Arquivo do blog

Tecnologia do Blogger.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Desemboque e o Sertão da Farinha Podre

(Por Arnaldo Silva) Desemboque, povoação fundada em 02/03/1766, no século XVIII, é hoje, distrito de Sacramento MG, no Triângulo Mineiro. O curioso nome “Sertão da Farinha Podre” era o antigo nome da Região do Triângulo Mineiro.
 
          O nome, Sertão da Farinha Podre, segundo a tradição oral, se popularizou quando da chegada de bandeirantes, que adentraram no sertão em busca de ouro e diamantes. (foto acima de Luís Leite) Tinham como prática, plantar alimentos pelo caminho e muitas vezes, enterrar, para consumirem em suas idas e vindas. Enterraram um grande suprimento de alimentos, principalmente farinha, mas quando desenterraram, encontraram os alimentos e toda a farinha já podres. Daí passaram a chamar o lugar de Sertão da Farinha Podre, tendo o nome se popularizado, tanto por moradores, e efetivado pelo poder público da época. (na foto abaixo do Luís Leite, Desemboque vista da estrada)
          Inicialmente, o Sertão da Farinha Podre pertenceu geograficamente ao Estado de São Paulo, passando a domínio, tempos depois, para o Estado de Goiás e por fim, em 1816, passou a pertencer definitivamente Estado de Minas Gerais.
          O nome Triângulo Mineiro surgiu no final do século XIX. A região está nos limites entre o Rio Grande, a sul, Rio Paranaíba, a norte e bacia do Rio Paraná, a leste, formando geograficamente, um triângulo. Percebendo essa semelhança, o nome Triângulo Mineiro passou a se popularizar, sendo hoje uma das 12 regiões geográficas de Minas Gerais.
          No século XVIII e XIX era uma região de intenso garimpo, principalmente ouro e diamantes, além de outros minerais, menos explorados na época, como o minério de ferro, o que motivou a formação de povoados, que deram origem a várias cidades e construções características. Hoje, seu solo continua produzindo riqueza, sendo a agricultura uma das alavancas para o desenvolvimento da região, já que seu solo é rico e fértil.
          O povoamento da Região do Triângulo Mineiro se deu pela exploração de ouro e diamantes na região. As características arquitetônicas e religiosas da região estão presentes em Desemboque, considerado o berço do Triângulo Mineiro. (na foto acima de Luis Leite, a Igreja de Nossa Senhora do Desterro e seu cemitério) 
Poucos moradores
          Nos áureos tempos da exploração mineral no Sertão da Farinha Podre, Desemboque chegou a ser a maior povoação da região, com cerca de 2.500 moradores, com fórum, cartório, Câmara de Vereadores, pousadas, tabernas. Contava ainda com um grande fluxo de viajantes, bandeirantes e exploradores, o que tornava a vila muito movimentada. (fotografia acima e abaixo de Pedro Beraldo)
          Hoje, em Desemboque, vivem cerca de 30 pessoas apenas, restando a história e os áureas tempos da riqueza proporcionada pela mineração.
          Em dias de carreadas de bois, cavalgadas e festa junina, a charmosa vila ganha vida e alegria, com a presença de centenas  de pessoas. 
A Igreja do Desterro
          Entre essas riquezas, além do seu casario colonial, está a Igreja de Nossa Senhora do Desterro (na foto acima de Pedro Beraldo), construída entre 1743 e 1754, frequentada pelos homens brancos e a Capela de Nossa Senhora do Rosário, frequentada pelos homens pretos e pardos. Cada uma com um cemitério próprio. Ambas foram tombadas pelo IEPHA/MG, em 1984.
A Igreja do Rosário
          A Capela do Rosário, datada de 1854, segue os traços do estilo das construções do Sertão da Farinha Podre, que se caracteriza pela simplicidade em sua construção, com as paredes da nave em pedra, com vedação em tijolos de adobe, pintura em cal e telhado com telhas tipo, capa e bica, com beirais em cachorrada, com um conjunto de cachorros. Cachorro e cachorradas é um termo usado na arquitetura e nada mais é que pedras ou madeira em balanço, que dão sustentação ao beiral. (na foto acima do Luís Leite, a Capela do Rosário)
          O altar-mor e sacristia em lateral única da Capela do Rosário possui ornamentos e talhas esculpidos em madeira e pinturas interiores, bem simples e singelas. 
          Está situada num lugar privilegiado na vila, em meio a natureza plena, oferecendo paz, acolhimento e conforto aos que visitam a capela. Tanto na Igreja do Desterro, quanto na Capela do Rosário, se passaram boa parte da história do Triângulo Mineiro.

O beleza exuberante da Capela do Rosário em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) Mais conhecida como Capela do Padre Faria, fica no bairro de mesmo nome, em Ouro Preto MG e foi tombada em 8 de setembro de 1939, como Patrimônio Histórico Nacional, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). É um dos mais belos exemplares do Barroco Mineiro, não só por sua riqueza arquitetônica, mas por fazer parte da origem e história de Ouro Preto e de Minas Gerais. (fotografia acima e abaixo de Ane Souz, dos ornamentos interiores da Capela)
          Foi construída nos primeiros anos do século XVIII, pelo Padre João de Faria Fialho, nascido em 1636 na Ilha de São Sebastiao, atual Ilha Bela/SP, falecendo aos 76 anos em 1712, na Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no Vale do Paraíba, em São Paulo.
          Padre Faria era Capelão da Bandeira de Antônio Dias e também, tinha sua própria bandeira. Foi o responsável pela descoberta de ouro na região da antiga Vila Rica, hoje, Ouro Preto. O padre fundou ainda a cidade paulista de Pindamonhangaba, bem como, nesta mesma cidade, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso. É atribuída ao Padre Faria, a celebração da primeira missa em Ouro Preto, que aconteceu num dia de São João.
          
