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quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Descobrindo os encantos da Serra da Mantiqueira

(Por Arnaldo Silva) Um mar de montanhas, Mata Atlântica, cachoeiras paradisíacas, geadas e frio intenso, cidades charmosas e atraentes como a da foto acima do Nelson Pacheco, Monte Verde MG, a 1550 metros de altitude, em dia de geada, fazendas de azeite extra virgens, vinícolas, plantações de morangos, extensas plantações de café e queijarias, como na foto abaixo foto do Jerez Costa, a Queijaria do premiadíssimo Queijo D´Alagoa, em Alagoa.
          Assim é a Mantiqueira, entre Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, com cerca de 500 km de extensão, estando 60% dessa extensão em território mineiro.
          Quando se fala em Sul de Minas, em especial, sobre a Serra da Mantiqueira, vem à mente o frio, principalmente em Maria da Fé (na foto acima do William Siqueira) e as charmosas estâncias hidrominerais de Poços de Caldas, Pocinhos do Rio Verde, Caxambu, São Lourenço e outras tantas.
          Engana-se quem pensa que o Sul de Minas tem apenas estâncias hidrominerais e frio intenso. Região de terras férteis, conta com fazendas de morangos, azeites, café, uvas, lavandas, dentre outras culturas, além de muita história, tradição mineira, religiosidade e belezas naturais de impressionar. (na foto acima do @estudioquinqs, Fazenda de Lavandas em São Bento Abade MG)
          São várias opções de passeios, seja individual, em casal, grupos de amigos ou mesmo em família, com roteiros diversos que incluem visitas às fazendas centenárias de café como por exemplo em Andradas, (na foto acima do Guilherme Augusto), Três Pontas, Cristina e Carmo de Minas, onde o passeio sempre termina com um delicioso café colonial mineiro. 
          Para os enamorados, a romântica opção por nossas montanhas para conhecer os vinhedos, vinícolas e chocolaterias de Bueno Brandão, (como na foto acima, da Vinícola Fidêncio, em Bueno Brandão/MG), onde se produz, além de vinho de uva, vinhos de amora e jabuticaba, além de licores, cachaça e whisky mineiro. O visitante tem ainda a oportunidade de participar da pisa da uva, na época da colheita. Outra opção ótima para conhecer vinícolas é na terra do vinho, Andradas, com seis vinícolas ativas na cidade, de origem italiana, destacando a Casa Geraldo. 
          Outro roteiro interessante pela região são as belas fazendas de azeite extra virgem de Maria da Fé, Aiuruoca, (como na foto acima, enviada pelo Marlon Arantes, dos olivais da Fazenda Ólibi), Poços de Caldas, Delfim Moreira, Cristina e Andradas, por exemplo, cidades que se destacam na produção de azeites finos, de alta qualidade, premiados internacionalmente. 
          Tem ainda as plantações de morangos na região. Pra quem não sabe, Minas Gerais produz 65% de todo o morango consumido no Brasil, destacando as cidades de Estiva, Espírito Santo do Pinhal, Bom Repouso, Carvalhos, (na foto acima, colheita de morangos no Sítio Cedro Vermelho), dentre outras cidades produtoras.
          Quem gosta de gastronomia, belas paisagens, pousadas aconchegantes, cidades que mais lembram as pequenas vilas da Europa, um bom roteiro é por Itamonte, Marmelópolis, Gonçalves, Monte Verde, Bocaina de Minas, Sapucaí-Mirim, Pouso Alto, São Bento Abade, dentre outras tantas, charmosas, pacatas e pitorescas cidades. (na foto acima de Ricardo Cozzo, restaurante em Monte Verde MG)
          A Serra da Mantiqueira é uma região com riquezas de impressionar, tanto naturais, (na foto acima uma fazenda em Maria da Fé MG), na foto do Rinaldo Almeida, quanto arquitetônicas e gastronômicas, que aguçam os sentidos e emoções, fazendo dos passeios, doces e inesquecíveis momentos. 
          As belezas naturais e atrativos gastronômicos da Serra da Mantiqueira, cada vez mais atraem turistas para a região mineira, onde suas pequenas, charmosas e atraentes cidades, como Monte Verde, em dia de inverno, (na foto acima enviada pela Mônica Milev), são convites para descanso, férias, passeios e principalmente, saborear a rica e variada culinária típica mineira.
