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sábado, 11 de setembro de 2021

A igreja, o Rosário gigante e o presépio de pedras

(Por Arnaldo Silva) A pequena, charmosa, pacata e acolhedora cidade de Coronel Xavier Chaves, está a 174 km distante de Belo Horizonte. A cidade conta com cerca de 3500 habitantes e faz divisa com os municípios de São João Del Rei, Ritápolis, Resende Costa, Prados, Tiradentes e Lagoa Dourada, na região do Campo das Vertentes. 
          O povoamento de Coronel Xavier Chaves, começou a partir de 1700, no século XVIII, com a chegada de famílias à região, para a formação de fazendas. (na foto acima de Sônia Fraga, a Igreja do Rosário e os dois rosários, em pedra-sabão)
          Na última década do século XIX, chegou à região, o Coronel Francisco Rodrigues Xavier Chaves, vindo de Lagoa Dourada MG, casado com Joana de Mendonça Chaves, para tomar posse da Fazenda Mosquito, pertencente à família de sua esposa.
          Com o passar do tempo, o Coronel dividiu a fazenda entre os filhos, com uma parte sendo dividida em lotes, para construção de igreja e casas, para abrigar seus familiares, amigos, trabalhadores de sua fazenda, escravos e padres. Eram 20 casas, com ruas e traçados planejados. (na foto acima de Fabrício Cândido, vista parcial de Coronel Xavier Chaves)
          Foi a partir dessa vila, construída pelo Coronel Xavier Chaves, que surgiu a cidade, que hoje, leva seu nome. Uma cidade que nasceu planejada.
          O casario da Vila pertenceu à família do Coronel Xavier Chaves até 1912, quando o vilarejo foi elevado a distrito, subordinado a Tiradentes MG, com o nome de São Francisco Xavier. (na foto acima de Sônia Fraga, detalhes de um casarão na cidade)
          Em 1943, os moradores pediram a mudança de nome do distrito para Canoas e foram atendidos. Num erro de grafia no edital oficial de mudança de nome, ao invés de Canoas, foi escrito, no edital oficial, Coroas. 
          O nome se popularizou e ficou, Coroas, até 1962, quando o distrito foi emancipado e elevado à cidade, em 30/12/1962, pela Lei 2764, mudando o nome de Coroas para Coronel Xavier Chaves, em homenagem ao seu povoador. (na foto acima de Marcelo Melo, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição)
          Mesmo assim, até os dias de hoje, a cidade é carinhosamente chamada de Coroas por seus moradores mais antigos.
Igreja e o Rosário de Pedra
          Além de seu casario histórico, de suas belezas arquitetônicas como a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, do seu artesanato, famoso no Brasil, da tradição na produção artesanal de cachaças, com os rústicos e tradicionais alambiques e produção de queijos e doces artesanais, uma construção chama a atenção. É a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (na foto acima de Sônia Fraga).
          A pequena igreja, lembra uma construção medieval. Charmosa, singela, delicada e única. Foi construída toda em pedra granitina e granito pobre, comum na região. Obra feita pelos escravos, que trabalhavam na Fazenda Mosquito, do Coronel Xavier Chaves.
          Pouco se sabe sobre a construção da Igreja ou o tempo que levou para ser concluída. Sabe-se que seu início é datado em pedra, com o ano de 1717. 
          A devoção à Nossa Senhora do Rosário, era comum entre os escravos e eles mesmos, construíam suas igrejas, com recursos próprios, associando-se em irmandades. Era permitido pelos Senhores de Escravos e comum no período da Escravidão, as irmandades construírem igrejas, em honra a seus santos de devoção, como Santa Efigênia, São Benedito e principalmente, Nossa Senhora do Rosário. (na foto acima de Marcelo Melo, ao lado de um dos rosários em pedra-sabão, um presépio, também em pedras, é outro atrativo na Igreja do Rosário)
          A igrejinha de Coronel Xavier Chaves é toda em pedra, aparente, inclusive, em seu interior. A Igreja é hoje um dos mais belos símbolos da arquitetura religiosa mineira e da fé em Nossa Senhora do Rosário, muito amada pelos escravos.
          Além da beleza da igreja, uma pia em pedra sabão, onde os moradores, visitantes e ciclistas, se refrescam com a água que jorra da pia, tem um presépio em pedras e dois imensos rosários, esculpidos em pedra sabão, nas duas laterais da igreja, que é cercada por uma pequena murada de pedras. 
