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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Café de Espera Feliz se destaca no Brasil

(Por Arnaldo Silva) A cidade é tão charmosa quanto seu nome, Espera Feliz. Com cerca de 25 mil habitantes, faz parte do Caminho da Luz, antiga rota criada no século XVIII por tropeiros, religiosos e aventureiros. Esse caminho inicia-se em Tombos e terminando no Pico da Bandeira em Alto Caparaó MG, na divisa com o Espírito Santo.           
          A rota foi criada para ligar o Rio de Janeiro ao Espírito Santo, pelos caminhos das sinuosas montanhas mineiras. Esse é um dos atrativos da cidade que fica a 378 km de Belo Horizonte e faz divisa com Alto Caparaó, Carangola, Divino, Caiana, Caparaó, Dores do Rio Preto, na Zona da Mata Mineira. Sua altitude mínima é de 773 metros, mas rodeada por maciços rochosos e montanhas que elevam a altitude de mil até 1400 metros de altura. (na foto acima, a produtora de café, Silvana Teixeira Lacerda, do Sítio Forquilha do Rio, vencedora do Concurso de Cafés Especiais da Emater-MG 2019 - Foto: Arquivo pessoal)
          Ai que está o sucesso de Espera Feliz. Suas montanhas sempre cobertas por uma densa névoa e umidade, vai revelando, com o surgimento dos primeiros raios solares, o maior tesouro do município. O café de montanha. Espera Feliz faz parte da Região Cafeeira Matas de Minas.
          A terra fértil, a altitude e a umidade relativa do ar mais alta, são fatores que favorecem o cultivo de café de qualidade. Esses fatores fazem com que o grão permaneça mais tempo na planta, desenvolvendo mais propriedades e assim, melhorando a qualidade do café. (foto acima: Emater/Divulgação)
          Espera Feliz tem cerca de 100 produtores de cafés especiais, sendo a maioria de pequenos produtores em propriedades com menos de 20 hectares. São propriedades familiares, geralmente, envolvendo toda a família na colheita do café, que é feita de forma manual. Sendo também esse um dos fatores que ajudam a preservar a qualidade dos grãos, que passam a ser selecionados, já no momento da colheita. 
          O café é descascado, secado em terreiros suspensos ou de cimento e por fim ensacado. Sai de Espera Feliz em grãos direto para as indústrias da região que fazem o beneficiamento e distribuição do produto para todo o Brasil e exterior. (foto acima: Geremias Corrêa - In Memoriam)
          A preocupação dos produtores de café de Espera Feliz, em melhorar a qualidade do produto vem surtindo efeitos. De uns 10 anos para cá, com o apoio técnico da Emater MG, a qualidade dos grãos produzidos no município vem melhorando cada vez mais e transformando o município em referência na produção de cafés especiais no Brasil, arrematando as primeiras colocações seguidas em diversos concursos de qualidade de cafés pelo país. 
          As conquistas dos produtores de Espera Feliz vem coroar empenho, trabalho, investimento, persistência e dedicação em melhorar cada vez mais, produzindo um café de altíssima qualidade, sendo inclusive reconhecida por todo o país e pela Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), que reconhece o café de Espera Feliz como um dos melhores do Brasil.
A cidade          
          Além do café, Espera Feliz é uma cidade muito agradável, charmosa, com belezas naturais e urbanas, sem contar sua ótima rede hoteleira, com hotéis e pousadas aconchegantes, além de bares e restaurantes com comidas típicas mineiras e produtos artesanais do município. Vale lembrar que a cidade de Alto Caparaó, a porta de entrada para o Parque Nacional do Caparaó, onde está o Pico da Bandeira, é vizinha a Espera Feliz. (foto acima de Geremias Corrêa - In Memoriam)
          Ao vir a Espera Feliz, conheça o seu café, as fazendas, as montanhas, a cidade. Vivencie Minas Gerais!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

A história do Juquinha: o lendário guardião da Serra do Cipó

(Por Arnaldo Silva) Simples, alegre, sorridente, lendário e até enigmático. Este é o Juquinha da Serra do Cipó. Se não é o mais famoso, é um dos mais famosos personagens populares de Minas Gerais. Juquinha era tão cativante que foi imortalizado em duas estátuas, pela sua história de vida e amor pela Serra do Cipó. Imortalizado também no coração de quem o conheceu e mesmo pelas novas gerações, que se encantam com as histórias da vida do Juquinha. 