          Quem gosta de aventuras, corredeiras, voos livres, sobrevoos de balão, trilhas, cachoeiras, bóia-cross, canoagem tirolesa, escaladas e trilhas de moto, jipe, bike, como pelas estradas de Luminosa, (na foto acima do Leonardo Souza), distrito de Brasópolis, de cavalo ou a pé, encontrou o lugar certo. 
          As montanhas da Mantiqueira são um espetáculo à parte. Descer as famosas corredeiras de Extrema (na foto acima de Sérgio Mourão), escalar o Pico da Pedra da Mina, a 2797 metros de altitude em Passa Quatro ou o Pico do Sino de Itatiaia, em Itamonte com 2.670 metros de altitude. Se está muito alto, pode escalar o Pico do Papagaio em Aiuruoca, que tem 2.100 metros de altitude. Até chegar às alturas, poderá contemplar rios, cachoeiras, cascatas, poços, trilhas em meio a Mata Atlântica. Imagina sobrevoar São Lourenço em balão? A vista é de extasiar, como pode ver (na foto abaixo da Gislene Ras). Isso é um privilégio e um prazer e tanto. 
          A Serra da Mantiqueira mineira, com suas belezas, aconchego, vinhos, azeites, queijos, doces, belezas naturais impressionantes e clima europeu, chegando a 4 graus negativos em média, no inverno, a 27º positivos no verão, clima ameno e suave. Um verdadeiro paraíso, um convite ao sossego e descanso numa das mais belas regiões, não só de Minas, do Brasil.

domingo, 2 de agosto de 2020

Uma viagem pelos encantos de Minas

(Por Arnaldo Silva) Quem vem à Minas, tem como “porta de entrada” milhares de cachoeiras, lagos, rios e montanhas que formam paisagens de extasiar, daquelas que te fazem parar e simplesmente admirar, como esta paisagem acima, da Capela de N. S. Aparecida, próximo ao distrito de Saudade, de Mar de Espanha MG, Zona da Mata, (de autoria do Marley Mello)
          Em Minas Gerais, temos as charmosas cidades históricas, como Ouro Preto, Mariana, Congonhas, Catas Altas, Diamantina, Serro, Grão Mogol e outras tantas, além pequenas e pitorescas cidades, como Serra da Saudade, Alagoa, Tocos do Moji, além de lugares que lembram a arquitetura e paisagens europeias, como, Jacutinga, (na foto do André Daniel) e a bela e charmosa Vila Europeia de Monte Verde, (na foto abaixo do Anthony Cardoso).
           E ainda as acolhedoras pequenas cidades de Passa Quatro, Soledade de Minas, Sapucaí-Mirim, a cidade da fé, Leandro Ferreira e outras nem tanto pequenas, cidades grandes, com ótima infraestrutura, como por exemplo Divinópolis, Uberlândia, Juiz de Fora, Uberaba, Teófilo Otoni, Montes Claros, Belo Horizonte, Ipatinga, dentre tantas outras.
          Quem busca aventuras radicais ou simplesmente pedalar pelos 400 km de trilhas da cidade de Carvalhos no Sul de Minas e tomar banho nas belíssimas cachoeiras mineiras como a Cachoeira da Fumaça em Nova Ponte, preferida pelos amantes de esportes radicais, as belíssimas cachoeiras de Delfinópolis, o Paraíso Perdido em São João Batista do Glória, bem como as impressionantes cachoeiras da Serra do Cipó, como esta, a Véu da Noiva, (na foto do Vinícius Barnabé). Tem ainda a Cachoeira do Sumidouro em Felício dos Santos, dos Garcias em Aiuruoca, a Cachoeira do Crioulo em São José do Rio Preto, a Cachoeira da Bicame e do Cânion das Bandeirinhas em Jaboticatubas, da Farofa e da Taioba, na Serra do Cipó, a Cachoeira as Irmãs em Araguari, dentre outras milhares.
          Além de pedras e picos, ótimos para a prática de voo livre, como o Ibituruna em Governador Valadares, a Pedra do Elefante em Andradas, do Pedrão em Pedralva, Serra da Bocaina em Lavras, Serra da Moeda, o Pico do Itacolomi em Ouro Preto, o Pico da Bandeira em Alto Caparaó, (na foto acima do Sairo Guedes), em dia de temperatura negativa. Além disso, pode aproveitar e fazer sobrevoos de balão sobre Tiradentes, Delfinópolis e São Lourenço.