          O Rosário é um dos símbolos da fé em Nossa Senhora, expressada pelos escravos e em pedra sabão, além de arte e beleza única, os dois rosários são atrativos a mais para os visitantes conhecerem e contemplar a beleza da arte mineira e a simplicidade da fé do nosso povo, em especial, dos negros escravos, que encontravam em Nossa Senhora do Rosário, conforto e alívio pela dura vida que viviam nas senzalas das fazendas mineiras.
Coronel Xavier Chaves, a antiga Coroas, é uma cidade rica em histórica, em culinária, arquitetura colonial, com destaque para suas fazendas centenárias, bem como, cheia de belezas naturais. (na foto acima de Sônia Fraga, um dos rosários em pedra-sabão ao lado da igreja)
           A cidade possui uma ótima estrutura urbana. Seu povo é acolhedor e hospitaleiro. Vale a pena conhecê-la. 

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

São Bartolomeu: a vila turística do mundo

(Por Arnaldo Silva) Quem chega à São Bartolomeu percebe a calma, paz e silêncio do lugar. É possível andar pelas ruas da vila, sem ao menos ver uma pessoa sequer. Parece que São Bartolomeu parou no tempo. E literalmente sim, e seus moradores não se incomodam com isso, já que parar no tempo é preservar sua história, arquitetura, tradições, gastronomia, rios, nascentes e matas. Sim, São Bartolomeu preserva sua identidade cultural, gastronômica e arquitetônica, há mais de 300 anos.
          Famosa por suas belezas naturais, São Bartolomeu conta ainda com o charme de sua arquitetura setecentista, a simpatia e hospitalidade de seus moradores, além de preservar suas tradições folclóricas, religiosas e a arte de fazer doces, preservada por gerações. (fotografia acima de Peterson Bruschi)
          A pequena vila é daqueles lugares em Minas Gerais, fáceis de chegar e difícil de sair. Quem vem à São Bartolomeu, se sente em casa, quer voltar, quer vivenciar a vida simples do lugar. Sente-se num paraíso, não só por sua beleza, mas pela simplicidade da vila e de seu povo, além de se emocionar com o carinho com que seus moradores, cuidam do lugar em que vivem. (na foto acima, eu, Arnaldo Silva, ao lado de moradores da Vila. Eles são receptivos, acolhedores e gostam de uma boa prosa)
          Distrito da cidade de Ouro Preto, Região Central, São Bartolomeu, começou a ser povoado, ainda no final do século XVII, por bandeirantes paulistas, que chegaram à região, em busca de ouro. É mais antiga que a sede, Ouro Preto, fundada em 1711, no século XVIII. Está a 18 km de Ouro Preto, com acesso mais fácil por Cachoeira do Campo, na Rodovia dos Inconfidentes. (na foto acima do Peterson Bruschi, São Bartolomeu vista do morro da Igreja das Mercês)
          Cerca de 730 moradores vivem em São Bartolomeu. Gente simples, acolhedores, receptivos e hospitaleiros. A vila oferece uma excelente qualidade de vida, bem como, ótima estrutura para receber os visitantes, com pousadas e pequenos restaurantes, que servem comidas caseiras e pequenos comércios familiares, que vendem produtos artesanais como doces, bebidas e artesanatos.
          Às margens do Rio das Velhas, em São Bartolomeu, suas águas formam poços de águas cristalinas e ainda, com praias fluviais, cascatas e cachoeiras.
          O Rio das Velhas é um importante rio mineiro. Nas nasce no Parque das Andorinhas, em Ouro Preto MG. São Bartolomeu é a primeira localidade banhada pelo Rio das Velhas. As águas chegam limpas e são devolvidas ao leito do rio, igualmente limpas. Isso porque, o esgoto da Vila é tratado, desde 1990, quando foi construída uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).  (na foto acima de Vinícius Barnabé/@viniciusbarnabe, cachoeira na Floresta Uaimii)
          São Bartolomeu tem ainda o privilégio de ser rodeada por uma densa mata nativa com uma flora riquíssima, formada por plantas nativas da Mata Atlântica como carobão (Jacarandá micranta), mulungus, quaresmeiras, embaúbas, ingá, pata-de-vaca, ipês, pau-ferro, pau-Brasil, cedro rosa, chuva de ouro, cipós, dentre tantas outras, preservadas no Parque Estadual do Uaimii, unidade de conservação administrada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF/MG). (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          A charmosa Vila Setecentista se destaca pela conservação e cuidados de seus moradores com seu casario colonial e pela consciência ecologicamente correta e autossustentável, de seus moradores que preservam suas nascentes, matas, bem como, mantém as ruas da vila limpa. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          São Bartolomeu, um dos apóstolos de Jesus, conhecido por Natanael (Jo 1,46), é o padroeiro da Vila. 
