Arquivo do blog

Tecnologia do Blogger.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

São Bartolomeu: a joia de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Imagine você chegando num lugar que lembra as pequenas aldeias portuguesas. Nas casas, a única segurança são os trincos e tramelas. Não tem muros, o casario é rente ao passeio e nas ruas não tem asfalto, são calçadas com pedra. Nesse lugar, ouve-se o som do silêncio, quebrado apenas pelo barulho dos pássaros e pelo borbulhar dos doces feitos nos tachos de cobre. Em cada casa, os tachos de doces estão presentes. Lugar onde o povo cultiva uma simplicidade encantadora, recebem os visitantes com sorrisos e uma boa prosa mineira, como se já te conhecesse há tempos.
          Difícil imaginar um lugar assim hoje, mas ele existe. É São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto MG, a 100 km de Belo Horizonte. A Vila surgiu no final do século XVII, fundada por bandeirantes que chegaram à região em busca do ouro. Seus moradores, cerca de 750 moradores, tem orgulho imenso de viverem na pequena vila, que conta com cerca de 500 casas e casarões, no elegante estilo barroco mineiro. Orgulham-se dos doces, de sua Igreja Matriz, datada de 1705, dedicada a São Bartolomeu, uma das mais antigas igrejas de Minas Gerais, da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, de suas tradições, como a Festa do Padroeiro, em agosto e de ser a terra da goiabada cascão.
          Encanta ainda o belo e preservado casario colonial do século 18, as capelas de São Francisco e a de Nossa Senhora das Mercês, que fica no alto de um morro. Desse tem-se um visual perfeito de toda a vila e sua vasta natureza em redor. 
          É possível andar pelas ruas de São Bartolomeu sem ver sequer um morador na rua, principalmente em dias de semana. Uma tranquilidade e paz que impressiona quem vem de fora, acostumado com agitação de gente nas ruas. 
          A tradição de fazer doces é uma tradição secular no distrito, que desde o início de seu povoamento, com a chegada dos bandeirantes, no final do século 17. Desde aquela época a região era abundante em espécies frutíferas, como goiabeiras. Chegando ao distrito se percebe isso. Árvores frutíferas como jabuticabeiras, mangueiras, goiabeiras, dentre várias. 
          Seus moradores ficam nas espaçosas cozinhas ou nos quintais, com seus enormes tachos de cobre, fazendo o que sabem de melhor, doces, como o doce de leite e a famosa goiabada cascão. Aliás, o melhor espaço das casas de São Bartolomeu é a cozinha. A visita vai logo para a cozinha experimentar as quitandas e claro, os doces tradicionais mineiros. 
          São Bartolomeu é de uma tranquilidade que impressiona. O povo é sossegado, tranquilo e quando chega carro de fora, vão até a janela ou porta para dar uma espiada nos novos visitantes. Muitos saem pra fora e puxam conversa mesmo, no mais genuíno mineirês. A prosa é boa e conversam com a gente naturalmente, como se fôssemos amigos antigos. Uma conversa alegre, que nos faz bem. Nesse dia conheci o Bartinho, dona Nhanhá e a dona Lídia, na foto acima. Gente simples, gentil, educada e muito alegres. Adoram uma boa prosa.
            Hoje, a vila é distrito de Ouro Preto, mas São Bartolomeu existia antes mesmo de Ouro Preto existir. Ouro Preto foi fundado em 1711, no século XVIII. São Bartolomeu existia bem antes, surgiu no final do século XVII. É uma das mais antigas povoações de Minas Gerais, com um casario colonial bem preservado e uma rica história do período barroco. Pelo encanto, lugar pacato, tranquilo, onde se respira história, em cada canto da pequena vila, São Bartolomeu é uma joia. Lugar como esse é único no Brasil. Não tem igual. É a joia do barroco, é a joia da nossa cultura, a joia da nossa história, não só de Minas, mas do Brasil.  
          A joia de Minas faz parte do Caminho Velho da Estrada Real. Situado às margens do Rio das Velhas e do Parque Florestal do Uaimií, São Bartolomeu fica a 98 km de Belo Horizonte e 18 km de Ouro Preto, com acesso por Cachoeira do Campo, outro distrito ouro-pretano. Chegando a Cachoeira do Campo entre a esquerda, seguindo pela rua principal do distrito sentido Santo Antônio do Leite, até o cruzamento com a Rua Tombadouro, no alto do morro. Ao chegar nesse morro, tem pequena rotatória e uma placa sinalizando. Vire à esquerda e siga pelo asfalto. Quase no fim do trecho, a estrada é de terra, mas em boas condições de uso. Assim já chega a São Bartolomeu. 
          Andando pelas poucas ruas de são Bartolomeu, é possível sentir o doce aroma da goiabada. Se tiver ouvido mais aguçado, poderá ouvir o “estourar” das bolhas dos doces fervilhando nos enormes tachos de cobre nas espaçosas cozinhas sem abertas das casas. Praticamente todas as casas do distrito tem fornalha, tacho de cobre, fogão à lenha. Faz parte da identidade do povo mineiro.
          Fazer doces é vocação dos moradores da Vila. Quem sabe faz e bem feito. É um conhecimento que vem dos avós, dos bisavós, tataravós, até chegar à época que os bandeirantes chegaram ao distrito. E esse conhecimento foi passando de pai para filho, até chegar aos dias de hoje. A goiabada cascão de São Bartolomeu, cremosa ou em barra, é a legítima e autêntica goiabada, feita do mesmo jeito que há mais de 200 anos. É Patrimônio Cultural Imaterial de Ouro Preto.
          Tive o prazer de acompanhar esse processo na casa da Sonali, moradora do distrito. Quem batia a goiabada no tacho era a simpática Dona Doquinha, famosa doceira da Vila. O processo começa na escolha das melhores goiabas. Depois de lavadas, são cortadas ao meio para a retirada das sementes e peneirada. Em seguida e levada ao tacho de cobre, com a fornalha já aquecida despeja-se a polpa e cascas grandes da fruta. Por isso é que se chama goiabada cascão, pela presença das cascas no doce. O processo final é bater bem e sem parar por cerca de uma hora, para que a goiabada esteja no ponto.
          Isso as doceiras sabem de cor, a hora do ponto e ritmo da batida da enorme colher de pau. Além da goiabada, Dona Doquinha faz um doce de leite sensacional, do mesmo jeito, batido no tacho de cobre. E o sabor de um doce assim, experimentando na hora que está sendo feito, é outra coisa. Sabor indescritível! O bom mesmo é ver as doceiras despejando a goiabada e rapar o tacho. Essa rapa de tacho é boa demais! 
          Por falar em Sonali, à moradora que citei acima, tem um bar na rua principal do distrito e serve comida também. Preparou rapidinho essa deliciosa lasanha de espinafre acima. Em dias de festas e fins de semana o bar fica aberto, mas durante a semana as portas ficam fechadas. Só bater que ela abrirá e te atenderá muito bem. Come-se bem e a anfitriã é muito alegre, educada e, atenciosa. Além da comida ótima, experimentei a cerveja artesanal Los Bárbaros, de Santo Antônio do Leite, distrito ouro-pretano, e adorei. No local tem artesanato e lembranças do distrito, bem como o café especial Uaimií que é da região e vendido. E claro, tem doces caseiros diversos.
          Ao lado do Bar da Sonali, é a casa da Dona Serma e do Seu Vicente que me recebeu com muita hospitalidade. Experimentei o doce de rapa de leite. Não resisti e comprei. Tem doce de leite cremoso, de corte, pessegada, bananada, de limão capeta, laranja, de pêssego, figo e claro, a famosa goiabada cascão em barra e cremosa. Essa não pode faltar em lugar algum de São Bartolomeu. Tudo feito com carinho no fogão à lenha, bem como a comida que Dona Serma faz, tipicamente mineira e de sabor inconfundível! Vale lembrar que nessa casa funciona também o cartório do distrito.
 
