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sábado, 29 de maio de 2021

Salinas: terra da cachaça e do requeijão moreno

(Por Arnaldo Silva) Salinas conta com cerca de 45 mil habitantes. Está na microrregião do Alto Rio Pardo, no Norte de Minas. Faz divisa com Rio Pardo de Minas, Taiobeiras, Santa Cruz de Salinas, Comercinho, Rubelita, Fruta de Leite e Novorizonte. 
          De Belo Horizonte à Salinas, são 640 km. O aeroporto mais próximo de Salinas, fica em Montes Claros, a 220 km de distância. (fotografia acima de Márcio Pereira/@dronemoc)
          A povoação da região onde está o município, data do século do século XVII e início do século XVIII, quando foram descobertas jazidas de sal nessa região. Era um produto raro e de grande valor na época. (fotografia acima do Gil Santos, panorâmica de Salinas)
          Para explorar o mineral, fazendas foram sendo formadas às margens do Rio Pardo e Rio Salinas. Em uma dessas fazendas, foi erguida uma capela, dedicada à Santo Antônio. Em torno da capela foi se formando um pequeno povoado, denominado Santo Antônio de Salinas, devido as jazidas de sal. (fotografia acima de Gil Santos)
          O povoado cresceu, foi elevado à distrito, pertencente a Rio Pardo de Minas, em 1833. Em 18 de dezembro de 1880, a vila foi elevada a município, através de Lei Provincial. E finalmente, elevada à cidade emancipada, em 4 de outubro de 1887. Em 1923, o nome da cidade deixou de ser Santo Antônio de Salinas, para ser somente, Salinas. A data de 18 de dezembro de 1880, é comemorada como a data de fundação de Salinas. (fotografia acima de Gil Santos, a sede da Prefeitura Municipal, e abaixo, uma das várias praças da cidade)
          O clima em Salinas é predominantemente quente, com a temperatura mínima, no inverno, chegando a 18,0°, em média, nos dias mais frios e a 33,0°, em média, no verão. Está inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha, que forma a Sub-Bacia do Rio Salinas, com os rios Caraíbas, Bananal, Matrona e Salinas.
          O município está numa região de transição entre o Cerrado e a Caatinga, tendo ainda, a presença de matas caducifólias, vegetações típicas do semiárido mineiro, onde está inserido, Salinas. É uma região com chuvas escassas e irregulares, além de clima quente, durante quase todos os meses do ano. Para amenizar os efeitos da seca, as barragens são comuns nas cidades do semiárido mineiro. (fotografia acima e abaixo enviadas pelo Gil Santos/Arquivo da Fundação de Cultura)
          A barragem de Salinas, além de amenizar a falta de água durante a seca, é um dos pontos turísticos da cidade. Um lugar de rara beleza, que atrai turistas e visitantes, diariamente ao local, para simplesmente, relaxar e curtir momentos agradáveis junto à natureza. A quem prefira ainda a prática de esportes náuticos.
          Salinas é uma das mais importantes cidades mineiras, sendo conhecida mundialmente por sua cachaça, inclusive, a bebida faz de Salinas ser oficialmente, a Capital Nacional da Cachaça. O título foi outorgado em 19 de dezembro de 2018, através da Lei Federal 13.773, aprovado pelos deputados federais e promulga pelo Presidente da República, nesta época. 
          A bebida faz parte da vida e economia do município, deste o século XIX, com a chegada de fazendeiros à região. Além de criarem gado, investiam no plantio de cana-de-açúcar, produzindo cachaças e rapaduras, tornando a cachaça, popular na cidade e região, pela qualidade e sabor. (foto acima e abaixo, de Gil Santos, do Museu da Cachaça de Salinas)
          Entre todas as cachaças produzidas no mundo, a bebida de Salinas tem o diferencial, por ter sabor e aroma, únicos e incomparáveis, que agrada ao mais fino e exigente paladar. Totalmente artesanal e seguindo os mais rígidos processos de produção e qualidade, as cachaças que saem dos alambiques de Salinas, são reconhecidas e premiadas, tanto em nível nacional, quanto, internacional. É patrimônio imaterial do município de Salinas.
