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domingo, 14 de janeiro de 2018

Declaração mineira de amor aos amigos

Uma singela poesia, no mais simples mineirês. Aquele jeito bem singelo do povo do interior, do nosso sertão falar. É a linguagem do coração, da emoção e da saudade de ouvir nossos pais e avós contarem seus causos nesse linguajar tão suave e gostoso de ouvir. Essa declaração, mesmo curtinha, mostra o jeito simples, carinhoso e amável do mineiro falar.
Ocê é o colírio du meu ôiu.
... É o chicrete garrado na minha carça dins.
É a mairionese du meu pão.
É o cisco nu meu ôiu (o ôtro oiu - eu tenho dois).
O rechei du meu biscoito.
A masstumate du meu macarrão.
Nossinhora!
Gosto dimais da conta docê, uai.
Ocê é tamém:
O videperfume da minha pintiadêra.
O dentifriço da minha iscovdidente.
Óiprocevê,
Quem tem amigossim, tem um tisôru!
Ieu guárdêsse tisouro, com todu carinho ,
Du lado isquerdupeito !!!
Dentro do meu Coração!!!
AMO Ocê, uai!!!

(A.D.) Autoria Desconhecida
Artes da Conheça Minas.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Diamantina: a cidade da música

(Por Arnaldo Silva) Diamantina, está a 292 km de Belo Horizonte, no Vale do Jequitinhonha, rodeada por belas formações rochosas e poucas áreas planas, o que favoreceu o surgimento de belas cachoeiras. Sua altitude é de 1280 metros. Diamantina se destaca na produção de queijos e sua elevada altitude, favorece a produção de café de alta qualidade. No inverno, as temperaturas costumam ser bem baixas.
          Conhecida como a capital do Jequitinhonha, da seresta, terra de Chica da Silva e Jk, é também conhecida como a cidade da música. Além das serestas, bartucada e da vesperata famosas no Brasil inteiro, a vocação do diamantinense para música está presente no dia a dia da cidade histórica, em todos os ritmos. É raro nas famílias diamantinenses, não ter pelo menos um músico. (foto acima de Wilson Fortunato)
          A cadeia do Espinhaço, a arquitetura colonial preservada, as belas cachoeiras e a riquíssima história do antigo Arraial do Tejuco, hoje Diamantina, inspiram notas musicas e ritmos diversos que ecoam pela cidade. 
          Vozes e os sons dos instrumentos podem ser ouvidos pelos becos, ladeiras e cantos da cidade Patrimônio Cultural da Humanidade.
Parar e ouvir os grupos cantando é quase que obrigatório. Muitos não se contentam em apenas ouvir, mas dançar e esbanjar sua alegria. A música é de qualidade e o talento dos artistas é indiscutível. Eles cantam não apenas por profissão, mas sim com alegria e orgulho por saberem que a música que tocam, traz alegria ao coração dos cerca de 200 mil turistas que visitam Diamantina todos os anos. O turista vem à cidade e guarda na lembrança o som dos instrumentos e a alegria dos artistas cantando nas ruas. (foto acima de Giselle Oliveira)
          Nos dias de Vesperata (na foto acima de Edson Zanatto), onde das sacadas dos casarões, bandas locais entoam músicas em ritmos diversos, impressiona e emociona os milhares de presentes. Além da Vesperata, tem o Carnaval de rua, com a famosa Bartucada, que atrai outros milhares de visitantes para a festa, percorrendo as ruas da cidade ao som do famoso grupo de percussão.
          Visitando a cidade, o turista além da música, pode conhecer pelas ruas da cidade o artesanato local, feito com flores de Sempre-vivas. Na Feira dos Produtores Rurais e Artesanato o visitante encontra cachaça, queijos, doces, mel, comida mineira, o famoso artesanato em cerâmica do Vale do Jequitinhonha, etc. (foto acima de Elvira Nascimento)
          Além do artesanato e da excelente culinária da cidade, alguns pontos turísticos não podem deixar de ser visitados como o Mercado Municipal (na foto acima de Sérgio Mourão), a casa em que viveu Juscelino Kubistchek, hoje museu, o casarão de Chica da Silva e João Fernandes de Oliveira, o Passadiço do Glória, a Catedral de Santo Antônio, a Casa do Padre José da Silva Rolim (Museu do Diamante), Capela da Santa Casa de Caridade, Praça da Unesco, Cruzeiro do Cula, Vila de Biribiri, Museu do Tropeiro, Distrito de Extração, cachoeira como a dos Cristais, da Sentinela, dentre outras belezas naturais e arquitetônicas. (foto abaixo de Wilson Fortunato)
          Diamantina oferece uma boa estrutura hoteleira, com ótimos hotéis e pousadas. Uma excelente rede gastronômica, com comidas típicas bem como uma boa infraestrutura para receber o turista. 