          José Patrício, esse era o seu nome. Juquinha era o apelido carinhoso e ele gostava de ser chamado assim. De origem bem humilde, vivia nas montanhas com seus dois irmãos. Sobrevivia colhendo flores que dava aos turistas em troca de roupas e comida. As vezes recebia moedas e sempre agradecia, tirando o chapéu e sorrindo para as pessoas. Era esse jeito simples que cativava as pessoas, tornando-o muito querido na região. (fotografia acima de Nacip Gômez da estátua do Juquinha na Serra do Cipó)
          Seu estilo vida isolado entre as montanhas, criava em torno de si lendas e histórias muitas das vezes exageradas. Uns diziam que ele já mamou em loba e que comia escorpiões. Falavam ainda que era imune a veneno de cobras, tendo sido picados dezenas de vezes e nada acontecido. Até sua idade era motivo de lenda. Muitos diziam que ele tinha mais de cem anos e que morreu duas vezes.Morreu uma vez e ressuscitou.

          Numa noite, seu irmão o encontrou deitado, com o corpo inerte e bem rígido. Seu irmão não sentiu pulsação e nem batimentos cardíacos, concluindo que o Juquinha estava morto. Prepararam o velório e com muita tristeza lá estava o povo, triste com a notícia, até que o Juquinha se levanta do caixão, deixando todos assustados e perplexos.(fotos acima extraídas de arquivos antigos dos anos 70. Não identificamos a autoria)
          Juquinha sofria de catalepsia, quando em crise a doença provoca enrijecimento dos músculos do corpo, dando a impressão de que a  pessoa está morta. Naquela época o conhecimento sobre essa doença era mais restrita aos círculos médicos. O povo não entendia essas questões médicas e acreditava mesmo que ele tinha morrido e ressuscitado. Esse fato gerou mais lendas ainda sobre o Juquinha. Muita gente acreditava ser o misterioso ermitão da Serra do Cipó um ser imortal, enviado pelos deuses ou até mesmo um extra-terrestre que veio para cá.
          Sua vida foi cercada de mistérios e lendas, sua morte também. Faleceu em 1983, mas ninguém sabe informar com precisão o dia exato e nem sua idade verdadeira. Nem mesmo os parentes souberam dizer. 
          Mesmo após sua morte, o velho Juquinha deixou saudades. Era a alegria da Serra do Cipó e seu sorriso e simplicidade encantava a todos. Em 1987 os prefeitos de Morro do Pilar e Conceição do Mato Dentro encomendaram junto a artista plástica Virgínia Ferreira uma estátua do Juquinha. Assim foi feito e a estátua foi instalada numa parte alta da Serra do Cipó a 1 km da portaria da Capivara. Quem passa pela estrada, pode vê-la no horizonte, como podem ver na foto acima que eu fotografei de dentro do ônibus, na MG 010.
