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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Nhá Chica, Baependi e suas cachoeiras paradisíacas

(Por Arnaldo Silva) Baependi, uma charmosa e acolhedora cidade, no Sul de Minas Gerais, distante 330 km de Belo Horizonte, fazendo divisa com os municípios de Aiuruoca, Alagoa, Itamonte, Pouso Alto, Caxambu, Conceição do Rio Verde, Cruzília e São Tomé das Letras. O município conta atualmente com cerca de 20 mil habitantes.
          Sua origem é do século XVIII, quando da chegada à região Sul de Minas, de bandeirantes em busca de ouro. A cidade originou-se de um um pequeno arraial, que cresceu, foi elevado à freguesia e distrito, com a cidade sendo fundada oficialmente em 2 de maio de 1856. (fotografia acima de Carol Biancardi)
          Desde sua origem, a cidade se mostrou ter forte vocação religiosa. Em 1723, Baependi já era paróquia e desde essa época, a religiosidade de seu povo se tornou um dos marcos de sua história manifestados na Igreja de Nossa Senhora do Montserrat, datada de 1754, da Matriz de Nossa Senhora da Boa Morte, datada de 1815 e também a de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, datada de 1820, além do Santuário de Nossa Senhora da Conceição. (fotografia acima de Rogério Salgado)
          Devota da Santa, Nhá Chica frequentava esta igreja, tendo na escadaria da igreja, uma estátua em tamanho real da Beata. Por isso, o Santuário é mais conhecido como Igreja de Nhá Chica. Todas essas igrejas são tombadas como Patrimônio Histórico e Artísticos do município.
          A cidade é rica em valores culturais, arquitetônicos, históricos e espirituais, sendo a Beata Nhá Chica, o seu maior patrimônio espiritual, o que faz de Baependi ser conhecida como a cidade de Nhá Chica (Francisca de Paula de Jesus, nascida em Rio das Mortes, distrito de São João Del Rei MG em 1810, falecida em 14 de junho de 1895, em Baependi MG).(na imagem acima, colorização da única foto existente de Nhá Chica, feita por Rogério Salgado)
          Neta e filha de escravos, Nhá Chica foi uma leiga católica. Muito fiel às tradições religiosas, amável, carismática, bondosa e atenciosa com todos, era tida em vida, como santa. (fotografia acima de Vinícius Barnabé) Sua fama de santa continuou mesmo depois de sua morte, com relatos de vários milagres e graças, segundo os fiéis, obtidos pela intercessão de Nhá Chica. Sua santidade está em processo no Vaticano, tendo a Igreja Católica, reconhecido Nhá Chica como Beata, em 4 de maio de 2013, sendo este um dos passos finais para sua Santificação. Nhá Chica é a primeira Beata de origem negra do Brasil.
           Diariamente, a cidade é procurada por turistas e romeiros vindos de todos os cantos do Brasil, para visitar e rezar no Santuário de Nhá Chica.
          Emoldurada pela Serra da Mantiqueira, Baependi faz parte do Circuito das Águas em Minas Gerais e também da Estrada Real. A cidade é muito bem estruturada para receber turistas, com boas pousadas, restaurantes e bares pitorescos, sendo também uma estância hidromineral. Quando os turistas chegam à Baependi, descobrem que além de paz e elevação espiritual, o município é rico em belezas naturais, principalmente, cachoeiras, como esta da foto acima, do Jerez Costa, a Cachoeira das Três Quedas.
          Suas belezas e paisagens preservadas fascinam e suas mais de 50 cachoeiras, encantam os visitantes. Para chegar a essas cachoeiras, são trilhas, caminhos e paisagens paradisíacas, em especial a paisagem do Parque Estadual da Serra do Papagaio, onde uma grande área dessa unidade está em Baependi. 
          A cachoeira que mais chama a atenção em Baependi é a do Cavalo Baio. Fica na Serra da Canjica, na área do Parque Estadual da Serra do Papagaio. Com seus 215 metros de queda, é uma das maiores de Minas. (fotografia acima de Jerez Costa) O interessante nessa cachoeira é que nascente que formam suas quedas, nasce a mais de 2.200 metros de altitude. O acesso não é fácil, mas a vista da cachoeira é impressionante. 
          Outra cachoeira muito famosa é a do Itaúna. Fica a 20 km do centro da cidade. (na foto acima de Jerez Costa)  É formada por pequenas quedas d´água, que formam poços rasos, que formam piscinas naturais, convidativas para um banho refrescante ou mesmo ficar curtindo as águas nos degraus das pedras.
          A cachoeira do Juju (na foto ao lado de Jerez Costa), nas encostas da Serra do Careta, na área do Parque Estadual da Serra do Papagaio, é outra das mais procuradas. São 130 metros de queda e a paisagem em seu redor é simplesmente espetacular. O acesso é bem difícil e fica um pouco distante da cidade, cerca de 34 km. Por isso é recomendado ir acompanhado de guia.
          Já a Cachoeira do Caldeirão, (na foto acima do Jerez Costa) é uma das mais belas cachoeiras do município. Fica a 32 km do município. É uma pequena queda, que forma um poço enorme. Mas o banhista deve tomar cuidado acidentes e afogamento porque são cerca de 30 metros de profundidade.
          Essas são apenas as mais famosas cachoeiras de Baependi, tem muito mais cachoeiras, serras e paisagens espetaculares. Além da fé e da elevação espiritual, é um lugar ideal para convívio pleno com a natureza, relaxamento e meditação. 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