sábado, 6 de janeiro de 2018

A casa de meus avós

(Por Arnaldo Silva) Quando eu ia pra roça, de longe já avistava a casa dos avós, no povoado do Salitre. Era uma casa em estilo barroco, na cor branca por dentro e por fora, com janelas e portas em madeira, pintadas de rosa. Não tinha chaves, nem cadeados. Eram trancadas com tramelas. (a imagem acima é uma tela do artista plástico Alfredo Vieira e mostra a semelhança do lugar com a casa de meus avós.)
          Ao redor da casa tinha um quintal enorme. Ao lado um curral bem cuidado, cheio de vacas leiteiras. Tinha também um paiol ao lado que vivia sempre abarrotado de milho. 
          No quintal tinha um enorme cajueiro. Vários pés de laranjas e mexericas. Jabuticabas e goiabas tinham demais. Jambo, manga, romã. Entre um pé de manga e o cajueiro, tinha algumas varas de bambus que servia de poleiro para as galinhas, que eram criadas soltas.
          Elas faziam os ninhos no mato e saíamos sempre pelo mato a fora para encontrar os ninhos. Rapidinho já estava de volta com cestos cheios de ovos.
          Ao lado da cozinha tinha um giral, onde minha avó colocava as panelas lavadas e bem areadas. Minha avozinha querida sabia fazer sabão caseiro e muito bem.
          O fogão a lenha era um brinco, muito bem cuidado e barreado todos os dias. Tinha uma travessa de madeira sobre ele, onde sempre tinha lingüiça e carne pendurados para defumar naturalmente.
          Pra lavar roupas tinha uma mina, a uns 100 metros da casa. A água era pura e cristalina e as roupas ficavam limpinhas. Minha avó fazia as roupas. Tinha uma roda de fiar e máquina de costura. Costurava como ninguém e ensinou isso para todas as filhas.
          Água pra beber e fazer comida vinha da mina. Minha avó buscava na mina em potes de barro e sempre ficava fresquinha. Um sabor totalmente diferente.
          A cama era feita com madeira de cerejeira, encontradas na mata mesmo. O colchão era pano cheio de palha e o travesseiro era pano cheio de flor de paina.
          Não podia deixar de ter na casa, claro, uma dispensa. Nessa dispensa eram guardados o arroz, o feijão e mantimentos. Nela também se fazia os queijos. Lembro bem, no teto, tinham tábuas amarradas em cordas, cheio de queijos. Tinha uma porta e uma pequena janela, sem iluminação. Parecia uma caverna. Por isso que os queijos da minha avó eram bons demais. 
          A maioria dos queijos era para vender ou trocar e claro, fazer as quitandas que minha avó sabia fazer como ninguém. Tinha um mandiocal na fazenda e meus tios colhiam as mandiocas e minhas tias faziam farinha e polvilho. Nunca comi quitandas tão gostosas como minha avó fazia.
          Na casa, sempre tinha biscoitos de queijo e de polvilho para os filhos, netos e claro, para as visitas.
          A casa era grande. A família era numerosa. Com a minha mãe eram 11 filhos. Naquela época ninguém tinha menos de sete filhos. Não existia a época as opções de diversão de hoje, nem energia elétrica.
          O jeito era deitar cedo e namorar. Como não existia anticoncepcionais naqueles tempos, quase todo ano era um filho. E ter muitos filhos era motivo de orgulho dos pais e quanto mais filho melhor. Desde pequenos, os filhos já iam para o trabalho na roça. Tinha criança de sete anos pra cima já tirando leite, buscando gado no pasto ou fazendo algum tipo de trabalho na roça. Debulhar milho, cortar mandioca, bater feijão ou arroz eram os trabalhos mais comuns que todos faziam. 
          O curioso era a casa por dentro. Tinha sala, cozinha, copa e quartos normais. O quarto dos homens era normal, com porta. Das mulheres não. A entrada ou saída é por um único lugar, pelo quarto dos pais e sem porta. Se elas fossem entrar ou sair, tinham que passar pelo quarto dos pais. 