          Andar pelas montanhas de Minas é se impressionar, ainda mais passando pela Serra de Carrancas, pela Serra do Espinhaço, a Serra da Saudade, a Serra do Cipó ou mesmo, pelas estradas rurais mineiras, com suas fazendas centenárias e paisagens impressionantes, de fazer a pessoa parar, sair do carro, sentar e contemplar, como esta imagem Maria da Fé, no Sul de Minas ou mesmo o emocionante visual dos campos floridos de girassóis, lavandas, rosas e lírios, como (na foto abaixo do Ernani Calazans), em Itinga MG, Vale do Jequitinhonha.
          A beleza do Lago de Furnas, tornou as aconchegantes cidades de Capitólio, Santo Hilário, distrito de Pimenta, Boa Esperança, Guapé, Fama, e outras tantas, mais encantadoras ainda. 
          Temos ainda o Lago de Três Marias (na foto acima do J. Camilo, o lago em São José do Buriti, distrito de Felixlândia MG), na Região Central, como a pacata e bela Morada Nova de Minas, banhada pelas águas do Rio São Francisco e Represa de Três Marias e as belezas de São João Batista do Glória como o Paraíso Perdido e a Lagoa da Pedreira, hoje um dos lugares mais visitados na região. (na foto abaixo do @percio_passeios4x4)
          Temos ainda as charmosas estâncias hidrominerais, como Araxá, Caxambu, São Lourenço, Poços de Caldas, além de pitorescas cidades históricas, como Santana dos Montes, Barão de Cocais, Pedra Azul, Estrela do Sul no Triângulo Mineiro, (na foto abaixo de Djacira Antunes), dentre outras mais, espalhadas por todas as regiões de Minas Gerais.
          Rios são atrativos naturais imperdíveis em Minas Gerais que formam belas praias fluviais em suas margens, muito procuradas por banhistas e turistas, além de suas belezas e importâncias como o Rio das Velhas, Rio São Francisco, Rio Doce e Rio Grande, (na foto abaixo de Luís Leite), entre Passos e São João Batista do Glória MG, no Sudoeste de Minas.
          Além dos rios, grutas e cavernas com pinturas rupestres são atrativos especiais para quem gosta de descer às profundezas da terra, conhecendo um pouco da nossa história paleontológica como as grutas da Lapinha em Lagoa Santa (na foto abaixo de Arnaldo Silva), Rei do Mato em Sete Lagoas, Maquiné em Cordisburgo, Cavernas do Peruaçu em Januária,.
          Além das grutas, tem as belezas naturais que afloram da terra, formando belíssimas paisagens com maciços rochosos impressionantes, em destaque nas regiões do Vale do Mucuri, Rio Doce e Jequitinhonha, como podem ver (na foto da Márcia Porto em Santa Maria do Salto), no Vale do Jequitinhonha.
          Em Minas, visitar as pacatas e charmosas vilas é um passeio maravilhoso. São pequenos vilarejos que mais lembram presépios como, São Bartolomeu, Glaura e Lavras Novas, distritos de Ouro Preto, Lapinha da Serra, distrito de Santana do Riacho, Córregos, distrito de Conceição do Mato Dentro, São José do Buriti, distrito de Felixlândia, Monte Verde, distrito de Camanducaia, Santo Hilário, distrito de Pimenta, Penha de França, distrito de Itamarandiba, São José das Três Ilhas, distrito de Belmiro Braga, Lavras Novas, distrito de Ouro Preto, Martins Guimarães, distrito de Lagoa da Prata com seu casario colonial charmoso, bem cuidado e colorido, lembrando a cidade italiana de Murano, (na foto abaixo do Arnaldo Silva), entre outras tantas vilas e povoados encantadores por toda Minas. 
          Além dos destinos citados acima, Minas tem encantos especiais como a Serra da Canastra, em São Roque de Minas, com a beleza da nascente do Rio São Francisco e sua primeira e maior queda, a Cachoeira da Cascadanta.  
          A região é destaque no mundo inteiro pelo seu famoso queijo, reinando absoluto como um dos melhores e mais premiados queijos do mundo, com seus produtores trazendo, recentemente, 17 medalhas no 4º concurso mundial de queijos “Mondial du Fromage et des Produits Laitiers”, na França, em 2019. Um desses queijos é o da foto acima, feito pelo Roberto Soares da Queijaria Rancho 4R em São Roque de Minas.
