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sábado, 17 de setembro de 2022

Pintópolis: origem do nome, turismo e história

(Por Arnaldo Silva) Entre a Serra das Araras e o leito do Rio São Francisco, no Norte de Minas, está a cidade de Pintópolis, município que faz divisa com São Francisco, Urucuia, Icaraí de Minas, São Romão e Chapada Gaúcha. Contando com cerca de 7.084 habitantes, segundo Censo do IBGE de 2022. Pintópolis está a 615 km de Belo Horizonte.
          Pintópolis surgiu em 29 de agosto de 1964 como povoado denominado Riacho Fundo, subordinado inicialmente a São Francisco MG. Após emancipação da vizinha Urucuia MG em 1992, então distrito também subordinado a São Francisco MG, Riacho Fundo passou a ser subordinado a Urucaia MG. Em 21 de dezembro de 1995, Riacho Fundo foi desmembrado de Urucuia e elevado a cidade, com o nome de Pintópolis em homenagem ao sobrenome da família de seu fundador, Germano Pinto. (na foto acima e abaixo do Kleiton Brito)
          Uma cidade planejada, tranquila, pacata, com povo bom e hospitaleiro, conta com uma boa estrutura urbana, um comércio variado, setor de serviços de boa qualidade, pousadas, hotéis e restaurantes com comidas típicas. A economia do município tem como base o comércio, pequenas empresas familiares e a agricultura e pecuária.
          Pintópolis faz parte do Circuito Turístico Grande Sertão Veredas e oferece como atrativos sua charmosa Matriz, o Cristo Redentor, as tradicionais festas de São João e da Padroeira, Nossa Senhora da Abadia.
         A travessia de balsa sobre o Rio São Francisco, de Pintópolis até a cidade de São Francisco, é outro atrativo a parte. (na foto acima de Márcio Pereira/@dronemoc, a balsa)
          Além disso, suas belezas naturais estão inseridas neste circuito turístico, com destaque para a Cachoeira do Buriti, o Rio Urucuia e o encontro do Rio Urucuia com o Rio São Francisco e a Cachoeira do Rio Acari (na foto acima do Guia Elson Barbosa).
A origem do nome          
          Dos 853 municípios mineiros, algumas cidades chamam a atenção pelo nome diferenciado dos demais. É o caso de Pintópolis. Polis vem do grego e significa cidade e Pinto é um sobrenome de origem ibérico, ou seja, de Portugal e Espanha. Literalmente, Pintópolis significa Cidade dos Pintos.
          O nome é em homenagem a Germano Pinto (31/10/1924 – 21/11/2015), o fundador da cidade. (na foto acima feita por sua neta, Ana Paula Souza Pinto Cunha, quando completou 90 anos)
          Embora o nome possa provocar indagações e até mesmo risos maliciosos, os moradores de Pintópolis não se constrangem, ao contrário, tem orgulho de sua cidade e de sua origem, além de estarem já acostumados com o nome e de explicarem a origem do mesmo. Quem nasce em Pintópolis é pintopolitano ou pintopolense.
Germano Pinto
          O fundador de Pintópolis, Germano Pinto, já falecido, um sertanejo e, pecuarista, de hábitos bem simples e um visionário empreendedor. Foi pai de 11 filhos, 49 netos e outros tantos bisnetos.
Tinha como prazer uma boa prosa e contar causos, principalmente sobre si mesmo. São causos pitorescos, interessantes e verídicos. Um de seus causos preferidos era sobre a origem da cidade que fundou, feito que muito se orgulhava. (foto acima de sua neta, Ana Paula Souza Pinto Cunha)
          Germano Pinto contava que chegou à região aos 30 anos de idade vindo de Mocambo, povoado de São Francisco MG, cidade na outra margem do Velho Chico. Veio a pé e se instalou no local onde é hoje a cidade. Quando chegou, era apenas mato, não tinha casa, estrada, pastagem formada, nada. Começou do zero e transformou o lugar numa fazenda produtiva que denominou de Riacho Fundo.
          Vendo a fazenda crescer, Germano Pinto já alimentava o sonho de construir no local, não um povoado ou uma vila para seus colonos, como era normal, na época.
          Sonhava grande. Queria era construir uma cidade. Até que em agosto de 1964, já com 40 anos de idade, decidiu colocar seu sonho em prática e transformar sua fazenda em uma cidade planejada. Seria a primeira cidade planejada do sertão do interior mineiro, já que Belo Horizonte, planejada por Aarão Reis (1853-1936) não conta por ser a capital.
Projetando a cidade
          Embora sem curso superior na área, Germano Pinto era autodidata e começou a desenhar no papel o projeto do seu sonho. Sonhava com uma cidade que pudesse oferecer melhores condições de vida a seus moradores, principalmente os mais carentes, além de ser uma cidade bem estruturada e organizada.
          Aos poucos a paisagem típica das fazendas rurais do interior foi mudando. No lugar das pastagens e lavouras, foram surgindo ruas traçadas e avenida larga, transformando os caminhos que passavam carroças e carros de bois, em ruas para passar carros e caminhões. O curral, a casa grande e as casas dos colonos, foram dando lugar a escola, praça e lojas para comércio. (fotografia acima de Odair Rodrigues)
Incentivo ao povoamento
          Para atrair moradores, Germano vendeu lotes a preços bem em conta ou mesmo fiado e até doou terrenos para famílias que não tinham condições de comprar, mesmo barato ou fiado. Com isso a cidade começou a ser povoada, necessitando assim de novos traçados de ruas laterais à avenida principal.
          
