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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O começo e o fim das ferrovias em Minas

(Por Arnaldo Silva) A partir de meados do século XIX e até o final do século XX, os trens de passageiros cortavam o Brasil em trilhos. Levava e trazia gente. Quando chegava, levava emoções e sonhos de quem partia, deixando saudades e lágrimas, em quem ficava. Muitos sonhos, muitas esperanças, muitas alegrias, estavam presentes nas milhares de estações espalhadas por toda Minas e pelo sertão brasileiro.
          Os sonhos embarcaram no trem que, durante décadas, ligavam estados e cidades, ligavam também emoções e saudades, de quem ia e de quem chegava. Mas um dia, o trem que levava emoções, partia com gente, que deixava corações partidos, em lágrimas, se foi também e não mais voltou. (na foto acima do Marley Mello, a velha estação Estevão Pinto, construída em 1911 em Mar de Espanha MG, Zona da Mata)
          O trem partiu para sua última viagem, deixando em seus vagões, um pouco da vida do povo brasileiro, principalmente do mineiro, porque trem é alma e identidade de Minas Gerais. O trem foi e não voltou mais. Os trilhos ficaram sem vida, as estações foram se deteriorando, esquecidas e abandonadas. (na foto acima de Luís Leite, estação Jaguara em Sacramento MG em ruínas. A ferrovia foi inaugurada em 1888 e desativada em 1976)
          O trem que outrora levada saudades, sonhos, esperanças, emoções, ficou no passado.
          
No coração do mineiro, ficou o trem, onde os trilhos são as veias. O trem para o mineiro é tudo e tudo é trem para o mineiro, de tão importante que foi para a economia, emoções, sensações, esperanças e na identidade do povo mineiro. (na foto abaixo de Marselha Rufino, a antiga estação de Itumirim MG)
O início da ferrovia no Brasil 
          O Brasil foi o terceiro país da América do Sul a construir ferrovias, depois de Peru e Chile. Em meados do século XIX, foi criada no Rio de Janeiro, a Companhia de Estrada de Ferro e Navegação Petrópolis e a E. F. Mauá, ambas da iniciativa privada. A primeira estrada de ferro construída no Brasil foi a E. F. Mauá, inaugurada em 30 de abril de 1854, que ligava o Porto de Mauá a Fragoso, ambas no Rio de Janeiro. (na foto abaixo do Fabrício Cândido, antigos vagões abandonados nos galpões da RFFSA em Santos Dumont MG)
          A ferrovia, tinha apenas 15 km, com ideia original de ligar o Rio de Janeiro ao Vale do Paraíba e por fim, a Minas Gerais, até então, o Estado mais rico do Brasil, onde o café despontava como a principal economia do país, depois do ouro.
A ferrovia em Minas Gerais
          Pouco tempo depois, com o objetivo de estender as ferrovias para todo o país, o governo Imperial criou a estatal, Estrada de Ferro Dom Pedro II (1888-1889), mudando os nomes para E.F. Central do Brasil (1889-1964), E.F. Leopoldina (1964-1975), por fim para RFFSA (1975-1996).
          A Central do Brasil iniciou suas operações, em direção a Minas Gerais, cortando nossas serras, ligando o Rio de Janeiro a importantes cidades mineiras, como Ouro Preto, Diamantina, Belo Horizonte, São João Del Rei, Juiz de Fora, Cataguases, Leopoldina, Governador Valadares, Poços de Caldas, Três Pontas, etc. (na foto acima do Duva Brunelli, a Estação de Penha Longa MG, recentemente restaurada)
          Minas já era ligada ao Rio de Janeiro pelas estradas abertas durante a exploração do ouro e havia ainda, naquele tempo, uma ligação entre Petrópolis a Juiz de Fora, por uma rodovia de terra. Agora, seriam os trilhos que passariam pelas terras mineiras. Em 1869, era inaugurada a Estação de Chiador MG, Zona da Mata, com a presença do Imperador Dom Pedro II, sendo esse ano, o marco da chegada dos trens à Minas Gerais, através da E. F. Central do Brasil. 
          
Em 1874 os trilhos da Estrada de Ferro Leopoldina, chegam à Minas Gerais, abrindo estradas de ferro na Zona da Mata, com a inauguração de estações e do ramal de Leopoldina MG. Em 1880, foi a vez da E.F. Oeste de Minas construir seus trilhos em Minas Gerais. Em 1882, era criada a E.F. Bahia e Minas, que ligava o arraial de Ponta de Areia, em Caravelas, no litoral Sul da Bahia a Araçuaí MG, no Vale do Jequitinhonha, numa extensão de 578 km. Em 1884, surgia a E. F. Minas e Rio. (na foto acima de Peterson Bruschi, a Maria Fumaça em Tiradentes, inaugurada em 1881, pelo Imperador Dom Pedro II)
          No ano de 1886, foi a vez da E. F. Morgiana, entrar no território mineiro, através de Poços de Caldas, no Sul de Minas. Em 1891, foi a vez dos trilhos da Viação Férrea Sapucaí. Em seguida, surgiram a E. F. Muzambinho, em 1892, depois a E. F. Três-pontana, em 1895. Em 1907, chegaram em Formiga MG os trilhos da E. F. Goiás, bem como, neste mesmo ano, a E.F. Vitória Minas.
          Em 1910 chega a Machadense e a E.F. São Paulo-Minas. Em 1911, a E.F. Piranga. Em 1912, a linha férrea chega a Paracatu MG, no Noroeste de Minas. O Norte de Minas passou a contar ligação por trens apenas em 1951, através da Viação Férrea Leste Brasileiro.
Ferrovia ligava cidades e trazia progresso
          
Com o objetivo de promover e gerir o desenvolvimento do setor ferroviário no Brasil, foi criado em 1957, a RFFSA, sendo dissolvida a partir de 1997, quando iniciou-se o processo de privatização das ferrovias brasileiras. 
          Essas ferrovias ligavam as regiões mineiras. Eram centenas de km de trilhos cortando Minas Gerais, ligando cidades, povoados e distritos, pelos trilhos. Levando e trazendo gente, levando e trazendo mercadorias e desenvolvendo as cidades. Não foram apenas essas as ferrovias, existiam outras pequenas ferrovias, de particulares. Muitas dessas pequenas ferrovias foram incorporadas às maiores, ao longo do crescimento da malha ferroviária. (na foto acima, do Rogério Salgado, a rotunda de Ribeirão Vermelho MG, construída em 1885, considerada a maior da América Latina. As rotundas tinham a forma circular e serviam como depósitos de locomotivas)
          Os trens transportavam cargas e também passageiros, cortando nossos sertões, adentrando túneis, passando por pontes (como na foto acima do Rhomário Magalhães, da Ponte Marechal Hermes, sobre o Rio São Francisco em Pirapora/MG), e parando em estações, ao longo de seus trechos. As linhas se expandiam muito rápido, principalmente para o transporte de passageiros. 
          Para atender o maior número possível de cidades, novas estações e paradas eram construídas, facilitando a vida das pessoas e melhorando o escoamento da produção industrial e agropecuária das cidades. Foram milhares de estações construídas. 
          Em torno dessas estações, moradias para operários eram construídas, bem como, pessoas que vinham de outras cidades e em torno das estações viviam, oferecendo comida, quitandas, doces para os viajantes que chegavam e partiam. Muitas dessas estações deram origem a distritos e até mesmo cidades, existentes hoje. (na foto acima do Aender Mendes, Estação de Garças de Minas, em Iguatama MG)
De ferrovias para rodovias
          No início do século XX, começaram a se popularizar na Europa e Estados Unidos, carros, ônibus e caminhões. Esses veículos começaram a chegar, aos poucos no Brasil. Como o trem não chega a todas as cidades, as famosas jardineiras, faziam as baldeações, entre as cidades e estações.
          
