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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Sete Orelhas: a saga do vingador mineiro

(Por Arnaldo Silva) São Bento Abade é uma cidade com 4.713 habitantes, segundo Censo do IBGE, em 2022. A cidade faz divisa com São Tomé das Letras, Três Corações, Carmo da Cachoeira e Luminárias e está a 288 km da capital, com acesso pela BR-381.
          Logo na entrada da cidade, São Bento dá as “boas vindas” aos visitantes, em frente ao portal de entrada. A Avenida Miguel Nasser, é a principal via da cidade. Atravessa a pequena cidade de ponta a ponta, com ruas paralelas ao longo de seu percurso. (na imagem acima feita pelo Felipe de Oliveira Couto, como era Januário Garcia Leal, segundo usando a técnica da Inteligência Artificial da Disney-Pixar)
          A cidade conta com uma forte atividade rural, com destaque para a agropecuária e plantações de lavandas. É em São Bento Abade que se encontra plantações de lavandas. Fica na Fazenda Santa Vitória. A fazenda é um dos atrativos para quem vem à região, já que é aberta à visitação.
          Conhecer a beleza impressionante das lavandas, É um passeio incrível. Estar em meio à essa beleza sem igual da natureza, emociona. (na foto abaixo do @estudioquinas de Varginha MG, a Fazenda Lavandas da Serra em São Bento Abade MG)
Origem da cidade
         A história da pequena cidade começa a partir de 1752, no século XVIII, com a chegada do Padre José Bento Ferreira de Toledo. Foi o fundador do povoado, que deu origem à cidade hoje. Padre Bento, era devoto de São Bento e construiu uma pequena ermida, dedicada ao seu santo de devoção. Em torno da pequena ermida, um pequeno povoado se formou, passando a se chamar, povoado de São Bento. (na foto acima de Duva Brunelli, vista parcial da cidade)
          Desse povoado, surgiu a cidade de São Bento e não mudou de nome ao longo de existência. São Bento Abade é uma das poucas cidades brasileiras que não alteraram o nome durante sua história. Quando de sua emancipação, em 30 de dezembro de 1962, decidiram preservar o nome, acrescentado a palavra “Abade”, por existir outras cidades com o nome de São Bento, pelo país. O Abade era apenas para diferenciar.
          São Bento Abade é hoje uma cidade bem pacata, organizada e tranquila . Seu casario é simples e a cidade bem acolhedora e seu povo, hospitaleiro. (fotografia acima de Duva Brunelli)
          O município tem uma forte vocação cultural, preservando tradições como a Folia de Reis, a dança de Catira, o Reinado, as festas juninas, as modas de viola, a Festa do Peão de Boiadeiro, bem como as tradições religiosas católicas como a Semana Santa, Corpus Christi, a Festa do Padroeiro São Bento, em julho, dentro outros eventos.
A história de Januário Garcia leal
          Andando pelas ruas de São Bento do Abade, o visitante, já estranha algumas placas indicativas em forma de orelha. Percebe um nome meio estranho logo na entrada da cidade, em praças e monumentos retratando um homem com aparência destemida, montado num cavalo, usando um colar com 7 orelhas penduradas e até na Casa da Cultura da cidade. 
          Esse nome estranho é Sete Orelhas, apelido dado a Januário Garcia Leal, homem branco, rico, influente e Capitão de Ordenanças, que viveu na cidade no século XVIII e início do século XIX. Entrou para a história como o Sete Orelhas, um personagem mineiro que teve sua trajetória de vida, mudada a partir de 1802. (na imagem acima do Duva Brunelli, monumentos em praça pública do Capitão Mateus Garcia e Januário Garcial Leal)
De pacato cidadão para um dos mais temidos de Minas 
          Saiu de uma vida pacata para entrar para a história como um dos homens mais populares e ao mesmo tempo, um dos mais temidos de Minas Gerais, principalmente pelos governantes. Sua saga começa a partir de 1802. Durante esses mais de dois séculos, já foi temas de livros, estudos, teses e documentários.
          Nasceu na cidade de Jacuí, no Sul de Minas, em 1761 e faleceu em 16 de maio de 1808, em Lages, Santa Catarina. Era filho de Pedro Garcia Leal, natural dos Açores, região de Portugal e Josefa Cordeira Borba, natural de Cotia/SP.
          O casal formou uma família bem grande. Além de Januário, eram mais 7 filhos: José Garcia Leal, Joaquim Garcia Leal, João Garcia Leal, Manuel Garcia Leal; Antônio Garcia Leal, Ana Garcia Leal, Maria Garcia Leal, e Salvador Garcia Leal. Januário era casado com Mariana Lourença de Oliveira e com ela teve um filho, Higino Garcia Leal.
          Era uma pessoa tranquila, trabalhadora e vivia uma vida bastante pacata na fazenda Ventania, hoje o município de Alpinópolis, no Sul de Minas, com sua esposa e filho, além de escravos. 
Defensor da ordem pública
         Exercia a função de Capitão de Ordenanças do distrito de São José e Nossa Senhora das Dores, hoje, cidade de Alfenas, no Sul de Minas. Recebeu essa patente em 21 de janeiro de 1802, assinada pelo Capitão General da Capitania de Minas Gerais, Bernardo José de Lorena. 
          Essa patente, era concedida pelo Estado a membros da sociedade civil, para atuar como força militar, quando não havia a presença de uma organização militar constituída, na localidade. Tinha função de auxiliar as forças de seguranças da época em ataques de inimigos e proteção dos interesses da Corte Portuguesa na localidade.
Disputa por terras e morte do irmão
          
A vida tranquila e pacata de Januário mudou, quando seu irmão, João Garcia Leal, então com 43 anos, se envolveu em uma briga por disputa de terras com seu vizinho, Francisco Silva, pai de 7 filhos homens.
          Ao saberem da briga do pai com João Garcia Leal, tramaram eliminar o vizinho. Numa fazenda em São Bento Abade, João Garcia Leal, foi cercado pelos sete irmãos. Foi facilmente dominado, imobilizado e despido. Em seguida, amarrado a uma figueira, onde, sem a menor chance de defesa, foi esfolado vivo. Januário assistiu toda a cena do alto de um morro, sem nada poder fazer.
          Revoltado, decidiu procurar a Justiça. Numa época de constantes conflitos por disputa de terras e minas de ouro em Minas Gerais, fatos como esses eram comuns e a Justiça pouco agia nesses casos, até porque, a ação das comarcas era de dimensões regionais, sendo pouquíssimas existentes. (na imagem acima, fotografado por Duva Brunelli, monumento em praça pública, retrata do martírio de João Garcia Leal)
          A comarca mais próxima de São Bento Abade, naquela época, ficava em São João Del Rei, distante hoje 145 km. Numa época em que o único meio de transporte era cortando o sertão a cavalo ou em carros de bois.
