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terça-feira, 12 de abril de 2022

Quintadas: O cheiro e o sabor de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Quitanda é uma palavra muito popular no Brasil. Sua origem é do dialeto africano “quimbundo” e passou a ser conhecida e usada no Brasil através dos escravos. A escrita original é Kitanda, com k, mas com as mudanças da língua portuguesa ao longo dos séculos, ficou quitanda com q. (fotografia abaixo de quitandas feitas por Lourdinha Vieira em Bom Despacho MG)
Definição de quitanda
          As escravas faziam bolos, biscoitos e doces, colocavam em um tabuleiro e ficavam nas esquinas das cidades, vendendo seus produtos, a mando de seus senhores.
          Alguns comerciantes portugueses, de pequenas mercearias e armazéns, as famosas vendas vendiam de tudo ou quase tudo. Inspirados nos tabuleiros das escravas, passaram a colocar tabuleiros com doces, queijos, bolos e biscoitos em suas vendas. 
          Com as guloseimas nos tabuleiros, as antigas vendas passaram a ser completas, a venderem de tudo. (na foto acima de Arnaldo Silva/@arnaldosilva_oficial, uma tradicional venda do século passado em Bom Despacho MG)
          É assim, para maior parte do Brasil, uma quitanda é um local onde se vende frutas, verduras, legumes, ovos, bolos, doces, queijos, etc. Apenas em um estado brasileiro, quitanda tem outro significado. É Minas Gerais. (fotografia abaixo de Edson Antônio em Tiradentes MG)
Quitanda para os mineiros
          Para os mineiros, quitanda são guloseimas feitas com polvilho, fubá ou farinha de trigo, como biscoitos, bolos, roscas, além de doces, feitos em casa. 
          Ou seja, quitanda, em Minas Gerais, é tudo que sai dos tachos, fogões e fornos das cozinhas mineiras. São servidas em tabuleiros ou potes e sempre acompanhadas de café. (fotografia acima e abaixo de Alexa Silva/@alexa.r.silva em Jaboticatubas MG)
          É assim desde o século XVIII, com as quitadas sempre presentes nas cozinhas mineiras, isso porque, quitandas foram feitas para acompanharem o café. 
          Quitanda e café é a combinação mais antiga de Minas Gerais. São dezenas de quitandas diferentes, com centenas de receitas diferentes. A maioria dessas receitas, passadas de geração para geração. São mais de 300 anos de tradição culinária mineira. (fotografia acima de Edson Santos em Felício dos Santos MG)
          Se formos definir Minas Gerais pelo cheiro e sabor, podemos dizer que o cheiro e o sabor de Minas, é o suave cheiro de uma quitanda assando. (na foto acima de Elvira Nascimento, biscoito de queijo assado no forno em Açucena MG)
          Já o som de Minas Gerais é o tilintar das chamas ardendo no fogão a lenha e fornos de barro, que sai das chaminés de nossas cozinhas. (fotografia acima de Luís Leite em Vargem Bonita MG)
          Seja um bolo de fubá ou uma broa, assando na brasa, um tabuleiro biscoito de queijo ou de pão de queijo assando, o tilintar das borbulhas do doce de leite ou de goiaba no tacho de cobre ou mesmo, os biscoitos fritando na frigideira no fogão a lenha. (na foto acima quitandas diversas feitas por Lourdinha Vieira em Bom Despacho MG)
          Quitanda é o cheiro, o sabor e o gostinho de Minas em nossa mesa. É a identidade gastronômica mineira e ainda responsável por transformar as cozinhas mineiras no principal lugar da casa. (fotografia acima de Alexa Silva/@alexa.r.silva em Jaboticatubas MG)
          A sala de visitas de mineiro é a cozinha. Nas autênticas cozinhas mineiras, tem quitandas caseiras.

sábado, 9 de abril de 2022

Carrancas: cidade das serras e das cachoeiras

(Por Arnaldo Silva) Quem acompanha novelas, deve se lembrar de grandes sucessos como O Fim do Mundo (1996), América (2005), Alma Gêmea (2006), A Favorita (2008), Paraíso (2009), Amor Eterno (2012), Império (2014), Orgulho e Paixão (2018) e Espelho da Vida (2018). Foram grandes produções da TV brasileira, tendo em comum as belíssimas paisagens de Carrancas, nas Vertentes de Minas Gerais, município mineiro famoso por suas paradisíacas cachoeiras e paisagens espetaculares.
          Isso mesmo, Carrancas MG é cenário natural de filmes, novelas e minisséries e documentários. (fotografia acima de John Brandão - In Memoriam)
          As belezas de Carrancas estiveram em evidências na recente reprise da novela Império, da Rede Globo. Embora a trama tenha como tema o Monte Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela, no Norte do país, mas as paisagens que o Brasil inteiro viu, são mineiras.
          As paisagens exibidas na novela como sendo na região do Monte Roraima, na verdade, foram gravadas na Chapada do Abanador, na cidade vizinha de Minduri MG, no Sul de Minas (na foto acima de Rildo Silveira). As cavernas onde várias cenas desta novela foram feitas, foram filmadas em Cordisburgo/MG. Já as cenas com belas paisagens naturais, serras e cachoeiras vistas na novela, foram em Carrancas MG.
