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sábado, 20 de junho de 2020

Cidades históricas mineiras: uma volta no tempo

(Por Arnaldo Silva) Viajar pelas cidades históricas mineiras é como voltar ao passado, viver e vivenciar o estilo de vida nos tempos do Brasil Colônia. É uma viagem no passado, ao mesmo tempo, essa viagem proporciona lazer e descanso, já que são cidades prazerosas de se estar, com ótima e tradicional gastronomia, cultura, belezas naturais espetaculares. 
          Nessas cidades, alguns antigos casarões foram transformados em pousadas, dando oportunidade ao visitante de estar num ambiente onde viveram dezenas de gerações, em mais de 300 anos. 
          Cidades preservadas (como Ouro Preto, acima, na foto de Fabinho Augusto) e muita história para contar em seus becos, ruelas, ruas em pedras, casarões, sobrados suntuosos, museus e igrejas, evidenciando a riqueza dos tempos do auge do Ciclo do Ouro em Minas Gerais. São mais que cidades, são histórias vivas. Cada detalhe, cada arte presente na arquitetura das cidades históricas impressiona pela beleza, riqueza e imponência.
          Vamos fazer um passeio pelos principais pontos de algumas dessas cidades, partindo de Diamantina, passando pelo Serro, Conceição do Mato Dentro, Catas Altas, Santa Bárbara, Belo Horizonte, Congonhas, Mariana e terminando nossa viagem em Ouro Preto.
Diamantina
          Terra de Chica da Silva, de JK, da música, do vinho, do tapete Arraiolo, dos bordados, da seresta e da Vesperata. (Foto acima de Elvira Nascimento) É assim que Diamantina é conhecida, mas a cidade, agraciada pela UNESCO com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 1999, é também chamada de “Capital do Vale do Jequitinhonha” e “Cidade Colonial dos Diamantes”. Distante 292 km de Belo Horizonte e a 1300 metros de altitude, a cidade se destaca por suas belezas naturais, pelo seu riquíssimo artesanato, em especial os tapetes Arraiolos e o artesanato em flores, bem como sua intensa vida cultural.
          Sua história começa em 1713 com a formação de um arraial, chamado Arraial do Tejuco. O crescimento do arraial se intensificou a partir de 1720, com a descoberta das jazidas de diamantes na região, intensificando seu crescimento e reconhecimento como cidade emancipada em 1831. Em Diamantina está boa parte da história dos tempos do Império. História esta guardada na mente dos diamantinenses, estudada nos livros de história e presente em cada canto do Centro Histórico de Diamantina. 
          Ao visitar a cidade é imprescindível visitar o Mercado dos Tropeiros (na foto acima de Giselle Oliveira) , construído em 1835 para ser ponto de descarregamento e venda de mercadorias. A casa em que viveu Juscelino Kubitschek em sua infância merece ser visitada. Construída de pau-a-pique, é uma típica edificação do século 18. Hoje é um museu dedicado a contar a vida e obra de um dos mais importantes políticos do Brasil. 
          Outro ponto interessantíssimo para conhecer na cidade é o sobrado onde viveu João Fernandes de Oliveira, o Contratador de Diamantes, com sua mulher, Chica da Silva, entre os anos de 1763 e 1771. 
           Além desses pontos, Diamantina (na foto acima de Elvira Nascimento) tem como atrativos o Cruzeiro da Serra, onde se pode ter essa vista da cidade acima, na foto do Sérgio Mourão, o Passadiço do Glória, a Casa do Intendente, a Praça JK, o Teatro Santa Izabel, o Museu do Diamante, a Catedral Metropolitana, as Igrejas de São Francisco de Assis, do Nosso Senhor do Bonfim, de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de Nossa Senhora do Carmo, de Nossa Senhora do Amparo e a Basílica do Sagrado Coração de Jesus. 