Projetou a principal avenida da cidade em linha reta, que recebeu seu nome e em traço quadrado, planejou e construiu a Matriz e a praça da cidade. Conta Germano que para construir a igreja, vendeu 10 novilhas, um cavalo e um garrote, além de arborizar a praça com palmeiras. Dedicou a igreja a Nossa Senhora da Abadia, santa de sua devoção. (fotografia acima de Kleiton Brito)
          Para uma cidade existir como cidade, necessitava não só de ruas, casario e praças, mas de padre, professora, juiz, delegado, polícia, vereador e prefeito. O benfeitor tratou de providenciar tudo isso.
Fez tudo e foi de tudo e mais um pouco
          Trouxe um padre para a Matriz e professora para lecionar na escola. Queria que os filhos dos novos moradores da cidade estudassem. 
          Para garantir a segurança pública, Germano Pinto assumiu o papel de prefeito e acabou virando até delegado. Naquela época esse cargo era por nomeação, sem necessitar de concurso público ou formação em direito. Como delegado, improvisou a delegacia no terreno de sua própria casa e tinha até cadeia pública. Assumiu ainda a condição de juiz de paz e foi ainda vereador por dois mandatos.
          Doou as terras, fundou a cidade, projetou e planejou seu traçado, foi construtor, prefeito, vereador, juiz, delegado. Enfim, ocupou todos os cargos possíveis em uma cidade, algo inédito na história mineira.
Cidade com potencial de crescimento
          
Fez uma cidade e não uma cidadezinha qualquer. Uma cidade que cuja história é a história de seu próprio fundador. Começou com um sonho, com um morador e hoje conta com 7.500 moradores, bem estruturada, com boa qualidade de vida. (na foto acima do Cristian Denner, vista parcial de Pintópolis)
          Embora tenha poucos habitantes, Pintópolis não é uma cidadezinha do interior comum. O município é formado por 1243 km² quilômetros quadrados de terras. Pra se ter ideia desse tamanho, Belo Horizonte, a capital mineira, tem 332 km², ou seja, Pintópolis tem condições de crescer e se desenvolver bem mais. 
          É uma cidade jovem, que nasceu planejada, portando, com estrutura para crescimento planejado, o que a diferencia das demais cidades do interior. (na foto acima do Duva Brunelli, a sede da Prefeitura)
Discussão sobre o nome
          
Antes de sua emancipação, em 1995, os moradores de Riacho Fundo optaram por mudar este nome para Pintópolis. Alguns acharam o nome meio estranho e até constrangedor e queriam que se chamasse de Noroeste de Minas. Esse sugestão não foi aceita pela maioria dos moradores, que não viam problema algum no nome. Outros sugeriram Germanópolis, em homenagem ao fundador, que não concordou. (fotografia acima de Cristian Denner e abaixo de Odair Rodrigues)
          Germano Pinto queria que o nome da cidade abrangesse sua família, já que para construir a cidade, não tinha feito tudo sozinho, teve o apoio da família. E assim, ficou Pintópolis o nome da cidade, homenageando não somente o fundador, mas a toda sua família que abraçou seu sonho.
          Germano Pinto faleceu em 21/11/2015, aos 91 anos, com honras e respeito dos moradores da cidade que fundou e de que muito se orgulhava ter fundado e vivido.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Guapé: a cidade que marcou encontro com o dilúvio

