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domingo, 10 de julho de 2016

Minas se destaca na produção de cerveja artesanal

(Por Arnaldo Silva) Minas Gerais é a terra do queijo, do café, do doce, da cachaça, da melhora culinária do Brasil, tradição com mais de 300 anos. De alguns anos para cá, uma nova tradição vem ganhando espaço entre os mineiros. A cerveja artesanal. Um mercado que vem crescendo a cada dia no Estado. 
          Minas Gerais tem dois polos cervejeiros de peso: o polo de Juiz de Fora e o da Grande Belo Horizonte, onde estão as maiores cervejarias do Estado, com boa parte concentradas nos bairros Olhos D´Água em Belo Horizonte e Jardim Canadá em Nova Lima. (na foto acima de Clésio Moreira, cervejas Red Ale, Stout e Pilsen, da cervejaria artesanal Tchanes de Caeté MG)
          Quando a cerveja artesanal começou a ganhar forma em Minas, nossos cervejeiros fizeram a opção pela linha Belga, para se diferenciar da linha alemã, predominante no Sul do país. A Bélgica produz uma das melhores cervejas do mundo e a opção por essa linha, mostrou-se um grande acerto de nossos cervejeiros. Além da qualidade da cerveja produzida no Estado, a grande quantidade de cervejarias artesanais impressiona. São mais de 1500 cervejarias, que produzem cerca de 50 tipos de cervejas diferentes, espalhadas por várias cidades de todas as regiões de Minas.
          A cada dia, as cervejas mineiras conquistam o paladar não só do mineiro, mas do brasileiro em geral, que vem se rendendo à qualidade da linha produzida em Minas Gerais. O que se fez ao longo desses anos foi agregar valor às tradicionais receitas de cervejas. Esse foi o diferencial. 
          As cervejas mineiras são mais encorpadas, comparando-se com as cervejas tipo pilsen, a mais vendida no Brasil, que tem baixo amargor. Além disso, os cervejeiros mineiros conseguiram um perfeito equilíbrio com o dulçor do malte e a incorporação de novos elementos às tradicionais fórmulas como mel, chocolate, frutas secas, açúcar mascavo e gengibre. Outro detalhe que chama a atenção é a maturação da cerveja mineira. A maturação é feita em nos famosos barris de umburana, tradicionalmente usados no envelhecimento da cachaça mineira. (foto abaixo de Clésio Moreira)
         Para se ter uma ideia do cuidado e criação dos nossos cervejeiros, destacamos as cervejas Vivre pour Vivre e Falke Tripe Mosterium, ambas da Falke Bier. A primeira é feita com jabuticaba e passa por três fermentações, levando três anos para ficar pronta. A segunda fica 45 dias descansando, ao som de Canto Gregoriano.
O mineiro é apaixonado por uma boa cerveja, prova disso é o crescimento em torno de 20% das cervejarias mineiras por ano. 
          Esse crescimento vem aumentando desde 2014, chegando a uma média de 2,1 milhões de litros por mês ou 25 milhões de litros no ano, em 2018. Uma média impressionante.        
          Por conta desse crescimento, as cervejarias mineiras vêm recebendo premiações seguidas, tanto nacionais, como internacionais em destaque para as cervejarias Wäls, Verace e Krüg Bier. Destacam também as cervejarias Prússia, Inconfidentes, Grimor, Jambreiro,Vinil, Küd, a Prússia de São Gonçalo do Rio Abaixo, Fritz de Monte Verde MG, Loba de Santana dos Montes MG e a Ouropretana, de Ouro Preto MG. (foto abaixo de Clésio Moreira)
Premiações nacionais e internacionais
          Em abril de 2014, quando uma cerveja produzida pela Wäls, a Dubbel, ganhou medalha de ouro na World Beer Cup, a Copa do Mundo da Cerveja, evento bianual realizado nos Estados Unidos. Nesse evento, participaram 4.800 rótulos, de 1400 cervejarias de 58 países de todo o mundo. Dai a importância dessa medalha. Outra linha da Wälls, a Quadruppel, foi premiada com medalha de prata, neste mesmo concurso.
          No ano seguinte, 2015, no Word Beer Awards, uma das mais importantes competições de cervejas do mundo com marcas de todo o planeta, realizado todos os anos na Inglaterra, a cerveja Wäls de Belo Horizonte, levou dois prêmios máximos, a de melhor Lager de estilo Checo e a de melhor cerveja de estilo Brut/Champagne. Em 2018, mineira Wäls foi a grande vencedora do World Beer Cup, o equivalente a ‘Olimpíada das Cervejas, recebendo o prêmio máximo da competição que aconteceu nos Estados Unidos. A Wäls Brut foi contemplada com a medalha de ouro na categoria Belgian Ale, tornando Wäls a marca brasileira mais premiada em todas as edições do evento, com dois ouros no portfólio.
          Em 2019 a Verace de Belo Horizonte, foi premiada no Concurso Brasileiro de Cervejas, durante o 7º Festival Brasileiro de Cervejas, realizado em Blumenau/SC, conquistando sozinha sozinha, sete medalhas. O Festival Brasileiro de Cervejas de Blumenau é o terceiro maior do gênero mundo. Participaram mais de três mil rótulos, com 156 estilos diferentes.
      