Aos poucos os carros, caminhões e ônibus começaram a tomar conta de nossas ruas e a mentalidade dos governantes começou a mudar, em relação as ferrovias. Washington Luís, Presidente da República de 1926 a 1930, tinha como lema em sua campanha a frase: “governar é abrir estradas”. E parece que os governantes assimilaram essa frase na prática, fazendo menos investimentos em ferrovias e mais em estradas, para enfim, começar o desmantelamento das ferrovias no país, principalmente de transporte de passageiros.
          A prioridade passou a ser a abertura de estradas, ligando todo o Brasil, através de rodovias. Com isso, as ferrovias começaram a ser esquecidas e aos poucos desativadas. A prioridade dada as rodovias em detrimento das ferrovias, começou a acelerar a partir da década de 1950, na era Juscelino Kubistchek, quando chegaram ao Brasil, montadoras de veículos. Até o final da década de 1990, os trens que transportavam passageiros, ligando cidades e capitais brasileiras, praticamente, já não existiam.
          O povo mineiro sentiu mais os efeitos dessa política, porque além da identidade com o trem, boa parte do nosso Estado era cortado por trilhos, com milhares de estações, construídas desde o século XIX. Ao longo da segunda metade do século XX, os trens de passageiros foram sendo desativados, um a um, restando apenas uma única linha em atividade, em Minas Gerais, a Ferrovia Vitória Minas, ativa desde 1907.
           A Ferrovia Vitória Minas, transporta passageiros, com viagens diárias, de ida e volta, saindo da Estação de Belo Horizonte, parando para pegar passageiros em 30 estações ao longo de seu itinerário de 644 km, com parada final na Estação de Cariacica, no Espírito Santo. (na foto acima Trem Vitória Minas, passando por Barão de Cocais MG/Foto: Vale/Divulgação)
          Com a preferência pelas rodovias, as ferrovias foram sendo esquecidas, abandonadas, os trens sucateados e as estações, entregues aos cuidados do tempo (como na foto acima do Fabrício Cândido, ruínas da antiga estação de Senhora dos Remédios MG).
          Algumas cidades valorizam o patrimônio ferroviário, restaurando suas antigas estações, recuperando os trens, transformando-os em museus e espaços culturais, com algumas estações se transformando em cartões postais, como esta acima, de Moeda MG (como na foto acima do Thelmo Lins). Mas em sua maioria, as antigas estações do século XIX e XX, estão completamente esquecidas e abandonadas e os trens que outrora transportaram gente e alguns até luxuosos, como o Trem de Prata, que ligava BH ao Rio de Janeiro, estão se deteriorando nos pátios da RFFSA.
Trens para turismo
          Alguns trechos de nossas ferrovias foram reativados para fins de passeios turísticos em fins de semana, como o Trem das Águas, que liga São Lourenço a Soledade no Sul de Minas. O trem da Mantiqueira, que liga Passa Quatro a Estação Coronel Fulgêncio, no sul de Minas. O trem que liga Ouro Preto a Mariana e a Maria Fumaça que liga São João Del Rei a Tiradentes, no Campo das Vertentes (na foto acima do César Reis).
          Existem ainda projetos de reativação de trechos da Ferrovia Rio e Minas, ligando Cataguases MG a Três Rios, outro que pretende ligar Belo Horizonte à Serra da Piedade. Outro projeto que está na expectativa de sair do papel é o que ligará Belo Horizonte ao Museu do Inhotim, em Brumadinho, além de mais um, que pretende ligar Divinópolis, passando pela cidade histórica de Itapecerica e com estação final em Bom Sucesso, no Oeste de Minas. (na foto acima do Jad Vilela, trem de carga em Divinópolis MG)
A importância do trem de passageiros
          Hoje vemos a necessidade e importância dos trens de passageiros, devido ao grande crescimento populacional, evidenciando o erro dos governantes do passado, em ignorar a importância dos trens de passageiros, como transporte de massa. Vem crescendo a cada dia, no seio do povo brasileiro, a necessidade de investimentos em ferrovias, ligando, principalmente nas grandes cidades, através do trem de passageiros. Isso aliviaria o sistema viário das cidades, reduziria os custos com manutenção das vias e congestionados, bem como facilitaria a locomoção da população.
          A volta dos trens de passageiros nos trilhos, não é por mero saudosismo, mas por necessidade. Voltem com os trens de passageiros nos trilhos, que o povo usará. Um país desenvolvido, tem que ter ligações por ferrovias, não só para transportar cargas, mas também, passageiros. (foto acima de Marselha Rufino em Itumirim MG)
          Trem é um transporte eficiente, seguro, necessário e menos poluente que os veículos. No século XX, os governantes tinham a visão que ferrovia era atraso, rodovia, desenvolvimento. Com isso optaram pelas rodovias. Isso aqui no Brasil, no restante do mundo, principalmente na Europa, os trens, tanto de carga, quanto de passageiros, são primordiais e continuam nos trilhos, transportando gente, ligando cidades e inclusive, países. Que assim seja no Brasil, que assim seja em Minas Gerais.
          Que os trens saiam das veias do mineiro e voltem a circular nos trilhos, bem como o nosso coração, apitar, quando o trem chegar na Estação.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Vida e obra da escritora Carolina de Jesus