          Era uma viagem longa, que levava dias. Mas Januário buscou a Justiça. Esta se demonstrou indiferente ao episódio. Procurou as autoridades da Coroa Portuguesa, que o orientou a resolver a questão por si mesmo, da forma que julgasse justo.
Olho por olho, dente por dente. A revolta dos capitães
          A justiça e as autoridades do Brasil Colônia, se mostraram completamente indiferentes e, insensíveis, em relação à demanda de Januário Garcia Leal. Simplesmente, lavaram as mãos. 
          Inconformado ao ver os algozes de seu irmão impunes, Januário voltou para São Bento Abade e a única forma que julgou ser justa para punir os culpados pela morte do irmão foi usar a lei mais comum naqueles tempos, a Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”. 
          Com o apoio de seu irmão caçula, o Alferes Salvador Garcia Leal e seu primo, Capitão Mateus Luís Garcia, dentre outros, Januário Garcia Leal buscou fazer sua própria justiça. A revolta passou a ser chamada de "A revolta dos Capitães". (na foto acima e abaixo do Duva Brunelli, monumentos em praça pública, de Salvador Garcia Leal e Mateus Luís Garcia)
Começa a saga do Vingador Mineiro
          Januário abandonou sua mulher, seu filho, sua propriedade, o status de sua patente e decidiu ir atrás dos sete irmãos, para vingar a morte de João Garcia Leal. Começa então uma das mais terríveis caçadas da história de Minas Gerais. Perseguidos, humilhados, espancados e mortos, foi o fim dos sete irmãos. 
          Para chegar ao sucesso de sua vingança, Januário e seu grupo, foram implacáveis e impiedosos. Desbravaram durante seis anos o sertão mineiro, em busca dos homens responsáveis pela barbárie contra João Garcia Leal.
          Os sete irmãos, temendo a vingança de Januário, começavam a fugir, sendo 3 deles, pegos durante a tentativa de fuga. 
          Por esse ato, Januário Garcia Leal foi denunciado em 1803, por uma moradora de Campo Belo, à Justiça da Vila de São Bento do Tamanduá, hoje, cidade de Itapecerica, na Região Oeste de Minas. 
          A Justiça da época, acatou a denúncia e determinou a prisão de Januário, o que não o intimidou. Continuou com seu objetivo.
Dos quatro que conseguiram fugir, foram capturados ao longo dos anos de sua caçada. O último dos sete irmãos, ficou tão apavorado com a ação de Januário, que fugiu para o mais longes possível. Foi parar perto de Diamantina, a 550 km de distância de São Bento Abade. Mas não teve jeito, foi encontrado.
          Januário mandou o homem andar 100 passos e avisou que no centésimo, atiraria. Se errasse, podia seguir. Mas Januário era bom de mira, acertou em cheio. Finalmente, depois de quase 6 anos de caçada, Januário Garcia Leal cumpriu seu prometido, vingando a morte do irmão.
          Januário fazia questão de cortar a orelha direita de suas vítimas, salgava e as colocava num cordão, formando um “colar”. Somente após a última orelha, no “colar”, Januário se deu por satisfeito.
          Dos que mataram seu irmão, não sobrou um para contar história. O que ficou foram os monumentos, em praça pública, retratando cada um dos sete homens perseguidos por Januária Garcia Leal. (como podem ver na fotografia de Duva Brunelli)
A inspiração de Januário
          Januário tinha parentesco com um dos mais assustadores homens do século XVIII, Bartolomeu Bueno do Prado, Capitão-Mor e Capitão do Mato. Com certeza, sabia da fama deste homem, que corria solta na tradição popular. 
          Era um dos homens mais temidos da sua época, por suas ações e barbáries cometidas em seus atos. Sua especialidade era desmantelar grupos de quilombos, por isso era um dos capitães do mato mais requisitados por fazendeiros e governos. 
          Para comprovar que suas ações tiveram êxito, tinha o hábito de cortar as orelhas de suas vítimas. Foi assim que fez em 12 de maio de 1757, quando contratado pelo Governador da Capitania de Minas Gerais, José Antônio Freire de Andrade, entregou três mil e novecentos pares de orelhas. 
          Resultado da ação por 3 anos em território mineiro, em combate a movimentos quilombolas. Acredita-se que Januário tenha se inspirado no comportamento de Bartolomeu Bueno do Prato.
O colar e o apelido de Sete Orelhas
          
Com esse ato de cortar e amarrar num cordão as orelhas de suas vítimas, raramente era chamada de Januário Garcia Leal e sim de Sete Orelhas. Um apelido que fazia qualquer valentão a tremer de medo. (na imagem acima do Duva Brunelli, monumento público de Januário Garcia Leal, em destaque o colar com sete orelhas)
          Ganhou fama e respeito, conseguindo a simpatia e adesão de muitos ao seu grupo, graças a sua fama. Mas também provocava medo nos poderosos, que temiam a justiça dos Garcias. Isso porque tinham fama de implacáveis, rápidos em seus julgamentos e em execuções de suas decisões. 
          Por esse motivo, tinham a simpatia do povo, que consideravam a justiça lenta, burocrática, ausente e inacessível para boa parte da população naquela época. Ninguém se atrevia a enfrentar o Sete Orelhas.
De caçador a caçado
          Em 1808, a fama dos Garcias e seu grupo, chegou à Corte, dada tamanha ousadia e popularidade do grupo, liderado por Januário Garcia Leal. Conquistaram respeito popular na Capitania de Minas Gerais, exercendo autoridade que sobrepunham inclusive, à autoridade da polícia e do judiciário, à época. (na imagem acima do Elpídio Justino de Andrade, monumento ao Sete Orelhas na entrada de São Bento Abade)
          Isso passou a incomodar a Corte Portuguesa, provocando uma forte reação do Príncipe Regente de Portugal, Dom João VI. 
          A Corte julgava que Januário e seu grupo, poderiam colocar em risco a soberania do domínio português, na Capitania de Minas Gerais. 
          A preocupação da Corte com o grupo de Januário Garcia Leal era tão grande que a Monarquia mandou, nada mais, nada menos que o temido Fernando Vasconcelos Parada e Souza. Foi esse o homem que perseguiu e prendeu os Inconfidentes.
          Tinha a clara missão de colocar fim a revolta dos capitães, em 1808. O Príncipe Regente, determinou que, as forças públicas agissem de forma a desmobilizar e desmantelar totalmente o grupo. Januário, que empreendeu uma forte caçada pelo sertão mineiro, passou a ser duramente caçado e perseguido, sem tréguas, pelas tropas de Fernando Vasconcelos. 