          Como já disse antes, São Bartolomeu respira tranquilidade e sossego, onde o som mais alto que se ouve é o do silêncio quebrado às vezes pelos pássaros. Lugar ideal para quem gosta de sossego, relaxar e vivenciar a mais pura nostalgia e magia da beleza da vida no estilo bem mineiro, preservada desde os tempos do Brasil Colônia. Mesmo pequeno, São Bartolomeu, oferece uma ótima estadia na Pousada São Bartolomeu. Um ambiente simples, com quartos arejados, sem TV e tudo bem arrumado no maior capricho.
          Caso queira uma pousada com mais requinte, a dica é a Casa Bartô, um casarão em estilo colonial, com 10 amplas suítes e uma decoração nostálgica. Um ambiente perfeito para relaxamento e descanso. 
          Quem gosta de mais agitação, pode optar por ir a São Bartolomeu em dias de festas como a Festa da Goiabada Cascão, que acontece todos os anos entre abril e maio na rua principal. Esse evento faz parte do Calendário Gastronômico de Minas Gerais. Durante os três dias de festa, são apresentados os melhores doces do distrito e ainda conta com shows musicais, atividades culturais, mostra do artesanato local, culinária típica, outros produtos artesanais da região como cerveja e vinho de jabuticaba e passeios ecológicos. 
          Outra festa importante que acontece em no mês de junho é o Encontro de Tradições Culinárias, com cultura, música e a rica gastronomia dos moradores de São Bartolomeu que criam pratos especiais e apresentam no evento. Já em agosto, a festa é religiosa. No dia 24 acontece a Festa de São Bartolomeu e do Divino Espírito Santo, com missas, procissões e cortejos que celebram a devoção ao padroeiro do distrito, São Bartolomeu e ao Divino Espírito Santo. Nesse evento também, após as cerimônias religiosas, tem shows musicais. 
          Indo a São Bartolomeu, não fique apenas no entorno da Vila. O distrito tem opções naturais fantásticas como a Reserva do Uimií, cerca de 5 km do distrito. Uma reserva com 43 km2, considerada a primeira reserva ambiental do Estado, com uma exuberante natureza, com nascentes, riachos e cachoeiras. Uma dessas cachoeiras tem queda de 45 metros. A reserva fica aberta de 7 as 17 h. Outra opção é a Fazenda Nascer que oferece passeios, canoagem, rapel e camping. Tem um pequeno restaurante que funciona somente nos fins de semana. A fazenda fica próxima a Reserva do Uimií.
          Independente de qual for sua opção, dias festivos ou a calmaria que o distrito oferece, São Bartolomeu é especial. É um banho de paz, de cultura, de história e uma mostra rica de como é ser e vivenciar o ser mineiro. Vindo a Ouro Preto, venha conhecer São Bartolomeu, a joia valiosa do barroco mineiro. 