(Por Arnaldo Silva) Nascida em 14 de março de 1914, em Sacramento MG, no Triângulo Mineiro, Carolina Maria de Jesus, faleceu em São Paulo, em 13 de fevereiro de 1977. Em Sacramento, Carolina estudou até a segunda série do Ensino Primário.
          O pouco tempo de estudo foi o suficiente para que se encantasse pela escrita e leitura. Sua família era bem humilde e não tinham condições de comprar livros para que pudesse ler. Para poder ler, pedia emprestado livros aos vizinhos. Um dos livros que conseguiu ler em sua infância, foi Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães.
          A vida difícil no interior, e o falecimento de sua mãe, fez com que Carolina de Jesus, optasse em se mudar para São Paulo, em 1937. (na fotografia acima, Carolina de Jesus, autografando seu livro, Quarto de Despejo, em 1960. Foto: Arquivo Nacional - Correio da Manhã/Dominio Público)
A vida em São Paulo
          Na capital paulista, foi morar num pequeno barraco, na Comunidade do Canindé, na Zona Norte. Ela mesma construiu sua moradia, usando madeira, lata, papelão e tudo que encontrava, que pudesse ser útil na construção de sua casa. 
          Na capital, trabalhou como doméstica na casa do cardiologista e cirurgião, Dr. Euryclides de Jesus Zerbini, um dos mais conceituados e respeitados médicos brasileiros. Na casa do Dr. Zerbini, tinha uma enorme biblioteca e deu permissão para que Carolina de Jesus, lesse os livros que se interessasse, em suas horas de folga. Em 1947, aos 33 anos, engravidou de seu primeiro filho, João José, que nasceu em 1948. Grávida, teve que deixar o trabalho. Teve ainda mais dois filhos, José Carlos, nascido em 1949 e Vera Eunice, nascida em 1953.
          Nunca se casou e cuidava dos três filhos sozinha, fazendo faxinas, lavando roupas para fora e catando papéis pelas ruas de São Paulo. Seus filhos pegaram o gosto pela leitura, incentivados pela mãe e estudaram em escolas públicas. Carolina, dava ainda aulas de alfabetização para os membros de sua comunidade, que queriam aprender a ler e escrever.
          Catando papéis pelas ruas de São Paulo, tinha o cuidado de separar as folhas que estivem em melhores condições para escrever seus diários, sobre o cotidiano da vida nas comunidades pobres de São Paulo. Se encontrasse algum livro no lixo, lia e guardava em casa, em um pequeno armário que tinha em sua casa.
          A falta de escolaridade, a discriminação, fome e a pobreza, não foram obstáculos para impedir que fizesse o que mais gostava, escrever. Carolina de Jesus era escritora auto ditada. Mulher de personalidade forte, coração sensível, mãe dedicada, lutadora, não se entregava às dificuldades que a vida lhe impunha e nem guardava respostas para depois.
A descoberta de seu talento
          Em 1958, o jornalista Audálio Dantas, do Jornal Folha de São Paulo e Revista O Cruzeiro, esteve na Comunidade para fazer uma reportagem e ficou sabendo, pelos moradores, que no lugar, tinha uma mulher que escrevia, em folhas de papel que catava nas ruas de São Paulo. Audálio se interessou em conhecer os escritos da moradora.
          Apresentado à Carolina de Jesus, leu e se impressionou com a qualidade literária de seus textos. Selecionou alguns e os publicou em uma das edições do Jornal Folha de São Paulo e na Revista O Cruzeiro. Publicou na íntegra alguns escritos, mesmo com os erros gramaticais. A publicação foi um sucesso e chamou a atenção dos leitores do jornal e revista para uma realidade que poucos conheciam e não eram muitos divulgados pela mídia, na época.
Quarto de Despejo - Diário de uma favelada
          Dois anos depois, em 1960, os diários escritos por Carolina de Jesus, são transformados em livro. Quarto de Despejo - Diário de uma favelada. Foram mais de 10 mil livros vendidos em apenas uma semana, tendo sido traduzido para 14 idiomas e vendido para mais de 40 países, totalizando mais de 1 milhão de exemplares vendidos, desde sua publicação. Quarto de Despejo foi um dos livros brasileiros mais conhecido no exterior.
          Numa parte do livro, Quarto de Despejo, percebe-se a visão da escritora sobre os contrastes e realidade social das grandes cidades brasileiras. "Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trechos”. Para Carolina de Jesus, o Centro das cidades eram as “salas de visitas”.
          Nas primeiras décadas do século XX, os governantes retiravam as pessoas que viviam nas ruas e os levavam para lugares mais distantes, da parte urbana, impulsionando assim ampliação e criação de favelas. Por isso que Carolina considerava as favelas, o quarto de despejo das cidades, e a parte central, a sala de visitas.
          Com o sucesso da venda de seu livro, Carolina mudou-se da comunidade para o bairro de Santana, também na Zona Norte e por fim, para Parelheiros, na Zona Sul. A região que ela escolheu viver, embora na Zona Sul paulistana, era mais afastada e um local mais simples, que lembrava um pouco as pequenas cidades do interior, com casas simples e gente humilde, formada por pessoas que deixaram suas terras de origem, passando a viver na cidade grande, em busca de vida melhor. 
          A vantagem que Carolina de Jesus via em sua nova região era que tinha ônibus e escolas públicas por perto, o que facilitava o acesso da comunidade ao estudo e locomoção para o trabalho.
Reconhecimento e homenagens
          Considerada uma das maiores escritoras do século XX, em seus inúmeros diários, Carolina de Jesus deixou um legado para gerações de todo o mundo, descrevendo numa linguagem simples, direta, clara, mas ao mesmo temo, poética e humana, como é sobreviver e lutar contra a fome e pobreza extrema.
          Em sua cidade natal, Sacramento, a escritora teve o merecido reconhecimento, dando nome a uma escola estadual, bem como 37 escritos de Carolina de Jesus, fazem parte do acervo do Arquivo Público de Sacramento MG.
          Recentemente, em 25 de fevereiro de 2021, Carolina Maria de Jesus, recebeu o título póstumo de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aprovado pelo Conselho Universitário (Consuni/UFRJ). Trata-se de uma honraria concedida a pessoas de destaque por suas virtudes, atitudes e méritos, independente de seu grau de instrução. 
          Sua principal obra, Quarto de despejo: Diário de uma favelada, é leitura obrigatória para quem quer conhecer a realidade das comunidades pobres das grandes cidades e também está presente em vestibulares de grandes universidades do Brasil.
          Contemporânea da época, onde se destacavam grandes nomes femininos da literatura brasileira, como Raquel de Queiroz, Clarice Lispector, Cora Coralina, Cecília Meireles, dentre outras, Carolina de Jesus está inserida entre os maiores nomes da literatura brasileira.
          Sua vida e obra merecem ser conhecidas pelo povo brasileiro, pelo exemplo que foi como mulher, pela atualidade de seus escritos e qualidade de suas obras. Os livros da escritora mineira formam um dos mais importantes clássicos da nossa literatura moderna, tanto que recebeu elogios de Clarice Lispector, tida por Carolina de Jesus como "uma escritora de verdade", sendo respondida por Clarice Lispector: "Escritora de verdade é Carolina, que conta a realidade”.
          Carolina de Jesus sofria de asma desde o nascimento e morreu aos 62 anos, em 13 de fevereiro de 1977, em consequência do agravamento desta doença, que lhe causou insuficiência respiratória. Após sua morte, em 1977, foram publicados novos livros, escritos e contos inéditos da escritora como: Diário de Bitita (1977), Um Brasil para Brasileiros (1982), Meu Estranho Diário (1996), Antologia Pessoal (1996), Onde Estaes Felicidade (2014) e Meu Sonho é Escrever, além de escritos e contos (2018).

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Sete Orelhas: a saga do vingador mineiro