          Pela importância da cachaça para a cidade e Minas Gerais, foi criado o Museu da Cachaça, na Avenida Antônio Carlos, 1250, bairro Casa Blanca. A origem, história, produção artesanal, peças, maquinários dos antigos alambiques, livros, fotografias e rótulos antigos, enfim, todas as etapas de produção da bebida, fazem parte do acervo do Museu da Cachaça, que conta ainda com um vasto acervo digital, acessível pela web. 
          O museu conta com ótima estrutura para receber os visitantes com segurança e conforto. Está aberto visitação na terça, quarta e sexta-feira, de 13h30min às 19h e no sábado, de 12h30min às 18h.
          Além da riqueza do Museu da Cachaça, uma outra oportunidade para quem aprecia a bebida, sua história e modo de fazer, é participar do Festival Mundial da Cachaça. Trata-se de um dos mais importantes eventos do Brasil, que atrai gente de todo o país e do mundo. Durante os dias de festa, que acontece sempre em julho de cada ano, a cidade de Salinas, recebe uma média de 15 mil visitantes. (na foto acima do Gil Santos, peças do Museu da Cachaça)
          Além da cachaça, Salinas é também conhecida pela qualidade e sabor inigualável do requeijão moreno. A iguaria é tradicional no interior de Minas Gerais, principalmente nas cidades de sua região de origem, o Norte do Estado. (foto acima de Gil Santos, do requeijão moreno, no Mercado Municipal)
          Feito totalmente de forma artesanal, com leite cru, a famosa iguaria leva dois dias para ficar pronta. Se difere do tradicional requeijão branco e cremoso do Sul de Minas e o de raspas de tacho, do Centro Oeste Mineiro, pelo modo de fazer. Tem como características principais um sabor intenso, massa menos cremosa e a cor escura, adquirida durante o cozimento do creme que fica na camada superior do leite coalhado. Esse creme é cozido até adquirir a cor mais escura, sendo a base para a conclusão do modo de fazer do requeijão. É o chamado requeijão de corte, o popular, Requeijão do Norte de Minas, ou simplesmente, Requeijão do Norte.
          O requeijão moreno é uma das identidades gastronômicas de Salinas, além da carne de sol, produzidos nas fazendas e sítios do município. (na foto abaixo do Gil Santos, as tradicionais quitandas mineiras, feitas em Salinas MG)
          Além disso, por sua história, Salinas preserva as tradições antigas de Minas Gerais, como as festas religiosas e folclóricas mineiras, com a Folia de Reis entre dezembro e janeiro, as festas juninas, preservadas em sua originalidade, com concurso de quadrilhas, comidas típicas e shows musicais.
          Tem ainda uma das mais originais e genuínas festas de Minas Gerais, famosa em todo o Brasil, pelo resgate da tradição original, além de destacar e valorizar a cultura, culinária e artesanato regional.
          É a Festa dos Amigos de Ferreirópolis, distrito de Salinas, tradicional no artesanato em argila e na produção de requeijão. A festividade conta com fogueira de 15 metros de altura, queima de fogos, danças tradicionais das festas juninas, barracas com comidas típicas, mostra de artesanato e shows musicais. (na foto acima da artesã Cláudia Miranda, artesanato em argila de Ferreirópolis)
          Outro lugar interessante para conhecer em Salinas é o Mercado Municipal. Inaugurado em 1972, localizado no Centro da cidade. Abre de segunda a sábado, de 6h às 18 horas, não abrindo aos domingos e nem em feriados. É um dos maiores e melhores mercados do interior mineiro. Como em todo mercado público, encontra-se de tudo, principalmente, os amigos. (foto acima e abaixo de Gil Santos)
          Os mercados, além de reunir o que melhor tem na agricultura familiar das cidades, como queijos, doces, frutas, requeijão, verduras, conservas, carnes, bebidas, artesanatos, etc, reúne também os antigos amigos. Esses espaços, têm como suas características principais, a sociabilidade, por serem espaços democrático, onde todas as classes sociais estão presentes. É um lugar de compras, mas também convício social, informação e cultura. Um ponto de encontro de amigos, que se encontram para conversar e apreciar os tira gostos e bebidas locais.