A fuga e morte de Sete Orelhas em Santa Catarina
          Salvador Garcia Leal, irmão de Januário e integrante do grupo foi preso. Seu primo, Mateus Luís Garcia, conseguiu fugir, bem como Januário, que fugiu para bem longe de Minas Gerais
          Foi para Lages, em Santa Catarina, onde vivia alguns de seus parentes, de origem açoriana. 
          Em Lages, exercia a função de mercador, mas morreu pouco tempo depois, que chegou, aos 47 anos, em 16 de maio de 1808. Mas não morreu devido a perseguição das tropas de Fernando Vasconcelos. Foi vítima de um acidente, quando tentava impedir um cavalo de pular uma porteira. 
          No salto, as patas do cavalo atingiram uma das tábuas, que se desprendeu e acertou com muita força, sua cabeça, próximo a sua orelha direita, causando-lhe traumatismo craniano e fratura do queixo, levando-o à morte.
          Esta é a história de Januário Garcia Leal. É fato histórico e comprovado. Um personagem real de nossa história, bem longe de ser uma lenda. É a história viva de São Bento Abade MG. 
A saga de Januário Garcia Leal em monumentos 
          Na cidade, podem ser vistos, monumentos dedicados ao Vingador de Minas Gerais, montado em seu cavalo, com o colar de orelhas em seu pescoço. Bem como ainda, a figueira, onde aconteceu o suplício de João Garcia Leal, conhecida hoje como “Figueira do Tira-Couro" e outros personagens da saga de Sete Orelhas. (na foto abaixo de Duva Brunelli, Januário Garcia Leal e Salvador Garcia Leal)
          A figueira foi tombada em 12 de abril de 2004, pelo Conselho do Patrimônio Cultural de São Bento do Abade, sendo protegida desde então como patrimônio. O lugar é cercado, sinalizado e bem cuidado. 
          Em 2014, a Saga de Sete Orelhas, com base em estudos e pesquisas, em documentos e inventário de Januário Garcia Leal, sobre a vida de Januário Garcia Leal, foi registrada como patrimônio da cidade, resgatando a história de um dos mais intrigantes personagens mineiros. Sua saga é hoje um dos atrativos do Sul de Minas.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

A história da Igreja inacabada de Sabará

(Por Arnaldo Silva) Sabará é uma das mais importantes cidades históricas de Minas, fundada em 1775, no final do século XVIII. A cidade guarda relíquias da nossa história, presentes em sua em seus casarões coloniais, na Casa da ópera, em seus museus e em suas igrejas imponentes, erguidas durante o Ciclo do Ouro.
          Muitas dessas igrejas abrigam obras do Mestre Aleijadinho, que já morou na cidade e do Mestre Ataíde, o mestre da pintura. A cidade fica apenas 20 km distante de Belo Horizonte. (foto acima de Leandro Leal)
          No Centro Histórico da Terceira Vila do Ouro de Minas Gerais, uma construção em pedras e inacabada, chama a atenção, pela imponência e pelas histórias ocorridas ao longo de seus mais de três séculos de existência, que impossibilitaram sua conclusão.
É a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da Barra do Sabará. A irmandade dos Irmãos do Rosário foi fundada em 1713 e foi muito atuante em Sabará, durante o período do Ciclo do Ouro.
A história Igreja do Rosário
          É uma obra, que mesmo inacabada, impressiona, pelas sombrias paredes, em pedra sobre pedra e detalhes imagináveis, de uma Igreja que seria uma das mais belas e imponentes de Minas.
          Estar no interior da construção, emociona e intriga, pelos mais de 300 anos de existência. O que guardam essas paredes? Quais as histórias vividas e contadas neste lugar? (fotografia acima de Andréia Gomes/@andreiagomesfoto)
          Quantas dores e lágrimas foram derramadas em sua construção? 
          
No lugar onde foi projetada a igreja do Rosário em Sabará, existia uma pequena ermida, feita de madeira, dedicada à Nossa Senhora do Rosário. Foi demolida e no lugar, construída uma capela em melhores condições para os membros da irmandade exercerem sua fé, enquanto se construía o novo templo.
 
          Era bem simples e rústica em seu interior, com piso e detalhes em madeira, ornamentação e talhas dos altares bem singelos. As pinturas no forro da capela diferem da simplicidade do altar capela. São pinturas mais bem trabalhadas, simbolizando a Ladainha de Nossa Senhora. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          A Irmandade, conseguiu com muito esforço, em 1757, a doação, por carta régia, de seu tão sonhado terreno, onde finalmente, conseguiram dar início a construção de sua igreja. Buscaram recursos, juntaram dinheiro e ampliaram a área doada, com a compra de dois terremos próximos, em 1766.
          No ano seguinte, começa a preparação do terreno, com a construção da igreja, iniciada em 1768. A parte de execução da alvenaria e cantaria, foi executada pelo mestre de obras, Antônio Moreira Gomes, contratado pela irmandade.
Projeto grandioso para a época
          Era um projeto grandioso e ambicioso para a época. Mesmo durante a riqueza do Ciclo do Ouro, era um projeto bem caro, já que os membros da Irmandade, não tinham tanto dinheiro assim. Esse foi um dos fatores para a lentidão das obras de alvenaria e cantaria, que só foram concluídas, 12 anos depois, em 1780, com a conclusão das obras da capela-mor e da sacristia, na alvenaria, sem o reboco e ornamentações. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          A partir desse ano, com a falta de recursos, as obras continuaram bem lentas, passando pelas mãos de diversos outros mestres de obras, durante décadas, até o ano de 1878, quando os Irmãos do Rosário, decidiram concluir de vez as obras da Igreja.
          Nessa época, o Brasil vivia um período conturbado em sua história, com pressão sobre a Monarquia e pelo fim da Escravidão. Isso fez com que vários os negros, se dispersassem ou mesmo, fugissem para quilombos, cada vez mais comuns naquele tempo.
          Nas grandes cidades brasileiras, principalmente no Rio de Janeiro, a sede da Monarquia Imperial, a pressão pelo fim do Império e instalação da República e abolição da Escravidão eram cada vez mais frequentes, o que de fato ocorreu, anos depois. Em 13 de maio de 1888, foi abolida a escravidão no Brasil. No ano seguinte, em 15 de novembro, cai a monarquia e é instalada a República no Brasil.
Desistência para conclusão da obra
          Nessa situação, a Irmandade do Rosário, se viu esvaziada, sem dinheiro e sem a mão de obra, bem como a própria Igreja Católica, que não tinha também recursos para finalizar a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Sabará. Encerraram-se então os esforços para a conclusão das obras. Do jeito que deixaram, está até os dias de hoje.