Em Ouro Preto, o padre ergueu uma pequena ermida, dedicada à Nossa Senhora do Carmo. Em 1723, a administração e posse da Capela foi assumida pela Irmandade de Nossa Senhora do Parto do Bonsucesso, formada por homens pardos e mamelucos. (foto acima de Ane Souz)
          Por volta de 1740, a Capela passa a abrigar também Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos. Nessa época, a pequena ermida erguida pelo Padre Faria, dá lugar a outra capela, um pouco maior, seguindo o estilo nacional português. Simples por fora e por dentro, uma riqueza impressionante.
 
          A pintura do forro da igreja, segue o estilo barroco mineiro e mostra a coroação de Nossa Senhora do Rosário por anjos, bem como também, pinturas de cenas do cotidiano da época. (foto acima de Ane Souz)
          A estrutura foi erguida em alvenaria seca e tijolos talhados de rocha bruta, chamado de cantaria. A fachada é bem simples, com uma porta frontal em de madeira maciça, emoldurada em pedra lavada e duas janelas com balaústres. Seu interior, conta com laterais talhadas em estilho joanino e três altares, com ornamentos dourados, muito bem talhados, em estilo rococó. (fotografia acima de Ane Souz)
          Nas imaginárias, estão as imagens de Nossa Senhora do Rosário e a de Nossa Senhora do Bom Parto. (fotografia acima de Ane Souz) O sino da Capela data de 1750 e a cruz pontifícia, de 1756. Essa cruz chama a atenção por possuir três braços. (na foto abaixo da Ane Souz)
          Acredita-se que os três braços da cruz, simbolize as três bulas pontifícias, assinadas pelo papa Pio VII (Cesena, 14 de agosto de 1742 — Vaticano, 20 de agosto de 1823). Uma bula era um tipo de alvará, assinado pelo papa, que concedia privilégios e indulgências, e tinham força de lei eclesiástica. Nesse caso, as três bulas, concedia privilégios e graças às capelas.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Pirapora: origem, economia, cultura e turismo