          Posteriormente, foi construída outra estátua do Juquinha na Rodovia MG 010, km 117, em Santana do Riacho (na foto acima, com Sila Moura), onde Juquinha é retratado na sua simplicidade, com flores nas mãos, dando boas vindas aos visitantes da Serra do Cipó. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

O segredo da cozinha mineira

(Por Arnaldo Silva) O segredo do sucesso da culinária mineira é simples. É o melhor lugar da casa. Tudo arrumado e bem organizado com muito amor, com muito carinho. Esse é o segredo que nós mineiros guardamos há mais de 300 anos na cozinha mineira. O amor pela nossa culinária. O amor em cozinhar. O amor por nossa comida. (na foto abaixo, de Marselha Rufino, o fogão a lenha do Santuário do Caraça em Catas Altas MG)
          Nossas receitas são populares, presente em todos os estados brasileiros e até no exterior, mas, quem experimenta a comida mineira fora do estado, percebe logo que não é a mesma coisa da comida feita em Minas. Constatação óbvia. Receita é receita em qualquer lugar do mundo, mas colocar amor, tradição, laços sentimentais e história, só em Minas. (foto abaixo de Sérgio Mourão)          
          Além de cores e sabores, nossa cozinha tem história. Em cada casa mineira, em cada fogão a lenha, em cada horta de um quintal, em cada receita anotada no caderno, tem emoção, tem laços de família, tem uma história, tem o prazer de cozinhar, tem um sabor único. E esse sabor único, se encontra em Minas, há mais de 300 anos. (foto abaixo de Rosane Vidinhas)          
          Broa de fubá, pão de queijo, vaca atolada, frango com quiabo e angu, taioba com costelinha, feijão tropeiro, mingau de milho verde, pamonha, farofa, doce de leite, ambrosia, carne moída com ora-pro-nobis, galinhada, joão-deitado, queijo, doce de figo, marmelada, goiabada, licores, geleias, bolos, biscoito, tutu de feijão e tantos pratos. De onde veio tanta receita? (foto abaixo de Arnaldo Silva)
          Pra saber temos que voltar ao tempo, lá pelo fim do século XVI e início do século XVII, com a chegada de bandeirantes e portugueses ao nosso território. Alguns pratos vieram com os portugueses e foram adaptados de acordo com os ingredientes que existia à época, como a ambrosia, o doce de ovos. 
          Outros surgiram por necessidade, como o pão de queijo, na tentativa de fazer pão numa terra que não tinha trigo, mas mandioca em abundância. Boa parte foi surgindo com a combinação de ingredientes, com a mistura do talento culinário oriundo das senzalas, das tabas indígenas e das cozinhas portuguesas. 
          Nossa cozinha é uma mistura de cores e sabores da cozinha africana, indígena e portuguesa. Por isso é única, deliciosa, cheia de cores, sabores, vida e emoções. (foto abaixo de Arnaldo Silva)
          O segredo da nossa culinária é preservar nossas receitas da mesma forma que 300 anos atrás. Mineiro torce o nariz para “invenções” em suas receitas. Agregar ingredientes, valores, isso e aquilo são uma afronta ao paladar mineiro. 
          As receitas são preservadas, valorizadas e valiosas para o mineiro. Ao longo dos séculos, novos pratos foram surgindo, mas modificar as receitas tradicionais, não, isso nunca. Nossas receitas não são simplesmente ingredientes e modo de preparo. São nossas emoções, nossas tradições, legado de nossas famílias e a isso, não se pode agregar nada e sim respeitar, valorizar e preservar. (foto abaixo de Arnaldo Silva)
          O segredo da cozinha mineira é o amor pelas tradições nascidas à beira de um fogão a lenha, com a família reunida, com muita prosa, cantoria, cigarrinho de palha, causos, cafezinho no bule, queijo, licores e quitandas alegrando esses momentos. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Os morangos SAT e o colhe e pague em Franceses

(Por Arnaldo Silva) O morango é uma das frutas mais apreciadas no mundo. Para a Botânica, morango não é uma fruta e sim uma hortaliça, um pseudofruto. A parte comestível do morango não é o fruto. O morango mesmo são aquelas sementinhas pretas revestidas por uma camada carnuda interna branca e vermelha por fora, conhecida como receptáculo floral, cuja função é proteger os frutos.