          Se tivesse sido concluída, seria um dos mais imponentes e belos templos do período barroco e rococó, em Minas Gerais. Seria uma igreja singular, rica em detalhes em sua fachada e nos ornamentos internos, com seus altares ornados em ouro, pinturas e talhas finíssimas e bem trabalhadas. A igreja chama a atenção para o projeto de seu adro, que lembra a escadaria do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas MG. (na foto acima de Arnaldo Silva)
Patrimônio de Minas e do Brasil
          Por sua história, ao longo de três séculos, e importância, no dia 13 de junho de 1938, todo o acervo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Sabará, foi tombado pelo (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Com o tombamento, garante-se a preservação integral de toda a obra. Como é um bem tombado, não pode sofrer modificações ou alterações, apenas restaurações e reformas estruturais e necessárias, que possam garantir a integridade e preservação da obra, em sua originalidade, como foi feito entre 1944 a 1945.
          O visitante pode conhecer a Igreja, por dentro e por fora, além de conhecer o Museu de Arte Sacra, que funciona em uma das sacristias da Igreja. Neste museu, estão mobiliários e peças religiosas dos séculos XVIII e XIX. 
          A curiosa obra inacabada (na foto acima da Andréia Gomes), desperta curiosidades e instiga a imaginação dos visitantes. É um dos lugares mais visitados de Sabará, além de ser um dos lugares mais enigmáticos de Minas Gerais. As paredes erguidas em pedra bruta, assentadas, pedra, sobre pedra, pelos escravos, tem muitas histórias para contar. São mais de três séculos, com histórias reais e outras nem tanto, contada em forma de lendas, muitas delas, fantasmagóricas, criadas pelo imaginário popular. 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

As águas quentes e medicinais de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Minas Gerais é conhecida no mundo inteiro pela arte barroca e suas cidades históricas, mas também é considerada a caixa d´água do Brasil, por seus rios, milhares de cachoeiras e nascentes e por suas águas medicinais, que brotam naturalmente de suas terras.
          Em Minas não tem mar, mas nas profundezas do seu nosso subsolo, brota um mar de águas que curam e rejuvenescem. O subsolo mineiro sempre foi rico em minerais. Das terras mineiras, brotavam em abundância ouro, prata, diamantes, esmeraldas e outras pedras preciosas, que ainda continuam saindo de nossas terras, hoje em maior escala, o minério de ferro, o nióbio e outros minerais. (na foto acima de Gislene Ras, o Parque das Águas da Estância Hidromineral de São Lourenço, no Sul de Minas)
          Hoje, a grande riqueza que brota do nosso subsolo são as fontes de águas medicinais. São as águas gasosas, sulfurosas, alcalinas, carbonatadas, ferruginosas, radioativas, magnesianas, minerais e outras mais, além de lama vulcânica, com variadas composições químicas, que brotam diretamente da terra. Águas mineiras atraem turistas do mundo inteiro, em busca das propriedades curativas de nossas águas.
          As fontes de águas minerais começaram a ser descobertas em Minas Gerais, a partir do no início do século XIX, numa época de bem pouco conhecimento sobre os poderes curativos das águas. Não sabiam porque elas curavam, apenas sabiam que curavam. Antes mesmo da chegada dos portugueses, os índios já conheciam os benefícios de beber e se banhar nas fontes naturais. Era prática comum entre os indígenas. Naquela época, por desconhecimento científico, as pessoas atribuíam os poderes de cura das águas, a presença de divindades no local e milagres inexplicáveis. Hoje, com o avanço da ciência, os benefícios e propriedades curativas das águas termais e lama vulcânica, foram confirmados pelos cientistas, com estudos realizados ao longo do século passado.
          Águas termais são águas puras, ricas em substâncias naturais e livres de impurezas e bactérias, dispensando assim, tratamento. As águas absorvem os minerais, oligoelementos e nutrientes do solo e das rochas. Essas substâncias são benéficas à saúde humana, renovam as células, são ricas em cálcio, manganês, ferro, zinco e selênio, além de conter até 2.000 mg de sais minerais naturais. Brotam da terra em temperaturas que variam de 37°C a 50°C, dependendo da variação do calor nas profundezas da terra.
          Beber ou banhar-se nas águas e lamas medicinais, comprovadamente, ajudam no complemento de tratamentos contra problemas de pele, porque repõe os sais minerais e antioxidantes perdidos pela pele, hidratam a pele ressecada, além de diminuir sua oleosidade. Equilibram o PH da pele, combatem o estresse, auxiliam em tratamentos estético, alergias, distúrbios do intestino e estômago, dores musculares, hipertensão arterial, arteriosclerose, dentre outras doenças. Além disso, as águas e lama promovem bem estar, descanso para o corpo e mente, além de relaxamento. Isso porque, onde estão as fontes, são lugares rodados por vasta natureza, com espaços aprazíveis, bem cuidados, propícios para quem quer fugir da correria do dia a dia. (foto abaixo de Arnaldo Silva)
          Onde estão as principais fontes de águas termais em Minas Gerais? No Vale do Jequitinhonha, Norte de Minas e principalmente no Sul de Minas. Você vai conhecer algumas dessas cidades mineiras, onde brotam águas medicinais, que curam e rejuvenescem.
Felício dos Santos MG          
          Vamos começar nosso roteiro por Felício dos Santos, no Vale do Jequitinhonha, a 370 km distante da Capital, com acesso pela BR-259. Faz divisa com os municípios de Senador Modestino Gonçalves, Itamarandiba, Rio Vermelho, Couto de Magalhães de Minas e São Gonçalo do Rio Preto. (na foto abaixo, a Praça da Matriz da cidade e um dos mais belos artesanatos mineiros, feito com papel de jornal reciclado, pela artesã Márcia Rodrigues/@marciaartescomjornal, que também fez a foto)
          Uma pequena, charmosa e acolhedora cidade tipicamente mineira, com pouco mais de 5 mil habitantes. Se destaca no artesanato, nas festas folclóricas e religiosas, por sua culinária típica do Cerrado, por suas belezas naturais e exuberantes, como a Cachoeira do Sampaio, a Mata do Isidoro, o Lajeado e a impressionante Cachoeira do Sumidouro (na foto acima de Marcelo Santos), onde suas águas despencam de um enorme penhasco, com 80 metros de queda.
          Outro atrativo, que vem tornando a cidade conhecida em toda Minas Gerais e Brasil, são suas águas quentes e medicinais.
          As fontes de águas de Felício dos Santos brotam da terra quentes, (como podem ver na foto acima do Luís Carlos da Silva/Divulgação). Saem quentes da rocha,  a uma temperatura de 37 graus centígrados. São medicinais, minerais, hipotermais e radioativas.
          Estão apenas 9 km do Centro da cidade. O local onde estão as fontes, conta com uma boa infraestrutura para receber os turistas, com pousada com quartos e chalés, restaurante e estacionamento 
          A área onde estão as fontes de águas quentes, possui 780 hectares, com matas nativas, nascentes, trilhas, uma rica e variada flora e fauna, além de muita água. Tem todo o conforto para que o turista possa relaxar e aproveitar as águas quentes que brotam direto da terra.