         Pela inspiração nas melhores cervejas da Bélgica, com mais de 50 estilos de cervejas, centenas de cervejarias artesanais por todo o Estado e pela qualidade reconhecida, Minas Gerais se consolida e se torna a Bélgica das cervejas artesanais no Brasil. (foto acima de Arnaldo Silva)
Lembre-se: é proibido a venda e consumo a menores de 18 anos. Beba com moderação. Se beber, não dirija. (as imagens são meramente ilustrativas)

sábado, 9 de julho de 2016

Receita Fígado com jiló

A mais popular receita do Mercado Central de Belo Horizonte caiu no gosto de todos os mineiros. Aprenda a fazer:
INGREDIENTES
. 1 kg de fígado, cortado em bifes mais grossos
. 6 jilós fatiados em rodelas
. 3 dentes de alho picados
. 2 cebolas fatiadas em rodelas
. 1 colher de sobremesa/rasa de Tempero Mineiro (é uma mistura de vários ingredientes)
. Sal (para salmoura do jiló)
. Óleo
. Pimenta biquinho à gosto
. Molho inglês à gosto
MODO DE FAZER 
- Corte os jilós em rodelas, misture o sal e mexa bem
- Deixe agindo por uns 3 a 5 minutos
- Em seguida, passe em água corrente para tirar o amargo.
- Corte o fígado em fatias pequenas, tipo iscas e tempere
- Coloque o fígado na chapa bem quente com um pouco de óleo e deixe selar bastante, virando os lados pra fiquem por igual.
- Coloque o fígado já temperado na chapa bem quente e deixe selar. - Espalhe molho inglês e alho sobre as iscas
- Na mesma chapa coloque os jilós e vá mexendo e espalhando pela chapa para que não fiquem amontoados e cozinhem por igual.
- Espalhe a cebola picada sobre a chapa e misture bem por uns 5 minutos.
- Quando estiver quase pronto, coloque uma colher de sopa de manteiga e misture tudo antes de tirar da chapa.
Está pronto o fígado com jiló! Agora é se deliciar com a famosa iguaria do Mercado Central.
Primeiro foto da Katita Jardim e segunda da Mary Rodrigues

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Jabuticaba é o Ouro Negro de Sabará MG

