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quinta-feira, 15 de junho de 2023

Santo Antônio do Rio Abaixo: cidade turística e histórica

(Por Arnaldo Silva) Santo Antônio do Rio Abaixo é uma é uma típica cidade mineira, charmosa, turística e repleta de belezas naturais. Entre morros e serras, a pequena e acanhada cidade interiorana mineira., guarda um pouco da época do Ciclo do Ouro em sua história. Conta apenas com 1.808 habitantes, segundo o IBGE em 2022. Seu povo é de um coração enorme, caloroso e acolhedor. (na foto abaixo do Sérgio Mourão/@encantosdeminas, ponte secular sobre o Rio Santo Antônio e a cidade ao fundo.
Onde fica?
          O município faz parte da Bacia do Rio Doce e limita-se com Conceição do Mato Dentro, Morro do Pilar e São Sebastião do Rio Preto e está a 190 km de Belo Horizonte, com acesso pela MG-010, BR-381 e BR-120, na Região Central Mineira. 
          A cidade carrega o nome do Rio Santo Antônio, que banha a cidade. O acréscimo de “rio abaixo” é para diferenciar de Santo Antônio do Rio Acima. (foto acima de Sérgio Mourão/@encantosdeminas)
Como começou?
          A história de Santo Antônio do Rio Abaixo começa antes do Ciclo do Ouro, em 1695, com a chegada à região das Borba Gato. Encontraram ouro em abundância no Rio Santo Antônio, dando origem assim o povoamento da região por onde passava o rio. Duarte e Alvarenga, duas famílias bandeirantes portugueses, fixaram-se na região, às margens do Rio Santo Antônio, dando origem assim a formação do povoado que é hoje a cidade de Santo Antônio do Rio Abaixo. 
          Em 1787 o povoado contava com cerca de 400 habitantes. Em 1788 deu-se início a construção da Igreja de Santo Antônio. Foi elevado a vila e distrito subordinado a Conceição do Mato Dentro em 1875 e finalmente emancipado em 30 de dezembro de 1962.
O que fazer em Santo Antônio do Rio Abaixo?
          As águas do Rio Santo Antônio com suas cachoeiras, como do Cristal, Chuvisco e da Bahia, além das praias fluviais formadas pelo rio, são atrativos do município, bem como a matas nativas do Cerrado e de Mata Atlântica, serras e morros, como a Serra do Cristal.
          As águas do Rio Santo Antônio formam poços propícios para banhos como o Poço do Limão, um dos mais frequentados e as praias fluviais do Tabuleiro e dos Vieira, lugares que atraem grande número de moradores e visitantes, principalmente no verão. (foto acima de Sérgio Mourão/@encantosdeminas, a Praia do Limão)
          Além disso, tem o Balneário Benedito Martins Leite, um dos principais atrativos, não só da cidade, mas da região. É uma praia fluvial com ótima estrutura com área de camping, banheiro, água e luz, além de matas nativas, ciliares e grutas submersas. Um lugar imperdível! (na foto acima de Sérgio Mourão/@encantosdeminas)
          Já no perímetro urbano, a Matriz de Santo Antônio é um dos principais atrativos e por onde iniciou a história da cidade. 
          Em estilo colonial, é um dos mais belos exemplares da arte barroca de Minas Gerais do século XVIII e XIX. (a Matriz, na foto acima e abaixo do Sérgio Mourão/@encantosdeminas)
          Outro atrativo de grande impacto e beleza arquitetônica é a ponte sobre o Rio Santo Antônio, construída no início do século XX, um dos cartões-postais da cidade que mostra a beleza da arquitetura eclética e clássica do início do século passado.
          Além disso, o visitante tem ainda como atrativos a Praça Alcino Quintão, Praça Joaquim Coelho de Souza, a beleza do artesanato local e várias fazendas seculares e preservadas (na foto acima, de Sérgio Mourão/@encantosdeminas, uma das várias fazendas do município).
          Santo Antônio do Rio Abaixo é uma cidade bem estruturada, calma, povo tranquilo, com boa estrutura urbana. Conta com aconchegantes hotéis e pousadas, além de restaurantes com comidas típicas e quitandas tradicionais mineiras e cachaça. Seu pequeno comércio é familiar e variado. (foto acima do Sérgio Mourão/@encantosdeminas, algumas quitandas da cidade)
          É uma típica cidade interiorana mineira do século XVIII que sobreviveu à modernidade, preservando suas tradições religiosas, folclóricas e parte de sua história arquitetônica.

