, sem forro, balcão para os fregueses tomarem uma pinga, feita na região ou uma geladinha e claro, balas, doces, queijos, utilidades domésticas, miudezas e tudo mais.
          Sem contar a simpatia do “Seu” Zé, como eu o chamava, esse senhor da foto acima, que infelizmente não está mais entre nós. Estive no povoado da Passagem em 2016 e tirei várias fotos. Era um senhor alegre, de fala mansa, gentil, atleticano, feliz com a vida, muito simples e se orgulhava de ter herdado a venda de seu pai, que hoje, está com seus filhos. Uma tradição maravilhosa e linda. Um lugar bem pitoresco e acolhedor em Bom Despacho.
02 - Armazém do Zé Totó em Belo Horizonte
          Fundado em 1943, no bairro Aparecida, em Belo Horizonte, bem no coração da capital mineira, está uma das mais tradicionais vendas de Minas. O Armazém do Zé Totó. A modernidade e o colossal crescimento de Belo Horizonte, não mudou em nada a vida da família do Zé Totó. Sua venda continua do mesmo jeito e no mesmo lugar, como antigamente. 
          Foi fundada por José Alves dos Santos, o Zé Totó, falecido em 1950. Como todas as vendas tinha o nome do dono, a venda era conhecida como Venda ou Armazém do Zé Totó. Seu filho mais velho, mesmo ainda menino na época, cuidou da venda do pai, após seu falecimento. Por isso é carinhosamente chamado por todos de Zé Totó. Está hoje com mais de 90 anos. 
          É um senhor alegre, cordial, simpático e fica feliz em ver os filhos e genros cuidarem de seu armazém, um ponto de encontro dos amigos que se debruçam no balcão para tomar uma tradicional pinga, com tira gostos ou mesmo, aquela geladinha no capricho.
          Zé Totó garante que o freguês encontra de tudo em sua venda, desde miudezas, brinquedos, doces, produtos de limpeza, utensílios domésticos, ferramentas, etc. Se não encontrar na hora, encomenda. Assim cativa a freguesia e ainda, faz questão de dizer que mesmo na capital mineira, preserva o hábito das vendas no fiado, com tudo anotado na caderneta, que se orgulha de mostrar. Como podem ver na foto acima.
          Se orgulha em dizer que é feliz pelo respeito e amizades que conquistou ao longo de décadas, sobre o balcão de sua pitoresca vendinha, numa tradicional construção da década de 1940. Abre todos os dias, das 8h até as 21 horas, mas faz questão de dizer que só não abre na Sexta-feira da Paixão.
          Estive na Mercearia do Zé Totó, fotografei e o entrevistei. Infelizmente, dois anos após a minha ida, "Seu" Zé Totó nos deixou.
03 - Mercearia Carvalho em Bocaina de Minas
          Mercearia Carvalho, fundada na década de 50, no distrito de Santo Antônio do Alto Rio Grande, Bocaina de Minas, no Sul de Minas na foto acima de Rodrigo Carvalho.
          Passada em 1973 às mãos de Ailton Afonso de Carvalho, (1951-2006), e posteriormente para seu filho, Ailton Rodrigo de Carvalho, onde trabalhou desde os 10 anos de idade, hoje com 38.
          
