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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Carlos Euler: joia ferroviária de Minas

(Por Arnaldo Silva) Carlos Euller é um charmoso e pitoresco distrito de Passa Vinte MG, Sul de Minas Gerais, distante apenas 13 km da sede. No distrito, cortado por linha férrea, vivem cerca de 300 pessoas com sua economia voltada para a agricultura, pecuária e produção artesanal de queijos, doces e quitadas. (foto acima e abaixo de Rildo Silveira)
         O local onde está o distrito hoje, era ponto de pousada de tropeiros antigamente. Durante os encontros das tropas, a alegria contagiava os tropeiros, tendo o lugar do pouso ficado famoso e chamado então de Pouso Alegre.  Com a chegada da linha férrea na região, no final no início do século XX, a realidade mudou. (foto acima e abaixo de Rildo Silveira)
          A linha de trem passava pelo local de pouso dos tropeiros e com isso foi chegando mais gente, novas casas começaram a ser construídas para abrigar os funcionários da ferrovia. Um desses que chegaram à região foi o engenheiro alemão Carlos Oiler, diretor da Estrada de Ferro Oeste de Minas entre 1913/14, responsável pela implantação da ferrovia na região, da estação, da construção do casario e até de uma pequena capela no distrito. Como a pronúncia do nome era meio difícil para o povo da época, seu sobrenome foi aportuguesado para Carlos Euler.  
          Antes da chegada do engenheiro alemão, viviam algumas famílias em arraial de Pouso Alegre, entre eles o casal de origem italiana, Fortunato Nardelli e sua esposa Corinna. Com a chegada da ferrovia, o casal percebeu que cada dia mais chegavam pessoas de outras localidades para trabalharem na construção da ferrovia e das casas para os funcionários. Decidiram então montar um comércio para atender os moradores da vila e bem como os novos que chegavam. Em 1910, montaram a "Casa Comercial Nardelli" (na foto acima do Rildo Silveira), vendendo de tudo um pouco, principalmente artigos de primeira necessidade como sal, querosene, lamparinas, carnes, arroz, feijão, café, etc. (na foto abaixo de Alexandra Dias, parte do casario de Carlos Euler)
          O nome Pouso Alegre era nome popular, mas quando da inauguração da estação em 15 de junho de 1914, passou a se chamar Carlos Euler, em homenagem ao engenheiro alemão, que foi de grande importância para o desenvolvimento da região. A linha servia para escoamento de carga, bem como transporte de passageiros, tendo sido desativada para passageiros em 1995, funcionando apenas para trens de carga. 
          Hoje, Carlos Euler é um dos patrimônios representativos de nossa história ferroviária e de Passa Vinte (na foto acima de Rildo Silveira). A estação e seu casario, seguiu o estilo arquitetônico das construções ferroviárias do início do século XX, sendo de grande valor cultural e histórico, bem como marcou a identidade dos moradores da localidade. A vila hoje é uma das maiores relíquias ferroviárias de Minas Gerais. 
Cachoeira
          Além de seu histórico e charmoso casario, Carlos Euler se destaca por ter uma das mais belas cachoeiras da região, chamada por todos de Cachoeira Carlos Euler (na foto acima de Rildo Silveira), distante apenas 5 minutos da sede do distrito. Chegando ao distrito, são cerca de 800 metros de trilhas que pode ser percorrida a pé ou de bike. Vista de longe, encanta pela beleza das suas águas e paisagens deslumbrantes em seu redor. De perto, impressiona por sua imponência. Depois de uma boa pedalada ou caminhada, refrescar em suas águas limpas e cristalinas.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Caminhos do Rio Urucuia em Minas

(Por Gilberto Valadares) O rio Urucuia nasce em Goiás, mais especificamente na região do Raizama, no município de Formosa, próximo ao córrego e ao distrito de Bezerra, na divisa da fronteira com Buritis, que é o primeiro município mineiro a receber as águas desse majestoso rio.
          Ainda que discreto, o rio Urucuia passa a receber as águas de outros córregos nos chapadões goianos, como por exemplo do rio Bonito, próximo ao Poço Azul. Entre lavouras, plantações e áreas de preservação ambiental o rio sobressai e aos poucos se mostra maior. (fotografia acima de Livia Alves)          
          O escritor Oscar Reis Durães descreve a povoação indígena nas Ilhas das Guaíbas, ilha do rio São Francisco próximo a Foz do rio Urucuia. Segundo o escritor, duas tribos que habitavam a região dos rios Urucuia e Paracatu seriam descendentes dos caiapós, índios que desceram do Maranhão passando por Tocantins e que teriam dado o nome a este rio.
Às margens do Rio Urucuia, Iolanda Marques, Neuza Fróes e Marlene Valadares. Anos 70
          Em uma conquista de terras após matarem e expulsarem os índios da Ilha das Guaíbas na foz do rio Urucuia no início do século 18, os sertanistas paulistas, Januário Cardoso, Manoel Francisco Toledo, Domingos Prado de Oliveira e Salvador Cardoso de Oliveira, estenderam domínio sobre toda a vasta região e se tornaram os senhores do Urucuia.
          O tráfego de aventureiros na busca por ouro em Paracatu e Goiás fez a região do Urucuia se desenvolver. Após as primeiras picadas brutas a facão e machado, feitas por sertanistas que cruzavam terras mineiras do extremo de São Romão, subiam pela nascente do Urucuia até os imensos chapadões do Arraial de Couros, hoje Formosa em Goiás. Pouco a pouco novos povoados foram surgindo ás margens desse rio e as primeiras famílias foram se fixando, em meio as dificuldades do grosseiro e inabitado cerrado da época.