          Salinas valoriza sua gastronomia, sua religiosidade, suas tradições e também, sua cultura. Na Praça Floriano Peixoto, num prédio em estilo eclético, erguido em 1922, está instalada a Fundação de Cultura (na foto acima do Gil Santos). A fundação foi criada para fomentar a vocação dos salinenses, seja na música, na literatura ou artes cênicas. No local, ainda há um pequeno espaço para apresentações artísticas. A fundação, que fica aberta de 7h às 17 horas, de segunda a sexta-feira.
          Tem ainda em Salinas, as jazidas de sal, sua gastronomia e seu rico e variado artesanato, o Centro de Convenções, seu casario charmoso, belas praças, o Terminal Turístico Rodoviário, como destaques. (na foto acima do Gil Santo, a Rodoviária e abaixo, o Centro de Convenções)
          Salinas é uma cidade charmosa, atraente e seu povo muito acolhedor e hospitaleiro. Conta com uma boa estrutura urbana, um comércio variado, prestação de serviços de boa qualidade, além de pousadas, hotéis e restaurantes, que permitem ao turista e visitante, aproveitar melhor e conhecer a culinária local, as belezas da região  e as tradições de Salinas. Uma cidade que recebe todos os visitantes de braços abertos.
A reportagem teve a colaboração em fotos e informações do Gil Santos, presidente da Fundação de Cultura de Salinas)

quinta-feira, 27 de maio de 2021

O Paraíso Achado em Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Cortando estrada, em meio a trilhas, fendas abertas pela natureza e matas nativas do Cerrado, está o Paraíso Achado, um complexo turístico formado por matas nativas de Cerrado, cachoeiras, piscinas naturais, trilhas e lagoas.
          Um lugar de impactante e impressionante beleza, achado na cidade de Capitólio MG, distante 280 km de Horizonte, no Sudoeste de Minas Gerais. O acesso a Capitólio é pela MG-050. (fotografia acima João Batista de Souza)
          Conhecida como a Rainha do Lago de Furnas, Capitólio é um dos mais badalados e atraentes pontos turísticos de Minas Gerais. De Capitólio, até o Paraíso Achado, são cerca de 38 km.
          O Paraíso Achado fica na Fazenda Córrego da Capivara, uma propriedade particular, com cerca de 400 hectares.
          No final de 2019, os proprietários, abriram a fazenda para exploração do turismo sustentável e vem investindo aos poucos em melhorias estruturais, para oferecer segurança e conforto aos turistas que visitam diariamente o Paraíso Achado.
         O lugar é muito bem sinalizado, muito limpo e muito bem cuidado pelos os proprietários, que tem preocupação com a preservação da fauna e flora local, incentivando o turismo sustentável, onde as pessoas desfrutam da natureza, respeitando-a, em todos os sentidos. (fotografia acima do Guia de Turismo @percio_passeioscapitolio)
          Para garantir a preservação do Paraíso Achado, é cobrada uma taxa de manutenção por pessoa, para entrar na área. (na foto acima do João Batista de Souza, banheiros do Paraíso Achado)
          Com isso, melhorias vêm sendo feitas no local, permitindo maior conforto e segurança dos usuários, como estacionamento, banheiros, corrimões e uma pequena lanchonete. (fotografia acima do Guia de Turismo @percio_passeioscapitolio)
          Pelos caminhos que levam ao Paraíso Achado, encontra-se cachoeiras e cascatas paradisíacas, que formam poços de águas limpíssimas e refrescantes, como as formadas pelo Córrego da Capivara, além de enormes paredões de pedras e fendas abertas há milhões de ano, pela ação natural. (foto acima de João Batista de Souza)
          O Paraíso Achado é um lugar ótimo para os amantes da natureza, tanto para o que buscam paz e sossego, bem como para que gostam de uma vida mais intensa, já que o lugar conta com trilhas e condições para a prática de rapel, canionismo, trekking, etc. (fotografia acima do Guia de Turismo @percio_passeioscapitolio) 
        O Paraíso Achado é tão lindo e faz jus ser chamado de paraíso. Quem conhece, quer voltar. Um lugar de raríssima beleza, um presente de Deus para os mineiros e turistas do Brasil e do mundo que vem à região, desfrutar uma das mais belas paisagens e Minas Gerais. (foto acima do João do Achado)
          Como Capitólio e São João Batista do Glória, são municípios vizinhos, o Paraíso Achado, está próximo ao Paraíso Perdido, em São João Batista do Glória MG. Dois paraísos na terra, e em Minas Gerais, na Serra da Canastra. (fotografia acima e abaixo de João Batista de Souza)
          O acesso mais fácil ao Paraíso Achado é por São João Batista do Glória MG. É recomendado ir acompanhado de guia, além de veículos adequados, tipo 4x4, para andar pelas estradas de pedras, da região, já que o acesso é um pouco difícil. Tanto em Capitólio, quanto em São João Batista do Glória, encontra-se Guias de Turismo para levar os turistas aos Paraíso Achado e outras localidades da região.
