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quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Caminho da Luz: o caminho do Brasil

(Por Arnaldo Silva) Quando da chegada das caravelas de Cabral ao Brasil, acredita-se que existiam uma média de 3 a 8 milhões de índios em nossas terras, falando 1300 idiomas diferentes e divididos em 1400 tribos. 
          A presença indígena no Brasil se resume atualmente a cerca de 380 mil índios, distribuídos em 125 etnias e falando 180 línguas. Até o século XVI, o território mineiro era ocupado por cerca de 100 grupos indígenas e outras centenas de povos indígenas nômades. 
          Hoje, são apenas 13 etnias presentes no Estado, que são: Aranã, Catu-Awá-Arachás, Kaxixó, Kiriri, Krenak, Maxakali, Mucuriñ, Pankararu, Pataxó, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Puris, Tuxá, Xacriabá, Xukuru-Kariri. Os indígenas que ocupavam a região da Zona da Mata Mineira, eram os Carajás e os Botocudos, do tronco linguístico macro-jê. 
          Os indígenas que viviam nessa região, consideravam o topo do que é hoje o Pico da Bandeira (na foto: Abraluz/Divulgação), em Alto Caparaó MG, um lugar sagrado. Isso porque, no topo da montanha, habitava, segundo a crença primitiva dos índios, Ruda, o deus da criação. Para chegar até a montanha sagrada, abriram trilhas pelas matas, numa caminhada feita durante dias, por 195 km, parando em alguns lugares, para fazer rituais de purificação para estar em contato com a divindade, no topo da montanha sagrada. 
          O modo de vida e caça dos indígenas, existe há milhares de anos, bem como suas crenças e rituais. O mesmo caso podemos dizer sobre o caminho aberto pelos indígenas na Zona da Mata, com início na Cachoeira de Tombos, até o todo da montanha, que eles consideravam sagrada, o Pico da Bandeira.  (Abaixo a cidade de Tombos MG.Foto: Abraluz/Divulgação) 
          Não há como precisar quando foi aberto, e nem a frequência que com faziam a caminhada até a montanha, já que a presença indígena data em Minas Gerais de milhares de anos atrás, bem como os registros de rituais e modo de vida, deixados em pinturas rupestres encontradas em cavernas de Minas Gerais e do Brasil e em vários sítios arqueológicos em regiões mineiras, onde foram encontrados igaçabas, objetos de caça e utensílios usados pelos índios em seu dia a dia, mostrando um pouco de seus modos de vida e sobrevivência, bem como suas crenças, práticas e rituais. 
          Segundo estudos, os índios brasileiros são descendentes dos povos asiáticos, chegando ao nosso continente pelo estreito de Bering, há cerca de 62 mil anos. Já a presença indígena no Brasil, segundo estudos arqueológicos recentes, aponta que a chegada dos primeiros habitantes brasileiros, data entre 20 mil e 40 mil anos, com vestígios desses povos encontrados entre o litoral da Bahia e Piauí. Com o passar dos milênios, esses povos foram se expandindo para o todo o território brasileiro, sendo em Minas, sua presença estimada entre 12 a 20 mil anos atrás.
          Com a chegada das entradas e bandeiras, acompanhadas de religiosos, em busca de ouro no nosso território, chegaram também doenças, violência e morte para os povos indígenas, além da escravidão. Os que sobreviviam nas invasões dos brancos, era capturados e chamados de carijós, na tradução, escravos. Boa parte dos carijós eram convertidos ao cristianismo e ainda, misturavam-se com brancos e negros, ocorrendo assim a miscigenação, perdendo os carijós com isso, sua identidade, como povo.
          Já no século XVIII, a presença indígena no nosso território tinha sido praticamente contida, com os povos que restaram fugindo para lugares distantes da presença dos colonizadores e reconstruindo, do que restou, suas comunidades.

          O caminho aberto pelos índios passou a ser usado por tropeiros e aventureiros, que vinham do Rio de Janeiro com destino ao Espírito Santo, ou mesmo para as tropas adentrarem-se no sertão mineiro, até os vales do Rio Doce, Mucuri e Jequitinhonha, pegando caminho para a Bahia, a partir do século XVIII. Com o fim das tropas, chegada da estrada de ferro e por fim, abertura de estradas, esse caminho acabou não sendo mais usado.
          Com o objetivo de resgatar o passado dos povos primitivos brasileiros, os índios, bem como a história que envolve o caminho, a partir do século XVIII, no final da década de 1990, um grupo de abnegados, entre eles, Albino Neves, se dedicou a pesquisar e estudar o caminho feito pelos índios, bem como todo seu percurso, do início em Tombos, até Alto Caparaó MG. (foto acima: Abraluz/Divulgação, o mapa de todo o caminho) O objetivo era recuperar o caminho original feitos pelos índios e resgatar um pouco de nossa história. A partir de 2001, começou a ser todo restruturado, e adaptado para ser feito novamente, com exatidão, o mesmo caminho, com mais conforto e segurança para os caminhantes.
          Quando o caminho foi recuperado, percebeu-se que ao longo de toda a trilha, brotavam da terra, cristais e pedras de mica, minerais reluzentes, que brilhavam como a luz, emanando uma mágica energia direto da terra, se espalhando pelas matas e rios, revigorando as forças dos caminhantes. Por isso o nome Caminho da Luz. (foto acima: Abraluz/Divulgação, em Caiana) Além da mica e cristais, pelo caminho podem ser encontradas ainda outros tipos de pedras, como ágata, minério, ouro de tolo, feldspato, caulim, bauxita, dentre outros minerais 
          O Caminho da Luz é hoje um dos principais atrativos turísticos do Estado e Patrimônio Cultural de Minas Gerais, desde 2009, através da Lei Estadual nº 18.086/09. De Tombos até Alto Caparaó, o caminho é todo sinalizado com setas amarelas e placas (foto acima e abaixo: Abraluz/Divulgação)
          Assim, o antigo caminho feito pelos índios, voltou a ser feito por peregrinos, ambientalistas, cavaleiros, ciclistas ou mesmo, quem gosta de uma boa caminhada.
          São 195 km, com saída da Cachoeira de Tombos (na foto acima do Sérgio Mourão), passando pelos municípios de Catuné, Pedra Dourada, Faria Lemos, Carangola, Caiana, Espera Feliz, Caparaó, por fim, em Alto Caparaó, até o topo do Pico da Bandeira, o ponto mais alto de Minas Gerais, com 2792 metros de altitude. Durante o percurso, os caminhantes tem o privilégio de passar por cidades charmosas, santuários religiosos, matas nativas, cachoeiras e antigas estações de trem, além de poder conhecer um pouco da cultura, história e culinária de cada cidade.
          O antigo caminho feito antigamente pelos índios, é hoje uma tradicional rota peregrinação que atrai pessoas de Minas Gerais, do Brasil e do mundo. São pessoas que fazem o caminho por diversos motivos, como, religioso, para os que querem manifestar sua fé, visitando os santuários religiosos das cidades ao longo do percurso ou mesmo, para pagar alguma promessa, fazendo o Caminho da Luz, a pé. (foto acima e abaixo: Abraluz/Divulgação)
          E caminhando a pé, sempre estão os ambientalistas, que fazem o percurso com o objetivo de conhecer as paisagens, fauna, flora e belezas da região e os apaixonados pela riqueza de nossa história, presente na região, de forma significativa, que remonta à presença indígena e colonização portuguesa, Tem ainda os amantes de esportes como, ciclistas, que fazem o percurso de bicicleta, bem como os que preferem ir à cavalo, em grupos de cavalgada. Por ser um percurso longo, é aconselhável não fazer o Caminho da Luz sozinho, mas em grupos. 
          O Caminho da Luz é administrado pela Associação Brasileira dos amigos do Caminho da Luz – Abraluz, tendo como presidente, Albino Neves. Desde 2001, a entidade cuida do credenciamento, sinalização e outros detalhes, para que os caminhantes façam o trajeto com tranquilidade e segurança. A sua organização e estruturação, tem como inspiração, o “Caminho de São Tiago de Compostela”, na Espanha.
          O credenciamento é feito na cidade de Tombos, junto a Abraluz. Algumas agências de turismo, credenciadas pela entidade, oferecem pacotes fechados. A caminhada é feita todos os anos, organizada pela Abraluz e realizada sempre no terceiro domingo de julho, com inscrições feitas no Hotel Serpa, em Tombos. O caminho pode ser feito fora dessa época, por grupos de pessoas, orientados e credenciados pela Abraluz.
          Após a inscrição, o participante receberá uma credencial. É necessária, porque o caminhante terá que passar por propriedades particulares e a credencial, que seria um tipo de passaporte, permitirá que continue o percurso, ao apresentar a credencial nas propriedades particulares que exigirem. Em cada passagem, a credencial será carimbada.
          Para aproveitar melhor o Caminho da Luz, as belezas das paisagens ao longo de todo o percurso, das cidades, da culinária típica, do artesanato e da hospitalidade do povo da região, o ideal são 7 dias de caminhada, com tempo para almoço, café, jantar, pernoite e claro, aproveitar para conhecer melhor as cidades do Caminho da Luz. De bike e a cavalo o tempo do percurso é menor, mas o passeio mais emocionante é a pé, saindo logo de manhãzinha, após o café da manhã. A sugestão é dividir os 7 dias dessa forma:

1º Dia: No primeiro dia, bem cedinho, a concentração é na Cachoeira de Tombos (na foto acima - Abraluz/Divulgação). Com 62 metros de queda, é a maior da Zona da Mata e a quinta em volume de água no Brasil. A cachoeira impressiona pela beleza, bem como uma escultura, feita pelo escultor Afonso Barra, patrocinado por Albino Neves, em homenagem aos índios. A cidade de Tombos, distante 370 km da capital, conta hoje com cerca de 10 mil habitantes. É charmosa, singela, atraente, aconchegante, com construções charmosas, como a sua antiga Estação de Trem, hoje Museu Municipal, o secular Hotel Serpa, a Fazenda Oliveira, do século 19 e outros atrativos naturais e arquitetônicos. 
          De Tombos, o primeiro destino é Catuné, o maior distrito tombense, numa caminhada de 19 km por entre belíssimas paisagens naturais, que dá oportunidade de conhecer a fauna e flora da região, além de passar por fazendas de café e serras, que permitem uma vista privilegiada do entorno, bem como conhecer a Gruta da Pedra Santa, dedicada à Nossa Senhora de Lourdes (na foto acima: Abraluz/Divulgação). Um monumento, com imagem da santa abençoando uma peregrina está exposta na gruta. A obra foi esculpida por Afonso Barra, patrocinada pela Abraluz, através de seu presidente, Albino Neves. Deixando Cafuné, o destino seguinte será Pedra Dourada, numa caminhada de 22 km.
2º dia: Até Pedra Dourada, o trajeto é pura emoção e beleza, passando por paisagens nativas, montanhas, o Santuário da Água Santa e as águas minerais e curativas que jorram das pedras e refrescam a caminhada. Pedra Dourada é uma pacata e pitoresca cidade com cerca de 2500 habitantes. (foto acima de Brunno Estevão)
          A cidade é um charme, com destaque para a pedra que deu nome à cidade, a Pedra Dourada, que à luz do sol, fica na cor dourada, além da Pedra Redonda, (na foto acima do Brunno Estevão) No município, tem ainda belas cachoeiras, matas contínuas de Mata Atlântica, o famoso Parque São João e a Igreja de São José, única em estilo neogótico na região, tendo uma estátua de 2.30 metros em sua frente, com obra do escultor Afonso Barra patrocinada pela Abraluz e Albino Neves, em parceria com a Prefeitura Municipal. 
          Antes de partir para o próximo destino, que é Faria Lemos, vale a pena ir até o Sítio Pedra Dourada, na Comunidade das Favas, para uma parada na casa da dona Ercilene (na foto acima do Brunno Estevão), famosa quitandeira da região onde o visitante pode tomar um café com pão de queijo, rosca, broa, biscoitos, além de prosear bastante. Dona Ercilene e seu esposo são pessoas carismáticas, hospitaleiros, muito educados e ficam felizes com a presença dos peregrinos na comunidade. Em sua casa, todos fazem questão de experimentar uma das mais deliciosas iguarias da Zona da Mata, a pelinha de angu frita. Depois de sair da casa da dona Ercilene, é hora de rumar para Faria Lemos. São 25 km de caminhada. 
3º dia: No caminho para Faria Lemos está a belíssima Cachoeira do Varandão, ainda em Pedra Dourada (na foto acima:Abraluz/Divulgação), e na sequência da caminhada, já em Faria Lemos, tem a Cachoeira da Surpresa, linda, refrescante e ótima para a prática de rapel, além da Pedra do Lagarto. Nesse lugar, segundo a tradição oral, vivia isolado um velho e sábio pajé, que na cultura indígena, é aquele que tem contato com o mundo dos espíritos, tendo o dom da cura e domínio sobre as plantas medicinais. Vivia uma vida completamente ligada à natureza, recitando cânticos e louvores à mãe natureza. Um lugar místico, mágico e cheio de energias positivas.
          A cidade de Faria Lemos, hoje com menos de 4 mil habitantes, é uma cidade pacata e tranquila, popular na região por praticamente todos os seus habitantes terem um apelido. (na foto acima Abraluz/Divulgação, fazenda centenária em Caiana) Se destaca na agricultura, principalmente pecuária leiteira e por sua cachaça, como a produzida na centenária fazenda das Palmeiras.
          Tem ainda a beleza da Serra Azul, com seu pico a 1430 metros de Altitude e o rio Carangola e o ribeirão São Mateus, que banham o município.
          A Igreja Matriz de São Mateus, é outro destaque, única construída em estilo grego-românico na região. Em sua porta, um monumento em homenagem a São Mateus, à criança peregrina e ao afrodescendente, esculpido pelo escultor Afonso Barra, com patrocínio da Abraluz, através de seu presidente, Albino Neves. De Faria Lemos, o destino seguinte é Carangola, com 23 km de caminhada. (foto acima: Abraluz/Divulgação)
4º dia: O Caminho da Luz segue de Faria Lemos, passando pelo Córrego do Inhame, belas fazendas, pela Serra dos Cristais até chegar à Princesinha da Zona da Mata, Carangola (na foto acima de Terezinha Ognibene), uma cidade que guarda relíquias da presença indígena na região, como igaçabas, utensílios em cerâmicas, dentre outros objetos, encontrados em sítios arqueológicos do município. Uma das mais antigas cidades da Zona da Mata, Carangola tem suas origens no início do século XIX e conta com belíssima arquitetura urbana, guardando ainda traços arquitetônicos do período colonial, bem como da sua charmosa arquitetura eclética e neoclássica, tradicionais no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. 
          A cidade conta com cerca de 35 mil habitantes e é dotada de uma ótima estrutura urbana, belas praças, paisagens lindas, uma rica e típica culinária mineira, bem como fazendas centenárias e charmosas vilas coloniais, em sua zona rural (na foto acima da Terezinha Ognibene, a capela de São Manoel, na comunidade de mesmo nome).  Tem ainda Matriz de Carangola, dedicada a Santa Luzia. Na porta da Matriz, foi colocado um monumento de 2,30 metros de altura, feito pelo escultor Afonso Barra, com um fiel, cego, pedindo bênçãos à santa. A obra foi doada pela Abraluz. Partindo de Carangola, nosso próximo destino é Caiana, com 26 km de caminhada. (foto abaixo: Abraluz/Divulgação)
5º dia: Esse percurso é considerado o mais belo do Caminho da Luz, além de passar por trechos e construções da antiga Estrada de Ferro Leopoldina, tem no caminho, paisagens impressionantes. Dificilmente os caminhantes não param para contemplar as belas desse trecho. São nascentes, córregos, mata nativa, a mina de cristais, a fonte Santa Clara, passando por belos paredões rochosos das montanhas mineiras, com o privilégio de ver nesses paredões, plantas nativas como orquídeas, avencas, bromélias, samambaias, dentre outras. Sem contar que é um trecho de altitude, que permite vislumbrar as belezas das montanhas de Minas, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. 
          A cidade de Caiana (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade) é bem pacata e aconchegante, emana uma energia que brota da terra, onde concentram-se minério, mica, cristais e além de pedras semipreciosas. Tem cerca de 6 mil habitantes, que vivem numa cidade bem organizada, com um povo muito bom e acolhedor. A Abraluz se faz presente no município, tendo doado ao município, um monumento dedicado a São João Batista, padroeiro de Caiana. O monumento esculpido por Afonso Barra, homenageia o peregrino idoso e os Templários, protetores dos peregrinos da Terra Santa. De Caiana, o destino é Espera Feliz, apenas 7 km de caminhada.
          Espera Feliz (foto acima de Elpídio Justino de Andrade), que além de ter este romântico nome, é conhecida também como “Cidade das Flores” e “Terra Fria. Na caminhada até a cidade, tem pelo caminho rios e cachoeiras belíssimas, com águas limpas e cristalinas. Uma cidade famosa por produzir um dos melhores cafés do Brasil, além de ser charmosa, muito bem estruturada, com bares e restaurantes típicos, além de seu casario e arquitetura elegantes, como a antigas estações de trem na cidade e em Pedra Menina. 
          Tem ainda a Igreja de São Sebastião e o monumento ao cavaleiro peregrino, na porta da igreja, esculpido pelo escultor Afonso Barra, com patrocínio da Abraluz, através de seu presidente, Albino Neves. (na foto acima Abraluz/Divulgação, um riacho entre Faria Lemos e Carangola) A cidade é muito bem estruturada, com belíssimas paisagens e uma culinária que vai atrair a todos. Doces e quitandas da cidade, nem se fala, são deliciosos. Espera Feliz é um lugar muito gostoso para pernoitar. No dia seguinte, nosso destino é Caparaó, com 13 km de caminhada. 
6º dia: No seguinte, bem cedinho, o destino é Caparaó, uma cidade pequena, com cerca de 6 mil habitantes, mas muito bela, aconchegante, povo hospitaleiro e terra de café, reconhecido no mundo inteiro por sua qualidade. Pelo caminho até Caparaó, o caminhante passará por uma impactante montanha, numa pitoresca comunidade chamada de Pedra Menina. (na imagem, Caparaó. Abraluz/Divulgação)
          Outra comunidade no Caminho da Luz é Galileia, pertencente a Caparaó, lugar de parada dos índios antes da subida até o topo da montanha, onde está hoje o Pico da Bandeira. Paravam onde é atualmente, esta comunidade, aos pés das montanhas. Descansavam e se preparavam para um ritual de purificação, antes de estarem subirem até o pico, em contato com a divindade que acreditavam viver no topo da montanha sagrada.
           No alto do Pico da Bandeira (na foto acima: Abraluz/Divulgação), a sensação é de estar acima das nuvens, literalmente no céu, impressiona e emociona. Os índios faziam todo esse percurso, movidos pela fé e agradecimento, além de reverenciar e fazer suas orações, rezas e rituais, no lugar onde acreditavam viver a divindade da criação. 
7º dia: No sétimo dia, em Alto Caparaó, cidade considerada a porta de entrada para o Parque Nacional do Caparaó, em Minas Gerais, vale a pena conhecer um pouco mais dessa charmosa cidade. Alto Caparaó (na foto acima de Terezinha Ognibene) conta hoje com cerca de 6 mil habitantes, com seu povo formado no início do século XX, por imigrantes que chegaram ao Brasil no final do século XIX, vivendo em Nova Friburgo/RJ. Percebendo semelhança da região de Alto Caparaó com as paisagens europeias, alguns desses imigrantes deixaram Nova Friburgo, a partir de 1900 e fundaram um pequeno arraial, se juntando aos alemães, suíços, italianos e portugueses, além de mineiros e brasileiros de estados vizinhos, dando origem ao que é hoje, a cidade de Alto Caparaó.
          Na chegada à cidade, o caminhante recebe o último carimbo em sua credencial e o Certificado de Caminhante da Luz, concedido pela Abraluz. 