(Por Arnaldo Silva) São Bento Abade é uma cidade com 4.713 habitantes, segundo Censo do IBGE, em 2022. A cidade faz divisa com São Tomé das Letras, Três Corações, Carmo da Cachoeira e Luminárias e está a 288 km da capital, com acesso pela BR-381.
          Logo na entrada da cidade, São Bento dá as “boas vindas” aos visitantes, em frente ao portal de entrada. A Avenida Miguel Nasser, é a principal via da cidade. Atravessa a pequena cidade de ponta a ponta, com ruas paralelas ao longo de seu percurso. (na imagem acima feita pelo Felipe de Oliveira Couto, como era Januário Garcia Leal, segundo usando a técnica da Inteligência Artificial da Disney-Pixar)
          A cidade conta com uma forte atividade rural, com destaque para a agropecuária e plantações de lavandas. É em São Bento Abade que se encontra plantações de lavandas. Fica na Fazenda Santa Vitória. A fazenda é um dos atrativos para quem vem à região, já que é aberta à visitação.
          Conhecer a beleza impressionante das lavandas, É um passeio incrível. Estar em meio à essa beleza sem igual da natureza, emociona. (na foto abaixo do @estudioquinas de Varginha MG, a Fazenda Lavandas da Serra em São Bento Abade MG)
Origem da cidade
         A história da pequena cidade começa a partir de 1752, no século XVIII, com a chegada do Padre José Bento Ferreira de Toledo. Foi o fundador do povoado, que deu origem à cidade hoje. Padre Bento, era devoto de São Bento e construiu uma pequena ermida, dedicada ao seu santo de devoção. Em torno da pequena ermida, um pequeno povoado se formou, passando a se chamar, povoado de São Bento. (na foto acima de Duva Brunelli, vista parcial da cidade)
          Desse povoado, surgiu a cidade de São Bento e não mudou de nome ao longo de existência. São Bento Abade é uma das poucas cidades brasileiras que não alteraram o nome durante sua história. Quando de sua emancipação, em 30 de dezembro de 1962, decidiram preservar o nome, acrescentado a palavra “Abade”, por existir outras cidades com o nome de São Bento, pelo país. O Abade era apenas para diferenciar.
          São Bento Abade é hoje uma cidade bem pacata, organizada e tranquila . Seu casario é simples e a cidade bem acolhedora e seu povo, hospitaleiro. (fotografia acima de Duva Brunelli)
          O município tem uma forte vocação cultural, preservando tradições como a Folia de Reis, a dança de Catira, o Reinado, as festas juninas, as modas de viola, a Festa do Peão de Boiadeiro, bem como as tradições religiosas católicas como a Semana Santa, Corpus Christi, a Festa do Padroeiro São Bento, em julho, dentro outros eventos.
A história de Januário Garcia leal
          Andando pelas ruas de São Bento do Abade, o visitante, já estranha algumas placas indicativas em forma de orelha. Percebe um nome meio estranho logo na entrada da cidade, em praças e monumentos retratando um homem com aparência destemida, montado num cavalo, usando um colar com 7 orelhas penduradas e até na Casa da Cultura da cidade. 
          Esse nome estranho é Sete Orelhas, apelido dado a Januário Garcia Leal, homem branco, rico, influente e Capitão de Ordenanças, que viveu na cidade no século XVIII e início do século XIX. Entrou para a história como o Sete Orelhas, um personagem mineiro que teve sua trajetória de vida, mudada a partir de 1802. (na imagem acima do Duva Brunelli, monumentos em praça pública do Capitão Mateus Garcia e Januário Garcial Leal)
De pacato cidadão para um dos mais temidos de Minas 
          Saiu de uma vida pacata para entrar para a história como um dos homens mais populares e ao mesmo tempo, um dos mais temidos de Minas Gerais, principalmente pelos governantes. Sua saga começa a partir de 1802. Durante esses mais de dois séculos, já foi temas de livros, estudos, teses e documentários.
          Nasceu na cidade de Jacuí, no Sul de Minas, em 1761 e faleceu em 16 de maio de 1808, em Lages, Santa Catarina. Era filho de Pedro Garcia Leal, natural dos Açores, região de Portugal e Josefa Cordeira Borba, natural de Cotia/SP.
          O casal formou uma família bem grande. Além de Januário, eram mais 7 filhos: José Garcia Leal, Joaquim Garcia Leal, João Garcia Leal, Manuel Garcia Leal; Antônio Garcia Leal, Ana Garcia Leal, Maria Garcia Leal, e Salvador Garcia Leal. Januário era casado com Mariana Lourença de Oliveira e com ela teve um filho, Higino Garcia Leal.
          Era uma pessoa tranquila, trabalhadora e vivia uma vida bastante pacata na fazenda Ventania, hoje o município de Alpinópolis, no Sul de Minas, com sua esposa e filho, além de escravos. 
Defensor da ordem pública
         Exercia a função de Capitão de Ordenanças do distrito de São José e Nossa Senhora das Dores, hoje, cidade de Alfenas, no Sul de Minas. Recebeu essa patente em 21 de janeiro de 1802, assinada pelo Capitão General da Capitania de Minas Gerais, Bernardo José de Lorena. 
          Essa patente, era concedida pelo Estado a membros da sociedade civil, para atuar como força militar, quando não havia a presença de uma organização militar constituída, na localidade. Tinha função de auxiliar as forças de seguranças da época em ataques de inimigos e proteção dos interesses da Corte Portuguesa na localidade.
Disputa por terras e morte do irmão
          
A vida tranquila e pacata de Januário mudou, quando seu irmão, João Garcia Leal, então com 43 anos, se envolveu em uma briga por disputa de terras com seu vizinho, Francisco Silva, pai de 7 filhos homens.
          Ao saberem da briga do pai com João Garcia Leal, tramaram eliminar o vizinho. Numa fazenda em São Bento Abade, João Garcia Leal, foi cercado pelos sete irmãos. Foi facilmente dominado, imobilizado e despido. Em seguida, amarrado a uma figueira, onde, sem a menor chance de defesa, foi esfolado vivo. Januário assistiu toda a cena do alto de um morro, sem nada poder fazer.
          Revoltado, decidiu procurar a Justiça. Numa época de constantes conflitos por disputa de terras e minas de ouro em Minas Gerais, fatos como esses eram comuns e a Justiça pouco agia nesses casos, até porque, a ação das comarcas era de dimensões regionais, sendo pouquíssimas existentes. (na imagem acima, fotografado por Duva Brunelli, monumento em praça pública, retrata do martírio de João Garcia Leal)
          A comarca mais próxima de São Bento Abade, naquela época, ficava em São João Del Rei, distante hoje 145 km. Numa época em que o único meio de transporte era cortando o sertão a cavalo ou em carros de bois.
          Era uma viagem longa, que levava dias. Mas Januário buscou a Justiça. Esta se demonstrou indiferente ao episódio. Procurou as autoridades da Coroa Portuguesa, que o orientou a resolver a questão por si mesmo, da forma que julgasse justo.
Olho por olho, dente por dente. A revolta dos capitães
          A justiça e as autoridades do Brasil Colônia, se mostraram completamente indiferentes e, insensíveis, em relação à demanda de Januário Garcia Leal. Simplesmente, lavaram as mãos. 
          Inconformado ao ver os algozes de seu irmão impunes, Januário voltou para São Bento Abade e a única forma que julgou ser justa para punir os culpados pela morte do irmão foi usar a lei mais comum naqueles tempos, a Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”. 
          Com o apoio de seu irmão caçula, o Alferes Salvador Garcia Leal e seu primo, Capitão Mateus Luís Garcia, dentre outros, Januário Garcia Leal buscou fazer sua própria justiça. A revolta passou a ser chamada de "A revolta dos Capitães". (na foto acima e abaixo do Duva Brunelli, monumentos em praça pública, de Salvador Garcia Leal e Mateus Luís Garcia)
Começa a saga do Vingador Mineiro
          Januário abandonou sua mulher, seu filho, sua propriedade, o status de sua patente e decidiu ir atrás dos sete irmãos, para vingar a morte de João Garcia Leal. Começa então uma das mais terríveis caçadas da história de Minas Gerais. Perseguidos, humilhados, espancados e mortos, foi o fim dos sete irmãos. 
          Para chegar ao sucesso de sua vingança, Januário e seu grupo, foram implacáveis e impiedosos. Desbravaram durante seis anos o sertão mineiro, em busca dos homens responsáveis pela barbárie contra João Garcia Leal.
          Os sete irmãos, temendo a vingança de Januário, começavam a fugir, sendo 3 deles, pegos durante a tentativa de fuga. 
          Por esse ato, Januário Garcia Leal foi denunciado em 1803, por uma moradora de Campo Belo, à Justiça da Vila de São Bento do Tamanduá, hoje, cidade de Itapecerica, na Região Oeste de Minas. 
          A Justiça da época, acatou a denúncia e determinou a prisão de Januário, o que não o intimidou. Continuou com seu objetivo.
Dos quatro que conseguiram fugir, foram capturados ao longo dos anos de sua caçada. O último dos sete irmãos, ficou tão apavorado com a ação de Januário, que fugiu para o mais longes possível. Foi parar perto de Diamantina, a 550 km de distância de São Bento Abade. Mas não teve jeito, foi encontrado.
          Januário mandou o homem andar 100 passos e avisou que no centésimo, atiraria. Se errasse, podia seguir. Mas Januário era bom de mira, acertou em cheio. Finalmente, depois de quase 6 anos de caçada, Januário Garcia Leal cumpriu seu prometido, vingando a morte do irmão.
          Januário fazia questão de cortar a orelha direita de suas vítimas, salgava e as colocava num cordão, formando um “colar”. Somente após a última orelha, no “colar”, Januário se deu por satisfeito.
          Dos que mataram seu irmão, não sobrou um para contar história. O que ficou foram os monumentos, em praça pública, retratando cada um dos sete homens perseguidos por Januária Garcia Leal. (como podem ver na fotografia de Duva Brunelli)
A inspiração de Januário
          Januário tinha parentesco com um dos mais assustadores homens do século XVIII, Bartolomeu Bueno do Prado, Capitão-Mor e Capitão do Mato. Com certeza, sabia da fama deste homem, que corria solta na tradição popular. 
          Era um dos homens mais temidos da sua época, por suas ações e barbáries cometidas em seus atos. Sua especialidade era desmantelar grupos de quilombos, por isso era um dos capitães do mato mais requisitados por fazendeiros e governos. 
          Para comprovar que suas ações tiveram êxito, tinha o hábito de cortar as orelhas de suas vítimas. Foi assim que fez em 12 de maio de 1757, quando contratado pelo Governador da Capitania de Minas Gerais, José Antônio Freire de Andrade, entregou três mil e novecentos pares de orelhas. 
          Resultado da ação por 3 anos em território mineiro, em combate a movimentos quilombolas. Acredita-se que Januário tenha se inspirado no comportamento de Bartolomeu Bueno do Prato.
O colar e o apelido de Sete Orelhas
          