          Tanto em Capitólio, quanto em São João Batista do Glória MG, encontra restaurantes, pousadas e hotéis, dos mais simples, aos mais sofisticados, além de Guias de Turismo, especializados, fáceis de serem encontradas nas duas cidades. (foto acima do João do Achado)
           Mais informações sobre o Paraíso Perdido podem ser obtidas direto com o proprietário, João Batista de Souza pelo número (35) 999050522 ou @paraisoachado

domingo, 23 de maio de 2021

O maior arranha-céu de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Na Vila da Serra, bairro de Nova Lima, na divisa com a Região Centro-Sul de Belo Horizonte, próximo ao Shopping BH e Hospital Biocor, um imponente edifício comercial, não passa despercebido.
          Isso por que é o Concórdia Corporate, o maior arranha-céu de Minas Gerais e o maior edifício, em estrutura metálica do Brasil, figurando ainda entre as 20 maiores torres do país. Construído entre 2015 e 2017, entrou em funcionamento, em 2018.(fotografia acima e abaixo de Wilson Paulo Braz/@paulobraz10)
          Sob a responsabilidade da Tishman Speyer, empresa internacional com larga experiência no ramo de construções, sendo responsável por edificações como exemplo, o Rockefeller Center, em Nova York, foi construído em parceria com a Construtora Caparaó e Codeme Engenharia.
          Projetado pela Dávila Arquitetura & Arquitetura, com projeto paisagístico de Burle Marx, o Concórdia Corporate tem 172 metros de altura, 44 andares, 8 subsolos, 16 elevadores, mais de 780 vagas cobertas para veículos e 40 para bicicletas, além de heliponto, restaurante, salas e lojas.  (fotografia acima de Wilson Paulo Braz/@paulobraz10)        
          São cerca de 59.217 mil m2 de construção, com nível em concreto e estrutura em aço e concreto. O edifício tem a aparência de prisma, mas possui fendas pelos lados, o que permite melhor ventilação e entrada de ar em todos os pavimentos.
          É todo revestido em vidro de alta qualidade. Em combinação com a luz do dia, reflexos no vidro, do entorno do Concórdia Corporate, torna o edifício mais atraente. (fotografia acima e abaixo de Wilson Paulo Braz/@paulobraz10)
          É uma construção Triple A, características das construções de alto padrão, tecnologia e de altíssima qualidade. Além disso, o Concórdia Corporate, foi projeto para gerar o menor impacto possível ao meio ambiente, conquistando assim o Certificado Gold em sustentabilidade e o Certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), categoria Gold.
          Além de sua beleza externa, seu interior, é igualmente atraente em sua beleza e design. Do topo do Concórdia Corporate, a vista é impressionante, seja durante o dia, ou à noite. (na foto acima do Wilson Paulo Braz/@paulobraz10), uma vista parcial do Vila da Serra)
          Isso porque permite uma completa e espetacular visão em 360 graus de toda a região, que sem dúvida alguma, é uma das mais belas da Grande Belo Horizonte. 