          Alto Caparaó é tão especial que estar na cidade já é um privilégio. Suas belezas naturais são impressionantes, como cachoeiras, matas nativas, poços paradisíacos, como os do Vale Encantado (na foto acima do Marcelo Santos), a parte mineira do Pico da Bandeira, com 2892 metros de altitude, onde está o topo, além de outro importante pico, com 2790 metros de altitude, o Pico do Cristal. (na foto abaixo do Sairo C. Guedes)
          A sugestão é aproveitar um pouco mais a cidade, conhecer seu povo, as igrejas de São Paulo Apóstolo e da Imaculada Conceição (na foto abaixo do Thelmo Lins), suas praças, bares, cafeterias, sítios e fazendas de café, seus produtos artesanais como cachaças, queijos, doces e cervejas, além de sua culinária e seu povo, que é muito acolhedor. 
A cidade é dotada de uma ótima rede hoteleira, com pousadas charmosas e aconchegantes, além da própria cidade ser uma das mais belas do circuito. Tranquila, pacata e de tradição cafeeira. No último concurso nacional de café, o café produzido no Sítio dos Tucanos ficou em 1º lugar, como o melhor café do Brasil. Os cafés especiais de Alto Caparaó são de altíssima qualidade e famosos no mundo. 
          Outro ponto interessante para se conhecer na cidade é o Marco do Triunfo (na foto acima: Abraluz/Divulgação), uma escultura toda em ferro, que fica em frente ao Restaurante Estância Gourmet, com detalhe na escultura do símbolo do Caminho da luz, o Caminho do Brasil.           
          Finalizando o Caminho da Luz, nosso destino final é subir os 2892 metros de altitude do Pico da Bandeira (foto acima do Thelmo Lins). O ideal é levantar de madrugada e subir até o topo do pico, a pé para aproveitar e assistir um dos maiores espetáculos naturais, o nascer do sol. 
          É tão belo que os índios consideravam o lugar sagrado. A impressão é de estar acima das nuvens, no céu, perto da divindade maior. Não tem quem não se impressione com a beleza e vista. A subida é de 18 km e durará em média, 2 horas. (foto acima de Marcelo Santos e abaixo de Sérgio Mourão)
          Assim encerramos nosso roteiro. Esse é o Caminho da Luz.
Agradecimento: Ao jornalista, escritor, idealizador do Caminho da Luz e Presidente da Associação Brasileira Caminho da Luz, Albino Neves, nosso agradecimento pelo apoio e gentileza por ceder pertencentes à entidade, que ilustram a matéria.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Mariana: a primaz de Minas