Com esse ato de cortar e amarrar num cordão as orelhas de suas vítimas, raramente era chamada de Januário Garcia Leal e sim de Sete Orelhas. Um apelido que fazia qualquer valentão a tremer de medo. (na imagem acima do Duva Brunelli, monumento público de Januário Garcia Leal, em destaque o colar com sete orelhas)
          Ganhou fama e respeito, conseguindo a simpatia e adesão de muitos ao seu grupo, graças a sua fama. Mas também provocava medo nos poderosos, que temiam a justiça dos Garcias. Isso porque tinham fama de implacáveis, rápidos em seus julgamentos e em execuções de suas decisões. 
          Por esse motivo, tinham a simpatia do povo, que consideravam a justiça lenta, burocrática, ausente e inacessível para boa parte da população naquela época. Ninguém se atrevia a enfrentar o Sete Orelhas.
De caçador a caçado
          Em 1808, a fama dos Garcias e seu grupo, chegou à Corte, dada tamanha ousadia e popularidade do grupo, liderado por Januário Garcia Leal. Conquistaram respeito popular na Capitania de Minas Gerais, exercendo autoridade que sobrepunham inclusive, à autoridade da polícia e do judiciário, à época. (na imagem acima do Elpídio Justino de Andrade, monumento ao Sete Orelhas na entrada de São Bento Abade)
          Isso passou a incomodar a Corte Portuguesa, provocando uma forte reação do Príncipe Regente de Portugal, Dom João VI. 
          A Corte julgava que Januário e seu grupo, poderiam colocar em risco a soberania do domínio português, na Capitania de Minas Gerais. 
          A preocupação da Corte com o grupo de Januário Garcia Leal era tão grande que a Monarquia mandou, nada mais, nada menos que o temido Fernando Vasconcelos Parada e Souza. Foi esse o homem que perseguiu e prendeu os Inconfidentes.
          Tinha a clara missão de colocar fim a revolta dos capitães, em 1808. O Príncipe Regente, determinou que, as forças públicas agissem de forma a desmobilizar e desmantelar totalmente o grupo. Januário, que empreendeu uma forte caçada pelo sertão mineiro, passou a ser duramente caçado e perseguido, sem tréguas, pelas tropas de Fernando Vasconcelos. 
A fuga e morte de Sete Orelhas em Santa Catarina
          Salvador Garcia Leal, irmão de Januário e integrante do grupo foi preso. Seu primo, Mateus Luís Garcia, conseguiu fugir, bem como Januário, que fugiu para bem longe de Minas Gerais
          Foi para Lages, em Santa Catarina, onde vivia alguns de seus parentes, de origem açoriana. 
          Em Lages, exercia a função de mercador, mas morreu pouco tempo depois, que chegou, aos 47 anos, em 16 de maio de 1808. Mas não morreu devido a perseguição das tropas de Fernando Vasconcelos. Foi vítima de um acidente, quando tentava impedir um cavalo de pular uma porteira. 
          No salto, as patas do cavalo atingiram uma das tábuas, que se desprendeu e acertou com muita força, sua cabeça, próximo a sua orelha direita, causando-lhe traumatismo craniano e fratura do queixo, levando-o à morte.
          Esta é a história de Januário Garcia Leal. É fato histórico e comprovado. Um personagem real de nossa história, bem longe de ser uma lenda. É a história viva de São Bento Abade MG. 
A saga de Januário Garcia Leal em monumentos 
          Na cidade, podem ser vistos, monumentos dedicados ao Vingador de Minas Gerais, montado em seu cavalo, com o colar de orelhas em seu pescoço. Bem como ainda, a figueira, onde aconteceu o suplício de João Garcia Leal, conhecida hoje como “Figueira do Tira-Couro" e outros personagens da saga de Sete Orelhas. (na foto abaixo de Duva Brunelli, Januário Garcia Leal e Salvador Garcia Leal)
          A figueira foi tombada em 12 de abril de 2004, pelo Conselho do Patrimônio Cultural de São Bento do Abade, sendo protegida desde então como patrimônio. O lugar é cercado, sinalizado e bem cuidado. 
          Em 2014, a Saga de Sete Orelhas, com base em estudos e pesquisas, em documentos e inventário de Januário Garcia Leal, sobre a vida de Januário Garcia Leal, foi registrada como patrimônio da cidade, resgatando a história de um dos mais intrigantes personagens mineiros. Sua saga é hoje um dos atrativos do Sul de Minas.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

A história da Igreja inacabada de Sabará

(Por Arnaldo Silva) Sabará é uma das mais importantes cidades históricas de Minas, fundada em 1775, no final do século XVIII. A cidade guarda relíquias da nossa história, presentes em sua em seus casarões coloniais, na Casa da ópera, em seus museus e em suas igrejas imponentes, erguidas durante o Ciclo do Ouro.
          Muitas dessas igrejas abrigam obras do Mestre Aleijadinho, que já morou na cidade e do Mestre Ataíde, o mestre da pintura. A cidade fica apenas 20 km distante de Belo Horizonte. (foto acima de Leandro Leal)
          No Centro Histórico da Terceira Vila do Ouro de Minas Gerais, uma construção em pedras e inacabada, chama a atenção, pela imponência e pelas histórias ocorridas ao longo de seus mais de três séculos de existência, que impossibilitaram sua conclusão.
É a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da Barra do Sabará. A irmandade dos Irmãos do Rosário foi fundada em 1713 e foi muito atuante em Sabará, durante o período do Ciclo do Ouro.
A história Igreja do Rosário
          É uma obra, que mesmo inacabada, impressiona, pelas sombrias paredes, em pedra sobre pedra e detalhes imagináveis, de uma Igreja que seria uma das mais belas e imponentes de Minas.
          Estar no interior da construção, emociona e intriga, pelos mais de 300 anos de existência. O que guardam essas paredes? Quais as histórias vividas e contadas neste lugar? (fotografia acima de Andréia Gomes/@andreiagomesfoto)
          Quantas dores e lágrimas foram derramadas em sua construção? 
          