Tropeiros cruzando o Rio Urucuia na década de 1970. Arquivo Gil Valadares
          Em registros históricos somos transportados ao ano de 1778, quando uma cartografia confirma o roteiro do bandeirante Lourenço Castanho Táquis, que abrangia o Urucuia, o Rio Preto e a Lagoa Feia. Tal bandeirante percorreu o estreito da chapada de Guarapuava e Buritis.
          A partir desse momento, os movimentos comerciais surgem com o transporte fluvial trazendo sal e outros tipos de mercadoria que vinham do litoral de Juazeiro e Petrolina através do rio São Francisco. O transporte fluvial adentrava Minas Gerais em São Romão e Pirapora, onde atingiu por algumas décadas o rio Urucuia.
          O Urucuia foi navegável até a barra do Rio Claro, onde por um determinado tempo se desenvolveu um garimpo de diamante, hoje no município de Arinos. Foi nessa época que surgiu o povoado de Morrinhos, localizado próximo ao Ribeirão das Areias e que muito prosperou no final do século 18.

Barqueada Ecológica 2019 em Buritis MG. Foto: Marcilei Farias
          O grandioso Aquífero do Urucuia completa nosso texto, dando a importância totalizada das riquezas dessas águas para o Brasil. Localizado no extremo sul do Piauí, passando pelo Maranhão, Goiás, Bahia e Tocantins, alcançando o norte e nordeste de Minas Gerais, o Aquífero do Urucuia está em uma área de aproximadamente 80 mil quilômetros de extensão e tem uma função reguladora dos afluentes da margem esquerda do rio São Francisco.

          Em Buritis, o rio Urucuia (na foto acima de Livia Alves) recebe as águas do córrego Taquaril, do ribeirão São Vicente, córrego Extrema, rio São Domingos, Barriguda e Piratinga. Em Arinos ele aumenta seu volume e recebe as águas do rio Claro, o rio São Miguel também deságua no Urucuia, além dos ribeirões da Ilha, da Areia e Confins. O rio de águas vermelhas e batizado pelos caiapós também dá nome ao município de Urucuia, onde recebe as águas do córrego Taboca e Gameleira. (na foto abaixo do Gilberto Valadares, o Rio Urucuia ao chegar em Buritis/MG, na fazenda Sobrado)
          Imortalizado nos versos de João Guimarães Rosa, o rio de amor desse saudoso escritor brasileiro, deságua no São Francisco, depois de receber as águas dos ribeirões da Conceição, das Pedras e do riacho Campo Grande, dando fim a um caminho percorrido somente pelos mais corajosos e destemidos do sertão, tal como este rio.
Texto de autoria de Gilberto Valadares - enviado pelo mesmo, junto com as fotos que ilustram o artigo.
Fontes: Livro Raízes e Cultura de Buritis no Sertão Urucuiano de Oscar Reis, Serviço Geológico do Brasil, Site: aguassubetrranes.abas.org e google earth