De alguma saudade

(Por Myriam Lucy Rezende/Uberlândia) Quem nunca passou por ela, nunca conheceu tramela, porteira e mourão. Não ouviu galo abrindo manhã, não acendeu fogo em lenha, não viu gato enrolado no rabo do fogão.
      Quem nunca passou por ela, não seguiu procissão em dia santificado, não levou flores aos finados, nunca dedilhou violão. (foto acima de John Brandão - In Memoriam em São Tomé das Letras MG)
     Quem nunca passou por ela, não levou o dedo no tacho, não lavou a cara em riacho, não brincou de queimada, boneca, bola e balão. 
     Não sentou à beira da estrada, não viu noite enluarada, não fez pipa, não jogou no único degrau da entrada as cinco pedrinhas com os primos e irmãos. 
     Quem nunca passou por ela, não sabe o que é jardineira, estribeira, algibeira, roda d’água, nem banhou-se em cachoeira, seguiu a corredeira, virou cambota, acreditou em assombração – e na beira da alvorada andou com os pés calçados só de relva molhada e chão. (foto acima de Arnaldo Silva, em Ouro Preto MG)
     Mas se viveu uma história assim bonita e singela, é bom, seu moço, saber. Um dia ou outro, encostado, ao muro chamado passado, ela se abrirá mansa – uma rosa caipira na palma da sua mão. 
     E o seu olho molhado, que nem chuva no roçado, vai te mostrar que é saudade esse quadro bem pintado, para sempre pendurado, no umbral do coração. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Casa da mãe depois que os filhos se vão