No lugar onde foi projetada a igreja do Rosário em Sabará, existia uma pequena ermida, feita de madeira, dedicada à Nossa Senhora do Rosário. Foi demolida e no lugar, construída uma capela em melhores condições para os membros da irmandade exercerem sua fé, enquanto se construía o novo templo.
 
          Era bem simples e rústica em seu interior, com piso e detalhes em madeira, ornamentação e talhas dos altares bem singelos. As pinturas no forro da capela diferem da simplicidade do altar capela. São pinturas mais bem trabalhadas, simbolizando a Ladainha de Nossa Senhora. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          A Irmandade, conseguiu com muito esforço, em 1757, a doação, por carta régia, de seu tão sonhado terreno, onde finalmente, conseguiram dar início a construção de sua igreja. Buscaram recursos, juntaram dinheiro e ampliaram a área doada, com a compra de dois terremos próximos, em 1766.
          No ano seguinte, começa a preparação do terreno, com a construção da igreja, iniciada em 1768. A parte de execução da alvenaria e cantaria, foi executada pelo mestre de obras, Antônio Moreira Gomes, contratado pela irmandade.
Projeto grandioso para a época
          Era um projeto grandioso e ambicioso para a época. Mesmo durante a riqueza do Ciclo do Ouro, era um projeto bem caro, já que os membros da Irmandade, não tinham tanto dinheiro assim. Esse foi um dos fatores para a lentidão das obras de alvenaria e cantaria, que só foram concluídas, 12 anos depois, em 1780, com a conclusão das obras da capela-mor e da sacristia, na alvenaria, sem o reboco e ornamentações. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          A partir desse ano, com a falta de recursos, as obras continuaram bem lentas, passando pelas mãos de diversos outros mestres de obras, durante décadas, até o ano de 1878, quando os Irmãos do Rosário, decidiram concluir de vez as obras da Igreja.
          Nessa época, o Brasil vivia um período conturbado em sua história, com pressão sobre a Monarquia e pelo fim da Escravidão. Isso fez com que vários os negros, se dispersassem ou mesmo, fugissem para quilombos, cada vez mais comuns naquele tempo.
          Nas grandes cidades brasileiras, principalmente no Rio de Janeiro, a sede da Monarquia Imperial, a pressão pelo fim do Império e instalação da República e abolição da Escravidão eram cada vez mais frequentes, o que de fato ocorreu, anos depois. Em 13 de maio de 1888, foi abolida a escravidão no Brasil. No ano seguinte, em 15 de novembro, cai a monarquia e é instalada a República no Brasil.
Desistência para conclusão da obra
          Nessa situação, a Irmandade do Rosário, se viu esvaziada, sem dinheiro e sem a mão de obra, bem como a própria Igreja Católica, que não tinha também recursos para finalizar a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Sabará. Encerraram-se então os esforços para a conclusão das obras. Do jeito que deixaram, está até os dias de hoje.
          Se tivesse sido concluída, seria um dos mais imponentes e belos templos do período barroco e rococó, em Minas Gerais. Seria uma igreja singular, rica em detalhes em sua fachada e nos ornamentos internos, com seus altares ornados em ouro, pinturas e talhas finíssimas e bem trabalhadas. A igreja chama a atenção para o projeto de seu adro, que lembra a escadaria do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas MG. (na foto acima de Arnaldo Silva)
Patrimônio de Minas e do Brasil
          Por sua história, ao longo de três séculos, e importância, no dia 13 de junho de 1938, todo o acervo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Sabará, foi tombado pelo (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Com o tombamento, garante-se a preservação integral de toda a obra. Como é um bem tombado, não pode sofrer modificações ou alterações, apenas restaurações e reformas estruturais e necessárias, que possam garantir a integridade e preservação da obra, em sua originalidade, como foi feito entre 1944 a 1945.
          O visitante pode conhecer a Igreja, por dentro e por fora, além de conhecer o Museu de Arte Sacra, que funciona em uma das sacristias da Igreja. Neste museu, estão mobiliários e peças religiosas dos séculos XVIII e XIX. 
          A curiosa obra inacabada (na foto acima da Andréia Gomes), desperta curiosidades e instiga a imaginação dos visitantes. É um dos lugares mais visitados de Sabará, além de ser um dos lugares mais enigmáticos de Minas Gerais. As paredes erguidas em pedra bruta, assentadas, pedra, sobre pedra, pelos escravos, tem muitas histórias para contar. São mais de três séculos, com histórias reais e outras nem tanto, contada em forma de lendas, muitas delas, fantasmagóricas, criadas pelo imaginário popular. 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