(Por Arnaldo Silva) Pirapora tem seu nome de origem na língua tupi, que significa “Salto do Peixe”. A formação de Pirapora, tem origem no século XVIII, com o avanço da mineração de ouro e diamantes em Minas Gerais.
          Para abastecer as cidades mineradoras, as mercadorias saiam de Juazeiro, na Bahia e chegava à Minas Gerais de barco e canoas, pelas águas do Rio São Francisco. Era um percurso longo, uma subida de 1371 km até o último ponto navegável do Rio São Francisco, após a foz do Rio das Velhas. (na foto acima de Rhomário Magalhães, o Rio São Francisco, a Ponte Marechal Hermes e ao fundo, Pirapora)
          Nesse ponto, as mercadorias eram descarregadas e seguiam em carros de bois, aos centros mineradores. Foi a partir desse ponto de baldeação, à margem direita do Rio São Francisco, que se formou um povoado, que deu origem à cidade de Pirapora. O povoado cresceu, foi elevado a distrito em 1847 e finalmente, a município em 30 de agosto de 1911, instalado em 1 de junho de 1912, data em que se comemora sua emancipação.
          Com a chegada das embarcações a vapor, a partir de 1871, o transporte de mercadorias ficou ágil, crescendo ainda mais a partir de 1902, com a chegadas de embarcações maiores, como os vapores, Saldanha Marinho, Mata Machado e o famoso Benjamim Guimarães. Essas embarcações, transportavam, além de cargas, passageiros, percorrendo todas as cidades ribeirinhas, saindo de Pirapora, até Juazeiro, na Bahia. (foto acima de Ronan Rocha/Hitch Vídeo Produtora)
          Desde sua origem, Pirapora sempre foi um dos destaques da região Norte de Minas. É uma das mais importantes cidades mineiras, tanto na cultura, no artesanato, na culinária, no turismo, quanto do desenvolvimento. Fica a 340 km de Belo Horizonte e conta atualmente com cerca de 60 mil habitantes. O município faz divisa com Várzea da Palma e Buritizeiro e está apenas 472 metros de altitude, acima do nível do mar. (foto abaixo de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          Por sua localização, servida por malha ferroviária, que liga a cidade a Tubarão, no litoral do Espirito Santo e estar às margens da BR-365 e BR-496, Pirapora atrai grandes investimentos. Indústrias de vários segmentos, de pequeno, médio e grande porte, como de alimentos, cerâmica, produtos hospitalares, calçados, metalúrgicas, dentre outros segmentos industriais e comerciais, estão instaladas na cidade, com destaque ainda para o Hospital de Olhos do Norte de Minas. Além disso, Pirapora se destaca na produção e exportação de ferro silício, silício metálico, ferro-ligas, ligas de Alumínio e tecidos.
          A ampla atividade industrial do município, faz com que Pirapora, seja atualmente, o segundo maior polo industrial do Norte de Minas.
          Outro setor econômico de grande destaque em Pirapora é a de energia solar. Na cidade está instalada um complexo solar, formado por 11 usinas, com capacidade de geração de 321 MW de energia, sendo atualmente uma das maiores usinas fotovoltaicas da América Latina. Em funcionamento desde 2017, a capacidade de geração de energia da usina, por ano, é suficiente para o consumo de cerca de 400 mil residências. (fotografia acima de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          A área da usina corresponde a cerca de 1500 campos de futebol e foi construída em uma área plana, de sol pleno. São mais de 1 milhão de painéis solares instalados, de forma inclinada, que giram acompanhando o movimento do sol. Esse tipo de usina produz energia 100% limpa e renovável, já que usinas solares não liberam CO2, na atmosfera.
          Um dos grandes geradores de empregos e renda em Pirapora é a agricultura e pecuária, em especial, a fruticultura, produzidos através de sistema de irrigação, no Perímetro de Irrigação. É o quinto maior empregador do município, gerando cerca de 1.100 empregos diretos. (fotografia acima e abaixo de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          A fruticultura em Pirapora, bem como no Norte de Minas, desenvolveu-se bastante no final da década de 1970, com a implantação do Projeto Pirapora, em 1975, pela SUVALE, tendo sido a primeira experiência no Norte de Minas. Em 1976, a projeto foi assumido pela Companhia de Desenvolvido dos Vales do São Francisco e Paranaíba (CODEVASF), utilizando as águas do Rio São Francisco na irrigação de uma área inicial de 1500 hectares, inaugurada em 24/15/1978. Está instalado a 12 km do Centro de Pirapora, na BR-365, rodovia que liga o Norte de Minas ao Triângulo Mineiro e Brasília.
          A ocupação da área irrigável foi feita através de concorrência pública, vencendo a Cooperativa Agrícola Cotia Ltda e a Empresa Frutas Tropicais S/A. Famílias de agricultores começaram a chegar, a partir de então, principalmente de agricultores de origem japonesa. (fotografia acima de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora) 
          Eram cerca de cerca de 20 famílias, de origem nipônica, que viviam do plantio de soja e café no interior de São Paulo e Paraná. Essas famílias, deixaram descendentes e à essas famílias, ao longo do crescimento do projeto, se juntaram outras, também de origem na “Terra do Sol Nascente”. Os orientais e seus descendentes são hoje, predominantes na produção de frutas, em Pirapora, num total de 23 empresários que atuam no Perímetro de Irrigação.
          A partir de 1987 o projeto passa para a gestão da Associação dos Usuários de Projeto Pirapora - AUPPI, responsabilizando pela administração, operação, manutenção e conservação da infraestrutura de uso comum. A área atual do Perímetro é de 1.685 hectares, sendo 1.236,05 hectares de área irrigável.
          Além de toda organização e apoio dos órgãos estaduais, o boa parte do sucesso do Projeto Pirapora se deve aos imigrantes japoneses. Tradicionalmente, os nipônicos tem vasto conhecimento na lida da terra e conhecimentos na irrigação, dando grande contribuição para o desenvolvimento da agricultura em Pirapora e Norte de Minas, bem como também, no Projeto Jaíba.
          A região Norte de Minas é hoje uma das maiores produtoras de frutas do país, com sua produção abastecendo o mercado das grandes cidades e regiões brasileiras como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Juazeiro, Belém, Fortaleza e outras cidades do Brasil. Em Pirapora se destaca a produção de banana, uva, sendo a espécie Niágara, a de destaque, mexerica, laranja, legumes, dentre outras culturas.
O que fazer em Pirapora?
          Pirapora se destaca por suas belezas naturais e principalmente, pelo Rio São Francisco, bem como os pratos típicos de sua culinária, com destaque para os pratos feitos com os peixes do Rio São Francisco. (fotografia acima de Rhomário Magalhães)
          Cidade de tradição e cultura, preserva as festas folclóricas e religiosas, bem como o riquíssimo artesanato local, destacando as carrancas, peças em madeiras colocadas na proa das embarcações, esculpidas em formatos um pouco assustadores. Segundo a crença dos ribeirinhos, as carrancas servem para dar proteção. (fotografia acima de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora) 
          Uma ótima dica para o turista em Pirapora é conhecer o ICAD, um espaço cultural que funciona em um antigo galpão restaurado. Conta com um pequeno auditório, lugar para exposição e vendas do artesanato local e áreas de oficinas.
          Duas feiras públicas, não podem deixar de ser visitadas. Uma delas é a Feirinha da Avenida Pio XII, no bairro Santos Dumont, realizada todos os domingos. Organizada por pequenos produtores do município, a Feirinha, conta com muita animação, comidas típicas e produtos naturais, direto da roça. A outra feira é a Feirarte, que acontece nas manhãs de sábado, no Mercado Municipal da cidade, com exposição dos trabalhos dos artistas e a artesãos piraporenses.
          Durante o ano, vários eventos são realizados na cidade, com destaque para festas religiosas, eventos sociais, gastronômicos, empresariais e agropecuários.
          Em janeiro acontece a tradicional Festa de São Sebastião, padroeiro da cidade. Pirapora se destaca por realizar um dos melhores carnavais do Norte de Minas. Realiza também, com grande destaque e presença de público, o Encontro Nacional de Motociclistas, que acontece entre maio e junho, quando acontece também as comemorações de aniversário da cidade.
          Em setembro, dois eventos de grande destaque, movimentam a cidade. O primeiro é a Expociapi, evento organizado pela associação comercial local, com desfile de modas, comidas típicas, feiras de artesanato, mostras de tecnologias e negócios. O segundo é a Feira do Agronegócio, realizada pelo Sindicado dos Produtores Rurais da cidade, no Parque de Exposições em parceria com empresários do setor e Prefeitura. Nesse evento, além de shows, barraquinhas com comidas típicas, apresenta inovações para o setor, leilão de gado e palestras para os produtores rurais.
          Pirapora conta ainda com muitos atrativos por exemplos, seus telefones públicos, que tem formas de animais de nossa fauna, como onças e peixes.
          Tem o barco a vapor Benjamim Guimarães (na foto acima do Rhomário Magalhães), que é o único barco movido a lenha em atividade no mundo, além de ser um bem tombado pelo IEPHA/MG em 1985, como patrimônio de Minas Gerais. Construído em 1913, nos Estados Unidos, navegou por muitos anos nas águas do Rio Mississipi e também em Rios da Amazônia, até chegar à Pirapora, na década de 1920. Trafegava no Rio São Francisco, de Pirapora até Juazeiro, na Bahia, transportando cargas e passageiros. Com a abertura de estradas e popularização de ônibus e caminhões, o barco passou a transportar somente passageiros. Hoje, o Benjamim Guimarães realiza apenas passeios turísticos de ida e volta. Atualmente, o barco está ancorado no porto de Pirapora, passando por reformas, com previsão para voltar a navegar no Rio São Francisco, ainda esse ano.
          Outro atrativo turístico de Pirapora é a Ponte Marechal Hermes, ponte da linha férrea com tecnologia e material importado da Bélgica. Com 692 metros de comprimento, a ponte foi inaugurada em 10 de novembro de 1922, lingado Pirapora a Buritizeiro, passando sobre o Rio São Francisco. Foi tombada pelo IEPHA/MG, em 1985, como patrimônio do Estado de Minas. (fotografia acima e abaixo de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          Próxima a Ponte Marechal Hermes, uma outra ponte, de concreto, faz a ligação da BR-365 entre Pirapora, passando sobre o Rio São Francisco, até Buritizeiro. 
          Banhada pelo Rio São Francisco, o Velho Chico proporciona belezas que atraem os moradores e turistas como a prática de esportes náuticos, pesca profissional e esportiva, espetáculos naturais como o pôr do sol e belas praias fluviais, formadas ao longo de seu percurso como a Praia do Areão em Pirapora. Nessa praia os banhistas, além de aproveitar o sol e as águas do Rio São Francisco, praticam esportes como vôlei de praia, peteca, futebol e futevôlei. (foto acima de 2019, de autoria de Rhomário Magalhães)
          Pirapora é uma cidade bem estruturada, com uma boa rede hoteleira e gastronômica, um setor de serviços amplo e de qualidade, com um comércio variado, bons bares, lanchonetes. Além disso, seu povo é hospitaleiro e acolhedor. O turista será sempre bem-vindo e se sentirá em casa.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