(Por Míryan Lucy de Resende/Uberlândia MG) Casa de mãe depois que os filhos se vão é um oratório. Amanhece e anoitece, prece. Já não temos acesso àquelas coisinhas básicas do dia a dia, as recomendações e perguntas que tanto a eles desagradavam e enfureciam: com quem vai, onde é, a que horas começa, a que horas termina, a que horas você chega, vem cá menina, pega a blusa de frio, cadê os documentos, filho.
          Impossibilitados os avisos e recomendações, só nos resta a oração, daí tropeçamos todos os dias em nossos santos e santas de preferência, e nossa devoção levanta as mãos já no café da manhã e se deita conosco.
          Casa de mãe depois que os filhos se vão é lugar de silêncio, falta nela a conversa, a risada, a implicância, a displicência, a desorganização. Falta panela suja, copos nos quartos, luzes acesas sem necessidade…
          Aliás, casa de mãe, depois que os filhos se vão, vive acesa. É um iluminado protesto a tanta ausência.
          Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre o mesmo cheiro. Falta-lhe o perfume que eles passam e deixam antes da balada, falta cheiro de shampoo derramado no banheiro, falta a embriaguez de alho fritando para refogar arroz, falta aroma da cebola que a gente pica escondido porque um deles não gosta ( mas como fazer aquele prato sem colocá-la?), falta a cara boa raspando o prato, o “isso tá bão, mãe”. O melhor agradecimento é um prato vazio, quando os filhos ainda estão. Agora, falta cozinha cheia de desejos atendidos.
          Casa de mãe depois que os filhos se vão é um recorte no tempo, é um rasgo na alma. É quarto demais, e gente de menos.
          É retrato de um tempo em que a gente vivia distraída da alegria abundante deles. Um tempo de maturar frutos, para dá-los a colher ao mundo. Até que esse dia chega, e lá se vai seu fruto ganhar estrada, descobrir seus rumos, navegar por conta própria com as mãos no leme que você , um dia, lhe mostrou como manejar.
          Aí fica a casa e, nela, as coisas que eles não levam de jeito nenhum para a nova vida, mas também não as dispensam: o caminhão da infância, a boneca na porta do quarto, os livros, discos, papéis e desenhos e fotografias – todas te olhando em estranha provocação.
          Casa de mãe depois que os filhos se vão não é mais casa de mãe. É a casa da mãe. Para onde eles voltam num feriado, em um final de semana, num pedaço de férias.
          Casa de mãe depois que os filhos se vão é um grande portão esperando ser aberto. É corredor solitário aguardando que eles o atravessem rumo aos quartos. É área de serviço sem serviço.
          Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre alguém rezando, um cachorrinho esperando, e muitos dias, todos enfileirados, obedientes e esperançosos da certeza de qualquer dia eles chegam e você vai agradecer por todas as suas preces terem sido atendidas.
          Por que, vamos combinar, não é que você fez direitinho seu trabalho, e estava certo quem disse que quem sai aos seus não degenera e aqueles frutos não caíram longe do pé?
          E saudade, afinal, não é mesmo uma casa que se chama mãe?
Fotografia ilustrativa acima de autoria de Arnaldo Silva em Bom Despacho MG

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O Museu dos Dinossauros em Peirópolis

(Por Arnaldo Silva) Distrito de Uberaba, no Triângulo Mineiro, Peirópolis, está localizado às margens da rodovia BR-262, a 20 km do centro da cidade. 
          No início do século XX, o distrito se destacava pela produção de calcário, o que trouxe várias pessoas para a região. Na época, o Triângulo Mineiro era ligado por trilhos pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que chegou a Uberaba em 1889. Com a estrada de ferro, foi criada uma pequena estação em Cambará, entre Conquista MG e Uberaba, inaugurada em 1924.
          Entre as pessoas que foram atraídas pelo calcário, estava Frederico Peiró, um imigrante espanhol que chegou ao local em 1911, montando em seguida duas fábricas de cal virgem. A atividade de Peiró se tornou conhecida, abrindo novos mercados e tornando a região de Cambará muito conhecida, graças ao fácil acesso e escoamento da produção pelos trilhos da Mogiana. (fotografia acima e abaixo de Luís Leite)
          Com a popularidade da produção de cal virgem e do espanhol, o nome do povoado passou a ser associado ao de Frederico Peiró, popularmente chamado de cidade do Peiró ou Peirópolis (polis= cidade). Assim, a estação de Cambará, bem como o distrito, foi oficialmente chamado de Peirópolis.
          Com a desativação da linha férrea em 1976, o calcário continuou sendo extraído na região, não sendo hoje a atividade de destaque do distrito. Peirópolis se destaca hoje pelo turismo.
          Com as escavações na região para a retirada do calcário e retificações de obras da Companhia Mogiana, a partir da década de 1940, foram sendo encontrados fósseis de animais pré-históricos. (fotografia acima de Luís Leite)
          A descoberta atraiu para a região paleontólogos, como o gaúcho Llewellyn Ivor Price (1905-1980), considerado o pai da paleontologia brasileira Ivor Price chegou em Peirópolis em 1947, ficando até 1974. 
          O paleontólogo e seus assistentes fizeram fizeram escavações entre 1949 e 1961, encontrando e recuperando centenas de ossos fossilizados do período Cretáceo Superior (100 a 65 milhões de anos atrás), principalmente de titanossauros. (foto abaixo de Cris Ferreira/@paisagenscsf)
          O paleontólogo viveu em Peirópolis até 1974. Ao longo desse tempo foi formando um rico acervo de fósseis que hoje integra a coleção do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), no Rio de Janeiro.
          Em 1991, a antiga estação de trem foi restaurada e em seu entorno foi instalado um Complexo Científico Cultural com nome o Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, popularmente chamado de Museus dos Dinossauros de Peirópolis. (fotografia acima e abaixo de Luís Leite)
          No museu há um laboratório de preparação de fósseis e um museu paleontológico que conta com fósseis e painéis com cenários com a história dos animais e vegetais que habitaram a região de Uberaba há milhões de anos. Tem ainda um parque com réplicas de dinossauros e algumas residências que foram construídas em seu entorno para os pesquisadores.
          No Museu dos Dinossauros, além de fósseis e história dos dinossauros, tem como destaque:
- O esqueleto fossilizado do crocodilomorfo do Cretáceo Superior Uberabasuchus terrificus – descoberto na região no ano 2000 e um dos mais completos do tipo já encontrado no mundo – exposto no museu ao lado de uma réplica do animal. (fotografia acima de Luís Leite)
- O Uberabasuchus terrificus - pertence a uma família de crocodilomorfos denominada Peirosauridae em homenagem a Peirópolis. Estima-se que ele media aproximadamente 2,5 metros de comprimento e pesava cerca de 300 kg.
- O Uberabatitan ribeiroi -  encontrado em 2004, na Serra do Galga entre Uberaba e Uberlândia, durante escavações para duplicação da BR-050.
Localização e horários de funcionamento
          