          Isso era para proteger as moças ou no caso, as famílias da desonra, caso algum interesseiro aparecesse ou as moças pensassem em dar uma escapulida à noite ou mesmo fugir. Ao entrarem para o quarto para dormir, lá ficavam. Não saiam para nada. Se tivessem vontade de fazer algo, tinha penico embaixo da cama, mas sair à noite, de jeito nenhum.
              Assim também era a casa. O quarto das moças, que na verdade eram dois quartos, tinha entrada por dentro do quarto do casal. A cama ficava rente a porta de entrada do quarto das meninas e ao lado, uma vara de marmelo. Caso elas aprontassem, a vara comia no couro delas.
          Não tinha banheiro dentro de casa. Pra eles isso era falta de higiene. Tinha o que antigamente se chamava de “casinha”. Era uma pequena casinha, sobre uma fossa, com um buraco no meio. Sempre tinha sabugo de milho dentro da casinha. Não tinha papel higiênico e o sabugo era para limpar mesmo. Ardia que era uma beleza! Tinha uns que usavam folhas de bananeiras, mas era muito lisa e escorregava e acabava sujando mais que limpando.
A maioria preferia ir para o mato mesmo.
          Mas ninguém nunca morreu por causa disso. O avô paterno de minha mãe morreu com mais de 100 anos, dizem que ele morreu com 127 anos. Meu avô materno viveu até os 87 anos e os outros irmãos dele, passaram dos 90. Minha tia, irmã de minha avó morreu com 91 anos. 
          Eles trabalhavam muito. Levantavam cedo, antes de o galo cantar para buscar o gado no pasto, tirar leite ou ir para a roça plantar ou colher. Arroz, café, feijão, mandioca, milho.          Começavam de madrugada e só voltavam ao pôr do sol. Cada um levava uma cabaça cheia de água, enxada, foice e na capanga, tinha um caldeirão pequeno com a comida, uma vasilha com biscoitos e outra cabacinha com café. E assim passavam o dia.
          Nos meses de maio, agosto e dezembro, todos os membros da família se reuniam para um almoço especial. Além do tradicional almoço de domingo. Dias das Mães, Dia dos Pais e Natal era imprescindível a presença de todos na casa. E era um encontro maravilhoso. Os parentes vinham de longe só para visitar os pais nessas datas. Ausência era por um motivo muito justo e quase que injustificável. A família era valorizada e não tinha trabalho ou compromisso que impedisse a viagem. Só algo grave mesmo.
          Quando eles se foram desse mundo, não teve mais esses encontros de família. O encontro era em torno deles e todos os filhos os respeitavam. Tradição tão linda que se foi.
          Era obrigatório tomar bênção dos avós, tios, pais e padrinhos. Sempre fomos ensinados a isso. Ao levantar e ao deitar sempre se ouvia “bença mãe, bença pai”, “bença tio, bença tia”, “bença vó, bença vô”.
          São atos tão fáceis, tradicionais e de enorme valor sentimental. Pena que a geração de hoje não conhece isso. O prazer da reunião familiar em torno dos pais, da obediência aos mais velhos e de pedir a bênção para um pai, mãe, tios e avós. Receber um “Deus te abençoe meu filho” faz bem para o coração e alma.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A caminhada de São Francisco de Assis pela Serra da Canastra

Diz a lenda que em noites de lua cheia, São Francisco de Assis desce pessoalmente do céu e passeia pela imensa paisagem da Serra da Canastra.
          Na sua longa caminhada, ele conta um a um os seus animais de estimação: o lobo-guará, o tamanduá-bandeira, a onça, a ema, o veado campeiro, o pato mergulhão, o gavião, os passarinhos... Recolhe os que se perderam. Cura os feridos com os ramos de arnica e carqueja, que são remédios naturais ali do Chapadão.
          Quando a manhã não tarda e a aurora anuncia os primeiros raios do sol, o protetor peregrino, exausto, bebe água da nascente e lava ali o seu rosto. Colhe um ramo de lírios orvalhados para Maria, mãe de Deus.
          Ascende aos céus abençoando o Rio e seu povo. Pedindo que não destruam a Natureza.
Texto e fotografias de Maria Mineira - São Roque de Minas