(Por Arnaldo Silva) 16 de julho de 1696 marca o surgimento de um núcleo colonial às margens do Ribeirão do Carmo, que deu origem à cidade de Mariana. Com a descoberta de abundantes minas de ouro na região, o pequeno arraial passou a se chamar Vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo. O ouro fez com que o pequeno arraial crescesse rapidamente, tendo sido elevado à Vila em 8 de abril de 1711, com o nome de Vila Real de Nossa Senhora e à cidade em 23 de abril de 1745, com o nome atual de Mariana, em homenagem à esposa do Rei Dom João V, dona Maria Ana de Áustria. 
          Para incentivar a produção de ouro na época, a Coroa Portuguesa criou uma espécie de incentivo aos povoados e vilas existentes. Quem arrecadasse mais ouro, seria elevado à vila e cidade. Por isso que a Vila Real de Nossa Senhora foi elevada à vila e cidade tão rápido, por ter sido a maior produtora de ouro na época. A riqueza retirada do subsolo de Mariana era tanta, que além de cidade, foi elevada à Capital da então Capitania das Minas Gerais. (fotografia acima de Nacip Gômez)
          Mariana foi a primeira Vila a ser reconhecida em Minas, confirmada por Carta Régia em 14/12/1712. Foi ainda a primeira cidade, a sede do primeiro bispado de Minas e a primeira capital de Minas Gerais até 1720, quando a capital foi transferida para Vila Rica, atual Ouro Preto que permaneceu como capital até 1897, quando a capital foi transferida em definitivo para a recém criada, Belo Horizonte.
Marina e a fundação de Minas
          1720 é uma data importante para Minas, porque foi nesse ano, que foi desmembrada a Capitania de São Paulo, isso porque, quando descobriram ouro em nosso território, os paulistas estenderam seus domínios territoriais, anexando Minas Gerais à Capitania de São Paulo, que passou a ser Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. (na foto acima do Vinícius Barnabé/@viniciusbarnabe, a Praça Minas Gerais)
          Foi com muita luta, coragem e a tradicional determinação do povo mineiro pela liberdade, sempre engajados na defesa de sua autonomia, de seu território e de seus tesouros naturais.
          Na época, Minas era o centro econômico do país, por suas riquezas minerais e solos férteis e atraia a cobiça das capitanias existentes. Todos queriam ser donos de Minas Gerais e os mineiros não aceitavam ter donos. 
          Antes de 1720, parte do nosso território pertencia também à Capitania do Rio de Janeiro. Os mineiros lutaram e nosso território se desmembrou da Capitania do Rio de Janeiro, estando ainda sobre o domínio da Capitania de São Paulo, finalmente, desmembrada em 1720, tendo os paulistas perdido todo o domínio sobre nosso território, que passou a ser autônomo a partir de então. 
          A luta por liberdade e independência está no sangue do povo mineiro, desde suas origens. A data oficial do desmembramento de Minas da Capitania de São Paulo, foi  em 2 de dezembro de 1720, data que marca a fundação de Minas Gerais, como capitania  independente e autônoma. 
A cidade de Mariana
          Mariana foi o principal ponto de partida para a formação da história de Minas Gerais. (fotografia acima de Wilson Paulo Braz) A partir de Mariana se expandiu a cultura, arquitetura, arte, tradição, a culinária, tendo sido um dos berços da formação social, política, cultural e arquitetônica de Minas Gerais. 
          A charmosa, atraente e elegante cidade setecentista mineira, Patrimônio de Minas Gerais, reconhecido pelo IEPHA e nacional, reconhecido pelo IPHAN, preserva sua história contada em mais de 3 séculos de existência. Uma história bem guardada, bem cuidada, presente em suas igrejas, museus, casarios, ruas, praças, minas e em seu subsolo, que ainda guarda riquezas naturais, como ouro, e hoje, em maior escala, o minério. 
A Mina da Passagem
          Um pouco da história da mineração do ouro em Mariana está presente na Mina da Passagem, hoje, desativada. É a maior mina de ouro aberta à visitação no mundo, sendo uma verdadeira relíquia de Mariana, onde o visitante passará pelos trilhos que levam às galerias da mina, a 120 metros de profundidade, além de encontrar vários poços de água (na foto acima do Silvio Tanaka), formado devido a excessiva exploração ao longo dos séculos, com escavações atingindo lençóis freáticos, bem como também, água da chuva que entra pelas galerias. 
          Nessa mina, foram retiradas 35 toneladas de ouro, desde o início do século XVIII, até ser desativada, no final do século XX. Hoje sua riqueza é o turismo e uma rica história, dos primórdios da mineração. 
Estrutura urbana e economia
          Mariana (na foto acima da Elvira Nascimento) está a 110 km de Belo Horizonte, tem cerca de 65 mil habitantes, tendo como vizinhos os municípios de Ouro Preto, Catas Altas, Santa Bárbara, Alvinópolis, Acaiaca, Diogo Vasconcelos e Piranga. 
          É uma cidade de grande destaque na economia de Minas Gerais, tendo um dos maiores PIB´s do Estado, contando com um variado comércio, com um setor de serviços eficiente e muito bom, além da agricultura e pecuária. 
          Dois grandes segmentos em Mariana, são responsáveis por seu desenvolvimento, por gerar riquezas e empregos. É o turismo e a mineração, principalmente na extração do minério. Pra se ter ideia da riqueza mineral de Mariana, a cidade é uma dais maiores arrecadadoras de royalties pela extração do minério no Brasil, além de estar na região do Quadrilátero Ferrífero de Minas, região responsável por 60% de toda a produção do minério nacional. 
          Cidade com uma excelente estrutura urbana para receber visitantes e turistas, com uma excelente rede hoteleira e gastronômica, sendo uma das principais cidades históricas do Brasil, com milhares de turistas que visitam a cidade todos os anos. (foto acima do Fabinho Augusto) 
Cenário de novela
          Sua beleza e harmonia arquitetônica impressiona, tanto é que já foi cenário de novela Global, como, Espelho da Vida, de Elizabeth Jhin, ambientada em seu Centro Histórico. Construções imponentes, riquíssimas em detalhes e ornamentações, bem como as obras dos Mestres Aleijadinho e Ataíde, presentes na cidade, que faz de Mariana uma cidade incrível e única.
Arquitetura, praças e igrejas
          Sua arquitetura chama a atenção, bem como suas praças, como a Praça do Coreto, onde o visitante pode conhecer a riqueza do artesanato local, além da rica culinária marianense, tipicamente mineira, encontrada nos restaurantes no entorno da praça e na cidade em geral. Tem ainda a Praça Gomes Freire, que é uma das mais bem cuidadas e belas de Minas, bem como a Praça Minas Gerais, um dos mais belos e perfeitos conjuntos arquitetônicos da arte colonial brasileira. 