Em 2023 Mercearia Carvalho completou 50 anos. Além de comércio de cereais e armarinhos, funcionou simultaneamente como Posto Telefônico, pela antiga Telemig, e como ponto de coleta de leitura rural e distribuição de contas de energia pela Cemig.
          Passados 50 anos, mesmo com a modernidade e reformas, foram mantidas boa parte das características originais do imóvel, como o balcão, algumas prateleiras, balança e máquina de frios manual. A velha mercearia é motivo de muito orgulho da família.
04 - Mercearia Israel em São João Batista do Glória 
          Em São João Batista do Glória, no Sudoeste de Minas, distante 374 km distante de Belo Horizonte, uma charmosa mercearia, é um dos mais pitorescos e visitados lugares da cidade.
          É a Mercearia Israel, fundada em 1961, localizada próximo a Praça do Cruzeira. A Mercearia faz parte da história e desenvolvimento da cidade, embora se mantenha da mesma forma como antigamente, preservando suas característica, bem como sendo um dos mais charmosos pontos comerciais da cidade. (fotos acima do Amauri Lima)
          No pequeno espaço da mercearia, encontra-se de tudo e mais um pouco, desde miudezas, a utensílios para casa, ferramentas, enlatados, bebidas, secos e molhados, frutas, balas, corda, bolsas, canecas, panelas, chapéus, arame, doces, pimenta, produtos agropecuários, tudo junto e misturado. Sem contar, claro, muita prosa, histórias e antigos fregueses e novos, que estão sempre presentes na mercearia.  
05 - Mercearia Paraopeba em Itabirito
          Está na ativa desde o ano de 1884, na cidade de Itabirito a 50 km de Belo Horizonte, perto de Ouro Preto MG. Essa venda é a Mercearia Paraopeba, no mesmo endereço desde o século XIX, bem no centro da cidade.
   Nesse espaço que parece pequeno, na foto acima do Judson Nani, você encontra de tudo e mais um pouco. E tenha ainda a caderneta, para os fregueses mais antigos. Uma prática saudosa, preservada. O mais antigo freguês, anotado em uma das cadernetas da Mercearia, data de 1884. Registro histórico!        
          Na mercearia, encontra desde produtos de higiene a doces, queijos, bebidas, utensílios domésticos, frutas, artesanato, brinquedos antigos, quitandas, quitutes, enfim, tudo que precisar. Se não encontrar o que precisa, é porque ainda não foi inventado. Na foto acima mostra um pouco do que tem na Mercearia Paraopeba, só um pouco mesmo.
06 - Venda Alto Minchillo em Guaranésia
           Fundada em 1908, na cidade de Guaranésia, Sul de Minas, pelo casal Luiz Minchillo e Josefina Minchillo, a venda é uma das maiores preciosidades do Sul de Minas e um clássico exemplo de como eram os antigos comércios no interior de Minas Gerais, no início do século XX. (foto acima do Luís Fernando) Vendia de tudo o quanto você pode imaginar como, miudezas, brinquedos, doces, pólvora, farinha, queijo, querosene, fubá, ratoeiras, naftalina, açúcar, sal, roupas, botas, sapatos, cereais a granel, café, ferramentas, carnes, banha, toucinho, aguardente, etc. Encontrava-se de tudo.
          A venda foi construída num sítio de 5 hectares e ocupa uma área construída de 120 metros, com pasto, roça de milho, pomar e estacionamento. De 1908 para cá, pouca coisa mudou. É uma das poucas vendas existentes atualmente, que preserva suas características originais. (foto acima e abaixo de Luís Fernando)
          Desde a fachada, o teto, o balcão, o estilo de colocar os produtos, está tudo do mesmo jeito, como há 112 anos. Até mesmo, a marca de um tiro de fuzil, disparado durante os confrontos entre Minas e São Paulo, durante a chamada “Revolução Constitucionalista de 1932”, está preservada na venda.
          De diferente mesmo foram construído dois banheiros e uma cozinha, já que a venda passou a servir bebidas e tira gostos, além de organizar eventos culturais e preservar uma antiga tradição, que vem desde a origem da venda. É a reza do terço de São Pedro e a tradicional festa junina, em 29 junho, dia do santo (foto acima de Isis Minchillo). A festa é uma das maias antigas e mais populares da região. Atualmente, a Venda Alto Minchillo está abrindo somente às quintas-feiras. (foto acima do Luís Fernando)
          Segundo Cauê Minchillo, a venda “foi passada de pai para filho. Começou com Luiz Minchillo e Josefina Minchillo, depois para meu bisavô, Adalberto Minchillo e depois para meu avô, Adalberto Minchillo Filho e mais dois irmãos, Domingos e José Roberto. E agora eu, Cauê, da 5ª geração, estou no comando”, finaliza.
07 - Venda da Dona Inês em Chapada do Norte
          Chapada do Norte é uma cidade histórica, do Vale do Jequitinhonha. É uma das poucas cidades mineiras onde podemos encontrar, não algumas, mas várias vendas, pelas esquinas das ruas da cidade. Uma dessas vendas é a da Dona Inês, como podem ver a fachada, na foto acima da Viih Soares e abaixo, de Thelmo Lins, o interior da venda.
          São casarões coloniais e outros, na arquitetura eclética, do século XX, mas com a beleza, charme e nostalgia das vendas antigas, de Minas Gerais. É uma das poucas cidades do Brasil, onde pode-se conhecer de fato, como era o comércio no século XIX.
08 - Venda do Seu Lidirico em Araçuaí
          Em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, está uma das mais pitorescas e famosas vendas de Minas Gerais. É a Venda que leva o nome de seu dono, Lidirico José Almeida, nascido em 7 de agosto de 1927, em Novo Cruzeiro, no Vale do Jequitinhonha. Conhecido como Seu Lidirico, mudou-se de sua cidade para Araçuaí, na década de 1940, montando seu próprio negócio nesta cidade, em 1948, com o nome de "Casa Almeida". Como era comum na maioria das vendas antigas, o nome do estabelecimento passou a ser associado ao nome do dono. Assim, popularizou-se como Venda do Seu Lidirico.  Até hoje, preserva suas características arquitetônicas originais, bem como a tradição das antigas vendas do interior mineiro.
          Seu Lidirico abre a venda todos os dias, com a mesma alegria, simplicidade, gentileza e simpatia de antigamente, tendo sempre a companhia de sua esposa, dona Iaiá, de 88 anos, com quem é casado há mais de 70 anos. Dessa união, resultou em uma prole grande. São 15 filhos, criados com o trabalho duro e diário em sua venda. Completa a família, dezenas de netos e bisnetos e um tataraneto. A família já está na quarta geração. (foto acima e abaixo de Ernani Calazans, da parte externa da venda)
          Sua venda, é uma das mais tradicionais de Minas Gerais, onde os fregueses encontram de tudo um pouco, principalmente, acolhida e gentileza. Além disso, na venda podem ser encontradas relíquias bem conservadas do século passado. O casal é muito simpático e carismático. (na foto acima fornecida pelo Fabiano Versiani, "Seu" Lidirico atrás do balcão de sua venda)
          São pessoas simples, muito gentis e acolhedores. Sempre atendem bem seus fregueses e estes o retribuem com muita amizade. É uma das mais originais, pitorescas, charmosas e famosas vendas, não só da cidade, mas de Minas Gerais. A venda do “Seu” Lidirico, faz parte da história da cidade.
          É hoje uma das referências em Minas Gerais para quem quer conhecer profundamente, como eram os pequenos comércios nas cidades mineiras. O sucesso da Venda do “Seu” Lidirico é tanto que é constantemente visitada por veículos de comunicação, como rádios, jornais e TVs. 