Horário de visitação: terça a sexta das 08h às 17h e sábado, domingo e feriados das 08h às 18h.No período de janeiro (férias) o Museu também está aberto às segundas-feiras.
          Em Peirópolis, o visitante encontra pousadas, restaurantes e lanchonetes.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

A Gruta da Lapa, Antônio Pereira e o mistério da Igreja queimada

(Por Arnaldo Silva) Distrito de Ouro Preto, Antônio Pereira é uma charmosa e atraente vila ouro-pretana, distante 16 km da sede e a 9 km de Mariana, cidade histórica vizinha a Ouro Preto. (na foto acima de Judson Nani, a entrada para a Gruta da Lapa)
           Foi uma das primeiras povoações de Minas Gerais e um dos primeiros núcleos de mineração em território mineiro, com grande número de minas de ouro e minério, encontradas na região no início do século XVIII. (na foto acima de Ane Souz, vista parcial de Antônio Pereira) 
Relíquias de Antônio Pereira      
          Antônio Pereira guarda relíquias de nossa história, destacando as ruínas da igreja de Nossa Senhora da Conceição e o cemitério que fica no seu interior. (na foto acima de Ane Souz) 
          Da igreja, restou a imponente fachada e suas colunas, erguida em blocos de pedra. Além das ruínas da igreja, tem o Garimpo do Topázio Imperial, pedra preciosa encontrada somente na região de Ouro Preto e em nenhum outro lugar no mundo.        
          A Gruta da Lapa é outro atrativo para os visitantes (na foto acima do Judson Nani). Na gruta foi montada uma pequena capela, onde peregrino acendem velas e fazem orações. (na foto abaixo de Ane Souz)
A origem de Antônio Pereira
          A história do distrito começa com a chegada à região do bandeirante português Antônio Pereira Machado, por volta de 1700-01. O português ficou pouco tempo na região, deixando a vila 3 anos depois de sua chegada, assustado com o grande número de animais selvagens que apareciam em sua propriedade e a escassez de alimentos, provocando uma grande onda de fome nesta época. 
          Posteriormente chegou a região padre João de Anhaia que deu início a formação do povoado, com a ajuda de Mateus Leme e Antônio Pompéu Taques, que passaram a explorar as numerosas minas de ouro da região como as minas Romão, Mata-mata, Macacos, Capitão Simão, Fazenda do Barbaçal, Mateus, da Rocinha
          Com a atividade mineradora crescente, o arraial aumentava a cada dia, e em homenagem a seu primeiro morador, Antônio Pereira, passou a ter esse nome. Pouco tempo depois, era erguida uma imponente igreja, graças a riqueza produzida pelas minas de ouro da região. A igreja foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição, fundada em 1716, reconhecida como matriz em 1720. Em torno da Matriz o povoado se desenvolvia.  
O mistério da igreja queimada
          Da igreja erguida com pompa no início do século XVIII, ornada em ouro, restou apenas a fachada. Era imponente, se destacava logo na entrada do povoado. Foi incendiada em 1830 e até hoje a causa do incêndio é desconhecida. Não se sabe se foi acidental ou proposital.  Há duas versões sobre o incêndio, passadas oralmente por gerações. Uma dessas versões diz que a igreja foi roubada por um viajante que entrou na calada da noite na igreja, retirou tudo que pôde em ouro, colocou fogo e fugiu em seguida.
          Outra versão diz que o incêndio foi provocado por uma vela esquecida pelo sacristão, de nome Roque. Como boa parte da ornamentação da igreja era em madeira, o incêndio se alastrou com rapidez, destruindo todo o templo. Segundo a tradição oral, o sacristão chegou a ser detido pelas autoridades da época, pelo fato. Mas nenhuma das duas versões citadas foi comprovada até hoje.
Por que não foi reconstruída?
          A igreja foi destruída e reconstruí-la não seria tarefa difícil para os moradores da vila, mas optaram por deixar como estava. Isso devido a um fato marcante para os moradores de Antônio Pereira na época, envolvendo Nossa Senhora da Conceição.
          Segundo a tradição oral, a Santa saia de sua igreja e aparecia numa gruta próxima a sua igreja, por isso era chamada de Nossa Senhora da Lapa. Quando a igreja foi queimada, a imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada no interior da gruta, intacta. Entenderam assim os fiéis que a santa queria ficar neste local. 
          E assim está até hoje e a igreja de Antônio Pereira passou a ser a da Gruta da Lapa, bem como de Nossa Senhora da Conceição, carinhosamente chamada de Nossa Senhora da Lapa pelos moradores locais, um dos pontos de manifestação de fé da região recebendo fiéis que vão à gruta rezar, pagar promessas e pedir bênçãos, como podem ver na foto acima da Ane Souz. 
          No local onde está imagem, foi construído um altar e todos os todos os dias, fiéis vão à gruta rezar e acender velas, principalmente no dia 8 de dezembro, data que a Igreja Católica comemora o dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, como podem ver na foto acima de Ane Souz.
O óleo que surge das rochas
           Outra curiosidade no interior da gruta é um óleo que surge numa pedra, que lembra o formato da santa que está no altar. Os fiéis se emocionam com a pedra, tocam com as mãos e passam este óleo pelo corpo, se benzendo, simplesmente movidos pela fé em Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
Qual a explicação para o fenômeno?
          Esse tipo de fenômeno no interior de cavernas e grutas são comuns. O fenômeno se dá pela precipitação lenta e contínua de carbonato de cálcio, levados pelas águas que chegam as grutas por fendas, que escorrem pelas formações lentamente, se petrificando ao longo dos séculos. (foto acima e abaixo de Judson Nani)
          Quando esse líquido cai de cima para baixo, chama-se estalactites. Quando o líquido vem de baixo para cima, é estalagmites. Esse líquido petrifica, formando belas composições naturais no interior das cavernas e grutas. Dependendo da formação rochosa, podem ter várias tonalidades de cores, bem como formatos inusitados que podem lembrar figuras humanas, de animais ou de plantas. 
          No caso da gruta de Nossa Senhora da Lapa em Antônio Pereira, a formação lembra a imagem da santa, o que instiga mais ainda os mitos criados ao longo do tempo em torno da gruta, da igreja e da santa. 
Outros atrativos de Antônio Pereira
         Além dos das ruínas da igreja, do cemitério, do casario e da gruta, em Antônio Pereira tem ainda belas paisagens naturais (na foto acima de Ane Souz) e belas cachoeiras como a Cachoeira da Escuridão, Cachoeira da Vila ou Lagoa Azul a e Cachoeira da Lajinha, dentre outras belezas naturais formadas pelas montanhas em redor e a quantidade de minério entre as montanhas e rochas, tornando a paisagem muito bela. 