          Na Praça Minas Gerais (fotografia acima de Wilson Paulo Braz) está a Casa da Câmara e Cadeia, datado de 1782, construído para abrigar a Câmara de Vereadores e a Cadeia, tendo ainda uma senzala. Hoje funciona ainda a Câmara de Vereadores, mas a cadeia e senzala, hoje são museus. Em frente ao imponente prédio, tem as igrejas de São Francisco, datada de 1763, com obra do arquiteto e escultor, Antônio Francisco Lisboa, o Mestre Aleijadinho e pintura e ornamentação em estilo Rococó, por Manoel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde, o maior pintor da arte colonial brasileira. É nessa igreja que o Mestre Ataíde foi sepultado e onde estão atualmente seus restos mortais. 
          Ao lado da Igreja de São Francisco de Assis, está a Igreja Nossa Senhora do Carmo, datada de 1784, com decoração interior atribuída ao mestre português, Francisco Xavier Carneiro, sendo esta igreja considerada um dos mais belos templos do Rococó mineiro. E no meio da praça, o Pelourinho (na foto acima da Elvira Nascimento), construído em 1872, com 5 metros de altura, tendo ainda o brasão do império e os símbolos da justiça.
          Além da Praça Minas Gerais, a Catedral Basílica de Nossa Senhora da Assunção, conhecida como Catedral da Sé (na foto acima do Fabinho Augusto), é visita obrigatória. Sua construção teve início em 1711 e concluída em 1760, é um dos mais importantes templos setecentistas de Minas Gerais. Além de seus belíssimos entalhes no estilo nacional português e joanino, com pinturas do Mestre Ataíde, tem em seu interior um impressionante órgão Arp Schnitger do século XVIII, doado por Dom João V, em visita à cidade.
           Outra Igreja interessante a ser visitada em Mariana é a de São Pedro dos Clérigos (na foto acima do Fabinho Augusto), um imponente templo, com obra iniciada em 1753, e projeto atribuído a Antônio Pereira de Souza Calheiros, o mesmo que projetou a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Ouro Preto MG. 
          A igreja foi construída pela Irmandade de São Pedro dos Clérigos, com arquitetura seguindo o estilo das irmandades de São Pedro no mundo, inspirada na rotunda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, com torres quadradas, teto côncavo e fundos em módulo retangular. (fotografia acima de Elvira Nascimento)
          Em seu interior, uma estátua de São Pedro, muito bem trabalhada, ornamenta o altar, além de uma singela ornamentação em madeira e detalhes dourados em seus entalhes internos. É uma igreja em estilo barroco, raro no Brasil e uma das mais visitadas em Mariana, por estar no topo de uma colina, onde, de seu adro, tem-se uma privilegiada vista da cidade, bem como na parte baixa, podendo ser vista em sua beleza imponência. 
Museus e Estação Ferroviária
          Três Museus merecem ser visitados em Mariana. Um é o Museu da Música e também o Museu Casa Alphonsus de Guimarães, dedicado a vida e obra do famoso escritor e poeta, Afonso Henrique da Costa Guimarães (Ouro Preto, 24 de julho de 1870 – Mariana, 15 de julho de 1921). Tem ainda o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, que reúne obras do Mestre Aleijadinho e Ataíde e ainda vários objetos em prata e outro, além de esculturas, vestimentas religiosas dos séculos 18 e 19 e outras peças interessantes. 
          Imagina só você voltar ao tempo e embarcar numa estação do início do século XX, em estilo eclético e neoclássico, (na foto acima do Arnaldo Silva) num charmoso trem até Ouro Preto, passando por belíssimas paisagens, num nostálgico passeio de 50 minutos. Um sonho que existe, é real, saindo nos fins de semana e feriados de Mariana, até Ouro Preto, na parte da manhã, com retorno na parte da tarde, o que dá oportunidade aos turistas, que saem de Mariana, conhecer um pouquinho de Ouro Preto, já que sua estação fica próximo ao Centro Histórico da cidade, Patrimônio Cultural da Humanidade. (na foto abaixo, de Ane Souz, a Estação de Trem de Ouro Preto)
          Mariana é uma cidade muito bem estruturada para receber os turistas, com ótima rede hoteleira, bons restaurantes, muitas opções de entretenimento, cultura e compras, já que a cidade possui um variado comércio, com várias lojas e principalmente ateliês, com artesanato local, oferecendo obras bem trabalhadas como oratórios, pinturas, esculturas sacras, móveis, etc., além do charme de sua noite, com charmosos bares e aconchegantes e pitorescos restaurantes, em casarões coloniais, dando a sensação de volta ao tempo. (na foto abaixo do Elpídio Justino de Andrade, o tradicional Colégio Providência, primeira escola de Minas Gerais criado para receber meninas órfãs)
          Conheça Mariana. A primogênita de Minas com certeza te conquistará, porque é uma cidade fascinante, imponente e apaixonante!