As águas quentes e medicinais de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Minas Gerais é conhecida no mundo inteiro pela arte barroca e suas cidades históricas, mas também é considerada a caixa d´água do Brasil, por seus rios, milhares de cachoeiras e nascentes e por suas águas medicinais, que brotam naturalmente de suas terras.
          Em Minas não tem mar, mas nas profundezas do seu nosso subsolo, brota um mar de águas que curam e rejuvenescem. O subsolo mineiro sempre foi rico em minerais. Das terras mineiras, brotavam em abundância ouro, prata, diamantes, esmeraldas e outras pedras preciosas, que ainda continuam saindo de nossas terras, hoje em maior escala, o minério de ferro, o nióbio e outros minerais. (na foto acima de Gislene Ras, o Parque das Águas da Estância Hidromineral de São Lourenço, no Sul de Minas)
          Hoje, a grande riqueza que brota do nosso subsolo são as fontes de águas medicinais. São as águas gasosas, sulfurosas, alcalinas, carbonatadas, ferruginosas, radioativas, magnesianas, minerais e outras mais, além de lama vulcânica, com variadas composições químicas, que brotam diretamente da terra. Águas mineiras atraem turistas do mundo inteiro, em busca das propriedades curativas de nossas águas.
          As fontes de águas minerais começaram a ser descobertas em Minas Gerais, a partir do no início do século XIX, numa época de bem pouco conhecimento sobre os poderes curativos das águas. Não sabiam porque elas curavam, apenas sabiam que curavam. Antes mesmo da chegada dos portugueses, os índios já conheciam os benefícios de beber e se banhar nas fontes naturais. Era prática comum entre os indígenas. Naquela época, por desconhecimento científico, as pessoas atribuíam os poderes de cura das águas, a presença de divindades no local e milagres inexplicáveis. Hoje, com o avanço da ciência, os benefícios e propriedades curativas das águas termais e lama vulcânica, foram confirmados pelos cientistas, com estudos realizados ao longo do século passado.
          Águas termais são águas puras, ricas em substâncias naturais e livres de impurezas e bactérias, dispensando assim, tratamento. As águas absorvem os minerais, oligoelementos e nutrientes do solo e das rochas. Essas substâncias são benéficas à saúde humana, renovam as células, são ricas em cálcio, manganês, ferro, zinco e selênio, além de conter até 2.000 mg de sais minerais naturais. Brotam da terra em temperaturas que variam de 37°C a 50°C, dependendo da variação do calor nas profundezas da terra.
          Beber ou banhar-se nas águas e lamas medicinais, comprovadamente, ajudam no complemento de tratamentos contra problemas de pele, porque repõe os sais minerais e antioxidantes perdidos pela pele, hidratam a pele ressecada, além de diminuir sua oleosidade. Equilibram o PH da pele, combatem o estresse, auxiliam em tratamentos estético, alergias, distúrbios do intestino e estômago, dores musculares, hipertensão arterial, arteriosclerose, dentre outras doenças. Além disso, as águas e lama promovem bem estar, descanso para o corpo e mente, além de relaxamento. Isso porque, onde estão as fontes, são lugares rodados por vasta natureza, com espaços aprazíveis, bem cuidados, propícios para quem quer fugir da correria do dia a dia. (foto abaixo de Arnaldo Silva)
          Onde estão as principais fontes de águas termais em Minas Gerais? No Vale do Jequitinhonha, Norte de Minas e principalmente no Sul de Minas. Você vai conhecer algumas dessas cidades mineiras, onde brotam águas medicinais, que curam e rejuvenescem.
Felício dos Santos MG          
          Vamos começar nosso roteiro por Felício dos Santos, no Vale do Jequitinhonha, a 370 km distante da Capital, com acesso pela BR-259. Faz divisa com os municípios de Senador Modestino Gonçalves, Itamarandiba, Rio Vermelho, Couto de Magalhães de Minas e São Gonçalo do Rio Preto. (na foto abaixo, a Praça da Matriz da cidade e um dos mais belos artesanatos mineiros, feito com papel de jornal reciclado, pela artesã Márcia Rodrigues/@marciaartescomjornal, que também fez a foto)
          Uma pequena, charmosa e acolhedora cidade tipicamente mineira, com pouco mais de 5 mil habitantes. Se destaca no artesanato, nas festas folclóricas e religiosas, por sua culinária típica do Cerrado, por suas belezas naturais e exuberantes, como a Cachoeira do Sampaio, a Mata do Isidoro, o Lajeado e a impressionante Cachoeira do Sumidouro (na foto acima de Marcelo Santos), onde suas águas despencam de um enorme penhasco, com 80 metros de queda.
          Outro atrativo, que vem tornando a cidade conhecida em toda Minas Gerais e Brasil, são suas águas quentes e medicinais.
          As fontes de águas de Felício dos Santos brotam da terra quentes, (como podem ver na foto acima do Luís Carlos da Silva/Divulgação). Saem quentes da rocha,  a uma temperatura de 37 graus centígrados. São medicinais, minerais, hipotermais e radioativas.
          Estão apenas 9 km do Centro da cidade. O local onde estão as fontes, conta com uma boa infraestrutura para receber os turistas, com pousada com quartos e chalés, restaurante e estacionamento 
          A área onde estão as fontes de águas quentes, possui 780 hectares, com matas nativas, nascentes, trilhas, uma rica e variada flora e fauna, além de muita água. Tem todo o conforto para que o turista possa relaxar e aproveitar as águas quentes que brotam direto da terra.
Montezuma MG 
          Saindo do Vale do Jequitinhonha, nosso destino agora é Montezuma, no Norte de Minas, a 748 km distante de Belo Horizonte. O município, com cerca de 8.500 habitantes, tem acesso pelas BR-122 e BR-135. Cidade famosa e conhecida no Brasil inteiro pelas propriedades medicinais de suas águas thermais, concentradas no Balneário de Montezuma das Águas Thermais.  
          A cidade é um convite para o descanso e convívio saudável com a natureza e procurada por pessoas de todo o país, que desde o século XIX, quando suas águas medicinais foram descobertas. (foto acima e abaixo arquivo do Balneário de Montezuma/Enviado por Eduardo Vieira Amorim)
          Muito bem estruturado, confortável e de rara beleza, o Balneário de Montezuma conta ainda com hotel, restaurante, e bar, além de duas piscinas de água quente, vindas das fontes naturais, outra de água fria, banheiros privativos com piscinas, salão de eventos, play ground, vestiários, banheiros privativos com piscina e loja de conveniência. Um ótimo ambiente para o turista que busca descanso e as propriedades medicinais das águas que brotam da terra, de Montezuma.         
Araxá MG
          Partindo de Montezuma, estamos indo agora para a Região do Alto Paranaíba, em Araxá (na foto acima de Arnaldo Silva), uma das mais importantes cidades mineiras, com cerca de 110 mil habitantes. A cidade faz divisa com Perdizes, Sacramento, Tapira e Ibiá e está a 215 km de Belo Horizonte, com acesso pela BR-262. 
          A cidade de Araxá está presente na história de Minas Gerais, pela herança dos índios “Arachás”, por suas tradições, principalmente na produção artesanal de doces e seus queijos, premiados no Brasil e exterior. Por sua gastronomia típica, pelo Grande Hotel do Barreiro, também pela história de Ana Jacinta de São José, a Dona Beja, famosa cortesã do século XIX.
          O grande destaque mesmo de Araxá são suas águas sulfurosas, radioativas, cálcicas, magnesianas, carbonatadas e sódicas, que brotam de várias fontes, sendo as principais, a Fonte Dona Beja e Andrade Júnior (na foto acima de Arnaldo Silva).
          Concentradas no Parque das Águas de Araxá, onde está um dos mais imponentes hotéis do Brasil, o Grande Hotel, inaugurado por Getúlio Vargas em 1944 (fotografia acima de Arnaldo Silva). É uma obra prima da arquitetura do século XX. Inspirado nos castelos europeus, o Grande Hotel do Barreiro, em Araxá, tem ornamentação e acabamento em mármores importados da Europa e ainda, lustres de cristais vindos da Boêmia, também na Europa, além de salões com mobiliário do século XX, muitos deles, também importados. Seus salões e corredores impressionam. Uma beleza singular e uma das joias de Minas Gerais.
          No entorno do Grande Hotel, um bucólico lago, um bosque e cascatas, projetados pelo paisagista Burle Marx, se destacam. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          É nas Termas de Araxá, ao lado do Grande Hotel, onde estão as banheiras e piscinas de águas para tratamentos de saúde com duchas, saunas, hidroterapia, mecanoterapia e aplicação de lama vulcânica preta, indicada pra reumatismo e doenças de pele. 