          Já foi inclusive tema de música, composta por Miltino Edilberto e Xangai, apresentada pela primeira vez no programa Sr. Brasil, de Rolando Boldrim. O título da música: é “La na Venda do “Seu” Lidirico”. 
          Seu Lidirico faleceu em junho de 2023, aos 96 anos.
09 - Venda do Gordo em Franceses
          Franceses é distrito da cidade de Carvalhos, no Sul de Minas. Cidade famosa por suas trilhas e cachoeiras, é tradicional na produção de cachaças e morangos. Carvalhos tem origem no nome de uma família judaica, estabelecida na região no final do século XVIII, bem como o distrito de Franceses, que teve em suas origens, famílias de franceses, que viviam no Rio de Janeiro, no século XVIII e se mudaram para a região, dando origem ao distrito. (foto acima e abaixo de Mônica Rodrigues)
          Em Franceses, está a venda do Gildo Landim, conhecido por todo como Gordo. Sua venda foi fundada em 1958 e além de vender gêneros alimentícios e miudezas, serve as típicas bebidas produzidas na cidade, bem como deliciosos tira gostos. É ponto de encontro dos moradores da pacata e charmosa vila colonial, sul-mineira.
10 - Venda do Zeca em Jaboticatubas
          Fica em Jaboticatubas, uma histórica e acolhedora cidade tipicamente mineira, distante 60 km de Belo Horizonte, na Serra do Cipó.
          Fundada por Felicíssimo dos Santos Ferreira, já falecido, a venda está presente na história da cidade e de Minas Gerais, desde os primeiros anos do século XX, hoje administrada por seus netos, Carlos e Marcos, a terceira geração do seu fundador. É uma das mais tradicionais e charmosas vendas de Minas. Ir à Serra do Cipó e não conhecer a Venda do Zeca, é um sacrilégio. (foto acima de Edson Borges)
          Funciona num acolhedor e charmoso casarão colonial, com uma ampla área externa, cercado pela exuberante beleza da Serra do Cipó, à sombra de flamboyants (na foto acima da Alexa Silva). Tem de tudo e mais um pouco que os fregueses procuram e claro, a nostálgica tradição do encontro entre amigos, nos balcões e mesas das vendas.
          A Venda do Zeca é uma das nossas mineiridades e um dos lugares mais visitados na Serra do Cipó. Além dos utensílios para uso do dia a dia, na venda tem os petiscos, tira gostos, porções e bebidas.
          Na estufa do balcão da venda, ficam salgadinhos, torresmo e outras delícias, mas as porções são feitas neste belo casarão da foto acima, da Alexa Silva. Fica em frente, alguns passos da venda.
          É movimentadíssima a venda, sempre tem gente que vai lá comprar miudezas ou mesmo, conhecer, já que a região é muito visitada por turistas, que vem à Jaboticatubas, aproveitar as cachoeiras, trilhas e belezas impactantes da Serra do Cipó. E se encantam com a simplicidade do lugar, com a acolhida e simpatia dos proprietários e funcionários. (na foto acima do Edson Borges, o atual proprietário da Venda, atrás do tradicional balcão)
          Funciona todos os dias, das 8h às 20 horas e ainda, tem estacionamento. Dá gosto estar na Venda do Zeca, entrar na mercearia ou mesmo, sentado numa mesa no lado de fora, degustando os deliciosos petiscos e tira gostos, bem tradicionais. 
          O acesso à Venda do Zeca é pela Rodovia MG-10, no km 95. Fica na Rua do Campinho, número 45.
11 - Venda do Zé Alvino em Alfenas
          Em Alfenas, no Sul de Minas, distante 335 km de Belo Horizonte, no bairro Gaspar Lopes, está uma das mais antigas vendas em funcionamento no Brasil. Fundada no século XIX, a venda está presente na cidade há mais de 150 anos. (foto acima e abaixo do Luis Leite)
         Além de sua história e de fazer parte da história de Alfenas, foi nesses anos todos, pontos de encontros de amigos, fregueses e personagens ilustres como Milton Nascimento. Sempre que o cantor e compositor vem à Três Pontas MG, onde tem casa, visita a venda do Zé do Alvino. 
          Inclusive, sua presença no local está registrada em fotos. Na venda, se encontra de tudo que você imaginar, além de tradição, histórias seculares e nostalgia. 
          Estamos falando da charmosa venda do Senhor José Aureliano de Mesquita, o popular, Zé do Alvino. Geralmente, as vendas são passadas de pai para filho, mas nesse caso, foi diferente. José Aureliano de Mesquita, herdou a venda de seu sogro, o Zé do Alvino. Como a venda era associada ao nome de seu sogro, herdou também, o apelido. (foto abaixo do Luís Leite)
          Um senhor simpático, de boa prosa, que cativa com seu carisma, toda a freguesia, que fazem questão de estar na venda, não só para comprar, mas escutar os causos e as histórias do Zé do Alvino e dar boas risadas. São histórias contadas e ouvidas na venda, que sobrevivem ao tempo e cativam a todos, bem como a própria venda, em si. Ninguém entra na venda e não encontra o que procura.
          Um detalhe diferente na Venda do Zé do Alvino chama a atenção. No forro da venda pode ser ver notas de vários valores presas em tampinhas de garrafas, fixadas no forro por tachinhas. Esse dinheiro é doado pelos fregueses, que doam a quantia que puderem. Depois de um tempo, o dinheiro é retirado e encaminhado à Associação Vida Nova, que assiste pacientes com câncer. (foto abaixo do Luis Leite)
          Uma atitude nobre, enaltecida por todos, mas esperada, já que Zé do Alvino, é uma pessoa muito querida e respeitada por todos do bairro. A venda fica aberta todos os dias, tradicionalmente das 6h30 às 19 horas.
12 - Venda do Jorginho em Guaranésia
          Guaranésia fica no Sul de Minas e está distante, 457 km. Conta com pouco mais de 20 mil habitantes. Muito tradicional, a cidade guarda relíquias de seu passado. Entre essas relíquias, está a Venda do Jorginho. (fotografia acima e abaixo de Luís Fernando)
          A história da tradicional Venda é contada pelos próprios proprietários: “Miguel Gibrim, imigrante árabe vindo da Síria, abriu as portas da venda em Guaranésia pela primeira vez em 1918. Desde então, já se vão mais de 100 anos em que a família honra o compromisso de repetir o gesto e abrir as portas de madeira da venda todos os dias para atender fregueses amigos.
          Nessa jornada centenária, a esposa de Miguel Gibrim veio da Síria com a pequena filha Anice, depois nasceram Gibrim Miguel e Jorge Miguel. Jorginho, o caçula, assumiu a venda por volta de 1950. Dessa década até os anos 80, a venda foi ponto de intenso movimento dos trabalhadores das roças de café e cana, da vizinhança do alto da cidade que começava a se expandir. Tempos áureos da velha e boa caderneta de fiado.
          Com a padronização dos mercados e supermercados, a venda se reinventou e nas mãos da esposa do Jorginho, Dona Floripes, manteve firme e altiva a simplicidade e o acolhimento. Em 2018, a venda ganhou a direção da terceira geração. Agora, os filhos do Jorginho e da Floripes mantêm a essência e a identidade, mas inovam: a Venda do Jorginho é uma venda mineira de secos e molhados em geral, que tem o orgulho de ter nas prateleiras, uma seleção dos melhores produtos que Guaranésia e o Sul de Minas produzem.
          Reconhecidamente tradicional, a Venda do Jorginho é empresa Parceiro Guardião dos Produtos da Região do Queijo da Canastra. E tem tudo mais, a tempo e a hora. Ah, sim, aceita cartões que convivem muito bem com a velha e boa caderneta de fiado.
          Venda do Jorginho, Honestidade e Cortesia desde 1918.”