          A igreja dedicada ao Santo Católico, foi erguida na primeira metade do século XVIII. É um dos mais antigos templos religiosos de Minas Gerais. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          Construída no estilo Nacional Português, a Igreja de São Bartolomeu, se mantém praticamente intacta, com pouquíssimas alterações, ao longo de três séculos de existência. Por sua importância, arquitetura e história, a Igreja de São Bartolomeu foi tombada em 1960 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). 
          Além da arte sacra, de enorme valor religioso, o sino da igreja chama a atenção dos visitantes. O sino é mudo. Quando o sineiro toca, não sai som. Isso porque foi feito de madeira.
          Além da Igreja em São Bartolomeu, apenas mais 4 igrejas, dedicadas à São Bartolomeu, existe Brasil. Uma em Sem Peixe/MG, outra no Rio de Janeiro e duas na Bahia, nas cidades de Maragogipe e na capital, Salvador.
          No mês de agosto, a vila é toda decorada para a Festa de São Bartolomeu e a Festa do Divino Espírito Santo, Patrimônio Imaterial de Ouro Preto MG, desde 2014. (fotografia acima de Peterson Bruschi)
          Essas duas festas, são tradicionais, seculares e mostra a fé, religiosidade e valorização das tradições dos moradores da vila, passadas de geração para geração. (fotografia acima de Ane Souz, a Festa do Divino na Vila)
          Os moradores se mobilizam para enfeitar a rua principal da Vila e preparar os festejos, que conta com orações, missas, apresentação das tradicionais bandas de músicas da região, barracas com a culinária típica da região. (fotografia acima de Ane Souz)
          Outra igreja, a de Nossa Senhora das Mercês, é outro destaque em São Bartolomeu. A pequena igreja começou a ser construída em 1772 e foi concluída em 1822.
          Por estar no topo de uma colina, se destaca na Vila é um ponto privilegiado para contemplar toda a beleza de São Bartolomeu.
          São Bartolomeu é referência em gastronomia na região, com destaque para os pratos típicos da culinária mineira, cachaças, licores, mel e principalmente, na produção de geleias e doces de frutas, figo, laranja, mexerica, jabuticaba, pêssego, cidra, limão e principalmente, de goiaba. (na foto acima do Vinícius Barnabé/@viniciusbarnabe, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês)
          A Goiabada Cascão, uma das maiores identidades da Vila e de Minas Gerais, está presente nas mesas de São Bartolomeu há mais de dois séculos. (na fotografia acima e abaixo de Ane Souz, os tradicionais doces de São Bartolomeu)
          A arte de fazer doces artesanais em São Bartolomeu, é uma tradição que vem de gerações. É reconhecido como Patrimônio Imaterial de Ouro Preto MG, desde 2008.
          Em São Bartolomeu, o tilintar dos doces e pratos típicos fervendo nos tachos, aquecidos pelas chamas fogões a lenha, nos quintais de seus moradores, podem ser ouvidos, em coro, de várias partes da vila. (na fotografia acima de Arnaldo Silva, Dona Doquinha, uma das mais tradicionais doceiras de São Bartolomeu) Parece uma orquestra de sabores. Goiabada, doce de leite e outros doces, saindo do tacho, exalando o cheiro, gosto e sabor de uma das melhores cozinhas do mundo: a Cozinha Mineira.
          Em abril, acontece um dos mais importantes festivais gastronômicos da região. É a Festa Cultural da Goiaba. Neste evento, acontece shows com bandas locais, sorteios, exposições, bandas de músicas de distritos vizinhos, oficinais, artesanato local, além dos melhores doces feitos na Vila, atraem milhares de turistas para São Bartolomeu.
O que fazer em São Bartolomeu?
          Além de experimentar os queijos, doces, cachaças, cervejas artesanais, além dos pratos típicos da nossa culinária, presente na Vila, o turista pode contemplar o charmoso casario colonial da Vila, os detalhes das Igrejas de Nossa Senhora das Mercês e de São Bartolomeu, e os oratórios de madeiras, presentes nas casas, principalmente da Rua do Carmo. Ter oratório em casa é uma tradição secular em São Bartolomeu. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          Estando em São Bartolomeu, o visitante se encantará com a hospitalidade, simpatia e acolhida dos moradores locais. Com certeza, a prosa será longa. Eles adoram puxar uma boa conversa. (na foto acima, eu, Arnaldo Silva, numa boa prosa com "Dona" Nhanhá, num banco na estreita calçada da rua principal)
          Saindo da Vila, o turista pode caminhar pelas trilhas, seja a pé, de bike ou mesmo a cavalo pelas belezas da Floresta do Uaimii e conhecer belíssimas cachoeiras, como a Cachoeira Norata e a de São Bartolomeu. É pertinho, cerca de 5 km do centro da vila. 