Montezuma MG 
          Saindo do Vale do Jequitinhonha, nosso destino agora é Montezuma, no Norte de Minas, a 748 km distante de Belo Horizonte. O município, com cerca de 8.500 habitantes, tem acesso pelas BR-122 e BR-135. Cidade famosa e conhecida no Brasil inteiro pelas propriedades medicinais de suas águas thermais, concentradas no Balneário de Montezuma das Águas Thermais.  
          A cidade é um convite para o descanso e convívio saudável com a natureza e procurada por pessoas de todo o país, que desde o século XIX, quando suas águas medicinais foram descobertas. (foto acima e abaixo arquivo do Balneário de Montezuma/Enviado por Eduardo Vieira Amorim)
          Muito bem estruturado, confortável e de rara beleza, o Balneário de Montezuma conta ainda com hotel, restaurante, e bar, além de duas piscinas de água quente, vindas das fontes naturais, outra de água fria, banheiros privativos com piscinas, salão de eventos, play ground, vestiários, banheiros privativos com piscina e loja de conveniência. Um ótimo ambiente para o turista que busca descanso e as propriedades medicinais das águas que brotam da terra, de Montezuma.         
Araxá MG
          Partindo de Montezuma, estamos indo agora para a Região do Alto Paranaíba, em Araxá (na foto acima de Arnaldo Silva), uma das mais importantes cidades mineiras, com cerca de 110 mil habitantes. A cidade faz divisa com Perdizes, Sacramento, Tapira e Ibiá e está a 215 km de Belo Horizonte, com acesso pela BR-262. 
          A cidade de Araxá está presente na história de Minas Gerais, pela herança dos índios “Arachás”, por suas tradições, principalmente na produção artesanal de doces e seus queijos, premiados no Brasil e exterior. Por sua gastronomia típica, pelo Grande Hotel do Barreiro, também pela história de Ana Jacinta de São José, a Dona Beja, famosa cortesã do século XIX.
          O grande destaque mesmo de Araxá são suas águas sulfurosas, radioativas, cálcicas, magnesianas, carbonatadas e sódicas, que brotam de várias fontes, sendo as principais, a Fonte Dona Beja e Andrade Júnior (na foto acima de Arnaldo Silva).
          Concentradas no Parque das Águas de Araxá, onde está um dos mais imponentes hotéis do Brasil, o Grande Hotel, inaugurado por Getúlio Vargas em 1944 (fotografia acima de Arnaldo Silva). É uma obra prima da arquitetura do século XX. Inspirado nos castelos europeus, o Grande Hotel do Barreiro, em Araxá, tem ornamentação e acabamento em mármores importados da Europa e ainda, lustres de cristais vindos da Boêmia, também na Europa, além de salões com mobiliário do século XX, muitos deles, também importados. Seus salões e corredores impressionam. Uma beleza singular e uma das joias de Minas Gerais.
          No entorno do Grande Hotel, um bucólico lago, um bosque e cascatas, projetados pelo paisagista Burle Marx, se destacam. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          É nas Termas de Araxá, ao lado do Grande Hotel, onde estão as banheiras e piscinas de águas para tratamentos de saúde com duchas, saunas, hidroterapia, mecanoterapia e aplicação de lama vulcânica preta, indicada pra reumatismo e doenças de pele. 
          Além da beleza do Parque das Águas, Araxá é uma cidade bem organizada e muito bem estruturada e desenvolvida, com indústrias de vários segmentos, além da mineração do nióbio. Conta com uma sofisticada e aconchegante rede hoteleira e gastronômica, um artesanato valioso, principalmente bordados e crochês, um comércio variado, fácil acesso pelos principais pontos turísticos da cidade, como o Morro do Cristo, o Museu Dona Beja, a Igreja de São Domingos, o Museu de Arte Sagra da Igreja de São Sebastião, a Avenida Imbiara. (na foto acima de Arnaldo Silva, o interior das Thermas de Araxá)
          Além de suas belezas arquitetônicas, Em Araxá encontra-se belas paisagens naturais, como serras, rios que foram belas cascatas e cachoeiras, tendo acesso ainda para o Parque Nacional da Serra da Canastra. A cidade conta ainda com um aeroporto, com voos regulares, além de acesso fácil para BR-262.
Sul de Minas
          Saindo do Alto Paranaíba, vamos para o Sul de Minas, onde estão concentradas as principais estâncias hidrominerais de Minas Gerais e as mais famosas também.
          A maioria das estâncias hidrominerais do Sul de Minas, estão na Serra da Mantiqueira. Região montanhosa, de altitudes elevadas, com matas nativas, rios e cachoeiras e paisagens de tirar o fôlego, com fauna e flora riquíssimas. Além das águas que brotam do subsolo, tem ainda os frutos da terra para serem conhecidos e apreciados, nessa região. Fazendas centenárias de café, com seus imponentes casarões, fazendas de plantações de oliveiras e morangos, além de alambiques e cachaçarias, queijos especiais e várias vinícolas, produzindo vinhos finos, de qualidade. Muitas dessas fazendas, abrem suas porteiras para recebem visitantes. Em todas essas cidades, o turista poderá experimentar a genuína cozinha mineira e os pratos típicos do Sul de Minas, como os pratos feitos com a truta, morangos, marmelo, queijos, dentre outros.
          As estâncias hidrominerais do Sul de Minas são as mais conhecidas e mais procuradas por turistas de todo o Brasil e do mundo. São águas com ações curativas e medicinais, encontradas principalmente nas cidades de São Lourenço, Poços de Caldas, Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas, Maria da Fé, Três Corações, Lambari, Campanha, Carmo de Minas, Conceição do Rio Verde, Heliodora, Lambari, Soledade de Minas, Baependi, Cambuquira, Caxambu e Passa Quatro.
          Além das águas medicinais, são cidades acolhedoras, e boa parte dessas cidades, com boa estrutura para receber os visitantes, com rede hoteleira e gastronômica de qualidade, além de artesanato, cultura, arquitetura, tradições populares marcantes. Duas delas conta com passeios de trem, como o Trem das Águas de São Lourenço a Soledade e o Trem da Mantiqueira, em Passa Quatro.
          Das estâncias hidrominerais da Região Sul de Minas, destacamos três cidades com ótima boa estrutura e atrativos variados para receber os turistas. São Lourenço, Poços de Caldas e Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas.