sexta-feira, 5 de março de 2021

Chapada do Norte e a tradição da Festa do Rosário

(Por Arnaldo Silva) Localizada no Vale do Jequitinhonha, distante 522 km de Belo Horizonte, está Chapada do Norte, uma pequena cidade histórica mineira, com 10.337 habitantes, segundo Censo do IBGE em 2022. Chapada do Norte faz divisa com os municípios de José Gonçalves de Minas, Berilo, Francisco Badaró, Jenipapo de Minas, Novo Cruzeiro, Minas Novas e Leme do Prado. (na foto acima de Viih Fotografia/@soares.viih1, vista parcial da cidade).
          A cidade se destaca por sua arquitetura colonial, sua história e por guardar e preservar em sua forma original, as tradições, raízes e cultura negra. (na foto acima de Viih Fotografia/@soares.viih1, vista parcial da cidade) Isso porque Chapada do Norte tem sua origem em quilombos formados durante o Ciclo do Ouro. A exploração mineral na região começa a partir de 1728, no século XVIII. Em busca do ouro, vieram pessoas de várias localidades, formando assim um arraial, denominado de Arraial de Santa Cruz da Chapada.
          Com a decadência do ouro, parte dos moradores do arraial, começaram a ir embora, permanecendo boa parte dos escravos que lá viviam. Com o tempo, começou a chegar escravos que fugiam dos maus tratos, dando origem a formação de quilombos. A comunidade aumentou a partir de 1888, com a abolição da escravidão. Assim, a comunidade crescia, foi elevada à distrito e cidade emancipada em 1963, com o nome de Chapada do Norte.
          Charmosa, atraente e acolhedora, guarda tesouros valiosíssimos da nossa arquitetura, religiosidade, folclore e tradições, presentes nos casarões e igrejas do século XVIII, como a Igreja Matriz de Santa Cruz, a Capela de Nossa Senhora do Rosário e a Capela de Nossa Senhora da Saúde e ainda a Capela do Bom Jesus da Lapa, do século XIX. (na foto acima de Viih Fotografia/@soares.viih1), o interior da Capela do Rosário)
Tradicionais vendinhas
          Na cidade, encanta as pitorescas vendinhas, onde se encontra de tudo, o singelo casario e a simplicidade de seu povo, muito hospitaleiro e atencioso. (na foto acima do Sérgio Mourão)
Maior percentual de população negra do país
          Por ter como origem em quilombos, Chapada do Norte, possui, segundo o IBGE, o maior percentual urbano de negros no país. 95,1% de seus habitantes se declaram negros ou pardos. É ainda em Chapada do Norte que se encontra o maior número de comunidades quilombolas de Minas Gerais. São 14 ao todo. (fotografia acima de Maurício Costa)
A Festa de Nossa Senhora do Rosário 
          Devido à grande concentração negra, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que acontece no segundo fim de semana de em outubro, na Capela de Nossa Senhora do Rosário é um dos eventos religiosos mais tradicionais do município. É uma tradição preservada há mais de 200 anos com danças, cânticos, apresentações musicais, lavação da igreja e distribuição do angu, entre outros rituais. (fotografia acima de Viih Soares/@soares.viih1)
          A Festa e a Capela de Nossa Senhora do Rosário são tão importantes, que ambas foram tombadas pelo patrimônio histórico do Estado de Minas Gerais. Em 2013, a Festa de Nossa Senhora do Rosário foi reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial de Minas Gerais, pelo IEPHA/MG. Já a Capela de Nossa Senhora do Rosário, foi tombada em 1980, também IEPHA/MG. 
A Capela do Rosário dos Homens Pretos
          Datada do século XVIII, é uma capela típica do barroco mineiro, com características externas bem simples, mas abriga um impressionante acervo em seu interior. (foto acima de Thelmo Lins) Seu altar-mor conta com retábulos laterais junto ao arco do cruzeiro, dois altares em talhas em dourado douradas muito bem trabalhadas, além de belíssimos painéis, pintados em seu forro.

Desemboque e o Sertão da Farinha Podre

(Por Arnaldo Silva) Desemboque, povoação fundada em 02/03/1766, no século XVIII, é hoje, distrito de Sacramento MG, no Triângulo Mineiro. O curioso nome “Sertão da Farinha Podre” era o antigo nome da Região do Triângulo Mineiro.
 