A preferência por Carrancas
          A preferência das redes de TVs e produtoras de cinemas por Carrancas, é por causa de suas mais de 70 cachoeiras, com águas limpas e cristalinas, além de suas belezas naturais únicas no Brasil. É um cenário perfeito, romântico, idílico, refrescante e poético. (na foto acima de Jerez Costa, a Cachoeira da Fumaça)
          A cidade fica a 280 km de Belo Horizonte e faz divisa com os municípios de Itutinga, Luminárias, Nazareno e São João Del Rei, Tiradentes e Lavras, no Campo das Vertentes e com Minduri, São Vicente de Minas e Cruzília, no Sul de Minas. Carrancas faz parte da Estrada Real.
A cidade de Carrancas
          Além de charmosa, atraente, a cidade oferece uma boa qualidade de vida aos seus poucos mais de 4 mil habitantes, além de contar com uma boa estrutura urbana, principalmente em sua rede hoteleira e gastronômica.
          A estrutura urbana da cidade como lojas, restaurantes, hotéis, pousadas, bares, cafés, sorveterias e lanchonetes, foram investimentos feitos por empreendedores locais e boa parte, por pessoas vindas de outras cidades mineiras e até de outros estados. Vem à cidade, se encantam com Carrancas e trocam a agitação das grandes cidades, pela tranquilidade que Carrancas oferece, além de investirem em negócios próprios. (na foto acima de Giseli Jorge, a Praça da Matriz de Carrancas)
          Cidade turística com grande potencial de crescimento, além de famosa, atrai também investimentos nessa área e vem melhorando a cada dia, em termos de estrutura turística.
A Terra das Cachoeiras
          O segundo nome de Carrancas é Terra das Cachoeiras e não é por menos. Tem cidades mineiras e brasileiras com até o dobro de cachoeiras de Carrancas, mas iguais em beleza, não tem.
Em Carrancas, as cachoeiras e paisagens são de extasiar!
São cerca de 70 cachoeiras, divididas em complexos de cachoeiras como Complexo da Ponte, o Complexo da Toca, Complexo da Vargem Grande, Complexo do Tira-Prosa, o Complexo do Grão Mogol, o Complexo da Fumaça e o Complexo da Zilda. (na foto acima de Vinícius Barnabé/@viniciusbarnabe, a Cachoeira da Esmeralda e abaixo, de Fabrício Cândido, pequenas quedas d´águas e poços de águas cristalinas)
          Estes últimos, da Fumaça e da Zilda, são os mais procurados. O primeiro está bem próximo ao centro da cidade e o segundo, 12 km de distância.
          Quem pensa em cachoeiras e belezas naturais únicas, procura Carrancas. Cenários e recursos naturais presentes em Carrancas, não tem igual no Brasil. Tantas cidades belas pelo Brasil, com paisagens incríveis, Carrancas se destaca na preferência, simplesmente porque são paisagens diferenciadas, sem igual no Brasil, que impressionam e encantam.

Outros atrativos de Carrancas
          Carrancas está a 1052 metros de altitude, acima do nível do mar, além de estar em uma região de planalto. Isso faz com que brumas e chuvas, sejam constantes na região, o que torna a paisagem mais idílica e poética. (fotografia acima de Marselha Rufino)
          A cidade conta com guias especializados. Assim, os turistas podem conhecer melhor e aproveitar mais as belezas de Carrancas, já que são muitas cachoeiras, serras e paisagens para conhecer. Vale ressaltar que boa parte dos atrativos naturais de Carrancas estão em propriedades particulares, com isso, cobra-se em dinheiro vivo, para entrar.
          As belezas de Carrancas não se concentram apenas em suas paisagens e cachoeiras. A cidade também é bela, muito bem cuidada e com atrativos. Um desses atrativos é a Praça da Matriz de Nossa Senhora da Conceição. (na fotografia acima de Thelmo Lins)
          A igreja teve sua construção iniciada em 1721, no século XVIII. Feita por mãos escravas, foram usadas em sua estrutura pedras de quartzito, abundante na região. Essas pedras podem pesar até 1 tonelada. 
          Imaginem o trabalho que deu aos escravos sobrepor pedra sobre pedra, no início do século XVIII.
          Pinturas interiores, esculturas e altares da Matriz foram feitas no estilo barroco e rococó, por Joaquim José da Natividade, o Mestre Natividade, um dos discípulos de Antônio Francisco Lisboa, o Mestre Aleijadinho. (na fotografia acima de Thelmo Lins)
          Em Carrancas tem um centro de artesanato, com obras de artesãos locais e também, lojas de artesanato com peças de vários artesãos mineiros e de outros estados, como o Quintal das Artes. São peças muito bem feitas e bem trabalhadas, como podem ver na fotografia do Thelmo Lins, de trabalhos do artesão João Alves, de Taiobeiras, disponível no Quintal das Artes. 
          Uma lembrança boa da cidade para os turistas. Tem a Curupira, uma livraria e papelaria, onde encontra-se ainda, brinquedos artesanais.
          Além disso, os moradores de Carrancas cuidam de sua cidade. As ruas são limpas, muitas delas com jardins com hortênsias por exemplo. Os moradores plantam e cuidam dos jardins, com isso, melhoram a qualidade de vida, além de tornar Carrancas mais bela e atraente.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

O arraial de São João Batista da Canastra

(Por Arnaldo Silva) São João Batista da Canastra é um pequeno arraial, localizado na parte alta do Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas, a 1200 metros de altitude. O acesso ao arraial pode ser feito pelas portarias 1, 2 e 3 do parque. São Roque de Minas está a 320 km distante de Belo Horizonte, com acesso pela MG-050.