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Leandro Júnior: o artista da tinta de barro

(Por Arnaldo Silva) Ele transforma barro em tintas que viram arte em suas telas. É Leandro Júnior, artista plástico natural de Cachoeira do Norte, distrito da cidade de Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha.
Do Vale do Jequitinhonha surgem grandes artistas mineiros. Leandro Júnior é um deles. Suas esculturas e telas refletem a realidade do povo mineiro, em especial do povo do Vale do Jequitinhonha. 
E é do Vale que sai o rico artesanato mineiro, feito em argila e barro, já que a região produz barro com tonalidades diferentes, por isso a riqueza valiosa do artesanato local, Patrimônio Imaterial de Minas Gerais. Deste mesmo barro, Leandro Júnior faz sua própria tinta e suas esculturas.
Segundo o artista, ele pinta suas telas com a tinta que extrai do barro. Além da tinta feita com barro, Leandro Júnior cria esculturas em barro, com o tema de suas obras voltadas para o período da Escravidão no Brasil.
Para fazer a tinta de barro, ele retira da natureza barros com tonalidades tonalidades, encontrados facilmente em sua região. 
- A terra retirada passa por uma socagem. 
- Em seguida é peneirada  até virar pó. 
- Toda impureza como restos de mato, são retirados desse pó.
- Feito isso, acrescenta-se água limpa ao pó. 

- Mistura-se bem e coa num pano, ficando somente o líquido do barro. 
- Esse líquido é colocado numa panela e levado ao fogo para ganhar consistência. 
- Por fim é só acrescentar cola comum porque a cola ajuda na fixação da tinta na tela.  
- Mistura-se bem até que a cola esteja toda dissolvida no líquida e com consistência homogênea.
Está pronta a tinta para uso, como pode ver na foto acima as tintas já prontas para uso. Esse processo é feito com cada cor de barro. Não se mistura todas as tonalidades de barro num mesmo processo. 
Quem quiser contatar com o artista pode ligar para seu whatsapp: 33 99989-2435 ou instagram:@artistaplasticoleandrojr

quarta-feira, 1 de maio de 2019

A origem do café em Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) No início do século 18, o ouro de Minas passou a ser enviado também para outro caminho, o chamado "Caminho Novo". Através desse caminho, o ouro extraído em Minas era levado pelos tropeiros, até o porto do Rio de Janeiro. Mas voltavam com outra riqueza: o café. Levavam ouro e traziam sementes de café. 
          O plantio de café no território mineiro iniciou-se também no século XVIII. Com o declínio do Ciclo do Ouro, o café passou a ser a maior riqueza produzida no Estado, tendo sua produção chegado ao auge, no século XIX e início do século XX. (foto acima e abaixo de Tadeu Gomes em Imbiruçu, distrito de Mutum MG)
          O Caminho Novo, era o principal corredor de envio de café para a Europa. Como esse "Caminho Novo" era na região da Zona da Mata Mineira, a região foi a pioneira no plantio de café em Minas Gerais.
          O plantio foi crescendo, novas fazendas surgindo e a riqueza aumentando. A Zona da Mata foi a região mais rica de Minas até o início do século 20. Desde que foi introduzido em Minas, o café gerou riquezas e imponentes construções se destacam nas sedes das fazendas.
          Boa parte das grandes fazendas de café estão na Zona da Mata. A que mais se destaca é a Fazenda Santa Clara, em Santa Rita de Jacutinga MG, considerada a maior construção colonial das Américas. São vários casarões existentes na região, que marcam o período do café. Algumas ainda em atividades, outras, se transformaram em hotéis fazenda. (na foto acima, do Ivan Ruela, cafezal em Mutum MG, Leste de Minas)
          No início do século XX, muitos mineiros migraram para o oeste de São Paulo com o objetivo de plantar café o que acabou reduzindo a hegemonia da Zona da Mata. Com o sucesso do plantio do fruto em Minas e São Paulo, novas plantações foram surgindo em outros estados brasileiros como Espírito Santo e Rio de Janeiro. Hoje é plantado em praticamente todo o país. (foto acima de Ricardo e Widma de Alto Caparaó MG, do Sítio Pé de Breu)
          O café gerou riquezas para Minas Gerais, sendo passo importante para a industrialização do Estado. Começou na Zona da Mata e se estendeu por boa parte de Minas, gerando novos empregos e com a criação de novas empregos com o surgimento de têxtis, alimentícias, siderúrgicas, construção de usinas hidrelétricas, etc. 
Matas de Minas
          A Zona da Mata Mineira continua sendo uma das grandes produtoras de café não só em Minas, mas em todo o Brasil. Produz café tradicional e cafés especiais. O café especial da Zona da Mata e Leste de Minas é o Matas de Minas. (foto acima de Ricardo e Widma de Alto Caparaó MG, do Sítio Pé de Breu)
          O café produzido é o cereja e nessa região a opção é pelo cereja descascado. Seu aroma é achocolatado, sabor cítrico, com acidez média, doçura alta e corpo médio a encorpado. É de ótima qualidade, se destacando sempre em concursos de cafés especiais, tanto no Brasil como no exterior, com mercado de exportação para Japão, Estados Unidos e vários países da Europa.
          Essa região cafeeira é composta por 63 municípios, se destacando Alto Caparaó, Ervália, Manhumirim, Carangola, Alto Jequitibá, Araponga, Espera Feliz, Muriaé, Pedra Dourada, Tombos, Caparaó e Viçosa. Gera 75 mil empregos diretos e cerca de 150 mil empregos indiretos. 

