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sábado, 4 de agosto de 2018

A origem das cores vivas da arquitetura ouro-pretana

(Por Arnaldo Silva) Quem visita Ouro Preto fica encantado com as cores vibrantes e perfeição das construções coloniais do seu casario e com imponência beleza de suas igrejas. Com a descoberta do ouro na região, a partir de 1713 começaram a chegar centenas de famílias portuguesas e com eles vieram arquitetos, engenheiros e pedreiros portugueses, que deram início a construção de suas casas, todas construídas com as mesmas características dos casarões em Portugal.
          Os construtores que vieram para cá, eram mais que profissionais da construção, eram artesãos e mostravam isso nas suas construções. É difícil não parar para contemplar e fotografar os belos casarões, mesmo os mais simples. Todos tem requinte, beleza, criatividade em todos os detalhes e suas fachadas são verdadeiras obras de arte. (fotografia acima de Thelmo Lins e a abaixo, de @arnaldosilva_oficial, detalhes da Arte Barroca na Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia)
          Alguns materiais para a construção das casas vieram de Portugal, mas pela demora e alto custo para trazê-los da Europa para cá, os construtores buscaram alternativas locais para concretizarem seus projetos. Os materiais usados para a base das casas eram cal e pedra que era abundante na região. No centro histórico de Ouro Preto as paredes ficam uma parte à mostra, para que o visitante veja como era. Era pedra sobre pedra, principalmente a parte de baixo onde ficavam as senzalas. 
          Não existia a diversidade de tintas como existem hoje. As cores comuns de tintas que existiam era o vermelho, cobalto, ocre, azul, branco e dourado. A base das tintas era a gema de ovo porque os componentes presentes na gema faziam com que endurecesse e fixasse melhor a pintura nas paredes. (na foto acima de Ane Souz, a Praça Tiradentes em Ouro Preto MG)
          Os pigmentos provinham de plantas(anil, assafroa, ipê, mulato, pau de braúna, urucum e sangue de dragão). Usavam também compostos presentes no solo como argila, terras coloridas, cal. Nos rebocos e pisos, usavam-se uma espécie de argila de várias cores conhecida tabatinga. 
          Essa argila proporcionava tintas nas cores branca, amarela e vermelho rosado). Na pintura exterior, usavam um pigmento de carbonato de chumbo (alvaiade) que tornava as pinturas mais resistentes ao tempo. 
          Em sua maioria os casarões eram feitos com tijolos de adobe, que é uma mistura de barro com estrume de gado. A base era de madeira. As construções mais simples eram com armações em madeira e toda barreada. As igrejas eram construídas em pedra bruta. (na foto acima  Ane Souz, a Igreja do Carmo e abaixo de Matheus Freitas, detalhes do casario ouro-pretano)
          O acabamento das casas e igrejas eram no capricho, já que além de construtores, era artesãos e não economizavam o talento, fazendo belas esculturas e detalhes nas fachadas de suas obras.
          Destaque em Ouro Preto, a Igreja do Rosário é totalmente diferente dos padrões das igrejas da época, já que tem um traçado irregular e sua frente, em sentido oval.(na foto abaixo de Marselha Rufino) Essa arquitetura não tem inspiração portuguesa e sim nas catedrais do norte Europeu.
          Esses primeiros construtores que vieram para o Brasil e principalmente Minas Gerais fizeram escola. Com eles surgiram vários outros construtores e artesãos e continuaram a fazer casas, igrejas e outras construções, inspiradas no estilo português. Desses, alguns ficaram famosos e são hoje referência na arte barroca, como Mestre Aleijadinho e o Mestre Ataíde, o maior pintor do período barroco. (na foto abaixo de Arnaldo Silva, o Chafariz do Alto da Cruz, com detalhes do Mestre Aleijadinho, acredita-se que a imagem no topo do chafariz tenha sido o primeiro trabalho do Mestre)
          As obras desses dois artistas estão espalhadas por várias cidades históricas mineiras, principalmente em Ouro Preto. Aleijadinho no início seguia à risca a arquitetura portuguesa, mas aprimorou-se com o tempo e mesclou a linha portuguesa com detalhes de outras arquiteturas, dando vida e personalidade própria à sua arte, hoje identidade arquitetônica mineira. 

sábado, 21 de julho de 2018

O Largo do Coimbra em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) O Largo de Coimbra fica a poucos metros do Museu da Inconfidência e é um dos locais mais visitados em Ouro Preto MG devido a Feira de Pedra Sabão, a casa do Inconfidente Tomaz Antônio Gonzaga, a Igreja de São Francisco de Assis e seus bem preservados casarões do século XVIII. 
         No século XIX e início do século XX o local era usado por tropeiros, que vinham de longas distâncias para comercializarem seus variados produtos com os ouro-pretanos. Traziam de tudo, como por exemplo açúcar, querosene, sal, objetos de uso da época como as lamparinas, roupas, sapatos, velas, etc. (foto acima de Elvira Nascimento e abaixo de Alisson Gontijo)
          Como o fim das  atividades dos tropeiros provocado pelo surgimento dos automóveis e caminhões, que facilitavam a entrega dos produtos, uma nova feira surgiu no local. Produtores rurais passaram a usar o espaço para venderem seus produtos como frutas, verduras, leite, doces, carnes, etc direto para o consumidor, 
Com título de Patrimônio da Humanidade em 1980, o turismo passou a ganhar força e o Largo do Coimbra, um dos lugares mais visitados da cidade, passou a ter a feira exclusiva para comércio e exposição do artesanato local e assim é até hoje. Onde ficavam os tropeiros, com seus cavalos e mercadorias, passou a ser uma feira rural e por fim, feira permanente de artesanato em pedra sabão. (na foto abaixo de Elvira Nascimento, vista da sala da casa do Inconfidente Tomaz Gonzaga)
          Do Largo do Coimbra se tem uma privilegiada vista do Pico do Itacolomi, do bairro Antônio Dias, onde está a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e alto da Igreja de Santa Efigênia. 
          Ir a Ouro Preto e não ir no Largo do Coimbra, é como se tivesse perdido metade do passeio. É imprescindível visitar o Largo.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Os girassóis do Triângulo Mineiro