terça-feira, 6 de junho de 2023

As 10 cidades mais pobres de Minas

(Por Arnaldo Silva) Dados do Mapa da Riqueza do Brasil, feitos pelo Centro de politicas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Social), mostra os estados e municípios mais ricos do Brasil, do mais rico ao mais pobre município de cada estado.
          Em Minas Gerais, o estado com maior número de municípios do país, 853, as diferenças entre cidades ricas e pobres, são gritantes e altamente desiguais, como em todos os outros estados brasileiros.
          Segundo o Banco Mundial, o Brasil ocupa a nona posição no ranking mundial dos países desiguais no mundo. As desigualdades sociais se caracteriza por uma maior concentração de renda e riquezas nas mãos de uma pequena parcela, enquanto a absoluta maioria da população, vive em situação totalmente oposta e extremamente desigual.
          Isso se reflete nos municípios. Quando a renda da população é baixa, a arrecadação do município é também baixa, ocasionando poucos investimentos em melhoria das infraestruturas básicas como saúde, educação, moradia, emprego, saneamento básico, coleta de água e esgoto tratados., etc.
          A maioria desses municípios mineiros de menor renda, tem menos de 15 mil habitantes e tem na agricultura familiar e pequenos comércios a base de sua economia
          As regiões Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, concentra os municípios de menor renda. Já as outras regiões, principalmente Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Região Central, onde está o Quadrilátero Ferrífero, a Zona da Mata, Triângulo Mineiro, Vale do Rio Doce/Vale do Aço, Alto Paranaíba, Vale do Mucuri, Campo das Vertentes, Noroeste de Minas, Sul e Sudoeste de Minas, Oeste e Centro-Oeste de Minas, são as que tradicionalmente apresentam maior maior distribuição de renda.
          Para calcular a média de renda mensal per capita por pessoa, a base do cálculo foi a declaração do Imposto de Renda de 2021, declarado em 2022, gerados pela Receita Federal.
          Os dados foram divulgados no início de 2023. O valor total declarado do Imposto de Renda é dividido pelo número de habitantes do município, tendo assim a média de renda de cada morador. Além disso, serviu como base para o cálculo pesquisas e estudos normais que a Fundação Getúlio Vargas faz anualmente sobre pobreza e desigualdade social brasileira.
          Isso não significa que todo morador dessas cidades tenham essa renda mensal, já que uma parcela significativa da população é isenta de declaração de Imposto de Renda. Mas com certeza nos dá uma amostra clara do poder aquisitivo de cada brasileiro, bem como da desigualdade na distribuição de renda no país. (na foto acima do Duva Brunelli, coreto em Fruta de Leite)
          Para se ter ideia, basta comparar a renda média per capita da cidade mais rica de Minas Gerais, além de ser a cidade de maior concentração de riqueza por m² do Brasil, que é Nova Lima.
          A cidade da Grande Belo Horizonte conta com 111.697 habitantes, segundo o IBGE, em 2022. A renda perca pita, por morador de Nova Lima MG é de R$8.897,00, de acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas, com base na declaração de Imposto de Renda à Receita Federal em 2021.
          Já a primeira cidade mineira no ranking das mais pobres, de acordo com os dados da pesquisa do Centro de politicas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Social) é a cidade de Verdelândia, no Norte de Minas. A renda média per capita, por pessoa de Verdelândia foi calculado em R$62,00. (na foto acima de @julio_defreitas, noturna de Nova Lima, a cidade mais rica de Minas, segundo a FGV e abaixo de Wesley Rodrigues a BR-401, em Verdelândia)
          Comparando-se com a renda per capita por pessoa de Nova Lima MG com a de Verdelândia, percebemos o tamanho da desigualdade social brasileira e mineira. É estratosférica!
Isso em Minas Gerais, um dos três estados mais ricos e industrializados da Federação.
          Dos 10 municípios mais pobres de Minas Gerais, um está no Vale do Jequitinhonha e os outros nove, no Norte de Minas. São cidades com menos de 15 mil habitantes com economia a base da agricultura familiar.
Segue a lista dos municípios mais pobres de Minas
- 1° - Verdelândia 
Renda média por pessoa de R$62,00
          Com 7.662 habitantes em 2022, está localizada na Região Norte de Minas, distante 570 km de Belo Horizonte. A produção agropecuária é sua base econômica, com destaque para a pecuária leiteira, de corte, cultivo de banana e agricultura familiar. Conta ainda com um pequeno comércio e pequenas empresas familiares.
- 2° - São João do Pacuí 
Renda média por pessoa de R$78,15
          A cidade fica no Norte de Minas, conta com 3.971 habitantes, em 2022, segundo o IBGE e está a 500 km distante de Belo Horizonte. A base de sua econômica é a agricultura familiar, pequenos comércios e empresas familiares. O turismo é outra fonte de renda, já que o município guarda tesouros arqueológicos pré-históricos em grutas e paredões.
- 3° - Monte Formoso 
Renda média por pessoa de R$81,28
          Distante 608 km de Belo Horizonte, Monte Formoso, com 4.3811 habitantes em 2022, segundo o IBGE, está situada no Vale do Jequitinhonha e é a única dessa região entre as 10 cidades mais pobres de Minas. Sua economia se baseia em pequenos comércios e na agricultura familiar.
- 4° - Cônego Marinho 
Renda média por pessoa de R$86,68
          Situada no Norte de Minas, a cidade conta com 7.237 habitantes, segundo o IBGE em 2022. Está a 634 km de Belo Horizonte. A base de sua economia é a agricultura familiar, a cachaça, pequenos comércios e o artesanato de barro.
- 5° - Matias Cardoso 
Renda média por pessoa de R$87,48
          Matias Cardoso, no extremo Norte de Minas, foi a primeira povoação surgida em Minas Gerais, em 1660 e também é onde foi erguida a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, entre 1670 e 1673, a primeira igreja de Minas Gerais. A cidade está a 683 km de Belo Horizonte. (na foto acima de Manoel Freitas, a Praça da Matriz de N. S. da Conceição, a primogênita de Minas)
          Com uma população de 8.895 habitantes, em 2022, segundo o IBGE, tem em sua economia o turismo, por sua história e ainda o artesanato, pequenos comércios, a agricultura familiar e a pesca, já que é banhada pelo Rio São Francisco.
- 6° - Fruta de Leite 
Renda média por pessoa de R$87,60
          Com 4.647 habitantes, em 2022, segundo o IBGE, Fruta de Leite é uma cidade do Norte de Minas, distante 613 km da capital. A cidade tem no setor de prestação de serviços, pequenos comércios e agropecuária, a base de sua economia. Seu curioso nome tem origem em um arbusto que produz uma frutinha tradicional na região, de sabor adocicado e da cor do leite, quando madura. Por isso o nome da fruta e da cidade.
- 7° - Pedras de Maria da Cruz 
Renda média por pessoa de R$86,66
          Em 2022, segundo o IBGE, Pedras de Maria da Cruz, no Norte de Minas, distante 568 km da capital, contava com 10.452 habitantes. A economia da cidade é essencialmente rural, com destaque para a agricultura familiar, pecuária leiteira e de corte, além de comércios familiares e setor de serviços, se destaca no turismo, que vem crescendo a cada ano.
          Um dos atrativos turístico do município é a capela da Imaculada Conceição, construída por uma personagem importante para a história da cidade, Maria da Cruz e seus escravos, no século XIX. Está localizada na parte baixa da cidade. Além disso, conta com outros atrativos como o Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu, o Parque Estadual da Lagoa do Cajueiro e o Rio São Francisco.
- 8° - Pintópolis 
Renda média por pessoa de R$88,89
          A cidade fundada pela família de Germano Pinto, está situada no Norte de Minas, a 705 km distante de Belo Horizonte. Em Pintópolis vivem 7.084 habitantes, estimados pelo IBGE em 2022. Sua economia tem como base a pecuária de leite e de corte, agricultura de subsistência, extração de carvão vegetal e o turismo, já que o município está inserido na área do Parque Nacional Grande Sertão Vereadas.
- 9° - Mamonas 
Renda média por pessoa de R$89,02
          Na cidade do Norte de Minas vivem 5.997 pessoas, segundo dados estimados pelo IBGE, em 2022. Mamonas está a 683 km distante de Belo Horizonte, sendo considerada a Capital Mineira do Forró.
          No mês de junho, as festas juninas, em especial as festas de São João e as barraquinhas de Santo Antônio, movimentam a economia da cidade, atrai turistas de todas as regiões de Minas, além de receber turistas de todo o Brasil. O forró é umas das maiores identidades culturais da cidade. Além disso, sua economia tem ainda como base a agricultura familiar e também na cachaça, famosíssima na região.
- 10° - Santo Antônio do Retiro
Renda média por pessoa de R$90,29
          Segundo o IBGE, em 2022, Santo Antônio do Retiro, no Norte de Minas, contava com 6.629 habitantes. A base de sua economia é a agricultura, a pecuária de leite e corte, o setor de prestação de serviços e em menor escola, pequenas industrias e comércios.
          Além disso, o turismo ecológico vem crescendo devido as belas naturais exuberantes do município em especial Floresta Nacional Pequizeiros de São Joaquim, as reservas biológicas do Capão, Rucão, Palmital, Cana Brava e Da Mata e as espetaculares paisagens do Parque Ecológico Cultural Serra do Sucuruiu, formado por riquíssima fauna e flora, nascentes, rios, cachoeiras, sítios históricos e trilhas diversas.
Pobreza? Nem tanto.
          Como citado no início, a lista tem como base pesquisas sobre desigualdades sociais feitas pela Fundação Getúlio Vargas e declaração de Imposto de Renda, que dividindo com o número de habitantes, dá essa essa renda média. Mas isso não quer dizer que seja a essa a renda mensal de cada morador. (na foto acima do Manoel Freitas, o Rio São Francisco em Matias Cardoso MG, rio que leva água, vida, fertiliza a terra e gera renda e empregos no Norte de Minas)
          As 10 cidades citadas, embora não sejam ricas, de fato, não são pobres de fato, muito pelo contrário, tem suas riquezas, suas belezas, suas tradições, seu povo bom, hospitaleiro e trabalhador e claro, tem seus atrativos. 
          Carecem sim de mais investimentos do Governo para que possam melhorar a qualidade de vida de seus moradores e essas pesquisam tem essa função, orientar os governos estaduais e federal nas prioridades de investimentos e criação de políticas públicas de desenvolvimento social.
          