          Um vilarejo tipicamente mineiro, conta com pouco mais de 50, casas onde vivem cerca de 200 pessoas. No singelo arraial tem uma praça gramada, igreja, um tradicional boteco, pousadas, um pequeno restaurante, uma rua principal e pequenas ruas laterais, de terra batida. Um lugar pitoresco, charmoso, de gente bem simples, desapegada, hospitaleira e acolhedora. (fotografia acima de Luís Leite)
          Uma rusticidade e simplicidade poética. Lugar que transmite uma paz e tranquilidade incrível! (fotografia acima de Felipe Brazão/@fbimagensarea)
          Os moradores, principalmente os mais antigos, adoram uma boa e autêntica prosa mineira. Conhecem bem a história do arraial, suas lendas, causos e suas belezas e gostam de contar as histórias do arraial.
          Em torno da simplicidade da igreja e praça, acontece os principais eventos religiosos, folclórico e culturais de São João Batista da Canastra. (fotografia acima de Elpídio Justino de Andrade e abaixo da Maria Mineira, a singela igreja do vilarejo)
          A culinária de São João Batista da Canastra é famosa na região. Tradicional e tipicamente mineira, com os pratos típicos da nossa culinária, nossas quitandas, doces saborosos, como o doce de leite e o de queijo, além claro, do Queijo Canastra.
          Sem contar as belezas naturais em torno do arraial com uma vista de tirar o fôlego da Serra da Canastra, além das belas cachoeiras do Jota, da Gurita e a do Lava-pés, bem pertinho do arraial, tem ainda nas proximidades, as cachoeiras do Fundão, da Parida, da Boa Vista e de Rolinhos. (na foto acima da Maria Mineira a Cachoeira do Jota e abaixo, a Cachoeira do Fundão)
          Além disso, o pacato vilarejo tem o privilégio de estar entre as divisas das nascentes do Rio Araguari, que faz parte da bacia do Rio Paraná e também de nascentes, rios e riachos que formam a bacia do Rio São Francisco.
          Em São João Batista da Canastra a vida passa devagar, é tão sossegada e tranquila que é um convite imperdível para quem visita o Parque Nacional da Serra da Canastra. (fotografia acima de Luís Leite)
          Clima ameno, ares e sossego de fazenda, é um lugar ideal para sentir e conhecer de perto o jeito mais simples e autêntico do povo mineiro.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Noiva do Cordeiro: a vila das mulheres

(Por Arnaldo Silva) Noiva do Cordeiro é distrito da cidade de Belo Vale, no Vale do Paraopeba. A cidade está a 82 km de Belo Horizonte e Noiva do Cordeiro a 17 km distante de Belo Vale.
História
          A história de Noiva do Cordeiro começa a partir de 1890, no século XIX, quando Maria Senhorinha de Lima, nascida em Casa Branca, distrito de Belo Vale, foi forçada por seu pai a casar-se com Arthur Pierre. Mas o grande amor de Maria Senhorinha era Francisco Fernandes, morador do distrito de Roças Novas.
          Mesmo casada, mantinha relacionamento com seu antigo amor. Quando se descobriu grávida de Chico Fernandes, como era chamado, decidiu abandonar seu casamento e viver com seu amante.
          O ato de Maria Senhorinha de Lima foi um escândalo na época, considerado uma afronta aos preceitos religiosos católicos. Era uma época de rígidas normas religiosas e sociais e de extremo preconceito para quem ousasse desafiar tais normas.
          Maria Senhorinha de Lima foi excomungada, bem como sua descendência até a quarta geração amaldiçoada, pelo padre Jacinto, da paróquia local. Sem contar a reação de sua família, que não escondeu a excomunhão de Senhorinha de Lima e a atitude do casal, fazendo questão de tornar o fato público. Isso gerou ações de extremo preconceito e hostilidades ao casal, por parte dos moradores da região.
          O casal optou em viver em Roças Novas, mas chegando ao local, foram hostilizados pelos moradores. Chico Fernandes tinha terreno, herdado de seu pai e para lá foi com Senhorinha.
O velho e o novo casarão
          Chico e Senhorinha passaram a viver de forma isolada, longe da sociedade, nas terras herdadas por Chico, no mesmo lugar que está hoje a comunidade de Noiva do Cordeiro.
          Construíram sua moradia e nesse local formaram uma família de 12 filhos.
          Os filhos de Chico e Senhorinha cresceram, formaram novas famílias. A comunidade crescia e o casarão também. Mesmo quem viesse de outras localidades, eram acolhidos e ficavam. Com o tempo, se transformaram em uma grande família, vivendo num só lugar.
          A antiga casa construída pelo casal já não comportava mais tanta gente. Um outro casarão foi construído, com dois pavimentos, mais cômodos, salas grandes, cozinha enorme e muitos quartos. Esse casarão é chamado pelos moradores de Noiva do Cordeiro de “Casa Mãe”. É nesse casarão que a comunidade se reúne e faz suas refeições. Além de ser a casa de várias famílias atualmente, foi a casa de praticamente toda a comunidade, em décadas passadas.
          A antiga casa que viveu o casal Chico e Senhorinha foi reformada e nela atualmente, vivem duas famílias. Além desta casa e da “Casa Mãe”, atualmente toda a comunidade de Noiva do Cordeiro é formada por 85 casas.
          Francisco Fernandes e Maria Senhorinha de Lima foram sepultados no cemitério do distrito de Santana em Belo Vale MG, ao lado da Igreja de Santana.
Isolamento, preconceito e discriminação
          Mesmo vivendo isolados e distante da sociedade, o casal, bem como seus filhos, continuaram a serem vítimas de hostilidades, preconceitos e discriminações. As mulheres que viviam no casarão, eram tidas como prostitutas e adúlteras pela sociedade, e o lugar não era bem visto na região.