          O morangueiro (Fragata L.) é uma planta da família das Rosáceas, de origem Europeia, presente no mundo todo em cerca de 20 variedades. Segundo a Botânica, toda fruta surge após a fecundação, com o amadurecimento do ovário, que por fim se desenvolve em fruta, propriamente dito.   
          Com o morango esse processo natural de desenvolvimento de uma fruta não acontece, já que a parte consumida do fruto do morangueiro, não se desenvolve a partir do ovário da planta e sim a partir de um tecido de outras partes florais presentes em sua polpa. Sendo assim o morango é considerado um pseudofruto. O mesmo é o caso do caju, abacaxi e maçã, também, pseudofrutos.
          Independentemente da classificação botânica, se o morango é hortaliça, pseudofruto ou não, ninguém no mundo vai deixar de chamar morango de fruta e por sinal, uma das mais apreciadas frutas do mundo, junto com a uva. 
          No Brasil o fruto é cultivado em vários estados, principalmente em Minas Gerais, que é o maior produtor da fruta no país, respondendo por 65% da produção de morangos no Brasil.
          O morangueiro é um dos campeões no uso de defensivos agrícolas, pelo fato da hortaliça ser muito vulnerável a ataques de pragas e doenças. O uso de defensivos nas plantações diminui os nutrientes da fruta, bem como coloca os consumidores vulneráveis aos efeitos nocivos de agrotóxicos nos alimentos. 
          Esse cenário ruim para o consumidor vem mudando a cada ano, com o aumento da produção de morangos, cultivados sem uso algum de agrotóxicos, portanto, saudáveis e mais nutritivos.
          Por não conter agrotóxicos, esses morangos duram menos tempo que o convencional, mas com a vantagem de ter a polpa mais firme, mais doce e mais avermelhada. 
          Esse crescimento da agricultura sem veneno, principalmente em Minas Gerais, vem trazendo resultados significativos na economia mineira, por não ter gastos com os agrotóxicos, nem risco para a saúde de quem os produz, e vem ganhando a confiança do consumidor, que está adquirindo um produto de qualidade e saudável. Ganham todos. 
          É o caso de uma pequena propriedade no Sul de Minas, que iniciou sua plantação de morangos SAT (Sigla para Sem Agrotóxico, certificado que é concedido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária - IMA). O convencional usa defensivos químicos permitidos por lei. O orgânico usa adubos naturais produzidos na propriedade ou não, controlados por uma certificadora. O SAT utiliza produtos naturais e biológicos produzidos na propriedade ou não e não utiliza defensivo químico.
          As propriedades para usarem o sistema SAT têm que ter certificado concedido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), com renovação anual. O próprio instituto orienta os produtores como proceder para manter a produção natural, de acordo com as regras, sendo indicada também, acompanhamento e orientação de profissionais especializados, como agrônomos. O produtor deverá seguir as regras exigidas pelo IMA. 
          Uma dessas regras é não usar nenhum tipo de agrotóxicos na plantação. Durante o ano, os fiscais do IMA visitam as propriedades, colhem amostras das folhas, frutos e adubo para análises. Estando de acordo com as normas, não tendo, por exemplo, nenhum tipo de agrotóxicos, o certificado é mantido, caso contrário, é suspenso e o produtor tem prazo para se adequar as exigências para ter de volta o certificado SAT.
          Um dos exemplos da iniciativa de produzir morangos SAT é o Sítio Cedro Vermelho localizado em Franceses, distrito de Carvalhos MG, no Sul de Minas, esse sitio conta com a consultoria técnica na propriedade de uma empresa de São Paulo. 
          Os proprietários adquiriram cerca de três mil pés de morangos, da espécie Albion, importados da Espanha, sendo cultivados no sistema semi-hidropônico, onde a nutrição chega diariamente via gotejamento, essas mudas foram plantadas suspensas em calhas recicladas em uma estufa de 40mts x 9mts, cujo substrato foi feito com compostagem feita na propriedade, com esterco, calcário, melaço termo fosfato, muita matéria orgânica e palha de arroz carbonizada. 