          Diamantina (foto acima de Giselle Oliveira) respira música. Pelos cantos e becos diamantinenses, é comum encontrar grupos musicais tocando em público. A culinária é genuinamente mineira com restaurantes que servem a melhor cozinha de Minas, bem como os pratos preparados pelos cozinheiros locais que são extremamente criativos na arte de cozinhar. 
Serro 
          De Diamantina vamos para o Serro (na foto acima do Vinícius Barnabé), famosa por seu queijo, Patrimônio Imaterial de Minas Gerais, reconhecido pelo IEPHA e também, Patrimônio Imaterial Nacional, reconhecido pelo IPHAN. Serro fica apenas 90 km de distância de Diamantina e a 325 km de Belo Horizonte. 
          Sua origem começa em 1701. Já em 1714 era elevada a categoria de Vila. É uma das mais antigas povoações de Minas Gerais. Por suas ruas, praças e becos, a herança do Brasil Colonial se faz presente. 
          Cidade charmosa, rodeada por belíssimas paisagens morros, serras, cachoeiras e rios, oferecendo aos visitantes, além de sua história contatada em suas igrejas e casarões dos séculos XVIII e XIX, a oportunidade de conhecer paisagens incríveis como o Pico do Itambé e distritos pitorescos e apaixonantes como Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras.
Conceição do Mato Dentro
          Saindo do Serro, nosso destino é Conceição do Mato Dentro (na foto acima de Nacip Gômez), distante apenas 64 km do Serro e a 167 km de Belo Horizonte. Sua origem é no início do século XVIII, sendo o arraial elevado a Freguesia em 1724 e a município em 1842.
          É uma charmosa cidade histórica, com belezas arquitetônicas do Brasil Colonial preservadas, como seu casario histórico, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Igreja do Rosário, a Igreja de Santana, o Santuário Bom Jesus de Matosinhos, a Capela do Senhor dos Passos a Casa da Cultura. (fotografia acima de Nacip Gômez)
          Se destaca ainda os charmosos distritos destacando o distrito de Brejeúba, Tabuleiro do Mato Dentro e Córregos. Conceição do Mato Dentro se destaca por suas belezas naturais e várias cachoeiras paradisíacas, entre elas a maior cachoeira de Minas e a terceira maior do Brasil, a Cachoeira do Tabuleiro, com 273 metros de queda.
Santana do Riacho e Catas Altas 
          Saindo de Conceição do Mato Dentro, a 225 km de distância, pela MG 10, passará por Santana do Riacho (na foto acima da Sila Moura), a porta de entrada para a Serra do Cipó. Santana do Riacho é uma pequena cidade, com uma gastronomia maravilhosa e na Serra do Cipó tem Lapinha da Serra, um dos mais belos distritos mineiros. Dê um pulo lá, é pertinho.
          Depois de conhecer Santana do Riacho, é hora de seguir rumo com destino a Catas Altas (na foto acima de Elvira Nascimento), distante 120 km de Belo Horizonte. 
          É uma das mais antigas cidades históricas de Minas Gerais e de grande importância cultural para o Estado, já que no município está o Santuário do Caraça e a cidade tem forte tradição gastronômica. (na foto abaixo abaixo da Luciana Silva, os jardins do Santuário do Caraça)
          Desde o final do século XIX é produzido vinhos em Catas Altas. No início foram os vinhos tradicionais, feitos com uva. Como a jabuticaba era uma fruta abundante na região, a uva foi aos poucos sendo substituída pela jabuticaba. Hoje o vinho de jabuticaba de Catas Altas é uma das mais tradicionais bebidas de Minas Gerais.
          A história de Catas Altas começa em 1703, sendo freguesia, distrito e cidade emancipada apenas em dezembro de 1995. Seu conjunto arquitetônico barroco em torno da Praça Monsenhor Mendes (na foto acima do Nacip Gômez), sua igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a singela Capela de Santa Quitéria e outros construções do período Colonial faz de Catas Altas uma das mais belas cidades mineiras. A pacata cidade, emoldurada pela beleza da Serra do Espinhaço, com menos de seis mil habitantes, foi cenário da minissérie da Rede Globo, exibido em 2019.