          Ainda na Serra da Canastra temos a Cachoeira do Zé Carlinhos, em Delfinópolis, (na foto acima do Wallace Melo), um verdadeiro convite ao sossego. Tem ainda a Cachoeira da Maria Augusta, na charmosa e acolhedora São João Batista do Glória, a Cachoeira do Fundão e a Cachoeira da Parida, destaques da Canastra. Para conhecer esses lugares na Serra da Canastra e seus municípios, recomenda-se de veículo 4x4 e acompanhado por guias, disponíveis nas cidades da região, principalmente em Delfinópolis, São Roque e São João Batista do Glória.
          Outro atrativo natural e imperdível em Minas Gerais é a Cachoeira do Tabuleiro, na cidade histórica de Conceição do Mato Dentro, na Serra do Espinhaço. É a maior cachoeira de Minas, com 273 metros de queda livre e a terceira maior do Brasil. Suas águas despencam de um enorme e impressionante paredão, visto de longe, como (na foto acima de Elvira Nascimento). A cachoeira é tão impactante que foi eleita uma das sete maravilhas da Estrada Real.
          Carrancas é um passeio imperdível. O município é completo. Pacato, charmoso, aconchegante, com origens que remonta o século XVIII, culinária típica, charmoso casario, belezas naturais de tirar o fôlego, digno de cenário de filmes e novelas. O que de fato é. Carrancas é um dos cenários naturais no Brasil mais utilizados pela Rede Globo na produção de suas novelas. É uma beleza atrás da outras, com vários complexos com cachoeiras, quedas d´água, trilhas e matas nativas de Cerrado e Mata Atlântica como por exemplo, o Complexo da Zilda, (na foto acima do
@viniciusbarnabé)
. Tem ainda os complexos do Tira Prosa, da Vargem Grande, da Ponte Alta, da Fumaça, dentre outros.
          Em todos esses lugares citados, o que não vai faltar é a tradicional comida mineira. Seja no mais rústico restaurante, aos mais finos, bem como nossa tradicional cachaça, licores, queijos, doces e quitandas diversas, seja no melhor hipermercado ou nas simples vendas espalhadas por Minas, como a Venda da Dona Inês em Chapada do Norte, Vale do Jequitinhonha, (na foto acima da Viih Soares Fotografia).
          Em todas as 853 cidades mineiras, o turista encontrará lugares charmosos, atraentes, pitorescos com arquitetura singular e em muitos, sentirá que o tempo parou no lugar, como em São Tomé das Letras, no Sul de Minas, (na foto acima da Vânia Pereira). São tradições, construções, antigas vendas, hábitos de reunião em família e amigos nas praças, após a missa.
          Andar pelas ruas calmas das cidades, conhecer rústicos e também sofisticados restaurantes com comidas típicas, com todo requinte e romantismo, (como na foto acima do Sérgio Mourão).
           Além disso, tem as quitandas, o artesanato, as festas folclóricas, bem como lagos, rios, praias fluviais e cachoeiras, picos, serras, montanhas, opções para prática de esportes radicais. (na foto acima do Rhomário Magalhães, o Rio São Francisco em Pirapora, Norte de Minas)
          Além de belas praças, charmosas pousadas e hotéis fazendas, queijarias, docerias, igrejas majestosas como a Basílica de Lourdes em Belo Horizonte, (na foto acima da Andréia Gomes), arquiteturas coloniais, ecléticas e contemporâneas, além de povo bom, hospitaleiro, acolhedor, que te receberá de braços abertos.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Penha de França: a joia colonial mineira

(Por Arnaldo Silva) Dos distritos e povoados de Itamarandiba, uma das cidades emergentes de Minas Gerais, na região do Vale do Jequitinhonha, Penha de França se destaca por sua história e importância para a região e Minas Gerais. Sua origem data de 1653, mas não foi por bandeirantes, como era comum naquela época.
