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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Eira, beira e tribeira: o mito da divisão social pelo telhado

(Por Arnaldo Silva) Quem não tem eira e nem beira é o tipo que não tem onde cair morto. Essa expressão é bem antiga. Tem origens em Portugal, na Idade Média. Ao contrário do que costumamos ouvir, ver vídeos e ler em artigos afirmando que essa expressão “nem eira e nem beira”, e tem gente que acrescenta até “tribeira”, era a forma de divisão social entre pobres e ricos. 
          Na expressão original, Medieval, nunca foi esse o significado de “nem eira e nem beira”. Aliás, essa expressão de divisão social entre pobres e ricos se limitar a simples adornos em telhados é invenção brasileira, difundida por Guias de Turismo pelo Brasil afora. (na foto acima de Nacip Gomêz, detalhes no telhado de uma construção colonial em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto MG)
          Quem for para nossas cidades históricas e fazendas centenárias, se atente aos suntuosos palacetes, sobrados e casarões, com suas portas e janelas enormes, bem pintados, cômodos espaçosos e todos mobiliados com moveis entalhados artisticamente em madeiras nobres e até importadas da Europa. Isso porque seus proprietários tinham dinheiro, fazendas de gado e culturas diversas, minas de ouro e outras propriedades. Por isso tinham condições de construírem casarões, sobrados, palacetes e casas grandes de fazendas. (na fotografia acima do César Reis, uma rua da cidade histórica de Tiradentes com seu belo casario colonial com as ditas eira, beira e até tribeira)
          Agora, compare as construções dos ricaços medievais e coloniais, com as moradias dos colonos, trabalhadores e escravizados, ou seja, dos pobres em geral que trabalhavam para esses ricaços. Obviamente, não serão simples adornos nos telhados que dirá quem é pobre e quem rico. (na foto acima de@arnaldosilva_oficial, uma rua em São Bartolomeu, distrito colonial de Ouro Preto. Percebe-se a simplicidade das construções, suas portas e janelas, mas as casas tem as ditas eira, beira e tribeira no telhado)
Ostentação visível
          A ostentação dos ricaços do Brasil Colonial e Imperial eram visíveis, como, por exemplo, na quantidade de portas, janelas e cômodos dos casarões e sobrados. Quanto mais portas e principalmente, quanto mais janelas tinha um casarão, mais rico e poderoso era seu proprietário. Isso é fato. Compare as portas e janelas dos casarões coloniais com as casas simples do povo, do Brasil Colônia e Imperial.
          São construções suntuosas, imponentes e luxuosas com dezenas de portas e janelas, com nítida demonstração de riqueza, ostentação e poder para a época. Alguns tinham centenas de janelas como o casarão da Fazenda Santa Clara em Santa Rita de Jacutinga MG (na foto acima do Rildo Silveira)
          Essa imponente construção possui 365 janelas, uma para cada dia do ano, 54 quartos, 12 salões e 3 cozinhas, além de capela, torre com mirante, senzala e masmorra. Todos os cômodos mobiliados com os mais requintados e artisticamente bem entalhados móveis da época.
O que é eira e beira
          Para entendermos melhor essa expressão, temos que entender o que era uma eira e uma beira. A expressão sem eira e nem beira tem origem em Portugal, se popularizando no Brasil com a chegada em massa de portugueses.          
           Em Portugal, uma eira é uma parte do terreno de uma propriedade rural nas aldeias portuguesas, geralmente em frente a Casa Grande, em terra batida, lajeada ou cimentada. Na eira, cereais e grãos eram esparramados no chão, limpados, secados, por fim, armazenados e vendidos para consumo. Em outras palavras, é o mesmo que um terreiro, onde costumeiramente são secados grãos de café, arroz, feijão, etc. (na imagem acima do Sérgio Mourão/@encantosdeminas, temos uma eira ou seja, um terreiro de uma beira, para secagem de grãos, no caso, café)
          Para se ter uma eira, obviamente tem que ter uma beira. Em Portugal, uma beira era a divisão territorial desde a Idade Média até o século XVIII. As divisões em eiras foram substituídas posteriormente por comarcas e províncias. O país era dividido em seis beiras (Beira alta, Beira Baixa, Beira Litoral, Beira Interior e Beira Transmontana). Seria o equivalente a seis estados, hoje.