(Por Arnaldo Silva) Entre serras e montanhas, rodeada por águas, formando assim uma península, bem na encosta de um espigão, se estendendo até a Serra dos Macacos, encontra-se uma cidade charmosa, tranquila, turística e atraente. É Guapé, no Sul de Minas, um dos principais balneários náuticos do país.
          O município faz divisa com Capitólio, Alpinópolis, Formiga, Piumhi, Pimenta, Boa Esperança, Cristais, Ilicínea, Carmo do Rio Claro e São José da Barra. Está a 293 km de Belo Horizonte e conta atualmente com cerca de 14 mil habitantes.
          Banhada pelas águas da Represa de Furnas, sua história é dividia por antes e depois das águas de furnas inundarem o município, na década de 1960. (na foto acima de Evandro Antônio de Oliveira - Vice prefeito de Guapé e Capitão do Terno de Moçambique, vista parcial de Guapé)
História antes de Furnas
          Antes de Furnas, a história de Guapé tem origens a partir de 1759, no século XVIII, quando chega à região a família do fazendeiro José Bernardes Ferreira Lara. Em 1825, no século XIX, o fazendeiro, juntamente com Felisberto Martins Arruda e Cândida Soares do Rosário, doou parte de suas terras para a construção de uma capela, em honra a São Francisco de Assis a pedido Dona Esméria Angélica da Pureza.
          Com a capela construída, o pequeno arraial começou a crescer. Posteriormente foi elevado a distrito subordinado a Boa Esperança MG, com o nome de São Francisco de Aguapé, em 1856. Nesse mesmo ano, em 9 de maio, a capela foi elevada a paróquia. Pouco tempo depois, o nome do distrito é alterado para São Francisco do Rio Grande.
          Em 7 de setembro 1923, o distrito é desmembrado de Boa Esperança e elevado à cidade, passando a adotar o nome de Guapé, instalado oficialmente em 3 de fevereiro de 1924, com eleição de prefeito e vereadores. (foto acima cedida pelo Grupo  Guapé - Memórias em Fotos e Fatos)
          Guapé é um nome indígena dada a uma planta aquática (Eichhornia) que significa “Caminho das Águas”. A planta, que tem a folhagem verde, tem como características cobrir toda a superfície de rios e lagos.
A cidade que marcou encontro com o dilúvio
          A vida em Guapé seguia normalmente, como todas as pequenas cidades do interior. Casario singelo, simples, em estilo colonial, matriz, praça com coreto, povo hospitaleiro. Essa tradicional rotina mudou por completo quando da formação do Lago de Furnas e instalação da Usina Hidrelétrica de Furnas, obra idealizada por Juscelino Kubitschek nos anos 1950.
          Em 19 de janeiro 1963, as comportas das da usina foram fechadas. Era o início do tão esperado encontro com o dilúvio, quando um mundão de águas encobriu a cidade e maior parte das terras rurais do município. (foto acima cedida pelo Grupo Guapé - Memórias em Fatos e Fotos)
          O povo já sabia disso e se preparou por anos para esse dia, enquanto uma nova cidade era construída. Tudo que podiam retirar de suas casas, praças, igrejas, criação, fazendas, como objetos, carros de bois, carroças, decoração, gado, retiraram, para serem levados para a nova cidade numa parte alta do município.
          Até mesmo seus mortos, levaram. Não queriam deixar os restos mortais de seus entes queridos submersos. A nova cidade tinha tudo. Casas novas, ruas largas, saneamento, praças, igrejas, tudo. Só não tinha a história, as lembranças, o passado vivido por gerações. (foto acima cedida pelo Grupo Guapé - Memórias em Fatos e Fotos)
          Os casamentos, as quermesses, os bailes, as rodas de viola, as novenas, as procissões, a missa na Matriz, o toque das bandinhas. Tudo isso ficou nas lembranças. A cidade nova, tinha conforto, mas não tinha lembranças, não tinha história.
          Todos sabiam que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria e até a data. 19 de janeiro de 1963. Era o encontro de Guapé com o dilúvio. E esse encontro ocorreu. (foto acima cedida pelo Grupo Guapé - Memórias em Fatos e Fotos)
          A tão esperada cena diluviana e apocalíptica aconteceu aos olhos em lágrimas, de espanto, de perplexidade e prantos dos moradores que assistiram do alto da serra, as águas chegarem e indo aos poucos encobrindo toda a cidade que viveram e viveram seus antepassados. As águas foram inundando até nada ficar à vista, até mesmo a torre da igreja Matriz.
Coincidência do nome e lema da bandeira
          A antiga cidade, onde os moradores construíram suas vidas, seus sonhos e famílias, já não existia mais. Ficou debaixo d´água. Jornais e revistas da época noticiaram o ocorrido de forma dramática e dantesca.
          Tiverem que recomeçar do zero, se acostumar com o novo lugar, criar novos laços e seguir a vida. As autoridades decidiram inundar a cidade e não tinha como mudar. Por ironia do destino, campos, ruas, praças, tudo, passou a ser caminho das águas, exatamente a tradução do nome Guapé. As águas de Furnas inundaram 206 km² do município. (na foto acima do Professor Antônio Carias Frascoli, o Vale do Rio Grande em Guapé)
          Coincidentemente, na bandeira do município, criado em 1924, tem como lema “Fluctuat Ne Mergitur, ou seja, “Flutuarás, não afundarás”. Juntando com o nome da cidade, Guapé, que significa Caminho das Águas, percebemos uma coincidência enorme com seu destino final: o encontro com o dilúvio em 1963. Os mais supersticiosos diriam que o nome e o lema de 1924, seriam profecias que aconteceriam. E aconteceu 39 anos depois, em 1963 com as águas inundando 206 km² do município.
O dilúvio na mídia
          Revistas e jornais de Minas Gerais e do Brasil, da época, noticiavam constantemente os impactos da inundação na vida dos vilarejos e cidades que seriam inundados pelas águas de Furnas, descrevendo o evento como um dilúvio com data e hora marcados.
          Em sua edição 09 de 1959, a Revista O Cruzeiro trazia como manchete uma matéria especial sobre Guapé, com o título: “A cidade a espera do dilúvio” e em fevereiro de1963, quando as águas começaram a inundar o município, a mesma revista publicou outras duas matérias com o título “Guapé vai ser apenas um retrato na parede” e uma outra assinada por Rachel de Queiroz com o título “Cantiga para a cidade de Guapé, que vai desaparecer sob as águas da Represa de Furnas”.
          Em março de 1965 o Lago de Furnas já estava completamente formado. São 1.440 km², cinco vezes maior que a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Em linha reta, a extensão do Lago de Furnas corresponde a metade do litoral brasileiro. (na foto acima do professor Antônio Carias Frascoli a foz do Ribeirão Verde com o Rio Grande em Guapé)
Guapé depois do encontro com o dilúvio.
          Construída em uma parte mais alta, a nova cidade ficou isolada, margeada pelas águas de Furnas. Praticamente ilhada, formando uma península.
          Os primeiros anos foram difíceis para os moradores. O povo não tinha assimilado toda a situação, além de ter de recomeçar a vida do zero. Boa parte das terras férteis do município, às margens do Rio Grande, ficaram submersas. Somente na década de 1970 é que começou de fato a atividade rural do município, sua vocação original. (na foto acima de Evandro Antônio de Oliveira - Vice prefeito  de Guapé e Capitão do Terno de Moçambique, a cidade de Guapé hoje)
          Começou a preparação da terra com o uso de técnicas de manejo mais avançadas para formação de pastagens para a pecuária leiteira e de corte, de cafezais, plantio de grãos e também o plantio de cana-de-açúcar para a produção de cachaça. Começou a desenvolver a pesca e extração de pedras, pecuária leitura e de corte. A agricultura é hoje um dos principais pilares da economia de Guapé.
          A cidade também começa a se despertar para o turismo. Se perdeu em terras férteis, ganhou mais beleza, com as águas do Lago de Furnas. Era o início de uma nova era para os guapeenses que passaram a investir no turismo como alavanca para seu desenvolvimento.
          Hoje Guapé é uma das mais belas cidades turísticas de Minas Gerais, com paisagens impactantes e espetaculares. Além disso, possui uma excelente estrutura urbana, boa qualidade de vida, e uma ótima rede hoteleira e gastronômica, com boa parte de hotéis, pousadas e restaurantes com comida típica mineira, às margens do Lago de Furnas.
          Essas mesmas águas, além da beleza, proporcionam um clima ameno e ar leve, além de possibilitar a prática de esportes náuticos. As serras e montanhas de Guapé propiciam a prática de esportes radicais como rapel, escalada, parapente e voo livre. (fotografia acima de Evandro Antônio de Oliveira - Vice prefeito  de Guapé e Capitão do Terno de Moçambique em Guapé)
          Além disso, trilhas e matas nativas são atrativos para os turistas, além da rica fauna e flora, sem contar a beleza de riachos e cachoeiras incríveis, paradisíacas, de águas limpas e cristalinas como a cachoeira do Garimpo, do Moinho, do Lobo, do Capão Quente, da Água Limpa, da Volta Grande, do Macuco, dentre outras tantas.
          Outro destaque do turismo de Guapé é o Parque Ecológico do Paredão, uma área de preservação formada por mata nativa, uma fenda entre as serras, aberta naturalmente pela ação do tempo, formações rochosas milenares e três belíssimas cachoeiras, além de trilhas ecológicas e com condições geográficas propícias para a prática de esportes de rapel e escalada. (foto acima e abaixo do professor Antônio Carias Frascoli)
          O lugar tem boa estrutura com área para camping, estacionamento, além de banheiros e restaurante.
          Além do turismo ecológico, Guapé tem atrativos urbanos como o Ipê Campestre Clube, a Igreja Matriz de São Francisco de Assis, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no distrito de Aparecida do Sul, além de festividades durante o ano como o Carnaval, a Festa do Divino Pai Eterno e grupos folclóricos de Folia de Reis e Congadas, além da visita às comunidades rurais como Araúna, Santo Antônio das Posses, Pontal, Penas, São Judas Tadeu, Pedra Vermelha, Capoeirinha e Campestre. (na foto acima do Thelmo Lins, a Matriz de São Francisco de Assis)
          Venha conhecer Guapé, a cidade aguarda sua visita.