          Além das cachoeiras e belezas das matas, o turista pode se banhar nas águas do Rio das Velhas. Na localidade, o rio é limpo e com águas cristalinas.(na foto acima do Vinícius Barnabé/@viniciusbarnabe)
Melhores vilas turísticas do mundo
          Escolhida pelo Ministério do Turismo (MTur), São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto MG, Região Central, é uma das 3 vilas turísticas brasileiras, indicadas como “Best Tourist Villages in the World” (“Melhores Vilas Turísticas do Mundo). Várias vilas, distritos e povoados brasileiros foram inscritos por suas respectivas prefeituras, junto ao MTur. (fotografia acima de Peterson Bruschi)
          Cabe ao Mistério do Turismo a análise e escolha das representantes, de acordo com os critérios estabelecidos pela OMT. Cada país pode indicar no máximo, três representantes.
          O concurso Melhores Vilas Turísticas do Mundo é um evento promovido pela Organização Mundial do Turismo (OMT), órgão das Nações Unidas. Todos os países, signatários da ONU, participam do evento, indicando suas vilas e aldeias, com até 15 mil habitantes, para concorrerem ao título de Melhores Vilas Turísticas do Mundo.
          Além São Bartolomeu, foram indicadas, pelo Ministério do Turismo, para concorrerem no mesmo concurso, Alberto Moreira, distrito de Barretos, em São Paulo e a Vila de Enxaimel, em Pomerode, no Estado de Santa Catarina.
          O objetivo do concurso é identificar as vilas e aldeias com forte ação no desenvolvimento do turismo rural, com ações inovadoras e transformadoras, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em todo o mundo.
          Para ser escolhida pela OMT, a vila indicada, tem que ter baixa densidade populacional, seus moradores tem que exercer atividades ligadas à agricultura, pecuária, silvicultura ou pesca, além de valores e estilo de vida da comunidade, ser um exemplo a ser compartilhado por outras vilas e aldeias.
          São Bartolomeu se enquadra perfeitamente nesses quesitos, definidos pela OMT, bem como as outras duas vilas. A indicação, promoverá o turismo, bem como a valorização e preservação cultural, social e arquitetônica, das vilas indicadas.
          A indicação de São Bartolomeu, pelo Ministério do Turismo, foi bastante comemorada pela Prefeitura de Ouro Preto, bem como pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult/MG), que recebeu com euforia a notícia da indicação de São Bartolomeu pelo MTur, como uma das 3 indicadas pelo Brasil, neste concurso internacional.
          As vilas vitoriosas no concurso, receberão o selo UNWTO, de reconhecimento como "Melhores Vilas Turísticas", que valorizam seus bens culturais, e naturais, além de preservarem seus valores rurais e comunitários, além da valorização e inovação em atividades de sustentabilidade, seja na proteção ambiental, cultural, das suas identidades rurais e sociais. As vilas premiadas com o selo da OMT, passam a ser um exemplo mundial de destino para turismo.
          O selo não veio, mas o simples fato de ter sido escolhida pelo Ministério do Turismo, para ser uma das três representantes do Brasil, em um concurso mundial, já é uma grande conquista para São Bartolomeu e Minas Gerais.
          Isso porque, ganhando ou não, ter sido escolhida, entre tantas vilas brasileiras,  fez São Bartolomeu ser reconhecida como uma das melhores vilas turísticas do mundo, o que contribui para desenvolver o turismo na vila, além de colocar São Bartolomeu, na rota do turismo nacional e mundial.    

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O terroir dos vinhos mineiros

(Por Arnaldo Silva) No mundo todo existem milhares de regiões produtoras de vinhos, com características específicas, como geografia, clima, altitudes e outros fatores regionais, que formam um terroir próprio e característico (Terroir é uma palavra francesa e pronuncia-se terruar).