          A grande vantagem do cultivo sem agrotóxicos é a qualidade, bem como produtividade do produto. Os morangos produzidos no Sítio Cedro Vermelho são saudáveis, maiores, chegaram de 70 a 80 gramas na primeira florada em setembro, época do morango. O que garante maior rentabilidade da fruta. São grandes, vistosos, bem avermelhados e pelo tamanho, a proprietária diz que seus morangos eram chamados de morango maçã. 
          O auge da colheita do morango se faz entre agasto e dezembro, mas por estar protegido na estufa e com adubação profissional são colhidos mensalmente 150 kg fora da época. 
Colhe e Pague
          Você conhece com certeza Pesque e Pague, e agora vai conhecer o Colhe e Pague.
          O Sítio Cedro Vermelho recebe visitantes que tem a oportunidade de ter uma experiência única no sul de minas. O visitante tem a oportunidade de entrar na estufa, colher os morangos que desejar, pesar e pagar. Ou seja, você mesmo escolhe e colhe o morango que irá consumir. O interessante é que os morangos são embalados, mas não em sacolas plásticas, mas em cestos artesanais de bambu, feitos por artesãos da região. 
          No sítio está sendo iniciado o plantio de árvores frutíferas. Já foram plantados 400 pés de mirtilo (blue berry), 300 de amoras e 200 de framboesas. Dentro das estudas, estão sendo plantados 26 pés de uvas sendo das variedades Niágara-rosa, Niágara-branca e Uva Itália sem sementes, juntamente com os morangos. Com o passar do tempo, os pés crescerão e darão sombra para os morangos nos dias de verão. 
          Além das frutas, os visitantes podem adquirir compotas, doces, sucos, polpas, morangada, licor e geleias feitos com morango, em cozinha com fogão a lenha. 
Para visitar o Sítio Cedro Vermelho, entre em contato com a Mônica Rodrigues pelo Whatsapp 35 9 9805-2287 ou pelo email: monicarodrigues1605@gmail.com
Como chegar ao Sítio Cedro Vermelho? 
          Chegando à Carvalhos, pegue a estrada para o distrito de Franceses. São 12 km de estrada de terra, mas bem conservada. Já no distrito, encontrará placas de sinalização apontando o caminho para chegar. São apenas 800 metros do povoado.
          Carvalhos MG fica no Sul de Minas e tem menos de 5 mil habitantes, com trilhas, picos e lindas cachoeiras, como esta abaixo, da Estiva, a mais conhecida na região. Faz divisa com os municípios de Aiuruoca, Seritinga, Liberdade, Bocaina de Minas, próximo às divisas de Minas com o Rio de Janeiro e São Paulo. (na foto abaixo a Cachoeira dos Franceses)
Distância de Carvalhos às capitais:
De Belo Horizonte a Carvalhos são 390 km via BR 267 e BR 040 Do Rio de Janeiro a Carvalhos são 272 km via BR 116
De São Paulo a Carvalhos são 367 km, via BR 316
Por Arnaldo Silva com colaboração e fotografias de Mônica Rodrigues

São João Del Rei: turismo e a linguagem dos sinos

(Por Arnaldo Silva) De um simples arraial em 1704, a uma das principais cidades de Minas Gerais com mais de 90 mil habitantes atualmente. Assim é São João Del Rei, cidade na Região do Campo das Vertentes, distante 200 km da Capital. A cidade alia história, tradição e cultura com o charme das pequenas vilas coloniais mineiras do século XVIII e início do século XIX, o glamour da arquitetura eclética do final do século XIX e início do século XX e o modernismo do final do século XX e início do século XXI.