          Quem povoou a região, onde está hoje Penha de França, foram alemães e franceses. Na região, fixaram residência, formando um pequeno arraial, trabalhando na agricultura e claro, não vieram de tão longe para plantar batatas, milho ou mandioca. (na foto acima de Sérgio Mourão, a Praça da Matriz de Penha de França) 
          Vieram para explorar ouro e pedras preciosas, recém descobertas no Brasil. Esse foi o motivo maior da presença desses dois povos na região.  A presença de outros povos no início da colonização do Brasil era comum, quando foi anunciada a descoberta do ouro nas terras brasileiras, despertando o interesse de grupos e nações pelo nosso ouro.
          Vieram para o Brasil, com o objetivo de formarem colônias ou mesmo tomar o Brasil, ou parte dele, de Portugal, como tentaram os holandeses. A reação foi imediata e vitoriosa, tendo os portugueses expulsado os holandeses, alemães, franceses e outros que tentavam ocupar as minas de ouro e diamantes recém descobertas, principalmente em Minas Gerais.
          Nem todos que foram expulsos, saíram do Brasil, mas fugiram, adentrando em nosso sertão. Vindos do Rio de Janeiro, franceses e alemães se instalaram no Sul de Minas. Na cidade de Carvalhos, no Sul de Minas, tem um povoado de nome Franceses, formado quando da fuga dos franceses do Rio de Janeiro. Na região, logo deram um jeito de procurar minas de ouro e pedras preciosas. Os que estavam na Bahia e região, fugiram pelo sertão, atravessando as divisas de Minas, se instalando na região, fundando o arraial de Penha de França.
          Ainda no século XVIII, a ação da Coroa Portuguesa passou a ser mais enérgica contra invasores, até que os portugueses dominaram por completo a exploração mineral em Minas Gerais, impedindo de todas as formas e ações possíveis, a mineração de grupos ou pessoas não autorizadas pelas Coroa na mineração. Assim foi a origem de Penha de França, com influência alemã, francesa, por fim, portuguesa, esta última, em maior proporção, com a saída dos alemães e franceses. A pequena vila foi elevada a freguesia e a distrito em 24 de setembro de 1862, guardando até os dias de hoje, relíquias arquitetônicas de sua história nos tempos do Brasil Colônia.
          Penha de França tem orgulho em ter sido local de pouso por dois meses, de um ilustre visitante. O visitante era Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Segundo tradição oral, em sua estadia na Vila, o Mártir da Inconfidência namorou Sinhá Raimunda, formosa escrava que encantou o Alferes. 

          Penha de França é a joia de nossa história. A joia colonial mineira. (foto acima de Sérgio Mourão)
          Mesmo a influência dos alemães, franceses e portugueses em sua formação, principalmente religiosa, a origem do nome Penha de França é espanhola. Penha de França é uma montanha, que fica na província de Salamanca, na Espanha.
          A história começa em 19 de maio de 1434, quando um francês muito religioso, chamado Simão, sonhou que uma imagem da Mãe de Jesus teria sido enterrada numa montanha, durante o conflito entre mouros e cristãos, na Idade Média. Para proteger as artes sacras da ação destruidora dos mouros, católicos enterravam as imagens em locais para que os mouros nãos as localizassem.
          Em seu sonho, a imagem acenava para que a procurasse e assim o fez, peregrinando por cerca de 5 anos, até conseguir identificar a montanha do seu sonho, em Salamanca, província da Espanha. Já no fim de sua peregrinação em busca da imagem, Simão para descansar, ouviu uma advertência divina que dizia “Simão, vela e não durma!”. Assim passou a se chamar Simão Vela.
          Na região em que estava, existia muitas penhas, que são grandes afloramentos rochosos isolados, nas encostas das serras. Escalando uma dessas penhas, encontrou uma mulher com o filho no colo que indicou o lugar que deveria procurar para chegar a seu objetivo. Com a apoio de alguns pastores da região, Simão Vela conseguiu localizar, numa penha, chamada de Penha de França, por ter sido refúgio de franceses durante a guerra entre mouros e cristãos, a imagem de Nossa Senhora, exatamente como era em seu sonho.
          Por encontrar a imagem de Nossa Senhora, numa penha, já com o nome de Penha de França, passou a chamar então a Mãe de Jesus de Nossa Senhora da Penha de França, colocando a imagem numa rústica capela, que construiu no local que a encontrou.
          O lugar passou a ser procurado pelos milagres relatados, havendo necessidade de ampliar a pequena ermida. Assim foi erguido um novo templo, no topo da serra da penha, hoje Santuário de Nossa Senhora da Penha de França, no município de El Cabaco, na província de Salamanca, na Espanha, com a data de 8 de setembro, dedicada à Nossa Senhora da Penha de França.