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Radinho de pilha

(Por Arnaldo Silva) Minha casa não tinha televisão até 1975. Depois meu pai comprou um aparelho de TV da marca mais popular, Colorado RQ, brasileiríssima. RQ significa Requinte e Qualidade. Era o máximo aquela caixa de madeira que mostrava imagens. Adorava assistir aos desenhos animados, o Mundo Animal, Batman, Ultraman, Tarzan, a Feiticeira, Rim-tim-tim, o Sítio do Pica-pau Amarelo, dentre outros.
          Quando a imagem ficava ruim, diziam que para melhorar tinha que colocar Bombril na antena interna. E a nossa, claro, tinha também. E quando o Bombril não resolvia, o jeito era ir lá fora e ficar mexendo na antena externa, até melhorar. Quase não trocávamos de canal, dava um trabalho levantar e ficar rodando o botão.
          Eu gostava era de ficar olhando a TV por dentro. Era cheia de válvulas. Se uma queimava, tinha que trocar porque a TV não funcionava mesmo.
          Um dia passou um vendedor na rua oferecendo uma tela colorida. Parecia um arco-íris a imagem, mas todos tinham em casa e era moda, daí meu pai comprou.
          Mas o bom mesmo, e o que quero falar não é sobre TV, mas sim o rádio. Meu pai comprou um rádio, grande. Parecia uma caixa de vespa quando ligado. Madeira bem trabalhada. Era uma relíquia nas casas. Ficava sempre no melhor lugar da sala. 

          Em dia de jogo do Atlético, lá estava meu pai com o ouvido grudado no rádio. Cada gol um grito. E assim fui crescendo e virando atleticano, só de ouvir meu pai gritar gol do galo. Aprendi a ser atleticano em 1971, quando o Galo foi Campeão Brasileiro. Nos dias de jogos, ficava lá, ouvindo a narração do jogo e tentando imaginar as jogadas.
          Meu pai levantava cedo e antes dele ir para o trabalho, ligava o rádio e deixava ligado, sempre em programas sertanejos. Zé Bétio era um deles. O povo vinha da roça para a cidade, mas nunca perdia suas raízes. Cresci ouvindo música sertaneja, praticamente o dia inteiro. Tonico e Tinoco, Praião e Prainha, Zilo e Zalo, Irmãs Freitas, Irmãs Galvão, Inezita Barroso, Trio Parada Dura, Vieira e Vieirinha, Lourenço e Lourival, Tião Carreiro e Pardinho, Teixeirinha e Mary Terezinha, Rolando Boldrim, Pedro Bento e Zé da Estrada, Palmeira e Biá, As Mineirinhas, Duo Ciriema, Cascatinha e Inhana, Irmãs Barbosa e tantos outros artistas sertanejos. Gostava e gosto até hoje dessa música sertaneja, acrescentando Sérgio Reis, Almir Sater, Paula Fernandes, Tarcísio Manuvéi, Pena Branca e Xavantinho.
          O marcante mesmo é lembrar de meu pai, com o ouvido encostado no rádio, ouvindo essas músicas, cantando, sonhando e relembrando seus tempos de quando vivia na roça.

Por Arnaldo Silva com imagem ilustrativa Lucas Carvalho/@elclucas em Rio das Mortes, distrito de São João Del Rei MG