sábado, 3 de setembro de 2022

Receita de rosquinha mineira de creme de leite

Receita dos fornos de Minas para sua mesa. Embora fizemos as roscas em forno de barro, caso não tenha, pode usar o forno de seu fogão. Fica ótimo também. 
INGREDIENTES
. 3 caixinhas de creme de leite
. 4 ovos
. 1 litro de leite integral
. 1xícara (chá) de açúcar
. 1 1/2 quilo de farinha de trigo + ou -
. 2 colheres (sopa) de manteiga em temperatura ambiente
. 1 colher (sopa) de fermento em pó
MODO DE PREPARO
- Coloque no liquidificador o leite, o creme de leite, os ovos, o açúcar, a manteiga e bata bem.
- Despeje numa vasilha grande, acrescente o fermento, mexa com uma colher.
- Acrescente aos poucos a farinha de trigo e mexa com as mãos, até ficar numa consistência homogênea, lisa e firme, desgrudando das mãos.
- Faça os moldes das rosquinhas, em formato circular e coloque-as em fôrmas untadas com manteiga e farinha.
- Leve para assar em forno pré-aquecido a 180°C graus e deixe no forno por cerca de 30 minutos ou até que comecem a dourar.
Receita fornecida por Cristiane Alves e fotos da Glória Alves, enviadas pelo Edson Borges, de Felício dos Santos MG