          Com a mudança para comarcas e províncias, beira continuou a existir, mas para definir extensões territoriais de cidades e aldeias portuguesas. No popular, eira passou a ser usada para definir os grandes donos de terras das cidades e aldeias portuguesas. Ou seja, quem possuía terras, com casa, bens e empregados, tinha uma beira.  Era o que chamamos hoje de grande produtor rural.
          Além disso, beira passou a ser o nome de uma extensão do telhado das casas que servia para proteger a casa da chuva, evitando infiltrações. Pelo menos essa beira, tanto pobre, quanto rico podia ter em suas moradas, já que são simples extensões de um telhado. As novas construções de hoje tem as beiras de fundo e laterais com calhas e a beira frontal, já nem existe, se transformou em varanda. (na imagem acima do Rildo Silveira, na Fazenda Santa Clara em Santa Rita de Jacutinga MG, podemos perceber a eira e beira no telhado. Tanto rico, quanto pobre, podiam ter esses detalhes no telhado)
          Portanto, quem tinha uma eira, que é um terreiro de secagem da produção da beira, uma propriedade rural, era rico, dono de casas, cavalos, gado, tinha vários empregados, etc.
          Como podem notar, a expressão portuguesa da Idade Média “fulano não tem eira e nem beira”, não tem nada a ver com adornos existentes nos telhados das casas do Brasil Colônia e Imperial. Essa expressão é portuguesa e não tem nada a ver com a explicação que são passadas por Guias e demais pessoas. Eira e beira nunca foi fator de divisão entre pobres e ricos. Essa “estória” que casa de rico tem eira, beira e tribeira e de pobre nem eira, nem beira e talvez uma tribeira, é só besteira.  
          Na real interpretação desse ditado popular, em Portugal, simplesmente significa que quem não tinha uma grande propriedade de terra e nem um terreiro para secagem de grãos, era pobre. Para ter eira e beira, obviamente, tinha que ser rico. Mas para ter fazer adornos decorativos no telhado, nem tanto.
Eira e beira e até tribeira no Brasil?      
          Há décadas que a “estória” que ricos construíam suas casas com eira, beira e tribeira e o pobre, sem eira e nem beira, apenas com tribeira, é contada, apresentada em vídeos, em artigos e reportagens como se fosse verdade e popularizou-se graças aos Guias de Turismo pelo Brasil. (na fotografia acima de Sueli Santos, um casarão colonial em Ouro Preto MG)
          Não é e nunca foi. Mesmo sem ter nenhum fundamento histórico e muito menos sentido, definir o status social de uma pessoa, baseado em simples adornos no telhado, é no mínimo questionável pelo mais simples leigo no assunto. 
          Existem dezenas ou até centenas de ditados populares em Minas Gerais, durante o Ciclo do Ouro, nos séculos XVIII e XIX e sempre ouvimos explicações dos Guias de Turismos sobre esses ditados. A ideia é mostrar como surgiram essas expressões. A maioria dos “guiados” desconhecem pouco a história, nem percebe que várias “explicações” dadas não tem lógica e nem fundamento histórico. Pior ainda, muitas dessas expressões já existiam em Portugal bem antes do descobrimento do Brasil.
          Tentam explicar o surgimento de expressões populares, superstições e senhas, com explicações duvidáveis, ao menos para quem não tem muita afinidade e pouco conhecimento de história. Além de não ter fundamento, criam outra que nem existem ou existiram.