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

O dia da fazeção de pamonhas lá na roça

(Por Arnaldo Silva) Nunca me esquecerei do dia da “fazeção” de pamonhas. Meu avô plantava a roça de milho, a uns duzentos metros da casa e, a boa colheita dependia da chuva na hora certa. Íamos, vovô e eu, apanharmos o milho. Ali, cultivava-se também mandioca, inhame, cará, plantados na parte menos fértil do terreno. Segundo ele, o milho era cultura mais exigente e precisava de terra vermelha sem cascalho.
          Era bom chegar cedinho à roça, a tempo de ver o orvalho ainda escorrendo nas folhas de taioba. Amoitadas entre os pés de milho, eu encontrava as melancias - daquelas compridas da casca rajadinha- que eram as mais doces. Mais adiante estavam as abobreiras. Lindas com suas flores amarelas, escondendo enciumadas, as abobrinhas de um verde que nunca mais encontrei noutro lugar.
           Alastrando-se à cerca, havia o cará do ar e as buchas. O maracujá mais teimoso, também dela saía e se enroscava na porteira, enfeitando-a com suas flores, roxas e brancas. Eu me embaraçava num cipó de nome bonito, que era praga por ali, a “corda de viola”, meu avô ia cortando, porque estragava todo o milharal.
          O milho estava no ponto de pamonha quando as bonecas secavam o cabelo. Vovô dizia que o milho era uma planta abençoada, pois mesmo depois das ramas secas, ainda servia de suporte para o feijão ou a palhada alimentava o gado.
          Ao chegarmos à casa com o milho, um adulto era responsável por cortar a cabeça da espiga com o facão. Um bando de crianças tirava o cabelo delas. Então a mulherada separava as palhas e fazia os amarrilhos. Todos se acomodavam como podiam, no chão ou nos bancos em volta da montanha verde, no chão da varanda.
          Tudo arrumado, começava a ralação! Ralos grandes, gamelas, bacias. Minha mãe ficava com a tarefa mais difícil, escorava o ralo na barriga, segurava com uma mão e com a outra ia ralando uma a uma as espigas. Espirrava caldo de milho para todo lado. Certa vez, enquanto mamãe parou para beber água, fui escondida tentar ajudar, porém na primeira tentativa ralei as pontas dos dedos e tingi de vermelho parte da massa. Nunca mais me atrevi.
          Quando já havia massa suficiente para começar, era costume fazer assim: minha avó coava a massa amarelinha na peneira de taquara, alguém trazia uma vasilha com banha quente de porco - que chiava ao cair na massa- então, misturava-se bem e uma parte era adoçada com açúcar ou rapadura e a outra era temperada com sal, linguiça e pimenta. As mulheres mais treinadas faziam um copo com a palha do milho, colocavam um bom pedaço de queijo, mais uma palha e amarrava bem apertado, fazendo uma cinturinha na pamonha. Era preciso esperar o tacho de água ferver, antes de enchê-lo de pamonhas. Depois se cobria com as palhas verdes, tendo o cuidado de cozinhar as salgadas separadas das doces.
          Quando a palha amarelava, era sinal que estava pronto. No mesmo dia, eram feitos bolos de milho. Era só untar os tabuleiros, colocar mais queijo ralado na massa já pronta e levar ao forno para assar.
          Outra iguaria feita com o milho verde era o mingau, conhecido também por curau, para ele eram usadas as espigas mais duras. Bastava adicionar leite fresco à massa e coar num pano limpo, acrescentando açúcar e levando ao fogo até o ponto desejado.
Na casa de meus avós, o dia de mexer com o milho verde nem se fazia outro tipo de comida. Era milho cozido, milho assado na brasa, pamonha e bolo de milho o dia inteiro.
          Engraçado, que hoje em dia, encontram-se pamonhas o ano inteiro, no entanto elas não têm o mesmo gosto daquelas da roça, que só eram feitas certo período do ano. Acho que aquele sabor se chama saudade e me acompanhará sempre.
Dia de fazeção de pamonha em Cristais MG, registrada pelo Carias Frascoli

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Aprenda a fazer pão caseiro mineiro