          Além da beleza do Parque das Águas, Araxá é uma cidade bem organizada e muito bem estruturada e desenvolvida, com indústrias de vários segmentos, além da mineração do nióbio. Conta com uma sofisticada e aconchegante rede hoteleira e gastronômica, um artesanato valioso, principalmente bordados e crochês, um comércio variado, fácil acesso pelos principais pontos turísticos da cidade, como o Morro do Cristo, o Museu Dona Beja, a Igreja de São Domingos, o Museu de Arte Sagra da Igreja de São Sebastião, a Avenida Imbiara. (na foto acima de Arnaldo Silva, o interior das Thermas de Araxá)
          Além de suas belezas arquitetônicas, Em Araxá encontra-se belas paisagens naturais, como serras, rios que foram belas cascatas e cachoeiras, tendo acesso ainda para o Parque Nacional da Serra da Canastra. A cidade conta ainda com um aeroporto, com voos regulares, além de acesso fácil para BR-262.
Sul de Minas
          Saindo do Alto Paranaíba, vamos para o Sul de Minas, onde estão concentradas as principais estâncias hidrominerais de Minas Gerais e as mais famosas também.
          A maioria das estâncias hidrominerais do Sul de Minas, estão na Serra da Mantiqueira. Região montanhosa, de altitudes elevadas, com matas nativas, rios e cachoeiras e paisagens de tirar o fôlego, com fauna e flora riquíssimas. Além das águas que brotam do subsolo, tem ainda os frutos da terra para serem conhecidos e apreciados, nessa região. Fazendas centenárias de café, com seus imponentes casarões, fazendas de plantações de oliveiras e morangos, além de alambiques e cachaçarias, queijos especiais e várias vinícolas, produzindo vinhos finos, de qualidade. Muitas dessas fazendas, abrem suas porteiras para recebem visitantes. Em todas essas cidades, o turista poderá experimentar a genuína cozinha mineira e os pratos típicos do Sul de Minas, como os pratos feitos com a truta, morangos, marmelo, queijos, dentre outros.
          As estâncias hidrominerais do Sul de Minas são as mais conhecidas e mais procuradas por turistas de todo o Brasil e do mundo. São águas com ações curativas e medicinais, encontradas principalmente nas cidades de São Lourenço, Poços de Caldas, Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas, Maria da Fé, Três Corações, Lambari, Campanha, Carmo de Minas, Conceição do Rio Verde, Heliodora, Lambari, Soledade de Minas, Baependi, Cambuquira, Caxambu e Passa Quatro.
          Além das águas medicinais, são cidades acolhedoras, e boa parte dessas cidades, com boa estrutura para receber os visitantes, com rede hoteleira e gastronômica de qualidade, além de artesanato, cultura, arquitetura, tradições populares marcantes. Duas delas conta com passeios de trem, como o Trem das Águas de São Lourenço a Soledade e o Trem da Mantiqueira, em Passa Quatro.
          Das estâncias hidrominerais da Região Sul de Minas, destacamos três cidades com ótima boa estrutura e atrativos variados para receber os turistas. São Lourenço, Poços de Caldas e Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas.
São Lourenço MG
          As águas termais de São Lourenço estão concentradas no charmoso Parque das Águas, formado pela Ilha dos Amores, um lago com 90 mil metros quadrados, área verde, construções com arquitetura eclética, lugares próprios para banhos, como os banhos turco, infravermelho e ultravioleta, além de saunas, locais para massagens e duchas. É no Parque das Águas que estão concentradas as fontes de águas gasosas, magnesianas, alcalinas, ferruginosas e sulfurosas. Todas com gases próprios, formados durante milhões de anos, pelas atividades vulcânicas extintas. (na foto acima, de Wilson Fortunato, a entrada da cidade e abaixo, do Rinaldo Almeida, o Parque das Águas)
          São Lourenço é uma cidade tranquila, com um rico artesanato, famosa por seus doces, licores, culinária típica e produção de roupas de lã. É uma cidade charmosa, com arquitetura variada, com traços coloniais, ecléticos e europeus, graças a presença de imigrantes, que vieram para região no início do século passado. 
          A cidade é muito bem estruturada para receber turistas, com ótima rede hoteleira e gastronômica. Conta hoje com cerca de 48 mil habitantes, fazendo divisa com os municípios de Soledade de Minas, Carmo de Minas, Pouso Alto e São Sebastião do Rio Verde. Está a 400 km distante da Capital, com acesso pela BR-381.
Poços de Caldas MG
          Poços de Caldas é outra importante estância turística e hidromineral mineira. (fotografia acima de Guilherme Augusto/@mikethor) Situada a 1184 metros de altitude, a cidade está literalmente na “boca” de um vulcão extinto há milhões de anos. O acesso à cidade é pela BR-351, estando distante 451 km da capital, contando com cerca de 170 mil habitantes. Faz divisa com os municípios de Andradas, Bandeira do Sul, Caldas, Campestre, Botelhos e com os municípios paulistas de Águas da Prata, Divinolândia, Caconde e São Sebastião do Grama. 
          As águas que brotam das terras poços-caldenses são sulfurosas, radioativas, alcalino-sulfurosas-hiper-termais, ferruginosas e radioativas. Diferente das outras estâncias hidrominerais, onde as águas se concentram em Parques, em Poços de Caldas as fontes são espalhadas na área central da cidade, em belíssimas e bem cuidadas praças. São nove fontes ao todo, com alguns chegando à superfície a 45 graus centígrados. 
          Para banhos, a fonte mais indicada é a Fonte Antônio Carlos (na foto acima de Thelmo Lins), que está dentro de um complexo arquitetônico construído nas primeiras décadas do século passado. Uma das mais belas arquiteturas do século XX, em Minas. Os banhos nessas águas ajudam a aliviar a tensão e desintoxicar o organismo. 
          Poços de Caldas vai muito além de suas águas medicinais. É uma das cidades mais desenvolvidas de Minas e uma das mais procuradas por turistas, principalmente, casais em lua de mel. A cidade inspira romantismo. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          Possui como atrativos a Praça Pedro Sanches, em frente ao Palace Cassino, o Mercado Municipal, a Praça Dom Pedro II, onde está a Fonte dos Macacos, onde acontece todos os domingos, a Feira de Artes e Artesanatos, o Relógio Floral, a Fonte das Rosas, o Represa Bortolan, o teleférico, que leva os turistas ao Morro do Cristo, a 1.678 metros de altura.
          A cidade conta ainda com uma gastronomia típica, parques urbanos com cachoeiras, como a Cascata das Antas, das Andorinhas e do Véu da Noiva, a Fonte dos Amores, o Recanto Japonês, a bela Matriz de Nossa Senhora da Saúde, a sua charmosa rodoviária, suas festas religiosas, como as Congadas, seu portal de entrada (na foto acima do Luís Leite) e várias outras belezas urbanas. Sem contar a sua sofisticada e aconchegante rede hoteleira, sua rica gastronomia e seu valioso artesanato, principalmente artesanato em vidro, arte introduzida na cidade por imigrantes italianos, vindos da Ilha de Murano, no início do século passado.
Caldas MG e a Estância de Pocinhos do Rio Verde
          Vizinha a Poços de Caldas, está Caldas, uma das mais antigas cidades do Sul de Minas, fundada em 27 de março de 1813. Inclusive, Poços de Caldas, era distrito de Caldas, antes de ser elevada à cidade emancipada. Caldas conta com cerca de 15 mil habitantes e está a 465 km, com acesso pela BR-381. Faz divisa com os municípios de Andradas, Poços de Caldas, Ibitiúra de Minas, Santa Rita de Caldas, Campestre e Bandeira do Sul.
          O grande atrativo de Caldas são suas águas medicinais, concentradas no distrito de Pocinhos do Rio Verde (na foto acima de Luís Leite), onde está também o Gran Hotel de Pocinhos.
          Construído na segunda metade do século XIX, em estilo colonial, é o mais antigo hotel em funcionamento no Brasil. (créditos da imagem acima: Summit Concept Pocinhos/Divulgação) Pelas dependências do Grande Hotel, passaram milhares de hóspedes, entre gente anônima ou famosa, que vindos de vários lugares do Brasil e do mundo, em busca de cura para suas enfermidades ou mesmo para descanso.
          Região de ar puro e belíssimas paisagens, Pocinhos do Rio Verde é procurada por turistas do mundo todo, em busca das propriedades medicinais de suas águas. Lugar ideal para quem deseja sossego e descanso. 
          No Parque Balneário de Pocinhos o visitante pode desfrutar das três fontes de águas minerais, além de ducha circular, hidromassagem, sauna e banhos de imersão.
          Agora é só escolher o roteiro e vivenciar a beleza, tranquilidade, sossego que as nossas estâncias hidrominerais oferecem, bem como os benefícios para a saúde, que as águas que brotam das terras mineiras, proporcionam.

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