sábado, 17 de novembro de 2018

A culinária do Norte de Minas

(Por Arnaldo Silva) A Cozinha mineira é uma das maiores riquezas do Estado. É um patrimônio imaterial do povo mineiro. A nossa culinária ajudou na formação da identidade do Estado. (na foto abaixo da Marilene Rodrigues, a farinha de mandioca, um dos principais produtos da região)
          A nossa cozinha é como nosso povo. Tem origem mestiça. Veio do colono europeu, do povo negro africano e dos índios nativos. Essa mistura maravilhosa de raças e povos, criou a nossa identidade cultural, social e gastronômica. (na foto abaixo do Edson Borges, o pequi com arroz, um dos principais pratos da culinária do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha)
          Para o português, que para cá veio em busca de ouro, a necessidade de comida era grande. Numa terra recém-descoberta, comida praticamente não existia, dai a necessidade de se criar. Junto com os portugueses, vieram os negros e aqui, juntamente com a população indígena, começaram a brotar as nossas raízes culturais e gastronômicas. Essa união afro-indígenas proporcionou o surgimento da culinária que é uma das identidades do Estado de Minas Gerais.
          Os portugueses e demais povos europeus que para cá vieram, contribuíram em muito com o aprimoramento da culinária que estava se desenvolvendo. Eles conheciam as qualidades naturais dos produtos e tinham domínios sobre temperos, principalmente temperos indianos, que foram introduzidos à nossa culinária. Sem contar os doces e o queijo, que os colonos trouxeram da Europa as técnicas de fazer, ensinando aos escravos e índios, adaptando as técnicas aos produtos encontrados em nossas terras. Assim começou o embrião da nossa culinária. (na foto abaixo de Eduardo Gomes, o araticum, um dos principais frutos do Cerrado)
          O aprimoramento e até mesmo a criação de pratos, se deve aos tropeiros. É inegável a influência dos tropeiros no surgimento da nossa culinária. Não que eles queriam inventar, mas porque precisavam de comida, dai foram adaptando seus conhecimentos aos produtos encontrados na região que hoje é o Estado de Minas. Eles viajavam por todo o território mineiro, em busca de ouro e por serem viagens longas, precisavam de alimentos que durassem mais tempo, que não perecessem rápido.
          Assim foi surgindo formas de armazenar comida como a carne, armazenada na lata, o açúcar que foi transformado em rapadura, o queijo curado, a mandioca, que era comida indígena, bem como o milho triturado, chamado de canjiquinha e o fubá. Alimentos que podiam ser levados nas tropas e que duravam muito tempo.
          Outra parte da nossa culinária veio das fazendas, basicamente das senzalas, onde as escravas criavam pratos a pedido das Sinhás. Das tabas indígenas e senzalas surgiram vários pratos e ingredientes que hoje fazem parte da nossa cozinha como polvilho, a farinha de milho, de mandioca, o fubá. A partir desses ingredientes foi surgindo quitandas diversas como o pão de queijo, o biscoito, o bolo de fubá. Doces também, como o de leite, de mamão, a goiabada, saíram das senzalas para nossas mesas aprimorando as técnicas ensinadas pelos colonos.(na foto acima, de Manoel Freitas, doce de marmelo em São João do Paraíso, fruta introduzida na região desde o século XIX, hoje cultivada em larga escala, no município)
          E nesse contexto a culinária foi se desenvolvendo, usando o que a terra produzia e o que já existia por aqui, passados pelos índios. Mas pela dimensão do Estado e biomas diferente, como Cerrado e Mata Atlântica, presentes na vegetação mineira, a cozinha variava, não era a mesma em todas as regiões. Em boa parte sim, mas certos alimentos não eram comuns em todas as regiões do Estado como, por exemplo, pequi, comum no Norte, Centro Oeste e parte da região Central de Minas Gerais, onde predomina o Cerrado. (na foto de Manoel Freitas a castanha do pequi, muito rica em minerais)