A Escrava Isaura e a Igreja de São José em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) Escrito num período, onde a escravidão estava sendo contestada, com manifestações pedindo a abolição da Escravidão no Brasil, o livro de Bernardo Guimarães, A Escrava Isaura, foi considerado antiescravagista, por incutir no seio da sociedade, a discussão sobre o tema.
          O sofrimento de uma mulher branca, nascida escrava e a forma incisiva e racional que o autor dá à sua trama, prendiam a atenção dos leitores. Por isso o impressionante sucesso do livro na época do lançamento e em nossa época atual.
A Escrava Isaura
          A Escrava Isaura, foi um romance escrito, em 1875, por Bernardo Guimarães. Era a história de uma escrava, branca, que vivia numa fazenda em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Se perguntar quem leu o livro, poucos vão responder, mas da novela, exibida pela Rede Globo, em 1976, a maioria vai responder que viu ou pelo menos, ficou sabendo da novela. (Nas fotos acima, a capa e contra capa do romance A Escrava Isaura e Ouro Preto, no registro da Elvira Nascimento)
          A geração atual pôde assistir à novela em sua nova versão, exibida pela à Rede Record. A primeira versão, protagonizada por Lucélia Santos e Rubens de Falco, em 1976, fez tanto sucesso que foi exportada para cerca de 150 países, assistido por de milhões de pessoas. 1 bilhão de pessoas, assistiram a novela, somente na China, além de cerca de 300 mil exemplares do livro, terem sido vendidos nesse país. 
O que o livro tem a ver com Ouro Preto?
          Agora você pergunta: o que a cidade histórica de Ouro Preto MG, na Região Central de Minas, fundada em 1711 e Patrimônio da Humanidade desde 1980, tem a ver com A Escrava Isaura? (na foto acima de Ane Souz, vista parcial de Ouro Preto MG)
          É que o autor do livro, Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, é mineiro e nasceu em Ouro Preto, em 15 de agosto de 1825. Faleceu também em Ouro Preto, em 10 de março de 1884. Era casado com Teresa Maria Gomes de Lima Guimaraes, com quem teve 8 filhos.
          Além de escritor, romancista, jornalista, crítico literário, advogado, juiz, poeta, foi também professor, lecionando francês e latim em Queluz MG e professor de retorica e poética do Liceu Mineiro, em Ouro Preto MG.
          Homem culto e viajado, Bernardo Guimarães viveu boa parte de sua vida em sua cidade natal, Ouro Preto. Foi sepultado no cemitério da Igreja de São José em sua terra natal.
A Igreja de São José           
          Capela Imperial era o nome antigo da Igreja de São José. Era chamada de Capela Imperial devido ao título concedido pelo Imperador Dom Pedro II, em 1889. Voltou ao seu nome original, após o fim do Império, permanecendo até os dias de hoje como Igreja de São José dos Homens Pardos e Bem Casados. (fotografia acima de Peterson Bruschi)
          A Igreja de São José começou a ser erguida a partir de 1753. Em 1772, Mestre Aleijadinho fez os riscos do retábulo do altar-mor. A obra foi concluída em 1811. 
          Foi construída pela Irmandade do Patriarca São José dos Homens Bem-Casados e Músicos de Santa Cecília. A irmandade era formada por músicos, artesãos, artistas e pintores da época, que queriam um espaço próprio, para a Irmandade. 
          A igreja e seu cemitério ao lado, são modestos em tamanho, mas é um dos mais belos exemplares da arte setecentistas de Minas. É única, em toda a sua singeleza externa com sua única torre, sacada e sineira, além da riqueza de suas talhas douradas, ornamentos e pinturas em seu interior.
          Irmandade do Patriarca São José dos Homens Pardos e Bem-Casados e Músicos de Santa Cecília tinha atividades e convivências, diferentes do restante das irmandades ouro-pretanas. (na foto acima de Ane Souz o altar da Igreja eabaixo, a riqueza de seus entalhes dourados)
          As esposas dos membros da irmandade, tinham participação ativa nas decisões da Irmandade. A igreja abria suas portas para diferentes camadas da sociedade, como brancos, pardos, pobres e ricos, tendo sido frequentada também por governadores da Capitania de Minas Gerais. O que era incomum naquela época.
 O túmulo de Bernardo Guimarães
                    Em 1992, foi iniciada a restauração da igreja. As obras de restauro se estenderam por longos anos, tendo sido concluída 20 anos depois, entregue, restaurada à comunidade, em 2012.
          Ao lado da Igreja de São José, tem um cemitério e é aí que entra Bernardo Guimarães na história da Igreja. É nesse cemitério que o escritor foi sepultado. O túmulo do escritor Bernardo Guimarães, é um dos mais visitados e fotografados. (na foto acima do Wellington Diniz, o túmulo do escritor no cemitério da Igreja de São José, com a Igreja de São Francisco de Paula ao fundo)  
Onde fica?      
          A Igreja de São José fica próxima a Igreja de São Francisco de Paula. Está um pouco distante do Centro Histórico, na rua Teixeira Amaral, 130. Por isso, passa despercebida, pelos turistas. Fica boa parte do tempo fechada, abrindo de terça à sexta-feira, de 9:30h às 11:30 horas. O melhor dia e horário para conhecer a igreja por dentro é nas quartas-feiras, a partir das 18h:30, quando acontece as missas.
Quem foi Bernardo Guimarães
          O grande escritor mineiro ocupou a Cadeira de nº 5 da Academia Mineira de Letras. Além de A Escrava Isaura, Bernardo Guimarães escreveu outros romances, poesias, dramas e contos de grandes sucessos. Foram dezenas de obras publicadas e não publicadas e mais de 20 livros escritos. Como são muitos livros, não vou alongar muito o texto, apenas destacar os livros de Bernardo Guimarães, que eu li, ainda estudante: O Garimpeiro (romance/1872); O Seminarista (romance/1872); O Pão de Ouro (conto/1879); Uma História de Quilombolas, A Garganta do Inferno, A Dança dos ossos; História e Tradições da Província de Minas Gerais (crônicas e novelas – 1872: A Cabeça do Tiradentes, A filha do fazendeiro, Jupira), além claro, A Escrava Isaura.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O começo e o fim das ferrovias em Minas