          O nome, Sertão da Farinha Podre, segundo a tradição oral, se popularizou quando da chegada de bandeirantes, que adentraram no sertão em busca de ouro e diamantes. (foto acima de Luís Leite) Tinham como prática, plantar alimentos pelo caminho e muitas vezes, enterrar, para consumirem em suas idas e vindas. Enterraram um grande suprimento de alimentos, principalmente farinha, mas quando desenterraram, encontraram os alimentos e toda a farinha já podres. Daí passaram a chamar o lugar de Sertão da Farinha Podre, tendo o nome se popularizado, tanto por moradores, e efetivado pelo poder público da época. (na foto abaixo do Luís Leite, Desemboque vista da estrada)
          Inicialmente, o Sertão da Farinha Podre pertenceu geograficamente ao Estado de São Paulo, passando a domínio, tempos depois, para o Estado de Goiás e por fim, em 1816, passou a pertencer definitivamente Estado de Minas Gerais.
          O nome Triângulo Mineiro surgiu no final do século XIX. A região está nos limites entre o Rio Grande, a sul, Rio Paranaíba, a norte e bacia do Rio Paraná, a leste, formando geograficamente, um triângulo. Percebendo essa semelhança, o nome Triângulo Mineiro passou a se popularizar, sendo hoje uma das 12 regiões geográficas de Minas Gerais.
          No século XVIII e XIX era uma região de intenso garimpo, principalmente ouro e diamantes, além de outros minerais, menos explorados na época, como o minério de ferro, o que motivou a formação de povoados, que deram origem a várias cidades e construções características. Hoje, seu solo continua produzindo riqueza, sendo a agricultura uma das alavancas para o desenvolvimento da região, já que seu solo é rico e fértil.
          O povoamento da Região do Triângulo Mineiro se deu pela exploração de ouro e diamantes na região. As características arquitetônicas e religiosas da região estão presentes em Desemboque, considerado o berço do Triângulo Mineiro. (na foto acima de Luis Leite, a Igreja de Nossa Senhora do Desterro e seu cemitério) 
Poucos moradores
          Nos áureos tempos da exploração mineral no Sertão da Farinha Podre, Desemboque chegou a ser a maior povoação da região, com cerca de 2.500 moradores, com fórum, cartório, Câmara de Vereadores, pousadas, tabernas. Contava ainda com um grande fluxo de viajantes, bandeirantes e exploradores, o que tornava a vila muito movimentada. (fotografia acima e abaixo de Pedro Beraldo)
          Hoje, em Desemboque, vivem cerca de 30 pessoas apenas, restando a história e os áureas tempos da riqueza proporcionada pela mineração.
          Em dias de carreadas de bois, cavalgadas e festa junina, a charmosa vila ganha vida e alegria, com a presença de centenas  de pessoas. 
A Igreja do Desterro
          Entre essas riquezas, além do seu casario colonial, está a Igreja de Nossa Senhora do Desterro (na foto acima de Pedro Beraldo), construída entre 1743 e 1754, frequentada pelos homens brancos e a Capela de Nossa Senhora do Rosário, frequentada pelos homens pretos e pardos. Cada uma com um cemitério próprio. Ambas foram tombadas pelo IEPHA/MG, em 1984.
A Igreja do Rosário
          A Capela do Rosário, datada de 1854, segue os traços do estilo das construções do Sertão da Farinha Podre, que se caracteriza pela simplicidade em sua construção, com as paredes da nave em pedra, com vedação em tijolos de adobe, pintura em cal e telhado com telhas tipo, capa e bica, com beirais em cachorrada, com um conjunto de cachorros. Cachorro e cachorradas é um termo usado na arquitetura e nada mais é que pedras ou madeira em balanço, que dão sustentação ao beiral. (na foto acima do Luís Leite, a Capela do Rosário)
          O altar-mor e sacristia em lateral única da Capela do Rosário possui ornamentos e talhas esculpidos em madeira e pinturas interiores, bem simples e singelas. 
          Está situada num lugar privilegiado na vila, em meio a natureza plena, oferecendo paz, acolhimento e conforto aos que visitam a capela. Tanto na Igreja do Desterro, quanto na Capela do Rosário, se passaram boa parte da história do Triângulo Mineiro.

O beleza exuberante da Capela do Rosário em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) Mais conhecida como Capela do Padre Faria, fica no bairro de mesmo nome, em Ouro Preto MG e foi tombada em 8 de setembro de 1939, como Patrimônio Histórico Nacional, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). É um dos mais belos exemplares do Barroco Mineiro, não só por sua riqueza arquitetônica, mas por fazer parte da origem e história de Ouro Preto e de Minas Gerais. (fotografia acima e abaixo de Ane Souz, dos ornamentos interiores da Capela)
          Foi construída nos primeiros anos do século XVIII, pelo Padre João de Faria Fialho, nascido em 1636 na Ilha de São Sebastiao, atual Ilha Bela/SP, falecendo aos 76 anos em 1712, na Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no Vale do Paraíba, em São Paulo.
          Padre Faria era Capelão da Bandeira de Antônio Dias e também, tinha sua própria bandeira. Foi o responsável pela descoberta de ouro na região da antiga Vila Rica, hoje, Ouro Preto. O padre fundou ainda a cidade paulista de Pindamonhangaba, bem como, nesta mesma cidade, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso. É atribuída ao Padre Faria, a celebração da primeira missa em Ouro Preto, que aconteceu num dia de São João.
          
Em Ouro Preto, o padre ergueu uma pequena ermida, dedicada à Nossa Senhora do Carmo. Em 1723, a administração e posse da Capela foi assumida pela Irmandade de Nossa Senhora do Parto do Bonsucesso, formada por homens pardos e mamelucos. (foto acima de Ane Souz)
          Por volta de 1740, a Capela passa a abrigar também Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos. Nessa época, a pequena ermida erguida pelo Padre Faria, dá lugar a outra capela, um pouco maior, seguindo o estilo nacional português. Simples por fora e por dentro, uma riqueza impressionante.
 
          A pintura do forro da igreja, segue o estilo barroco mineiro e mostra a coroação de Nossa Senhora do Rosário por anjos, bem como também, pinturas de cenas do cotidiano da época. (foto acima de Ane Souz)
          A estrutura foi erguida em alvenaria seca e tijolos talhados de rocha bruta, chamado de cantaria. A fachada é bem simples, com uma porta frontal em de madeira maciça, emoldurada em pedra lavada e duas janelas com balaústres. Seu interior, conta com laterais talhadas em estilho joanino e três altares, com ornamentos dourados, muito bem talhados, em estilo rococó. (fotografia acima de Ane Souz)
          Nas imaginárias, estão as imagens de Nossa Senhora do Rosário e a de Nossa Senhora do Bom Parto. (fotografia acima de Ane Souz) O sino da Capela data de 1750 e a cruz pontifícia, de 1756. Essa cruz chama a atenção por possuir três braços. (na foto abaixo da Ane Souz)
          Acredita-se que os três braços da cruz, simbolize as três bulas pontifícias, assinadas pelo papa Pio VII (Cesena, 14 de agosto de 1742 — Vaticano, 20 de agosto de 1823). Uma bula era um tipo de alvará, assinado pelo papa, que concedia privilégios e indulgências, e tinham força de lei eclesiástica. Nesse caso, as três bulas, concedia privilégios e graças às capelas.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Pirapora: origem, economia, cultura e turismo