(Por Arnaldo Silva) Dificilmente alguém não para admirar os girassóis floridos no Triângulo Mineiro. Os girassóis fascinam, simplesmente fascinam por sua beleza. A planta tem origem no México, na América Central. Sua  florada começa no fim do verão e se estende até agosto. A florada dura em média, 45 dias. Nessa época do ano, é comum pessoas que passam pela BR 050 e BR 452, no Triângulo Mineiro, entre Uberaba e Uberlândia, pararem para registrar e se fotografar em meio aos milhares de girassóis que chegam até metros de altura.
          Em Uberaba,  os campos de girassóis pertencem à empresa Alta Genétics na Rodovia BR 050, KM 164 podendo ser visitados entre abril e maio, durante a Expozebu. No período da Expozebu (geralmente entre abril e maio) quem quiser pode andar entre os campos de girassóis. Fora desse período, somente da BR mesmo já que as plantações ficam às margens da rodovia. As vezes a empresa alterna o cultivo, plantando outra cultura, por isso, informe-se antes. (Foto acima e abaixo de Cris Ferreira/@paisagenscsf)
          Além de Uberaba e Uberlândia, em Santa Juliana, Araguari, Estrela do Sul e outras cidades na mesma região, existem várias fazendas com plantio de girassóis. Não só no Triângulo Mineiro, mas em várias regiões de Minas Gerais, os girassóis podem ser contemplados, como em Florestal na Região de Belo Horizonte, Patos de Minas e Araxá no Alto Paranaíba, Caxambu, Ouro Fino, Conceição das Alagoas, Pedralva, São Pedro da União, Cruzília e Areado no Sul de Minas e Catuji e Manga no Norte de Minas, dentre outras cidades. 
Utilização
          Dos seus frutos, popularmente chamados sementes, é extraído o óleo de girassol que é comestível. A produção mundial ultrapassa 20 milhões de toneladas anuais de grão. (foto acima de Cris Ferreira/@paisagenscsf)
          A semente também é usada na alimentação de pássaros em cativeiro além de ser uma das mais utilizadas na alimentação viva.
A sua flor é comercializada como flor de corte. Existem dois grupos de variedades importantes: uniflor com haste única e uma flor terminal; multiflor com flores menores que com ramos desde a base que são mais utilizadas na confecção de bouquet.
          A semente do girassol tem sido utilizada no Brasil na produção de biodiesel.
          Tem sido também uma boa alternativa para alimentação de gado, em substituição a outros grãos.
          As suas folhas podem inibir o crescimento de plantas daninhas através do fenômeno alelopatia.
          Antes de visitar as cidades para conhecer as plantações, verifique, junto às prefeituras ou sindicatos rurais dessas cidades, se está na época da florada, e ainda, se foi plantado. Muito produtores, podem optar por plantar outras lavouras, ao invés de girassóis, dependendo da época e do mercado. 