          Andar pelas ruas estreitas de São João Del Rei, calçadas com pedras, perceber a beleza, cores e o estilo barroco mineiro, do século XVIII, inconfundível em sua arquitetura, bem com suas igrejas centenárias, é um sentimento de volta ao passado. Saindo um pouco do Centro Histórico, pode se conhecer a beleza dos casarões em estilo eclético, do final de século XIX, para o início do século XX. Esse estilo surgiu na França e mescla o barroco, com o modernismo do início do século XX. (fotografia acima de César Reis)
          A mistura da arquitetura barroca com a eclética e a modernista, faz de São João Del Rei um perfeito cenário de cores e emoções, marcados por épocas diferentes, tão bem a mostra em seus detalhes, cores vivas e história. 
A terra onde os sinos falam
          O toque e repiques dos sinos das igrejas de São João Del Rei é uma das maiores tradições mineiras. Em São João Del Rei o toque dos sinos simboliza fielmente essa tradição que chegou à cidade pelas mãos dos portugueses, no início do século XVIII, há mais de 300 anos.
          Na cidade conhecida como a "terra onde os sinos falam", os sinos das igrejas tem linguagem e toques próprios, de acordo com cada festividade religiosa ou mesmo para alertar a população para algum problema como incêndios. Pelos toques dos sinos, sabe que tipo de solenidade será celebrada e inclusive, onde. Cultura secular preservada pelos sineiros da cidade que os moradores conhecem e entendem muito bem essa linguagem. Saberes que vem de gerações. (na fotografia acima de Limoncino Oliveira, sineiro tocando sino em São João Del Rei)
          São 3 ou 4 toques por dia que pode ser às 12, 15 e 18 horas e ainda, após as missas ou para anunciar o falecimento de alguém da paróquia, parto, posse de irmandade, Natal, Ano-Novo, das chagas ou morte de Jesus, agonia, passos da paixão, cinzas, finados, a hora do Ãngelus, etc. 
          Para cada ocasião e situação, toques com linguagens diferentes. Os moradores da cidade entendem muito bem a linguagem de cada toque, embora os sineiros sigam a linguagem tradicional e secular dos sinos, os sineiros tem liberdade para desenvolver seus toques.
          O turista se encanta, se emociona, embora não conheça bem os toques e a linguagem dos sinos, que não é restrita apenas às igrejas, mas também em prédios públicos.
          Tão fascinante e sem igual que o Toque dos Sinos em Minas Gerais foi reconhecido como Patrimônio Imaterial do Brasil pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN), por representar a história e memória do povo mineiro.
          Além de São João Del Rei, o IPHAN teve como referência para o reconhecimento da linguagem dos sinos as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. O toque dos sinos nessas nove cidades mineiras é Patrimônio Imaterial Nacional desde 30/12/2009. (fotografia acima de César Reis em São João Del Rei MG)
Cidade bem estruturada e desenvolvida
          Ao longo dos mais de 300 anos da cidade, São João Del Rei evoluiu, cresceu e se desenvolveu, sendo hoje um polo comercial e educacional na região, além de ser uma das cidades mais importantes para o turismo em Minas Gerais. No século 18 a exploração do ouro era a principal atividade da cidade, hoje o ouro é outro. É o turismo. 
          A cidade recebe todos os anos milhares de turistas atraídos por suas tradições e beleza singular, arquitetura e história. Está sempre em movimento, sempre tem alguma atividade que agita esquinas, ruas e praças, movimentando a economia local, principalmente os ótimos hotéis, pousadas e restaurantes da cidade. O Carnaval é uma das principais festas populares com desfile de blocos caricatos pelas ruas históricas e muita alegria. (na foto acima de Deividson Costa, noturna da cidade)
Religiosidade
          A Semana Santa é uma das mais bonitas tradições religiosas de São João Del Rei, com todas as igrejas abertas para a visitação dos fiéis nessa época. Tem ainda apresentação da encenação da Morte e Ressurreição de Cristo e confecção de tapetes feitos com areia e flores, que decoram as ruas para a procissão da Semana Santa, bem como apresentações musicais, de canto e dança realizados no Largo São Francisco. No dia de Corpus Christi os tapetes coloridos cobrem as ruas num espetáculo de fé e arte. 