terça-feira, 21 de julho de 2020

Os picos mais altos de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) As montanhas de Minas Gerais impressionam pela imponência e beleza natural, atraindo amantes da natureza e praticantes de esportes radicais. Aventurar-se pelas alturas das montanhas, até chegar ao pico, é uma aventura e tanto, que requer muita disposição e claro um bom preparo físico. (foto acima de Marcelo Botosso o Pico o Pico do Lopo a 1780 metros, em Extrema, Sul de Minas e abaixo, de Paulo Santos, paisagem de Itamonte, no Sul de Minas, vista do alto Pico das Agulhas Negras no Parque do Itatiaia)
          Listamos os mais altos picos de Minas Gerais, acima de 2000 metros de altitude. São 13 ao todo, para você conhecer e programar escalar. 
01 – Pico da Bandeira – Alto Caparaó/MG
          É o maior pico da região Sudeste e o maior de Minas Gerais e do Espírito Santo, com 2.891,32 metros de altitude, sendo também o terceiro maior do Brasil, atrás apenas do Pico da Neblina (2.995 metros) e do Pico 31 de Março (2.974 metros), ambos no Estado do Amazonas.  (foto acima de Sairo Guedes, guia de Turismo em Alto Caparaó MG)
          O Pico da Bandeira está no Parque Nacional do Caparaó entre os municípios de Alto Caparaó/MG e Ibitirama/ES, com entrada por Alto Caparaó/MG e Dores do Rio Preto/ES, sendo oficialmente o ponto culminante de Minas Gerais e do Espírito Santo. É um dos picos mais visitados do Brasil, pela beleza da área do parque e pelo espetáculo do nascer do sol, fazendo com que todos os dias, dezenas de pessoas, levantem de madrugada para subir até o pico e presenciar esse show da natureza. 
02 - Pico do Calçado – Alto Caparaó/ MG 
          Com 2.849 metros, o Pico do Calçado é o segundo mais alto de Minas Gerais e do Espírito Santo e também da região Sudeste. Fica na divisa das cidades de Alto Caparaó MG e Ibitirama/ES, no Parque Nacional do Caparaó, pertencendo aos dois estados. Está a menos de 1 km do Pico da Bandeira com acesso por Alto Caparaó MG, pela trilha que sai da Casa Queimada. (foto acima de Sairo Guedes)
03 – Pico da Pedra da Mina – Passa Quatro/MG 
          Com 2.797 metros, o Pico da Pedra da Mina, em Passa Quatro, no Sul de Minas, é o terceiro mais alto do Estado. Faz parte da cadeia de montanhas da Mantiqueira, estando na travessia da Serra Fina com acesso pela fazenda Serra Fina, no povoado do Paiolinho, pela Toca do Lobo, em Passa Quatro ou ainda pela Fazenda do Engenho da Serra em Itamonte MG. (foto acima do Marcelo Botosso)
04 – Pico das Agulhas Negras – Bocaina de Minas/MG e RJ
          Muita gente pensa que o Parque do Itatiaia e o Pico das Agulhas Negras (na foto acima do José Paulo) pertencem somente ao Rio de Janeiro. 40% da área do Parque Nacional do Itatiaia estão no Rio de Janeiro, nos municípios de Itatiaia e Resende. A maior parte da área do Parque do Itatiaia, 60%, estão em território mineiro, no Sul de Minas, concentrados nos municípios de Itamonte e Bocaina de Minas. 
          É em Bocaina de Minas que se concentra a maior parte da área do parque e ainda parte do Pico das Agulhas Negras, com seus 2.791 metros, na divisa de Bocaina de Minas. Uma parte territorial do Pico da Agulhas Negras está em território mineiro e  a maior parte, nos municípios de divisa, Resende e Itatiaia, no Rio de Janeiro. O Pico das Agulhas Negras é o ponto culminante do Estado do Rio de Janeiro e o quarto maior pico em Minas Gerais.
          O pico pertence aos dois estados, sendo um dos maiores atrativos do Parque Nacional do Itatiaia. A trilha requer muito preparo físico para subir. Ida e volta, são 11 km. 
05 – Pico do Cristal – Alto Caparaó/MG
          Em Alto Caparaó MG temos mais um pico: o Pico do Cristal, com 2.769 metros, na Serra do Caparaó. Esse pico está totalmente no lado mineiro do parque, que faz divisa com o Espírito Santo. Seu nome é porque tem origem na grande quantidade de quartzo, presente na montanha. (foto acima do Sairo Guedes)
06 – Pico da Pedra do Sino – Itamonte/MG 
          A 2.670 metros está o pico da Pedra do Sino, em Itamonte, no Sul de Minas, no Parque Nacional do Itatiaia. No topo há uma pedra pontiaguda, que emite um som semelhante ao barulho de um sino, por isso o nome. O acesso não é fácil, são muitas pedras e exige bom preparo físico. Mas compensa, no alto do pico a paisagem é privilegiada, com rochas de granito, com mais de 1 metros de altura. (sem foto até o momento)
07 – Pico Três Estados – Passa Quatro/MG
          São 2.656 metros e é um dos marcos de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, justamente por estar na divisa entre os três estados, por isso o nome. Seu início é em Passa Quatro com acesso pela fazenda Toca do Lobo, na Serra Fina, passando por Itanhandu em Minas, Queluz em São Paulo e Resende no Rio de Janeiro. Não querendo desanimar, mas a subida até o topo é uma das mais difíceis do Brasil. (foto acima do José Paulo)
          Além de preparo físico, persistência, cuidados especiais e muita experiência, é necessário tempo e paciência. Os montanhistas que arriscam subir o pico, levam em média, 3 dias de caminhada, ida e volta. No caso, tem que estar preparado para o trajeto, levando água, comida, roupas adequadas e barracas para descansarem. Geralmente o descanso é na Fazenda da Toca. 
08 – Pico do Garrafão – Alagoa MG
          Também chamado de Pico Santo Agostinho, tem 2.359 metros de altura, estando localizado entre os municípios de Alagoa, Baependi e Itamonte, estando na área do Parque Estadual da Serra do Papagaio.
09 – Pico do sol – Catas Altas MG
          Com 2072 metros de altura, o Pico do Sol é o ponto mais alto da Cordilheira do Espinhaço, situado na Serra do Caraça, no Parque Natural do Santuário do Caraça, em Catas Altas MG, na Região Central Mineira. (foto acima de Anderson Sá)
10 – Pico do Inficionado – Catas Altas/MG
          Ainda no Santuário do Caraça, em Catas Altas MG, a 110 km de Belo Horizonte, está o Pico do Inficionado, com 2068 metros de altura. Lugar de beleza ímpar, sem igual e no topo do pico, a beleza do Santuário do Caraça se torna mais impressionante. (fotografia acima de Marley Mello)
11– Pico do Itambé - Serro/MG
          Com 2062 metros de altura, o Pico do Itambé se localiza entre os municípios do Serro e Santo Antônio do Itambé, no Vale do Jequitinhonha. É carinhosamente chamado pelos moradores da região de “Teto do Sertão Mineiro”. A vista ao nascer do sol no topo do pico é espetacular! (foto acima do Tiago Geisler)
12 – Pedra de São Domingos/Sul de Minas
          Com 2.050 metros de altitude, é um importante ponto turístico dos municípios de Córrego do Bom Jesus, Paraisópolis e Camanducaia, na Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas. Do pico tem-se uma impressionante vista em 360º da região, podendo ser visto, em dias claros, as cidades de Córrego do Bom Jesus, Cambuí, Gonçalves, Estiva, Monte Verde e Campos do Jordão, bem como as famosas pedras e montanhas da região como a Pedra do Baú e o Pico do Selado. À noite, pode ainda ser avistado as luzes das cidades de Pouso Alegre e Bragança Paulista. (sem foto até o momento)
13 – Pico do Rachado – Pouso Alto MG
          São 2.000 metros de altitude, fazendo parte do Parque Estadual da Serra do Papagaio, rodeada por intensa mata nativa e Campos de Altitude. Fica apenas 20 km do centro de Pouso Alto, no Sul de Minas. É muito procurado por quem curte a natureza, gosta de acampar, praticar trekking e voo livre. No topo tem-se o privilégio de avistar a impressionante cadeia de montanhas da região, além de charmosos povoados rurais. (sem foto até o momento)