São Lourenço MG
          As águas termais de São Lourenço estão concentradas no charmoso Parque das Águas, formado pela Ilha dos Amores, um lago com 90 mil metros quadrados, área verde, construções com arquitetura eclética, lugares próprios para banhos, como os banhos turco, infravermelho e ultravioleta, além de saunas, locais para massagens e duchas. É no Parque das Águas que estão concentradas as fontes de águas gasosas, magnesianas, alcalinas, ferruginosas e sulfurosas. Todas com gases próprios, formados durante milhões de anos, pelas atividades vulcânicas extintas. (na foto acima, de Wilson Fortunato, a entrada da cidade e abaixo, do Rinaldo Almeida, o Parque das Águas)
          São Lourenço é uma cidade tranquila, com um rico artesanato, famosa por seus doces, licores, culinária típica e produção de roupas de lã. É uma cidade charmosa, com arquitetura variada, com traços coloniais, ecléticos e europeus, graças a presença de imigrantes, que vieram para região no início do século passado. 
          A cidade é muito bem estruturada para receber turistas, com ótima rede hoteleira e gastronômica. Conta hoje com cerca de 48 mil habitantes, fazendo divisa com os municípios de Soledade de Minas, Carmo de Minas, Pouso Alto e São Sebastião do Rio Verde. Está a 400 km distante da Capital, com acesso pela BR-381.
Poços de Caldas MG
          Poços de Caldas é outra importante estância turística e hidromineral mineira. (fotografia acima de Guilherme Augusto/@mikethor) Situada a 1184 metros de altitude, a cidade está literalmente na “boca” de um vulcão extinto há milhões de anos. O acesso à cidade é pela BR-351, estando distante 451 km da capital, contando com cerca de 170 mil habitantes. Faz divisa com os municípios de Andradas, Bandeira do Sul, Caldas, Campestre, Botelhos e com os municípios paulistas de Águas da Prata, Divinolândia, Caconde e São Sebastião do Grama. 
          As águas que brotam das terras poços-caldenses são sulfurosas, radioativas, alcalino-sulfurosas-hiper-termais, ferruginosas e radioativas. Diferente das outras estâncias hidrominerais, onde as águas se concentram em Parques, em Poços de Caldas as fontes são espalhadas na área central da cidade, em belíssimas e bem cuidadas praças. São nove fontes ao todo, com alguns chegando à superfície a 45 graus centígrados. 
          Para banhos, a fonte mais indicada é a Fonte Antônio Carlos (na foto acima de Thelmo Lins), que está dentro de um complexo arquitetônico construído nas primeiras décadas do século passado. Uma das mais belas arquiteturas do século XX, em Minas. Os banhos nessas águas ajudam a aliviar a tensão e desintoxicar o organismo. 
          Poços de Caldas vai muito além de suas águas medicinais. É uma das cidades mais desenvolvidas de Minas e uma das mais procuradas por turistas, principalmente, casais em lua de mel. A cidade inspira romantismo. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          Possui como atrativos a Praça Pedro Sanches, em frente ao Palace Cassino, o Mercado Municipal, a Praça Dom Pedro II, onde está a Fonte dos Macacos, onde acontece todos os domingos, a Feira de Artes e Artesanatos, o Relógio Floral, a Fonte das Rosas, o Represa Bortolan, o teleférico, que leva os turistas ao Morro do Cristo, a 1.678 metros de altura.
          A cidade conta ainda com uma gastronomia típica, parques urbanos com cachoeiras, como a Cascata das Antas, das Andorinhas e do Véu da Noiva, a Fonte dos Amores, o Recanto Japonês, a bela Matriz de Nossa Senhora da Saúde, a sua charmosa rodoviária, suas festas religiosas, como as Congadas, seu portal de entrada (na foto acima do Luís Leite) e várias outras belezas urbanas. Sem contar a sua sofisticada e aconchegante rede hoteleira, sua rica gastronomia e seu valioso artesanato, principalmente artesanato em vidro, arte introduzida na cidade por imigrantes italianos, vindos da Ilha de Murano, no início do século passado.
Caldas MG e a Estância de Pocinhos do Rio Verde
          Vizinha a Poços de Caldas, está Caldas, uma das mais antigas cidades do Sul de Minas, fundada em 27 de março de 1813. Inclusive, Poços de Caldas, era distrito de Caldas, antes de ser elevada à cidade emancipada. Caldas conta com cerca de 15 mil habitantes e está a 465 km, com acesso pela BR-381. Faz divisa com os municípios de Andradas, Poços de Caldas, Ibitiúra de Minas, Santa Rita de Caldas, Campestre e Bandeira do Sul.
          O grande atrativo de Caldas são suas águas medicinais, concentradas no distrito de Pocinhos do Rio Verde (na foto acima de Luís Leite), onde está também o Gran Hotel de Pocinhos.
          Construído na segunda metade do século XIX, em estilo colonial, é o mais antigo hotel em funcionamento no Brasil. (créditos da imagem acima: Summit Concept Pocinhos/Divulgação) Pelas dependências do Grande Hotel, passaram milhares de hóspedes, entre gente anônima ou famosa, que vindos de vários lugares do Brasil e do mundo, em busca de cura para suas enfermidades ou mesmo para descanso.
          Região de ar puro e belíssimas paisagens, Pocinhos do Rio Verde é procurada por turistas do mundo todo, em busca das propriedades medicinais de suas águas. Lugar ideal para quem deseja sossego e descanso. 
          No Parque Balneário de Pocinhos o visitante pode desfrutar das três fontes de águas minerais, além de ducha circular, hidromassagem, sauna e banhos de imersão.
          Agora é só escolher o roteiro e vivenciar a beleza, tranquilidade, sossego que as nossas estâncias hidrominerais oferecem, bem como os benefícios para a saúde, que as águas que brotam das terras mineiras, proporcionam.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O Parque Municipal de Belo Horizonte

(Por Arnaldo Silva) Inaugurado 76 dias antes da fundação oficial da Capital Mineira, em 1897, o Parque Municipal de Belo Horizonte, oficialmente, Parque Américo Renê Giannetti, prefeito de Belo Horizonte entre 1951 a 1954, se tornou um dos símbolos da capital e um dos mais tradicionais pontos de encontros das famílias belo-horizontinas. (fotografia abaixo de Rogério Salgado)
          O parque conta com cerca de 280 espécies de árvores diferentes,  entre jaqueiras, ipês, jacarandás, flamboyants, figueiras, fícus, pau-formiga, bougainvilles, manacá-de-cheiro, pau-terra, paineiras, pau-brasil, pau-mulato, dentre outras. Algumas dessa árvores, são centenárias. Cerca de 110 espécies diferentes de pássaros podem ser vistas no parque, como por exemplo, bem-te-vis, sabiás, socós, periquitos, pica-paus, sanhaços, saíras, canários, além de pequenos roedores e animais como por exemplo, micos e gambás.