          Com o passar do tempo, a fé e os milagres atribuídos a Nossa Senhora da Penha de França se expandiu para o mundo, surgindo igrejas e santuários dedicados a Nossa Senhora da Penha de França, passando com o tempo a ser somente Nossa Senhora da Penha, na maioria dos lugares onde a santa é venerada pelos fiéis.
          Agora, voltando para Minas, o distrito passou a ter esse nome por uma semelhança com o caso acima. Segundo a tradição oral, Nossa Senhora apareceu duas vezes no local. (na foto acima de Sérgio Mourão, imagens de Nossa Senhora em uma das penhas e abaixo, pinturas rupestres milenares em grutas do distrito de Penha de França)
          Quando da chegada dos alemães e franceses, vieram com eles alguns escravos. Em 18 de setembro de 1653, quando começava o povoamento do arraial, um dos escravos que servia a um dos franceses, viu um enorme foco de luz, saindo de um tronco de árvore, que havia sido derrubado para ser usado na construção das casas do vilarejo.
          Curioso, o escravo se aproximou e viu na luz a imagem de Nossa Senhora. Assustado, correu e foi contar ao seu senhor o ocorrido, que duvidou por completo da história, agindo como São Tomé, foi lá ver para crer, já alertando a seu escravo que se fosse mentira, iria manda-lo para o tronco. 
          Já no local, o que havia era apenas o tronco, que não tinha sido queimado, como o escravo relatara, o que fez que o francês mandasse amarrar o escravo para chicoteá-lo. Foi ai que do tronco surgiu um forte clarão de fogo, aparecendo Nossa Senhora, mas apenas o escravo pôde vê-la, os outros nada viram, apenas o forte clarão de fogo vindo do tronco. 
          A incredulidade do francês, bem como os outros imigrantes da recém formada comunidade, foi substituída pela fé. Relembraram da devoção à Nossa Senhora da Penha de França, na Europa e resolveram edificar uma igreja, colocando no altar a imagem de Nossa Senhora da Penha de França, com o trono da santa sobre o tronco da árvore. Em torno da Igreja de Nossa Senhora da Penha de França o povoado se desenvolveu, passando a se chamar Penha de França. Com o crescimento do arraial e a presença constante de fiéis, a antiga ermida deu lugar a outro templo, maior, mais espaçoso, com características coloniais em sua fachada, ornamentação interna em estilo eclético e neorromânico, como podem ver na foto acima e abaixo, do Sérgio Mourão, o atual altar.
          251 anos após essa aparição, em 1º de outubro de 1904, Nossa Senhora apareceu novamente na localidade, tendo sido vista por duas meninas negras, Rosalina e Guida, filhas de Dona Feliciana. Sabendo da história, o arcebispo da região na época, foi até onde as meninas presenciaram a aparição da santa, celebrou uma missa e mandou tirar fotos do altar da Igreja. Quando os filmes foram revelados, se surpreenderam ao verem nas fotos, duas imagens no altar, uma ao lado da outra, mas só tinha uma no altar. O fato foi visto com um milagre, tendo a notícia se espalhado pela região, atraindo atenção de fiéis para a localidade, começando assim romarias e peregrinação até a Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, em Penha de França.