sábado, 11 de julho de 2020

Congadas e Reinados: a festa de um povo que virou festa do povo

(Por Arnaldo Silva) Uma tradição secular que mistura fé, cultura, arte, folclore e história. É a Congada ou Reinado de Nossa Senhora do Rosário, manifestação folclórica com origem e raiz em Minas Gerais. As Congadas unem grupos de Moçambique, Catopé, Congo, Marujada, Caboclos, Vilão e Candombe, na coroação de um rei Congo. 
          O início da festa começa com o levantamento dos mastros em honra a Santa Efigênia, São Benedito, Nossa Senhora das Mercês e Nossa Senhora do Rosário. Após o levantamento dos mastros, é iniciada a festa, com os cortes saindo pelas ruas das cidades, dançando, tocando instrumentos e entoando cantos, de acordo com a origem de cada corte, orientados por um "capitão”. (fotografia acima de Dênis Pereira em Bom Despacho MG)
          É uma das mais ricas manifestações populares do folclore mineiro, ocorrendo em todas as cidades mineiras entre julho e outubro. Em algumas cidades, a festa acontece junto com a Folia de Reis, em janeiro, como em Ouro Preto.
          Tradição que saiu das senzalas para ser hoje uma das mais democráticas festas populares, com a presença de negros, brancos, mulatos, índios, ricos e pobres, com o objetivo comum de manifestar sua fé em Nossa Senhora do Rosário e preservar a tradição de seus antepassados. (Na foto acima, de Ane Souz, no interior da Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto)
A origem das Congadas 
          Para entender a história da Congada vamos voltar no tempo, começando pela Idade Média, passando pela África até chegarmos às colônias portuguesas e a consolidação da festa em Minas e no Brasil. (na foto abaixo de Arnaldo silva, dançador de Reinado em Bom Despacho MG)
          Os cantos e músicas originais entoados pelos cortes recriam a coroação de um rei Congo. O Congo era região africana que ficava no Sudoeste da África, fundada por Ntinu Wene, no século 13, hoje formada pelo Noroeste de Angola, Cabinda, a parte centro-sul do Gabão e pela parte ocidental da República Democrática do Congo.
          Durante o reinado de Ntinu Wene, seus súditos tinham o costume de dançar, cantar e rezar em cortejos pelas ruas dos vilarejos e povoados da região, em sinal de reconhecimento e agradecimento ao rei e seus governantes locais. 
          Foi dessa região que vieram a maioria dos seres humanos sequestrados e trazidos para o Brasil para serem escravizados. Já em terras da Colônia, procuram uma forma de reviverem os tempos em que viviam livres na África, recriando instrumentos usados nos cortejos, danças e cânticos. 
          Por sua origem ser do Congo, aqui foi sendo chamada de Congada ou Congado e assim é o nome. O que mudou foram os cânticos, que a passaram a ser de lamentos e sofrimentos por estarem longe de seu povo e pelos sofrimentos que a escravidão lhes causava.
          Por isso o nome Congada ou Congado da festa e Reinado, que simboliza a coração de um rei. Essa festa não tem nada a ver com outra festa, com nome parecido, o Reisado. Isso porque Reisado é o nome de uma festa portuguesa que acontece entre 24 de dezembro, se estendendo até 6 de janeiro. É o nome dado a festa de Santos Reis em Portugal. Aqui no Brasil essa festa tem nome de Folia de Reis. O Reinado saiu da senzala e o Reisado, dos casarões da fidalguia portuguesa na Idade Média. São festas populares diferentes, que não tem nada a ver uma com a outra. (na foto de Nacip Gômez, a Festa do Rosário em Conceição do Mato Dentro MG)
          Coroar um rei Congo era a forma que os escravos encontraram de relembrar suas tradições e religião. Com isso misturaram ensinos cristãos passados pelos padres às suas, dando origem ao sincretismo religioso, associado os santos católicos, com divindades africanas.
A origem da devoção à Nossa Senhora do Rosário
          A devoção a Nossa Senhora do Rosário surgiu na Europa por volta de 1200, quando Domingos de Gusmão, Santo Católico que deu origem a Ordem dos Dominicanos, criou o Rosário, da forma que conhecemos hoje. O Santo Rosário da Mãe de Deus, desde o século XIII, na Europa, era usado como arma para converter os hereges ao catolicismo. 

