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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Turismo na Rota do Queijo Mineiro

(Por Arnaldo Silva) Queijo corre nas veias do mineiro. Não tem mineiro que não goste de queijo. Tem até uma piada que diz que se um mineiro ver um queijo rolando morro abaixo, corre para pegá-lo, de tanto valor que dá a essa iguaria milenar. 
          O queijo em Minas é tão popular que em todos os 853 municípios você encontra pelo menos um queijeiro. E em alguns desses municípios, nossos queijos se destacam, tanto é que no recente Mondial du Fromage, considerado a Copa do Mundo dos Queijos, realizado em junho de 2023, em Tours, na França, os queijos brasileiros levaram 81 medalhas super ouro, ouro, prata e bronze. Das 81 medalhas, 57 foram para os queijos mineiros. (na foto acima do Lucas Rodrigues, o queijo Canastra da queijaria Queijo Dinho em Piumhi)
          O reconhecimento internacional e a valorização do nosso produto artesanal vêm incentivando produtores a buscarem o reconhecimento do selo de origem de seus produtos. Com isso, o povo mineiro e brasileiro vem ganhando com a oferta de queijos diferenciados, com texturas e sabores diversos, aguçando mais ainda o paladar dos amantes de um bom queijo. (foto abaixo é do queijo Canastra Roça da Cidade de São Roque de Minas)
          O sucesso dos queijos artesanais de Minas, no Brasil e no exterior, vem atraindo a atenção dos consumidores, não só para experimentar os nossos queijos, mas para conhecer as cidades onde são produzidos. É fato dizer hoje que a qualidade dos queijos mineiros não apenas aguçam o nosso paladar, mas principalmente, fomenta o turismo em Minas Gerais. 
          Queijo combina com a cultura, com a história e a tradição mineira. A receita do queijo mineiro tem três séculos de puro sabor. O sabor do queijo mineiro é único no mundo.
          Comer queijo no café, na sobremesa com goiabada, com doce de leite ou usar para fazer quitandas, é quase que um ritual presente nas cidades mineiras. O queijo faz parte da identidade gastronômica mineira.
          Pensando nisso, resolvi mostrar os nossos mais famosos queijos, não com o foco somente no queijo, mas nas cidades onde eles são feitos. Geralmente cidades pitorescas, ricas em história e cultura. Será um passeio gostoso. 
          Ficará surpreso em saber que queijo premiado e de qualidade em Minas, não se restringe apenas à região da Canastra e muito menos ao Queijo Minas, uma receita de queijo mineiro, mas é a única receita e muito menos o único tipo de queijo mineiro. Existem outras receitas, com vários tipos de queijos diferentes. Isso porque os nossos queijeiros se qualificaram, inovaram e criaram ou adaptaram receitas de queijos de outros países, ao modo de fazer queijo do mineiro. 
O Queijo do Reino de Santos Dumont MG
          Iniciamos nossa rota pelo Queijo do Reino da cidade de Santos Dumont, na Zona da Mata. Famosa por ser a terra do Pai da Aviação, Santos Dumont, mas também por seus queijos, famosos desde o século XIX, com destaque para o Queijo do Reino. O primeiro laticínio do Brasil, foi fundado em Santos Dumont, em 1888, a Companhia de Laticínios da Mantiqueira.
          A cidade tem forte tradição queijeira e produz o Queijo do Reino, desde 1850, ano que foi introduzido, o gado holandês. Com o gado, veio também técnicos holandeses, que ensinaram a fazer o famoso queijo Edam, com receita adaptada ao estilo e vocação mineira de fazer queijos. Inspirados no Edam, surgiu em Minas um tipo de queijo único, com identidade própria mineira. Por ser o queijo preferido do reino português, passou a ter esse nome, no Brasil. É um dos mais apreciados queijos mineiros e uma das maiores  referências gastronômicas de Santos Dumont MG. 
O queijo Cozido e o Cabacinha do Jequitinhonha
          Vamos seguir nosso roteiro viajando pelo Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas, onde é produzido o queijo cozido (na foto acima do Fabiano Versiani, o Queijo Serra do Bode, de Itinga MG). É diferente do queijo normal, que é feito a base do leite cru, coagulado naturalmente, aquecido no fogo e feito o processo normal dos queijos, é cozido, secado. É um queijo muito bom. 
          Outro queijo muito popular no Vale do Jequitinhonha é o Cabacinha, um dos queijos muito apreciados na região pelo seu sabor único, sabor este que vem conquistando o paladar de centenas de milhares de pessoas de outras regiões de Minas e do Brasil.
          Esse queijo é mineiro, mas sua origem é italiana. (foto acima de Sila Moura) Conhecido como Cáccio Cavalo, era feito do leite cru das jumentas, por povos nômades. Em Minas Gerais esse tipo de queijo teve a receita adaptada à região, já que não é costume nosso usar leite de jumenta. O nosso Cabacinha é feito com leite cru de vaca. 
          Uma das cidades que se destacam na produção do Queijo Cabacinha é Pedra Azul, uma das mais belas cidades históricas de Minas, além de celeiro de grandes artistas da arte e música mineira.(foto acima de Thelmo Lins) O casario de Pedra Azul, datado do início do século XX impressiona pela beleza eclética, no estilo francês e pela conservação. Além de Pedra Azul, o queijo Cabacinha é tradição em Medina, Cachoeira do Pajeú, Comercinho e Itaobim. Mas, dezenas de outras cidades do Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas produzem o Queijo Cabacinha. 