domingo, 28 de abril de 2019

A Matriz de Nossa Senhora da Conceição no Serro

(Por Arnaldo Silva) Serro foi uma das primeiras povoações mineiras, com sua origem datada de 1701 com a formação de um arraial. Posteriormente elevado a Vila em 14 de janeiro de 1714 e a cidade em 6 de março de 1838. 
          O Centro Histórico do Serro se mantém preservado desde os tempos do Brasil Colônia, tendo sido ainda a primeira cidade histórica mineira reconhecida como Patrimônio Histórico Nacional pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN). (foto acima da Elvira Nascimento)
          Com 22 mil habitantes, o Serro está a 325 km de Belo Horizonte. O município faz divisa com Diamantina, Rio Vermelho, Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro, Couto de Magalhães de Minas, Datas, Presidente Kubistchek, Sabinópolis, Santo Antônio do Itambé e Serra Azul de Minas, cidades igualmente importantes, históricas e com muitos atrativos arquitetônicos e naturais.
          Chegando ao Serro, a primeira impressão que se tem é de que o nosso relógio parou, te convidando a esquecer da correria do dia-a-dia, relaxar, dar uma pausa na pressa e conhecer devagar as belezas da cidade serrana, seu casario, seus principais distritos como Capivari e São Gonçalo das Pedras, o de Milho Verde
          Saborear seu queijo e experimentar os vários pratos típicos da culinária mineira. Boa parte da culinária mineira saiu das cozinhas serranas.
          O casario serrano é charmoso, em destaque para a escadaria de acesso para a Igreja de Santa Rita (na foto acima de Thelmo Lins). São 57 degraus. Tem ainda a chácara do Barão e a residência dos Ottoni, hoje um museu, chafariz, boas pousadas, bons restaurantes, com pratos da nossa cozinha como caldos deliciosos, o bambá de couve e pratos doces e salgados feitos à base do mais notável produto do Serro, o queijo. 
          Entre todas as belezas arquitetônicas, com seu tradicional casario em estilo colonial e igrejas belíssimas, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição se destaca por sua imponência, beleza e história (na foto acima do Thelmo Lins)
          É a mais importante igreja do Serro, sendo ainda uma das maiores igrejas barrocas de Minas Gerais. O adro da matriz é formado programa, uma escadaria e uma muralha em pedra sabão. Sua construção tem as características das igrejas do período Barroco mineiro. Simplicidade nos traços arquitetônicos externos e riqueza e luxo em seu interior. 
          A obra data aproximadamente de 1776, no século 18, tendo sido concluída ainda no final deste século. Foi erguida no mesmo lugar onde existia uma capela de palha, dedicada a Santo Antônio, erguida entre 1725 e 1737, por ser pequena e a comunidade necessitava de um templo maior. No século XIX passou por pequenas reformas, como em sua fachada e por fim, uma grande reforma, que definiu suas características finais, realiza entre os anos de 1872 a 1877. 
          As torres da Matriz de Nossa Senhora da Conceição tem estrutura em madeira, se destaca, bem com as paredes em curva bem como se destaca na vista da cidade. 
          As talhas em seu interior, em estilo Rococó, principalmente em seu altar-mor se destaca pela riqueza dos detalhes e o brilho dourado tradicional na arte sacra mineira, obra de autoria de Bartolomeu Pereira Diniz, um dos maiores entalhadores no estilo Rococó de Minas Gerais. No altar-mor, além da arte sacra, chama a atenção um enorme lustre, que dá mais brilho aos entalhes. (foto acima de Thelmo Lins)
          Além do entalhador Bartolomeu Pereira Diniz, participaram da ornamentação da Matriz os entalhadores André Pires e Francisco Diniz (o Chico Entalhador), o pintor Manuel Fernandes Leão deixou, um pouco de sua arte no interior da igreja, bem como o mestre torneiro, Joaquim Gonçalves de Aguiar, responsável por tornear as colunas do retábulo. (foto acima de Thelmo Lins)
          O forro da nave foi pintado em 1828, com autoria atribuída ao pintor Manuel Antônio Fonseca. A obra do artista apresenta Nossa Senhora da Conceição rodeada por anjos, por nuvens e vários ornamentos em seu redor. (foto acima e abaixo de Thelmo Lins)
          O interior da Matriz de Nossa Senhora da Conceição transmite uma paz que nos permite contemplar a beleza de sua ornamentação, de sua valiosa arte sacra e ao mesmo tempo estar em sintonia com o Eterno, em orações.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Um paraíso chamado Carrancas