          Foi na cidade alemã de Colônia, em 1408, que surgiu a primeira irmandade de Nossa Senhora do Rosário (irmandade, também chamada de confraria, é uma associação formada por pessoas ligadas por objetivos e interesses comuns). A devoção a Nossa Senhora do Rosário se propagou na Europa e levada pelos portugueses para suas colônias na África e no Brasil. (na foto acima, de Giselle Oliveira, a Festa do Rosário de Curralinho, distrito de Diamantina MG)
A devoção à Nossa Senhora do Rosário no Brasil
          A devoção ao Rosário foi adotada por senhores e escravos, mas nesse caso, os negros viam na fé a Nossa Senhora do Rosário, uma forma de praticarem suas crenças religiosas, sem serem molestados por seus senhores, bem como aliviar um pouco os sofrimentos infligidos pelos brancos. 
          Os seres humanos que foram sequestrados da África e trazidos para o Brasil, mesmo com crenças diferentes, passaram a devotar Nossa Senhora do Rosário que tornou se a protetora dos negros, graças a uma tradição oral. Não há registros da veracidade da história oral passada de geração para geração, mas conta-se que a Mãe de Jesus foi vista sobre as águas do mar por caboclos, que devotavam à santa. Rezaram e cantaram para que ela viesse ao encontro deles, o que não ocorreu. Marujos, devotos, fizeram o mesmo, mas a santa ficou quieta onde estava. (fotografia acima Sueli Santos em Dores do Indaiá MG)
          Foi ai que os escravos, avistando a santa, se aproximaram da praia, cantaram cânticos em seu louvor. A santa se agradou dos cânticos e da manifestação autêntica de fé dos negros e se aproximou. Entenderam que Maria, mãe de Jesus, Nossa Senhora do Rosário, olhava por eles. 
          Por isso, de acordo com a crença popular, a santa passou a ser a protetora dos negros. O fato narrado, segundo a tradição oral, aconteceu no final de julho, sendo o motivo que os festejos de Nossa Senhora do Rosário se iniciar nesse mês, se estendendo até outubro pelas cidades mineiras, que escolhem a data da festa entre esse período. 
          A Igreja Católica instituiu o dia 7 de outubro como o Dia de Nossa Senhora do Rosário, data que geralmente se encerra o período das Congadas em Minas Gerais. 
As irmandades e o sincretismo religioso
          Ainda no tempo da Escravidão, uma norma da Igreja Católica permitia a presença de negros, mulatos e forros até o limite da torre principal das igrejas, ou seja, não podiam passar da porta. E ainda, a fé demonstrando pelos negros não era bem vista pela Igreja, devido à incorporação de palavras, rituais, cantos e danças africanas, totalmente diferentes os rituais católicos. (na imagem acima da Sueli Santos, a Festa do Rosário em Dores do Indaiá MG)
          Para manterem sua fé, os negros se organizaram em irmandades próprias, com o objetivo de preservarem suas tradições e religiosidade. Assim nascia as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e Pardos. 
          As igrejas construídas a partir de então, dedicadas à santa, tinha o nome de Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, bem como a festa passou a ser chamada de Reinado de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. (foto abaixo de Sueli Santos em Dores do Indaiá MG)
          Os africanos foram inseridos nas festas promovidas pela coroa. Assim, incorporaram suas músicas e danças que, para os portugueses, eram consideradas exóticas. Era a forma que encontraram de se inserir na sociedade colonial e preservar seus ritos e costumes, sob a aparência das festas religiosas cristãs. 
          Porém, eram impedidos de praticarem seus ritos nos momentos livres, pois havia receio por parte da elite de que gerasse desobediência. Foram incorporados aos costumes religiosos portugueses s e práticas das irmandades leigas dos escravos, como, por exemplo, o hábito de rezar em conjunto, a condução dos ritos por um sacerdote e a promoção de festas e procissões. 
          É nesse contexto que se revela ter sido de grande importância à criação das irmandades, um dos primeiros passos para afirmação da identidade negra na colônia.
          Havia irmandades leigas que cultuavam os santos, as devoções pessoais e a promoção de procissões e festas, que conduziam a vida na colônia no âmbito da religião católica. Alguns chegando a acumular patrimônio através de legados, anuidade, presentes e doações para o santo de devoção. Homens negros eram eleitos como reis das irmandades desde o século XVI, em Portugal, ligados aos oragos (padroeiros) de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia, Santo Elesbão e São Benedito. 
Costumes africanos e a fé nos santos católicos
          Os negros que chegavam à colônia ouviam esses relatos dos feitios dos santos, passando a ter simpatias por alguns por alguns desses santos, além de Nossa Senhora do Rosário, como por exemplo, São Benedito e Santa Efigênia, identificado por eles como divindades africanas, homenageando-os com construções de igrejas, com o trabalho e dinheiro de alforriados e escravizados. (na foto abaixo, de Sueli Santos, terno de Reinado em Dores do Indaiá)
          Os escravos mantiveram o costume de formar comunidades e eleger reis e rainhas responsáveis pela direção dos cultos, sendo estes com a missão de manter a unidade do seu povo, numa luta muito difícil devido à prática de dominação e subjugação dos brancos. Aprenderam, então, a recriar suas raízes africanas nas Américas, através do sincretismo religioso. 
          A partir disto, formaram laços fundamentais de afinidades étnicas, adotando posturas que reproduziam seus costumes africanos, sem despertar muito a ira dos senhores de escravos. 
          Um desses laços foi à criação a introdução do culto a Nossa Senhora do Rosário nas festas do Congado, tendo como origem, Ouro Preto, com a criação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de Santa Efigênia, igreja que se encontra no bairro do Alto da Cruz, construída pela Irmandade. (na foto acima da Giselle Oliveira, Festa do Rosário no Serro MG)
Instrumentos e toques
          Em janeiro, por ocasião do Reisado ou Folia de Reis e em outubro, na Festa de Nossa Senhora do Rosário, acontecia a coroação de Chico Rei, também da rainha Conga e sua corte, eu se vestiam com trajes coloridos, com muita dança, longas ladainhas e cantorias, ao som de instrumentos como o caxambu, pandeiro, marimbas e canzás, que lembravam os grilhões que os acorrentavam, além de cânticos de lamentos e tristezas, pelos sofrimentos e angústias que os senhores de escravos lhes causavam. Eram toques e cantos de sofrimentos, mas também de esperanças de que um dia, tudo acabaria.
A histórica de Chico Rei
          Vale ressaltar que o ritual de coroação presentes na festa, não é a coração de Nossa Senhora do Rosário e sim de Chico Rei. Simboliza o reinado de Chico Rei e não de Nossa Senhora do Rosário. 