No site da Fundação Getúlio Vargas (https://cps.fgv.br/riqueza), estão disponíveis os dados completos do Mapa da Riqueza dos estados e de todos os municípios do Brasil.
          Temos reportagem anterior sobre as 15 melhores cidades de Minas para se viver, consideradas as mais ricas entre os 853 municípios mineiros.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Receita de Rosca de Queijo da Canastra

Receita típica da Serra da Canastra em Minas
INGREDIENTES
. 4 copos (americanos) de leite integral
. 3 ovos caipira
. 1 copo (americano) de óleo
. 1 copo (americano) de açúcar
. 2 envelopes de fermento para pão
. 1 pitada de sal
. Farinha de trigo até o ponto de enrolar
RECHEIO: 350 gramas de queijo original Canastra, meia cura ralado fino e 1 copo americano, não muito cheio, de açúcar
MODO DE PREPARO
- Misture o queijo com o açúcar e reserve. É o recheio
- Em uma vasilha, coloque o leite, o sal, os ovos, o óleo, o açúcar e o fermento e misture até se encorparem bem.
- Vá acrescentando a farinha de trigo aos poucos, até estar no ponto de sovar.
- No ponto, comece a sovar e sove bastante.
- Cubra a massa, deixe descansando por 45 minutos
- Após esse tempo, comece a fazer os moldes.
- Pegue um punhado da massa, coloque sobre uma bancada, faça um molde em formato de pão e com uma faca, faça um corte no meio da massa e com as mãos, abra o meio do molde.
- Em seguida, com faca, faça cortes no meio, como vê na foto acima, aperte as pontas, de acordo com o que vê na foto.
- Coloque as roscas numa fôrma, espalhe o recheio que reservou no meio da maça, cubra e deixe descansando por mais 45 minutos.
- Após esse tempo, leve ao forno pré-aquecido a 180° de deixe assando até começar a dourar.
- Desligue espere esfriar e sirva. Elas vão ficar assim, como vê na foto acima. Uma rosca deliciosa, tradicional na Serra da Canastra e ótima para o café da manhã e da tarde.
Receita e fotografias fornecida pela Márcia Freitas de Vargem Bonita MG