(Por Arnaldo Silva) O povoamento de Carrancas, cidade com cerca de cinco mil habitantes, na região do Campo das Vertentes, começou no século 18, com a chegada de bandeirantes, em busca de ouro. (foto acima de Marcelo Santos) Próximo a um ponto de mineração, os bandeirantes notaram a semelhança de duas pedras com a fisionomia humana, dai deram o nome ao local de Carrancas, prevalecendo este o nome da cidade.
          Desse tempo até os dias de hoje, o município preserva suas tradições culturais e gastronômicas. Possui um artesanato riquíssimo em história e qualidade (foto acima de Giseli Jorge), além de atividades religiosas como o Congado e Folia de Reis mantidas em suas tradições originais. A arquitetura da cidade é marcante e os detalhes arquitetônicos antigos preservados em suas casas, casarões e fazendas. (foto abaixo de Gilson Nogueira)
          O município é dotado de belezas naturais espetaculares e abriga o mais completo complexo de águas do Estado. São águas cristalinas, que formam várias cachoeiras com paisagens dignas dos mais belos paraísos do mundo. Vale ressaltar que os complexos de águas de Carrancas são únicos em Minas Gerais. Não é por menos que a cidade é conhecida como a cidade das serras e das cachoeiras. Tantas belezas chamam a atenção de turistas do Brasil inteiro, adeptos do ecoturismo e de emissoras de TV, principalmente a Rede Globo, que tem em Carrancas, cenário natural para suas produções como exemplos: Alma Gêmea (2004), Paraíso (2009), Amor Eterno Amor (2012), Império (2014), Orgulho e Paixão (2018), Espelho da Vida (2018). 
          Por toda a extensão do município brotam águas cristalinas de nascentes, que formam riachos e alimentam grandes rios, como o Rio Capivari, que nasce nas serras do município. Para quem busca um contato pleno com a natureza, Carrancas é o seu destino. A terra das cachoeiras possui mais de 30 atrações mapeadas, com mais de 60 atrativos naturais entre grutas, cachoeiras, poços e serras com trilhas para acesso a pé, 4x4 ou de bike. Algumas de fácil acesso, outras requerem bom preparo físico para chegar. Em alguns trechos pode se fazer rapel e escalada. (foto abaixo de John Brandão/@fotografo_aventureiro)
          Pelas belezas de suas águas e paisagens, Carrancas atrai a cada dia, famílias e amantes da natureza e práticas esportivas naturais que procuram principalmente as cachoeiras do Complexo da Fumaça (na foto acima de Gilson Nogueira), Complexo da Toca, Complexo da Vargem Grande, Complexo da Zilda, os poços do Coração (na foto abaixo do Marcelo Santos) e das Esmeraldas e as cachoeiras do Luciano, Véu de Noiva e da Serrinha.
Atrativos da cidade
Igreja de Nossa Senhora da Conceição 
          A matriz da cidade foi construída no século 18 com quartzito, rocha comum na região. As torres da igreja chamam a atenção. (foto acima de Gilson Nogueira) Geralmente as torres frontais das igrejas são idênticas. De Carrancas não, são diferentes uma da outra.
          No interior da igreja há obras de grande valor cultural e patrimonial atribuídas a Joaquim José da Natividade, discípulo do Mestre Aleijadinho. O interior da igreja é belíssimo, com altar com detalhes em ouro e móveis em madeira. (foto acima de Gilson Nogueira)
          Outro destaque religioso em Carrancas é uma singela capela branca, com janelas azuis dedicadas à Nossa Senhora da Conceição do Porto do Saco. (na foto acima de Gilson Nogueira) Uma relíquia do século 18, que fica no distrito de Porto do Saco. Por seu valor histórico para a cidade e Minas Gerais, foi tombada pelo Iepha/MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais).
          Em toda a extensão do município de Carrancas, encontramos fazendas, algumas delas, do tempo dos bandeirantes. Algumas ainda estão em atividade produtiva, outras viraram hotéis fazendas. Entre as mais tradicionais estão às fazendas Grão Mogol, Cachoeira, Bananal, Serra das Bicas (na foto acima de Gilson Nogueira), Pitangueiras, Retiro de Baixo e a Fazenda do Saco.
Carrancas tinha linha férrea
          Trem de passageiros e de cargas passaram por esses trilhos. Hoje não tem mais trem transportando passageiros. O que restou dessa lembrança do passado, a Estação de Trens, é hoje um importante ponto turístico e histórico da cidade. (foto acima de Jerez Costa e na foto abaixo, do Marcelo Santos, a Cachoeira da Fumaça)
          Carrancas faz divisa com os municípios de Itutinga, São Vicente de Minas, Minduri, Cruzília, Luminárias, Nazareno e São João Del Rei MG. A distância de Belo Horizonte para Carrancas é de 300 km, via BR 381.