O Queijo do Serro e o charme  de Diamantina
          Já no Alto Jequitinhonha temos a cidade do Serro (na foto acima do Sérgio Mourão) e seu famoso e inigualável queijo do Serro, que dá nome a uma região queijeira composta pelos municípios de Rio Vermelho, Serra Azul de Minas, Santo Antônio do Itambé, Materlândia, Sabinópolis, Alvorada de Minas, Dom Joaquim, Conceição do Mato Dentro e Paulistas.
          É sem dúvida um dos melhores queijos do mundo, com várias premiações internacionais. Além do queijo, a cidade do Serro lembra as pequenas vilas portuguesas. É charmosa, bem cuidada, com casario bem preservado e manifestações culturais de grande importância para a cultura mineira, em destaque a Festa de Nossa Senhora do Rosário e a Bolerata. 
          Pertinho do Serro está Diamantina (na foto acima de Elvira Nascimento), uma das mais belas cidades históricas do Brasil, que além da seresta, da Vesperata e da sua impressionante arquitetura, produz azeite, vinhos e queijos. Diamantina tem tradição na produção de vinhos desde o século XVIII e também de queijos, tradição que chegou à cidade pelas mãos dos portugueses, durante o auge da exploração de diamantes. 
          Trouxeram sementes de uvas para a produção de vinhos e a técnica de fazer seus queijos preferidos. A nobreza e realeza portuguesa preferiam os queijos holandeses, em especial o Edam. Havia acordo entre Portugal e Holanda para troca de queijos holandeses por vinhos. E trouxeram a tradição de fazer queijos para Diamantina.
          Hoje, o município produz queijos e forma uma região queijeira, composta por 9 municípios no entorno de Diamantina, organizados na Asssociação dos Produtores de Queijos de Diamantina (Aprodia). Os queijeiros da região, em conjunto com a Emater, buscam o reconhecimento de Diamantina como região queijeira mineira.            
Os queijos de Montes Claros e Unaí
          Montes Claros no Norte de Minas e Unaí, no Noroeste do Estado são importantes cidades mineiras e pouca gente sabe que são grandes produtoras de queijos. Estive no Mercado Central de Montes Claros (na foto acima de Manoel Freitas) e pude provar seus queijos e o famoso requeijão moreno, que é até mais popular no Norte de Minas, que o queijo propriamente dito. 
          Conheci Unaí, a cidade do sol, do feijão e da bicicleta. A cidade é plana e facilita para quem anda sobre duas rodas. E tem queijo bom, mas bom mesmo, referência para a região. (foto acima de Raul Moura)
O Queijo do Vale do Rio Doce
          O Vale do Rio Doce tem forte tradição gastronômica em Minas e também, na produção de rapaduras, doces e queijos. Visitei duas cidades muito charmosas, com povo simpático e bem acolhedores, além das duas cidades serem muito bonitas, bem cuidadas e atraentes. Água Boa e Ipanema. (na foto abaixo do Sérgio Mourão, o Queijo de Água Boa MG)
          Água boa tem cerca de 14 mil habitantes. A cidade tem forte tradição gastronômica na região, se destacando de rapadura, doces diversos e na produção de queijos Experimentei os queijos de Água Boa, que tem a receita inspirada no Parmesão. São queijos ótimos e bons demais. É aquele tipo de queijo que deixa saudades e não resisti e trouxe duas peças do queijo da Fazenda Califórnia.
          Outra cidade importante na região é Ipanema. Com cerca de 20 mil habitantes, a cidade é tranquila, seu povo muito hospitaleiro e dotada de belezas naturais, além do charme da cidade, que é bem cuidada e muito atraente. Seu povo é muito religioso e preservas as tradições folclóricas e religiosas do povo mineiro, bem como, dotado de uma vocação sem igual para a arte de fazer queijos. Os queijos de Ipanema são destaques, no Brasil, não só pela qualidade, mas pelo peso, tamanho e imponência.
          É que a cidade realiza todos os anos a Festa do Queijo, que acontece nos primeiros dias de setembro. O evento, atrai gente de todo o país, com shows, comidas típicas da região, além de ser apresentado e servido ao público, o maior queijo Minas Padrão do Brasil, a maior queijadinha e o maior doce de leite também. Impressiona tanto que atraiu para a cidade os olhares do RankBrasil, entidade que registra e homologa recordes brasileiros.
          A cidade vem quebrando sucessivamente, ano após ano, seu próprio recorde. Para se ter ideia do tamanho do queijo e doces, no último evento, em 2019, o queijo Minas Padrão produzido pelo Laticínios Dois Irmãos, pesou 2.284 kg. Já o doce de leite feito pela Fábrica de Doces Nhá Nair, pesou 828 kg. Já a Queimadinha, feita pelo Laticínio Delbom, chegou a 1.150 litros. Impressionante e participar da festa, é um evento imperdível para os amantes dos queijos, doces e queijadinhas.
O Queijo do Vale do Aço
          Saindo do Vale do Rio Doce, parei no Vale do Aço. A região é industrial, destacando Ipatinga, Santana do Paraíso, Timóteo e Fabriciano. Mesmo com o desenvolvimento industrial, a região é uma forte produtora de queijos. Experimentei alguns tipos de queijos, esse ai da foto da Elvira Nascimento, produzidos em Ipaneminha, distrito de Ipatinga e atestei a qualidade dos queijos. Queijo com textura e sabor suave,  massa firme e alguns com resina e longa maturação, para mim os melhores. Gostei demais dos queijos do Vale do Aço. 