          O apreciador de um bom vinho não precisa se apegar apenas ao vinho de uma região ou país. No Brasil são produzidos vinhos de excelente qualidade. Em Minas Gerais, também temos vinhos finos e um excelente terroir. Você pode experimentar os nossos vinhos e valorizar o grande esforço em estudo, pesquisas e investimentos, que nossos produtores, fazem para produzir vinhos de qualidade. (Na imagem vinho fino mineiro acompanhado de queijos da Fazenda Pavão em Serra do Salitre MG)
          O apreciador de um bom vinho não precisa se apegar apenas ao vinho de uma região ou país. No Brasil são produzidos vinhos de excelente qualidade. Em Minas Gerais, também temos vinhos finos e um excelente terroir. Você pode experimentar os nossos vinhos e valorizar o grande esforço em estudo, pesquisas e investimentos, que nossos produtores, fazem para produzir vinhos de qualidade. (na foto acima do Erasmo Pereira, a vinícola no Campo Experimental da Epamig em Caldas MG)
          Em Minas Gerais, o terroir dos vinhos mineiros, que vem se destacando no Brasil, na produção de vinhos finos e espumantes, é a Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas, a região da Serra do Caraça, em Catas Altas, na Região Central e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. (na foto acima de Erasmo Pereira, espumante feito Campo Experimental da Epamig em Caldas MG)
          São vinhos com características e personalidades próprias. O terroir mineiro, é graças as pesquisas e apoio da Empresa Mineira de Pesquisas Agropecuárias (EPAMIG MG), sediada em Caldas, no Sul de Minas, onde está o Campo Experimental da estatal mineira, inaugurado em 1936 (na foto acima de Erasmo Pereira). Em Caldas, estão vastos parreirais, com cultivo em destaque da variedade de uva Syhah. (na foto abaixo de Erasmo Pereira, parreirais do Núcleo Tecnológico da Epamig em Caldas MG)
          Além de pesquisas para melhoramentos na qualidade dos vinhos, a Epamig desenvolveu a técnica da dupla. Essa técnica consiste na inversão do ciclo produtivo dos parreirais, com duas etapas de podas dos ramos das videiras, o que permite duas colheitas ao ano, sendo a normal, de verão, em janeiro e outra, em agosto, no inverno.
         O resultado dessa técnica mineira são uvas sadias, de maturação plena, com mais concentração de cor e aroma, o que melhora substancialmente a qualidade dos vinhos finos, produzidos na região Sul de Minas, em especial, nas cidades da Serra da Mantiqueira e algumas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, na divisa com Minas Gerais, que também usam a técnica criada pela Epamig. (fotografia acima e abaixo de Erasmo Pereira/Epamig em Caldas MG)
          Em duas décadas, a produção de vinhos mineiros, tiveram saltos na qualidade e começaram a chamar a atenção dos apreciadores de um bom vinho. A melhor qualificação dos produtores, intercâmbios, pesquisas e principalmente, a ação da Epamig, foram primordiais para o crescimento e reconhecimento dos vinhos mineiros no cenário nacional e mundial.
          O resultado veio com premiações e reconhecimentos em nível nacional e internacional, com destaque para os vinhos mineiros mais conhecidos como o vinho Luís Porto, de Cordislândia MG, Primeira Estrada, de Três Caldas MG, Quinta D´Alva, de Diamantina, Stella Valentino, Villa Mosconi e Casa Geraldo, de Andradas MG e Maria Maria, de Três Pontas. (foto acima de Erasmo Pereira/Epamig/Divulgação)
          Um dos vinhos da vinícola Maria Maria, o Maria Maria Bel Sauignon Blanc 2015, foi premiado com medalha de bronze no World Wine Awards 2017, na Inglaterra. Em 2019, três vinhos, Guaspari Syrah Vista da Serra 2016 de São Paulo, Casa Geraldo Colheita de Inverno Syrah 2017, de Andradas MG e Maria Maria Diana Syrah 2017, de Três Pontas MG, produzidos com a tecnologia da dupla poda da Epamig, foram premiados no Top 5 Syrah Wines of Brazil Awards 2019. O Wines of Brazil Awards, um dos maiores concursos de vinhos do país, tem o objetivo de valorizar os melhores vinhos nacionais, em várias categorias e campos de atuação.         
          Os vinhos finos de Minas Gerais são de alta qualidade, sabor, aromas e bem estruturados, que agradam aos mais finos paladares e boa parte de nossas vinícolas, estão abertas para turistas e interessados em conhecer a produção dos vinhos mineiros, entre essas vinícolas, está a Casa Geraldo, em Andradas, no Sul de Minas (na foto acima, a adega da Vinícola da Casa Geraldo/Foto Casa Geraldo:Divulgação).