          Em torno da fé Penha de França se desenvolvia, tanto na agricultura, na mineração, quanto em seu pequeno comércio, já que a presença de fiéis movimentava a economia do distrito. (na foto acima de Sérgio Mourão, a calma e tranquila vida em Penha de França) 
          Além da religiosidade, tradição e sua arquitetura, paisagens naturais chamam a atenção em Penha de França como o sítio arqueológico da Lapa Santa (na foto acima de Sérgio Mourão), com pinturas rupestres com figuras de pessoas e animais, além de ter sido encontrado ossadas com cerca de 4 mil anos, segundo informações de paleontólogos. (foto abaixo do Sérgio Mourão, detalhe do casario colonial em Penha de França)
          Essa é Penha de França, sua origem marcada pela fé, arquitetura, tradição, história, reunidas num pitoresco, tranquilo, charmoso e atraente lugar, com um povo simples, trabalhador e muito hospitaleiro. Um convite especial, para a data celebra do dia de Nossa Senhora da Penha de França, 8 de setembro, quando a comunidade se prepara para a festa, que atrai fiéis de toda a região.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Carlos Euler: joia ferroviária de Minas

(Por Arnaldo Silva) Carlos Euller é um charmoso e pitoresco distrito de Passa Vinte MG, Sul de Minas Gerais, distante apenas 13 km da sede. No distrito, cortado por linha férrea, vivem cerca de 300 pessoas com sua economia voltada para a agricultura, pecuária e produção artesanal de queijos, doces e quitadas. (foto acima e abaixo de Rildo Silveira)
         O local onde está o distrito hoje, era ponto de pousada de tropeiros antigamente. Durante os encontros das tropas, a alegria contagiava os tropeiros, tendo o lugar do pouso ficado famoso e chamado então de Pouso Alegre.  Com a chegada da linha férrea na região, no final no início do século XX, a realidade mudou. (foto acima e abaixo de Rildo Silveira)
          A linha de trem passava pelo local de pouso dos tropeiros e com isso foi chegando mais gente, novas casas começaram a ser construídas para abrigar os funcionários da ferrovia. Um desses que chegaram à região foi o engenheiro alemão Carlos Oiler, diretor da Estrada de Ferro Oeste de Minas entre 1913/14, responsável pela implantação da ferrovia na região, da estação, da construção do casario e até de uma pequena capela no distrito. Como a pronúncia do nome era meio difícil para o povo da época, seu sobrenome foi aportuguesado para Carlos Euler.  
          Antes da chegada do engenheiro alemão, viviam algumas famílias em arraial de Pouso Alegre, entre eles o casal de origem italiana, Fortunato Nardelli e sua esposa Corinna. Com a chegada da ferrovia, o casal percebeu que cada dia mais chegavam pessoas de outras localidades para trabalharem na construção da ferrovia e das casas para os funcionários. Decidiram então montar um comércio para atender os moradores da vila e bem como os novos que chegavam. Em 1910, montaram a "Casa Comercial Nardelli" (na foto acima do Rildo Silveira), vendendo de tudo um pouco, principalmente artigos de primeira necessidade como sal, querosene, lamparinas, carnes, arroz, feijão, café, etc. (na foto abaixo de Alexandra Dias, parte do casario de Carlos Euler)
          O nome Pouso Alegre era nome popular, mas quando da inauguração da estação em 15 de junho de 1914, passou a se chamar Carlos Euler, em homenagem ao engenheiro alemão, que foi de grande importância para o desenvolvimento da região. A linha servia para escoamento de carga, bem como transporte de passageiros, tendo sido desativada para passageiros em 1995, funcionando apenas para trens de carga. 
          Hoje, Carlos Euler é um dos patrimônios representativos de nossa história ferroviária e de Passa Vinte (na foto acima de Rildo Silveira). A estação e seu casario, seguiu o estilo arquitetônico das construções ferroviárias do início do século XX, sendo de grande valor cultural e histórico, bem como marcou a identidade dos moradores da localidade. A vila hoje é uma das maiores relíquias ferroviárias de Minas Gerais. 
Cachoeira
          Além de seu histórico e charmoso casario, Carlos Euler se destaca por ter uma das mais belas cachoeiras da região, chamada por todos de Cachoeira Carlos Euler (na foto acima de Rildo Silveira), distante apenas 5 minutos da sede do distrito. Chegando ao distrito, são cerca de 800 metros de trilhas que pode ser percorrida a pé ou de bike. Vista de longe, encanta pela beleza das suas águas e paisagens deslumbrantes em seu redor. De perto, impressiona por sua imponência. Depois de uma boa pedalada ou caminhada, refrescar em suas águas limpas e cristalinas.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Caminhos do Rio Urucuia em Minas

(Por Gilberto Valadares) O rio Urucuia nasce em Goiás, mais especificamente na região do Raizama, no município de Formosa, próximo ao córrego e ao distrito de Bezerra, na divisa da fronteira com Buritis, que é o primeiro município mineiro a receber as águas desse majestoso rio.