terça-feira, 30 de maio de 2023

Alemães em Bom Despacho MG: os imigrantes da colônia

(Por Arnaldo Silva) A partir do início do século XX, a Alemanha já era um dos países mais industrializados do mundo. Os alemães detinham conhecimentos de ponta e mãos de obra especializada em metalurgia, siderurgia, fundição, hidrelétricas, ferrovias, engenharia, dentre outros segmentos industriais, além de práticas modernas de agricultura.
          Nesta mesma época, Minas Gerais, bem como o Brasil estava começando a engatinhar na industrialização. Sem domínio no conhecimento e sem mão de obra qualificada, os empresários e produtores rurais da época buscavam atrair europeus, principalmente ingleses e alemães para o Brasil, em parceria com os governos estaduais. Na foto acima, colonos em dia de festa na Colônia Davi Campista. Imagem cedida pelo William Araújo/Bar do Tonhão e tratada e colorizada por Rogério Salgado)
          Com esse objetivo, o país abriu suas portas para os imigrantes alemães, principalmente nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, após a guerra e nos anos que antecederam a Segunda Guerra.
          Diante da queda do poder aquisitivo causado pelos conflitos que assolava a Europa, centenas de milhares de famílias de praticamente, principalmente da Alemanha, não viram outra opção senão deixarem sua terra natal. Vieram para as Américas e o Brasil foi um dos principais destinos, principalmente de italianos e alemães.
Para onde iam?
          Minas Gerais começou a receber um grande número de imigrantes alemães, a partir de 1900. Chegavam de navios no Porto de Santos ou no porto de Ilha das Flores no Rio de Janeiro, passavam por uma quarentena e em seguida, eram encaminhados às colônias já existentes, de acordo com os critérios de cada estado. No caso de Minas Gerais, para a capital, recém-fundada, a Zona da Mata, Sul de Minas e Vale do Mucuri.
          Os imigrantes não escolhiam seus destinos, até porque não conheciam praticamente nada do Brasil. Eram escolhidos de acordo com suas qualificações profissionais e necessidades de cada estado. A imagem acima fornecida pelo William Araújo/Bar do Tonhão e tratada por Rogério Salgado, mostra as filhas filhas de colonos alemães de Bom Despacho.
Por que para Bom Despacho?
          Artur Bernardes, na época presidente do Estado de Minas (governador de 1918 a 1922), percebeu a necessidade de expandir a indústria para outras o Centro-Oeste Mineiro e também implantar o sistema de desenvolvimento das pequenas propriedades na Europa, implantado com sucesso no Sul do país. 
          Com esse objetivo, foram criadas duas colônias agrícolas na cidade de Bom Despacho, no Centro-Oeste de Minas, em 1921 e 1922. Embora a maioria dos imigrantes que vieram para Bom Despacho trabalhassem no setor industrial, tinham origem agrária e conhecimentos em técnicas agrícolas passados por seus antepassados. Isso bastava para o Governo.
           A partir de 1910 começou a ser construída a Estrada de Ferro Paracatu, entrando em operação em 1922. Bom Despacho contava na época com uma grande oficina ferroviária, vila operária e escritório. Acredita-se que nessa época, existia cerca de 5 mil pessoas trabalhando em Bom Despacho na ferrovia.
          Nesta mesma época, projetos para a instalação de uma companhia têxtil, usina hidrelétrica e siderúrgica começou a se desenvolver na cidade. Foi nesse cenário que a imigração alemã se fez necessária.
          Eram os alemães os detentores de conhecimentos e tecnologias nessas áreas, por isso a opção de Artur Bernardes em criar colônias de imigrantes alemães na cidade. 
          Na imagem acima, que fiz em Lagoa da Prata a 50 km de Bom Despacho, mostra uma ponte da linha férrea sobre o Rio São Francisco. Construída para ligar Lagoa da Prata a Luz,  foi feita sob medida e para isso, um engenheiro alemão veio à cidade apenas para fazer as medidas. Foi toda feita na Alemanha e trazida de navio até o porto do Rio de Janeiro, de lá de trem até Lagoa da Prata e seguiu em carros de bois até esse local, para ser montada. Tem 75 metros de extensão e 3,5 metros de largura. A obra contou com mão de obra local e também de colonos alemães que viviam em Bom Despacho, tinham experiência nessa área. Foi inaugurada em 1925.
Recebiam tudo de graça?
          Saindo de uma Europa arrasada pela Primeira Guerra Mundial e mergulhada numa crise econômica sem precedentes, os imigrantes chegavam com poucos pertences ou até mesmo, somente com a roupa do corpo.
          O governo sabia disso e tudo era planejado. Sabiam quantas famílias viriam, o número de pessoas de cada família e se preparavam para recebê-los, construindo nas futuras colônias, toda estrutura básica necessária. Cada família recebia uma gleba com uma casa com mobiliário básico, ferramentas, vasilhames domésticos e até roupas e alimentos.
          No caso de Bom Despacho, nas duas colônias criadas, o Governo construiu casas no estilo colonial mineiro, não no estilo enxaimel alemão ou mesmo, reformando casas que já existiam na propriedade e construindo outras para abrigar as famílias. Acima, uma foto de casa de colono alemão na Colônia Davi Campista, nova e atrás, outra casa, já antiga, colorizada por Rogério Salgado.
          A Colônia contava com um casarão sede onde residia a família responsável pelo contato direto com o Governo e comunidade local, além de ficarem responsáveis por recolher uma parte do que era produzido na colônia para o Governo.
          Isso porque tudo o que recebiam não era de graça, tinham que pagar. Cada família assinava um termo se comprometendo a dar 20% de toda sua produção agrícola para o Governo, para pagar a gleba que recebiam. Quando a colônia concluísse o pagamento, era emancipada e os colonos se tornavam donos definitivos dos terrenos.
          Além disso, os colonos construíam igrejas ou pelo menos um espaço reservado para celebrações dos cultos luteranos e um cemitério para enterrar seus mortos. Em cada colônia tinha uma escola mista, criadas na época pelo próprio Governo, através do decreto n°5.652 de 24 de maio de 1921.
          As reuniões e confraternizações da colônia era no terreiro do casarão sede. Era comum as famílias da colônia se reunirem. Levarem em cestos pratos típicos alemães e colocavam tudo em mesas improvisadas. Todos comiam, dançavam, cantava músicas típicas da Alemanha.