          Chico Rei foi um personagem lendário. Surgiu num tempo em que feitos dos negros não eram registrados e nem documentados pelos brancos. A história sobre Chico Rei é tradição oral preservada e repassada por gerações, sem nenhum registro documental da veracidade. (na foto abaixo de Arnaldo Silva, a Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto MG)
          Segundo a tradição, um dos reis do Congo, de nome Galanga, foi capturado com todo o seu povo por tribos inimigas e vendido aos portugueses. No navio negreiro, foi batizado e recebeu o nome de Francisco, chamado de Chico. 
          Durante a travessia do Atlântico, ocorreu uma grande tempestade e para acalmar as águas, os marinheiros jogaram o rei Chico, sua mulher e filho ao mar. Mas o mar se acalmou e assim os marinhos tiraram os três do mar. O navio chegou ao Brasil, por volta de 1740. Chico, sua esposa e filho foram vendidos e enviados para Vila Rica, hoje Ouro Preto. 
          Em Vila Rica, Chico trabalhava muito, juntava ouro e foi tanto que conseguiu comprar a sua própria liberdade, do seu filho e de sua esposa, além de comprar a alforria, foi comprando ao longo das economias que fazia, a liberdade de mais de 200 escravos. A partir desse fato, os escravos libertados por Chico passaram trata-lo como rei e ainda, trabalhavam na construção da igreja de Santa Efigênia. Assim começou a história de Chico, coroado e reverenciado como rei, sendo essa coroação parte do ritual da Festa do Congado.
          Assim, segundo a tradição popular, surgiu a coroação de um rei, tradição que é preservada até os dias de hoje, onde um rei Congo 
é escolhido e coroado durante a festa.
          Para o povo ouro-pretano, principalmente os descendentes dos escravos, é uma das mais importantes celebrações da cidade, revivida em sua forma original, presentes em manifestações com os vários grupos da cidade na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e principalmente na Igreja de Santa Efigênia. (na foto abaixo de Elvira Nascimnto, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em Ouro Preto MG)
A vitória da resistência
          Hoje o Reinado de Nossa Senhora do Rosário é uma festa popular, com a participação de negros e brancos e com as portas das igrejas abertas. Para chegar ao ponto que estamos hoje, não foi fácil.
Preconceito, discriminação, perseguição pela tradição ter sua origem em tradições religiosas africanas, as portas eram das igrejas eram fechadas, ficando a festa restrita à periferia, movimentos quilombolas e a comunidades Afrodescendentes. A perseguição era tanta que chegou a ser proibida pela Igreja Católica durante o Estado Novo (1930/1945) no Governo de Getúlio Vargas;
          A situação começou há mudar um pouco na década de 1940, com adesão de membros da elite à Festa do Rosário, demonstrando apreço pelos cortes, o colorido, os cantos, a dança, bem como toda a simbologia da festa.
          Somente na década de 1960 e 1970 a festa começou a se popularizar entre os brancos, que além de apreciarem a festa, passaram a se integrar aos cortes. A fé em Nossa Senhora do Rosário unia brancos e negros. Com isso, aos poucos as portas das igrejas começaram a se abrir para a Festa do Congado tendo sido introduzido na festa, a celebração da Missa Conga, celebrada pelos padres.
          Com a presença dos brancos nos cortes, foram surgindo novas músicas, instrumentos musicais comuns passaram ser usados pelos cortes como sanfona, viola, pandeiro, violão, dentro outros, bem como a alguns cânticos novos foram inseridos, além de elementos que não existiam na festa original, como a representação da princesa Isabel e sua corte. (na  foto acima do Nacip Gômez, o interior da Igreja do Rosário em Conceição do Mato Dentro MG)
          Após a popularização da festa e com o crescente número de brancos participando dos cortes, as igrejas de Nossa Senhora do Rosário, que terminava com “dos homens pretos” foi retirado, tendo sido mantido apenas por tradição, nas cidades históricas. 
          A diferença hoje é que os cortes de origem negra preservam as tradições nas vestimentas, nos instrumentos e cânticos de seus antepassados. 
          Já nos cortes com predominância branca, foram inseridos cânticos novos, coreografias próprias e acrescentados outros instrumentos musicais, diferentes os usados na tradição africana. Independentemente da origem dos cortes, a festa de Nossa Senhora do Rosário hoje é a festa de todos os homens e mulheres que devotam o Rosário, independentemente de sua origem, etnia ou classe social.
A festa de um povo, que virou, festa do povo
          A Congada saiu das senzalas, rompeu os grilhões da escravidão. Foi para as ruas, para o coração dos quilombos e para a periferia. Venceu o preconceito, inserindo-se em todas as camadas sociais. Entrou para dentro das igrejas, democratizou-se. Antes era festa de um povo. Hoje é festa do povo! 