          Ainda que discreto, o rio Urucuia passa a receber as águas de outros córregos nos chapadões goianos, como por exemplo do rio Bonito, próximo ao Poço Azul. Entre lavouras, plantações e áreas de preservação ambiental o rio sobressai e aos poucos se mostra maior. (fotografia acima de Livia Alves)          
          O escritor Oscar Reis Durães descreve a povoação indígena nas Ilhas das Guaíbas, ilha do rio São Francisco próximo a Foz do rio Urucuia. Segundo o escritor, duas tribos que habitavam a região dos rios Urucuia e Paracatu seriam descendentes dos caiapós, índios que desceram do Maranhão passando por Tocantins e que teriam dado o nome a este rio.
Às margens do Rio Urucuia, Iolanda Marques, Neuza Fróes e Marlene Valadares. Anos 70
          Em uma conquista de terras após matarem e expulsarem os índios da Ilha das Guaíbas na foz do rio Urucuia no início do século 18, os sertanistas paulistas, Januário Cardoso, Manoel Francisco Toledo, Domingos Prado de Oliveira e Salvador Cardoso de Oliveira, estenderam domínio sobre toda a vasta região e se tornaram os senhores do Urucuia.
          O tráfego de aventureiros na busca por ouro em Paracatu e Goiás fez a região do Urucuia se desenvolver. Após as primeiras picadas brutas a facão e machado, feitas por sertanistas que cruzavam terras mineiras do extremo de São Romão, subiam pela nascente do Urucuia até os imensos chapadões do Arraial de Couros, hoje Formosa em Goiás. Pouco a pouco novos povoados foram surgindo ás margens desse rio e as primeiras famílias foram se fixando, em meio as dificuldades do grosseiro e inabitado cerrado da época.

Tropeiros cruzando o Rio Urucuia na década de 1970. Arquivo Gil Valadares
          Em registros históricos somos transportados ao ano de 1778, quando uma cartografia confirma o roteiro do bandeirante Lourenço Castanho Táquis, que abrangia o Urucuia, o Rio Preto e a Lagoa Feia. Tal bandeirante percorreu o estreito da chapada de Guarapuava e Buritis.
          A partir desse momento, os movimentos comerciais surgem com o transporte fluvial trazendo sal e outros tipos de mercadoria que vinham do litoral de Juazeiro e Petrolina através do rio São Francisco. O transporte fluvial adentrava Minas Gerais em São Romão e Pirapora, onde atingiu por algumas décadas o rio Urucuia.
          O Urucuia foi navegável até a barra do Rio Claro, onde por um determinado tempo se desenvolveu um garimpo de diamante, hoje no município de Arinos. Foi nessa época que surgiu o povoado de Morrinhos, localizado próximo ao Ribeirão das Areias e que muito prosperou no final do século 18.

Barqueada Ecológica 2019 em Buritis MG. Foto: Marcilei Farias
          O grandioso Aquífero do Urucuia completa nosso texto, dando a importância totalizada das riquezas dessas águas para o Brasil. Localizado no extremo sul do Piauí, passando pelo Maranhão, Goiás, Bahia e Tocantins, alcançando o norte e nordeste de Minas Gerais, o Aquífero do Urucuia está em uma área de aproximadamente 80 mil quilômetros de extensão e tem uma função reguladora dos afluentes da margem esquerda do rio São Francisco.

          Em Buritis, o rio Urucuia (na foto acima de Livia Alves) recebe as águas do córrego Taquaril, do ribeirão São Vicente, córrego Extrema, rio São Domingos, Barriguda e Piratinga. Em Arinos ele aumenta seu volume e recebe as águas do rio Claro, o rio São Miguel também deságua no Urucuia, além dos ribeirões da Ilha, da Areia e Confins. O rio de águas vermelhas e batizado pelos caiapós também dá nome ao município de Urucuia, onde recebe as águas do córrego Taboca e Gameleira. (na foto abaixo do Gilberto Valadares, o Rio Urucuia ao chegar em Buritis/MG, na fazenda Sobrado)
          Imortalizado nos versos de João Guimarães Rosa, o rio de amor desse saudoso escritor brasileiro, deságua no São Francisco, depois de receber as águas dos ribeirões da Conceição, das Pedras e do riacho Campo Grande, dando fim a um caminho percorrido somente pelos mais corajosos e destemidos do sertão, tal como este rio.
Texto de autoria de Gilberto Valadares - enviado pelo mesmo, junto com as fotos que ilustram o artigo.
Fontes: Livro Raízes e Cultura de Buritis no Sertão Urucuiano de Oscar Reis, Serviço Geológico do Brasil, Site: aguassubetrranes.abas.org e google earth

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