          Não somente as vinícolas que recebem turistas para visitas. Fazendas de café, de azeites e queijarias, das 9 regiões queijeiras do Estado, abrem suas porteiras para grupos de turistas. São passeios deliciosos, literalmente, em meio a natureza, paisagens de tirar o fôlego, com  a oportunidade de conhecer os processos de produção e degustar. (na foto acima, parreirais da Vinícola Casa Geraldo em Andradas MG. Fotografia arquivo: Casa Geraldo/Divulgação)
Harmonização dos vinhos
          Nossos vinhos, harmonizam super bem com o nosso tradicional Queijo Minas Artesanal (QMP), como por exemplo, o Queijo Canastra Ponte Velhano, na foto acima. Uma harmonização perfeita, ainda mais com os vinhos de Minas Gerais, como o vinho abaixo, da Vinícola Fidêncio/@uvaevinhofidencio de Bueno Brandão, no Sul de Minas.
          Além dos queijos, vinhos harmonizam muito bem outros pratos como o vinho tinto, que harmoniza muito bem com pratos gordurosas. Isso porque a bebida tem mais teor alcóolico e é mais encorpada. Já os vinhos brancos tem menos acidez e combinam bem com pratos mais leves. Os vinhos rosés, são bem versáteis e combinam tanto com pratos leves, quanto, gordurosos. Todos combinam super bem com queijos, de preferência curados com mais de 30 dias. 
          Lembre-se: toda bebida alcoólica deve ser apreciada com moderação e somente por maiores de 18 anos. 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

O Santuário do Senhor Bom Jesus do Bacalhau

(Por Arnaldo Silva) Piranga é uma cidade histórica, no Vale do Piranga, na Zona da Mata Mineira. A cidade tem origens, no final do século XVII, com data de sua fundação, registrada em 8 de dezembro de 1695, quando foi inaugurada sua primeira capela, dedicada à Nossa Senhora da Conceição.
          Piranga conta com17.018 habitantes, segundo Censo do IBGE e está a 170 km de Belo Horizonte. O município guarda relíquias dos tempos do Brasil Colônia e Escravidão, presentes em sua arquitetura, fazendas centenárias e história. É formado pela sede e mais 3 distritos: Pinheiros Altos, Santo Antônio dos Quilombolas e Santo Antônio de Pirapetinga, o popular, Bacalhau (na foto acima e abaixo de Patrício Carneiro/@guaradrone, o exterior e o interior do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos do Bacalhau).
          Bacalhau é um dos mais tradicionais e importantes distritos de 
Minas Gerais, além de grande relevância histórica e religiosa para a região e Minas Gerais.
          Santo Antônio do Pirapetinga, preserva um original e charmoso casario e igrejas dos séculos XVIII e XIX, com destaque para a Igreja de Santo Antônio (na foto acima de Patrício Carneiro/@guaradrone), na rua principal do distrito e o Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, construção do século XVIII.
A origem do nome Bacalhau
          Santo Antônio de Pirapetinga, o Bacalhau, está a 12 km do centro da cidade, no ponto mais alto do município, a 1000 metros de altitude, acima do nível do mar. É uma vila pacata, histórica, charmosa, bem, pitoresca, que vive e vivencia a mais suas tradições religiosas. (na foto acima do Patrício Carneiro/@guaradrone, a parte baixa da Vila e a colina, onde está o Santuário do Senhor Bom Jesus)
          O povoado surgiu nos primeiros anos do século XVIII, com a descoberta de ouro no leito do Rio Bacalhau, por volta de 1704. Na medida que o ouro era encontrado, mais mineradores e aventureiros, foram chegando. Formaram um pequeno casario, em torno de uma singela ermida, dedicada a Santo Antônio.
          O Rio Bacalhau, tem uma extensão de 47 km, e nasce no próprio distrito do Bacalhau. Como o arraial foi formado próximo ao Rio Bacalhau e pela devoção de seus primeiros moradores a Santo Antônio, os dois termos foram unidos, com o arraial, passando a ser chamado de Santo Antônio do Bacalhau ou simplesmente, Bacalhau. É uma das mais antigas povoações de Minas Gerais.
          Em 28 de outubro de 1875, o arraial foi elevado a freguesia, preservando seu nome original, Santo Antônio do Bacalhau. Somente em 1911, quando da definição dos distritos subordinados à cidade de Piranga, é que o nome Bacalhau foi substituído por Pirapetinga, ficando, Santo Antônio de Pirapetinga, como nome oficial do distrito. (fotografia acima de Patrício Carneiro/@guaradrone)
          Mesmo com a mudança oficial de nome, até os dias de hoje, a vila é conhecida, em toda região do Vale do Piranga e chamada pela maioria de seus moradores, de Bacalhau.           