          É a mais popular e mais importante festa folclórica de Minas Gerais. Manifestação pura e espontânea da religiosidade de nosso povo e da arte popular. Cada corte de reinadeiro, com seus cânticos, coreografias, instrumentos musicais e tradições, colorem as cidades e emocionam com sua fé em Nossa Senhora do Rosário, em São Benedito, em Santa Efigênia, em Nossa Senhora das Mercês e em Nossa Senhora Aparecida. (foto acima de Peterson Bruschi/@guiapeterson, o interior da Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto MG)
          Hoje, a Congada e mais conhecida como a Festa de Nossa Senhora do Rosário, unindo brancos e negros em prol da fé, da cultura e da tradição, relembrando um tenebroso e vergonhoso período de nossa história, a escravidão.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Os chocolates artesanais de Bueno Brandão

Bueno Brandão é uma pequena cidade no Sul de Minas, na Serra da Mantiqueira. Cidade tranquila, pacata, com típicos ares do interior mineiro. Se destaca por suas belezas naturais, pela culinária, pelos vinhos, licores e aguardentes. Pelos queijos, doces, pelo artesanato e pelos chocolates artesanais, em destaque para os Chocolates Andréia.
          Sobre a direção de Andréia Cezar, Chocolates Andréia é uma das chocolaterias mais tradicionais e respeitadas da Mantiqueira, oferecendo variados tipos de chocolates de altíssima qualidade, feitos de forma artesanal, respeitando rigorosamente todas as normas da vigilância sanitária e instalada num ambiente aconchegante, confortável, requintado na cidade.
          Para chegar ao que é a Chocolates Andréia hoje, não foi fácil. Foi uma luta que hoje serve de exemplo para muito que veem nas dificuldades e crises financeiras, oportunidades de se superar. 
           Andréia Cezar conta que sua história com o chocolate começou em 2005. A família, ela, o marido e a filha pequena, passavam por uma situação financeira difícil na época e viu a necessidade de buscar alternativa de renda para superar as dificuldades surgidas, devido à situação financeira ruim que passavam no momento. Por sugestão de uma sobrinha, sugeriu que fizesse um curso de chocolates e bombons artesanais, numa cidade vizinha a Bueno Brandão, já no Estado de São Paulo, onde a família tinha parentes. Andréia aceitou o desafio e rumou para São Paulo para fazer o curso.  
          Foi aprendendo e fazendo ao mesmo tempo. Andréia fazia os chocolates e bombons durante o dia e seu marido vendia na cidade, oferecendo os chocolates de porta em porta. À noite, Andréia continuava fazendo o curso e a cada dia, aprimorava seus conhecimentos, inovando e melhorando cada vez mais a qualidade de seus chocolates e bombons.
          Enquanto Andréia estudava, seu marido e filha embalavam os chocolates para serem vendidos no dia seguinte.
          O sabor, a qualidade e a dose exata de talento, amor e carinho com que a família fazia os chocolates, caíram no gosto dos moradores de Bueno Brandão que começaram a comprar e virar clientes assíduos da pequena fábrica, além da propaganda boca a boca que faziam. Isso ajudou muito no aumento das vendas.
          Com o aumento das vendas e da clientela, a família sentiu a necessidade de ampliar o espaço. Os chocolates eram feitos na cozinha da casa, que estava pequena para tantas encomendas. Com as economias conseguidas com as vendas, reformaram um cômodo que existia no quintal da casa e montaram uma estrutura melhor para produzir os chocolates. 
          E as vendas continuaram aumentando, havendo necessidade de mais pessoas para ajudar na produção. Assim foi contratada a primeira funcionária, com os pedidos e clientela aumentando a cada dia, não só na cidade, como nas cidades vizinhas, com clientes fazendo encomendas.
          Novamente, o espaço ampliado na casa ficou pequeno para atender a demanda. Havia necessidade de instalar a fábrica em outro local, saindo da cozinha de casa, para o quintal e agora para um local maior e mais apropriado, seguindo todos os cuidados e normas da Vigilância Sanitária, alvarás sanitários e municipais.
          De um pequeno negócio na cozinha da casa, passou a ser uma microempresa que gera empregos e impostos para a cidade, além de renda para família.
          Mantendo o bom atendimento, a qualidade e o sabor de seus chocolates, a fábrica continuou crescendo. Andréia conta que teve a ideia de montar uma loja para atender as pessoas que passam pela cidade e turistas que vem à cidade. Assim, em 2014, foi inaugurada a loja de chocolates, disponibilizando na loja várias opções de chocolates.
          O sucesso de Andréia Cezar está ligado a sua força de vontade, talento e amor pelo que faz. Não ficou apenas nas técnicas dos cursinhos e sim, aprendeu e colocou sua criatividade no sabor, criando receitas exclusivas, que agradam a todos os gostos e os mais exigentes paladares.
          De uns anos para cá, Bueno Brandão começou a explorar mais seu potencial turístico, já que é uma cidade dotada de belezas naturais impressionantes, com boas pousadas e bons restaurantes, um povo bom e hospitaleiro. O turismo surge como um dos pilares para solidificar as pequenas empresas da cidade, que podem comercializar seus produtos, levando-os para outras regiões, através dos turistas. Muitos deles passam a serem clientes e encomendam sempre os produtos locais. 
          A força de vontade e energia para superar as dificuldades iniciais foi recompensada com muito esforço, insistência, dedicação e persistência. Segundo Andréia Cezar “hoje contamos com um número maior de funcionários na produção totalmente artesanal e uma dedicação total aos produtos, com o compromisso de levar o sabor do chocolate artesanal da Serra da Mantiqueira para as pessoas se deliciarem e terem momentos doces e únicos".
As fotos que ilustram a matéria foram enviadas pela Andréia Cesar e as informações pelo Douglas Coltri