          Já na região Sul, Campo das Vertentes e Zona da Mata, a predominância é do bioma Mata Atlântica. É nesse contexto que surge a culinária regional, que faz parte da culinária Mineira, com suas identidades próprias de acordo com clima, vegetação e alimentos disponíveis. Essa regionalização hoje é a marca da nossa culinária, presente em todas as regiões, com certos pratos típicos de cada uma das 12 regiões mineiras, de acordo com o que os biomas produzem.
          Como disse acima, a junção do branco, índio e africano, deu origem a nossa formação cultural e gastronômica. A presença dessas três raças foi predominante para o povoamento e crescimento da região Norte de Minas, a partir do século XVI e XVII. Os portugueses e tropeiros chegaram ao Norte de Minas margeando o Rio São Francisco e ao longo do caminho, foram formando povoados, que hoje são cidades. (na foto acima, de Manoel Freitas, feijão de Andu, colhido em Botumirim MG)
          Assim surgiu uma das mais ricas cozinhas de Minas, que é a cozinha do Norte do Estado de Minas Gerais, cujos pratos estão presentes em nossas mesas e contribuíram para dar a Minas Gerais, a nossa identidade culinária.
          No Norte de Minas predomina a vegetação de Cerrado nativo e tem o Rio São Francisco como um das suas maiores riquezas. Dos frutos do Cerrado Norte Mineiro surgiu pratos que hoje sustentam famílias e deram origem a vários pratos ainda hoje presentes em nossas mesas. Por ser uma região de contrastes, não apenas sociais, mas geográficos, os sabores da mesa norte mineira é um pouco diferente do restante do Estado. A região produz frutos, alimentos e temperos diferentes do restante do Estado, oriundos de uma culinária mestiça, muito rica em sabores e temperos singulares e fortes como a pimenta, muito apreciada, diferente de outras regiões do Estado. (na foto abaixo do Manoel Freitas, barcos de pescadores no Rio São Francisco em Itacarambi MG)
          Esses pratos e temperos vêm do que a região produz. A pecuária sempre foi forte na região. A carne de boi é muito apreciada na região, principalmente a carne de sol. Mirabela, uma das cidades da região, é considerada a Capital Nacional da Carne de Sol. 
          O nosso quiabo com angu, muito apreciado com frango hoje, tem origem no Norte de Minas. No Norte Mineiro a paçoca de carne, a farofa de feijão andu, tropeiro com torresmo e rapadura não faltam nas mesas. Sem contar o pequi com arroz, que é consumido sempre, já que o pequi é o símbolo do Cerrado e o fruto reina em todo norte mineiro, sustentando inclusive famílias e gerando empregos em municípios com a produção de licores, compotas e polpas da fruta, vendidos no comércio. Montes Claros e Japonvar se consideram capitais nacionais do pequi.
          Além do pequi, o Cerrado tem outras frutas que são consumidas in natura ou viram sucos, doces, compotas, geleias, sorvetes, licores, conservas como o cajá, jatobá, cajá manga, seriguela, caju, cagaita, araticum, tamarindo e etc. (na foto acima do Gilberto Coimbra, o Mercado Municipal de Montes Claros, onde você pode encontrar todos os temperos e ingredientes da famosa culinária do Norte de Minas)
          O Rio São Francisco banha boa parte do Norte de Minas e suas águas sustentam milhares de famílias, seja no turismo, seja na pesca. O Rio São Francisco, possui 152 espécies de peixes, ao longo de toda sua bacia. Esses peixes como o surubim, dourado, curimatã-pacu, matrinchã, mandi-amarelo, pirá, piau-verdadeiro, dentre outros estão presentes na culinária norte mineira, como a famosa moqueca de surubim.
          Essa é a origem da culinária de uma das maiores e mais importantes regiões do Estado de Minas Gerais. Marcada pelos contrastes, mas também pela força e fibra do povo, que batalha, trabalha e preserva sua cultura, história e gastronomia. 