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Conheça Pedra Dourada

(Por Arnaldo Silva) Pedra Dourada tem sua origem nas primeiras décadas do século XX, com a construção de uma igreja dedicada a São João, em terras doadas por José de Souza Lima. Em torno da igreja, começou a surgir um pequeno povoado, logo chamado de São João do Soca, tendo o nome mudado para Vila de São José da Pedra Dourada em 1939 e por fim, a cidade emancipada em 30 de dezembro de 1962, com o nome de Pedra Dourada.
          O município está a 374 km de Belo Horizonte, na Zona da Mata, conta com 2532 habitantes, segundo o IBGE, em 2020. Seus vivem do comércio, pequenas indústrias, extração vegetal, pesca, prestação de serviços e principalmente da agricultura, destacando o cultivo de café, a caprinocultura, a pecuária leiteira e de corte. Tem como vizinhos, os municípios de Tombos, Vieiras, Carangola, Faria Lemos, São Francisco do Glória e Eugenópolis. Faz parte ainda do Caminho da Luz, peregrinação religiosa e ecológica, que se inicia em Tombos, num percurso a pé ou de bike, por 7 dias, até Alto Caparaó, culminando no Pico da Bandeira.(foto acima do Cristiano Ribas Moreira)
          A cidade é pitoresca, charmosa, atraente, aconchegante, pacata com praças, ruas e um casario muito bem cuidado. Seu povo é muito gentil, hospitaleiro, simples, com hábitos típicos das cidades do interior de Minas. (fotografia acima de Cristiano Ribas Moreira)
          O nome pedra dourada é por causa dessa gigantesca pedra, a 1200 metros de altitude, que fica dourada quando banhada pelos raios do sol, provocando um impressionante reflexo dourado na pedra, como podem ver na foto acima do Brunno Estevão/@brunno_7. 
          Essa pedra, juntamente com a Pedra Redonda (na foto acima do Brunno Estevão/@brunno_7), são uns dos principais atrativos da cidade, muito visitada por amantes de trilhas, caminhadas, rapel e voo livre. 
          Tem ainda como atração cachoeiras, fazendas centenárias, como a Fazenda Tupinambás e o Rancho Califórnia.
          Na área urbana, sua belíssima Matriz, dedicada a São José, padroeiro da cidade, construída em estilo neogótico e do belíssimo parque São João, com 1600 metros de área construída, uma completa área para a prática de esportes, lazer, cultura e diversão, não só da cidade, mas que atraia gente de toda a região para passar horas agradáveis num das mais belos lugares da Zona da Mata. (na foto acima do Brunno Estevão/@brunno_7)

domingo, 16 de agosto de 2020

Conheça Perdões: a cidade da amizade

(Por Arnaldo Silva) Com cerca de 22 mil habitantes, localizada no km 677 da BR-381, estando numa posição intermediária entre as regiões do Campo das Vertentes e Sul de Minas, está a cidade de Perdões. Cidade charmosa, histórica do século XVIII, com um rico e belo casario colonial preservado, fazendas centenárias, bem como igrejas no estilo barroco mineiro e entalhes interiores em estilo rococó. Pelo carisma, hospitalidade e amizade que seu povo demonstra ter entre si e da forma amiga que recebe os visitantes, é conhecida na região como a “Cidade da Amizade”. (na foto abaixo do Rogério Salgado, a Praça da Matriz do Senhor Bom Jesus dos Perdões)
          Distante 211 km de Belo Horizonte, o município faz divisa com Ribeirão Vermelho, Lavras, Ijaci, Bom Sucesso, Santo Antônio do Amparo, Santana do Jacaré, Cana Verde e Nepomuceno. A economia do município gira em torno de um comércio variado, da prestação de serviços, de pequenas e médias indústrias, da agricultura e pecuária, de corte e leiteira, do artesanato e do turismo. (na foto abaixo de Rogério Salgado, detalhes da arquitetura barroca de Perdões)
História e origem
          A história de Perdões começa a partir de meados do século XVIII, com a chegada à região de Romão Fagundes do Amaral, um ambicioso minerador, que logo ao chegar, já montou um garimpo para extração de ouro às margens do Rio Grande. Como o metal atraia muita gente, nas proximidades desse garimpo, começou a se formar um povoado, que se desenvolveu bastante. Além do minerador, se instalou na região Rubens Airão, formando uma fazenda e se dedicando à agricultura e pecuária. 
          Tanto Romão Fagundes, quando Rubens Airão, eram influentes, ricos, com posses de grandes áreas de terras e de grande número de escravos, sendo importantes para formação do arraial e desenvolvimento da região. Homens de fé, por volta de 1770, mandaram construir uma singela ermida do Senhor Bom Jesus, em estilo jesuítico, com benção e provisão canônica dado pelo bispado de Mariana, a sede paroquial na época. 
A Capela de Nosso Senhora do Rosário
          Construída com muito trabalho e suor, pelos escravos de ambos os senhores, a capela foi dedicada à Nossa Senhora do Rosário, santa Católica muito amada e venerada pelos escravos. (na foto abaixo do Rogério Salgado, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário)
          Em torno da singela capela, desenvolveu um povoado que cresceu sobre o nome de Arraial de Bom Jesus, depois foi acrescentado Perdões, sendo chamado então de Arraial do Senhor Bom Jesus dos Perdões, tendo sido elevado a freguesia e vila em 1885, com o nome reduzido a Perdões e por fim, à cidade emancipada em 1º de junho de 1912.
O nome perdões
          