terça-feira, 30 de agosto de 2022

O Centro Cultural da Romaria em Congonhas

(Por Arnaldo Silva) Distante 75 km de Belo Horizonte, a cidade histórica de Congonhas, com origens no século XVIII, conta com cerca de 55 mil habitantes e faz divisa com os municípios de Ouro Preto, Ouro Preto, Conselheiro Lafaiete, Belo Vale, Jeceaba e São Brás do Suaçuí.
          Em 2018, durante o Seminário Internacional Gestão de Sítios Culturais do Patrimônio Mundial do Brasil, realizado em Goiás pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), especialistas classificaram Congonhas como referência nacional em gestão do conjunto histórico. A cidade é uma das 2 mil cidades brasileiras inseridas no Mapa do Turismo do Ministério do Turismo. (na foto acima do Nacip Gomêz, a Romaria de Congonhas)
          Em Congonhas está um dos mais expressivos tesouros do barroco não só do Brasil, mas de todo o mundo, o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Um complexo arquitetônico e paisagístico, composto por uma igreja, um adro com os 12 profetas e seis capelas que retratam os passos da Paixão de Cristo. (na foto acima do Nacip Gomêz)

O Santuário
          No Santuário estão peças de Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), o Mestre Aleijadinho, como os 12 profetas esculpidos em tamanho original e diversas outras esculturas como a Santa Ceia. Ao todo, são 78 peças esculpidas por Aleijadinho entre 1796 e 1805.
          O Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas construído entre 1757 e 1875. Sua conclusão final passou por várias etapas e teve a participação de diversos outros mestres, mas obras que mais se destacam e chamam atenção, são as de Aleijadinho.
          Todo o complexo do Santuário é reconhecido como uma das mais importantes, emocionantes e impressionantes obras do barroco colonial. As obras e o estilo arquitetônico de todo o complexo são únicas no Brasil. Não tem obra igual. Por esse motivo, todo o complexo foi tombado em 1939 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1985. (na foto acima do Wilson Paulo Brasil, o adro do Santuário, onde estão as esculturas dos 12 profetas de Aleijadinho com vista para a cidade)
A Romaria
          Desde 1770, no século XVIII, o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos atrai romeiros e fiéis de todas regiões mineiras, de outros estados e até de outros países, principalmente entre os dias 7 e 14 de setembro, durante o jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, quando há um grande fluxo de peregrinação de fiéis ao Santuário. Para atender e abrigar a crescente demanda de fiéis, foi construído em 1932 a Romaria, na Alameda Cidade de Matosinhos de Portugal.
          Trata-se de um conjunto de pequenas casas geminadas, inspiradas na arquitetura dos Passos da Paixão do próprio Santuário, em forma circular, com pórticos na entrada e em estilo colonial.
          Como hospedaria e local de recepção de romeiros e fiéis, o local funcionou até a década de 1960, quando passou para mãos de empresários cariocas que tinham a intenção de construírem um hotel no local. Como o projeto não vingou, em 1968, quase toda a construção foi demolida. Foi preservada apenas os pórticos de entrada, posteriormente tombado pelo Instituto Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA), visando sua preservação. (fotografia acima de Gustavo Simões/@gustavosimoes.art a Romaria vista de cima e abaixo do Nacip Gomêz, os pórticos originais da entrada)
          Em meados da década de 1990, a Prefeitura assumiu a posse do imóvel e restaurou os pórticos mantendo suas características arquitetônicas originais, bem como reconstruiu as casas geminadas, com as mesas características da construção original.
          O imóvel foi reconstruído não mais para ser local de hospedagem, mas sim um espaço cultural público, visando a preservação da cultura e memória da história de Congonhas. No espaço foi instalado o Museu de Mineralogia e Arte Sacra, extensão do gabinete do prefeito, além de ser sede da Fundação Municipal de Cultura, Lazer e Turismo (Fumcult), centro de apoio aos turistas, o memorial da cidade, oficinas de artesanato e esculturas, espaço para exposições, lojas de souvenirs, auditório, salas de estudos e pesquisas, restaurantes, lanchonetes e sanitários. Além disso, o amplo espaço no centro do imóvel permite a realização de eventos artísticos e culturais da cidade.
          Em 2018, o espaço passou novamente por restauração e readequações, com verba oriunda do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). As obras foram concluídas no final de 2020. Além da restauração do Centro Cultural da Romaria, foi construído no local o Teatro Municipal, integrando ainda o complexo ao Parque Ecológico da Romaria. (fotografia acima do Nacip Gomêz)
          O Parque é uma área ambiental com vegetação nativa, no entorno da Romaria, com áreas de lazer, sanitários, recepção, cobertura multiuso, relógio analemática, anfiteatro, trilhas, orquidário, borboleteio, além de ser um espaço de beleza naturais. É um espaço para lazer, entretenimento, além de atividades culturais paras os moradores da cidade e turistas, com área de 30.447,50 m².