Os queijos do Campo das Vertentes
          Dessa região fui lá para o Campo das Vertentes, uma das regiões queijeiras de Minas. Minha primeira cidade foi São João Del Rei (na foto acima de Deividson Costa), uma das mais importantes cidades históricas de Minas Gerais e pra quem não sabe, produz queijos desde o século 18, já que no Ciclo do Ouro, com a vinda de milhares de portugueses em busca do ouro, trouxeram as receitas e o modo artesanal de fazer queijos europeus e introduziram na região. No início do século 20, São João Del Rei já era reconhecida como produtora dos melhores queijos do Brasil, sendo a cidade chamada carinhosamente de São João Del Rei dos Queijos, graças aos variados tipos de queijos produzidos na cidade como o Queijo Minas Frescal, o Prato Bola, Gouda, Estepe, Provolone, Camembleu, Brie e Emental. 
           De São João Del Rei fui para a vizinha Tiradentes e de lá Coronel Xavier Chaves, Resende Costa e Carrancas (na foto acima de Jerez Costa), a terra das cachoeiras e paisagens deslumbrantes. Em Carrancas tem o queijo Bicas da Serra, do produtor José Orlando Ferreira Júnior. É um queijo por excelência, de primeira.
          De Carrancas rumei para Barbacena, à famosa cidade das rosas e pra quem não sabe, também do queijo. Além dos tradicionais queijos de leite cru de vaca, o queijo que mais me chamou a atenção foi o de cabra, do produtor Luiz Carlos Oliveira, do Capril Santa Fé. Nunca tinha experimentado esse tipo de queijo, mas confesso que o sabor é maravilhoso, mais forte e mais picante que o queijo de leite de vaca, mas ótimo! Do leite de cabra são produzidos nesse capril os queijos Boursin, Frescal de Cabra, Feta (origem grega), Camembert de Chèvre (origem francesa) e o Camponês. Experimentei um pouquinho de cada um e o que mais aguçou meu paladar foi o Camponês, fresco e o curado, com maturação de 60 dias. (foto abaixo de Arnaldo Silva)
          No Mondial du Fromage na França, o queijo de leite de cabra Névoa Valençuai, do Capril Rancho das Vertentes foi premiado com medalha de ouro, bem como recebeu medalha de ouro no concurso estadual de queijos realizado em São Roque de Minas, em 2018 e também foi premiado no concurso nacional de queijos, realizado em São Paulo em 2017. O queijo é de excelente qualidade, com leite somente dos animais da propriedade e o mais importante, sem adição de produtos químicos ou conservantes. Um queijo saudável, muito nutritivo e de sabor inconfundível. Os amantes do bom queijo vão adorar o queijo de leite de cabra.
          Recentemente, cidades do Campo das Vertentes, Zona da Mata e algumas do Sul e Sudoeste de Minas, que fazem parte das Serras do Ibitipoca, passaram a integrar a rota dos queijos mineiros, com a criação da Região Queijeira Serras do Ibitipoca, composta por 15 municípios que são: Andrelândia, Arantina, Bias Fortes, Bom Jardim de Minas, Lima Duarte, Olaria, Passa-Vinte, Pedro Teixeira, Rio Preto, Santa Bárbara do Monte Verde, Santa Rita do Ibitipoca, Santa Rita do Jacutinga, Santana do Garambéu, Seritinga e Serranos. 
          Além contar com uma das mais belas paisagens mineiras, que formam o conjunto de belezas naturais das Serras do Ibitipoca, a produção artesanal de queijos foi reconhecida pelo Governo de Minas, integrando ao seleto grupo das regiões que produzem queijos artesanais com selo de reconhecimento, podendo com isso, comercializar seus produtos para o Estado de Minas e outros estados brasileiros.
Os queijos do Sul de Minas e Mantiqueira de Minas
           Do Campo das Vertentes peguei a estrada para o Sul de Minas. Uma região belíssima, com paisagens espetaculares, com forte presença de imigrantes europeus, como dinamarqueses, italianos, espanhóis, letões, alemães e outros povos, que para cá vieram. Os imigrantes deixaram um pouco de sua cultura e gastronomia, principalmente na produção de azeites, vinhos e queijos. 
          Na região predomina queijos tipos mozzarella, provolone, parmesão, brie, gorgonzola, golda e gruère. (a foto acima, queijos produzidos no Sítio do Morro em Alagoa MG)
           Um dos destaques na produção de queijos no Sul de Minas é a cidade de Cruzília, cuja empresa, Queijos Cruzília, se destaca no Brasil e no mundo na produção de queijos, com várias premiações nacionais e recentemente medalhistas em concursos internacionais de queijos como na Noruega e em Tours, na França, no Mondial do Fromage, além de várias premiações nacionais. 
          A Lenda, Azul de Minas, Reserva e Santo Casamenteiro são os mais premiados e famosos queijos da empresa. Eu destaco o queijo Santo Casamenteiro, adaptado de uma receita medieval, de monges portugueses. A receita portuguesa, adaptada ao clima tropical, o leite do nosso gado e o talento natural do mineiro para a culinária, produziu um queijo formidável, combinando um queijo de mofo azul com damasco, nozes e queijo cremoso, ideal para encontro entre amigos e casais apaixonados, acompanhado de um bom vinho tinto, claro. 
          De Cruzília o meu destino seria Aiuruoca, na Serra da Mantiqueira, integrante de uma das novas regiões queijeiras mineiras, a Terras Altas da Mantiqueira, formada pelos municípios de Aiuruoca, Baependi, Bocaina de Minas, Carvalhos, Itamonte, Itanhandu, Liberdade, Passa Quatro e Pouso Alto, recebendo a marca de comercialização “Queijo Artesanal Mantiqueira de Minas”. 