(Por Arnaldo Silva) Fazer pão é uma arte. Antigamente os pães eram assados em fornos de barro. Hoje com a praticidade da vida urbana, podemos fazer pão caseiro no forno de um fogão normal. Tem gosto e cheiro de infância feliz, lembranças do tempo de nossas avós. O pão é macio, leve, deliciosamente gostoso eleva um pouquinho de queijo. Faça também, a receita é bem simples.
Ingredientes:
. 1 quilo de farinha de trigo + ou -
. 350 ml de água bem morna
. 3 colheres de (sopa) de manteiga caseira
. 3 colheres de (sopa) de açúcar
. 1/2 colher de (sopa) de sal
. 2 ovos caipira
. 250 gramas de Queijo Minas, meia cura ralado
. 20 gramas de fermento biológico seco (cada saquinho tem 10 gramas)
Modo de Fazer
- Coloque a água num copo, junto com o fermento e dissolva bem, tampe e deixe por 5 minutos descansando.
- Numa vasilha acrescente o açúcar, manteiga e os ovos e misture bem.
- Despeje aos poucos a farinha de trigo, mexendo devagar com uma colher de pau. 
- Com a massa ainda mole, acrescente o sal, o queijo, o fermento dissolvido junto com a água e misture devagar.
- Continue acrescentando farinha de trigo, sovando bem a massa, até que esteja desgrudando das mãos.
- Cubra com um pano e deixe descanso por 1 hora.
- Após esse tempo, divida a massa em três partes, faça os moldes de acordo com a fôrma que possui. Use preferencialmente as fôrmas próprias para pão ou bolo inglês.
- Unte as fôrmas com manteiga e enfarinhe, coloque os pães, cubra novamente e deixe descansando por mais 30 minutos.
- Pincele a superfície dos pães com gema de ovo batido e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC e deixe assando até que fiquem dourados.
Está pronto. Agora é passar o café e servir a vontade!
Fotos de @arnaldosilva_oficial

Conheça Varginha: a Princesa do Sul

(Por Arnaldo Silva) A “Princesa do Sul”, como Varginha é conhecida, é uma das mais desenvolvidas e importantes cidades mineiras. Foi considerada uma das melhores cidades do Brasil para se viver, pela Revista Veja, em 2011. A cidade tem cerca de 138 mil habitantes.
          Varginha (na foto acima de Marselha Rufino) está na região Sul de Minas Gerais e a 320 km de Belo Horizonte. Faz divisa com os municípios de Três Corações, Elói Mendes, Monsenhor Paulo, Três Pontas e Carmo da Cachoeira. A cidade está próxima de famosas estâncias hidrominerais do Sul de Minas como Cambuquira, Caxambu, São Lourenço, Poços de Caldas e das cidades da Região dos Lagos como Fama, Alfenas, Boa Esperança, Guapé. 
Atrativos turísticos
           Como atrativos turísticos, Varginha oferece a seus moradores e visitantes, passeios de barcos, jet skis, casas flutuantes sobre o Lago de Furnas, além de atrações urbanas como a Nave Espacial, uma caixa d´água que lembra um disco voador ; Estação ferroviária; Parque Zoobotânico; Parque Novo Horizonte; Represa de Furnas; Museu municipal; Parque Centenário; Casarões em estilo colonial e o Clube Campestre de Varginha, na Ilha Grande do Rio Verde.
          A cidade é banhada pelo Rio Verde, que juntamente com o Rio Sapucaí, forma o braço sul da Represa de Furnas, um potencial atrativo turístico da cidade que conta uma ótima estrutura gastronômica e hoteleira, para receber visitantes, seja a passeio ou a negócios já que a cidade possui um dos maiores PIB do Sul de Minas e do Estado, tendo ainda um IDH-M elevado, com baixos índices de desigualdades sociais. 
Economia e polo cafeeiro
          A economia do município é baseada no comércio e indústrias em diversos segmentos, destacando a indústria automobilística, eletrônica, injeção de plásticos e de grãos, principalmente, a indústria cafeeira. 
          Varginha é polo na produção de cafés de alta qualidade, sendo um dos maiores produtores e exportadores de grãos atualmente no mundo, encontrando-se no município filiais de grandes empresas do comércio cafeeiro mundial. Segundo dados do Índice Sebrae de Desenvolvimento Econômico Local – ISDEL, divulgados em 2018, Varginha é a quinta cidade com economia mais desenvolvida de Minas, atrás de Belo Horizonte, Contagem, Uberaba e Juiz de Fora.
Acesso e aeroporto
          O município é de fácil acesso rodoviário para as principais cidades do país e aeroviário. A cidade conta com o aeroporto, Major Brigadeiro Trompowsky (IATA: VAG, ICAO: SBVG). 
          São 2100 metros de extensão por 30 metros de largura, asfaltados, recebendo aeronaves de pequeno, médio e grande porte na categoria 3C do tipo Airbus A319 e Boing B737-700 de 145 passageiros, credenciado pela Agência Nacional de Aviação Civil. 
          A capacidade do aeroporto é de 165 mil passageiros/ano. No aeroporto são prestados ainda serviços de táxi aéreo. Ao lado do aeroporto, está a Estação Aduaneira do Interior, o Porto Seco do Sul de Minas, em franca expansão. 
O ET de Varginha
          Mesmo sendo um dos principais centros produtores de café do mundo, Varginha é famosa no mundo inteiro pela aparição de Extraterrestre. Falou em Varginha, falou de ET, isso é fato. (foto acima de Carias Frascoli)
          A história começou numa tarde de 20 de janeiro de 1996, quando as irmãs Liliane e Valquíria Duarte e a amiga Kátia Andrade Xavier, afirmaram terem visto uma criatura, bípede de 1,6 metros de altura aproximadamente, cabeça grande e corpo fino, com pés em forma de V, pele marrom e olhos vermelhos e grandes. 
          O fato foi exaustivamente divulgado por todas as mídias, chamando a atenção do mundo inteiro para uma possível aparição de Objetos Voadores Não Identificados, o que fez da cidade o centro das atenções no mundo na época e até hoje, o fato, conhecido como “Incidente de Varginha” é estudado pelos estudiosos das questões de OVNIS.
          Mas esse não foi o primeiro caso de supostas aparições de OVINI´s em Varginha. Em 1971, alguns moradores relataram terem visto um OVNI sobrevoando o município, bem como o mesmo objeto foi visto sobrevoando a Escola de Sargentos das Armas, ESSA, em Três Corações. O relato foi divulgado em 2017 pelo Ministério da Aeronáutica. 
          O ET de Varginha, como é chamado, trouxe modificações na paisagem urbana da cidade, com praças e monumentos lembrando o ET e OVINI´s como estátuas, caixas d´água (na foto acima de Carias Frascoli) em formato de disco voador, etc. A figura de ET e discos voadores na cidade são atrativos para os visitantes.      