          É a tal tribeira. Eira e beira sim, já mostrei acima, mas tribeira? Pesquisei em dicionários, livros de história e não encontrei essa palavra. Quem pode dizer o que é isso é só mesmo o inventor dessa palavra. A única definição que existe é a clássica dita pelos Guias de Turismo que tribeira seria a terceira camada mais alta, acima da eira e da beira. Mas na história real, essa palavra não era usada. Só mesmo quem criou essa palavra para explicar sua origem. (na imagem acima do Sérgio Mourão/@encantosdeminas, temos uma casa simples no Quilombo dos Bois, em Angelândia MG, com eira e beira e até com calha)
          Adornos em telhas para proteger a parede de infiltrações existiam e existem até hoje, sejam um, dois, três, quatro, cinco. Isso depende do projeto e do arquiteto. Só falta aparecer uma tetrabeira, uma pentabeira, hexabeira... Haja telhado! E lá vai eu inventando também. (na foto acima de Thelmo Lins, a sala da Fazenda União, do século XIX, em Belmiro Braga MG)
          Embora essa expressão falada no Brasil não tenha nada a ver com a expressão portuguesa original, quem não tem eira e nem beira significa hoje que é uma pessoa está é numa miséria danada ou na linha da pobreza mesmo. E nada a ver com adornos no telhado de casas.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A Vila do Príncipe do Serro Frio

(Por Arnaldo Silva) A povoação no que é hoje a cidade do Serro começou em 1701. No ano seguinte, 1702, o pequeno povoado passou a ser chamado de "Arraial do Ribeirão das Minas de Santo Antônio do Bom Retiro do Serro do Frio".
          Em 1714 o arraial é elevado a Vila pelo governador Brás Baltasar da Silveira, com o nome de Vila do Príncipe. Em 1720 é elevada a sede da comarca, com o nome de Serro do Frio e por fim, à cidade emancipada, em 1838, já com o seu nome atual, Serro. (fotografia acima de Nacip Gômez)  
          É uma das mais antigas povoações de Minas Gerais e uma das mais importantes cidades do Caminho dos Diamantes e Estrada Real, graças a sua história e as minas de ouro e diamantes que atraíram bandeirantes e portugueses no século XVIII.(na foto acima de Tiago Geisler, vista parcial do Serro) 
          A presença dos bandeirantes paulistas e portugueses deixou como herança uma arquitetura inigualável, simples, singela e muito rica em detalhes e história. A beleza de seu casario, suas belas igrejas, suas ruas traçadas no auge do Ciclo do Ouro, nos tempos do Brasil Colônia, impressionam pela riqueza dos seus traçados, bem como pela simplicidade da arquitetura colonial e barroca mineira.
          Famosa por seu queijo, de fama internacional, o Serro fica a 320 km distante de Belo Horizonte, no Alto do Jequitinhonha.  (foto acima de Tiago Geisler) Faz divisa com os municípios de Diamantina, Datas, Presidente Kubitschek, Sabinópolis, Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro, Couto de Magalhães de Minas, Santo Antônio do Itambé, Serra Azul de Minas e Rio Vermelho. Segundo o IBGE, 21.940 pessoas vivem no município atualmente.
          Além de sua riqueza arquitetônica e história, o Serro guarda tradições folclóricas e religiosas, preservadas há mais de 300 anos, bem como sua rica culinária, tipicamente mineira, como o pão de queijo, requeijão, doces e os pratos típicos mineiros e ainda o queijo do Serro, registrado como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais em 2002, pelo Iepha e Patrimônio Imaterial do Brasil, em 2008, pelo Iphan. (foto acima de Tiago Geisler o queijo do Serro e abaixo, a tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário)
          Pelos 1.217,645 km² do Serro, encontramos serras, morros, rios e cachoeiras, além de pitorescos e charmosos distritos, com um rico acervo arquitetônico, cultural e histórico. Dotados de uma beleza ímpar e uma simplicidade que impressiona, os distritos serranos são dotadas de uma paz e tranquilidade que somente as vilas mineiras proporcionam.
          O município do Serro é formado por pequenos povoados, comunidades quilombolas (na foto acima de Tiago Geisler, Mata dos Crioulos) como o Quilombo Baú, Quilombo Ausente, Quilombo Vila Nova, Quilombo Queimadas, Quilombo Fazenda Santa Cruz e pelos distritos de Milho Verde, São Gonçalo do Rio das Pedras, Mato Grosso, Monjolos, Três Barras da Estrada Real e Capivari. A cidade e alguns distritos, possuem ótima estrutura para receber os turistas como guias, hotéis e  pousadas.