          Com o crescimento do povoado, em 1726, é erguida uma outra pequena ermida, em honra à Nossa Senhora do Rosário, restando atualmente, apenas ruínas.
          Em 1740, uma nova igreja, que substituiu a antiga ermida, começa a ser erguida no arraial, dedicada a Santo Antônio, em estilo jesuítico, um dos símbolos religiosos da acolhedora vila.
A origem da fé no Senhor Bom Jesus de Matosinhos
          Ainda nessa época, uma imagem, quase que do tamanho natural, do Senhor Jesus, morto na cruz, foi encontrada no topo de uma colina, um pouco distante do núcleo habitacional do povoado. (fotografia acima de Patrício Carneiro/@guaradrone)
          Impressiona na imagem original ,os detalhes dos olhos. O olho esquerdo, olha para o céu, enquanto o direito, para o chão. 
          A população resolveu colocar a imagem em uma das duas capelas do arraial. Mas, segundo a crença popular, a imagem sumia e aparecia sempre no lugar, onde fora encontrada. Tentaram várias vezes colocar a imagem nas igrejas, mas ela sumia e aparecia no dia seguinte, no topo da colina. 
          Os moradores do arraial perceberam que, ficar no local onde a escultura foi encontrada, seria a vontade do Senhor Bom Jesus. Decidiram então, erguer outro templo no arraial, dedicado ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos.
          A devoção ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos era praticada por boa parte dos portugueses, que chegavam à região. Isso por que a devoção ao Senhor Bom Jesus, é uma tradição milenar em Portugal.
A origem da devoção ao Senhor Bom Jesus
          A devoção portuguesa ao Bom Jesus é cercada por misticismo e lenda. Tem origem no ano 124, nos primórdios da cristandade, na região que é hoje a cidade litorânea de Matosinhos, em Portugal. A escrita do nome da cidade portuguesa, onde originou a devoção ao Senhor Bom Jesus, é Matosinhos, com S e não com Z.
          Nas praias dessa cidade, foi encontrada uma imagem de Jesus crucificado. Os fiéis da época, acreditavam ter sido, Nicodemos, fariseu e contemporâneo de Jesus, quem esculpiu a peça. Devido a perseguição que os Cristãos passaram a sofrer, após a crucificação de Jesus, Nicodemos, que assistiu ao martírio de Cristo, jogou ao mar suas esculturas, para se proteger de perseguições. Isso tudo, segundo a crença popular, da época.
          A imagem encontrada nas praias de Matosinhos, foi levada para o mosteiro da cidade portuguesa, passando a ser venerada, desde então. Somente em 1559, que foi construída uma igreja dedicada ao Senhor Bom Jesus, na cidade de Matosinhos. Pelo fato da imagem do Senhor Bom Jesus, ter sido encontrada em Matosinhos, o nome do templo, dedicado ao Senhor Bom Jesus, recebeu o complemento “de Matosinhos”.
          Com a edificação de novas igrejas e santuários, foram acrescentados o nome das cidades onde foram construídos, como exemplo, Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, de Congonhas MG, Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Conceição do Mato Dentro MG, etc.
          A fé ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos se expandiu por Portugal e nas colônias portuguesas, com várias cidades mineiras e brasileiras, tendo sido fundadas, invocando a fé no Senhor Bom Jesus de Matosinhos.
A construção do Santuário do Bacalhau
          Como a fé no Senhor Bom Jesus de Matosinhos do Bacalhau, aumentava a cada dia, e com a presença de romeiros vindos de localidades distantes, as obras da construção do Santuário tiveram início a partir da segunda metade do século XVIII, bem como a construção do conjunto de casinhas em redor do santuário, concluídas no século XIX. (fotografia acima e abaixo de Patrício Carneiro/@guaradrone)
          As casas em redor do Santuário, eram usadas antigamente apenas para receber os romeiros, que vinham de longas distâncias para a Festa do Jubileu de Nosso Senhor do Matosinhos do Bacalhau. E até hoje, são usadas para esse fim.

          Como o nome popular do arraial, Bacalhau, era comum, o nome do Santuário ganhou o acréscimo do nome da vila, ficando assim, Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos do Bacalhau, chamado também de Santuário do Senhor Bom Jesus do Bacalhau, ou simplesmente, Santuário do Bacalhau.