Catas Altas: turismo, vinhos, festivais e a jabuticaba

(Por Arnaldo Silva) Catas Altas uma típica cidade mineira. Pacata, charmosa, acolhedora, rica em cultura, artesanato, tradições, religiosidade e culinária. 
           Distante 120 km de Belo Horizonte, na Região Central de Minas, a cidade 5.453 habitantes, segundo o IBGE e faz divisa com Alvinópolis, Santa Bárbara e Mariana. (fotografia acima de Tom Alves/tomalves.com.br)
História
          Sua história começa nos primeiros anos do século XVIII, com a descoberta de minas de ouro na região da Serra do Caraça, pelo bandeirante Domingos Borges. O bandeirante trouxe ainda para a região, a devoção à Nossa Senhora da Conceição. Com o surgimento do arraial, cresceu a fé em torno de Nossa Senhora da Conceição, com a data em que se comemora o fundação do arraial, em 1703, com o dia dedicado à Santa, em 8 de dezembro.
          Boa parte do ouro encontrado nas terras catas-altenses, ficava em morros, necessitando de escavações profundas. Para catar o ouro nas partes altas, era necessário subir os morros. Por isso o nome, Catas Altas. (fotografia acima de Nacip Gômez)
          O povoado cresceu, foi elevado a freguesia, vila e distrito, pertencente à cidade de Santa Bárbara, até 8 de dezembro de 1995, quando Catas Altas foi elevada, à cidade emancipada. A data de fundação oficial do município, é 8 de dezembro de 1703, data da criação do arraial, que originou a cidade, sendo também o dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição.
          O Centro de Catas Altas é um dos mais belos patrimônios arquitetônicos e históricos de Minas. Um lugar bucólico, onde estão guardadas relíquias arquitetônicas do tempo do Brasil Colônia.
          Um dos destaques arquitetônicos da cidade, é a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, bem no coração da Praça Monsenhor Mendes. A Igreja, datada de 1729, e um dos mais notáveis símbolos da religiosidade mineira e da arte rococó, presentes em seus altares laterais e retábulo, além da pintura do forro, feitos ainda no século XVIII. (fotografia acima de Elvira Nascimento)
          A obra se estendeu, até o século XIX, já no declínio do Ciclo do Ouro, ficando algumas partes da Igreja, principalmente, sua fachada, inacabadas. Mesmo assim, sua beleza e riqueza dos detalhes de seu interior (na foto acima de Thelmo Lins), faz da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Catas Altas, um dos mais belos exemplares da arte barroca e sacra mineira, com o privilégio de contar com obras do Mestre Aleijadinho, Ataíde e Francisco Vieira Servas. 
          Outra relíquia histórica de Catas Altas é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, datada de 1739, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. (na foto acima da Karla Jardim/@tripcatasaltas) A igreja é singela, simples, sem torres, com o altar-mor em talhas douradas, no estilo Joanino. Na parte frontal da Igreja, a data de 1862, mostra, segundo os historiadores, que templo passou por uma reforma, nesse ano. No interior da Igreja, no assoalho, como era costume naquela época, estão sepultados os membros da irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
          A Capela do Senhor do Bonfim é uma das mais charmosas e belas capelas de Catas Altas. Está situada no distrito do Morro D´Água Quente. Construída na segunda metade do século XVIII, é um dos genuínos exemplares da arte barroca. Singela em detalhes externo, chama a atenção as cores vermelhas e branca de sua fachada e a ausência de torre sineira, além da beleza e simplicidade das talhas e ornamentações de seu interior. (fotografia acima de Karla Jardim/@tripcatasaltas)
          Já a Capela de Santa Quitéria (na foto acima da Elvira Nascimento), é um dos lugares mais visitados da cidade e um dos mais conhecidos templos religiosos de Minas Gerais. Erguida no alto de uma colina, data sua construção de 1728, sendo um dos lugares mais visitados de Catas Altas, pela singularidade da Capela, simplicidade e harmonia com a natureza em seu redor, refletindo um ambiente de paz e fé.
O Santuário do Caraça
          Em Catas Altas, numa região entre 1200 e 2000 mil metros de altitude, está um dos mais importantes santuários de Minas Gerais, o Santuário do Caraça (na foto acima do Isaac Rangel). Um lugar que conta boa parte da história, riqueza arquitetônica, gastronomia e religiosidade mineira. Em toda a área do santuário, são exatos 11.233 hectares de área de mata nativa de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica. Desse total, 10.187 hectares são de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), onde estão protegidos espécies de nossa fauna e flora.
          Na área, está ainda o Conjunto Arquitetônico do Santuário do Caraça (na foto acima da Alexandra Dias), iniciado a partir de 1770, pelo Irmão Lourenço de Nossa Senhora. O conjunto é formado pela Igreja de Nossa Senhora Mães dos Homens, construída em estilo neogótico, o prédio do antigo colégio, hoje, museu e biblioteca, uma pousada e restaurante.
          É no Caraça, que o lobo-guará, aparece todas as noites, para comer carne, da mão dos padres. Presenciado pelos visitantes, que ficam no adro do Santuário a espera do animal, se emocionam com o momento da aproximação dos lobos. (foto acima do Elpídio Justino de Andrade)
          Para proteger o patrimônio natural e arquitetônico de Catas Altas contra modificações ou destruições do patrimônio antigo, todo o perímetro urbano da cidade foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA). E ainda, todo o conjunto arquitetônico do Santuário do Caraça, a Praça Monsenhor Mendes, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição foram tombados como Patrimônio Nacional, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
          Por sua história, arquitetura, belezas naturais, como rios e cachoeiras paradisíacas (na foto acima do Tom Alves/tomalves.com.br, cachoeira no Caraça) e preservação de seu patrimônio, faz da bucólica Catas Altas, uma das mais charmosas e tradicionais das cidades históricas mineiras. Por isso mesmo, a cidade é um dos lugares mais procurados por turistas, para turismo, aventuras, passeios e descanso.
Cenário de novelas e palco de festas tradicionais