O acréscimo da palavra Perdões ao nome Senhor Bom Jesus, tem com origem Romão Fagundes do Amaral. Segundo consta, o minerador vivia às margens da Lei, formando garimpos e extraindo ouro e se enriquecendo, sem se importar muito com as leis da Coroa Portuguesa, principalmente na questão dos impostos, sendo por isso perseguido pela justiça que representava a Coroa Portuguesa na Colônia. Por isso vivia pouco tempo em determinados lugares, sempre buscando outras regiões para garimpar quando sentia a presença da fiscalização portuguesa.
          Cansado da vida de fugitivo que levava, Romão Fagundes resolveu mudar. Pediu perdão à Cora Portuguesa, à época sobre a regência de Dona Maria I, oferecendo-lhe um cachinho de bananas de ouro puro, caso o perdão fosse concedido e prometendo ainda, mandar trazer de Portugal a imagem do Senhor Bom Jesus. (na foto abaixo do Rogério Salgado, detalhe da arquitetura barroca de Perdões e acima, à direita, a Igreja do Rosário)
          Romão Fagundes do Amaral foi perdoado, recebeu a patente de Alferes, que na época, era oficial da guarda da Colônia, abaixo do tenente. De acordo com a hierarquia militar, um alferes seria hoje um segundo-tenente. Cumpriu todas as promessas que havia feito, caso tivesse o perdão. Passou exercer suas atividades de forma legal, cumprindo com suas obrigações para com a Coroa Portuguesa. Mandou trazer a imagem do Senhor Bom Jesus de Portugal, como prometera, colocando-a na capela que ele próprio, juntamente com o fazendeiro Rubens Airão, tinham mandado erguer. Com o tempo, a palavra perdões foi acrescentando ao nome da capela, ficando Capela do Senhor Bom Jesus dos Perdões, bem como ao nome do povoado. 
A Capela do Senhor Bom Jesus
          A capela do Senhor Bom Jesus foi dedicada à Nossa Senhora do Rosário, assim é chamada até hoje. Em 1870, foi erguida a atual Matriz do Senhor Bom Jesus dos Perdões, em estilo Barroco, com decoração no estilo Rococó, mas cuja obra não tem autoria identificada. Reformas feitas no século XX, descaracterizaram a arquitetura e ornamentação da igreja. Percebendo isso, em 1992, o padre da Matriz na época, Miguel Ângelo Freitas Ribeiro, decidiu resgatar a história e origem arquitetônica original da igreja. (na foto acima do Rogério Salgado, a parte frontal da Matriz e abaixo os fundos da igreja)
            Padre Miguel Ângelo, pesquisou a fundo a origem, arquitetura e todo o estilo da igreja original e assim conseguiu trazer de volta, as características originais dos altares, imagens, retábulos, mesas, colocando os balaústres em seus lugares originais, recuperando os entalhes da arte Rococó na sua ornamentação. Em seu altar-mor, está a imagem do Senhor Bom Jesus dos Perdões. Assim, está a igreja hoje, restaurada e preservada, conforme suas características originais.
Atrativos turísticos de Perdões
          Além da Matriz, construções se destacam na cidade, sendo atrativos turísticos e culturais como:
- A Matriz está numa praça, rodeada por belíssimos casarões, muito bem preservados, dos séculos XVIII e XIX, além de um charmoso coreto em estilo eclético do século XX, na mais charmosa e atraente praça da cidade, a Praça Dr. Zoroastro Alvarenga. (fotografia acima e abaixo  do Rogério Salgado) 
- No entorno da Matriz do Senhor Bom Jesus dos Perdões encontra-se o prédio da antiga sede da Prefeitura, hoje Biblioteca Municipal Francisca Andrade Pereira. 
- O prédio do antigo Fórum e Cadeia, datado de 1918, tendo sua arquitetura influências do estilo neoclássico, colonial e detalhes da arquitetura Grega e Romana, em sua fachada. Hoje é o Museu Municipal Joaquim de Bastos Bandeira. 
- A Escola Municipal Otaviano Alvarenga, construído em 1910 em estilo neoclássico e o 1º Piso e Estação de Rádio VerSul FM- 2º Piso) 
- A Casa Paroquial, foi construída em 1927, para servir de moradia e hospedagens dos padres, em estilo eclético, com detalhes arquitetônicos em estilo barroco, renascentista e grego. 
- O Monumento em homenagem aos ex-combatentes da Segunda Grande Guerra Mundial, construído em 1960, em homenagem aos valorosos pracinhas perdoenses, que lutaram na Segunda Grande Guerra Mundial, defendendo nosso país. 
- O prédio que abriga a Santa Casa de Perdões (na foto acima do Rogério Salgado) é outro atrativo da cidade. Fundada em 1921, sua arquitetura é em estilo neoclássico.
- A Praça do Rosário foi construída oficialmente em 1944, onde foi construído em 1898, o chafariz e a primeira caixa d´água do município, quando a água canalizada chegou à Perdões. 

          Além do charme da cidade, seu casario colonial dos séculos XVIII e XIX, suas construções neoclássicas e ecléticas do século XX, belas igrejas, praças, monumentos, um comércio variado e atraentes, charmosas pousadas e hotéis, restaurantes aconchegantes e fazendas centenárias (com uma delas, na foto acima do Rogério Salgado) outro destaque de Perdões é o Rio Grande e a Represa do Funil, entre Perdões e Lavras (na foto abaixo do Rogério Salgado), um dos maiores atrativos naturais do município.
          São lugares muito procurados pelos perdoenses e visitantes, para pesca, além de ter em suas margens, áreas de lazer que propiciam descanso e prática de atividades esportivas como passeios de barco ou de lanchas, jet ski e outras diversões aquáticas.