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Leite ao pé da vaca e a receita de coalhada

(Por Arnaldo Silva) Lembranças e doces emoções sempre marcam nossas vidas. Na roça, antes do galo cantar, todos já estão de pé. Acordava com o mugido do gado no curral que ficava a alguns metros da casa. Abria a janela e aquela cena sempre me vem à mente. Verdes campos a minha frente, ao lado esquerdo plantação de arroz e acima, plantação de café.
          No curral lá estava meu avô, ordenhando. 
          Ia pra cozinha, pegava um copo esmaltado e colocava farinha de mandioca e um pouco de sal e ia rumo ao curral correndo e feliz. Agachava-me e meu avô ia tirando o leite. O copo enchia. Ás vezes me deixava tirar, mas não saia quase nada, porque eu não tinha força nas mãos ainda, era bem menino.
          O barulho do leite enchendo o copo soa como música aos meus ouvidos. Meu avô sabia tirar leite, saia muito e o copo até espumava.
          Levantava feliz, pegava uma colher e mexia e ia de colherada em colherada, tomando meu leite com farinha e sal. Ainda faço isso até hoje.
          Às vezes tomava o leite puro mesmo. O leite saia quentinho e deixava até bigodinho na gente.
          Eu sempre guardava leite para fazer coalhada. É fácil fazer e mesmo criança, eu fazia. Eu enchia um vasilhame de leite, tampava e deixava coalhar. Esperava um ou dois dias e pronto, era a minha coalhada. Comia com açúcar.
          Hoje a receita de coalhada mais usada é essa que segue:
Os Ingredientes são: 

. 1 litro de leite 2 colheres (sopa) de leite em pó integral 
. 1 iogurte natural 
. Canela e açúcar ou mel, se desejar
A noite é o melhor horário para fazer a coalhada porque o leite tem que descansar.
O jeito de fazer é o seguinte: 
- Ferva o leite e espere esfriar um pouco; 
- Enquanto o leite ferve, misture bem o leite em pó no iogurte até formar um creme; 
- Faça isso na vasilha onde pretende que fique a coalhada; 
- Despeje o leite, já na temperatura ideal, sobre esse creme que está na vasilha e misture bem; 
- Tampe bem sem deixar frestas e se quiser, embrulhe em bastante jornal e deixe até o amanhecer.
- Pela manhã, repare se a coalhada está consistente. Caso esteja, coloque na geladeira
          A coalhada, após muitos dias, fica meio aguada, o que é normal. Dê uma mexidinha e coma, sem problemas. Pode usar essa coalhada para fazer outra, sem utilizar mais iogurte.
Fotografias de Fabrício Cândido em Formosinho, distrito de Santos Dumont MG