          Era o café colonial, uma criação alemã para encontros da comunidade e matarem saudades das tradições e culinária alemã. Por isso o nome, café colonial, por ter origem nos colonos.
Visita de pastores luteranos
          Entre 1920 a 1946, as duas colônias bom-despachenses recebiam visitas de vários pastores luteranos de Belo Horizonte e Juiz de Fora MG. Não havia pastores nas colônias de Bom Despacho, mas os alemães conservavam sua religiosidade fazendo cultos semanais nos casarões sede das colônias
          A Igreja Luterana tem origem na Reforma Protestante, movimento religioso liderado pelo ex monge alemão, Martinho Lutero no século XVI. Em suas 95 teses, fixadas na porta de uma igreja Católica na Alemanha, Lutero protestava contra os abusos do clero católico, principalmente na venda de indulgências e controle total da sociedade. O luteranismo defende a salvação pela fé e seus seguidores são chamados de protestantes ou luteranos.
Despedida de Artur Bernardes
          Em 1922, Artur Bernardes foi eleito presidente da República. Em seu discurso de despedida como governador, em 14/6/1922, citou as colônias criadas em seu governo, deixando essa mensagem: "Deixo assim fundadas mais quatro grandes colônias, Álvaro da Silveira, David Campista, Bueno Brandão e Francisco Sá, situadas em pontos perfeitamente salubres e favorecidas pela proximidade de estradas de ferro (...) As casas, em todas essas colônias, são construídas de tijolos, assoalhadas e dotadas de instalações sanitárias, de conformidade com o plano adotado pela Diretoria de Higiene e Profilaxia, que, além disso, mantém em Álvaro da Silveira um posto médico para combater as verminoses e o impaludismo"
A Colônia Álvaro da Silveira
          A primeira colônia criada por Artur Bernardes foi a Colônia Álvaro da Silveira. O nome é em homenagem a Álvaro Astolfo da Silveira, engenheiro, professor, um dos fundadores da Escola de Engenharia de Belo Horizonte em 1912, membro da Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e da Academia Mineira de Letras.
          A colônia foi criada através do decreto n°5297 de 14 de fevereiro de 1920, emancipada também através de decreto sob o n° 10.148 de 5 de dezembro de 1931. 14 de fevereiro de 1920 é o marco histórico do início da presença alemã em Bom Despacho MG.
          A colônia ficava em terras da fazenda Capão a 13 km de Bom Despacho, entre as duas margens do Rio Lambari, entre Bom Despacho e Leandro Ferreira, na época, distrito de Pitangui MG.
          Nessa época, estava em contrição a estação Álvaro da Silveira, concluída em 1921, com a linha de trem seguindo até a estação da sede, Bom Despacho. 
          Alguns km após a estação, uma ponte férrea sobre o Rio Lambari, ligava os municípios de Bom Despacho a Leandro Ferreira, bem como os imigrantes que viviam na outra margem do Rio Lambari, no outro lado da ponte. Na foto acima podem ver a ponte férrea sobre o Rio Lambari. Fotografei do lado de Bom Despacho, onde ficava a maior parte da colônia. Atravessando a ponte, já é Leandro Ferreira, onde ficava algumas famílias de colonos. 
          A área da colônia era de 4.289 hectares divididos em 179 glebas, sendo 102 ocupadas de imediato pelas famílias e 72 reservadas para futuras famílias que poderiam chegar. 328 hectares eram usados para a agricultura. Plantavam milho, arroz, feijão, mandioca, cana-de-açúcar, café, algodão e hortaliças. 72 hectares eram destinados para a pecuária leiteira e de corte. Outra parte de matas nativas, área de estradas de rodagem.
          Na colônia foram construídas 182 casas definitivas e mais 15 provisórias, para abrigar os imigrantes, o que daria 197 casas. Mas nem todas foram ocupadas de imediato, já que algumas famílias foram chegando ao longo dos anos, principalmente a partir da década de 1930, com o iminente início da Segunda Guerra Mundial.
          Com muito trabalho, os alemães foram melhoraram a infraestrutura da colônia, construindo engenhos, olarias, adquirindo veículos, animais de tração, melhorando as casas e o mobiliário. Como plantavam algodão, faziam também suas próprias roupas. Andavam sempre bem vestidos e elegantes como podem ver na imagem acima restaurada e colorizada pelo Rogério Salgado, o casal Erhardt Hanke e Eva Müller, em 1928, se preparando para irem a um casamento em Bom Despacho de cavalo. Foto do acervo pessoal do filho do casal, Fred Hanke.
Quantos colonos vieram para Álvaro da Silveira?
          Não há registros exato de todas as famílias de colonos de Álvaro da Silveira e nem de quantos membros cada família continha. Quando chegaram, foram entregues 102 glebas às famílias, mas não isso não significa que tenha sido uma gleba para cada uma das famílias, já que famílias maiores ou com mais condições, adquiriram mais glebas.
          Em 1929, foram contados 75 famílias na colônia, com 444 pessoas. Com o passar dos anos, imigrantes foram falecendo, outros formando novas famílias, tendo filhos.
Como se chamavam?
          Com base nos registros de nascimentos, casamentos e óbitos nos cartórios de Bom Despacho e Leandro Ferreira, os sobrenomes de famílias de colonos que viviam em Álvaro da Silveira eram: Anuth, Bartels, Bergerhoff, Bergmann, Berkert, Bobbia, Bokermann, Darge, Darmstädter, Denecke, Egen, Ehlert, Engemann, Escher, Fahner, Falkenburg, Frei Fronzeck, Fröseler, Gendorf, Gimpel, Gölz, Gottschalg, Gurgel, Guy, Hammerich, Hanke, Henrig, Honeker, HungerIsliker, Patria, Jensen, Jung, Kargl, Kling, Klitske, Knischewski, Kohnert, Korell, Koslowski, Köster, Krawzyk, Kresse, Kunert, Kunzler, Ledandeck, Ludgen, Ludwig, Lütkenhaus, Mangels, Mossler, Motskus, Müler, Müllerchen, Niegetrat, Nowasyk, Overlander, Paniz, Primus, Rabe, Reiferscheid, Richter, Roedel, Schierm, Schmidt, Steinbreche,r Tegeler, Tentz, Wagner, Walder, Weiser, Weller, Widmer, Winterink e Zuber.
          Essas famílias eram de predominância alemã, mas na Colônia Álvaro da Silveira havia famílias vindas da Holanda, Áustria e Suíça.
O fim da colônia
          Quando quitavam seus débitos com o Governo algumas famílias que viviam nesta colônia começaram a vender suas glebas e deixaram a colônia, indo para Bom Despacho ou mesmo outras cidades do Brasil. Após a Segunda Guerra, uma boa parte retornou para a Alemanha.