          Todas as cidades dessa região queijeira, são dotadas de belezas naturais e riqueza gastronômica impressionantes, principalmente a cidade de Aiuruoca que é um espetáculo! Além de mais de 80 cachoeiras, picos, paisagens e montanhas de tirar o fôlego, a cidade se destaca por uma rica gastronomia, com destaque para azeites e queijos. Quem for a Aiuruoca, deve experimentar os queijos da cidade, principalmente o queijo Mantiqueira, da Dona Lena, o queijo Goa e o Mantiqueira da Serra que é um queijo meia cura com manjericão (na foto acima do Elvio Rocha - enviada pelo Marlon Arantes).
          De Aiuruoca, o caminho a seguir é Alagoa, que pela tradição de sua famosa receita de queijo, inspirado no parmesão italiano, se tornou mais uma das regiões queijeiras de Minas Gerais. Não tem como deixar de conhecer a cidade e seus queijos. 
          Cidade, pacata, tranquila, com menos de três mil habitantes, mas com uma fortíssima tradição queijeira, com receitas guardadas desde o século passado, com a chegada de imigrantes italianos, que fizeram de Alagoa uma das referências em queijos no Brasil, principalmente o parmesão. Os queijos de Alagoa MG são reconhecidos nacionalmente e internacionalmente.
          Queijos da Fazenda Bela Vista (foto acima), do Renato e Queijos D´ Alagoa, do Osvaldo Filho, foram recentemente premiados no Mondial du Fromage na França com medalhas de ouro e prata, respectivamente. O Queijo D´Alagoa é atualmente o Queijo do Ano, premiado em São Paulo. 
          O sucesso dos queijos de Alagoa vem atraindo cada vez mais turistas para a pequena cidade. Além dos queijos, o visitante conhecerá também o azeite Prado & Vasquez, um dos melhores do Brasil, produzido na cidade. Alagoa é reconhecida como região queijeira de Minas Gerais, desde 2020, com o nome de Queijo Artesanal de Alagoa.
          Além dos queijos, as cidades que fazem parte Regiaõ Queijeira Terras Altas da Mantiqueira, oferecem azeites e café de altíssima qualidade como o produzido na cidade de Cristina (na foto acima de Sandra Walsh), reconhecido nacionalmente e no mundo todo como um dos melhores do mundo. 
Os queijos do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba
          Saindo do Sul de Minas, andei um pouco para chegar ao Triângulo Mineiro. A região possui cidades belíssimas como Frutal, grande produtora de Abacaxi, Uberaba, destaque em genética animal e capital do Gado Zebu. Uberlândia, uma das mais importantes cidades do Brasil, Araguari, grande produtora de grãos e outra dezenas de cidades belíssimas.
          No Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, estão as regiões queijeiras Cerrado e Triângulo Mineiro. A região queijeira Cerrado é compostas pelo municípios de composta pelos municípios de Abadia dos Dourados, Arapuá, Carmo do Paranaíba, Coromandel, Cruzeiro da Fortaleza, Guimarânia, Lagamar, Lagoa Formosa, Matutina, Patos de Minas, Patrocínio, Presidente Olegário, Rio Paranaíba, Santa Rosa da Serra, São Gonçalo do Abaeté, São Gotardo, Tiros e Varjão de Minas.
          Já a região queijeira com Triângulo Mineiro é composta pelos municípios de Estrela do Sul, Araguari, Cascalho Rico, Indianópolis, Monte Alegre de Minas, Monte Carmelo, Nova Ponte, Romaria, Tupaciguara e Uberlândia.
          Na vizinha Araxá (na foto acima de Arnaldo Silva), já no Alto Paranaíba, cidade com forte tradição queijeira produz um dos melhores queijos do Brasil, sendo inclusive, o nome, Araxá, uma região queijeira mineira, com IG e certificação de origem, composta pelos municípios Tapira, Pratinha, Conquista, Ibiá, Campos Altos, Perdizes, Pedrinópolis, Sacramento e Medeiros. 
          A cidade de Araxá se destaca na região por sua história, pelas das águas sulfurosas e radioativas, sua bela arquitetura urbana, pela história de Dona Beja, além da beleza natural, histórica e arquitetônica das charmosas cidades que formam a região queijeira em seu entorno.
          Os queijos Araxá estão entre os melhores queijos do mundo, sem exagero algum. Basta ver as premiações nacionais e internacionais conquistadas pelos queijos da região, entre elas, recentes premiações na França, no Mondial du Fromage, como o queijo Mineirinho, medalha de ouro e o queijo Serra dos Arachás, medalha de prata, no último concurso, realizado em 2019. Medalhas, além de certificados e reconhecimentos, não só em Minas e no Brasil, mas também no mundo, faz da região queijeira de Araxá, referência no Brasil em queijos finos.
          Prova da qualidade dos queijos Araxá, está na  Fazenda Caxambu, em Sacramento (na foto acima de Luis Leite). O queijo da Fazenda Caxambu foi medalha super ouro no Mondial du Fromage de 2017. Quando eu estive na cidade, experimentei e posso atestar o sabor único inconfundível desse queijo maravilhoso em tudo. O queijo feito pela Marli, dona da fazenda, mereceu a medalha super ouro e merece sempre. É o queijo que você come e não esquece nunca o sabor. 
          Na mesma região, pertinho de Araxá, fui até Serra do Salitre que é também umas das sete produtoras de queijos de Minas. Serra do Salitre é uma cidade encantadora e seu queijo, carrega com orgulho o nome da sua famosa serra, que deu origem ao nome da cidade e de seu mais famoso produto, o queijo. Agora também, deu nome a uma das mais importantes regiões queijeiras mineiras. Serra do Salitre também é marca de queijo de qualidade e tradição
           Trata-se de um queijo único, com textura e sabor característicos do clima da serra, por isso é único, não tem igual. Existem dezenas de queijeiros no município, cada um com um queijo mais gostoso que o outro. Difícil dizer qual o melhor. Mas eu vou arriscar a dizer, pelo meu gosto e opiniões de várias pessoas, os queijos feitos pela Dona Dina, pelo “Seu” Vanderlino e os queijos feitos pelo "Seu" João Melo, da foto acima/divulgação, são espetacularmente deliciosos! Seja o fresco, o meia cura ou o curado, de casca escura, vermelha ou amarela, são divinos, é pra comer rezando mesmo.