Santa Bárbara
          Pertinho de Catas Altas, apenas 15 km de distância e a 90 km de Belo Horizonte, está a cidade histórica de Santa Bárbara (foto acima e abaixo de Thelmo Lins)
          Sua história inicia-se em 1704 com a criação do arraial. Nove anos depois, em 1713, sua principal igreja, a Matriz de Santo Antônio tem seu início, sendo hoje um dos mais belos tempos do período colonial em Minas Gerais. 
          Nessa mesma época é formado Brumal, hoje distrito de Santa Bárbara, um dos mais importantes distritos do Estado, com um rico acervo cultural e arquitetônico. 
          O Largo do Brumal é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico Mineiro (IEPHA/MG), bem como a Igreja de Santo Amaro (na foto abaixo de Elvira Nascimento), construção típica mineira, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) 
          Na cidade pode se conhecer belíssimos casarões do período colonial, principalmente o casario colonial da Rua Rabelo Horta, suas igrejas, a sede da Prefeitura, o famoso Hotel Quadrado, a antiga cadeia, a Pharmacia Sant’Anna, que hoje é o Museu do Judiciário Municipal, o Chalé Barroco, a Casa da Cultura, a Casa do Mirante, a Casa do Mel, o Memorial Afonso Pena e os charmosos distritos de Brumal e Bateias.
De Belo Horizonte a Congonhas 
          De Santa Bárbara, nosso destino é Congonhas. Primeiro você vai passar por Lagoa Santa, uma bela e charmosa cidade que vale a pela dar uma passada para conhecer por exemplo a Gruta da Lapinha. Em seguida, o rumo é Belo Horizonte (na foto acima de Leandro Leal), nossa capital que fica a 110 km de distância apenas.
          Aproveita e visite um pouco a beleza da arquitetura eclética do início do século XX, presentes na Praça da Estação e Praça da Liberdade e as belíssimas igrejas de São José, Basílica de Lourdes e da Boa Viagem, na região Centro Sul da Capital. Bem no centro da cidade está o Parque Municipal, que é um verdadeiro museu a céu aberto e de beleza encantadora. 
          Partindo de Belo Horizonte, vamos para Congonhas, cidade histórica mineira, com origem no início do século XVIII, distante apenas 80 km.
          Congonhas era uma das cidades preferidas do Mestre Aleijadinho que deixou uma de suas mais importantes obras, os 12 profetas e a Santa Ceia, presentes no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, um conjunto arquitetônico e paisagístico formato por pelo Jardim dos Passos, constituído por seis capelas, uma igreja, um adro e em seu interior, a representação da Santa Ceia com imagens em tamanhos reais. (fotografia acima e abaixo de Luciana Silva)
          O Santuário é Patrimônio Cultural da Humanidade, reconhecido pela UNESCO em 1985, e um dos mais importantes patrimônios arquitetônicos de Minas Gerais. Obra foi iniciada em 1757 e concluída em 1875, passando nesse período por várias etapas em sua construção, com trabalhos de vários artistas, escultores e pintores, como Francisco de Lima Cerqueira, João Nepomuceno Correia e Castro e o Mestre Ataíde.
          Além do Santuário, a cidade é charmosa, tem um belo casario histórico e no seu entorno, tombados pelo IEPHA, estão a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Estação Ferroviária de 1914, as Igrejas de Nossa Senhora da Ajuda no distrito de Alto Maranhão, de São José Operário de 1817 (na foto acima de Luciana Silva), de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de Nossa Senhora do Rosário e a Romaria, são outros atrativos de Congonhas.
          Outro atrativo da cidade historia é o Museu de Congonhas, um dos mais modernos museus do país, único presente dentro de um sítio histórico, com seu foco na fé ao Bom Jesus do Matosinhos. A cidade oferece uma excelente gastronomia, ressaltando o Festival Gastronômico de Congonhas, realizado sempre em maio, um dos principais eventos gastronômicos do Estado.