          Em suas casas passaram a viver trabalhadores de fazendas ou mesmo, os que compravam as glebas dos alemães. A sede da fazenda foi demolida, restando hoje apenas os alicerces no meio do mato. A última família alemã a deixar a colônia foi a família Primus. Ou seja, onde era a antiga colônia, não existe mais nenhuma família de colonos.
          O cemitério dos alemães já não tem mais cerca e foi tomado pelo mato, se misturando ao pasto para o gado. A estação e o armazém ainda estão de pé, mas em ruínas, como podem ver na foto acima, devido a depredação, já que é um local onde tem muitos pescadores e muita gente frequenta para passeios ou descanso na praia fluvial do Rio Lambari. Os trilhos não existem, apenas a ponte que passava o trem.
          A história dos imigrantes alemães em Álvaro da Silveira se encerrou assim de forma melancólica. Na imagem acima podemos ver onde era a colônia. A história dos colonos foi coberta pelo mato e praticamente esquecida com o passar dos anos.
          Antes cheio de vida e de gente que trabalhava muito, deu lugar ao nada, ao vazio, ao silêncio, ao abandono. Restou apenas as sepulturas dos alemães para contar história e as ruínas do antigo armazém. Uma história desconhecida, até mesmo para quem é de Bom Despacho.
A Colônia Davi Campista
          A segunda colônia de alemães criada em Bom Despacho foi a Colônia Davi Campista. Eram inicialmente 274 imigrantes, em sua maioria, alemães. Na colônia foram construídas 50 moradias, recebê-los, além do casarão sede, uma construção do século XIX, que já existia na propriedade.
O casarão sede
          As paredes eram calhadas em branco e portas e janelas pintadas em verde. Toda sua estrutura, vigas, escadarias, pisos, portas e janelas são em madeira maciça. Ao longo do XX passou por reformas no telhado e troca das paredes. A parte superior em pau-a-pique deu lugar a tijolos de cerâmica e na inferior, a parede em pau-a-pique foi substituída por concreto, como podem ver na fotografia abaixo, de como está hoje. Na foto acima, a mesma foto nas cores originais, colorizada pelo Rogério Salgado.
          O casarão foi construído no início do século XIX. É um dos patrimônios da cidade. Construção típica mineira, com cômodos enormes, possui dois andares, em pau-a-pique. Na parte superior ficava os quartos, banheiros e sala de circulação. Na parte inferior, cozinha ampla e uma salão enorme. Em redor do casarão, pomar, as ruínas da usina geradora de energia elétrica para o casarão, na foto acima, curral, um barracão de dispensa com forno de barro e uma tulha, como podem ver na foto abaixo.
Qual o nome dos colonos?
          Segundo registros de casamentos, óbitos e nascimentos nos cartórios de Bom Despacho, podemos encontrar sobrenomes de algumas das famílias da Colônia Davi Campista: Berger, Bock, Brack, Breitenbaum, Brulhardt, Butschkau, Eckert, Eppenstein, Evers, Feistel, Fischer, Gerards Hahn, Janson, Karst, Kaulich, Katthagen, Kettrup, Klein, Klezewsky, Klimaschevski, Korell, Lotze, Michalski, Peifer, Polatschek, Reimer, Röppe, Schneidereit, Seidler, Westermann, Zellin.
          Não são todos, mas a maioria. Entre as famílias que viviam na Colônia Davi Campista, tinha também famílias vindas da Hungria, Polônia, Áustria e Suíça, com predominância de alemães..
A Colônia
          O nome da colônia homenageia o diplomata e político brasileiro David Morethson Campista. Foi criada em 5 de fevereiro de 1921, pelo decreto n° 5.560 de 5 de fevereiro de 1921 e emancipada pelo decreto n° 2.264 em 26 de julho de 1946. A colônia foi instalada em terras da fazenda Cachoeira do Picão, a 5 km do perímetro urbano da cidade e ocupava uma área de 1.320 hectares.
Cemitério
          Como em Álvaro da Silveira, a Colônia Davi Campista contava com um cemitério, construído pelos próprios alemães. Em igualdade está o abandono e o mato que toma conta do local, esquecido pelo poder público. A única diferença entre o cemitério de Álvaro da Silveira, é que o da Colônia Davi Campista está cercado por muros de placas de concreto e na frente um portão em ferro fundido e um pórtico, onde está escrito: “Imigrantes da Colônia”, como podem ver na foto acima.
          Nesse cemitério estão sepultados 21 colonos, sendo alguns da Colônia Álvaro da Silveira. Nas sepulturas encontramos cruzes com o nome de cada um e alguns túmulos revestidos com cerâmicas e circulado por tijolos, como podem ver acima e abaixo.
          Sãos esses os sobrenomes dos colonos sepultados no cemitério da Colônia: Berger, Brack, Kettrup, Klezewsky, Kohnert, Korell, Michalski, Primus, Schneidereit, Seidler, Westermann, Zellin.
Legado para a história
          Enquanto na Colônia Álvaro da Silveira, restam apenas para contar a história dos colonos alemães em Bom Despacho um cemitério tomado pelo mato e as ruínas do antigo armazém, na Colônia Davi Campista, boa parte da presença dos imigrantes alemães em Bom Despacho ainda está preservada
          Netos e bisnetos diretos dos imigrantes alemães ainda vivem em Bom Despacho e alguns mantém as propriedades de suas famílias, preservando um pouco da história de seus antepassados.
          O casarão que foi sede da Colônia Davi Campista está de pé e o proprietário atual está restaurando o imóvel, preservando assim um acervo histórico de Bom Despacho.
          As ruínas da pequena usina hidrelétrica do casarão ainda existe, a tulha, o fogão a lenha e o de barro, o pomar com árvores frutíferas centenárias, o terreiro em frente ao casarão onde eram realizados os cafés coloniais e festividades também. As antigas casas dos colonos foram reformadas ou reconstruídas pelos novos proprietários. Mesmos reformados ou reconstruídas, contam um pouco da história dos imigrantes alemães em Bom Despacho.
          Não só isso, na cidade, alguns colonos dão nome a ruas e uma praça, que eu mesmo idealizei, chamada de Praça Germânica, situada no bairro São Vicente, mas ainda não urbanizada.
          Os alemães que vieram para Bom Despacho tem a gratidão do povo bom-despachense pela contribuição que deram para o desenvolvimento da agricultura e indústria da cidade bem como uma enorme contribuição social. Foto acima do Wesley Rodrigues.
          Os alemães fazem parte da história de Bom Despacho, cidade com origens no século XVIII, com quase 300 anos de existência.