O queijo da Serra da Canastra 
           Terminando nosso roteiro, claro, o Queijo Canastra, mas antes de entrar nos detalhes dos queijos, vale esclarecer que na Região Oeste de Minas temos o Parque Nacional da Serra da Canastra. Dentro do parque há um enorme maciço rochoso com o formato de canastra, por isso o nome do parque. A popularidade do nome Canastra foi estendido como nome de uma região queijeira, chamada de Serra da Canastra ou simplesmente Canastra. 
          São sete cidades que formam a região produtora de queijos Canastra: São Roque de Minas, Vargem Bonita, Medeiros, Piumhi, Tapira, Delfinópolis e Bambuí. Somente esses sete municípios podem dizer que produzem queijo Canastra e os queijos Canastra vem embalados com o selo de Identidade Geográfica (IG) e certificado pelo Ima. Se comprar um queijo chamado Canastra e sua origem não for de uma dessas cidades acima, não é o legitimo Canastra. (na foto abaixo da Camila Costa, o Queijo da Cristina de Vargem Bonita MG)
          Além de ser considerado o melhor do Brasil, os queijos produzidos na Região da Canastra estão entre os melhores do mundo. Pra se ter ideia da qualidade do queijo produzido na Serra da Canastra, como falei acima, os queijos brasileiros levaram 56 medalhas no último concurso Mondial du Fromage, realizado na França. Dessas 56 medalhas, 50 foram para queijos mineiros e dessas 50 medalhas dos mineiros, 20 foram para os queijos da Serra da Canastra. É simplesmente impressionante!
          Quem experimenta o queijo Canastra sabe da qualidade e o sabor único desse queijo. Em lugar algum do mundo encontrará um queijo com o sabor do Canastra, graças às pastagens, manejo do gado, clima, água e altitude da Serra da Canastra. Esse é queijo! O sabor é único, não tem igual. Eu tive a oportunidade de provar o queijo Canastra do Ivair, de São Roque de Minas (na foto acima da Maria Mineira), medalha super ouro na França. 
          Experimentei ainda o queijo Canastra Real da fazenda Roça da Cidade, também de São Roque de Minas, medalha de prata no concurso de queijos na França. Um espetáculo de queijo. Outro queijo que conquistou meu paladar foi o queijo do Dinho (na foto abaixo do Lucas Rodrigues), de Piumhi, medalha de bronze no Mondial du Fromage. 
          Além desses queijos que citei, nas sete cidades que compõem a Serra da Canastra, você encontrará outras dezenas de produtores de queijo Canastra. Não só queijo, todas as cidades são lindas e terá o privilégio de conhecer a natureza exuberante da Serra da Canastra, bem como as cidades, pequenas, pacatas, tranquilas, com gastronomia rica e com um povo simples, hospitaleiro e super gentil. 
          E assim encerro a minha sugestão de roteiro pelas cidades produtoras do melhor queijo do Brasil. Não dá para mostrar todos os queijos de todas as cidades mineiras, são centenas, mas aos poucos, vamos divulgando os queijos mineiros em outras reportagens.
          Além do queijo, da rica gastronomia, cada uma dessas cidades tem história, tem cultura, tem tradição e tem belezas que vale a conhecer. Venha para Minas! Venha conhecer onde o melhor queijo do Brasil e um dos melhores do mundo são produzidos. Sejam bem vindos!

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

16 quitandas que não podem faltar no café mineiro

(Por Arnaldo Silva) Já viajei por todo o Brasil e no exterior, experimentei diversos tipos de cafés, mas confesso, nenhum é igual ao café de Minas Gerais. Pode ser a mesa mais requintada do mais luxuoso restaurante que não se compara ao mais simples café que o mineiro toma todos os dias. São tantas delícias que não tenho receio algum de dizer que o café do mineiro está entre os melhores do mundo.
          Um dos fatores que colaboram com essa visão não só minha, mas por todos aqueles que apreciam uma boa culinária, é a vocação do povo mineiro para preparar quitandas e pratos. (foto acima de Marluce Ferreira de Ipatinga MG)
          Essa vocação vem desde os tempos do Brasil Colônia. Por isso temos uma das cozinhas mais diversificadas do mundo. São tantos pratos que não dá para listar todos, só alguns. Essas 16 delicias mineiras não podem faltar de jeito nenhum no nosso café da manhã, da tarde ou a qualquer hora que a gente queira comer algo gostos demais. Vamos lá.
01 - Café no coador de flanela:
          Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil e o nosso café é sempre premiado, não só no país, mas no mundo, sendo considerado o melhor do Brasil e um dos melhores do mundo. (foto acima do Edson Artesão de Tiradentes MG) E bebemos café, e como bebemos. Um cafezinho não falta mesmo, ainda aquele coado em coador de pano, a beira do fogão a lenha. Esse é tradicional.
02 - Pão de Queijo:
          Essa é a identidade de Minas Gerais, uma das nossas mais famosas quitandas mineiras, presente sempre em nossa mesa. (foto acima de Nilza Leonel de Vargem Bonita) E aqui em Minas, o pão de queijo é de babar. Imagina saborear um pão de queijo com um delicioso café das montanhas mineiras? 