(Por Arnaldo Silva) Pirapora tem seu nome de origem na língua tupi, que significa “Salto do Peixe”. A formação de Pirapora, tem origem no século XVIII, com o avanço da mineração de ouro e diamantes em Minas Gerais.
          Para abastecer as cidades mineradoras, as mercadorias saiam de Juazeiro, na Bahia e chegava à Minas Gerais de barco e canoas, pelas águas do Rio São Francisco. Era um percurso longo, uma subida de 1371 km até o último ponto navegável do Rio São Francisco, após a foz do Rio das Velhas. (na foto acima de Rhomário Magalhães, o Rio São Francisco, a Ponte Marechal Hermes e ao fundo, Pirapora)
          Nesse ponto, as mercadorias eram descarregadas e seguiam em carros de bois, aos centros mineradores. Foi a partir desse ponto de baldeação, à margem direita do Rio São Francisco, que se formou um povoado, que deu origem à cidade de Pirapora. O povoado cresceu, foi elevado a distrito em 1847 e finalmente, a município em 30 de agosto de 1911, instalado em 1 de junho de 1912, data em que se comemora sua emancipação.
          Com a chegada das embarcações a vapor, a partir de 1871, o transporte de mercadorias ficou ágil, crescendo ainda mais a partir de 1902, com a chegadas de embarcações maiores, como os vapores, Saldanha Marinho, Mata Machado e o famoso Benjamim Guimarães. Essas embarcações, transportavam, além de cargas, passageiros, percorrendo todas as cidades ribeirinhas, saindo de Pirapora, até Juazeiro, na Bahia. (foto acima de Ronan Rocha/Hitch Vídeo Produtora)
          Desde sua origem, Pirapora sempre foi um dos destaques da região Norte de Minas. É uma das mais importantes cidades mineiras, tanto na cultura, no artesanato, na culinária, no turismo, quanto do desenvolvimento. Fica a 340 km de Belo Horizonte e conta atualmente com cerca de 60 mil habitantes. O município faz divisa com Várzea da Palma e Buritizeiro e está apenas 472 metros de altitude, acima do nível do mar. (foto abaixo de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          Por sua localização, servida por malha ferroviária, que liga a cidade a Tubarão, no litoral do Espirito Santo e estar às margens da BR-365 e BR-496, Pirapora atrai grandes investimentos. Indústrias de vários segmentos, de pequeno, médio e grande porte, como de alimentos, cerâmica, produtos hospitalares, calçados, metalúrgicas, dentre outros segmentos industriais e comerciais, estão instaladas na cidade, com destaque ainda para o Hospital de Olhos do Norte de Minas. Além disso, Pirapora se destaca na produção e exportação de ferro silício, silício metálico, ferro-ligas, ligas de Alumínio e tecidos.
          A ampla atividade industrial do município, faz com que Pirapora, seja atualmente, o segundo maior polo industrial do Norte de Minas.
          Outro setor econômico de grande destaque em Pirapora é a de energia solar. Na cidade está instalada um complexo solar, formado por 11 usinas, com capacidade de geração de 321 MW de energia, sendo atualmente uma das maiores usinas fotovoltaicas da América Latina. Em funcionamento desde 2017, a capacidade de geração de energia da usina, por ano, é suficiente para o consumo de cerca de 400 mil residências. (fotografia acima de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          A área da usina corresponde a cerca de 1500 campos de futebol e foi construída em uma área plana, de sol pleno. São mais de 1 milhão de painéis solares instalados, de forma inclinada, que giram acompanhando o movimento do sol. Esse tipo de usina produz energia 100% limpa e renovável, já que usinas solares não liberam CO2, na atmosfera.
          Um dos grandes geradores de empregos e renda em Pirapora é a agricultura e pecuária, em especial, a fruticultura, produzidos através de sistema de irrigação, no Perímetro de Irrigação. É o quinto maior empregador do município, gerando cerca de 1.100 empregos diretos. (fotografia acima e abaixo de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          A fruticultura em Pirapora, bem como no Norte de Minas, desenvolveu-se bastante no final da década de 1970, com a implantação do Projeto Pirapora, em 1975, pela SUVALE, tendo sido a primeira experiência no Norte de Minas. Em 1976, a projeto foi assumido pela Companhia de Desenvolvido dos Vales do São Francisco e Paranaíba (CODEVASF), utilizando as águas do Rio São Francisco na irrigação de uma área inicial de 1500 hectares, inaugurada em 24/15/1978. Está instalado a 12 km do Centro de Pirapora, na BR-365, rodovia que liga o Norte de Minas ao Triângulo Mineiro e Brasília.
          A ocupação da área irrigável foi feita através de concorrência pública, vencendo a Cooperativa Agrícola Cotia Ltda e a Empresa Frutas Tropicais S/A. Famílias de agricultores começaram a chegar, a partir de então, principalmente de agricultores de origem japonesa. (fotografia acima de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora) 
          Eram cerca de cerca de 20 famílias, de origem nipônica, que viviam do plantio de soja e café no interior de São Paulo e Paraná. Essas famílias, deixaram descendentes e à essas famílias, ao longo do crescimento do projeto, se juntaram outras, também de origem na “Terra do Sol Nascente”. Os orientais e seus descendentes são hoje, predominantes na produção de frutas, em Pirapora, num total de 23 empresários que atuam no Perímetro de Irrigação.
          A partir de 1987 o projeto passa para a gestão da Associação dos Usuários de Projeto Pirapora - AUPPI, responsabilizando pela administração, operação, manutenção e conservação da infraestrutura de uso comum. A área atual do Perímetro é de 1.685 hectares, sendo 1.236,05 hectares de área irrigável.