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O Santuário de Nossa Senhora da Conceição em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) Situado no bairro Antônio Dias entre as praças Barão de Queluz e Praça Antônio Dias, em Ouro Preto MG, Região Central de Minas Gerais, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição tem sua história iniciada em 1699, no século XVII, quando o bandeirante Antônio Dias construiu uma pequena e singela ermida em honra a Nossa Senhora da Conceição, antes mesmo de Vila Rica (atual Ouro Preto) existir. Vila Rica foi fundada em 1711, no século XVIII.
          Em torno da pequena capela foi se formando uma pequena comunidade, formada por gente simples que vieram junto com o bandeirante Antônio Dias, para trabalhar na mineração. Dessa comunidade simples surgiu o que é hoje o bairro Antônio Dias. Neste bairro, além do santuário e de seu casario, se destacam o Chafariz da Marilia de Dirceu, construído em 1759 e a Ponte dos Suspiros, única ponte construída em estilo romano em Ouro Preto MG. (Na foto acima do Peterson Bruschi, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição e abaixo de Ane Souz, o altar-mor do Santuário)
As irmandades
          Durante o século XVIII, irmandades começaram a ser formadas em Minas Gerais, devido a proibição da Igreja Católica atuar em Minas Gerais, como instituição. Uma irmandade é um grupo de leigos religiosos criado com o objetivo de ajudar sua comunidade bem como prestar culto a determinado santo.
          A formação das irmandades no século XVIII foram de grande importância para manter a fé e religiosidade do povo mineiro devido a expulsão da Igreja Católica, como instituição, do território mineiro, pela Coroa Portuguesa, durante o Ciclo do Ouro. Nesse período, o Clero da Igreja Católica não tinha autonomia e nem presença em Minas Gerais. Somente as irmandades registradas e autorizadas pela Coroa Portuguesa tinham permissão para realizarem serviços religiosos e construírem igrejas, já que eram totalmente autônomas em relação ao clero.
          Quanto mais irmandades existiam, mais igrejas eram construídas. E quanto mais ricos eram seus membros, mais suntuosas e imponentes eram suas construções.
          Além disso, as irmandades assumiam os serviços sociais da comunidade, além da administração financeira e dos cultos, bem como a construção de igrejas onde e quantas quisessem, de acordo com a devoção a seus santos, mesmo que seja uma em frente a outra ou na mesma rua. Tinham ainda o poder de contratar padres, desde que devidamente autorizados pela Coroa Portuguesa.
          Na Igreja de Nossa Senhora da Conceição oito irmandades eram as responsáveis: a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição (1717), do Santíssimo Sacramento (1717), de Nossa Senhora da Boa Morte (1721), de Nossa Senhora da Boa Morte (1721), de São Miguel e Almas (1725), de Nossa Senhora do Terço (1736), de São Sebastião (1738) e de São Gonçalo Garcia (1738). (fotografia acima de Ane Souz)
          Em conjunto, essas irmandades a atuavam no dia a dia do tempo como na manutenção, reforma, ampliação, adornos, ornamentação, bem como na organização das atividades e festividades religiosas, ao longo de suas existências.
A nova igreja
          Com o crescimento da comunidade em torno da pequena ermida, crescimento do número de fiéis e pela mesma ter sido elevada a matriz em 1705, houve necessidade de um novo tempo. As obras da construção da igreja de Nossa Senhora da Conceição começaram em 1727 e foram concluídas em 1746, no século XVIII.
          O projeto da nova igreja ficou sob a responsabilidade de Manuel Francisco Lisboa, arquiteto, carpinteiro e mestre de obras português, natural da Freguesia de Jesus de Odivelas. Apesar da fama e por ter projetado e construído inúmeras obras em Ouro Preto como a Igreja da Nossa Senhora do Carmo, o Palácio dos Governadores, pontes, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, dentre outros, Manuel Francisco Lisboa se tornou mais conhecido devido a fama e talento do filho que teve com a escravizada Isabel, Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho.
          Foi a Igreja de Nossa Senhora da Conceição a sua mais monumental obra. É nessa igreja que pai e filho estão sepultados. Os túmulos de Aleijadinho e seu pai estão em frente ao primeiro altar, dedicado à Nossa Senhora da Boa Morte (na foto acima do Wellington Diniz). Ao todo, são oito altares que a igreja possui, referentes as irmandades presentes na Igreja.
          Além disso, na Sala da Sacristia e na Sala da Cripta, está o Museu Aleijadinho, criado em 1968 que reúne cerca de 250 obras do Mestre do Barroco Mineiro e documentos gráficos. (na foto acima de Ane Souz, o altar-mor do Santuário de Nossa Senhora da Conceição)
Uma joia rara de Minas Gerais
          Considerado o marco do nascimento de Vila Rica, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição é um dos templos religiosos de maior expressão em Ouro Preto e da arte setecentista e barroca mineira. Nessa igreja estão presentes as três fases do barroco colonial brasileiro que foram o Nacional Português, o Joanino ou Dom João V e o Rococó.
          O interior com suas talhas douradas da capela-mor, sacristia, corredores laterais, dos altares, imagens sacras, decoração e pinturas da nave, impressionam em cada detalhe além de revelar a impressionante riqueza e talento de Manuel Francisco Lisboa e outros artistas que participaram da ornamentação, pintura, entalhes e construção da igreja. (na foto acima e abaixo de Ane Souz detalhes da ornamentação e forro do Santuário de Nossa Senhora da Conceição)
          A ornamentação típica do século XVIII do Santuário se mantém praticamente inalterado, mas sua fachada não. Foi modificada no século XIX e ainda nessa época, outras obras foram feitas em sua parte externa como torres, a escadaria, o adro, construído entre 1860 e 1863 e as grades, construídas em 1881.
Restauração
          Em 2005, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição foi elevada a Santuário Arquidiocesano. Devido a seu estado, houve necessidade de restauração completa da igreja. Em 2013, teve início a restauração do interior e exterior do templo. Durante o período de reforma, a igreja ficou fechada.
          Foram 9 anos de um minucioso, delicado e eficiente trabalho de restauração das imagens, talhas, pinturas, além da recuperação original das cores vibrantes da ornamentação e talhas douradas. A comunidade ouro-pretana e turistas, aguardavam com ansiedade a conclusão total das obras de restauro, concluídas em agosto de 2022. Os recursos da restauração da Igreja de Nossa Senhora da Conceição foram obtidos junto ao junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão do Governo Federal.
          Rodeada por um riquíssimo casario colonial (na foto acima de Arnaldo Silva), o Santuário se destaca pelas cores vibrantes de sua fachada, em amarelo e branco e mais ainda, pela beleza e perfeição da restauração que devolveu suas características originais, bem como sua beleza única e singular. Uma beleza que fascina, encanta e emociona em cada detalhe, fiéis, moradores e turistas de todo o mundo. 