          A sociedade não perdoava o adultério de Senhorinha, além das consequências morais e sociais impostas pela excomunhão e maldição por 4 gerações, que o casal sofreu.
          Chico e Senhorinha e seus descendentes sofreram um violento lacre social, principalmente nas primeiras décadas do século XX. Fruto de uma sociedade que julga, condena e discrimina, tendo como base preceitos de puritanismo religioso e social.
          As mulheres de Noiva do Cordeiro eram difamadas, maltratadas e discriminadas pela sociedade e não conseguiam trabalho. Eram isoladas socialmente.
          A vida era dura naqueles tempos, muito difícil. O casarão abrigava todas a mulheres solteiras e não solteiras. As que tinham um companheiro, conheceram seu par na própria comunidade.
          Como Noiva do Cordeiro foi formada por uma família e ao longo do tempo, outras pessoas foram acolhidas pela comunidade, a maioria tem algum tipo de parentesco entre si, mesmo que bem distante.
          Viver no casarão, compartilhar e dividir o que tinham, era a forma que encontraram para sobreviverem à solidão e o isolamento. No casarão, tudo era compartilhado e dividido entre todos.
          As mulheres trabalhavam duro na roça. Plantar e colher era a única forma que encontraram para sobreviverem à fome. Plantavam para comer, comia do que plantavam.
Porque Noiva do Cordeiro?
          Noiva do Cordeiro é um termo bíblico. O cordeiro simboliza Cristo e noiva, a Igreja. É o que tira o pecado do mundo. Soa contraditório uma comunidade ter sido formada a partir da excomunhão de Chico e Senhorinha de Lima, ter o nome religioso de Noiva do Cordeiro.
          A história do nome começa a partir da década de 1950, quando chega à comunidade, Anísio Pereira, pastor evangélico. O pastor ficou na comunidade, fundou uma igreja denominada Noiva do Cordeiro e por fim, casou-se com Delina Fernandes, nascida em 25 de agosto de 1944. Na época, Anísio Pereira tinha 43 anos e Delina, apenas 16. O casal teve 15 filhos.
          Pastor Anísio Pereira deu início a um processo de conversão de todos da comunidade e mudança radical no comportamento social e religioso das mulheres.
          Os cultos eram realizados no próprio casarão. A comunidade passou a ser conhecida por Noiva do Cordeiro.
          O porque que Anísio Pereira escolheu esse nome, é mistério, embora obviamente, a noiva de Cristo é a igreja. Ou seja, cada pessoa que se arrepende de seus pecados, aceita Jesus como seu salvador e se converte, passa a fazer parte da Igreja.
          Segundo a fé Cristã, é Jesus quem tira os pecados do mundo e salva o pecador. A noiva é a igreja se preparando para o casamento com o cordeiro, o Cristo, segundo a cristandade.
          Baseado em suas crenças, o pastor criou regras rígidas como orações diárias e longas, jejuns constantes e até castigos públicos. Proibiu ainda, entre outras coisas, bebidas alcoólicas, música, cigarros, cortar os cabelos e considerava um pecado gravíssimo o uso de qualquer tipo de contraceptivos. Dai a explicação para as famílias com grande número de filhos, nessa época.
          O fato de a comunidade ter uma igreja evangélica, aumentou mais ainda o preconceito da sociedade local, majoritariamente católica, contra as mulheres de Noiva do Cordeiro.
O fim da liderança de Anísio Pereira
          Por desconhecer ou não entender a vocação feminista e o espírito de luta das mulheres da comunidade, pastor Anísio foi perdendo força e influência. Tudo que elas faziam era considerado pecado, até que uma de suas filhas, Rosalee Fernandes Pereira, casada desde os 16 anos e aos 21, já com 3 filhas, decidiu contrariar as ordens do pai.
          Rosalee, escondida do pai e do próprio marido, liderou um grupo de mulheres da comunidade e se submeteram à cirurgia de laqueadura. Começa a partir desse ato o início do fim da liderança e domínio do pastor sobre a comunidade.
          Já idoso e desacreditado pela comunidade, pastor Anísio faleceu em 1995. Os dogmas e rígidos preceitos religiosos aplicados pelo pastor, foram sendo abandonados pela comunidade. Resta hoje apenas o nome, Noiva do Cordeiro, que permaneceu como nome da comunidade.
          Mesmo passando mais de um século após a fuga de Senhorinha e Chico, o preconceito e hostilidades da sociedade, continuaram. Se antes o casarão era mal falado e considerado abrigo de adúlteros e prostitutas, passou a ser chamado, após a morte do pastor Anísio de “morada do diabo”.
Delina Fernandes
          Com a morte de Anísio Pereira, sua viúva, Delina, assumiu a condição de líder da comunidade, bem como a propriedade do casarão e de toda a gleba, formada por 41 hectares.
          A comunidade, principalmente os jovens, começaram a experimentar o sabor da liberdade que nunca tiveram, como cortes diferentes no cabelo, roupas justas, maquiagens, além de experimentar o cigarro e o álcool. Tudo que era proibido, durante a vigência da liderança do pastor Anísio, começaram a experimentar.
          Delina assumiu a liderança da comunidade e buscou orientar os jovens, principalmente. Conseguiu conscientizá-los que o caminho que estavam indo não era o ideal, além de ser prejudicial à vida família, provocar atritos e dividir a comunidade.