Conheça os distritos do Serro:
Milho Verde
          O mais famoso distrito do Serro é Milho Verde. Uma pequena vila, charmosa, pitoresca, harmonizada pela simpatia e hospitalidade de seus moradores. Foi nessa localidade, entre os anos de 1731 e 1735, que nasceu Chica da Silva, escrava e mulher do Contratador de Diamantes João Fernandes de Oliveira. (na foto acima de Raul Moura, a Igreja do Rosário, um dos cartões postais de Minas Gerais)
          Milho Verde possui cachoeiras paradisíacas e paisagens encantadoras, bem como seu belo casario e suas belas igrejas como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres (na foto acima, de Raul Moura), onde Chica da Silva teria sido batizada. (na foto abaixo de Norma Bittencourt, a Cachoeira do Moinho)
Monjolos
          Também chamado de Pedro Lessa, o distrito de Monjolos, como é mais conhecido, é um pacato vilarejo, com todos os detalhes da simplicidade e tradição das pequenas vilas mineiras. Se destaca entre os distritos serranos por suas belas cachoeiras entre elas, a Carioca, Moinho de Esteira, Cascata do Carioca, Cachoeira do Pimenta e Lajeado que fica no povoado de Boa Vista de Lajes. Pinturas rupestres podem ser vistas em um sítio arqueológico, além da singular Pedra Montada, uma escultura natural, muito procurada pelos turistas.
São Gonçalo do Rio das Pedras
          Lembra mais um presépio por sua paz e tranquilidade que transmite. Rico em história e preservando festejos religiosos tradicionais que atraem sempre visitantes, o distrito é o recanto do sossego. Seu casario tem traços coloniais, bem preservados e suas belezas naturais, como várias cachoeiras, são de tirar o fôlego. (foto acima de Raul Moura) 
Mato Grosso
          A Vila Deputado Augusto Clementino, popular Mato Grosso, é um local de peregrinação e fé.(foto acima de Thelmo Lins)  A vila com sua igreja, praça e casario tem as características típicas das tradicionais vilas mineiras. Mas não tem moradores. As dezenas de casas do distrito ficam fechadas durante quase todo o ano. O casario só volta a ser ocupado no mês de julho, durante o Jubileu de Nossa Senhora das Dores, um dos mais tradicionais eventos religiosos da região. Em abril acontece na Vila a Festa do Padroeiro, na Capela de São Sebastião e em setembro, a tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário.
Três Barras da Estrada Real
          Seu casario colonial se destaca pela simplicidade e seu povo pela simpatia e hospitalidade. As belezas naturais do distrito, em conjunto com sua a calma e beleza arquitetônica é o lugar ideal para quem busca paz, sossego e qualidade de vida num só lugar. (foto acima de Raul Moura)
Capivari
          É um dos mais visitados distritos serranos. É em Capivari que está uma das mais belas cachoeiras de Minas, a Cachoeira do Tempo Perdido. É a porta de entrada para o Pico do Itambé, Parque Estadual criado em 1998, mais conhecido como o “teto do sertão mineiro”. Subindo até o topo do pico, são 2.002 metros. A beleza é impressionante! (foto acima e abaixo de Tiago Geisler)
          Um dos destaques de Capivari são as flores e seus coletores, o que garante o sustento de muitas famílias, sendo também um dos atrativos para os turistas que visitam Capivari. Além disso, a charmosa vila tem um belo e simples casario, com um povo carismático, bem simples e trabalhador. Dão valor enorme ao trabalho que fazem com a coleta de flores e seu artesanato, além de preservarem sua fé e tradições religiosas.