03 - Queijo Mineiro: 
          Esse não falta, dá vida, gosto e sabor a tantas outras quitandas mineiras que não dá para descrever quantas. (foto acima de Maria Mineira de São Roque de Minas) Mas é gostoso mesmo com café. Seja o popular queijo Minas Frescal, o Canastra, Queijo D´Alagoa, da Serra do Salitre, do Campo das Vertentes, do Triângulo Mineiro ou de Araxá, queijo é bom demais, e mineiro que não come queijo de Minas, sente falta porque queijo corre em nossas veias.
04 - Pãozinho de sal: 
          Não é uma iguaria mineira, mas o popular pão francês, que para nós é pãozinho de sal, está presente nas mesas do Brasil inteiro. Pãozinho de sal, com manteiga, café e leite. É o básico da manhã. E nós mineiros, como todo o brasileiro, adoramos esse básico delicioso!
05 - Bolo de fubá:
          Esse bolo tem 300 anos de tradição em Minas. Era assado numa panela no fogão a lenha, com uma chapa cheia de brasa por cima. Mesmo com todas as facilidades de hoje em dia, o mineiro não abre mão de sua tradição. Até hoje o bolo de fubá é feito como há séculos atrás. No lugar do fermento, bicarbonato, ovos caipira, fubá de moinho, açúcar e outros segredos. Não se usa farinha de trigo, como hoje, só fubá mesmo. O cheiro desse bolo exala pela casa toda. Ninguém resiste. Mas o bolo de fubá de hoje também é ótimo e nunca falta em nossa mesa. 
06 - Biscoito de queijo:
          Ah mas esse biscoito, junto com o pão de queijo não pode faltar no nosso café! Que biscoito bom é esse viu, feito em Minas, no forno a lenha, é pura covardia para o paladar. 
07 - Rosquinhas:
          Nas casas mineiras tem o dia de fazeção de quitandas, geralmente às sextas-feiras. Fazemos de tudo e dura para a semana toda. (foto acima do Edson Borges de Felício dos Santos)  As roscas e rosquinhas não podem faltar nunca. Tem rosca de tudo que você possa imaginar e com café meu amigo, você se esbalda. Ninguém consegue comer uma, quer comer todas as rosquinhas que estiver no tabuleiro. 
08 - João Deitado: 
          Muitos chamam de Pau-a-pique ou Cubu. (foto acima de Luci Silva de Desterro de Entre Rios MG) É mais popular como João-deitado. É um bolo com moldes feito à mão, em forma de pau, enrolado na folha de bananeira e assado. Olha, nos cafés da manhã ou da tarde na roça é uma festa. O sabor, o cheiro, o aroma suave e gostinho de saudade da cada da avó, são bons demais.
09 - Bolo de pamonha:
          A pamonha é uma sobremesa, mas também faz parte do nosso café. Tem a tradicional, cozida na palha e em forma de bolo. O gosto é o mesmo, só que ao invés de ser cozida é assada, com a folha do milho na forma para bolo. Experimentem que vão gostar demais! 
10 - Requeijão: 
          Eu não gosto desse requeijão que vem em copo, sem gosto. Nasci de uma família com forte tradição culinária. Produziam queijos e requeijão. Por isso sei a diferença. Requeijão caseiro, da roça, não tem igual. Seja o escuro ou o tradicional, cremoso ou de corte, no café, misturado ao pão ou biscoito, não dá para resistir.
11 - Bolo de cenoura: 
          Esse é antigo também e sempre está presente em nossas mesas. Hoje acrescentaram a calda de chocolate à receita tradicional. Ficou mais gostoso. Quem resiste a um bolo desses numa mesa de café? 
12 - Bolinho de chuva:
          Esse bolinho tem gosto de casa de avó, das tardes chuvosas na cozinha ouvindo as histórias que a mãe ou avo contavam, enquanto os bolinhos fervilhavam na panela de gordura sobre o fogão. Isso é bom, mas é bom mesmo. Não pode nunca faltar no nosso café. 
13 - Biscoito de polvilho: 
          Espirra? Mas é bom viu principalmente crocante e com café. Seja o doce ou salgado, esse biscoito nunca deixa de fazer parte de nosso café. Eu adoro esse biscoito frito salgado. Gosto também do biscoito de polvilho assado. Como o frito espirra muito óleo quente, o assado é o mais se faz. Mas o biscoito frito salgado, dá até água na boca. 
14 - Biscoito chapelão: 
          Esse biscoito é muito popular na região central mineira, é fácil de fazer e gostoso demais. Um só pra mim é pouco. Um biscoito desses ocupa uma forma de bolo inteira. Está vendo como eu gosto desse biscoito. Como dois ou três de chapelão sem problema algum. 
15 - Broinha de fubá de canjica: 
          Esse fubá é especial, quase ninguém conhece. (foto acima de Maria Mineira de São Roque de Minas) O popular é o fubá mimoso, mas o fubá de canjica é outra coisa. Vocês nem imaginam o quanto é deliciosa uma broinha de fubá de canjica no café. Só fazendo e experimentando mesmo. 
16 - Broa de milho: 
          Milho tem por todo o território mineiro e não só mingau de milho verde, pamonha e suco que fazemos com o milho. Fazemos broa de milho. Essa é a minha preferida e encerro com ela. Fazemos toda semana em casa. Sempre presente em nosso café. Café numa mesa farta é bom demais mas sinceramente, eu prefiro pegar uma caneca, ir para o curral, tirar o leite da vaca e beber na hora, quentinho. Isso que é café bom, gostoso. Levo também, bolo e biscoito. Ai né, é bom demais da conta mesmo! (a foto abaixo foi enviada pela Aline Marques de São João Batista do Glória MG)
          A culinária mineira é tão ampla que eu mesmo, conheço cerca de 200 receitas doces e salgadas. Não dá para listar todas, somente numa postagem. Mas com certeza, essas delicias citadas acima, estão presentes no nosso café, não tudo de uma vez, mas sempre presentes em nossas mesas. 