segunda-feira, 29 de maio de 2023

As colônias de imigrantes alemães em Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Vivendo num continente instável politicamente, com guerras e conflitos constantes, além da instabilidade econômica que a Europa passava no século XIX e principalmente nas primeiras décadas do século XX, devido a Primeira e Segunda Guerra Mundial, o Brasil se tornou um local de refúgio e segurança para dezenas de milhares de famílias de vários países europeus, principalmente a Alemanha, país arrasado pela duas grandes guerras mundiais.
          A partir de 1824, no início do período Imperial de Dom Pedro I, imigrantes alemães começaram a desembarcar no Brasil, sendo assentados inicialmente em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, dando origem assim a primeira colônia alemã no Brasil.
          A partir da segunda metade do século XIX, começaram a vir imigrantes em maior número, devido o crescimento da economia brasileira e ainda com a iminência do fim do regime escravagista, havendo assim necessidade de mão de obra. (na foto acima a Cervejaria Kraemerbier, fabricante da cerveja Kraemerfass, fundada pela família Kraemer, instalada em Delfim Moreira, Sul de Minas. A família Kraemer tem origens na Normandia e viviam em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde produziam cervejas artesanais desde 1900, uma parte da família migrou-se Minas, na Serra da Mantiqueira, em Delfim Moreira. Foto: Cervejaria Kraemerbier/Divulgação)
          Mais ainda, devido política de modernização implantada pelo Imperador Dom Pedro II. Isso porque que o Brasil carecia de investimentos na sua iniciante indústria e abertura e construção de ferrovias. Uma das metas de Dom Pedro II era planejava ligar todas as províncias brasileiras por trilhos e estradas. Para isso, carecia de mão de obra qualificada.
          Baseado nessa visão, politicas de incentivos para facilitar a imigração, principalmente de ingleses e alemães para o Brasil eram de grande importância. Inglaterra e Alemanha eram os países mais desenvolvidos no século XIX e início do século XX. Alemães e ingleses dispunham da mais alta tecnologia na época na mineração, fundição, construção de locomotivas, trilhos, na metalurgia e siderurgia.
          Para o governo na época, a presença desses povos era de grande importância para o desenvolvimento agrário e principalmente industrial do Brasil, além de acelerar o povoamento de regiões brasileiras pouco ocupadas. (na foto acima do Wellington Diniz, fachada da Vila Germânica em Monte Verde, Sul de Minas)
          A concentração de imigrantes teve como prioridade o Sul do Brasil, devido essa região ter terras férteis e por ser a menos populosa do país na época, além de cidades do interior de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, no Sudeste, que careciam de povoamento imediato naqueles tempos.
A imigração alemã para Minas Gerais
          No século XVIII e XIX, o povoamento e crescimento de Minas Gerais foi rápido, devido o Ciclo do Ouro, que fez com que viessem para Minas um grande número de brasileiros de todas as regiões do país, em busca da riqueza que a mineração, principalmente o ouro, gerava. Mesmo com o fim do Ciclo do Ouro, iniciou-se o Ciclo do Café e a migração continuou.(na foto acima de Arnaldo Silva, detalhes da arquitetura alemã, do Roda D´Água, complexo formado por restaurante, posto de gasolina, fonte de água mineral, cafeteria e lanchonete na BR-262, km 382, em Juatuba MG, Centro-Oeste de Minas, fundado por Olga Ullmann.)
          As riquezas minerais, água e terras férteis em abundância, expansão da malha ferroviária, instalação de companhias têxteis e construção de usinas hidrelétrica, atraía famílias, inclusive os imigrantes que vieram para o Brasil no século XIX e seus descendentes. Entre es esses imigrantes, estavam os colonos alemães e italianos, que vieram em grande número para Minas Gerais.
Migração ou imigração alemã?
          Na verdade a formação de comunidades e colônias de alemães em Minas Gerais não se deu inicialmente por política do Governo, que incentiva a imigração, dava incentivos fiscais, terras, etc. 
          O que ocorreu foi uma migração dos imigrantes e seus descendentes que já viviam no Brasil, para Minas Gerais, como por exemplo italianos, dinamarqueses, letões e alemães que viviam em São Paulo, migraram-se para várias cidades mineiras, principalmente para o Sul de Minas, concentrando-se, em cidades como São Lourenço, Jacutinga, Monte Sião, Alagoa, Delfim Moreira, Poços de Caldas, Monte Verde, dentre outras tantas.
          A presença alemã em Minas, seja em colônias ou escolha individual de famílias, são marcadas principalmente pela culinária e características típicas de suas construções, como na foto acima, do Wagner Rocha em Barbacena no Campo das Vertentes, é uma mostra dos trações típicos da arquitetura alemã, presente em todas as regiões mineiras.
Zona da Mata e Vale do Mucuri
          Caso à parte foi na Zona da Mata e no Vale do Mucuri no século XIX, que recebeu grande fluxo de imigrantes alemães, graças a parceria de duas empresas privadas, a Companhia União e Indústria de Juiz de Fora MG e a Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri, com o Governo da Província de Minas.
          Essas empresas necessitavam de mão de obra especializada para a construção de ferrovias e rodovias nessas regiões. Como a Alemanha detinha tecnologia de ponta nessa área e boa parte dos alemães trabalhavam na indústria, a preferência foi para a imigração alemã. Com isso, colônias de alemães foram sendo criadas com a chegada de um grande número de imigrantes em Juiz de Fora, na Zona da Mata e Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri.
          Já a migração alemã em grande escala se deu a partir do século XIX e primeiros anos do século XX, com a constante chegada de alemães e seus descendentes em Minas Gerais que deixaram a região Sul do Brasil e do Espirito Santo, estado de maior concentração de imigrantes alemães do Sudeste. (Essa é parte de uma maquete de Lagoa Santa, na Grande BH no século XIX, fotografada pelo Thelmo Lins no Museu de Arte Natural de Belo Horizonte. Dá para perceber nas construções o estilo colonial mineiro com o europeu e de como eram as colônias em geral nessa época)
          Vieram para Minas Gerais, atraídos pelas ótimas condições de trabalho, principalmente na agricultura, extração de madeira, e construção de ferrovias.
Imigração alemã como política de Estado
          A partir de 1908 a imigração alemã passou a ser política de Estado em Minas Gerais. (na foto acima de Wilson Fortunato, a entrada de São Lourenço MG, Sul de Minas)
          Os governantes da época perceberam que Minas Gerais carecia de mão de obra especializada para a indústria, já que o estado estava ainda engatinhando na industrialização, sendo basicamente agrário e voltado para a mineração, mesmo assim, de forma bem rudimentar. 
          Minas Gerais precisava atrair indústrias, mas antes disso, precisa investir da ampliação de sua malha ferroviária, abertura de estradas, construção de usinas hidrelétricas e com isso, desenvolver a economia do Estado com a industrialização. 
          Não faltava vontade e nem recursos para isso. O que faltava era mão de obra especializada no setor industrial, engenharia civil e industrial.          
          A solução era atrair imigrantes da Europa, principalmente da Alemanha, país de tecnologia industrial avançada na época e com grande número de profissionais na área industrial disponíveis, devido as questões econômicas e sociais causadas por sequentes conflitos e crises econômicas no Velho Continente. (fotografia de André Daniel da entrada de Jacutinga MG, Sul de Minas)
          Com esse objetivo, foram criadas novas colônias de imigrantes alemães em regiões mineiras, vistas pelo governo da época com grande potencial para crescimento industrial e ferroviário, como a Região Metropolitana de Belo Horizonte, Região Central, Sul de Minas e Centro-Oeste, além de ampliar a presença alemã em cidades e regiões que já contavam com colônias como Sete Lagoas na Região Central, Juiz de Fora na Zona da Mata, Campo das Vertentes e Teófilo Otoni no Vale do Mucuri, vistas também com enorme potencial de crescimento industrial e expansão da malha ferroviária nessa região.
          Com base nessa política, a partir de 1852 começaram a chegar à Minas Gerais imigrantes e descendentes de alemães que já viviam no Brasil. Ao chegarem, eram encaminhados para as colônias novas criadas pelo governo e outros, para as colônias já existentes no estado.
As colônias alemãs em Minas Gerais
          A primeira colônia de imigrantes alemães criada em Minas Gerais foi Colônia Nova Filadélfia, fundada, por Teófilo Benedito Ottoni em 1852, na cidade que posteriormente levou seu nome, Teófilo Otoni MG. A segunda colônia agrícola foi a Colônia Saxônia, em 1853. Em 1923, foi fundada também na cidade a Colônia Francisco Sá. (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade, a Praça Germânica em Teófilo Otoni MG)
          Teófilo Benedito Ottoni era descendente de italianos, nascido na Vila do Príncipe, atual cidade do Serro MG, em 1807. Foi jornalista, comerciante, deputado provincial, senador, comerciante e empresário do ramo de comércio e navegação. Era proprietário da Companhia de Comércio e Navegação do Rio Mucuri, criada pra promover o desenvolvimento e colonização do Vale do Mucuri. O empresário foi um dos grandes incentivadores da imigração alemã para a região.
          A terceira colônia alemã fundada em Minas foi a Colônia Dom Pedro II, fundada em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 1858. Foi o empresário Mariano Procópio Ferreira Lage, proprietário da Companhia União e Indústria e um dos grandes incentivadores da vinda de imigrantes alemães para a cidade e região, que fundou a colônia. (na foto acima, a antiga estação ferroviária de Santa Rita de Jacutinga MG, Zona da Mata)
          A empresa foi responsável pela construção da Estrada de Rodagem União Indústria, que ligava Juiz de Fora a Petrópolis no Rio de Janeiro. Foi a primeira estrada pavimentada no Brasil, inaugurada por Dom Pedro II em 1861.
          Sete Lagoas, na Região Central, recebeu também imigrantes alemães, aumentando sua comunidade, formada em 1908, quando foi criada a colônia agrícola João Pinheiro.
          Ainda na Zona da Mata, foi fundada em 1910, na cidade de Astolfo Dutra, a Colônia Santa Maria. Nesse mesmo ano, era fundada em Ouro Fino, no Sul de Minas, a Colônia Inconfidência. Em 1913, a Colônia Guidoval era fundada em São Domingos no Prata, cidade do Médio Piracicaba, vizinha a João Monlevade.
          As últimas colônias de alemães criadas em Minas foram nas cidades de Pouso Alegre no Sul de Minas e em Bom Despacho, no Centro-Oeste Mineiro. Essas colônias de imigrantes alemães foram criadas por Artur Bernardes, presidente do Estado (Governador) de 1918 a 1922 e presidente da República de 1922 a 1926. (na foto acima de Arnaldo Silva, a arquitetura alemã do Posto Roda D´Água na BR-262, km 382, em Juatuba MG, Centro-Oeste de Minas, fundado por Olga Ullmann)
          Bom Despacho, cidade a 150 km de Belo Horizonte, foram criadas duas colônias de imigrantes alemães que contava ainda com famílias húngaros e austríacas. A maioria tinha experiência na área industrial, sendo um dos motivos para a criação as colônias na cidade.
          A primeira colônia criada por Artur Bernardes em Bom Despacho foi a de Álvaro da Silveira, formada próximo a ponte férrea sobre o Rio Lambari, na divisa com Leandro Ferreira, na época, distrito de Pitangui MG. Essa colônia foi criada no entorno da Estação e Armazém da Estrada de Ferro Paracatu, antes da ponte que separa as duas cidades e uma pequena dos colonos forma alojas na outra margem do rio, em Leandro Ferreira/Pitangui.
          No ano seguinte, em 1921, foi criada a Colônia Davi Campista, já nas proximidades do perímetro Urbano da cidade.
Em Pouso Alegre, foi criada no ano de 1924 a Colônia Padre José Bento.
          Os imigrantes recebiam glebas de terras férteis para agricultura e condições para trabalho, além de incentivos para trabalharem nas áreas industriais.
Importância da imigração alemã
          Os descendentes dos imigrantes alemães estão presentes em todas as regiões mineiras, seja em grande número ou menor. A maioria não vive mais em colônias e sim, inseridos na sociedade mineira e brasileira mas sempre deixam um pouco de suas origens na arquitetura, gastronomia, religiosidade, cultura e tradições, onde vivem. (na foto acima do Wilson Fortunato, construção em Sete Lagoas MG)
          A presença dos imigrantes, não só alemães, mas de todos os povos que vieram para o Brasil, foram de grande importância para o crescimento, desenvolvimento econômico e industrial do país.
Minas Gerais e o Brasil deve muito aos imigrantes e devemos reconhecer isso e valorizar a memória dos primeiros imigrantes que vieram para nosso Estado e pais, no século XIX e XX.