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Conheça Santo Antônio do Leite

(Por Arnaldo Silva) Um dos mais bucólicos e charmosos distritos de Ouro Preto, Santo Antônio do Leite encanta pela simplicidade, pelo belo e preservado casario colonial, por sua cultura e vida simples, mas com ótima qualidade que oferece aos seus moradores e visitantes. (foto acima de Vinícius Barnabé)
          Os moradores de Santo Antônio do Itambé, tem vida longa. Isso se explica pela salubridade do clima a mais de 1000 metros de altitude, boa qualidade do ar e de sua água de ótima qualidade. Esse conjunto de qualidades, faz com que Santo Antônio do Leite atraia cada dias mais a presença de turistas, tanto do Brasil, quando do exterior em busca de sossego, lazer, descanso em suas várias pousadas e hotéis fazendas. (foto acima de Thelmo Lins)
          O distrito conta com pouco mais de 2 mil moradores e fica apenas 25 km de Ouro Preto. É um dos mais antigos povoados de Minas Gerais. Seu povoamento começou por volta de 1864, no século XVIII, sendo reconhecido como distrito de Ouro Preto em dezembro de 1953. (na foto acima de Vinícius Barnabé, a Capela de São José e abaixo vista noturna do distrito)
          Como em todos os distritos de Ouro Preto o artesanato se faz presente. Em Santo Antônio do Leite o artesanato com prata e pedras brasileiras são muito procurados e inclusive, boa parte tem destino para a Europa. Existem também trabalhos em cerâmicas, pedra sabão e outros estilos de arte.
          Aos sábados e domingos, os visitantes podem conhecer o artesanato local, bem como sua culinária, na tradicional feirinha.
          Os moradores de Santo Antônio do Leite são calorosos, educados e recebem muito bem os visitantes. 