quinta-feira, 12 de julho de 2018

A tradição do Queijo Minas Artesanal

(Por Arnaldo Silva) O Queijo artesanal mineiro, tradição que existe em Minas Gerais desde o inicio da descoberta do Ouro, no início do século XVIII, é produzido em mais de 600 municípios Mineiros, gerando emprego e renda para mais de 30 mil famílias, que vivem da produção de queijos.(na foto acima queijos feitos Canastra pelo Mestre Queijeiro Roberto Soares em São Roque de Minas MG)
          O modo artesanal de fazer Queijo nas regiões do Serro (na foto acima, fazenda de gado Gir, do Túlio Madureira), Serra da Canastra, Serra do Salitre e Campo das Vertentes é Patrimônio Imaterial de Minas desde 2004, reconhecido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e desde 2008, é Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Ipham). 
          Por ano, somente em Minas Gerais, é produzida uma média 250 mil toneladas de queijo, o que ajuda o Brasil a se manter no posto de 6º maior produtor de queijo do mundo. No Brasil, Minas Gerais o maior produtor. (na foto acima, de Tiago Geisler, o famoso Queijo do Serro, da cidade do Serro MG)
Queijo Minas Artesanal e Queijo Minas Frescal
          O queijo artesanal mineiro é o queijo que preserva as formas originais e seculares na sua produção. Ou seja, leite cru não pasteurizado, sem acréscimo algum de outro componente. Após o preparo, o queijo artesanal passa por um processo de maturação que pode ser de uma semana, um mês ou até um ano. A maturação faz com que a coloração do queijo artesanal fique amarelada ou marrom, dependendo do tempo de maturação. Já o miolo possui uma textura firme e seca. É a maturação que dá sabor e qualidade ao queijo. 
          Outro tipo de queijo, o queijo Minas frescal, é mais fácil de ser encontrado, por ser produzido em maiores quantidades, principalmente por laticínios. Quem gosta de queijo e vive em outro Estado, muitas das vezes confunde esse queijo com o queijo artesanal. E não é. O frescal é um tipo de queijo úmido, bem esbranquiçado e massa bem mole (na foto acima de Judson Nani)
          O processo de produção desse queijo é diferente do queijo artesanal e não pode e nem deve ser confundido com o tradicional modo de fazer queijo artesanal, cuja receita tem três séculos de tradição.
          Ou seja, Queijo Minas Frescal é um tipo de queijo e o queijo secular e tradicional, com o modo de fazer reconhecido pelo Iepha e Iphan como Patrimônio Cultural e Imaterial, é outro tipo de queijo. (na foto abaixo, de Jerez Costa queijo Minas artesanal da Queijo D´Alagoa, de Alagoa MG)
          A receita do queijo artesanal mineiro é a mesma para todos. Mas o que dá a qualidade, a textura o sabor inconfundível ao queijo artesanal mineiro, não se encontra em nenhum outro lugar, só em Minas Gerais. A alimentação adequada, qualidade das pastagens, qualidade e cuidados com o rebanho, o clima, a temperatura das serras mineiras, a forma com que o queijo é trabalhado manualmente pelo produtor e principalmente pelo conhecimento da arte da fazer queijos, que passa de geração para geração. Esses são os diferenciais que faz do queijo artesanal de Minas Gerais, único e especial no mundo. 
16 de maio: Dia do Queijo Minas Artesanal
          Uma data que marca a importância dos queijos artesanais para a história, tradição e economia mineira. (na foto acima, queijos Canastra do Rancho 4R, feitos pelo Mestre Queijeiro Roberto Soares, de São Roque de Minas)
          O dia 16 de maio, é comemorado em Minas como o Dia do Queijo Minas Artesanal (QMA). Instituída pela Lei 22;506, de 2017, é em referência ao dia 16 de maio de 2008, quando o Modo Artesanal de Fazer Queijos de Minas, nas regiões do Serro, Serra da Canastra e Alto Paranaíba, foram reconhecidos pelo Conselho Consultivo do Instituto de Patrimônio História e Artístico Nacional (Iphan) ,passando a fazer parte do livro de saberes e sabores do Instituto.
          O queijo artesanal é o queijo feito com leite cru, sem passar pelo processo de pasteurização, feitos basicamente nas pequenas propriedades, totalmente artesanal, gerando fonte e renda para mais de 30 mil famílias mineiros, numa produção anual de 85 mil toneladas, em média.
          QMA, é um rótulo que vem nos queijos, com certificação e Selo Arte, expedidos pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Legalizado perante o IMA, os queijos podem usar o rótulo QMA, e o Selo Arte, que permite a comercialização em todo o Brasil.
          Somente os queijos com origem nas regiões queijeiras, reconhecidas pelo órgão podem usar o rótulo QMA. As microrregiões queijeiras, reconhecidas pelo IMA, com permissão para usar o QMA e Selo Arte são: Serra da Canastra, Serra do Salitre, Araxá, Cerrado Mineiro, Campo das Vertentes, Mantiqueira de Minas, Alagoa MG, Serro e Triângulo Mineiro, podem usar o rótulo QMA. (na foto acima, o queijo da Serra do Salitre, da Fazenda Pavão, do produtor João Melo. Em destaque na embalagem, o Selo Arte e registro do IMA)
          Para obter o rótulo QMA, as queijarias tem que ser legalizadas pelo Ima. Os queijeiros contam com a assistência da Emater/MG, além de ajudar os produtores nos estudos para criação de regiões queijeiras. Estando legalizados perante o Ima, o produtor pode requisitar o Selo Arte, que permite a comercialização de seu produto em todo o país. Somente os queijos com Selo Arte e certificado QMA, podem usar comercializar seus queijos para foram de suas regiões, bem como usar, o termo QMA em seus rótulos.

domingo, 8 de julho de 2018

Calçamento com pés de moleque: a origem do nome.