Mariana 
          Nosso próximo destino agora é a cidade de Mariana (na foto acima de Fabinho Augusto), distante 72 km de Congonhas e 120 km Belo Horizonte. Foi a primeira vila a ser reconhecida como cidade e primeira capital de Minas Gerais. Sua origem é do século XVIII e no período do Ciclo do Ouro, foi a maior produtora de ouro no Brasil. O patrimônio histórico de Mariana é incrível. Uma história em cada detalhe. 
          A cidade é uma verdadeira escola de história a céu aberto, destacando a Praça Minas Gerais (foto acima do Nacip Gômez), a Praça Gomes Freire, o colégio Providência, a casa em que viveu o Mestre Ataíde, a Mina da Passagem, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, conhecida por catedral da Sé
          Um dos atrativos da catedral da Sé é órgão do século XVIII. É um órgão todo policromado, com 7 metros de altura e 5 metros de largura, construído em 1701 em Hamburgo (Alemanha), por Arp Schnitger (1648-1719), um dos nomes mais respeitados na história da fabricação deste tipo de instrumento em todo o mundo. 
          O órgão foi doado pela Coroa Portuguesa em 1753, como presente da Coroa portuguesa ao primeiro bispo da cidade, D. Frei Manoel da Cruz. No mundo, entre os órgãos Schnitger que existem até hoje, o de Mariana é um dos exemplares mais bem conservados e o único que se encontra fora da Europa. 
          Por fim, saindo de Mariana, de trem, nossa viagem termina em Ouro Preto. São apenas 12 km de trem, partindo da charmosa e atraente estação de Mariana (na foto acima de Arnaldo Silva) até a estação de Ouro Preto. É uma viagem emocionante e inesquecível. De Belo Horizonte até Ouro Preto são apenas 100 km. 
Ouro Preto
          Quem quer vivenciar na prática os ensinos teóricos de história sobre a história do Brasil, tem que vir a Ouro Preto. A cidade é um museu a céu aberto em cada detalhe. Tudo em Ouro Preto é história. Na cidade, a história do Brasil está presente em tudo, em casa canto, beco, rua, museu e igrejas ouro-pretanas. (fotografia de Peterson Bruschi/@guiapeterson)
          Fundada em 1711, primeira cidade brasileira a ser reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade em 1980, é uma das mais belas e importantes cidades históricas do mundo. De Ouro Preto saíram mais de 800 toneladas de ouro, enviado para a Coroa Portuguesa. Isso sem contar a extração ilegal de ouro e o que permaneceu na cidade, usado na ornamentação de construções, principalmente igrejas. (na foto acima de Peterson Bruschi/@guiapeterson, a Igreja de São Francisco de Assis)
          Em Ouro Preto foi construído o primeiro teatro no Continente Americano (América do Sul, Central e do Norte). Sua construção foi iniciada em 1746 e concluída em 1770, por iniciativa do Contratador português João de Souza Lisboa. Foi o primeiro teatro e atualmente é o mais antigo teatro em funcionamento em todas as Américas. (na foto acima e abaixo de Ane Souz)
          Em 1730, no início do ciclo do Ouro, a cidade contava com 40 mil habitantes. Já no auge do Ciclo do Ouro, sua população era de 80 mil habitantes, mais até que a cidade Norte-americana de Nova York, na época com 40 mil habitantes e São Paulo, que contava com oito mil habitantes nesse naquele período. Cidade que nasceu durante a riqueza do ouro e da cultura europeia, riqueza esta presente em suas suntuosas construções, principalmente nas igrejas, como podemos ver abaixo, na fotografia de Ane Souz, a nave da Igreja de Santa Efigênia.