sexta-feira, 21 de maio de 2021

O velho e o novo caminho da Estrada Real

(Por Arnaldo Silva) Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, surgiu a necessidade de construir uma estrada, que levasse as riquezas retiradas do subsolo mineiro, para o porto mais próximo. Com essa finalidade, em 1694, no final de século XVII, foi criada a Estrada Real. A estrada tinha início em Vila Rica, hoje Ouro Preto, rumo ao porto de Paraty, no Rio de Janeiro e seguia com destino a Europa. Ao longo do trecho da Estrada Real, povoados e cidades foram surgindo.
          Os caminhos que abriram a passagem de nossas riquezas, foram abertos por escravos e foi palco de grandes eventos históricos do Brasil Colônia, por exemplo, a Inconfidência Mineira, liderada por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. (na foto acima, da Leandro, o marco da Estrada Real em Glaura, distrito de Ouro Preto MG e abaixo, de Arnaldo Silva, também em Ouro Preto, o marco da ER em Chapada de Ouro Preto, subdistrito de Lavras Novas)
          O trajeto inicial da Estrada Real, tinha um percurso de 710 km de extensão, iniciando em Ouro Preto, passando, várias cidades mineiras, como exemplo: Mariana, São João Del Rei, Tiradentes, Rio das Mortes, Entre Rios de Minas, Ibituruna, Lagoa Dourada, Resende Costa, São Tiago, Prados/Bichinho, Carrancas, São Tomé das Letras, Cruzília, Caxambu, Baependi, Aiuruoca, Alagoa, Maria da Fé, Conceição do Rio Verde, Pouso Alto, Itanhandu, Passa-Quatro, dentre outras.
          A Estrada Real, segue, a partir da Serra da Mantiqueira, para São Paulo, passando, por exemplo, por Guaratinguetá, Aparecida, Taubaté, Cunha, Ubatuba (na foto acima de Arnaldo Silva) e terminando em Paraty, no Rio de Janeiro (na foto abaixo de Arnaldo Silva), na divisa com São Paulo. Era um percurso longo, que levava em média, 90 dias para ser concluído, só de ida.
          As pedras preciosas de Minas, seguiam para Paraty, em carros de bois. Iam em comboios, abarrotados de ouro e diamantes. Voltavam também abarrotados, mas de pedras para calçamento de ruas, móveis, vinhos, queijos, trigo, utensílios domésticos, animais como porcos, galinhas e gado, e outras coisas mais, que viam de navio de Portugal, para atender a Corte e os portugueses que aqui viviam.
          Em 1701, com o aumento da mineração e descobertas de novas minas, em Minas Gerais, a Coroa Portuguesa, criou um novo caminho, saindo da baía de Guanabara, entrando em Minas pela Zona da Mata Mineira, passando por cidades como Petrópolis, Paraíba do Sul, Inhaúma, Iguaçu, Rio Paraíba e Rio Paraibuna, no Rio de Janeiro. 
          Já em Minas, o caminho continuava por Simão Pereira e seguida por várias outras cidades, como Matias Barbosa (na foto acima da Luciana Silva), Juiz de Fora, Santos Dumont, Barbacena, Santana dos Montes, Conselheiro Lafaiete, Congonhas, Itatiaia, distrito de Ouro Branco, por fim, Ouro Preto.
          Chamado de Caminho Novo, sua extensão era de 515 km e tinha como objetivo, escoar com mais rapidez a produção mineral vinda de Minas Gerais.
          Com a descoberta de ouro e diamantes na região do Arraial do Tejuco, hoje Diamantina, em 1729, o Caminho Novo foi estendido a partir de Ouro Preto, até Diamantina, passando pelo Serro Frio, com seu ponto de ligação em Itapanhoacanga, conhecido como Caminho dos Diamantes. (na foto acima do Tharlys Fabrício, ao fundo, a casa em que viveu Chica da Silva e o Contratador João Fernandes, em Diamantina MG)
          Somando com a extensão do Caminho Velho e Caminho Novo em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, a Estrada Real tem uma extensão de 1235 km, passando por 179 povoações, entre cidades, vilas e distritos, que foram surgindo às margens da Estrada Real, nesses três estados. (na foto acima de Raul Moura, a sede da Prefeitura da cidade do Serro MG)
          Em sua maioria, as cidades e povoações da Estrada Real, tanto do Velho e Novo caminhos, estão em Minas Gerais. São163 em Minas Gerais, 8 no Rio de Janeiro e 8 em São Paulo, uma delas é a cidade de Aparecida, na foto acima do Rosário Salgado.