          Fez questão de mostrar que, apesar da falta de liberdade nos anos de vida religiosa a que foram submetidos, a vida em comunidade, o amor ao próximo e a união, foram positivas para o fortalecimento de Noiva do Cordeiro. Que deviam ser livres sim, mas com responsabilidade
          Além disso, mostrou aos que excediam, que a comunidade podia aproveitar a liberdade que conquistaram e solidificar o amor, a união e o respeito que todos tinham entre si. Delina queria transformar a liberdade que passaram a ter em algo bom, para toda a comunidade. E conseguiu!
          Todos da comunidade são livres para viverem a vida conforme se sintam bem, mas longe de más companhias e das consequências do vício. Hoje, todos usam suas liberdades em prol da comunidade, da família, do respeito e união.
A Grande Mãe
          Delina, hoje com 77 anos, viveu, sentiu e presenciou todo o preconceito e discriminação sofridas por seus avós, pais, filhos e netos. As gerações mais novas, sabem da história de Noiva do Cordeiro e todo o sofrimento que as primeiras gerações passaram através da vida e memória de sua matriarca.
          Sua capacidade, equilíbrio, consciência, experiência, sabedoria e conhecimento da história de seus antepassados, fez de Delina, mestre, guru, líder e a “Grande Mãe” de Noiva do Cordeiro.
          Foi Delina a responsável pela união das mulheres de Noiva do Cordeiro. É a espinha dorsal da comunidade, a mãe de todos. Até mesmo quem não tem parentesco com Delina, a chama de mãe, tamanho o respeito e liderança da matriarca.
          Delina criou regras de convivência, comportamento e defesa das mulheres do povoado com base na união e respeito mútuo, sem imposições. “Todos são por um, e um é por todos”, essa era sua filosofia e a que rege a comunidade atualmente.
          Delina conseguiu unir todas as mulheres e homens da comunidade em torno de sua filosofia, formando com isso uma comunidade sólida e unida.
A união que fortalece
          Com o tempo, os papéis de todos começaram a serem definidos. As mulheres cuidavam dos afazeres do casarão e da lavoura e os homens buscaram trabalhos fora, para garantir a subsistência de suas famílias e comunidades. As mulheres foram cuidar das terras e os homens, partiram em busca de trabalhos na indústria de mineração e outros segmentos, em outras cidades.
          De todo o rigor imposto pelo pastor Anísio, Delina reconhece que o pastor ensinou à comunidade sobre o que é o amor e a importância da união de todos. Mas concluiu que não precisa passar fome, frio e fazer sacrifícios para se tornar filha de Deus. Por isso, continuou a reunir a comunidade e fortalecer a união de todos.
          Deus está presente no coração e vida das famílias de Noiva do Cordeiro, mas não em templos de paredes e sim em seus corações, que consideram morada de Deus.
          Creem e temem a Deus, respeitam a todas as doutrinas religiosas, mas não veem necessidade de uma religião, para ter fé em Deus, manifestar amor ao próximo e viver em harmonia. Vivem o amor em família, ao próximo e o respeito, pois acreditam ser que é a base da fé em Deus.
          São conscientes de sua história e da experiência de terem convivido, há mais de um século com preconceitos, difamações, calúnias, fofocas e humilhações. A dor depura a alma, fortalece o coração e o discernimento. Isso tudo se transforma em um aprendizado e experiência de vida, que passa de geração por geração.
Vila das mulheres
          Embora a comunidade de Noiva do Cordeiro seja formada por mulheres e homens, praticamente em proporções iguais. São 45% são mulheres, 40% homens e 15%, crianças. Mas o que mais se vê na comunidade são mulheres. Isso dá a impressão de que Noiva do Cordeiro é uma comunidade só de mulheres.
          Os homens não são vistos sempre na comunidade, por um motivo muito simples. Não tem emprego na comunidade e para conseguir o sustento de suas famílias, tem que ir para outras cidades em busca de trabalho.
          Os homens de Noiva do Cordeiro trabalham em empresas de mineração da região e em outras cidades, como em Horizonte. Só retornam à comunidade nos fins de semana ou em dias de folga, para ficarem com suas famílias. Durante a semana, somente mulheres, crianças e adolescentes ficam em Noiva do Cordeiro.
Uma grande família
          A vida em Noiva do Cordeiro, é desde sua formação, em torno do casarão. A comunidade de Noiva do Cordeiro é formada por cerca de 420 pessoas. Atualmente, são cerca de 90 famílias, formando uma comunidade de cerca de 300 pessoas. Estima-se que mais ou menos 120 pessoas com origens na comunidade, vivam em outras cidades de Minas e até em outros estados.
          Como Noiva do Cordeiro foi formada por uma família, que ao longo do tempo acolheu outras pessoas que passaram a residir na comunidade, todos de Noiva do Cordeiro, de alguma forma, tem algum grau de parentesco, mesmo que bem distante.
Trabalho em comunidade
          O dia a dia de trabalho em Noiva do Cordeiro é muito bem organizado. Trabalharam em forma de mutirão. As mulheres exercem as funções de acordo com suas vocações.
          Quem gosta de cuidar da lavoura, vai para a lavoura. Quem gosta de cozinhar e arrumar a casa, exerce essas funções. Quem prefere educar as crianças na escola da vila, dá aulas. Quem prefere trabalhar na fábrica, com artesanato, vai fazer o que gosta.
          A vida é em comunidade, mas todas são donas de si e suas escolhas e gostos são respeitados. A ninguém é imposto nada.
          A exceção é pela faixa etária. Evita-se ao máximo pessoas de mais idade, seja homem ou mulher, exercer atividades na lavoura, que é um trabalho mais pesado. Os mais velhos fazem trabalhos mais leves, como por exemplo, na fábrica de confecções. 