domingo, 28 de maio de 2023

Receita de broa cremosa de farinha de milho

INGREDIENTES:
. 2 xícaras (chá) de farinha de milho
. 200 gramas de queijo Minas meia cura ralado grosso
. 1/2 xícara (chá) de fubá mimoso
. 1/2 xícara (chá) de farinha de trigo
. 4 xícaras (chá) de leite integral
. 4 ovos caipira
. 2 xícaras (chá) açúcar
. 2 colheres (sopa) de manteiga
. 1 colher de (sopa) fermento pó
MODO DE PREPARO:
- Coloque no liquidificador a manteiga, o leite, o açúcar, a farinha de milho, o fubá, a farinha de trigo, os ovos e bata por 5 minutos (se a massa ficar muito mole, acrescente um pouco mais de farinha de milho, se ficar muito seca, mais um pouco de leite).
- Desligue, acrescente o fermento e a metade do queijo Minas ralado e mexa devagar com uma colher.
- Unte uma fôrma com manteiga e polvilhe um pouco de fubá.
- Despeje a metade da massa na fôrma e espalhe por cima o restante do queijo Minas ralado.
- Em seguida, despeje o restante da massa e leve ao forno pré-aquecido a 200°C e deixe assando por cerca de 40 minutos, ou até dourar.
- Por fim, retire do forno, desenforme e sirva com café!
          A broa fica cremosa e muito deliciosa. Ótima para o café!
Fotografias de Judson Nani de Barão de Cocais MG

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