          As belíssimas igrejas dos séculos 18 e 19 com impressionantes trabalhos artísticos da época, com altares trabalhados em ouro, forros com pinturas representando cenas bíblicas impressionantes, são um dos maiores atrativos para os visitantes. As igrejas mais procuradas a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (1720), Catedral-Basílica do Pilar (1721), Igreja de Nossa Senhora do Carmo (1733) (na foto acima do Thelmo Lins), Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Bonfim (1769), Igreja de Francisco de Assis (1774) e também as Igreja do Senhor dos Montes, de Santo Antônio e Nossa Senhora da Piedade do Bom Despacho.
Arquitetura barroca, eclética e modernista
           Conhecendo mais São João Del Rei, encontramos a arquitetura moderna, em prédios, casas, praças, restaurantes, comércio, etc. São João Del Rei é a história antiga, viva, presente e moderna ao mesmo tempo.
          Ao andar pelas bucólicas ruas de São João Del Rei, percebe-se o silêncio e a paz que transmite. Esse silêncio guarda a magia daquele tempo quando, nós mineiros, lutávamos pela Independência do Brasil. Nos tempos da Inconfidência Mineira, a cidade, junto com a vizinha Tiradentes, foi ativa e importante na luta contra as forças da Coroa Portuguesa, tendo sido cogitada pelos Inconfidentes, ser a cidade a Capital de Minas Gerais, caso o movimento saísse vitorioso. (Fotografia acima de César Reis)
A Estação de Trem
          Para coroar a beleza e emoção de conhecer São João Del Rei, o passeio de Maria Fumaça é a “cereja do bolo”. (na foto acima de Matheus Freitas/@m.ffotografia, a Estação de Trem de São João Del Rei) 
          Ativa desde 1881 quando foi inaugurada por Dom Pedro II, faz o percurso atualmente até Tiradentes. São 12 km apenas, numa emocionante viagem de 45 minutos. Os passageiros embarcam na charmosa estação em São João Del Rei, sendo recebidos por figurinos trajando roupas de época e seguem até Tiradentes, uma das mais belas cidades mineiras.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Em Minas a sala é a cozinha

(Por Arnaldo Silva) A sala da casa do mineiro é a cozinha. A visita vai logo pra cozinha, sendo recebido com café, queijo, doces, licores, biscoitos, bolos e uma boa prosa. Se for a cinco casas de mineiro por dia, terá que tomar cinco cafezinhos e comer todas as quitandas que tiver, em cada uma delas. E não pode recusar porque para um mineiro, recusar um cafezinho ou suas quitandas, é uma ofensa. Tem que comer tudo.
          A cozinha geralmente fica lá no fundo da casa, simplesmente porque lá no fundo, fica o pomar, a horta, a mina d água e o galinheiro. Pela cozinha podemos ver as jabuticabeiras, abacateiros, cajueiros, limoeiros, goiabeiras, mangueiras, pequizeiros, laranjeiras e hortaliças. Era fácil sair da cozinha para colher chuchu, quiabo, couve, alface, tomate, abobrinha, salsa, cebolinha. Horta não pode faltar num quintal mineiro, principalmente de fazendas. Nas noites frias, folha de laranjeira, de hortelã ou de erva cidreira, erva doce ou funcho é colhido para fazer chás... Mineiro adora chás e tem prazer em cultivar plantas medicinais nos quintais.
          Na cozinha está o melhor da casa, o fogão a lenha. Era possível sentir lá da sala o aroma de casca de laranja e linguiças sobre o fogão. Ouvir o barulho da lenha queimando, sentir o cheirinho de café coado num coador de pano e um gostoso bolo de fubá assando na brasa do fogão.