(Por Arnaldo Silva) A partir de meados do século XIX e até o final do século XX, os trens de passageiros cortavam o Brasil em trilhos. Levava e trazia gente. Quando chegava, levava emoções e sonhos de quem partia, deixando saudades e lágrimas, em quem ficava. Muitos sonhos, muitas esperanças, muitas alegrias, estavam presentes nas milhares de estações espalhadas por toda Minas e pelo sertão brasileiro.
          Os sonhos embarcaram no trem que, durante décadas, ligavam estados e cidades, ligavam também emoções e saudades, de quem ia e de quem chegava. Mas um dia, o trem que levava emoções, partia com gente, que deixava corações partidos, em lágrimas, se foi também e não mais voltou. (na foto acima do Marley Mello, a velha estação Estevão Pinto, construída em 1911 em Mar de Espanha MG, Zona da Mata)
          O trem partiu para sua última viagem, deixando em seus vagões, um pouco da vida do povo brasileiro, principalmente do mineiro, porque trem é alma e identidade de Minas Gerais. O trem foi e não voltou mais. Os trilhos ficaram sem vida, as estações foram se deteriorando, esquecidas e abandonadas. (na foto acima de Luís Leite, estação Jaguara em Sacramento MG em ruínas. A ferrovia foi inaugurada em 1888 e desativada em 1976)
          O trem que outrora levada saudades, sonhos, esperanças, emoções, ficou no passado.
          
No coração do mineiro, ficou o trem, onde os trilhos são as veias. O trem para o mineiro é tudo e tudo é trem para o mineiro, de tão importante que foi para a economia, emoções, sensações, esperanças e na identidade do povo mineiro. (na foto abaixo de Marselha Rufino, a antiga estação de Itumirim MG)
O início da ferrovia no Brasil 
          O Brasil foi o terceiro país da América do Sul a construir ferrovias, depois de Peru e Chile. Em meados do século XIX, foi criada no Rio de Janeiro, a Companhia de Estrada de Ferro e Navegação Petrópolis e a E. F. Mauá, ambas da iniciativa privada. A primeira estrada de ferro construída no Brasil foi a E. F. Mauá, inaugurada em 30 de abril de 1854, que ligava o Porto de Mauá a Fragoso, ambas no Rio de Janeiro. (na foto abaixo do Fabrício Cândido, antigos vagões abandonados nos galpões da RFFSA em Santos Dumont MG)
          A ferrovia, tinha apenas 15 km, com ideia original de ligar o Rio de Janeiro ao Vale do Paraíba e por fim, a Minas Gerais, até então, o Estado mais rico do Brasil, onde o café despontava como a principal economia do país, depois do ouro.
A ferrovia em Minas Gerais
          Pouco tempo depois, com o objetivo de estender as ferrovias para todo o país, o governo Imperial criou a estatal, Estrada de Ferro Dom Pedro II (1888-1889), mudando os nomes para E.F. Central do Brasil (1889-1964), E.F. Leopoldina (1964-1975), por fim para RFFSA (1975-1996).
          A Central do Brasil iniciou suas operações, em direção a Minas Gerais, cortando nossas serras, ligando o Rio de Janeiro a importantes cidades mineiras, como Ouro Preto, Diamantina, Belo Horizonte, São João Del Rei, Juiz de Fora, Cataguases, Leopoldina, Governador Valadares, Poços de Caldas, Três Pontas, etc. (na foto acima do Duva Brunelli, a Estação de Penha Longa MG, recentemente restaurada)
          Minas já era ligada ao Rio de Janeiro pelas estradas abertas durante a exploração do ouro e havia ainda, naquele tempo, uma ligação entre Petrópolis a Juiz de Fora, por uma rodovia de terra. Agora, seriam os trilhos que passariam pelas terras mineiras. Em 1869, era inaugurada a Estação de Chiador MG, Zona da Mata, com a presença do Imperador Dom Pedro II, sendo esse ano, o marco da chegada dos trens à Minas Gerais, através da E. F. Central do Brasil. 
          