          As igrejas de Ouro Preto são impressionantes, riquíssimas em detalhes arquitetônicos e ouro. Vale a pena conhecer a Igreja de São Francisco de Assis, considerada símbolo do Barroco Mineiro e também as igrejas de São Francisco de Paula, de Nossa Senhora da Conceição, de Santa Efigênia, de Nossa Senhora do Carmo, de Nossa Senhora do Pilar com quase meia tonelada de ouro ornamentando seu interior, de Nossa Senhora da Conceição, onde estão os restos mortais do Mestre Aleijadinho, de São José, de Nossa Senhora das Mercês e Perdões, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a Capela do Morro de São João, a Capela do Padre Faria, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, no bairro Cabeças e a Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia (na foto abaixo de Sônia Fraga). São impressionantes, riquíssimas em detalhes do nosso Barroco e histórias vivas do tempo do Brasil Colônia.
          Além das Igrejas, os museus são locais onde a nossa história de Minas e do Brasil são contadas numa riqueza de detalhes impressionantes, desde as construções a cada peça exposta. Os próprios locais onde estão os museus, são construções históricas e ricas em detalhes arquitetônicos e história, com destaque para o Museu da Inconfidência e a Casa dos Contos. Além desses museus, tem o Museu das Reduções, Museu do Chá, Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas, Museu da Música, Ludo Museu, Museu do Oratório, Museu Casa Guignard, Museu de Pharmacia, Museu de Arte Sacra do Pilar, Museu Aberto Cidade Viva e Museu Aleijadinho além do Museu do Ouro, onde são encontradas diversas pedras preciosas. 
          A história e a beleza de Ouro Preto vai além do seu perímetro urbano. Os distritos ouro-pretanos guardam relíquias impressionantes de nossa história. Os mais populares são Lavras Novas (na foto acima de Arnaldo Silva), Cachoeira do Campo e São Bartolomeu, a terra da Goiabada Cascão. Tem ainda Amarantina, Miguel Burnier, Glaura, Santo Antônio do Leite, Antônio Pereira, Santo Antônio do Salto, Rodrigo Silva, Engenheiro Correia, e Santa Rita do Ouro Preto.
          Ouro Preto respira cultura e arte todos os dias, o ano todo.
          Encerramos assim o nosso turismo por algumas das principais cidades históricas mineiras. Um passeio que vale a pena. 

A uva e as bebidas finas de Bueno Brandão

(Por Arnaldo Silva) Bueno Brandão é uma charmosa e encantadora cidade no Sul de Minas Gerais, a 1204 metros de altitude e 471 km de Belo Horizonte, fazendo divisas com os municípios de Ouro Fino, Monte Sião, Inconfidentes, Bom Repouso e Socorro no Estado de São Paulo. Seus poucos mais de 11 mil moradores vivem numa cidade privilegiada, rodeada por belíssimas paisagens naturais, e cachoeiras paradisíacas. O turismo ecológico é um dos destaques do município, além dos produtos artesanais, destacando vinhos de frutas, licores, geleias e cachaça produzidos no Sítio Asa Branca, do “Seu” Benedito, no bairro rural dos Fidêncios.
          O início foi em 2007 quando produtores se reuniram para plantar amoras. A produção do “Seu” Benedito foi muito grande. Sem ter um mercado para escoamento rápido de sua produção, optou por fazer vinhos com a fruta, produzindo inicialmente 200 litros de vinho de amora.
          O sabor, qualidade e a novidade, de um vinho feito com amoras agradaram, e logo “Seu” Benedito recebeu encomenda para produzir mais 1000 litros de vinho de amora.
          Percebendo que a iniciativa poderia prosperar e aproveitando a qualidade da terra dos seus quatro hectares que possui, investiu também no plantio de frutas diversas, como a framboesa, pitaya, figo, jabuticaba, pêssego, framboesa, café, além de outras frutas e cana. Foram plantadas também uvas tradicionais, das variedades Bordô, Isabel, Niágara Branca, Niágara Rosada e Jaquê, 
conhecida também por jaqué, jacquez ou jacquet é essa espécie da foto abaixo.