          Somando os 710 km do Caminho Velho, com os 515 km do Caminho Novo da Estrada Real, com o trecho do Caminho dos Diamantes, com 395 km de extensão, que ligava Diamantina a Ouro Preto e do Caminho do Sabarabuçu, com 160 km de extensão, que ligava Catas Altas (na foto acima do Marley Mello) a Glaura, distrito de Ouro Preto, a extensão total da Estrada Real, seria de aproximadamente 1790 km.
          As cidades que existiam ou surgiram ao longo desses caminhos, são tradicionais, históricas, turísticas, repletas de belezas arquitetônicas e naturais, além de ricas em história, culinária, tradição, folclore, religiosidade e cultura. (na foto acima de Peterson Bruschi, o imponente prédio construído no século XVIII para abrigar a Casa da Câmara e Cadeia de Vila Rica. Hoje é o Museu da Inconfidência de Ouro Preto)
          Como exemplo disso, estão as cidades de Ouro Preto, Tiradentes, Diamantina, Serro, São João Del Rei e Itapanhoacanga (na foto acima da Luciana Silva), um dos mais ricos e importantes garimpos de ouro da região do Serro Frio. Distrito de Alvorada de Minas, no Jequitinhonha, Itapanhoacanga ligava Diamantina MG, no Caminho dos Diamantes, à Estrada Real, em Ouro Preto.
          Os Caminhos da Estrada Real não contam apenas a história das riquezas minerais de Minas, mas a história de gente, importante ou não, que percorreram esses caminhos, como Dom Pedro I e II, autoridades da Corte, pelos Inconfidentes, por gente do povo, escravos e tropeiros, enfim, são caminhos que contam boa parte da história do Brasil Colônia. Por isso, a Estrada Real é de grande valor para a história, cultura e turismo de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
          São caminhos que, além da história, guardam verdadeiros tesouros de nossa história, como por exemplo, Ouro Preto, Paraty/RJ, Lagoa Dourada, onde estão as ruínas do Forte dos Emboabas e Paraíba do Sul/RJ (na foto acima de Luciana Silva), cidade onde Tiradentes esteve presente, em várias ocasiões, além da cidade guardar restos mortais do Mártir da Inconfidência Mineira.
          Todas as cidades, vilas e distritos da Estrada Real são atraentes, charmosos e acolhedores. Revelam culinárias típicas, um artesanato riquíssimo e variado, principalmente em Minas Gerais, além da religiosidade, fé e tradições regiões centenárias. (na foto acima do Arnaldo Silva, a charmosa Vila de São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto MG)
          Sem contar as belezas arquitetônicas dessas cidades, que além de encantar, impressionam. São construções que mostram as belezas originadas pelas riquezas, presentes nas igrejas ornamentadas com ouro puro, casarões urbanos e rurais. (na foto acima do César Reis, o reluzente altar-mor da Matriz de Santo Antônio em Tiradentes MG)
          Essa riqueza permaneceu evidente, no século XX, com construções imponentes, como palácios, citando como exemplo o Palácio Quitandinha, em Petrópolis/RJ (na foto acima da Luciana Silva), construído a partir de 1941 e até castelos em estilo medieval, como o Castelo do Barão de Itaipava, em Petrópolis, construído entre 1922/24 (na foto abaixo da Luciana Silva).
          Além disso, em todas as cidades da Estrada Real, encontra-se belezas naturais de tirar o fôlego, como sítios arqueológicos, cachoeiras, montanhas, rios, matas nativas, além de uma fauna e flora riquíssimas.
          Além disso, três cidades da Estrada Real são hoje, Patrimônios da Humanidade. Ouro Preto, Diamantina e o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos (na foto acima da Elvira Nascimento), em Congonhas, todas em Minas Gerais. Essas três cidades são dotadas de uma riqueza arquitetônica e cultural impressionantes. Não é por menos, que são patrimônios da humanidade.