          O Serro te espera para uma visita. Na cidade o visitante pode contratar os serviços de guias especializados para poder conhecer melhor e aproveitar mais as belezas arquitetônicas, culturais, naturais e gastronômicas serrana. Caso queira mais informações, o telefone da Secretaria de Cultura e Turismo do Serro MG é (38) 3541-2754. (Fotografia acima de Tiago Geisler e abaixo de Nacip Gômez)
Como chegar ao Serro
Acessos MG-010, BR259, BR381, BR120
Horários de Ônibus de Belo Horizonte ao Serro:
- Via Curvelo - Diários, às 7 h; - Às sextas-feiras, às 7 e às 22:15 h; tempo de viagem: 6 h; Viação Serro.
- Via Serra do Cipó - Diários, às 6 e às 15 h; tempo de viagem: 6 h; Viação Serro.
- Serro-BH: Via Curvelo - Diários, às 15 h; - Aos domingos, às 13,20 e às 17 h; tempo de viagem: 6 h; Viação Serro.
- Via Serra do Cipó - Diários, às 6:15 h e 9,30 h; - De 2.ª a 6.ª, às 16 h;
- Diários, vindo de Rio Vermelho, por volta de 8 h; tempo de viagem: 6 h; Viação Serro. 
Mais informações de ônibus
- Rodoviária BH - ( 31 ) 3271-3000.
- Rodoviária Serro - ( 38 ) 3541-1366.
- Viação Serro - ( 31 ) 3201-9662 (rodoviária BH); ( 31 ) 3422-6690 (empresa BH).
- Saritur - ( 33 ) 3421-1196 (rodoviária de Guanhães); (31) 3479-4300 (empresa BH); ( 31 ) 3272-8525 (rodoviária de BH).
- Empresa São Geraldo - Tel: ( 38 ) 3531-3840 (Diamantina).

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

As cores vivas da arquitetura de Martins Guimarães

(Por Arnaldo Silva) Lagoa da Prata é um município da região Centro Oeste de Minas. Faz divisa com os municípios de Luz, Moema, Japaraíba e Santo Antônio do Monte. Distante 202 km de Belo Horizonte, tem acesso pela BR 262, entrando no trevo de Moema, pela MG 170.
          Segundo o IBGE, Lagoa da Prata conta atualmente com 52.165 habitantes. É uma das mais prósperas cidades do Centro Oeste Mineiro, com uma ótima estrutura comercial e industrial contando com um variado comércio e indústrias de médio e grande porte, além de ter forte vocação para turismo, principalmente de aventuras. (foto acima de @arnaldosilva_oficial)
          A cidade oferece atrativos turísticos naturais e de interesse ecológico como sua famosa praia, o Rio São Francisco, monumentos históricos e atividades eco turísticas praticadas na região, principalmente em seus distritos, sendo o mais procurado hoje, o Distrito de Martins Guimarães. (na fotografia acima de Rafael Robatine/Arquivo Sectur, vista parcial de Lagoa da Prata MG)
          O acesso ao distrito é pela MG 429. Até a vila, a estrada é toda pavimentada. As belezas do nosso cerrado estão presentes no distrito, além da beleza das correntezas do Rio Jacaré e 20 km de trilhas de Cerrado, o que atrai amantes de caminhadas e trilheiros. (foto acima de @arnaldosilva_oficial)
          Martins Guimarães não chama atenção apenas por suas belezas naturais. Sua história, arquitetura e seu colorido casario, lembra muito o estilo da arquitetura, cores vivas e vibrantes do casario da famosa ilha de Burano, perto de Veneza, na Itália. (na foto acima de autoria de Thelmo Lins)
          As belezas naturais de Martins Guimarães e sua bem conservada e atraente arquitetura, vêm atraindo atenção de turistas de toda a região do Centro Oeste Mineiro, e também do Brasil. A pacata e pitoresca vila, é dotada de um charme incrível! Martins Guimarães é a Burano brasileira! (foto acima e abaixo de @arnaldosilva_oficial)
          Na Vila e zona rural vivem cerca de 400 pessoas. A economia do distrito é movimentada pelas atividades agrárias, de pequenos comércios e uma fábrica de cosméticos, de médio porte, a Fashion. Seus moradores são simples, muito hospitaleiros, gentis e demonstram um amor e carinho enorme à comunidade em que vivem.