          Na dispensa, ao lado da cozinha, tem rosca caseira, queijo fresquinho, doce de leite e goiabada, feitos no tacho para ofertar às visitas. Tinha também frutas, muitas frutas no pomar, era só colher.
          Os Doces Momentos da infância vêm da saudade do convívio com  avós, tios, pais e colegas. A comida estava ligada a tudo porque mineiro gosta de comer e de cozinhar. Minas é um prato cheio de delícias!
A primeira foto é em Vargem Bonita MG por Luis Leite. Segunda, também em Vargem Bonita, por Nilza Leonel. A terceira de Fernando Campanella em Pouso Alegre e a quarta, minha mesmo.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A Matriz de ouro de Tiradentes

(Por Arnaldo Silva) Com meia tonelada de puro ouro em obras de arte e ornamentos, a Matriz de Santo Antônio em Tiradentes é uma das mais belas, imponentes e importantes igrejas do Estado de Minas e uma das mais belas do Brasil não apenas pela arte em ouro, mas por sua história, riqueza arquitetônica e valor cultural para Minas e Brasil. (fotografia acima e abaixo de César Reis)
          Sua construção começou em 1710, tendo sido inteiramente concluída por volta de 1752. O seu interior impressiona pela beleza e riqueza dos detalhes das obras sacras esculpidas em ouro e pelas pinturas religiosas em surpreendentes molduras nos painéis laterais de 1737 e forros da igreja, que representa as Bodas de Cana e a Santa Ceia, de autoria de João Batista da Rosa.(na primeira foto os dois paneis laterais, abaixo, em destaque, a Santa Ceia, com detalhes para o brilho do sol na mesa. Fotos de César Reis). 
          As pinturas são magníficas e impressionantes! São seis altares em seu interior, destacando a impressionante capela-mor, esculpida no estilo do barroco joanino.  
          Construída sobre uma colina, onde pode ser vista a distância, a Igreja de São José (fotografia acima de Elvira Nascimento) é uma das mais bela e importante igreja para Tiradentes e Minas Gerais. Sua fachada, com ornamentação em estilo rococó, executada em taipa, tijolos e argamassa, é atribuída ao Mestre Aleijadinho.       
          Dezoito quadros emoldurados por folhagens em ouro, representando encenações bíblicas, ornamentam a nave e as laterais do interior da Matriz. (foto acima de César Reis) Não existe até o momento definição exata da autoria dos quadros. Pisando no assoalho feito em óleo de bálsamo, percebe-se vários números, número 1 ao 116.
Prática comum naquele tempo era sepultar pessoas dentro das igrejas, no caso, na Matriz de Santo Antônio, 116 pessoas estão enterradas. Cada sepultura com uma numeração. São pessoas de todas as camadas sociais da época, desde fidalgos, membros da irmandade local, religiosos a escravos. 
          No coro da igreja havia um pequeno órgão, que posteriormente foi substituído por outro órgão maior. (na foto do Peterson Bruschi - @guiapeterson) Foi feita a encomenda da parte mecânica de um órgão médio, em Portugal. A peça chegou a Tiradentes em 1788, dois anos depois. A parte de entalhe da caixa do órgão foi feita pelo entalhador Salvador de Oliveira e a pintura, por Manoel Victor de Jesus. A montagem do órgão, entalhe da caixa e pintura foram concluídos em 1798.
          Já no adro da Matriz, encontra-se um relógio que foi esculpido em pedra sabão em 1785, por Leandro Gonçalves Chaves. (na foto acima de César Reis) É uma das atrações do complexo religioso. Como não naquela época não existia relógios como hoje este relógio de sol da Matriz era a referência de tempo dos moradores de Tiradentes. 
          Se perceberem bem, em uma das torres da Matriz tem outro relógio, vindo de Portugal, em 1788. (na foto acima e abaixo de César Reis)
          Visitando Tiradentes, não deixe de conhecer a Matriz de Santo Antônio. As visitas são diárias, nos horários de 9h às 17 horas. 

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