Em 1874 os trilhos da Estrada de Ferro Leopoldina, chegam à Minas Gerais, abrindo estradas de ferro na Zona da Mata, com a inauguração de estações e do ramal de Leopoldina MG. Em 1880, foi a vez da E.F. Oeste de Minas construir seus trilhos em Minas Gerais. Em 1882, era criada a E.F. Bahia e Minas, que ligava o arraial de Ponta de Areia, em Caravelas, no litoral Sul da Bahia a Araçuaí MG, no Vale do Jequitinhonha, numa extensão de 578 km. Em 1884, surgia a E. F. Minas e Rio. (na foto acima de Peterson Bruschi, a Maria Fumaça em Tiradentes, inaugurada em 1881, pelo Imperador Dom Pedro II)
          No ano de 1886, foi a vez da E. F. Morgiana, entrar no território mineiro, através de Poços de Caldas, no Sul de Minas. Em 1891, foi a vez dos trilhos da Viação Férrea Sapucaí. Em seguida, surgiram a E. F. Muzambinho, em 1892, depois a E. F. Três-pontana, em 1895. Em 1907, chegaram em Formiga MG os trilhos da E. F. Goiás, bem como, neste mesmo ano, a E.F. Vitória Minas.
          Em 1910 chega a Machadense e a E.F. São Paulo-Minas. Em 1911, a E.F. Piranga. Em 1912, a linha férrea chega a Paracatu MG, no Noroeste de Minas. O Norte de Minas passou a contar ligação por trens apenas em 1951, através da Viação Férrea Leste Brasileiro.
Ferrovia ligava cidades e trazia progresso
          
Com o objetivo de promover e gerir o desenvolvimento do setor ferroviário no Brasil, foi criado em 1957, a RFFSA, sendo dissolvida a partir de 1997, quando iniciou-se o processo de privatização das ferrovias brasileiras. 
          Essas ferrovias ligavam as regiões mineiras. Eram centenas de km de trilhos cortando Minas Gerais, ligando cidades, povoados e distritos, pelos trilhos. Levando e trazendo gente, levando e trazendo mercadorias e desenvolvendo as cidades. Não foram apenas essas as ferrovias, existiam outras pequenas ferrovias, de particulares. Muitas dessas pequenas ferrovias foram incorporadas às maiores, ao longo do crescimento da malha ferroviária. (na foto acima, do Rogério Salgado, a rotunda de Ribeirão Vermelho MG, construída em 1885, considerada a maior da América Latina. As rotundas tinham a forma circular e serviam como depósitos de locomotivas)
          Os trens transportavam cargas e também passageiros, cortando nossos sertões, adentrando túneis, passando por pontes (como na foto acima do Rhomário Magalhães, da Ponte Marechal Hermes, sobre o Rio São Francisco em Pirapora/MG), e parando em estações, ao longo de seus trechos. As linhas se expandiam muito rápido, principalmente para o transporte de passageiros. 
          Para atender o maior número possível de cidades, novas estações e paradas eram construídas, facilitando a vida das pessoas e melhorando o escoamento da produção industrial e agropecuária das cidades. Foram milhares de estações construídas. 
          Em torno dessas estações, moradias para operários eram construídas, bem como, pessoas que vinham de outras cidades e em torno das estações viviam, oferecendo comida, quitandas, doces para os viajantes que chegavam e partiam. Muitas dessas estações deram origem a distritos e até mesmo cidades, existentes hoje. (na foto acima do Aender Mendes, Estação de Garças de Minas, em Iguatama MG)
De ferrovias para rodovias
          No início do século XX, começaram a se popularizar na Europa e Estados Unidos, carros, ônibus e caminhões. Esses veículos começaram a chegar, aos poucos no Brasil. Como o trem não chega a todas as cidades, as famosas jardineiras, faziam as baldeações, entre as cidades e estações.
          