(Por Arnaldo Silva) As ruas de nossas cidades antigamente eram calçadas com pedras brutas. Esse calçamento recebeu o nome de "Pé de Moleque". Costumamos falar em ruas de pés de moleque sem ao menos saber o porquê desse nome. Agora vocês vão saber.
          Esse tipo de calçamento era comum na Europa nos tempos antigos e foi introduzido pelos Portugueses no tempo do Brasil Colônia. (fotografia acima de Cesar Reis em Tiradentes MG) As pedras vinham de Portugal, em navios e as ruas das cidades litorâneas como Rio de Janeiro, Paraty, Salvador, Porto Seguro, Santos, etc., receberam esse tipo de pavimentação. Chegavam em navios e eram levadas paras os seus destinos em carros de bois.
          O ouro de Minas Gerais seguia para o porto de Paraty/RJ em carruagens, mulas, burros e em sua maioria, em carros de bois. Deixavam o ouro e traziam pedras para calçamento, na volta. As ruas de Paraty/RJ foram quase todas calçadas com essas pedras vindas de Portugal.
          Como as cidades e vilas mineiras eram muito distantes para transportar tantas pedras, optaram por calçar as suas ruas com as pedras existentes nas regiões próximas às mesmas, que existiam em abundância, em beiras de rios, por exemplo. Na região de Ouro Preto, a pedra sabão era a mais comum e foi a mais usada nos calçamentos das ruas da cidade. O corte das pedras era totalmente rústico, feito a base da picareta, pelos escravos e em boa parte, nem eram cortadas, eram colocadas nas ruas da forma que eram retiradas.
            Com o aumento da exploração do ouro nas Minas Gerais, o fluxo de cavalos, carroças e carruagens aumentava a cada dia. As pequenas vilas que existiam não tinham ruas e sim caminhos abertos pela caminhada das pessoas e pelas rodas das carroças e carros de bois. (fotografia acima de Peterson Bruschi em Ouro Preto MG)
          Com o crescimento das vilas, bem como as transformações destas em cidades, surgiu a necessidade da abertura de ruas mais largas que os caminhos existentes. E os escravos foram largamente usados para abrir ruas e calçar as mesmas. Era no braço, na picareta, enxada e pás. As pedras vinham de pedreiras e rios, trazidas em carros de bois.
          A partir de 1760, a melhora das vias públicas se fez necessário, porque com o fluxo de pessoas e animais constantes, o transporte de mercadorias era prejudicado por atoleiros, buracos e poeira, prejudicando a todos. E para solucionar esse problema, as cidades começaram a receber calçamento nas suas ruas lamacentas  e poeirentas, que com o tempo, passou a ser chamado de pés de moleque, nas suas ruas lamacentas e poeirentas. 
          O calçamento era necessário para evitar que as tropas com suas carroças, mulas e cavalos abarrotadas de ouro, diamantes, café e gêneros alimentícios, atolassem em dias de chuva ou levantassem poeira, em dias de estiagem, o que incomodava os moradores dos casarões e pedestres.
          Os trabalhos de calçamentos eram orientados por mestres pedreiros e executados pelos escravos e também por presos das cadeias próximas, que eram obrigados a trabalhar de graça, sob forte vigilância e acorrentados pelos pés. Eles preparavam a rua na enxada e iam postando pedra por pedra, uma ao lado da outra. (fotografia acima de Matheus Freitas/@m.ffotografia)
          Os filhos desses escravos, que eram costumeiramente chamados de "moleques" iam em seguida esparramando terra arenosa e acertando as pedras com os pés. Não eram pedras uniformes e nem certinhas, porém o calçamento ficava bom, evitava o barro nos tempos de chuva e poeira na estiagem. 
         É por isso que esse tipo de calçamento se chama "Pé de moleque" embora muita gente diga que o nome é porque essas pedras lembram muito a cor do famoso doce de amendoim que conhecemos, o pé de moleque. 
         O surgimento desse doce é bem posterior ao surgimento do nome desse tipo de calçamento, portanto, não faz sentido associar a pedra ao doce, até porque moleque, sempre era usado para chamar os filhos dos escravos. O doce de amendoim, surgiu no século XIX e esse tipo de calçamento existe há séculos, na Europa, inclusive na Roma antiga, há mais de dois mil anos, ruas romanas tinha esse tipo de calçamento. 
          O doce em questão passou a ser chamado de "Pé de Moleque" justamente porque esse tipo de calçamento lembra o doce no tabuleiro e não o contrário. Veja a foto acima do Cesar Reis, de uma rua em Tiradentes. Não lembra o doce no tabuleiro?
          No final do século XIX, já no fim do Brasil Imperial, as cidades começaram uma era de modernização e urbanização que acompanhava o desenvolvimento das cidades Europeias, buscando melhorar a vida de seus habitantes. (fotografia acima de Peterson Bruschi em Ouro Preto MG)
          Com essa visão de modernizar as cidades, os calçamentos em pés de moleques começaram a ser retirados e colocados no lugar paralelepípedos, que são pedras bem trabalhadas, lisas, colocadas lado a lado. Por isso são chamadas de "pedra casada" ou "rua de pedras casadas". Esse tipo de calçamento evitava os constantes tropeços que o calçamento em pés de moleques causavam e por dar um visual mais bonito às ruas, já que eram lisas e uniformes.
          E assim foi na maioria das cidades históricas mineiras e do Brasil também. Poucas ruas de nossas cidades históricas mantiveram o calçamento original, sendo substituídos pelos paralelepípedos do final do século XIX. (na foto acima de Matheus Fotografia - @m.ffotografia, rua em São João Del Rei MG) Nas fotos acima você percebe bem a diferença nos tipos de calçamentos.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