          As nascentes no parque, formam 3 belos lagos, sendo o maior deles, com barcos e pedalinhos. Tem ainda jardins, parque infantil com diversos brinquedos, quadra de tênis e pista de patinação, pista de caminhada, quadras poliesportivas, equipamentos de ginástica, além de trenzinhos, fontes de água potável, sanitários, lanchonete, pipoqueiros e o tradicional algodão-doce, além dos saudosos fotógrafos lambe-lambe, que registram, desde a origem do parque, as recordações das famílias belo-horizontinas. (foto acima de Rogério Salgado e abaixo de Arnaldo Silva)
          O Parque Municipal é um verdadeiro museu a céu aberto. Caminhando por sua área, encontrará vários monumentos de grande relevância cultural e histórica, como o monumento dedicado à Mãe Mineira, esculpido pelo escultor italiano Lélio Coluccini, inaugurado em 1959.
          Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais conhecida por Anita Garibaldi, heroína Catarinense, recebeu homenagens do povo mineiro, com uma estátua sua, instalada na Ilha dos Amores, no lago principal do parque (na foto acima de Arnaldo Silva).
          Duas réplicas de monumentos famosos no mundo, com os originais expostos no Museu do Louvre em Paris, estão no Parque Municipal, instaladas próxima a Avenida Ezequiel Dias. Uma é a réplica da escultura grega de Vitória de Samocrácia e outra, no Lago, outra escultura grega, a Vênus de Milo (na foto acima de Arnaldo Silva).   
          No Parque Municipal, encontra-se um charmoso coreto, rodeado por um belo jardim, em estilo francês. Esse coreto veio da Bélgica e estava inicialmente na antiga praça, em frente a atual rodoviária, transferido em 1922, para o parque. Tudo isso bem no centro da metrópole mineira. (foto acima de Rogério Salgado)
          Um lugar lindo, charmoso, nostálgico, pitoresco e atraente, desde sua fundação. E continua assim até os dias de hoje. É um dos mais belos cartões postais de Minas. Lugar onde famílias passam fins de semanas e feriados com os filhos. É comum toalhas estendidas sobre os gramados e as famílias em volta, no tradicional piquenique. 
          O Parque foi criado pelo engenheiro Aarão Reis, um dos integrantes da comissão criada em 1895, para projetar a nova capital mineira. Projetado por Paul Villon, arquiteto-jardineiro francês, o parque foi instalado na fazenda da família de Guilherme Vaz de Mello, numa área original de 555 mil metros quadrados. 
          Nessa época, o parque formava um imenso quadrado, entre a Avenida Afonso Pena, a antiga rua Araguaia, hoje Francisco Sales, a antiga rua Mantiqueira, hoje Alfredo Balena e a antiga rua Tocantins, hoje, Assis Chateaubriand. Esta área foi escolhida pela riqueza do solo e por suas nascentes de águas, que permitia o plantio de variedades de outras espécies. (foto abaixo de Arnaldo Silva)
          Belo Horizonte foi uma cidade que nasceu planejada. A previsão de seus idealizadores era teria  um crescimento lento, chegando a 100 mil habitantes, em 100 anos. Fatores como a industrialização e o êxodo rural constante, por exemplos, foram predominantes para o crescimento da capital, bem além das previsões iniciais. Mais de 120 anos depois de sua fundação, Belo Horizonte conta hoje com mais de 2,5 milhões de habitantes. 
          Com o crescimento da cidade, principalmente em torno da área do Parque Municipal, optaram por valorizar o crescimento urbano, reduzindo as áreas verdes, visão predominante na época. Assim, o Parque Municipal, começou a perder sua área. Avenidas e ruas em seu entorno começaram a ser alargadas. Com a instalação da Estação Ferroviária na capital, no início do século XX, parte da área do parque, deu lugar a trilhos. (foto abaixo de Rogério Salgado)
          Outra parte de sua área foi cedida para a instalação da Faculdade de Medicina da UFMG e da área hospitalar da Capital, entre as Avenidas Ezequiel Dias e Alfredo Balena. Um pedacinho da área, entre a Avenida Afonso Pena e Rua da Bahia, foi suprimido, para construção da Estação de Bondes, hoje, Mercadinho das Flores. Uma boa área do parque, no sentido BH/Sabará, foi integrada ao bairro Floresta, para construção de prédios residenciais e comerciais.
          Por fim, foram construídos dentro da área do parque, o Teatro Francisco Nunes, na década de 1940. Nas décadas de 1960 e 1970, foram construídos o Orquidário, o Palácio das Artes e o Colégio Imaco.
          Com isso, dos 555 mil metros quadrados da área original do parque, foram ao longo das décadas de sua existência, bastante reduzidos, chegando atualmente, a 182 mil metros quadrados de área. (fotografia acima de Rogério Salgado)
          Hoje, isso não aconteceria novamente com nenhuma outra área verde de qualquer cidade brasileira. Isso porque a visão atual, é de equilíbrio entre a urbanização e o meio ambiente, havendo consenso da necessidade de ampliar as áreas verdes das cidades, não o contrário.
          Em 1977, o Parque Municipal de Belo Horizonte foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA). Todo o conjunto paisagístico e arquitetônico da área do parque, foi tombado. Com isso, novas construções ou perdas de espaços, ficaram proibidos. Nesse mesmo ano, a área foi toda cercada. Em 1992, foram plantadas mais árvores em sua área, além de receber novas melhorias. (panorâmica abaixo de Arnaldo Silva)
          O Parque Municipal é administrado desde 2005 pela Fundação de Parques Municipais (FPM). É aberto à população de terça a domingo, de 6h às 18hs, com entrada franca.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

O esplendor da Serra da Piedade em Caeté

(Por Arnaldo Silva) A cidade de Caeté é uma das joias de Minas Gerais. Com cerca de 45 mil habitantes, está apenas 50 km da capital, com acesso pela BR-381, que liga BH a Vitória/ES. Faz divisa com os municípios de Nova União, Taquaraçu de Minas Raposos, Rio Acima, Santa Bárbara, Barão de Cocais, Bom Jesus do Amparo e Sabará. 
          Seu povoamento e história começa antes, no final do século XVII e início do século XVIII, com a chegada de bandeirantes à região, em busca de ouro, prata e esmeraldas. Fundada em 14 de fevereiro de 1714, quando foi elevada à vila, com o nome de Vila Nova da Rainha, cresceu com a mineração do ouro, tendo sido elevada a distrito em 1724. Com a decadência do Ciclo do Ouro, voltou a ser vila em 1833, para ser elevada novamente a distrito, em 1840, mudando o nome de Vila Nova da Rainha, para Caeté. Em 1865, foi elevada à cidade emancipada. O nome Caeté tem origem na língua tupi, que significa “Mato Verdadeiro”. (fotografia acima de John Brandão- In Memoriam com Caeté ao fundo, e abaixo de de Sérgio Mourão, o centro de Caeté)
          O território de Caeté foi palco de importantes episódios da história de Minas Gerais, como a Guerra dos Emboabas, um confronto travado de 1707 a 1709, entre bandeirantes paulistas e portugueses. Emboabas era um apelido pejorativo que os paulistas deram aos portugueses. A disputa era pelo direito de exploração das minas de ouro, recém descobertas em Minas Gerais. (fotografia abaixo de Thelmo Lins)
          O município é formado pelos distritos de Antônio dos Santos
Morro Vermelho, Penedia e Roças Novas. Caeté conta com uma ótima estrutura urbana, com setor de prestação de serviços bons, um comércio variado, uma boa rede hoteleira e gastronômica. A economia da cidade gira em torno da agropecuária, da indústria extrativa, confecções, moveleira, alimentos, bebidas, dentre outros segmentos, além de suas reservas minerais.