          O objetivo era produzir vinhos, licores e cachaça artesanais, de alta qualidade. Para chegar a esse nível, “Seu” Benedito procurou aprimorar seus conhecimentos em produção de frutas, vinhos, licores e cachaças, pesquisando e testando novas receitas. Com isso foi desenvolvendo identidades próprias para seus produtos, com receitas próprias, aprimorada ao longo do tempo, graças a seu esforço e busca da receita ideal, que identificasse seus produtos, como únicos.
          Assim nascia a vinícola Uva e Vinho Fidêncio produzindo hoje vinhos de mesa Bordô Seco; Bordô Suave e Bordô Demi-Seco; Rose Seco, Rose Suave e Rose Demi-Seco; Vinho Branco Seco e Vinho Branco Suave; além do Vinho de Amora Seco, Suave e Demi-Seco e vinho tinto de Jabuticaba.
          Na época da colheita das uvas para produção de vinhos, em caso de grupos chegarem ou marcarem horário, é liberado o processo de pisa natural da Uva pelos visitantes, que podem também conhecer o sítio e a produção dos vinhos, cachaça e licores, que embora seja artesanal, é feita com uso de máquinas industriais.
          Com as variedades de frutas que existem no sítio, são produzidos também licores de café, jabuticaba, amora, figo, pêssego, amora, além de geleias de amora, uvaia e uva.
          No Sítio Asa Branca também se produz mel e desse mel origina uma cachaça especial: a cachaça de mel. Não é cachaça com mel, mas cachaça de mel. É o mesmo processo de produção da cachaça com cana de açúcar, fermentada, mas no caso, o ingrediente é o mel, não tem cana na bebida. É uma bebida finíssima!
          Além da Cachaça de Mel, na vinícola é produzida ainda a cachaça tradicional, acrescida de outros ingredientes. Assim, são encontrados no sítio cachaça com mel, limão e gengibre; cachaça com cravo e canela; cachaça de banana e a cachaça Roxa Forte, que é uma bebida com gosto de café.
          No sítio é produzida também a Hidromel, bebida fermentada a base de água, leveduras e mel. Essa é a mais antiga bebida do mundo. Surgiu antes mesmo do vinho e da cerveja.
          Se gostou da Hidromel, em Bueno Brandão tem também a Lágrima da Uva, uma bebida extremamente fina, feita do néctar retirado do miolo da uva. No preparo é usado aguardente para parar a fermentação. A receita é um dos patrimônios gastronômicos de Bueno Brandão e tem inspiração na bebida portuguesa Jeropiga (não confundir com jurupinga). O resultado final é uma bebida saborosa, aromática, fina e com maior teor alcoólico que o vinho.

          Dando continuidade a sua criação, “Seu” Benedito resolveu criar uma bebida especial que homenageasse Minas Gerais e todos os mineiros. Pesquisou e criou um processo de produzir uma bebida a base de aguardente, com sabor diferente. Assim nasceu o Whisky Mineiro, uma cachaça madeirada. É a cachaça que passa por envelhecimento em três tipos de madeiras diferentes até chegar à cor e o sabor desejado.
          Bueno Brandão e uma cidade que te receberá de braços abertos. Cultura, história, gastronomia e paisagens deslumbrantes, além de oferecer aos visitantes restaurantes e pousadas aconchegantes. Bueno Brandão é muito além das cachoeiras.
Lembrete: Não é permitido o uso, consumo e aquisição de bebidas alcoólicas por menores. Beba moderadamente e se beber, não dirija.
As fotos são arquivos da Vinícola Fidêncio e informações foram repassadas pelo Douglas Coltri. Mais informações sobre a vinícola e Bueno Brandão, com Douglas Coltri no Departamento de Turismo: turismo.chefe@buenobrandão.mg.gov.br

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Diamantina: Guarda Romana e tradições

(Por Arnaldo Silva) Diamantina está a 292 km de Belo Horizonte, na região do Alto Jequitinhonha e se destaca em Minas por sua valiosa importância para a história de Minas Gerais. Em 1938, seu conjunto arquitetônico, do período colonial e imperial, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 1999 foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. 