          Para que a imagem original do Senhor Bom Jesus, considerada milagrosa pelos fiéis, fosse acessível a todos, foi colocada em uma capela, atrás do altar. No trono do altar-mor, uma imagem de Jesus Crucificado, foi entalhada e incluída na ornamentação do altar. (na fotografia acima e abaixo do Patrício Carneiro/@guaradrone, o interior do Santuário do Bacalhau)
          As obras foram concluídas por volta de 1840. Foram quase seis décadas de construção, com envolvimento ativo dos moradores do arraial, bem como da Irmandade do Senhor Bom Jesus. Durante esse tempo, a obra contou com os trabalhos dos escravos, arquitetos, artesãos, carpinteiros, douradores, entalhadores, pintores, escultores e outros artistas.

          A igreja tem as características típicas das construções mineiras. Singela por fora e um esplendor de beleza e riqueza em seus detalhes, talhas e ornamentações, em seu interior.
          Uma riqueza e uma beleza arquitetônica e artística que além de impressionar, emociona os visitantes e fiéis.
          Chama atenção ainda a simplicidade e delicadeza do casario colonial, em torno do Santuário, construídas na mesma época da construção do templo, usadas somente para receber os romeiros, em dias de festas, desde aqueles tempos.
          Todo o conjunto do Santuário, formado ainda por sua escadaria, a murada de pedras e o singelo casario, em seu entorno, estão no topo da colina, onde a imagem do Senhor Bom Jesus fora encontrada, no século XVIII,  preservados e muito bem conservados. (na foto acima do Patrício Carneiro/@guaradrone)
          Em 1786, a Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos do Bacalhau, foi elevada a Santuário, com a Bula Papal, assinada pelo Papa Pio VI, se tornando, desde então, um dos mais importantes centros de peregrinação religiosa, do Vale do Piranga.
          O autor do risco do Santuário, é desconhecido, mas a ornamentação interior, tem assinatura. Foi executada pelo pintor, dourador, louvador e encarnador (que é o ofício de dar cor de carne a imagens), Francisco Xavier Carneiro (Mariana 1745 – Mariana 1840), que trabalhou na ornamentação da igreja, de 1806, até 1840, ano em que faleceu. (fotografia acima e abaixo de Patrício Carneiro/@guaradrone, as talhas, entalhes e pinturas de Francisco Xavier Carneiro, que ornamenta o Santuário)
          O artista foi um dos grandes nomes da arte rococó mineira, com vários de seus trabalhos, ornamentando igrejas de cidades como Itabirito, Ouro Preto, Mariana, Itaverava, dentre outras cidades mineiras.
          No Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos do Bacalhau, Francisco Xavier Carneiro deixou sua obra, numa impressionante retratação da Paixão de Cristo, notada nas pinturas do forro da nave principal, a Via Sacra, além da beleza dos entalhes dourados do altar, onde está a imagem do Senhor Bom Jesus. A maior parte da ornamentação do interior do Santuário, foi executada pelo mestre, Francisco Xavier Carneiro.
          A igreja e o casario do Bacalhau, segue os riscos das construções religiosas portuguesas, dedicadas ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em estilo jesuítico. Todo o conjunto do Santuário, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1996.
O Jubileu do Senhor Bom Jesus do Bacalhau
 
          A devoção ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos do Bacalhau, é uma das mais antigas e tradicionais de Minas Gerais. Desde o final do século XVIII, há mais de 235 anos, acontece, nas duas primeiras semanas de agosto, o Jubileu, numa festa que mobiliza toda a comunidade e atrai romeiros de toda a região do Vale do Piranga (na foto acima do Patrício Carneiro/@guaradrone).
          Isso porque, os fiéis e romeiros, creem ser o lugar, milagroso, e nele vão fazer ou pagar promessas, agradecer ou simplesmente, fazerem suas orações.
          Esse fato é percebido pelas quantidades de ex-votos (presentes dados por fiéis a seus santos de devoção) e mensagens de agradecimentos, por graças alcançadas, vistas na sala dos milagres do Santuário do Bacalhau, bem como a emoção dos devotos, quanto participam do Jubileu do Senhor Bom Jesus (na foto acima de Patrício Carneiro/@guaradrone).
          O Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos do Bacalhau é uma das maiores obras da arte colonial barroca e rococó, de Minas Gerais e o jubileu, a coração de uma das mais tradicionais e genuína festa da religiosidade mineira.
          O jubileu, o casario de Santo Antônio de Pirapetinga (Bacalhau), a história de fé, bem como a cultura, gastronomia e seu povo acolhedor, faz do distrito de Piranga MG, uma das relíquias de Minas Gerais. Uma típica e autêntica vila mineira, no mais puro estilo mineiro de ser e viver.

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