Aos poucos os carros, caminhões e ônibus começaram a tomar conta de nossas ruas e a mentalidade dos governantes começou a mudar, em relação as ferrovias. Washington Luís, Presidente da República de 1926 a 1930, tinha como lema em sua campanha a frase: “governar é abrir estradas”. E parece que os governantes assimilaram essa frase na prática, fazendo menos investimentos em ferrovias e mais em estradas, para enfim, começar o desmantelamento das ferrovias no país, principalmente de transporte de passageiros.
          A prioridade passou a ser a abertura de estradas, ligando todo o Brasil, através de rodovias. Com isso, as ferrovias começaram a ser esquecidas e aos poucos desativadas. A prioridade dada as rodovias em detrimento das ferrovias, começou a acelerar a partir da década de 1950, na era Juscelino Kubistchek, quando chegaram ao Brasil, montadoras de veículos. Até o final da década de 1990, os trens que transportavam passageiros, ligando cidades e capitais brasileiras, praticamente, já não existiam.
          O povo mineiro sentiu mais os efeitos dessa política, porque além da identidade com o trem, boa parte do nosso Estado era cortado por trilhos, com milhares de estações, construídas desde o século XIX. Ao longo da segunda metade do século XX, os trens de passageiros foram sendo desativados, um a um, restando apenas uma única linha em atividade, em Minas Gerais, a Ferrovia Vitória Minas, ativa desde 1907.
           A Ferrovia Vitória Minas, transporta passageiros, com viagens diárias, de ida e volta, saindo da Estação de Belo Horizonte, parando para pegar passageiros em 30 estações ao longo de seu itinerário de 644 km, com parada final na Estação de Cariacica, no Espírito Santo. (na foto acima Trem Vitória Minas, passando por Barão de Cocais MG/Foto: Vale/Divulgação)
          Com a preferência pelas rodovias, as ferrovias foram sendo esquecidas, abandonadas, os trens sucateados e as estações, entregues aos cuidados do tempo (como na foto acima do Fabrício Cândido, ruínas da antiga estação de Senhora dos Remédios MG).
          Algumas cidades valorizam o patrimônio ferroviário, restaurando suas antigas estações, recuperando os trens, transformando-os em museus e espaços culturais, com algumas estações se transformando em cartões postais, como esta acima, de Moeda MG (como na foto acima do Thelmo Lins). Mas em sua maioria, as antigas estações do século XIX e XX, estão completamente esquecidas e abandonadas e os trens que outrora transportaram gente e alguns até luxuosos, como o Trem de Prata, que ligava BH ao Rio de Janeiro, estão se deteriorando nos pátios da RFFSA.
Trens para turismo
          Alguns trechos de nossas ferrovias foram reativados para fins de passeios turísticos em fins de semana, como o Trem das Águas, que liga São Lourenço a Soledade no Sul de Minas. O trem da Mantiqueira, que liga Passa Quatro a Estação Coronel Fulgêncio, no sul de Minas. O trem que liga Ouro Preto a Mariana e a Maria Fumaça que liga São João Del Rei a Tiradentes, no Campo das Vertentes (na foto acima do César Reis).
          Existem ainda projetos de reativação de trechos da Ferrovia Rio e Minas, ligando Cataguases MG a Três Rios, outro que pretende ligar Belo Horizonte à Serra da Piedade. Outro projeto que está na expectativa de sair do papel é o que ligará Belo Horizonte ao Museu do Inhotim, em Brumadinho, além de mais um, que pretende ligar Divinópolis, passando pela cidade histórica de Itapecerica e com estação final em Bom Sucesso, no Oeste de Minas. (na foto acima do Jad Vilela, trem de carga em Divinópolis MG)
A importância do trem de passageiros
          Hoje vemos a necessidade e importância dos trens de passageiros, devido ao grande crescimento populacional, evidenciando o erro dos governantes do passado, em ignorar a importância dos trens de passageiros, como transporte de massa. Vem crescendo a cada dia, no seio do povo brasileiro, a necessidade de investimentos em ferrovias, ligando, principalmente nas grandes cidades, através do trem de passageiros. Isso aliviaria o sistema viário das cidades, reduziria os custos com manutenção das vias e congestionados, bem como facilitaria a locomoção da população.
          A volta dos trens de passageiros nos trilhos, não é por mero saudosismo, mas por necessidade. Voltem com os trens de passageiros nos trilhos, que o povo usará. Um país desenvolvido, tem que ter ligações por ferrovias, não só para transportar cargas, mas também, passageiros. (foto acima de Marselha Rufino em Itumirim MG)
          Trem é um transporte eficiente, seguro, necessário e menos poluente que os veículos. No século XX, os governantes tinham a visão que ferrovia era atraso, rodovia, desenvolvimento. Com isso optaram pelas rodovias. Isso aqui no Brasil, no restante do mundo, principalmente na Europa, os trens, tanto de carga, quanto de passageiros, são primordiais e continuam nos trilhos, transportando gente, ligando cidades e inclusive, países. Que assim seja no Brasil, que assim seja em Minas Gerais.
          Que os trens saiam das veias do mineiro e voltem a circular nos trilhos, bem como o nosso coração, apitar, quando o trem chegar na Estação.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Vida e obra da escritora Carolina de Jesus