Quando vier a Ouro Preto, venha conhecer Santo Antônio do Leite.

A pedra transformada em artesanato em Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Por ser bem oleosa em sua superfície, em Minas Gerais é conhecida como pedra sabão. Também por pedra de talco, em outros lugares. É abundante no Estado, principalmente em Ouro Preto e Mariana, sendo retiradas do solo em sua forma bruta, nas suas cores originais que vão do cinza ao verde. Seu nome original mesmo é esteatito, chamada ainda de esteatite ou esteatita.
          A pedra sabão é uma rocha de baixa dureza por conter muito talco na sua constituição, além de vários minerais como magnesita, clorita, tremolita e quartzo, dentre outros. (foto abaixo de Arnaldo Silva de uma pedra sabão bruta, em Santa Rita de Ouro Preto MG)

Pedra resistente, praticamente impenetrável, não sendo afetada por substâncias alcalinas ou ácidas, é resistente a temperaturas extremas, desde abaixo de zero, até 1000ºC, tendo muita facilidade em absorver e distribuir de forma regular o calor. Por essas características, é usada desde a antiguidade para fazer panelas, lareiras e no artesanato, principalmente em Ouro Preto e Mariana, cidades históricas mineira, onde a pedra sabão é encontrada em abundância, sendo usada largamente desde o século XVIII, no artesanato, produção de panelas, estátuas, calçamento de ruas, etc. (na foto acima, de Arnaldo Silva, estátua de Santa Rita, em pedra-sabão, na Igreja de Santa Rita de Ouro Preto MG)
          Um dos exemplos da resistência e durabilidade da pedra sabão, são os trabalhos do Mestre Aleijadinhos, nas fachadas das igrejas históricas mineiras, como por exemplo, os 12 profetas no Santuário do Bom Jesus do Matozinhos em Congonhas MG, (na foto acima de Elvira Nascimento) esculpidos entre 1800 e 1805, submetidos a variações atmosféricas constantes, como chuvas, vento, calor, poluição e umidade, continuam intactas. 
          Por ser uma pedra macia e de baixa dureza, é muito fácil ser esculpida. Por isso é muito usada no artesanato, para fazer esculturas, na decoração de ambientes e utensílios domésticos, como panelas, filtros, taças, canecas, pratos, xícaras, etc. (foto acima de de Arnaldo Silva utensílios domésticos e abaixo, artesanato em Ouro Preto, todos em pedra sabão)
          As panelas em pedra sabão são as mais indicadas na culinária e largamente usadas nas cozinhas mineiras, por ser uma pedra impenetrável, não solta faíscas ou tenha poros. 
          Para seu uso na cozinha, as panelas em pedra sabão tem que ser curadas. (foto acima de Arnaldo Silva em Cachoeira do Campo MG) O processo de cura é simples, bastando passar óleo de cozinha em toda a panela, por dentro e por fora, aquecer por 15 minutos no forno e repetir o processo por 5 vezes, intercalando 3 horas entre cada etapa, sendo que nas duas últimas etapas, deve se cobrir toda a panela com água. Quando estiverem totalmente escuras, estão aptas para o uso. Quanto mais preta a panela em pedra sabão ficar, melhor. Sem a cura, ela desprende o pó de talco, comprometendo o sabor da comida e prejudicando a saúde humana. Já com a cura, todos os poros são fechados, tornando-a resistente a corrosão, impenetrável e nenhum resíduo de talco se desprenderá. (foto abaixo de Chico do Vale)
          A pedra sabão tem uma enorme facilidade de absorver todo o calor produzido pela fonte de energia, seja no fogão a lenha ou a gás, conduzindo rapidamente esse calor e distribuindo-o por igual, através do aquecimento de massa térmica É diferente por exemplo da panela de alumínio, cujo calor é oriundo somente da chama. Na pedra sabão, além da chama, a própria constituição da pedra a transforma por si só numa fonte de calor, cozinhando mais rápido o alimento e se mantendo aquecida por mais tempo, mesmo quando a chama é apagada.

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