A Igreja de São Francisco de Paula em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) É a igreja mais pobre em detalhes de Ouro Preto. Sua construção iniciou-se no ano de 1804, sendo a última erguida no período Colonial, em plena decadência do ouro. (fotografia acima de Fabinho Augusto)
          Por isso o contraste em termos de riquezas nos detalhes, em comparação com as outras igrejas de Ouro Preto, erguidas no auge do Ciclo do Ouro. Devido a falta de recursos, sua conclusão foi longa, terminada em 1898. Foram 94 anos para ser concluída. (na foto acima e abaixo de Ane Souz, o altar da Igreja de São Francisco de Paula)
          O projeto da igreja é de autoria do Sargento-mor, Francisco Machado da Cruz e seu estilo arquitetônico foi fiel ao Barroco mineiro e ao Rococó, estilos predominantes na arquitetura mineira do período colonial. Mesmo com o fim do período colonial, com a independência do Brasil em 1822, o projeto original da Igreja não foi alterado e concluído conforme o original.
          A igreja foi construída onde era a antiga Ermida de Nossa Senhora da Piedade que foi doada, à Irmandade da Ordem Terceira que tinham como patrono, São Francisco de Paula. Nessa capela foi colocada uma imagem de São Francisco de Paula, talhada pelo Mestre Aleijadinho.
          Por ser pequena e com o aumento do número de fiéis, a Irmandade viu a necessidade de construir uma igreja maior. (na foto acima de Ane Souz, detalhe das obras barrocas, talhadas em madeira no interior da Igreja de São Francisco de Paula)
          No lugar da pequena Ermida, foi erguida a Igreja dedicada ao patrono da Ordem, São Francisco de Paula. As relíquias da pequena Ermida, como a imagem de São Francisco de Paula, foram transferidas para a nova igreja, sendo retiradas e transferidas para o Museu da Inconfidência, atualmente. (na foto acima e abaixo de Ane Souz, os altares laterais da Igreja de São Francisco de Paula) 
          Ao lado da igreja, foi construído um cemitério para os membros da Irmandade, já que a partir de 1810, a Igreja Católica proibiu sepultamentos dentro dos tempos, prática comum na época.
          Quatro estátuas dos evangelistas, João, Marcos, Lucas e Matheus em louça importadas do Porto, em Portugal, ornamentavam a mureta da escadaria de acesso ao templo, se destacando na paisagem em torno da igreja, mas como a imagem do padroeiro, também foi retirada (como podemos ver na foto acima, de Arnaldo Silva e na foto abaixo da Ane Souz, detalhes da ornamentação interna da Igreja de São Francisco de Paula)
          O motivo, creio eu, por segurança, para evitar depredação ou furtos, já que a igreja fica num local mais afastado, isolado, rodeado por mata nativa, com pouca iluminação, o que motivaria e facilitaria a ação de marginais.
          Apesar de não ser uma igreja rica em detalhes, tanto no exterior quanto no seu interior, foi construída num local privilegiado, o Morro da Piedade que é uma área montanhosa de Ouro Preto. (foto acima e abaixo de Ane Souz)
          Isso faz a igreja se destacar, sendo vista em todos os ângulos da cidade. Fica a alguns metros da Rodoviária, sendo então a porta de entrada para os turistas, que quando chegam à cidade, vão direto para o o adro da Igreja, contemplar a vista, já que a cidade fica completamente à vista. (fotografia abaixo de Arnaldo Silva)

          A igreja de São Francisco de Paula não é aberta a visitação. Abre suas portas somente aos domingos, as 10 horas, quanto são realizadas missas.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Brumal e a Igreja setecentista de Santo Amaro

(Por Arnaldo Silva) Brumal foi fundado em 1704 pela bandeira de Antônio Bueno, sendo uma das mais antigas povoações de Minas Gerais. É um dos mais belos distritos do Estado Mineiro. Seu centro histórico preserva as características originais do período colonial. Seu nome inicial era Brumado devido as constantes brumas formadas no inverno, já que a região fica aos pés da Serra do Caraça, onde a serração é comum.
 