          É uma das mais importantes cidades históricas mineiras e uma das mais belas também. Tanto é que a cidade serviu de cenário para a minissérie da Rede Globo, “Se eu fechar os olhos agora”, exibida em 2019.
          Durante o ano, diversos eventos culturais, além de festivais, acontecem na cidade, organizados com a participação popular, dos que fazem a cultura, a gastronomia e o turismo na cidade.
          Um desses eventos é o Festival Saborear, que acontece sempre em janeiro, com apresentação dos pratos típicos de Minas Gerais e região.
          Além disso, nos últimos anos, Catas Altas vem se destacando na produção de cervejas artesanais. A primeira cervejaria artesanal da cidade foi a Time´s Beer (na foto acima de Karla Jardim/@tripcatasaltas), fundada em 2016, inicialmente, direcionada apenas para amigos e confraternizações familiares. A qualidade e o sabor de extrema excelência, agradou e a cerveja se popularizou, tornando-se hoje um dos principais rótulos da região.
          De 2016 para cá, outras cervejarias foram surgindo, com receitas variadas, transformando a cidade em referência na fabricação da bebida artesanal, de qualidade, na região. Estão presentes em Catas Altas as cervejarias Bastião, Caraça e Floresta Élfica, com seus diversos rótulos presentes nos bares e restaurantes da cidade (na foto acima de Any Marry@cervejariaflorestaelfica, os rótulos da Cervejaria Floresta Élfica)
          Para divulgar e mostrar a qualidade das cervejas artesanais de Catas Altas, todos os anos, no feriado de Tiradentes, 21 de abril, acontece o Serra do Caraça Bier Fest, com a presença das principais cervejarias artesanais de Minas Gerais, além de barracas com comidas típicas, artesanato e shows musicais.
A Festa do Vinho
          O maior evento de Catas Altas é sem dúvidas, a Festa do Vinho. O tradicional evento, acontece sempre no mês de maio e atrai milhares de turistas, vindo de várias regiões de Minas e do Brasil. A Festa do Vinho de Catas Altas tem como atrativos, grandes shows musicais, com apresentações de artistas e bandas renomadas brasileiras e tem ainda a escolha da rainha e princesas do vinho. O evento reúne os produtores de vinhos da cidade e região, mostrando o principal produto local, o vinho, bem como, mostra de pratos especiais, que harmonizam com a bebida.
          São três dias de festa, de sexta a domingo e tem como objetivo mostrar a cultura, o artesanato, a música, a culinária e claro, promover a degustação de vinhos locais, considerados de ótima qualidade, tanto o tradicional vinho de uva, como a bebida fermentada de jabuticaba, geleias e licores de jabuticaba e outras frutas, (como na foto acima da Karla Jardim/@tripcatasaltas).
Vinho em Catas Altas, tradição do século XIX
          A cidade, desde sua origem, foi de grande importância para Minas Gerais, com a mineração do ouro e atualmente, de minério de ferro, além de contar com terras de ótima qualidade e produtivas, se destacando também na agricultura e pecuária, desde os tempos do Brasil Colônia. (na foto acima a vinícola Aluar, da Dona Jesuína. Foto da Karla Jardim/@tripcatasaltas)
          Catas Altas é uma das mais antigas produtoras de vinhos do Brasil, tendo a tradição vinícola da cidade, iniciada no ano de 1868, no século XIX. Uma tradição de mais de 150 anos.
          Quem introduziu e ensinou a técnica de fazer vinhos em Catas Altas foi o padre português, Monsenhor Manoel Mendes Pereira de Vasconcelos, uma das mais importantes figuras da região.
          Diante do fim da riqueza gerada pelo ouro, tendo como consequência o empobrecimento e falta de perspectivas da população de Catas Altas, Santa Bárbara e Barão de Cocais, Monsenhor Mendes se mostrou preocupado e buscou uma saída para a crise financeira que a cidade e região, passavam. O religioso tinha visão de futuro e acreditava que situações difíceis ou até mesmo, com poucas perspectivas de mudanças a curto e médio prazo, podiam ser mudadas através da educação e melhor qualificação profissional, na busca por novas fontes de renda. Procurava mostrar ainda a importância do envolvimento dos moradores em ações coletivas e comunitárias, na melhora da qualidade de vida.
          Percebendo que as terras de Catas Altas e região eram de excelente qualidade, além do clima ameno e montanhoso, acreditou ser possível o cultivo de uvas na região. Isso porque, soube da existência, na cidade, de algumas parreiras de uvas plantadas no pomar na casa de um amigo.
          A uva cultivada pelo amigo era da espécie Vitis labrusca, de origem da América do Norte, chamadas de uva americana. Até hoje são as uvas mais usadas na produção de vinhos no Brasil. São as uvas comuns, que conhecemos hoje, como Isabel, Niágara, Bordô, dentre outras mais.
          Monsenhor Mendes era um grande conhecer da arte de fazer vinhos, já que veio um país, com tradição vinícola, Portugal.
          Iniciou os trabalhos, ensinando a cultura de subsistência e convenceu os moradores da cidade a plantar uvas, escolhendo as uvas americanas. Ensinou ainda a produzir vinhos. Ensinava as técnicas de plantio e cuidados com as videiras, sobre podas e épocas de colheitas, até o processo da pisa das uvas, a fermentação, o adequado armazenamento, até o engarrafamento final.
          Monsenhor Mendes conseguiu unir a cidade, transformando pequenos agricultores, sem esperanças de melhoras a curto e longo prazo, em viticultores, que são os que apenas plantam e colhem uvas e em vinicultores, que são aqueles que transformam a uva em vinho.
          Começava assim uma das mais antigas tradições vinícolas do Brasil, com a cidade de Catas Altas, produzindo vinhos de qualidade. Não demorou muito, e o vinhos de Catas Altas começaram a chamar a atenção dos mais finos paladares da época, já que o sabor, textura e qualidade da bebida catas-altense, era comparado aos tradicionais vinhos da cidade do Porto, cidade da região da Região Demarcada do Douro, no Norte de Portugal e com o vinho Xerez, da cidade de Xerez da Fronteira, na região de Andaluzia, na Espanha.