          A Estrada Real revela belezas (como na foto acima, de Paulo Santos, estrada para Itamonte, no Sul de Minas), tanto naturais, quanto arquitetônicas e principalmente história. 
          Em todas as cidades, vilas e povoados, da Estrada Real, o marco símbolo da ER estará presente. É a identificação da Estrada Real. Vale pena viajar e conhecer todos os caminhos da Estrada Real.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

O queijo de caverna, maturado nas nuvens

(Por Arnaldo Silva) É o queijo maturado no alto de uma caverna na Serra da Piedade, uma das mais belas paisagens de Minas Gerais. Todos os anos, cerca de 500 mil romeiros, que vem de todo o Brasil e de vários países do mundo, sobem a Serra, para conhecer o lugar e manifestar sua fé e devoção, num dos lugares mais lindos de Minas.
          O Santuário da Piedade está presente na fé do povo mineiro, desde sua origem, no século XVIII. Fica em Caeté, cidade histórica mineira, distante, 55 km de Belo Horizonte. (fotografia acima de Tom Alves/@tomalvesfotografia)
          É no Santuário que está guardado um valioso tesouro da história de Minas Gerais. Não estamos falando do ouro e nem do minério, mas de um queijo, maturado numa caverna e nas nuvens. A 1746 metros de altitude, acima do nível do mar, são maturados queijos, em uma pequena caverna, no topo da serra.
          A prática de maturar queijos e vinhos em cavernas tem origem na Idade Média (473 d.C a 1473) e até hoje é uma prática comum, principalmente, usando os porões dos antigos mosteiros, castelos medievais e fortalezas. São ambientes úmidos, que favorecem a ação de fungos, ácaros e bactérias que agem nos queijos, favorecendo a melhora acentuação da textura, sabor e aroma, tornando-os finos e especiais.
 
           Maturar queijos e fazer vinhos era comum ainda nos mosteiros europeus e até os dias de hoje é. Inclusive em Minas, como exemplo, no Mosteiro de Macaúbas, em Santa Luzia MG, onde as freiras enclausuradas, produzem vinhos, queijos, doces e quitandas, desde o século XVIII, no mosteiro. (fotografia acima de Júlio de Freitas/@julio_defreitas)
          A maturação de queijos na Serra da Piedade, teve origem na década de 1950, quando chegou à região, o frade dominicano, Rosário Jofylly. Nascido no Rio de Janeiro, no dia de Santos Reis, 6 de janeiro, de 1913, Frei Rosário, faleceu em 2000. Foi sepultado na Cripta, onde estão sepultados os maiores ícones da história do Santuário, desde o início do século XVIII.
          O túmulo do eremita fica ao lado da escadaria do Calvário, em frente à Basílica, (como podem ver na foto acima, do Júlio de Freitas/@julio_defreitas).
          Foi uma das maiores personalidades religiosas de Minas Gerais. Um homem sábio, culto e muito simples. Vivia na simplicidade e levava uma vida de eremita. Tinha o hábito passar horas e até dias em meditação, em uma pequena lapa, na Serra da Piedade.
          Frei Rosário tinha um hábito peculiar. Apreciava um bom queijo e um bom vinho, dois protagonistas mais antigos do relacionamento humano.
          Sempre comprava os queijos frescos da Serra do Salitre, região queijeira mineira, no Alto Paranaíba. Gostava de servir a bebida e os queijos, às suas visitas. Em suas meditações, n, que chegava até ele, através de viajantes, que traziam os queijos. Durante suas meditações, levava para a caverna, queijos, para comer. 
          Em uma de suas meditações, acabou esquecendo algumas peças e quando retornou, percebeu alterações na casca do queijo. Experimentou e identificou uma melhora muito grande no aroma e sabor dos queijos. Entendeu que na caverna, existiam vários fungos que agiam nos queijos, acentuando o sabor e aroma, Passou a maturar seus queijos na pequena caverna.          
          Com o tempo de maturação dos queijos, Frei Rosário foi percebendo uma melhora e mudança no sabor e aroma dos queijos. Um sabor e aroma que lembrava os mais finos queijos europeus.