          Depois passou a se chamar Brumado do Mato Dentro, Santana do Brumado, Barra Feliz e por fim, em 1943, seu nome atual Brumal. É distrito da histórica cidade de Santa Bárbara, município localizado no Quadrilátero Ferrífero, na região da Serra do espinhaço a 110 km de Belo Horizonte e distante 6 km de Barão de Cocais MG.(fotografia acima Sérgio Mourão/Encantos de Minas)
          Mesmo com pequena produção das minas ouro das redondezas, os fundadores do arraial acreditaram no potencial da mineração de Brumal e esta atividade foi se consolidando ao longo dos anos, atraindo um número constante de pessoas para o povoado, tornando-o próspero. Em 1837 o arraial contava com 1073 moradores, que viviam em 173 casas e oferecia uma vida confortável aos seus moradores. 
            Hoje Brumal tem mais de 2 mil moradores e sua história é bem preservada, bem como seu casario e monumentos históricos como a Igreja de Santo Amaro, o Largo com o Chafariz ao centro, a Casa do Cartório e o prédio da escola velha. (na foto abaixo da Elvira Nascimento, o altar da Igreja de Santo Amaro)
Igreja de Santo Amaro do Brumal
          A iniciativa da construção dessa igreja partiu do morador Amaro da Silveira Borges, que segundo consta no inventário da Oferta Turística relata a iniciativa do morador dessa forma: "Amaro da Silveira Borges, morador do Arraial de Brumado, dirigiu uma petição ao Bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei Antônio de Guadalupe, dizendo que desejava fazer, à sua custa, a construção de uma capela na localidade em que residia, em virtude de a Matriz se achar distante duas léguas. O edifício religioso serviria assim para mais de 200 pessoas. Concedida a licença, por provisão de 14 de fevereiro de 1727, as obras foram iniciadas, e em outubro do mesmo ano a capela recebeu a bênção do vigário da freguesia. Em 1739, os três retábulos já estavam instalados, inclusive o da capela-mor, além de ornamentos e alfaias diversas. Em 1747, o visitador geral da capitania esteve no local, verificando obras não-terminadas e impôs o prazo de quatro meses para sua conclusão, sob pena de interdito. A partir de 1759, a igreja passou por várias reformas e acréscimos, inclusive consolidação das torres e reparações nos telhados" 
          A Igreja de Santo Amaro (na foto acima de Elvira Nascimento) é a mais importante herança dos fundadores de Brumal para a cultura colonial mineira, sendo hoje uma das mais importantes obras setecentista do Brasil, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), sendo registrada no Livro Belas Artes. Inscrição nº 248. 1948.
          Foi dedicada a Santo Amaro e a capela-mor, foi feita com elementos do estilo joanino, muito usado no Barroco português durante o reinado de dom João V (r. 1707-1750).  Importantes exemplares de retábulos joaninos são encontrados tanto em Portugal como no Brasil e acredita-se que o altar da Igreja de Santo Amaro, em Brumal, tenha sido o primeiro do estilo joanino em Minas Gerais. (a fotografia abaixo, de Elvira Nascimento, mostra o interior da Igreja de Santo Amaro)
          O historiador Robert Smith, define assim o estilo Joanino: “É característico deste período um vocabulário decorativo onde predominam conchas, feixes de plumas, palmas, volutas entrelaçadas, grinaldas e festões de flores. Figuram ainda uma diversidade de baldaquinos e sanefas, cortinas e panos, fragmentos de arcos e outros motivos arquitetônicos. [...] No interior das igrejas a talha dourada é a manifestação artística mais relevante, conferindo imponência e fausto aos retábulos, surgindo frequentemente associada a outras artes decorativas como o azulejo, a pintura, a escultura e a pintura decorativa, impondo uma nova dimensão a espaços sem relevante expressão arquitetônica. A amplitude atingida por esta conjugação de expressões resulta muitas vezes, em estruturas de grande complexidade, tanto iconográfica como artística, cujo brilho dourado dá especial relevância”.
          A construção foi iniciada em 1727 quando o arraial estava em franco crescimento econômico, e inaugurada em 1747 ainda inacabada, pois faltava a conclusão dos painéis parientais que retratam cenas bíblicas, incluindo a vida de Santo Amaro, sendo totalmente concluída  no final do século XVIII. (na foto acima, de Elvira Nascimento, o altar da Igreja de Santo Amaro em Brumal)
Chafariz do Largo de Brumal
          Como podem ver na foto acima, de autoria de Judson Nani, o famoso chafariz, construído em 1898 fica no centro de Brumal, numa praça totalmente gramada, que junto com o casario colonial integra o conjunto arquitetônico do distrito, sendo um dos lugares mais visitados. Segundo informações disponível no site da Prefeitura de Santa Bárbara "Em 2008, o Chafariz passou por um processo de restauração. De acordo com o projeto, aprovado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG), a intervenção de conservação e restauração do Chafariz, construído em pedra-sabão de linha arquitetônica plana e geométrica, consistiu na higienização do conjunto e reintegração com prótese dos elementos que apresentavam comprometimento do equilíbrio e harmonia do Chafariz. Foram utilizados materiais e técnicas que não alteraram a significação e a aparência original do monumento" (foto abaixo de Judson Nani, da área central de Brumal) 
As cavalhadas
          Todos os anos, no dia de Santo Amaro (2 de julho), acontece a famosa Cavalhada. Cavalhadas é a forma que os cristãos  encontraram para simbolizar as guerras travadas entre Mouros e Cristãos na conquista da Terra Santa. As chamadas Cruzadas, que aconteceram no período da Idade Média.
          Os Mouros tentavam impedir os Cristãos de conquistarem Jerusalém e este lutavam para conquistar seu objetivo. As batalhas eram travadas sobre cavalos em ataques com espadas e lanças, numa batalha sangrenta e mortal. 
          Os cristãos venceram e desde a idade média começaram a surgir batalhas simbólicas sobre cavalos para marcar o evento. Os cavalheiros se vestem com roupas que lembram os Mouros e Cristãos, mas não usam lanças ou espadas e sim, confetes e fitas.
A Cavalhada de Brumal  tem os desfiles de cavalheiros, corridas e jogos acompanhados por um conjunto musical. Essa festa existe desde 1937. 
          Começou com um morador, Sr. Jorge da Silva Calunga, que segundo dizem,  fez uma promessa a Santo Amaro e se a graça fosse alcançada, faria em Brumal no dia da festa de Santo Amaro uma Cavalhada em homenagem ao santo. Como a graça foi atendida, em 1937 organizou a primeira cavalhada  e a tradição foi mantida pelos familiares e moradores do distrito, fazendo parte hoje do calendário cultural e religioso do distrito e de Minas Gerais, sendo inclusive patrimônio histórico imaterial de Santa Bárbara MG.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Piacatuba da Fé, da Culinária e do Festival da Viola

(Por Arnaldo Silva) Piacatuba é distrito de Leopoldina, cidade da Zona da Mata, distante 322 km de Belo Horizonte. O pequeno distrito é charmoso, possui um preservado casario histórico, repleto de histórias, cultura, religiosidade e boa gastronomia.
          Piacatuba está a 20 Km de Leopoldina, 86 Km de Muriaé; 20 Km de Cataguases e 8 Km da Rodovia Ormeo Junqueira Botelho.(Imagem acima Jornal Leopoldinense, enviada por Fernanda Espíndola)
          Todos os anos acontece em Piacatuba o Festival da Viola e Gastronomia com apoio da Prefeitura e Câmara de Leopoldina, além de empresários locais. Esse festival acontece geralmente em julho, com a presença de artista renomados e violeiros de todo o Brasil, bem como turistas, que vão ao distrito apreciar o que tem de melhor na culinária mineira. 
          A rua das Pedras é um dos locais mais frequentados do distrito, por estar nessa rua, um belíssimo casario, muitos deles, transformados em confortáveis restaurantes e barzinhos. (fotografia acima de Gilberto Coimbra)
História, atrativos e a Torre Queimada          
          Um dos atrativos de Piacatuba, além de seu belo casario colonial, é a Matriz de Nossa Senhora da Piedade (na foto acima de Gilberto Coimbra) e a famosa Torre Queimada cuja edificação foi cercada de mistérios inexplicáveis, o que elevou o distrito a ser um centro de
peregrinação e fé.
          Conta-se no distrito, que na metade do século XIX, duas famílias travavam uma intensa batalha por posses de terras. O fazendeiro Capitão Domingos de Oliveira Alves, ganhou uma gleba no dia 23 de agosto de 1844 com a finalidade de instalar nas terras uma povoação.