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Queijo caseiro feito na cidade

Você pode fazer queijo fresco em casa, na cidade, sem ter fazenda ou vaca leiteira e ainda, gastando menos. Embora não seja o tradicional Queijo Minas que tem como base o leite cru, o coalho, sal, pingo e as bactérias lácteas que dão cor, sabor, textura e características aos queijos, fazer esse tipo de queijo hoje, é uma boa opção.
INGREDIENTES:
.  2 litros de leite integral (o de caixinha não serve)
.  2 copos de iogurte integral e sem açúcar ou de preferência
. 1 colher (sopa) de coalho liquido..
. Suco de meio limão se for usar o iogurte. Se for usar o coalho, não precisa usar o limão.
. 1 1/2 colher (sopa) de sal
. Meio copo (americano) de água
Utensílios: 1 pano limpo, uma panela e uma fôrma redonda pequena, própria para queijos, encontrada de produtos agropecuários.
MODO DE PREPARO:
- Despeje os copos de iogurte (ou o coalho) em uma vasilha, em seguida a água, o limão (se não for usar o coalho) e misture até dissolver bem. Reserve.
- Leve o leite ao fogo e quando estiver começando a ferver, desligue.
- Despeje na panela a mistura reservada e deixe descansando por 2 horas.
- Após esse tempo, coloque o pano em um escorredor, despeje toda a mistura e vá espremendo, até sair todo soro.
- Pegue a massa do queijo, que ficou no pano e coloque-a na forma, apertando mais um pouco para sair o restante do soro.
- Espalhe por cima o sal, tampe com um pano e deixe descansando por 3 horas.
- Após esse tempo, coloque o queijo na geladeira e deixe de um dia para outro.
- Após esse tempo, já pode consumir seu queijo caseiro feito na cidade.
Primeira foto de Marluce Ferreira de Ipatinga MG e segunda imagem da Regina Rodrigues na Fazendinha da Regina/@reginasfarm

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Matozinhos e as ruínas históricas da Fazenda Jaguara