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Conheça Cristina: a cidade da Imperatriz

(Por Arnaldo Silva) Cristina é uma pequena, aconchegante e charmosa cidade no Sul de Minas Gerais. Tem sua origem nos meados do século XIX. Foi fundada em 19 de junho de 1850. A cidade é conhecida como cidade imperatriz por ter seu nome em homenagem a imperatriz Teresa Cristina, esposa de Dom Pedro II, Imperador do Brasil. Quem nasce em Cristina é cristinense. Está a 1025 metros de Altitude e 416 km de Belo Horizonte. Cristina conta com cerca de 11 mil habitantes. 
           A cidade está localizada no sul do Estado. Faz divisa com os municípios de Maria da Fé, Dom Viçoso, Carmo de Minas, Olímpio Noronha, Pedralva, Conceição das Pedras.        
            A cidade se chamava anteriormente de Espírito Santo dos Cumquibu. Quem sugeriu a mudança desse nome para o de Cristina foi Joaquim Delfino Ribeiro da Luz, que nasceu no município, era Conselheiro e tinha influência na Corte Imperial, tendo também ocupado os cargos de Vice-presidente e Presidente Interino da Província de Minas Gerais e o de Deputado Geral do Império, além de ter sido presidente da Câmara de Vereadores. Foi ele que organizou a vinda à cidade da princesa Isabel e seu esposo Conde D´Eu à cidade em 1º de dezembro de 1868. A princesa veio conhecer a cidade que homenageava sua mãe no nome. O conselheiro foi o anfitrião, hospedando a princesa em sua residência na antiga Rua Direita, hoje, Rua Governador Valadares. Além do Conselheiro, outro ilustre cristinense foi Delfim Moreira, 10º presidente da República.
          A economia da cidade de Cristina é baseada em pequenos comércios, fábricas de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) como de luvas e equipamentos de couro, uma fábrica de batata palha, a Batatas Imperatriz e o laticínio Natalac.
          Na agricultura, Cristina se destaca na produção de cafés especiais, sendo o café produzido na cidade reconhecido internacionalmente como um dos melhores do mundo. Um de seus produtores, o agricultor Sebastião Afonso da Silva, teve seu café premiado por duas vezes consecutivas  do Cup Of Excellence (Copa da Excelência), o mais importante concurso de café do planeta, realizado anualmente pela Alliance for Coffe Excelence para identificar os cafés da mais alta qualidade do mundo. 
          Em Cristina destaca-se também a produção leiteira, atividade que envolve cerca de 200 famílias do município na produção de leite e seus derivados, de forma artesanal e para a comercialização.
          Outra riqueza do município é o turismo. O município integra o Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas e é servido pelas rodovias AMG-1905, MG-347 e MGC-383.
São várias e convidativas  cachoeiras como a cachoeira a da Gruta, mais frequentada pro estar bem próxima da cidade. 
          As paisagens nativas são atrativas para o visitante, com rios, nascentes,  belíssimas montanhas e paisagens maravilhosas, bem como a beleza das fazendas do município e suas construções em estilo colonial. 
          Já na cidade, o destaque são para os belos casarões e a Matriz do Divino Espírito Santo. A arquitetura das construções dos casarões da cidade tem traços do estilo barroco do século XIX e outros, com traços do estilo eclético, do século XX. São singelos, charmosos com traços arquitetônicos bem definidos e atraentes.     
          Vale a pena andar pelas tranquilas ruas de Cristina, conhecer Museu do Trem, que conta a memória da ferrovia na cidade, tendo como atração principal uma locomotiva, toda restaurada, suas belas praças e seus casarões como o Casarão dos Noronha Kauage (hoje transformado em pousada); o Casarão da família Fonseca; o Casarão da família Azevedo; Casarão da família Barcelos; o Casarão da família Alves Ribeiro; o Prédio centenário da Estação Ferroviária (hoje, transformado em Terminal Rodoviário). 
Reportagem de Arnaldo Silva, com toda as fotografias de autoria de Sandra Walsh

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