          Ele marcou as terras com uma cruz de uns 5 metros de altura, num terreno bem arenoso. Mas o outro fazendeiro que reivindicava as mesmas terras ficou inconformado por não ter recebido a gleba, e ordenou aos seus escravos a derrubada da cruz.
          Os escravos escavaram as pés da cruz como determinou o fazendo, só que a cruz não se desprendia de jeito nenhum. Irritado, mandou que ela fosse cortada a machado. Mesmo com a força dos golpes dos machados, a cruz permanecera intacta. 
          Meio cismado com o que viu acontecer, mesmo assim insistiu
 com seu objetivo. Só que dessa vez, mandou fazer uma enorme fogueira em torno da cruz. Os escravos colocaram lenhas e gravetos em grande quantidade e atearam fogo. (na foto acima do Gilberto Coimbra, a Torre Queimada)
          Durante a noite toda, o fogo ardia, deixando satisfeito o fazendeiro. No dia seguinte, um dos escravos lembrou que tinha esquecido sua foice no local e retornou para buscá-la.           
          Chegando lá, notou que a cruz estava imponente e de pé, apenas chamuscada.
          Segundo dizem, todos que tentaram derrubar a cruz foram severamente castigados. Alguns morreram tragicamente e outros morreram vítimas de doenças terríveis.
          Por esse motivo, o local hoje é considerado sagrado, sendo constantemente visitado por peregrinos que lá vão levando seus pedidos de milagres ou agradecendo pelas graças alcançadas. Os pedidos e agradecimentos são feitos em orações e escritos em papéis, colocados aos pés da cruz original (como se pode ver na foto acima, de Ane Souz). A Cruz Queimada é um dos mais conhecidos e visitados símbolos religiosos da região Zona da Mata.
Festival da Viola
          O próximo Festival da Viola e Gastronomia de Piacatuba será a 20ª  acontecerá entre em julho de 2025.
Mais informações:
Assessoria de Imprensa do Festival
Fernanda Espíndola Tel.: (32)99929-4660
E-mail:fernandaguimaraesespindola@hotmail.com

sábado, 16 de junho de 2018

Lei Federal libera venda de queijos mineiros no país

(Por Arnaldo Silva) A Lei que altera a fiscalização de produtos alimentícios de origem animal, produzidos de forma artesanal, entre eles o queijo, foi publicada no Diário Oficial da União em 15/06/2018, necessitando de regulamentação do Ministério da Agricultura e dos Governos Estaduais. A lei substituiu a que foi promulgada por Getúlio Vargas em 1950, que impedia a comercialização fora das fronteiras dos estados brasileiros de produtos artesanais de origem animal como queijos, mel e embutidos. Uma luta de décadas dos produtores não só de Minas, mas de todo o Brasil, principalmente dos que produzem queijos. 
          Os produtores de queijos aguardavam a regulamentação da Lei pelo Governo Federal e comemoraram muito, já que no dia 19/07/2019, a regulamentação do Selo Arte foi feita pelo Ministério da Agricultura. Isso significa que os produtos artesanais com o Selo Arte, como os produtos derivados do leite, mel e embutidos podem ser vendidos normalmente em todo o território nacional. Na prática, retira o comércio de queijo mineiro da "clandestinidade" ou venda limitada, já que a lei de 1950 impedia a venda dos nossos queijos fora do Estado de Minas Gerais, o que levava os queijeiros mineiros a venderem de forma informal os queijos, correndo o risco de terem seus produtos apreendidos pelos órgãos de fiscalização, como já ocorreu várias vezes.(foto acima de Elvira Nascimento, queijos artesanais de Ipaneminha, distrito de Ipatinga MG)
         Com a regulamentação do Selo Arte, cabe aos estados, de acordo com suas leis estaduais e sanitárias, liberar a comercialização dos queijos para fora de suas fronteiras. Em Minas Gerais Lei que regulamenta a produção de queijos no estado foi promulgada em dezembro de 2018. Agora o Governo Mineiro poderá emitir a liberação do comércio de queijos, mel e embutidos mineiros para fora do estado, cadastrando os produtores que estejam de acordo com as normas sanitárias vigentes, bem como as regras do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) que já está se mobilizando se adequar à regulamentação do decreto do Selo Arte.
         Minas Gerais tem 30 mil produtores de queijos artesanais legalizados, com autorização do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) para comercializarem seus produtos no Estado. Desde número, apenas 10, têm documentação que permite a venda de seus produtos fora do estado. Com a regulamentação, esse número irá aumentar significativamente, o que é comemorado e muito pelos produtores de queijos mineiros, já que é o reconhecimento de um dos maiores patrimônios da cultura e gastronomia de mineira.
         Minas Gerais lidera a produção de queijos no país com 68% da produção nacional. São 320 mil toneladas de queijos por ano, sem contar outros tipos de queijos artesanais como o Cabacinha, tradicional no Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas, o requeijão moreno e queijos feitos para consumo próprio. A tendência será um rápido crescimento da produção de queijos artesanais mineiros, podendo equiparar à produção industrial. Isso porque os produtores, visando à expansão do mercado que a regulamentação passou a permitir,  irão aumentar sua produção. 