          Caso os idosos da comunidade não tenham condições de trabalhar, ajudam com parte de suas aposentadorias quando alguém precisa comprar remédios, viajar para fazer consultas e outras necessidades. Todos se ajudam de alguma forma. Ninguém fica desamparado em nada na comunidade.
Mulheres belas e vistosas
          Jovens, entre 20 e 35 anos, as mulheres de Noiva do Cordeiro são belas e vistosas e não tem dia ruim para o trabalho. Seja com sol, chuva ou frio, seguem para o trabalho do dia a dia com um sorriso no rosto.
          É assim desde o começo. Vão para o trabalho juntas e retornam juntas. Colhem o que plantam, comem do que colhem.
Trabalho na roça e na fábrica
          O dia começa antes do amanhecer do sol com o tilintar das brasas no fogão a lenha do velho casarão. É o café da manhã sendo preparado. Após a refeição da manhã, seguem para o trabalho, todas juntas.
          O trabalho na roça e na comunidade é dividido e organizado em forma de cooperativa. Uma parte das mulheres ordenham, alimentam os porcos e cuidam das galinhas. Outras aram a terra, capinam e cortam lenha. Outras trabalham na lavoura, plantando arroz, feijão, milho, mexerica, café, mandioca e hortaliças em geral.
          Quando podem, os homens da comunidade também ajudam nos serviços da roça, como na capina.
          Outra parte fica na comunidade cuidando dos filhos, fazendo produtos de limpeza e outras na pequena fábrica de roupas, tapetes e colchas. Boa parte da matéria prima da fábrica vem de doação como retalhos, que possam ser reaproveitados na produção de roupas e adereços de acordo com a necessidade da comunidade e demanda comercial.
           As peças feitas na fábrica, tem hoje um bom mercado, mas o começo não foi fácil. Tentaram inicialmente vender a produção da fábrica em Belo Vale e comunidades rurais, mas as vendas eram pequenas.
          Mesmo assim, não desanimaram. Pegaram a produção da fábrica e foram para Belo Horizonte, oferecendo seus produtos de porta em porta.
          Hoje, uma parte da produção da fábrica é vendida na própria comunidade para turistas e visitantes, que sempre vem à Noiva do Cordeiro. Outra parte da produção é vendida em feiras e exposições de artesanato em várias cidades mineiras. Uma parte da produção agrícola fica na própria comunidade, outra parte, é vendida para a Ceasa de Belo Horizonte.
          As máquinas da pequena fábrica só param na época da colheita quando todas se juntam e vão para roça.
A comunidade de todos
          Com o dinheiro da venda da produção agrícola, da fábrica e juntando com o dinheiro que os homens da comunidade, doam, conseguem comprar sementes, bois, porcos, galinhas, ferramentas, além de ajudar em tratamentos médicos, reforma de casas, transporte dos moradores para outras localidades, caso necessitem, etc.
          Além disso, com esse dinheiro, compram matérias primas para a pequena fábrica e ainda, investem em melhorias na comunidade, além de manter as despesas da “Casa Mãe”, que são muito grandes.
          Todo o serviço comunitário é voltado para o sustento de todas as famílias da comunidade. Trabalham muito, mas não ao ponto de levantarem 4 da manhã e só retornarem no fim da tarde. Não são escravas do serviço. Isso porque trabalham em comunidade, em mutirão. Assim, o trabalho rende mais, é feito em menos tempo e se torna menos cansativo. Não trabalham para enriquecer e sim para terem o necessário e manter a qualidade de vida de todos da comunidade.
          Embora ninguém em Noiva do Cordeira seja rico, todos vivem na fartura, com conforto, segurança e tranquilidade.
          Em horas de folga, boa parte das mulheres da vila fazem pequenos trabalhos, como cigarro de palha, artesanato, ou seja, cada uma encontra uma forma de ganhar um dinheiro extra para comprar coisas pessoais como por exemplo, produtos de beleza, uma roupa nova, um celular melhor, fazer um passeio, etc.
          Quando alguém da comunidade quer algo e não tem condições financeiras para conseguir, todos ajudam, fazendo vaquinha.
          O foco da vida em Noiva do Cordeiro não é o dinheiro e sim no bem estar de todos e preservação vida em comunidade, da união, fraternidade, amor e respeito ao próximo.
          O trabalho em comunidade de Noiva do Cordeiro é um trabalho coletivo para o bem de todos, seguindo a filosofia da matriarca Delina: “Todos são por um, e um é por todos”
Lazer, diversão e o Sábado da Viola
          O maior lazer dos moradores de Noiva do Cordeiro é o prazer em estarem todos juntos, seja nas refeições, no trabalho da roça e nas horas de descanso. A maior diversão e alegria em Noiva do Cordeiro é o convívio saudável em família.
          Mulheres e homens da Vila, tem talentos natos para a música, artes cênicas e dança. Todos os sábados, no grande salão da Casa Mãe, acontece o sábado da Viola com a presença de toda a comunidade.
          São apresentações artísticas feitas pelos próprios moradores em apresentações solo, em duplas, como a dupla sertaneja Márcio e Maciel que compõem inspirados na história de Noiva do Cordeiro ou em grupos, como o grupo da Keyla Gaga (cover de Lady Gaga).
          Além disso, durante o Sábado da Viola, tem apresentações do grupo de teatro Quinta Geração, o Coral da Noiva e outras atividades culturais.
          É uma diversão para todas as idades e envolve toda a comunidade, além ser um momento de manifestação da união de Noiva do Cordeiro. Após as apresentações, alguns moradores sobem no palco para agradecer algo ou mesmo, se desculpar por algo que tenha feito.