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

O Santuário do Caraça, os lobos e o tombo do Imperador

(Por Arnaldo Silva) O Santuário do Caraça é hoje uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, com conservação de âmbito federal, através da Portaria do IBAMA, nº 32, de 20 de março de 1994. Dos 11.233 hectares da área, 10.187,89 hectares são áreas de preservação permanente, graças ao empenho da Província Brasileira da Congregação da Missão, instalada no local desde o século XVIII, proprietária e mantenedora da área. O objetivo com a criação da reserva é proteger o valioso patrimônio natural do Santuário do Caraça.
          A área é uma transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado. Possui uma flora abundante, córregos e belas cachoeiras, sem contar a rica fauna local, com a presença de 79 espécies de mamíferos como o lobo-guará, onças, jaguatiricas, além de anta e outros animais nativos. (foto acima do Peterson Bruschi)
          No Santuário existe um maciço rochoso que lembra um rosto humano. Os antigos chamavam o rosto de caraça, uma grande cara. Por existir desde o século 18, a Província Brasileira da Congregação da Missão, com a presença de religiosos, a construção de um dos primeiros colégios do Brasil e um santuário religioso, a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, construído entre 1876 e 1883, sendo a primeira igreja em estilo neogótico do Brasil, passou a ser chamado de Santuário do Caraça. (Fotografia acima do Josiano Melo)
          Com a criação da Reserva, o nome tradicional e popular prevaleceu, sendo este nome reconhecido oficialmente em quatro de março de 2005, com título concedido pelo Arcebispo de Mariana na época, Dom Luciano Mendes. 
          O Santuário do Caraça fica em Catas Altas a 120 km de Belo Horizonte. É um dos mais famosos e procurados destinos de turismo ecológico e religioso em Minas. Todos os anos, cerca de 70 mil pessoas, de Minas, do Brasil e de vários países do mundo, visitam o Caraça, O lugar é excepcionalmente maravilhoso, numa comunhão perfeita entre a religiosidade e a natureza. Não é à toa que é chamado de “paraíso”. (fotografia acima de Alexandre Pastre)
          Por sua importância cultural, histórica e ambiental para Minas Gerais e o Brasil, existe uma campanha para tornar o Santuário do Caraça patrimônio cultural da humanidade, título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 
Dom Pedro II, o tombo e o jantar com lobos
          Recebido pelos alunos e padres, em visita ao Santuário em 1881, extasiado com tanta beleza, o Imperador Dom Pedro II, fez questão de deixar escrita essa frase: “Só a visita ao Caraça paga a viagem a Minas”. 
          Saudado em nove línguas pelos alunos, Dom Pedro II foi muito gentil com todos, fazendo questão de agradecer a saudação e receptividade que teve, presenteando o santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens com um vitral de cinco metros, retratando Jesus no templo entre os doutores. O vitral é um dos mais fotografados pelos turistas que vem ao Santuário do Caraça, bem como a pedra onde o Imperador escorregou e caiu ao chão. 
Estão lá gravados na pedra o dia e ano do escorregão do Imperador. (fotografia acima do Josiano Melo)
          Hoje, a vantagem de estar no Caraça é que você tem tudo num só lugar. Igreja, museu, natureza, restaurante e também, pousada. Tudo isso em cerca de 12 mil hectares de paisagens espetaculares e momentos marcantes de fé e a presença dos lobos na hora do jantar.
          A presença do lobo-guará no adro do Santuário do Caraça é uma imagem impactante, linda e impressionante. (na foto acima de autoria de André Laine)
          A história do lobo que come nas mãos dos padres corre o mundo e quem vai ao Caraça, não perde a oportunidade de presenciar essa impressionante cena.           
          Já é praticamente um ritual. Há mais de 35 anos, sempre na hora do jantar, os lobos aparecem para receber pedaços de carne oferecidos pelos padres. Isso na presença de turistas que ficam completamente extasiados e até perplexo com a cena. Muitos se emocionam. 
Como chegar ao Santuário do Caraça:
          Saindo de Belo Horizonte, siga pela BR 381 sentido Santa Bárbara e Catas Altas. Chegando no trevo de Santa Bárbara, observe a placa de sinalização. Não entrará na cidade mas aconselho a entrar e conhecer já que Santa Bárbara é uma cidade histórica linda, mesmo que por alguns minutos, vale a pena conhecer. (fotografia acima Marselha Rufino)
          Mas se não quiser entrar na cidade a partir de Santa Bárbara, seguir as placas de sinalização que são muitas e a estrada é asfaltada e em boas condições de tráfego. Os telefones do Santuário do Caraça, para informações sobre hospedagem e visitas ao Santuário são:(31) 3942-1656 (31) 98978-3180 (WhatsApp)

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Conheça o distrito de Tomás Gonzaga

(Por Arnaldo Silva) Boa parte dos povoados, vilas, distritos e até cidades mineiras, tiveram origem nas paradas dos tropeiros, pelos rincões de Minas. Vários povoados da Região Central Mineira serviram de base de apoio para os tropeiros que cruzavam Minas Gerais, a caminho de Diamantina e sul da Bahia.