quinta-feira, 25 de junho de 2020

A arte em cerâmica de Salinas

(Arnaldo Silva) Salinas, cidade, do Norte de Minas, é conhecida no mundo inteiro por sua cachaça de qualidade, e reconhecida como a Capital da Cachaça no Brasil, oficializada pela Lei Federal nº 13.773, publicada no Diário Oficial da União em 19/12/2018. Em Salinas está o Museu da Cachaça, instalado no antigo aeroporto da cidade. O museu possui oito salas com um amplo acervo de garrafas e um moinho montado a partir de temas como sociedade do açúcar, engenhos antigos e atuais, plantação, colheita e moagem da cana, além de contar a história da cachaça no município.
          Além da cachaça e do seu tradicional Festival Internacional da Cachaça, Salinas tem um casario charmoso e eclético e é tradicional na produção de requeijão e carne de sol. O que pouca gente sabe é que do seu solo, é retirado a argila, base para um dos mais valiosos artesanatos de Minas Gerais, feitos pelas mãos de artesãs que vivem no aconchegante distrito de Ferreirópolis, com acesso pelo km 25 da rodovia Salinas/Taiobeiras. 
          A região de Salinas está no semiárido mineiro e os períodos de seca são prolongados, o que faz com que muitos deixem a região, em busca de trabalho, deixando suas famílias ou os que ficam, encontravam muitas dificuldades de manter suas atividades agropecuárias, atividade principal de seus moradores. Essa realidade começou a mudar a partir de 1993, com a criação do Conselho Comunitário de Ferreirópolis. 
          A entidade hoje conta com 260 associados que exercem atividades diversas, seja na agropecuária, plantando milho, feijão, tirando leite para a produção de requeijão e também no artesanato. Na sede do Conselho, os associados tem orientação sobre projetos como Minha Casa Minha Vida, Pronaf e Garantia da Safra. Realiza ainda todos os anos a Festa dos Amigos, com a maior fogueira de São João da Região, evento que atrai milhares de pessoas, não só da região, mas de todo o país, que vem que ao distrito participar da festa. 
          O Conselho conta ainda com a participação das esposas dos lavradores, que se uniram à entidade com o objetivo de saírem da ociosidade e ajudarem no orçamento familiar. A opção foi pelo artesanato em cerâmica, uma tradição familiar antiga, mas praticada por poucos da vila, até então. O que as mulheres de Ferreirópolis fizeram foi resgatar uma antiga tradição do distrito, tradição presentes por gerações. 
          Na região encontra-se com facilidade argila, aproveitando ainda o talento passado de mãe para filhas, as mulheres colocaram literalmente as mãos na massa e colocaram em prática as técnicas na arte de fazer peças em cerâmicas. Com o passar do tempo, foram aprimorando os conhecimentos e criando novas peças, com isso dando identidade cultural aos seus trabalhos, únicos, inconfundíveis e especiais. 
          Começaram a participar de feiras e exposições de artesanato em Minas Gerais e outras regiões do país, o que fez o artesanato de Ferreirópolis ser mais conhecido, bem como a atuação das artesãs nas redes sociais, fazendo com que seus trabalhos tornassem conhecidos em todo o país, possibilitando realizar vendas online com o envio das peças por sedex.
          Na comunidade, são sete artesãs, com destaque para Maria Cláudia de Matos Miranda, que com muito entusiasmo, procura divulgar os trabalhos e atividades do Conselho, as tradições de sua comunidade e seu próprio trabalho, feito com muita maestria. 
          Cláudia Miranda trabalha com artesanato desde criança, ofício ensinado por sua mãe, bordadeira. Professora, formada em faculdade, mas sabia que tinha no sangue a herança da arte mineira. Nas horas de folga, se dedicava ao artesanato. 
          A partir de 2001, mudou- para a vizinha cidade de Taiobeiras, de forte tradição na arte em cerâmicas, tendo sido de grande importância para seu aprendizado. Conheceu artesãos famosos viajando pelo Brasil, participando de feiras, eventos e exposições de arte, o que muito enriqueceu seus conhecimentos.
          Retornando a sua terra natal, já como educadora aposentada, se dedica de corpo e alma ao artesanato. Segundo Cláudia Miranda, "a arte de criar é muito prazerosa”. Para a artesã, “a arte é o fruto do mais puro sentimento do ser humano.
          Suas peças foram catalogadas pelo SEBRAE, motivo de orgulho para a artista que divide suas experiências e conhecimentos com as artesãs de sua comunidade, procurando ajudar. “Após ter-me aposentado como educadora, pretendo continuar desenvolvendo projetos sociais junto às comunidades menos favorecidas, tendo em vista que já tive cinco projetos elaborados por mim e aprovados na área cultural, enquanto presidente da Associação dos Artesãos de Taiobeiras/MG” informa a artesã que atualmente é sócia do Conselho Comunitário de Ferreirópolis, atuando na entidade desde 2014, quando ministrou um curso de modelagem de argila.
          A Artesã pode ser contatada pelo pelo whatsapp 3899417463, pelo E-mail : claudiamirandamatos@hotmail.com, ou pelo Instagram @claudiamirandamatos.
(as informações e fotos dos trabalhos das artesãs de Ferreirópolis foram repassadas pela Cláudia Miranda)

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