A Guarda Romana
          Em Diamantina, as tradições religiosas, folclóricas e culturais são preservadas. Na Semana Santa, um dos destaque do evento religioso é a Guarda Romana. (foto acima e abaixo da Giselle Oliveira)
          Formada por cerca de 150 homens, a Guarda Romana sai às ruas de Diamantina, encenando os passos e paixão de Jesus Cristo. Usando escudos e batendo as alabardas (tipo lança), em marcha lenta, batendo fortemente os pés e alabardas no chão, numa coreografia e composição musical, que impressiona e emociona. 
          Por sua grande importância cultural e fé dos diamantinenses, a Guarda Romana é reconhecida como Bem Imaterial de Diamantina desde 2014. É um patrimônio valioso da cidade. (foto acima e abaixo da Giselle Oliveira)
A Festa do Divino Espírito Santo
          Outra festa de grande importância para Diamantina é a Festa do Divino Espírito Santo. Há mais de dois séculos, a cidade revive ainda uma das mais antigas tradições do Império. Tradição portuguesa, desde o século XIV, chegou à Minas Gerais, com os portugueses, durante o Ciclo do Ouro. Faz parte das tradições mineiras e principalmente em Diamantina.
          A Festa do Divino é realizada 50 dias após a páscoa cristã, com procissões e novenas dedicadas ao Espírito Santo. Nos dias de festa, os devotos vestem roupas coloridas, cantam, dançam e visitam as casas, recebendo doações e também doando alimentos e roupas, além de fazerem orações nos lares que visitam. (foto acima de Giselle Oliveira)
          É uma época de agradecimento por bênçãos recebidas, pela fartura na colheita e pela prosperidade conquistada. É comum os cristãos doarem alimentos e roupas aos pobres, nessa época.
          A festa é formada por um corte, comandada pelo Imperador do Divino, que com os dons do Espírito Santo, distribui bênçãos, liberta cativos e ajuda os mais necessitados. Com o Imperador, é eleita a Imperatriz, bem como os príncipes e princesas. Todos vestidos em trajes de época, de Imperador, imperatriz, príncipes, princesas e fidalgos. 
          Seguindo a corte, os súditos do Imperador do Divino, que com roupas coloridas, cantam, dançam e louvam a Deus e ao Espírito Santo. 
          Segundo a fé cristã, os apóstolos de Jesus Cristo, receberam os dons do Espírito Santo, que desceu sobre eles, em forma de uma pomba branca no dia de Pentecostes. Após receberem os dons do Espírito Santo, agradeceram, louvaram a Deus e se encheram de forças para disseminar o Evangelho.  
          A Festa do Divino e a figura do Imperador do Divino, era tão popular que, ao invés de Dom Pedro I ser coroado Rei do Brasil, foi coroado Imperador. A ideia de mudar o título real foi de Bonifácio Andrada, na tentativa de popularizar a figura de Dom Pedro I, comparando-o, com a figura popular que representava o Imperador do Divino.
          Em Diamantina, o Imperador e sua corte, da Igreja do Espírito Santo e segue, acompanhado dos grupos de Congadas, Moçabiques, Folias de Reis, etc, até a Igreja de São Francisco de Assis.
          Como na época do império, os súditos da nobreza, acompanhavam o cortejo da Corte e assim é na festa, onde o povo e grupos folclóricos, acompanham, com danças, cânticos, o cortejo, tento a corte real à frente. 
          É uma mistura de elementos religiosos da cristandade, com as tradições locais e elementos profanos da simbologia Imperial Brasileira, incorporados à festa.