          Além de toda organização e apoio dos órgãos estaduais, o boa parte do sucesso do Projeto Pirapora se deve aos imigrantes japoneses. Tradicionalmente, os nipônicos tem vasto conhecimento na lida da terra e conhecimentos na irrigação, dando grande contribuição para o desenvolvimento da agricultura em Pirapora e Norte de Minas, bem como também, no Projeto Jaíba.
          A região Norte de Minas é hoje uma das maiores produtoras de frutas do país, com sua produção abastecendo o mercado das grandes cidades e regiões brasileiras como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Juazeiro, Belém, Fortaleza e outras cidades do Brasil. Em Pirapora se destaca a produção de banana, uva, sendo a espécie Niágara, a de destaque, mexerica, laranja, legumes, dentre outras culturas.
O que fazer em Pirapora?
          Pirapora se destaca por suas belezas naturais e principalmente, pelo Rio São Francisco, bem como os pratos típicos de sua culinária, com destaque para os pratos feitos com os peixes do Rio São Francisco. (fotografia acima de Rhomário Magalhães)
          Cidade de tradição e cultura, preserva as festas folclóricas e religiosas, bem como o riquíssimo artesanato local, destacando as carrancas, peças em madeiras colocadas na proa das embarcações, esculpidas em formatos um pouco assustadores. Segundo a crença dos ribeirinhos, as carrancas servem para dar proteção. (fotografia acima de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora) 
          Uma ótima dica para o turista em Pirapora é conhecer o ICAD, um espaço cultural que funciona em um antigo galpão restaurado. Conta com um pequeno auditório, lugar para exposição e vendas do artesanato local e áreas de oficinas.
          Duas feiras públicas, não podem deixar de ser visitadas. Uma delas é a Feirinha da Avenida Pio XII, no bairro Santos Dumont, realizada todos os domingos. Organizada por pequenos produtores do município, a Feirinha, conta com muita animação, comidas típicas e produtos naturais, direto da roça. A outra feira é a Feirarte, que acontece nas manhãs de sábado, no Mercado Municipal da cidade, com exposição dos trabalhos dos artistas e a artesãos piraporenses.
          Durante o ano, vários eventos são realizados na cidade, com destaque para festas religiosas, eventos sociais, gastronômicos, empresariais e agropecuários.
          Em janeiro acontece a tradicional Festa de São Sebastião, padroeiro da cidade. Pirapora se destaca por realizar um dos melhores carnavais do Norte de Minas. Realiza também, com grande destaque e presença de público, o Encontro Nacional de Motociclistas, que acontece entre maio e junho, quando acontece também as comemorações de aniversário da cidade.
          Em setembro, dois eventos de grande destaque, movimentam a cidade. O primeiro é a Expociapi, evento organizado pela associação comercial local, com desfile de modas, comidas típicas, feiras de artesanato, mostras de tecnologias e negócios. O segundo é a Feira do Agronegócio, realizada pelo Sindicado dos Produtores Rurais da cidade, no Parque de Exposições em parceria com empresários do setor e Prefeitura. Nesse evento, além de shows, barraquinhas com comidas típicas, apresenta inovações para o setor, leilão de gado e palestras para os produtores rurais.
          Pirapora conta ainda com muitos atrativos por exemplos, seus telefones públicos, que tem formas de animais de nossa fauna, como onças e peixes.
          Tem o barco a vapor Benjamim Guimarães (na foto acima do Rhomário Magalhães), que é o único barco movido a lenha em atividade no mundo, além de ser um bem tombado pelo IEPHA/MG em 1985, como patrimônio de Minas Gerais. Construído em 1913, nos Estados Unidos, navegou por muitos anos nas águas do Rio Mississipi e também em Rios da Amazônia, até chegar à Pirapora, na década de 1920. Trafegava no Rio São Francisco, de Pirapora até Juazeiro, na Bahia, transportando cargas e passageiros. Com a abertura de estradas e popularização de ônibus e caminhões, o barco passou a transportar somente passageiros. Hoje, o Benjamim Guimarães realiza apenas passeios turísticos de ida e volta. Atualmente, o barco está ancorado no porto de Pirapora, passando por reformas, com previsão para voltar a navegar no Rio São Francisco, ainda esse ano.
          Outro atrativo turístico de Pirapora é a Ponte Marechal Hermes, ponte da linha férrea com tecnologia e material importado da Bélgica. Com 692 metros de comprimento, a ponte foi inaugurada em 10 de novembro de 1922, lingado Pirapora a Buritizeiro, passando sobre o Rio São Francisco. Foi tombada pelo IEPHA/MG, em 1985, como patrimônio do Estado de Minas. (fotografia acima e abaixo de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          Próxima a Ponte Marechal Hermes, uma outra ponte, de concreto, faz a ligação da BR-365 entre Pirapora, passando sobre o Rio São Francisco, até Buritizeiro. 
          Banhada pelo Rio São Francisco, o Velho Chico proporciona belezas que atraem os moradores e turistas como a prática de esportes náuticos, pesca profissional e esportiva, espetáculos naturais como o pôr do sol e belas praias fluviais, formadas ao longo de seu percurso como a Praia do Areão em Pirapora. Nessa praia os banhistas, além de aproveitar o sol e as águas do Rio São Francisco, praticam esportes como vôlei de praia, peteca, futebol e futevôlei. (foto acima de 2019, de autoria de Rhomário Magalhães)
          Pirapora é uma cidade bem estruturada, com uma boa rede hoteleira e gastronômica, um setor de serviços amplo e de qualidade, com um comércio variado, bons bares, lanchonetes. Além disso, seu povo é hospitaleiro e acolhedor. O turista será sempre bem-vindo e se sentirá em casa.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