A origem do nome 
          A história de Martins Guimarães é bem interessante. Seu desenvolvimento se deu no início do século XX com a chegada da Estrada de Ferro Oeste de Minas, que ligava Belo Horizonte a Garças, distrito de Iguatama, no Oeste de Minas. A ferrovia foi aberta entre 1911 e 1916, transportando carga e passageiros. A Estação de trem de Martins Guimarães, segundo os moradores, começou a ser construída em 1914 e inaugurada em 1916. (fotografia acima de Marcos Pieroni)
          O responsável pela obra foi o engenheiro José Francisco Guimarães Filho, mais conhecido por Martins Guimarães.
          Segundo dona Vanderléa Morais, que conhece profundamente a história da formação da vila, Martins Guimarães, contada por seu avô, hoje com 90 anos e lúcido, o engenheiro era holandês e usava dois nomes no Brasil. O original, holandês, muito difícil de falar, que nem ela e nem seu avô, lembram o nome. E o em português, Martins Guimarães, mais fácil de lembrar e de ser pronunciado, pelos moradores.
          O engenheiro fez carreira na Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB), deixando sua assinatura em diversas estações pelo Brasil. Martins Guimarães foi chefe de tráfego da EFCB, em 1892, posteriormente, chefe de linha, chegando a diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil.
          Em sua homenagem, a estação de São José dos Campos em São Paulo, recebeu o nome de Estação Engenheiro Martins Guimarães. (na foto acima do Marcos Pieroni, o Rio Jacaré que passa atrás do distrito)
          Em Minas Gerais, em Lagoa da Prata, a estação construída pelo engenheiro José Francisco Guimarães Filho, passou a se chamar, Estação Martins Guimarães, em sua homenagem, e por fim, todo o povoado, que cresceu em torno da estação, passou a ser conhecido por esse nome. (foto da foto da estação Martins Guimarães, na década de 1980)
        Antes da chegada da Estação de Trem em Martins Guimarães, o povoado já existia, bem pequeno. Cresceu com a chegada de várias pessoas e famílias, vindas de diferentes cidades da região, como o próprio avô de dona Vanderléa Morais, que veio, solteiro, de Santo Antônio do Monte, para trabalhar num comércio, fundado pelo italiano, Anielo Greco, na vila. (foto acima e abaixo de @arnaldosilva_oficial)
          Até os dias de hoje, o trem circula pelos trilhos do distrito, transportando somente cargas. O transporte de passageiros foi encerrado no início da década de 1990.
          Com a chegada do trem, a construção da Estação, bem como a venda, o povoado começou a crescer. Casarões em estilo barroco do século XIX começaram a ser erguidos e outros em estilo eclético, característicos do início do século XX. É uma vila tipicamente mineira, com toda beleza e simplicidade dos pitorescos e charmosos cantos de Minas Gerais. 
A união dos moradores pela comunidade 
          Com o fim do trem de passageiros, o distrito sofreu uma estagnação, se reerguendo com a instalação da indústria de cosmético Fashion e com a vinda novos moradores, principalmente de Lagoa da Prata, que começaram a construir casas no distrito para descanso de fins de semana ou mesmo fixar residência, já que a distância do distrito para Lagoa da Prata é de 30 km, com estrada pavimentada. (fotografia acima de @arnaldosilva_oficial)
          Percebendo a presença constante de visitantes e turistas, que vinham ao distrito para participarem de eventos religiosos e sociais em torno da Matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, vivenciar um convívio pleno com a natureza, sentir a calmaria e tranquilidade que somente as tradicionais vilas mineiras proporcionam, os moradores de Martins Guimarães sentiram a necessidade de melhorar ainda mais a vila. (foto acima de Marcos Pieroni)
          Foi com a união da comunidade que o distrito começou a sofrer mudanças, principalmente na recuperação do casario, que ganhou vida nova com cores vivas, sobressaindo à alegria e beleza do conjunto arquitetônico. (foto acima e abaixo de @arnaldosilva_oficial)
          Do mais chique casarão a mais simples casa, seus moradores foram incentivados a cuidar de suas residências, restaurando suas cores originais, melhorando sua calçada, cuidando de sua rua e de sua comunidade. 