          O Sábado do Viola é um momento de cultura, diversão e lazer, mas também de fortalecer a união, amizade e sentimento de amor e respeito que todos tem uns pelos outros.
O mundo e o Brasil descobre Noiva do Cordeiro
          No século XX, a história de Noiva do Cordeiro, era pouco conhecida em Minas e no Brasil. No século XXI, foi diferente.
          A epopeia de Noiva do Cordeiro despertou interesse da imprensa, com a comunidade e sua história se tornando conhecida, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
          O canal de televisão por assinaturas, GNT, foi o primeiro veículo de comunicação da documentar e tornar conhecida em todo o Brasil, a história de Noiva do Cordeiro. Mas foi no ano de 2014, que a epopeia de Noiva do Cordeiro ganhou os holofotes nacionais e internacionais, de forma mais contundente.
          De uma hora para outra, Noiva do Cordeiro virou notícia mundial através de reportagens de sites jornalísticos britânicos, alemães, americanos, turcos, tailandeses e chineses. Esses sites divulgaram matérias com um tema totalmente fora da realidade de Noiva do Cordeiro, apresentando a comunidade como terra de mulheres solteiras, para casamento.
          Nas reportagens dos sites de notícias estrangeiros, o vilarejo era mostrado como terra de mulheres solteiras em busca de casamentos. “Alerta aos solteiros: jovens de comunidade no Brasil estão em busca de homens’, era a manchete de um site. Em outro, a manchete era: “Cidade brasileira faz apelo aos solteiros.”. Até o Telegraph, de Londres entrou na história, com o título de sua matéria: “O vale das beldades brasileiras espera solteiros”.
          O erro das manchetes e reportagens, claro, causou enorme alvoroço na comunidade e perplexidade entre os mineiros.
          Além disso, as reportagens despertaram o interesse de vários homens solteiros de vários países do mundo, que acreditando na história, se interessaram em conhecer as mulheres solteiras de Noiva do Cordeiro. Foram vários homens, de vários países que vieram até Noiva do Cordeiro em busca de casamento.
          Com o tempo, a situação foi esclarecida através de informações corretas aos estrangeiros que apareceram na comunidade e à imprensa.
          Os estrangeiros e a imprensa de modo geral, conheceram melhor a história e a forma de vida das mulheres, bem como a história da comunidade. E ainda, que as mulheres da vila não estavam em busca de casamentos, e muito menos, desesperadas para casar, como mostravam às reportagens de jornais estrangeiros.
          O positivo nas matérias dos sites de notícias internacionais na comunidade foi o temor dos homens de Noiva do Cordeiro que não estavam levando muito a sério os namoros com as mulheres da comunidade. Trataram de assumir logo a relação, temendo perder suas namoradas para homens estrangeiros. O resultado foi o afloramento do amor entre os casais de Nova do Cordeiro e a solidificação de muitas uniões.
A epopeia de Noiva do Cordeiro na grande mídia
          Outro ponto positivo das reportagens internacionais foi que Noiva do Cordeiro se tornou conhecida não só no mundo, mas no Brasil e em Minas Gerais.
          A partir das reportagens internacionais, a imprensa brasileira se interessou mais à fundo Noiva do Cordeiro, bem como outros veículos de comunicação internacionais.
          Diversas emissoras de tv´s, jornais e revistas de Minas Gerais, do Brasil e de todo o mundo, já mostraram a história de Noiva do Cordeiro, bem como apresentadores de programas de TVs regionais e nacionais, além de Fernando Gabeira, que foi à Noiva do Cordeiro para fazer um documentário sobre a história da Comunidade, dentre outros tantos.
Estilo de vida únicos no mundo
          A presença de veículos de comunicação nacionais e internacionais, bem como de turistas brasileiros e de vários países do mundo, fez a comunidade entender que o estilo de vida da comunidade era diferente do restante do Brasil.
          Em Noiva do Cordeiro se vive em família, com foco no amor, na fraternidade, na solidariedade, na vida em comunidade e na busca de se tornarem pessoas melhores, a cada dia.
          É um ajudando o outro e todos trabalhando para todos. Perceberam com isso a diferença da vida na comunidade para o estilo de vida do restante do Brasil e do mundo. Não há a busca desenfreada por enriquecimento e individualidade, tradicional na sociedade capitalista que vivemos.
          Vivem de forma diferente e são felizes assim. Perceberam que eram diferentes e que a comunidade em que viviam era um lar familiar, um lugar onde são felizes e se sentem seguras.
          A forma de vida em Noiva do Cordeiro é única no Brasil. Foi um processo que surgiu naturalmente, ao longo de mais um século, para se protegerem da fome, do preconceito, da discriminação e solidão.
Exposição positiva
          Toda a exposição da mídia, ao longo dos últimos anos, foi muito importante para a comunidade, pois tiveram contato com a imprensa e pessoas de diferentes culturais, línguas e histórias de todo o mundo.
          Foi um aprendizado, que ajudou a comunidade a evoluir humanamente. Em Noiva do Cordeiro se valoriza o ser humano e não os bens materiais. Com tudo isso, aprenderam a dar mais valor ainda à comunidade e ao estilo de vida que viviam.
          É uma comunidade única no mundo. Todos são desapegados dos sonhos de consumo do capitalismo. Vivem o amor, a fraternidade, a amizade, o respeito ao próximo, a união entre todos e a vida em família.