          Outra atividade que movimenta a economia de Caeté é o turismo. A cidade histórica, guarda relíquias dos tempos do Ciclo do Ouro e do Império, em bom estado de conservação como o Museu Regional, a Casa João Pinheiro, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja de São Francisco, a Ponte do Funil, o Pelourinho do Poder, além de diversos casarões e construções do período colonial. Tem ainda as belezas naturais do município.
          Caeté possui um grande potencial para o ecoturismo, tendo inclusive, sido citada como um dos nove destinos ideais no Brasil para a prática de esportes radicais, pela Revista Veja. A cidade tem tradição na prática de arborismo e alpinismo, conta ainda com belas paisagens, como a Cachoeira de Santo Antônio, no distrito de Morro Vermelho, o Morro Serrote, a Serra do Gandarela, a Pedra Branca. (fotografia acima de Thelmo Lins)
          A cidade está ainda na Rota do Ferro, um antigo leito do ramal ferroviário da Estrada de Ferro Central do Brasil, que ligava Sabará, Barão de Cocais e Santa Bárbara, cruzando com a linha do trem da Ferrovia Vitória-Minas, em Caeté (na foto acima de Andréia Gomes). Hoje, a Rota do Ferro é uma trilha ecológica, muito usada por ciclistas. Pela trilha podem ser vistas belas paisagens, com cachoeiras, matas nativas, montanhas, cascatas, pontilhões e estações antigas.
          O grande destaque arquitetônico e um dos símbolos de Caeté, é a Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Trata-se de um dos mais belos exemplares da arte barroca e uma das precursoras do estilo rococó em Minas Gerais. (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
          Construída em alvenaria de pedra e não em estrutura de madeira e barro, como eram comuns naquela época, a igreja data da primeira metade do século XVIII, com atribuição do projeto a Antônio Gonçalves da Silva Bracarena. Há relatos de época, que diz que Bracarena não projetou a obra, apenas executou, sendo os riscos feitos por Manuel Francisco Lisboa.
          Pra quem não conhece, Manuel Francisco Lisboa, era um renomado arquiteto, carpinteiro, construtor e mestre-de-obras português. Chegou ao Brasil em 1724, vivendo em Ouro Preto, até sua morte, em 1767. Na cidade, deixou grandes obras como pontes e igrejas, como a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1727 e a Igreja do Carmo, construída em 1766, além de ter construído o Palácio dos Governadores e feito outras obras em Ouro Preto e outras cidades. Mas seus talento e obras foram ofuscadas 
pelo talento notável do filho, que teve com uma de suas escravas. Era o pai de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Manuel Francisco Lisboa é mais conhecido hoje como, “o pai do Aleijadinho”.       Voltando à Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso em Caeté, a igreja ostenta uma imponente fachada, pilastras em relevo de cantaria, com janelas e portada, emolduradas em pedra, torres em corte quadrado, com óculo ao centro e cruz no topo.
          O interior da Igreja simplesmente impressiona pela riqueza dos detalhes e talhas douradas bem trabalhadas. Cada detalhe e cada entalhe é uma história e uma arte que impacta. A Igreja de Caeté é mais que uma igreja, é uma obra de arte pura! (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
          São oito altares com sanefas e baldaquinos, atribuídas a José Coelho Noronha. O forro da nave tem pinturas em perspectivas, o coro e pia batismal, em madeira. O retábulo do altar-mor, apresenta colunas salomônicas, anjos e um resplendor, onde estão onde estão simbolizados Deus Pai e o Espírito Santo e conta com a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso. 
          O filho de Manuel Francisco Lisboa, o jovem Antônio Francisco Lisboa, estava iniciando nos primeiros passos na arte barroca, ensinada por seu pai. Aleijadinho, como mais tarde passou a ser conhecido, participou da ornamentação desta igreja como aprendiz, tendo esta obra influenciado na definição de seu estilo arquitetônico próprio, que fez dele o maior artista da arte barroca no Brasil e um dos artistas mais notáveis do mundo.
A Serra da Piedade
           Caeté é também um centro de peregrinação religiosa. Todos os anos, cerca de 500 mil romeiros, vindos de todo o Brasil, visitam a cidade. Isso porque é no município que está a Serra da Piedade e no topo da serra, a 1746 metros de altitude, está o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, construção iniciada em 1704 e concluída em 1770, contando com obra do Mestre Aleijadinho em seu altar. (foto acima do John Brandão/@fotografo_aventureiro) 
          A pequena ermida foi elevada a Basílica em 2017, pelo Papa Francisco, sendo até então, a menor basílica do mundo. Vale ressaltar que Nossa Senhora da Piedade é a Padroeira de Minas Gerais. (foto acima de Elpídio Justino de Andrade) Em 1974 foi construído um novo templo, atrás da Capela histórica. O novo templo foi projetado pelo arquiteto Alcides da Rocha Mineira, para receber os romeiros, chamada de Igreja Nova das Romarias.
          Antes da chegada do santuário, está o Observatório Astronômico Frei Rosário, da Universidade Federal de Minas Gerais. A estrada para o Santuário é muito bem conservada, segura e sinalizada. Além disso, o local conta com uma excelente estrutura para receber os romeiros como estacionamento, restaurante, cafeteria, lanchonete, loja onde se encontra diversos produtos religiosos, além dos famosos queijos maturados nas nuvens, dos frades que vivem no local e a Casa dos Peregrinos Dom Silvério, lugar para ideal para orações, meditações e seminários.
          Do alto da Serra da Piedade, o visual é deslumbrante, com vistas para várias cidades no entorno da Serra, como Belo Horizonte e o mar de serras, que impressiona pela beleza. (fotografia acima de John Brandão/@fotografo_aventureiro) Um lugar de paz, de sossego, de meditação, de contato com o eterno. O visitante, sente-se tocando no céu, se sentindo no coração de Deus.
          A Serra da Piedade é desde 16 de julho de 2004, Monumento Natural de Minas Gerais, através da Lei nº 15.178/2004, que definiu os limites de conservação da Serra, de acordo com a Constituição Mineira.

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