          A Festa do Divino é uma das mais antigas tradições, não só de Diamantina, mas do Brasil. Como a Guarda Romana, a Festa do Divino Espírito Santo é registrada como Bem Imaterial de Diamantina, desde 2014.
Arraiolos e Vesperata
          Não só isso, o visitante encontrará em Diamantina os famosos tapetes arraiolos (na foto acima enviada pela Dirce da Assart). A técnica da tapeçaria foi trazida pelos portugueses no final do século XVII, quando chegaram à região em busca de ouro. Essa arte é preservada até hoje.
          Pelos becos e ruas de Diamantina o visitante encontrará cultura, alegria, história e música. A cidade tem uma vocação impressionante para a música que está presente o dia a dia do diamantinense. Um espetáculo imperdível é a Vesperata (na foto acima de Sérgio Mourão) que acontece no decorrer do ano, revivendo antigos sucessos da música brasileira, internacional e folclórica. 

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Afofar o arroz

(Por Marina Alves) Nem que eu vivesse mil anos, esqueceria a imagem de minha mãe “afofando” o arroz. No fogão a lenha, as chamas crepitando, a panela de ferro assentada na primeira boca da chapa, cozinhava vagarosamente o arroz. Sobre a boca da panela, um prato branco esmaltado que fazia as vezes de tampa... Também me lembro de ouvi-la explicando que, tampado com um prato o arroz ficava mais gostoso.
          Será mesmo que usar um prato pra tampar a panela faz o arroz mais gostoso? Não sei, só sei que aquele arroz era mesmo o melhor do Planeta Terra. Talvez não fosse só o prato, mas toda a ciência inconscientemente envolvida naquele ato amoroso de cozinhar. Aquela era uma operação, era um processo científico, experiências culturais que vinham de outros tempos, de outras cozinhas, de outros fogões...
          Fazer arroz pode até parecer fácil. Basta dizer que quando alguém quer diminuir os dotes de algum desafeto assim costuma se exprimir:
          — Fulana? Não sabe nem fazer um arroz!
          A verdade é que um arrozinho gostoso exige mesmo certa mão treinada, certa sabedoria, alguma malandragem... Como as que eu via na cozinha da minha casa na hora do almoço ou da janta.
          Cozinhar o arroz começava por acender as achas de lenha na medida certa: muito fogo o arroz não cozinha por dentro, fica encruado; pouco fogo, o arroz empapa, vira grude. A panela de ferro quando esquenta, esquenta pra valer. Então, há o risco de torrar em vez de refogar. Por isso, a importância da Física, Química, Biologia, Matemática e outras Ciências, todas essenciais na hora de cozinhar.
          Gordura de porco, sal e alho, água para o cozimento, elementos fundamentais para o feitura de um bom arroz — lembrando que a água vem em duas sessões: a primeira só para cobrir, e após um descanso obrigatório, a segunda pra finalizar. É aí a hora de “afofar”. Nesse ponto, entra o garfo em ação. Com a pontinha vai-se revirando lentamente, airando, deixando tudo levinho para que o cozimento finalize um resultado macio e soltinho.
           “Afofar” o arroz é a arte final da obra. Quando a panela sair do fogo, o prato-tampa for retirado e levantar aquela fumacinha, tudo indica que está pronto o arroz. Nesse caso, só falta mesmo cuidar do seu par, o velho e bom feijãozinho que tem grande chance de já estar borbulhando no caldeirão ao lado. E a couve fresca, buscada na horta e picada fininha? E a costela de porco apurada na gordura e bem tostada? Se estiverem por perto, aí que é mesmo bom demais!
          No mais, resta dizer que o mundo pode oferecer iguarias sem igual, nas gastronomias mais sofisticadas, mas um arrozinho “afofado” e um feijãozinho cozido na hora, de preferência acompanhados de outras possíveis “misturas”, sempre terão seu lugar na boa e tradicional cozinha mineira.
(Crônica de Marina Alves de Lagoa da Prata com fotografias ilustrativa da Conheça Minas)

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