Noiva do Cordeiro pelo mudo
          Foram inúmeros convites para cursos, palestras, estudos e viagens pelos Brasil e vários países do mundo. A convivência com pessoas de outras culturas foi muito importante para a comunidade, pelo conhecimento adquirido, pela maior evolução humana, principalmente, por entenderem o grande exemplo e valores humanos de Noiva do Cordeiro.
          Um fato importante a destacar é que mesmo com o convívio com outras culturas em viagens pelo Brasil e vários países do mundo, buscaram aprender e conhecer os estilos de vida diferentes do que vivem, com o objetivo de evoluírem humanamente. Em momento algum mostraram interesse em evolução material.
          As belas mulheres que cantam, dançam, interpretam, continuam na lida na roça, na fábrica, vivendo na comunidade e vivendo a vida em família, onde se sentem segura, protegidas e são felizes. Buscam sempre seguir o conselho da matriarca, Delina, que é sempre buscar ser melhor a cada dia.
Talento artístico para o mundo
          Com a exposição na mídia, o talento artístico da comunidade tornou-se conhecido com os grupos da comunidade, principalmente da banda de Keyla Gaga (a cover de Lady Gaga), se apresentando em eventos e mega eventos por Minas e outras cidades brasileiras, além da banda ser conhecida também em outros países, através de vídeos e reportagens diversas.
          Isso fez com que a comunidade e os artistas tivessem mais contato com a internet, entenderem sobre organização de shows, eventos, além de conhecerem as tendências musicais e outros idiomas. Foi um aprendizado profissional, que levou maior aprimoramento dos artistas de Noiva do Cordeiro.
          Com isso, os shows artísticos dos grupos de Noiva do Cordeiro, estão no mesmo nível dos grandes shows, de artistas famosos.
Estrutura para turistas
          Em Noiva do Cordeiro todo visitante e turista é bem-vindo e são recebidos com muito calor humano e alegria pela comunidade.
Não tem pousada e nem restaurante. Normalmente os turistas vem e voltam no mesmo dia. Caso alguém queira ficar, são recebidos nas casas das famílias da Vila, que preparam os quartos da casa, o café da manhã, bem como o almoço.
          Para atender às necessidades da comunidade, foi criada uma loja com produtos de beleza, bijuterias, calçados, etc. Isso evita que os moradores tenham que se deslocarem para a cidade grande para comprarem esses itens. O turista pode adquirir ainda os trabalhos feitos na fábrica, como tapetes, roupas e colchas.
Visão da sociedade atual
          Se no passado, Noiva do Cordeiro foi uma comunidade isolada, marginalizada e discriminada, devido ao amor de Chico Fernandes e Senhorinha, pela igreja evangélica instalada no local e pela opção da comunidade em não ter religião e nem frequentar igrejas, hoje é bem diferente.
          Noiva do Cordeiro é respeitada na cidade de Belo Vale, nos povoados e cidades das redondezas. As barreiras sociais que isolaram a comunidade, foram diminuindo ao longo do tempo, permitindo com isso uma convivência amigável e respeitosa com sociedade regional e a igreja, tanto católica, quanto evangélica.
Comunidade única
          Em termos gerais, a visão é de que Noiva do Cordeiro é uma comunidade única. Um jeito ideal e correto de viver em comunidade, sonhado por filósofos, intelectuais, por pacifistas, ambientalistas, enfim, por todos que buscam uma vida em sociedade harmoniosa, solidária, cooperativa, com respeito e união fraternal.
          Só que chegar a esse nível de convivência social, não é fácil. Não tem apenas que ter vontade, um grupo ou um sonho, mas uma opção pelo desprendimento de dogmas religiosos, de filosofias materialistas, do egoísmo, do consumismo desenfreado, da ganância pelo conforto material e do individualismo.
          Desprender disso tudo não é fácil e a maioria não está disposta a abrir mão do conforto individual, para viver uma vida coletiva. Por isso, vão à Noiva do Cordeiro, admiram a história, a forma como vivem em comunidade, o estilo de vida simples e desprendido de ambições materiais, mas param por aí. Optam por continuar a vida que levam.
          O estilo de vida da comunidade de Noiva do Cordeiro se formou ao longo de mais de um século, até ser o que é hoje. Pais dão exemplo de vida em comunidade, desprendimento e trabalho comunitário e os filhos aprendem. E assim segue o aprendizado e solidificação da vida em comunidade.
          O estágio atual atingido por Noiva do Cordeiro foi uma consequência gradual da união, respeito, amor ao próximo, aprendizado e evolução de todos da comunidade.
Melhor vila turística do mundo
          Melhor Vila Turística do Mundo é um concurso anual promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo do concurso é premiar pequenas comunidades alinhadas com 17 objetivos relativos ao desenvolvimento sustentável, definidos pela entidade. Entre esses objetivos destacam a preservação ambiental, preservação das tradições, da promoção da igualdade social e de gênero, produção agrícola sustentável, fome zero, consumo e produção responsáveis, etc.
          O concurso é anual e cada país pode indicar até 3 vilas. A indicação só pode ser feita pelo Ministério do Turismo. No caso, as prefeituras indicam suas vilas e a equipe do Ministério do Turismo analisa e escolhe três para concorrerem com as vilas do mundo.
          Noiva do Cordeiro preenche os quesitos para entrar para o seleto grupo das Melhores Vilas Turísticas do Mundo. Cabe a prefeitura de Belo Vale tomar a iniciativa junto ao Ministério do Turismo. Vale a dica.
Informações e fotografias fornecidas por Márcia Fernandes. Contato para informações sobre Noiva do Cordeiro, bem como agendamento de visitas: 31 99903-3531.
AVISO LEGAL: Proibida a reprodução sem prévia autorização do autor.

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