          O resultado é uma melhor qualidade de vida para seus moradores e um aumento significativo de turistas. Como resultado imediato, houve um forte aquecimento da economia local, gerando mais empregos e impostos para o município. Está em fase final de construção uma pousada no distrito, bem como um restaurante, oferecendo mais opções aos turistas. (foto acima e abaixo de @arnaldosilva_oficial)
          A maior riqueza de Martins Guimarães é seu povo. Simples, hospitaleiros, gentis, dotados de um amor enorme por sua terra e não escondem nem um pouco a alegria de ver suas casas todas coloridas e sua comunidade bem cuidada. 
          Estar em Martins Guimarães é sentir toda a beleza vibrante das cores de cada casa e a alegria de seu povo. A sensação é de estarmos num cenário de novela de época, um lugar de sossego, de alegria, de encanto. Natureza, simplicidade mineira, arquitetura barroca e eclética. Simbiose perfeita! (foto acima de @arnaldosilva_oficial)
Reforma da Estação
          Uma das relíquias históricas de Martins Guimarães é sua antiga Estação de trem, hoje, abandonada. No local, enormes mangueiras dão sombra e frutos para seus moradores, mas o sonho de cada um que vive na Vila é ter sua velha estação restaurada. (acima, em 1990, com foto de Hugo Caramuru/Arquivo, quando ainda existia o trem de passageiros e abaixo, hoje, abandonada)
          Esse sonho pode estar perto de se realizar. Segundo os moradores, a Prefeitura abriu entendimentos com a Rede Ferroviária Federal, proprietária da Estação, para que o prédio seja reformado e possa ser usado pela comunidade. 
          Ainda está em fase de conversas, mas os moradores torcem por um final feliz e a comunidade possa ter sua estação toda restaurada, se tornando mais um atrativo para os turistas. (foto acima e abaixo de @arnaldosilva_oficial)
          A vila de Martins Guimarães, conta hoje com uma charmosa pousada, "O lugar", que serve café da manhã, almoço e jantar, o Barmazém (na foto acima) e tradicionais botecos, em frente a linha de trem, com bancos e mesas sob frondosas mangueiras. 

A restauração do Vapor Benjamim Guimarães

(Por Arnaldo Silva) O Benjamim Guimarães  estava esquecido, abandonado e deteriorando-se pela ação do tempo no porto de Pirapora, desde 2014, quando foram detectados problemas estruturais que comprometia a segurança dos usuários. (foto abaixo de Rhomário Magalhães)
          A solidão e inatividade do velho Benjamim Guimarães está encerrando e em breve o charmoso e nostálgico barco será totalmente restaurado e voltará a navegar em breve nas águas do Rio São Francisco.
          Em dezembro de 2019, através do Ministério do Turismo, foi destinado a verba equivalente a 3,7 milhões para restauração completa do barco, através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult), por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).
          Será uma reforma completa com substituição total do casco do vapor, tendo sido este o principal problema apontado pela Marinha para interditar o barco. Além disso, o motor será restaurado, bem como o seu mobiliária e a parte superior da embarcação, toda em madeira.
Início da reforma
          Após os trâmites burocráticos, finalmente, em 9/11/2020, começou a restauração do barco a vapor Benjamim Guimarães, com o barco sendo retirado do Rio São Francisco, onde estava ancorado e levado para a doca, onde serão feitos os trabalhos de restauração total do barco. Mas foi por pouco tempo. As obras paralisaram e o custeio da reforma foi assumida pelo Estado e Iepha MG e por para a Prefeitura Municipal, que é a proprietária da embarcação. (na foto acima e abaixo do Rhomário Magalhães, o início dos trabalhos e restauração do Barco Benjamim Guimarães)
          
O projeto completo de restauração do Benjamim Guimarães foi feito pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG). As obras serão executadas e custeadas pela Prefeitura Municipal de Pirapora, via financiamento pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
          Após atrasos no restauro, paralisações e burocracias, as obras de recuperação foram recomeçadas e segundo acredita a Prefeitura de Pirapora, a expectativa é que a reforma seja concluída ainda neste ano de 2024.