sábado, 15 de agosto de 2020

O diamante Estrela do Sul, seus arredores e Dona Beja

(Por Arnaldo Silva) Estrela do Sul é uma das mais belas cidades históricas de Minas Gerais. Vivem atualmente na cidade 6.840 pessoas, segundo Censo do IBGE em 2022. Está a 520 km de Belo Horizonte, no Triângulo Mineiro. (foto abaixo de Djacira Antunes)
          Sua origem começa no século XVIII, por volta de 1722, com a descoberta de diamantes às margens do Rio Bagagem, pelo bandeirante João Leite da Silva Ortiz, o mesmo que fundou o Arraial de Curral Del Rei, que deu origem a capital, Belo Horizonte. Naquela época, as pedras cobiçadas eram o ouro e esmeraldas. 
          O brilho dos diamantes não seduzia os bandeirantes, mesmo assim, o lugar começou a ser povoado, atraindo senhores de escravos que passaram a trabalhar na extração de diamantes. Aos poucos, foi surgindo um pequeno arraial, chamado de Diamantino da Bagagem, se desenvolvendo devagar, até julho de 1853, quando foi encontrado, por uma escrava de nome Rosa, na mineração de Casimiro de Morais, um enorme diamante, com 128,48 quilates, recebendo inicialmente o nome de casimira, em alusão ao nome do minerador. Até hoje é um dos maiores e mais valiosos diamantes encontrados no mundo.
          A descoberta desse diamante mudou a realidade do lugar. Naquela época, o ouro já estava em escassez e os diamantes passaram a ter um valor impressionante, principalmente na Europa e Índia. (na foto da Djacira Antunes, monumento em homenagem ao garimpeiro e abaixo, também de Djacira Antunes, monumento ao marco de mudança de nome de Bagagem para Estrela do Sul)
          Com a descoberta desse diamante, em 1853, logo o arraial foi elevado a distrito em 1854 e por fim, cidade em 1861, tendo o nome mudado de Bagagem para Estrela do Sul, em referência ao nome dado ao diamante, em 1911.
          A descoberta desse diamante, projetou o Brasil em nível internacional na época, pela preciosidade e raridade da pedra preciosa, de alto valor comercial. Na época, o diamante foi vendido a H. Lelphen por 3 mil libras esterlinas, que a guardou no Banco do Rio de Janeiro, registrando o diamante no valor 30 mil dólares. Posteriormente o comprador levou a pedra para Paris. Pelo seu brilho e beleza, semelhante ao de uma estrela e por ter sido encontrado na América do Sul, deu o nome ao diamante de Estrela do Sul. 
          A pedra preciosa foi exposta ao público pela primeira vez em 1862 no Great Londo Exposition, e em 1867 na International Exposition de Paris, atraindo a atenção do mundo pela preciosidade e beleza do diamante, tendo sido adquirida pelo príncipe indiano Mallhār Rāo, da família real de Gaekwad por 80 mil libras esterlinas, ficando em posse dessa família até ser adquirido por Rustomjee Jamsetjee de Mumbai, na Índia, que o vendeu em 2002 para a Casa Cartier, em Paris.
A descoberta desse diamante, atraiu muita gente entre aventureiros. até gente da elite da época para a região, entre elas, grandes fazendeiros, senhores de escravos e Ana Jacinta de São José, nascida 02/01/1800 em Formiga, falecida em 08/10/1873, em Estrela do Sul, a famosa e influente cortesã do século XIX, Dona Beja, mulher inteligente, empreendedora e de grande habilidade, principalmente em ganhar dinheiro. Vislumbrando riqueza, deixou Araxá, aos 53 anos de idade, para viver em Estrela do Sul. Na cidade fixou residência, cuidou de sua filha e trabalhava na extração de diamantes. Morreu aos 73 anos. Na foto, Dona Beja, já idosa em foto feita de uma foto exposta no Museu Dona Beja em Araxá.
          A corrida do ouro tem histórias de romantismo, ambição, riqueza, também suor, lágrimas e doenças, causadas pelas rudimentares técnicas de extração mineral e do uso de metais pesados, usados na limpeza das pedras. A extração era feita por garimpeiros e em sua maioria, por escravos, trabalhando numa média de 14 horas por dia, em intenso e pesado trabalho. Os diamantes brotavam da terra e a fama da cidade se espalhou, atraindo cada vez mais gente para o lugar. Em pouco tempo, o pequeno arraial ganhou ares de cidade grande, na época, chegando a ter 30, 40 a 50 mil moradores. (foto acima e abaixo de Djacira Antunes)
          Como nada dura para sempre, veio o tempo da escassez dos diamantes, a abolição da escravidão, o que fez com que boa parte dos seus moradores, deixassem a cidade, em busca de outras oportunidades, em outras regiões. (foto abaixo de Djacira Antunes)
          Daquele tempo, ficou a rica história da “Cidade dos diamantes”, contada no livro “O Garimpeiro”, ambientado na Vila de Bagagem, com descrições fiéis e reais da realidade na época, de Bernardo Guimarães, escritor mineiro nascido em Ouro Preto, autor de vários clássicos de nossa literatura, como “A Escrava Isaura”.
          Embora muito de seus casarões colonial tenham se perdido ao longo do século XX, ficando apenas em fotografias, alguns casarões e igrejas do século XVII e XIX, foram preservados, fazendo hoje parte da história viva da cidade. São casarões imponentes e igrejas em estilo barroco como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e outras construções no estilo neoclássicas e eclético, que fazem da cidade, um dos diamantes históricos valiosos de Minas Gerais. (foto abaixo de Djacira Antunes)
          Deste passado, restaram alguns suntuosos e belíssimos casarões, documentos, a nova história que Dona Beja construiu na cidade, diferente da que fez em Araxá, onde era cortesã, sendo em Estrela do Sul, mãe, religiosa e mineradora. Infelizmente, o imponente casarão que Beja construiu, não existe mais, e alguma outras relíquias histórias, o tempo e a natureza cuidou de destruir, como a ponte sobre o Rio Bagagem, que Beja mandou fazer, levada por uma enchente nos anos 1980. 
           Na cidade existe ainda um museu, que guarda relíquias do passado de Estrela do Sul, além de vários documentos de grande relevância histórica e ainda, duas fotografias de Dona Beja, já idosa. (foto acima e abaixo de Djacira Antunes)
          A cidade hoje cuida do que restou de sua história, com zelo, sendo uma cidade atraente, bem cuidada, aconchegante, com belas e charmosas praças. O povo estrela-sulense é muito simpático, hospitaleiro, gentil, e gosta muito de uma boa prosa, hoje, valorizando suas tradições, cultura e arquitetura. É uma cidade de grande potencial turístico e vem se desenvolvendo nesse sentido, buscando melhorias em sua rede hoteleira, gastronômica e na sua infraestrutura urbana e rural, fazendo da cidade, ainda mais atrativa para receber turistas e amantes da história Colonial de Minas Gerais.
          Na cidade e na sua zona rural, o visitante tem várias opções de turismo, além da beleza e charme de seu casario, como fazendas centenárias, rios, ribeirões com cachoeiras e cascatas, além do Memorial Dona Beja e do Garimpeiro. 
          Na zona rural, paisagens interessantes chamam a atenção como duas pedras de granitos sobrepostas naturalmente, que lembram a boca de uma baleia, obviamente chamada de Boca da Baleia. Do alto da Boca da Baleia, um mirante proporciona uma sensacional vista do entorno. Tem também o Morro da Bagaginha, onde tem uma singela ermida, dedicada à Imaculada Conceição. (foto acima e abaixo de Djacira Antunes)
          Outro grande atrativo do município, é o Morro Velho, onde se encontra interessantes formações rochosas de arenito e ainda. Tem ainda o Monte Carmelo, o ponto mais alto do município, na zona rural de Estrela do Sul, destacando ainda no topo do pico, uma singela ermida em estilo colonial, dedicada a São José. 
          No entorno de Estrela do Sul (na foto acima de Thelmo Lins), tem outras charmosas e belas cidades, já que o município faz divisa com Monte Carmelo, cidade fundada em 1882, contando hoje com cerca de 50 mil habitantes, distante 34 km de Estrela do Sul, via MG-190 e MG-223. Outra cidade na divisa, é a pacata e charmosa cidade de Grupiara, com cerca de 1500 habitantes, apenas, distante 35 km de Estrela do Sul, com acesso pela Rodovia LMG 742.
          Faz divisa também com Araguari, (na foto acima do Thelmo Lins, a antiga Estação Ferroviária de Araguari, hoje sede da Prefeitura), uma das mais desenvolvidas e melhores cidades de Minas Gerais para se viver, fundada em 1888, contando hoje com cerca de 120 mil moradores, distante 70 km de Estrela do Sul, com acesso à cidade pela MG-223, 70 km.
          Tem ainda a pitoresca, aconchegante e atraente cidade de Cascalho Rico, com sua charmosa arquitetura colonial e em estilo neorromânico, (na foto acima de Thelmo Lins, uma singela praça e detalhes de um casarão em estilo colonial, tradicional na cidade). Cascalho Rico fica a 42 km de distância de Estrela do Sul, com acesso pela LMG-223.
          Por fim, tem ainda na divisa Indianópolis, bela cidade com cerca de 7 mil moradores, distante 90 km de Estrela do Sul, com acesso pela BR 361. A cidade é grande produtora de café e famosa por suas belas paisagens, em especial, impressionantes cachoeiras, (como a da foto acima, do Eudes Cerrado) a Cachoeira de Furnas.
          Conhecer Estrela do Sul (na foto acima de Thelmo Lins) é conhecer a história da riqueza do auge da exploração de diamantes e vivenciar o estilo de vida, cultura, tradições e arquitetura dos séculos XVIII, XIX e início do século XX.

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