         Pra se ter ideia, somente nas 12 regiões produtoras de Queijo Minas Artesanal de leite cru (Serra da Canastra, Serro, Araxá, Campo das Vertentes, Triângulo Mineiro, Cerrado, Diamantina, Entre Serra da Piedade e do Caraça, Alagoa, Mantiqueira de Minas, Serras do Ibitipoca e Serra do Salitre), segundo dados da Emater, 9 mil produtores que produzem anualmente 219 mil toneladas de queijos, com vendas praticamente restritas ao mercado interno mineiro. Com o fim das dificuldades impostas pela lei anterior e com a liberação da comercialização dos produtos artesanais, as vendas irão aumentar em muito, bem como o estado ganhará com mais impostos recolhidos já que aumentará a produção, gerará mais empregos e renda para as famílias que sobrevivem da produção de queijos.
        Em breve as gôndolas dos supermercados de todo o Brasil terão os famosos queijos mineiros à disposição dos brasileiros, o que irá valorizar ainda mais os queijos produzidos em Minas Gerais, reconhecido tanto no Brasil como no exterior, como um dos melhores do mundo. 

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Bolo de fubá tradicional de Minas

(Por Arnaldo Silva) Essa é uma das mais tradicionais receitas de Minas Gerais, mais de 200 anos presente na mesa do povo mineiro. 
          No início os ingredientes eram difíceis de conseguir, pelas dificuldades da época. O leite vinha direto do curral. Fubá era moído no moinho de pedra. Não existia óleo, usava-se banha de porco.  Bater a massa era na mão mesmo. Fermento não existia, usava-se o bicarbonato. 
          Como o trigo era um produto difícil de conseguir naqueles tempos, não era usado nos bolos de fubá. Ao invés de farinha de trigo, usavam coalhada. Trigo em bolo de fubá é invenção. Bolo de fubá é feito com fubá e não leva farinha de trigo. E tudo era assado no forno a lenha. Quem não tinha forno, assava no fogão a lenha.
          Simplesmente colocava a massa numa panela, na trempe do fogão e cobria a panela com uma chapa cheia de brasa. Assim ficava assado por igual e super delicioso. 
          A maioria das famílias antigas eram bem simples e não existia como hoje copo americano ou xícaras para tirar as medidas.  A quantidade de ingredientes eram medidas em pratos, aqueles pratos esmaltados.
          Em algumas comunidades de Minas usa-se os ingredientes tradicionais da receita. Mas como a maioria do mineiro e brasileiro vive em cidades grandes, as tradicionais receitas tiveram que se adaptar aos novos ingredientes e facilidades da vida moderna nas cidades. 
          Hoje é fácil encontrar nos supermercados os ingredientes para qualquer receita. O objetivo é manter a tradição do sabor, da originalidade da receita, com as facilidades que a vida moderna nos oferece.  Aprenda então a fazer o tradicional Bolo de Fubá, natural de Minas Gerais.
Você vai precisar de:
. 400 gramas de fubá mimoso + ou -
. 100 gramas de coalhada 
. 1 copo americano de óleo faltando um dedo para encher. (até aquela linha superior do copo)
. 3 ovos caipira
. 1 colher de sopa de fermento em pó
. 2 copos de leite (não é leite em pó, nem leite de caixinha, melhor seria o cru, mas na cidade é difícil de encontrar, use então o pasteurizado)
. 1 copo americano de açúcar
. 1 pitada de sal
1 copo americano de Queijo Minas meia cura ralado
(não se usa trigo em bolo de fubá original, mas se preferir, use apenas 2 colheres e meia de sopa de farinha de trigo que é para dar mais firmeza ao bolo)
Pra fazer:
- Coloque no liquidificador a metade do fubá, a coalhada, o óleo, os ovos, o sal, o açúcar, o leite e bata bem.
- Vá acrescentando aos poucos o restante do fubá, até a massa ficar bem consistente.
- Quando terminar de bater, com o liquidificador desligado, misture com uma colher, o fermento e o queijo.
- Despeje todo o conteúdo numa forma redonda ou retangular, untada com manteiga
- Leve para assar em forno pré-aquecido a 200ºC até dourar.
Assando na chapa a brasa
          A receita foi adaptada aos ingredientes e facilidades encontradas na cidade hoje, mas quem puder e tiver condições pode fazer da forma tradicional. A medida você vai tirar com pratos esmaltado que hoje são fáceis de encontrar. Use leite cru, fubá de moinho, bicarbonato de sódio no lugar do fermento, coalhada no lugar da farinha de trigo, banha de porco, ovos de galinha caipira. 
          Acima tem quatro fotos, de autoria de Carias Frascoli, mostrando o processo. Mas fazer o bolo original é bem simples.
- Misture os ingredientes citados com a medida da primeira receita numa panela, mexa com colher de pau e com esta colher, bata por uns 15 minutos, até ter consistência boa.
- Coloque a massa numa panela sobre o fogão a lenha e cubra com uma chapa de metal (pode chapa de lata) com muita brasa ardente e deixe assando até dourar. 
          Há mais de 200 anos era assim que se fazia bolo. Fica outra coisa, um bolo maravilhoso, delicioso demais!
(Por Arnaldo Silva (Bom Despacho MG) - Receita de família. 
 A primeira foto é da Márcia Porto de Santa Maria do Salto MG e as outras de Carias Frascoli de Cristais MG)

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