          Seguindo os prazos citados, o velho barco a vapor Benjamim Guimarães, estará navegando, completamente restaurado, pelas águas do Rio São Francisco, pelo menos no trajeto entre Pirapora a Barra do Guaicuí, na foz do encontra das águas do Rio das Velhas com o Rio São Francisco.
          Voltará em grande estilo pelas águas do Velho Chico e com novidades. A viagem no barco será voltada para o turismo e entretenimento dos passageiros. Além da tripulação, que estará vestida a rigor, o passeio contará com vesperatas e outras novidades, que irão proporcionar aos turistas, um passeio nostálgico, musical e muito atrativo.
A história do Benjamim Guimarães
         O barco foi construído no ano de 1913 pelo estaleiro James Rees & Com no Mississipi, Estados Unidos, chegou a navegar pelo Rio Mississipi antes de ser adquirido pela empresa da família do patriarca Benjamim Guimarães, na década de 1920, por isso o nome. (foto acima de Rhomário Magalhães, o Benjamim Guimarães na arte dos artesãos piraporenses)
          O Benjamim Guimarães foi trazido para Pirapora para navegar nas águas do Rio São Francisco, em viagens longas e continuas pelo rio e em seus afluentes, transportando passageiros e principalmente cargas. Saia de Pirapora no Norte de Minas, passando por várias cidades às margens do rio e ia até a Bahia.
          Com a ampliação da malha férrea para transporte de cargas e surgimento de estradas pavimentadas, bem como o aquecimento do mercado de venda de automóveis e caminhões, a navegação pelo Rio São Francisco começou a entrar em decadência e se tornando cada vez menos frequente como embarcação de transporte de cargas e passageiros, até parar a partir da década de 1970. Ficou por anos abandonado.
          A partir da década de 1980, o Benjamim Guimarães passou a fazer apenas viagens turísticas. Devido a sua importância cultural e histórica para Minas, em 1985, foi tombado como Patrimônio Histórico de Minas Gerais, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (IEPHA). Em 1986, já todo reformado e adaptado somente para viagens de turismo, foi reinaugurado com toda pompa em Pirapora MG.
          Com a reforma feita, Vapor passou a transportar 170 pessoas, entre tripulantes e passageiros. O barco possui três pisos: no primeiro, encontra-se a casa de máquinas, caldeira, banheiros e uma área para abrigar passageiros. No segundo piso, estão instalados doze camarotes e no terceiro, um bar e área coberta. Atingia a velocidade de 15 km por hora. Essa velocidade baixa permitia ao turista contemplar as paisagens pelo trajeto e aproveitar mais a viagem.   
          O combustível que movimenta o Vapor é simplesmente lenha. Consome um metro cúbico de lenha por hora, que faz com que o caldeirista tenha que abastecer constantemente a fornalha. É um trabalho duro, mas nenhum tripulante da embarcação reclamava. Todos tinham o maior prazer e orgulho em trabalhar no velho Benjamim Guimarães.  (foto acima de Rhomário Magalhães)
          O Benjamim Guimarães sempre foi a principal atração turística de Pirapora. Não há um morador da cidade que não tenha alguma lembrança, história para contar ou fotos do Benjamim Guimarães. Quando se fala em Pirapora, vem logo à mente, o barco navegando pelo Rio São Francisco. O vapor está incorporado à cidade, faz parte da identidade local e do povo que vive às margens do Rio São Francisco. É um cartão de Minas, orgulho do povo piraporense e mesmo se tornando apenas barco para turismo, ajudou a movimentar a economia local por décadas, já que o barco atraia todos os meses, centenas de turistas para a cidade.

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