(Por Arnaldo Silva) Nascida em 14 de março de 1914, em Sacramento MG, no Triângulo Mineiro, Carolina Maria de Jesus, faleceu em São Paulo, em 13 de fevereiro de 1977. Em Sacramento, Carolina estudou até a segunda série do Ensino Primário.
          O pouco tempo de estudo foi o suficiente para que se encantasse pela escrita e leitura. Sua família era bem humilde e não tinham condições de comprar livros para que pudesse ler. Para poder ler, pedia emprestado livros aos vizinhos. Um dos livros que conseguiu ler em sua infância, foi Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães.
          A vida difícil no interior, e o falecimento de sua mãe, fez com que Carolina de Jesus, optasse em se mudar para São Paulo, em 1937. (na fotografia acima, Carolina de Jesus, autografando seu livro, Quarto de Despejo, em 1960. Foto: Arquivo Nacional - Correio da Manhã/Dominio Público)
A vida em São Paulo
          Na capital paulista, foi morar num pequeno barraco, na Comunidade do Canindé, na Zona Norte. Ela mesma construiu sua moradia, usando madeira, lata, papelão e tudo que encontrava, que pudesse ser útil na construção de sua casa. 
          Na capital, trabalhou como doméstica na casa do cardiologista e cirurgião, Dr. Euryclides de Jesus Zerbini, um dos mais conceituados e respeitados médicos brasileiros. Na casa do Dr. Zerbini, tinha uma enorme biblioteca e deu permissão para que Carolina de Jesus, lesse os livros que se interessasse, em suas horas de folga. Em 1947, aos 33 anos, engravidou de seu primeiro filho, João José, que nasceu em 1948. Grávida, teve que deixar o trabalho. Teve ainda mais dois filhos, José Carlos, nascido em 1949 e Vera Eunice, nascida em 1953.
          Nunca se casou e cuidava dos três filhos sozinha, fazendo faxinas, lavando roupas para fora e catando papéis pelas ruas de São Paulo. Seus filhos pegaram o gosto pela leitura, incentivados pela mãe e estudaram em escolas públicas. Carolina, dava ainda aulas de alfabetização para os membros de sua comunidade, que queriam aprender a ler e escrever.
          Catando papéis pelas ruas de São Paulo, tinha o cuidado de separar as folhas que estivem em melhores condições para escrever seus diários, sobre o cotidiano da vida nas comunidades pobres de São Paulo. Se encontrasse algum livro no lixo, lia e guardava em casa, em um pequeno armário que tinha em sua casa.
          A falta de escolaridade, a discriminação, fome e a pobreza, não foram obstáculos para impedir que fizesse o que mais gostava, escrever. Carolina de Jesus era escritora auto ditada. Mulher de personalidade forte, coração sensível, mãe dedicada, lutadora, não se entregava às dificuldades que a vida lhe impunha e nem guardava respostas para depois.
A descoberta de seu talento
          Em 1958, o jornalista Audálio Dantas, do Jornal Folha de São Paulo e Revista O Cruzeiro, esteve na Comunidade para fazer uma reportagem e ficou sabendo, pelos moradores, que no lugar, tinha uma mulher que escrevia, em folhas de papel que catava nas ruas de São Paulo. Audálio se interessou em conhecer os escritos da moradora.
          Apresentado à Carolina de Jesus, leu e se impressionou com a qualidade literária de seus textos. Selecionou alguns e os publicou em uma das edições do Jornal Folha de São Paulo e na Revista O Cruzeiro. Publicou na íntegra alguns escritos, mesmo com os erros gramaticais. A publicação foi um sucesso e chamou a atenção dos leitores do jornal e revista para uma realidade que poucos conheciam e não eram muitos divulgados pela mídia, na época.
Quarto de Despejo - Diário de uma favelada
          Dois anos depois, em 1960, os diários escritos por Carolina de Jesus, são transformados em livro. Quarto de Despejo - Diário de uma favelada. Foram mais de 10 mil livros vendidos em apenas uma semana, tendo sido traduzido para 14 idiomas e vendido para mais de 40 países, totalizando mais de 1 milhão de exemplares vendidos, desde sua publicação. Quarto de Despejo foi um dos livros brasileiros mais conhecido no exterior.
          Numa parte do livro, Quarto de Despejo, percebe-se a visão da escritora sobre os contrastes e realidade social das grandes cidades brasileiras. "Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trechos”. Para Carolina de Jesus, o Centro das cidades eram as “salas de visitas”.
          Nas primeiras décadas do século XX, os governantes retiravam as pessoas que viviam nas ruas e os levavam para lugares mais distantes, da parte urbana, impulsionando assim ampliação e criação de favelas. Por isso que Carolina considerava as favelas, o quarto de despejo das cidades, e a parte central, a sala de visitas.
          Com o sucesso da venda de seu livro, Carolina mudou-se da comunidade para o bairro de Santana, também na Zona Norte e por fim, para Parelheiros, na Zona Sul. A região que ela escolheu viver, embora na Zona Sul paulistana, era mais afastada e um local mais simples, que lembrava um pouco as pequenas cidades do interior, com casas simples e gente humilde, formada por pessoas que deixaram suas terras de origem, passando a viver na cidade grande, em busca de vida melhor. 
          A vantagem que Carolina de Jesus via em sua nova região era que tinha ônibus e escolas públicas por perto, o que facilitava o acesso da comunidade ao estudo e locomoção para o trabalho.
Reconhecimento e homenagens
          Considerada uma das maiores escritoras do século XX, em seus inúmeros diários, Carolina de Jesus deixou um legado para gerações de todo o mundo, descrevendo numa linguagem simples, direta, clara, mas ao mesmo temo, poética e humana, como é sobreviver e lutar contra a fome e pobreza extrema.
          Em sua cidade natal, Sacramento, a escritora teve o merecido reconhecimento, dando nome a uma escola estadual, bem como 37 escritos de Carolina de Jesus, fazem parte do acervo do Arquivo Público de Sacramento MG.
          Recentemente, em 25 de fevereiro de 2021, Carolina Maria de Jesus, recebeu o título póstumo de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aprovado pelo Conselho Universitário (Consuni/UFRJ). Trata-se de uma honraria concedida a pessoas de destaque por suas virtudes, atitudes e méritos, independente de seu grau de instrução. 
          Sua principal obra, Quarto de despejo: Diário de uma favelada, é leitura obrigatória para quem quer conhecer a realidade das comunidades pobres das grandes cidades e também está presente em vestibulares de grandes universidades do Brasil.
          Contemporânea da época, onde se destacavam grandes nomes femininos da literatura brasileira, como Raquel de Queiroz, Clarice Lispector, Cora Coralina, Cecília Meireles, dentre outras, Carolina de Jesus está inserida entre os maiores nomes da literatura brasileira.
          Sua vida e obra merecem ser conhecidas pelo povo brasileiro, pelo exemplo que foi como mulher, pela atualidade de seus escritos e qualidade de suas obras. Os livros da escritora mineira formam um dos mais importantes clássicos da nossa literatura moderna, tanto que recebeu elogios de Clarice Lispector, tida por Carolina de Jesus como "uma escritora de verdade", sendo respondida por Clarice Lispector: "Escritora de verdade é Carolina, que conta a realidade”.
          Carolina de Jesus sofria de asma desde o nascimento e morreu aos 62 anos, em 13 de fevereiro de 1977, em consequência do agravamento desta doença, que lhe causou insuficiência respiratória. Após sua morte, em 1977, foram publicados novos livros, escritos e contos inéditos da escritora como: Diário de Bitita (1977), Um Brasil para Brasileiros (1982), Meu Estranho Diário (1996), Antologia Pessoal (1996), Onde Estaes Felicidade (2014) e Meu Sonho é Escrever, além de escritos e contos (2018).

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Facebook

Postagens populares

Seguidores