          Passou então a fazer isso com todos os queijos da Serra do Salitre que comprava, maturando-os na pequena caverna. O queijo chegava fresco era maturado, ficava 60 dias na maturação, quando sua característica e identidade já está desenvolvida e o queijo, pronto para consumo.
          Queijo com casca rugosa, grossa, com aroma suave, sabor picante, mas não muito forte, com leve acidez e massa macia e branca. São essas as características desse queijo. Em nenhum outro lugar do mundo, encontrará um queijo com essas características. É simplesmente único. Um queijo especial, de alto valor nutritivo, que agrada aos mais finos paladares. (foto acima e abaixo de Clésio Moreira)
          Assim, surgiu em Minas, a prática conhecida e comum, nos mosteiros e fazendas da Europa, de maturar queijos no subsolo e em cavernas.
          Além do legado religioso e social do Frei Rosário, como reitor do Santuário da Piedade, por mais de 50 anos, o frade dominicano deixou uma grande contribuição para a gastronomia mineira. Um dos queijos mais valorizados e apreciados de Minas Gerais. Um tipo de queijo que ganhou fama, pelo sabor e aroma, únicos, passando a ser conhecido como o Queijo do Frei Rosário e hoje, como, Queijo Frei Rosário.
          Após seu falecimento, a maturação dos queijos na caverna, parou por uns tempos. Foi retomada posteriormente pelos frades que vivem no Santuário, amigos e funcionários do local. Resgatar a tradição de maturar os queijos do Frei Rosário na caverna, seria um reconhecimento e homenagem ao saudoso eremita que dedicou tantos anos ao Santuário e aos seus queijos, que maturava com amor e zelo.
           Continuar a maturar os queijos da Serra da Piedade, da mesma forma que Frei Rosário fazia, ficou a cargo de Alair Silva, funcionário do Santuário. Durante muito tempo, ajudava Frei Rosário a maturar os queijos na caverna e aprendeu com o frade, a técnica.
          Na caverna, preservada exatamente como Freio Rosário deixou, são cerca de 45 culturas de fungos, que atuam durante os dias de maturação dos queijos, deixando no final, o sabor intenso e inigualável do queijo, como era antes.
          A Serra da Piedade, por sua altitude, 1746 metros, tem como característica o frio intenso e a formação de intensa névoa, cobrindo todo seu entorno, dando uma sensação de estarmos, acima das nuvens. Por esse motivo, os queijos maturados na caverna do Santuário, são conhecidos ainda como o queijo maturado nas nuvens.
          Os queijos frescos que chegam, são colocados nas prateleiras de madeira na caverna e vão recebendo, durante os 60 dias de maturação, a ação da microflora e microfauna do lugar. Essa ação é facilitada pela umidade, altitude, sendo mais acentuada no local devido, as constantes formações de brumas, com uma visão espetacular, do alto dos 1746 metros de altitude, da serra. A sensação é de estar no Santuário da Serra da Piedade é a sensação de estar no céu. (fotografia acima de Henrique Caetano)
          Os queijos ficam nas prateleiras de madeira, sobre panos, que são trocados constantemente e todos os dias, as prateleiras são limpas. Um pouco de vinagre é passado nas prateleiras para controlar o crescimento dos fungos, já que se alimentam de lactose. Se deixar, crescem sem controle e comem todo o queijo. A queijaria é mantida sempre limpa. Os queijos não são lavados, para não interferir na ação dos fungos. São apenas virados diariamente, para que os fungos possam agir por igual.
          Queijo apreciadíssimo, com fila de espera para adquiri-lo, tendo chegado inclusive à Portugal, França e Itália, levados por romeiros, que vem ao Santuário todos os dias do ano. Compram e levam para suas casas e seus países de origem, os queijos Frei Rosário. (fotografia acima de Clésio Moreira)
          Indo ao Santuário da Serra da Piedade, experimente as tradicionais quitandas tradicionais da região, bem como, o Queijo Frei Rosário. Com certeza, estará experimentando um dos mais autênticos e saborosos queijos do Brasil, maturado em caverna e nas nuvens.

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