          A produção de vinhos em Catas Altas sofreu uma interrupção no final do século XIX, quando os parreirais da região foram atacados por pragas, prejudicando a produção de vinhos e a economia local. Para não ficarem sem trabalho e sem o sustento de suas famílias, surgiu a ideia, de usar a uma fruta abundante na região e nativa da Mata Atlântica, a jabuticaba, no lugar da uva, enquanto não se recuperava os vinhedos.
          Infelizmente, não há registro de quem foi a ideia e nem do primeiro produtor a fazer essa experiência na cidade. O que se sabe é que a iniciativa teve a adesão de boa parte dos produtores de vinhos, que buscavam alternativas de renda, até a recuperação total dos parreirais.
          Começaram então a fermentar o mosto da jabuticaba, da mesma forma que faziam com o mosto da uva, surgindo assim uma bebida com cor e textura diferentes do vinho tradicional, porém, muito saborosa, leve e suave. A novidade começou a se difundir pela região, bem como para fora das divisas de Minas, chamando inclusive a atenção do Jornal do Comércio, com sede no Rio de Janeiro.
          Entre 1888 e 1889, o jornal produziu uma série de reportagens sobre os diversos ramos da indústria nacional, da época, encerrando em fevereiro de 1889, a série. A reportagem final, com a manchete “Exposição de Açúcar e Vinhos”, destacava a história da produção de açúcar no Brasil e seus derivados como a rapadura e a cachaça, bem como a produção nacional de vinhos, dando destaque para a bebida de jabuticaba, feita em Catas Altas, até então, bebida desconhecida do brasileiro. Isso porque, naquele tempo, a jabuticaba era usada apenas na fabricação de geleia e licor, mas como vinho, era uma novidade, que chamou a atenção do jornal.
          Por isso o destaque aos vinhos de uva e à bebida mineira, feita a base da fermentação da jabuticaba. Em um dos trechos, o jornal enaltece as qualidades da bebida de jabuticaba de Catas Altas, ao destacar que “há um vinho de jabuticaba, de Catas Altas, de um gosto singular”.
          Com o passar do tempo e recuperação de seus vinhedos, a produção de vinhos em Catas Altas, começou a se recuperar e a se destacar novamente, recebendo, inclusive, premiações em exposições nacionais, no início do século XX. Com isso, a bebida feita com a jabuticaba foi, gradativamente, diminuindo, ficando a fruta restrita a produção de licores e geleias.
          Isso até o ano de 1949, quando a produção da bebida feita com jabuticaba voltou a ser produzida na cidade, por iniciativa de Anastácio de Souza, que resgatou a receita original do século XIX e a tradição da cidade em produzir a bebida fermentada de jabuticaba.
          A iniciativa começou a ganhar espaço nas propriedades da região, com muitos produtores de vinhos, se interessando em produzir também, a tradicional bebida. Aos poucos, foram substituindo o mosto da uva, pela fermentação do mosto da jabuticaba.
          Hoje, embora ainda exista a produção tradicional de vinho de uva em Catas Altas, a bebida fermentada de jabuticaba predomina no município, sendo uma das identidades gastronômicas de Catas Altas. Além disso, é uma das mais finas e deliciosas bebidas mineiras. Das adegas catas-altenses saem vinhos e bebidas fermentadas de jabuticaba, para todos os gostos, seja tinto, branco, suave, meio seco e seco e de qualidade. (na foto acima da Karla Jardim/@tripcatasaltas, o preparo do fermentado de jabuticaba da Adega Aluar, da Dona Jesuína)
          Vinhos, licores e fermentados de jabuticaba são produzidos por cerca de 30 produtores, organizados na Associação dos Produtores de Vinho, Agricultores Familiares e Outros Produtos Artesanais de Catas Altas (APROVART). É a entidade, em parceria com a Prefeitura e Comercio local que organiza, desde 2001, a Festa do Vinho de Catas Altas, sempre no mês de maio, com apresentação de 
rótulos de vinhos tradicionais de uva e a deliciosa bebida fermentada de jabuticaba. (na foto acima da Karla Jardim/@tripcatasaltas, a sede da entidade e abaixo, fermentados e vinhos de Catas Altas)
          Os rótulos mais tradicionais de vinhos de uva de Catas Altas são os da Adega Aluar e Discípulo. Já os fermentados de jabuticaba, são: Cantina Real, Dona Gercina, M.Silva, JT, Imperial, Borba, Pé de Serra, Oliveira e os fermentados das Adegas Discípulo e Aluar, que além de vinhos de uva, produzem fermentados, geleias e licores de jabuticabas.
          Os vinhos e a bebida de jabuticaba, são encontrados em Catas Altas nas adegas, presentes no Centro Histórico e também, na tradicional Feira Sabores do Morro, no distrito de Morro da Água Quente, ao lado da Capela do Bonfim, realizada no 2º domingo de cada mês, com Música ao vivo e vendas de quitandas, doces, vinhos, licores e artesanatos, feitos na cidade.
Como ir até Catas Altas
De carro: Pela BR-381 em direção à Vitória. Entrar à direita na MG 436 sentido Barão de Cocais. Passar o trevo de Barão de Cocais, após 9 km você estará em Santa Bárbara. Por mais 12 km na MG 129 chegará a Catas Altas. 
De ônibus: Viação Pássaro Verde que sai da rodoviária de BH até Santa Bárbara (em vários horários) ou até Catas Altas:
BH – Catas Altas: de segunda a sábado – às 17:15
Catas altas – BH – de segunda a domingo – às 7:30
(fotografia acima de Marley Melo, com o casario colonial da cidade e ao fundo, a Serra do Espinhaço)
De trem: Uma ótima opção é ir de trem. O trem Vitória Minas sai todos os dias da Praça da Estação em Belo Horizonte às 7:30 hs. Você pode descer na Estação de Barão de Cocais e de lá seguir até Catas Altas de táxi. Se quiser aproveitar mais, você pode conhecer a cidade de Barão de Cocais que é linda e pegar um ônibus até Santa Bárbara, outra cidade histórica maravilhosa. De Santa Bárbara você pode pegar um ônibus para Catas Altas.
          Catas Altas tem uma boa estrutura para receber os turistas, com restaurantes variados, várias pousadas aconchegantes e com boa estrutura de hospedagem, além da opção da hospedaria do Santuário do Caraça. (foto acima de Marley Mello)
Informações sobre as adegas, vinhos, restaurantes, pousadas, eventos anuais e city tour pelos pontos turísticos de Catas Altas, podem ser obtidas através do WhatsApp: 31 99740-1729 ou Instagram @tripcatasaltas, com a Guia de Turismo Karla Jardim.

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Facebook

Postagens populares

Seguidores