A Escrava Isaura e a Igreja de São José em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) Escrito num período, onde a escravidão estava sendo contestada, com manifestações pedindo a abolição da Escravidão no Brasil, o livro de Bernardo Guimarães, A Escrava Isaura, foi considerado antiescravagista, por incutir no seio da sociedade, a discussão sobre o tema.
          O sofrimento de uma mulher branca, nascida escrava e a forma incisiva e racional que o autor dá à sua trama, prendiam a atenção dos leitores. Por isso o impressionante sucesso do livro na época do lançamento e em nossa época atual.
A Escrava Isaura
          A Escrava Isaura, foi um romance escrito, em 1875, por Bernardo Guimarães. Era a história de uma escrava, branca, que vivia numa fazenda em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Se perguntar quem leu o livro, poucos vão responder, mas da novela, exibida pela Rede Globo, em 1976, a maioria vai responder que viu ou pelo menos, ficou sabendo da novela. (Nas fotos acima, a capa e contra capa do romance A Escrava Isaura e Ouro Preto, no registro da Elvira Nascimento)
          A geração atual pôde assistir à novela em sua nova versão, exibida pela à Rede Record. A primeira versão, protagonizada por Lucélia Santos e Rubens de Falco, em 1976, fez tanto sucesso que foi exportada para cerca de 150 países, assistido por de milhões de pessoas. 1 bilhão de pessoas, assistiram a novela, somente na China, além de cerca de 300 mil exemplares do livro, terem sido vendidos nesse país. 
O que o livro tem a ver com Ouro Preto?
          Agora você pergunta: o que a cidade histórica de Ouro Preto MG, na Região Central de Minas, fundada em 1711 e Patrimônio da Humanidade desde 1980, tem a ver com A Escrava Isaura? (na foto acima de Ane Souz, vista parcial de Ouro Preto MG)
          É que o autor do livro, Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, é mineiro e nasceu em Ouro Preto, em 15 de agosto de 1825. Faleceu também em Ouro Preto, em 10 de março de 1884. Era casado com Teresa Maria Gomes de Lima Guimaraes, com quem teve 8 filhos.
          Além de escritor, romancista, jornalista, crítico literário, advogado, juiz, poeta, foi também professor, lecionando francês e latim em Queluz MG e professor de retorica e poética do Liceu Mineiro, em Ouro Preto MG.
          Homem culto e viajado, Bernardo Guimarães viveu boa parte de sua vida em sua cidade natal, Ouro Preto. Foi sepultado no cemitério da Igreja de São José em sua terra natal.
A Igreja de São José           
          Capela Imperial era o nome antigo da Igreja de São José. Era chamada de Capela Imperial devido ao título concedido pelo Imperador Dom Pedro II, em 1889. Voltou ao seu nome original, após o fim do Império, permanecendo até os dias de hoje como Igreja de São José dos Homens Pardos e Bem Casados. (fotografia acima de Peterson Bruschi)
          A Igreja de São José começou a ser erguida a partir de 1753. Em 1772, Mestre Aleijadinho fez os riscos do retábulo do altar-mor. A obra foi concluída em 1811. 
          Foi construída pela Irmandade do Patriarca São José dos Homens Bem-Casados e Músicos de Santa Cecília. A irmandade era formada por músicos, artesãos, artistas e pintores da época, que queriam um espaço próprio, para a Irmandade. 
          A igreja e seu cemitério ao lado, são modestos em tamanho, mas é um dos mais belos exemplares da arte setecentistas de Minas. É única, em toda a sua singeleza externa com sua única torre, sacada e sineira, além da riqueza de suas talhas douradas, ornamentos e pinturas em seu interior.
          Irmandade do Patriarca São José dos Homens Pardos e Bem-Casados e Músicos de Santa Cecília tinha atividades e convivências, diferentes do restante das irmandades ouro-pretanas. (na foto acima de Ane Souz o altar da Igreja eabaixo, a riqueza de seus entalhes dourados)
          As esposas dos membros da irmandade, tinham participação ativa nas decisões da Irmandade. A igreja abria suas portas para diferentes camadas da sociedade, como brancos, pardos, pobres e ricos, tendo sido frequentada também por governadores da Capitania de Minas Gerais. O que era incomum naquela época.
 O túmulo de Bernardo Guimarães
                    Em 1992, foi iniciada a restauração da igreja. As obras de restauro se estenderam por longos anos, tendo sido concluída 20 anos depois, entregue, restaurada à comunidade, em 2012.
          Ao lado da Igreja de São José, tem um cemitério e é aí que entra Bernardo Guimarães na história da Igreja. É nesse cemitério que o escritor foi sepultado. O túmulo do escritor Bernardo Guimarães, é um dos mais visitados e fotografados. (na foto acima do Wellington Diniz, o túmulo do escritor no cemitério da Igreja de São José, com a Igreja de São Francisco de Paula ao fundo)  
Onde fica?      
          A Igreja de São José fica próxima a Igreja de São Francisco de Paula. Está um pouco distante do Centro Histórico, na rua Teixeira Amaral, 130. Por isso, passa despercebida, pelos turistas. Fica boa parte do tempo fechada, abrindo de terça à sexta-feira, de 9:30h às 11:30 horas. O melhor dia e horário para conhecer a igreja por dentro é nas quartas-feiras, a partir das 18h:30, quando acontece as missas.
Quem foi Bernardo Guimarães
          O grande escritor mineiro ocupou a Cadeira de nº 5 da Academia Mineira de Letras. Além de A Escrava Isaura, Bernardo Guimarães escreveu outros romances, poesias, dramas e contos de grandes sucessos. Foram dezenas de obras publicadas e não publicadas e mais de 20 livros escritos. Como são muitos livros, não vou alongar muito o texto, apenas destacar os livros de Bernardo Guimarães, que eu li, ainda estudante: O Garimpeiro (romance/1872); O Seminarista (romance/1872); O Pão de Ouro (conto/1879); Uma História de Quilombolas, A Garganta do Inferno, A Dança dos ossos; História e Tradições da Província de Minas Gerais (crônicas e novelas – 1872: A Cabeça do Tiradentes, A filha do fazendeiro, Jupira), além claro, A Escrava Isaura.

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Facebook

Postagens populares

Seguidores