          Numa dessas paradas de tropeiros, surgiu o povoado de Tomás Gonzaga, hoje distrito de Curvelo MG, importante cidade mineira, distante 168 km de Belo Horizonte. O município de Curvelo faz divisa com Cordisburgo, Corinto, Felixlândia, Inimutaba, Morro do Garça, Papagaios, Paraopeba, Pompéu, Presidente Juscelino, Santana de Pirapama e Santo Hipólito. (na foto acima de Leandro Leal detalhes do casario da vila)
          O distrito é uma das mais antigas povoações de Minas Gerais. A região é de terras férteis, com vários cursos d´água e fica no meio do Estado de Minas Gerais, por isso atraiu muita gente que veio à região para investir em fazendas. 
A origem
         Sua origem data de 1706 com a chegada de Martinho Afonso de Melo, que veio para a região lidar com gado e lavoura, adquirindo uma fazenda às margens do córrego do Papagaio, posteriormente vendendo a fazenda, Antônio Francisco da Silva. (na foto acima do Leandro Leal a Matriz de São João Batista e o casario da vila em seu entorno)
         Naquela época, as fazendas prosperavam rápido, casarões e igrejas eram construídas com a chegada de pessoas vindas de várias regiões para trabalhar e comprar terras. No final do século 18, o distrito era um dos mais importantes da região. Sua arquitetura, tradição e história conta boa parte da era colonial brasileira.
          Em 1714 a fazenda já era um povoado e passou a se chamar Papagaio até 1882, quando o povoado já em franco desenvolvimento, foi elevado pela Lei nº 2.905 a Freguesia de Nossa Senhora do Livramento do Papagaio.
         Em 1732, era construída a Capela de Nossa Senhora do Livramento, um dos marcos do povoamento da região. No entorno da capela, surgiram as primeiras casas da Vila. (fotografias acima do Leandro Leal)
          Em 1906, o nome do vilarejo foi alterado para Silva Jardim. Foi em 1931, que passou a se chamar Tomás Gonzaga, em homenagem ao poeta Inconfidente Tomáz Antônio Gonzaga. O motivo do porque da homenagem ao Inconfidente, autor dos versos para Marília de Dirceu, ainda é desconhecido.
A parada de tropeiros a ponto turístico
         Antes parada de tropeiros, hoje é parada para descanso e refúgio para quem busca sossego, tranquilidade e vivência com a natureza e simplicidade, bem como para quem quer conhecer um pouco da história do Brasil Colonial.
         O casario da vila é bem preservado, o povo é simples, hospitaleiro e recebe muito bem os visitantes. As ruas são calmas, tranquilas. Um local para quem gosta do sossego e de qualidade de vida. (o casario da vila, na fotografia acima de César Rocha e abaixo de Rodrigo Firmo/@praondevou)
          O distrito de Tomás Gonzaga está a 51 km de distância da sede, Curvelo, via BR-135, numa gostosa viagem em estrada de terra, pelas veredas do sertão mineiro. A região que faz parte do famoso circuito Guimarães Rosa, famoso escritor, nascido em Cordisburgo, distante apenas 45 km de Curvelo. 

A festa do Divino Espírito Santo em Diamantina

(Por Arnaldo Silva) A Festa do Divino Espírito Santo é, depois da Semana Santa, uma das maiores festas religiosas de Minas Gerais, sendo também uma das mais antigas tradições folclóricas e religiosas brasileiras, comemorada e preservada em Minas Gerais da mesma forma que na época do Brasil Colonial e Imperial. (fotografia abaixo de Giselle Oliveira)
          A festa chegou ao Brasil no século 17, nos primórdios da colonização do Brasil. Segundo o ritual, uma pessoa era escolhida como imperador do Divino, passando a ter as bênçãos do Espírito Santo, tornando-se pura e bondosa como uma criança, distribuindo alimentos, soltando presos políticos, trazendo fartura, paz e perdão ao mundo. Após a Proclamação da Independência, em 1822, Dom Pedro I, ao invés do título de Rei, como era normal na época, optou pelo título de Imperador, por orientação de José Bonifácio de Andrada, justamente inspirado no significado e na forte popularidade que o Imperador do Divino despertava em todo povo brasileiro. 
          Com mais de 200 anos de tradição em Minas Gerais, a cidade histórica de Diamantina (na foto acima de Giselle Oliveira), no Alto Jequitinhonha, a 292 km de Belo Horizonte, revive todos os anos a tradição da Festa do Imperador do Divino Espírito Santo. É a perfeita comunhão da fé com a preservação das tradições do Brasil Colônia e Imperial, vividas durante os três dias de duração da festa, que acontece geralmente no mês de junho. (foto abaixo de Giselle Oliveira)
          Pelas ruas de Diamantina o cortejo representando a Família Imperial, vestidos da mesma forma que à época do Brasil Colônia, representando o luxo e glórias de nossa história passada.
          A corte imperial é acompanhada por grupos de Congado e Pastorinhas, simbolizando a escolta do Imperador até a Igreja de Nossa Senhora do Amparo. Pelo caminho, o cortejo é reverenciado fogos de artifícios, palmas, sons de chocalhos e atabaques dos populares e pelos tambores da banda da Polícia Militar. (foto acima e abaixo de Giselle Oliveira)
           Quem conhece a Festa do Divino do Espírito Santo, em Diamantina, se impressiona com o extremo zelo de seu povo com a festa. Nenhum detalhe passa despercebido, principalmente na vestimenta, penteados e joias. Tudo revivido da mesma forma que nos tempos glamoroso da Coroa Portuguesa e do Império Brasileiro. (foto abaixo de Giselle Oliveira)
          É sem dúvida a mais autêntica e genuína manifestação folclórica e religiosa do Estado de Minas Gerais, devido a sua amplitude, simbologia e participação popular. 

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