(Por Arnaldo Silva) Matozinhos é uma das mais tradicionais e importantes cidades de Minas Gerais. Tem origem no século XVIII e foi de grande importância para a cultura, história e economia mineira no século XIX. Essa importância para Minas, prevalece até os dias de hoje com destaque para a agricultura, pecuária e mineração.
          Cidade com boa estrutura urbana, conta com belas praças, igrejas, grutas e cavernas, o Museu Arqueológico Peter Lund, dentre outros atrativos e  comércio e setor de serviços variados. O município de Matozinhos conta hoje com cerca de 336.618 habitantes, segundo o IBGE em 2022. Está a 47 km de Belo Horizonte e faz divisa com Pedro Leopoldo, Prudente de Morais, Capim Branco, Esmeraldas, Baldim, Jaboticatubas e Funilândia. (na foto acima de Andréia Gomes/@andreiagomesphotoart, a Praça da Matriz de Matosinhos MG)
A Fazenda Jaguara
          É uma das mais importantes fazendas para a história de Minas Gerais. Formada no início do século XVIII, no auge da exploração do ouro em Minas, a Fazenda Jaguara foi um importante ponto fiscal, até 1765. A fazenda está localizada em Mocambeiro, distrito de Matozinhos MG (na foto acima do Thelmo Lins, a entrada da fazenda)
          Com o declínio da mineração, o posto fiscal foi desativado e a fazenda passou a produzir alimentos de subsistência, para abastecer a região, sendo construída o casarão sede, senzala, igreja e moinho. Era uma das maiores fazendas produtivas da região, com cerca de 1.200 alqueires e ainda, 750 escravos.
          Devido a riqueza hídrica da região, que favorecia a construção de pequenas usinas hidrelétricas, indústrias de tecidos começaram a instalar-se em Matozinhos e cidades vizinhas. Na Fazenda Jaguara, foi instalada uma dessas indústrias, com seu conjunto, passando a fazer parte da fazenda. Também em ruínas, o maquinário e galpões da antiga fábrica de tecidos, fazem parte da história e patrimônio da fazenda.
Arrependimento e promessa
          O destaque maior da fazenda são as ruínas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Era comum, no Brasil Colônia, a construção de pequenas capelas nas fazendas. Na Fazenda Jaguara, foi diferente, foi construída uma igreja. A iniciativa da construção do templo, foi do português, Antônio de Abreu Guimarães, que se enriqueceu contrabandeando diamantes e ainda, era sonegador de impostos.
          Arrependido de seus atos e disposto a mudar de vida, procurou o perdão divino, confessando seus atos, perante a Igreja. Como penitência, o padre determinou que  construísse, não uma capela, mas uma igreja na Fazenda Jaguara, além de doar os lucros da fazenda para obras de caridade e rezar muito.
          Decidido a se redimir, cumpriu sua penitência. Não economizou na construção da igreja que dedicou à Nossa Senhora da Conceição. Contratou para projetar e executar a obra, nada menos que Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, o Mestre do Barroco Mineiro.
A igreja construída por Aleijadinho
          O templo começou a ser construído na década de 1780 e concluído na mesma década, em 1786. Os riscos externos, o coro, os púlpitos, os altares laterais e as ornamentações, seguiam à risca o estilo do século XVIII, bem como o altar-mor, que era muito semelhante com o altar-mor da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, também do Mestre Aleijadinho.
          Dentro da igreja, uma placa em madeira, fixada abaixo de um anjo, colocada a mando do português, dizia: “Feito à custa de Antônio de Abreu Guimarães”.
          Considerada uma das mais expoentes e originais arquiteturas mineiras, seu estilo arquitetônico e ornamentações interiores, representavam o que existia de mais autêntico e genuíno da arte barroca do século 18.
          Era uma das principais e mais belas igrejas mineiras, mesmo estando em uma fazenda particular, justamente pelas talhas do Mestre Aleijadinho.
          Um fato interessante é que a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Fazenda Jaguara, foi a única igreja feita totalmente por Aleijadinho. As demais foram em parcerias com outros artistas, como o Mestre Ataíde. A da Fazenda da Jaguará não. Do alicerce ao acabamento, obra do escultor, desenhista e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. 
A compra da fazenda pelo inglês George Chalmers
          A situação e realidade da fazenda mudou no final do século XIX, quando a fazenda foi adquirida pelo inglês George Chalmers (Falmouth, Inglaterra, 1857 — Nova Lima, 1924). 
          Chalmers era minerador e também, diretor da Mina de Morro Velho, em Nova Lima MG, cidade distante 106 km da Fazenda Jaguara. O inglês era também Protestante. 
          Por estar numa área rural e distante da cidade, a igreja era muito conhecida, mas pouco visitada e carecia de manutenção e cuidados constantes com sua arquitetura, como toda obra necessita, principalmente as mais antigas. Assim, começava a entrar em decadência. 
         Chalmers optou em não cuidar e nem em reformar a igreja, ao contrário, mandou desmontar e retirar todas as peças e obras de Aleijadinho da igreja da Fazenda Jaguara.  
          A intenção do britânico em retirar as peças da igreja, podia ser a melhor possível, mas não se sabe o real motivo ou motivos, de tão drástica atitude. 
Destino das obras de Aleijadinho
          As obras de Aleijadinho foram levadas para Nova Lima, onde Chalmers residia e trabalhava. Acredita-se que uma parte das obras retiradas da igreja, foram parar nas mãos de colecionadores.
          Sem as ornamentações e talhas de Aleijadinho, a igreja perdeu seus atrativos. Abandonada, foi entregue aos cuidados do tempo, bem como as construções em redor e algumas até a desapareceram, como a senzala, que não restou nem vestígios. (fotografia acima de Thelmo Lins as ruínas da igreja construída por Aleijadinho na Fazenda Jaguara)
Obras do Aleijadinho na Igreja do Pilar em Nova Lima
          Tempos depois, o batistério, os altares laterais e as talhas do altar-mor retirados da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, bem como a imagem da santa, talhados por Aleijadinho, no século 18, foram doados por Charlmers, à Igreja de Nossa Senhora do Pilar, Matriz de Nova Lima, uma construção do século 20. Uma igreja com arquitetura e estilo bem diferente, das tradicionais igrejas do século 18, com ornamentos e talhas do Mestre do Barroco Mineiro, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
          Agindo certo ou errado, seja por quais motivos, ou intenções que teve, o fato é que boa parte das obras do Mestre Aleijadinho, foram salvas, pelo gesto de doação das obras, por Chalmers, à Matriz de Nova Lima, evitando que fossem parar, por completo, nas mãos de colecionadores. (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade, a Matriz de Nova Lima)
          Estão hoje bem conservadas e protegidas na Igreja de Nossa Senhora do Pilar, em Nova Lima, aberta a todos, fiéis, estudiosos e amantes da arte e arquitetura do barroco mineiro. A cidade de Nova Lima está distante 30 km do Centro de Belo Horizonte. (na foto abaixo da Norma Bittencourt, o altar-mor, da antiga Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Fazenda Jaguara, ornamentando o altar-mor da Matriz do Pilar, em Nova Lima).
Bens tombados
          Por sua importância histórica para Minas Gerais, as ruínas do conjunto arquitetônico da Fazenda Jaguara, foram tombadas em 12 de janeiro de 1996, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG). Compõe esse conjunto as ruinas da igreja, a Casa da Junta, galpões de maquinários, a casa sede, o moinho e o porto.

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