(Por Arnaldo Silva) Um infância saudável e feliz é sempre recheadas de doces momentos, doces lembranças principalmente, a criança que cresceu à sombra de uma jabuticaba, no quintal ou no pomar da fazenda. O sabor é especial, a fruta explode na boca e de tão gostosa, é difícil parar. Só quando não couber mais na barriga mesmo. (fotografia abaixo: Prefeitura de Sabará MG/Divulgação)
          Mas quem está longe de uma jabuticabeira, pode matar a saudade da jabuticaba, experimentando todas as delícias que a fruta oferece como vinhos, espumantes, vinagretes, doces, geleias, bolos, sucos, molho, licor, cachaça, cocadas, bombons, picolés, chup-chup, tortas, recheios diversos, bolos, sorvetes, caipijabuticaba, jimbuticaba, dentre outras delícias. Onde? Em Sabará, cidade histórica que fica apenas 20 km de Belo Horizonte. A Jabuticaba é tão importante para a cidade que esse delicioso fruto da primavera é considerado o ouro negro da cidade, conhecida como a Capital da Jabuticaba no Brasil. 
          A fruta movimenta a economia, gera empregos e renda para milhares de famílias. Todos os anos, entre novembro e dezembro acontece o tradicional Festival da Jabuticaba e os visitantes tem à sua disposição todos os derivados da fruta à disposição como molhos, licores, cachaças, sorvetes, geleia, bolos, doces, vinhos etc. à disposição. Em algumas bancas, tem jabuticaba in natura para aquisição, mas o objetivo principal do Festival é mostrar os derivados e os diversos pratos oriundos da jabuticaba. (fotografia acima de 
          A Jabuticabeira é uma fruta tipicamente brasileira e bastante apreciada no país. São 9 espécies de jabuticabeiras existentes. Os frutos mais consumidos são os provenientes das espécies: Plinia jabuticaba, a popular Jabuticaba Sabará; Plinia cauliflora, Açu-paulista presente em São Paulo, se estendendo até o norte do Rio Grande do Sul; e a Plinia trunciflora, conhecida por jabuticaba de cabinho, presente em todo o país, sendo esta espécie a que apresenta maior diversidade de frutos. A espécie preferida dos mineiros, por ser nativa do Estado, é a jabuticaba Sabará (Plinia jabuticaba) (fotografia acima de Sérgio Mourão)
O tradicional Festival de Sabará
          Em 2024 o tradicional Festival da Jabuticaba de Sabará, completará 38 edições. A  38º edição acontecerá entre os dias 14 e 17 de novembro em Sabará MG.
          No evento são eleitos o melhor licor, a melhor geleia e o melhor produto inovador, quando o produtor terá oportunidade de apresentar suas criações gastronômicas, tendo como produto principal a Jabuticaba de Sabará.
          Esse evento é um dos mais importantes do calendário mineiro e recebe a visita de milhares de turistas vindos de todos os cantos do Brasil.
          O Festival é organizado de forma que facilite para o visitante conhecer e adquirir os produtos, organizados por produtores, em barracas adequadas. (na imagem acima, os diversos produtos feitos a base de jabuticaba. Foto: Prefeitura de Sabará/Divulgação)
          Durante o Festival, geralmente à noite, acontece apresentações de artistas com shows musicais.
          Ao criar o festival, a cultura da jabuticaba na cidade foi resgata e Sabará se manteve como a Terra da Jabuticaba.  No Festival são apresentados todos as receitas e iguarias criadas pelos chef´s locais com a fruta. As receitas tradicionais são preservadas de geração em geração e outras desenvolvidas, graças a criatividade do povo sabarense, dotados de uma vocação incrível para a culinária. Durante o Festival, além da estrela maior, a jabuticaba, o visitante pode apreciar bebidas, salgados e pratos típicos da culinária de  Minas Gerais e de Sabará como pratos típicos da terra como umbigo de banana, broto de samambaia, abobrinhas recheadas, canjiquinha com costelinha, rabadas, frango com Ora-pro-nobis, doces, etc.
          Além de encontrar todos os derivados da jabuticaba no Festival, bem como a própria fruta, o visitante tem o privilégio de alugar um pé de jabuticaba, caso queira. Os moradores permitem que os visitantes entrem em seus quintais e degustem a fruta no pé. 
Além do Festival
          Mas indo ao Festival da Jabuticaba, o visitante terá uma rica experiência pelas ruas de Sabará que foi a terceira Vila do Ouro de Minas. É uma cidade histórica, com um rico acervo do tempo do Brasil Colônia com um rico e preservado casario e igrejas construídas por Aleijadinho com pinturas de Manoel da Costa Ataíde, como as Igreja de São Francisco, Nossa Senhora da Conceição, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e Capela de Nossa Senhora do Ó. O Chafariz do Caquende é um dos pontos mais visitados da cidade, além da Casa da Ópera, inaugurada por Dom Pedro II.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Receita de Torresmo sequinho e sem estouro

INGREDIENTES
. 1 quilo de barriga de porco
. Sal e pimenta-do-reino a gosto
. 1 xícara (chá) de farinha de trigo
. suco de 1/2 limão
. 1/2 litro de óleo para fritar
MODO DE PREPARO
- Corte a barriga (panceta) em pedaços pequenos, tempere com sal, a pimenta-do-reino e o limão. Misture bem e deixe descansando por uns 15 minutos.
- Depois desse tempo, coloque tudo em um recipiente com tampa, coloque a farinha, tampe e faça movimentos bruscos para que a farinha misture bem e forme uma camada bem fina de cobertura
- Coloque o óleo para aquecer e quando estiver quente, coloque as barrigas do pote, deixe que fique cobertas pelo óleo, mexa de vez em quando, fritando até ficarem sequinhos
- Fique tranquila(o) não vai estourar e vai ficar uma delicia.
Primeira fotografia de Itamar Filho e segunda de Edson Borges

terça-feira, 14 de junho de 2016

Receita de biscoito de queijo frito

Esse biscoito é uma delícia! Com café nem se fala. Fica crocante e muito saboroso. Muitas pessoas evitam fritar biscoito de polvilho devido os estouros que provocam queimaduras.
          Uma técnica que usamos é de antes do óleo ferver por completo, colocamos os biscoitos para fritar. Quando a gente retirar e vai fritar mais, colocamos mais óleo frio. Isso evita que os biscoitos estourem
Vamos então à receita:
INGREDIENTES
. 1 xícara de chá de leite
. 1/2 xícara de chá de óleo
. 1 ovo
. 2 1/2 xícaras chá de polvilho azedo
. 250 gramas de queijo Minas meia cura ralado
. 1 colher (sopa) de sal
MODO DE PREPARO
- Coloque o óleo e o leite em uma panela e deixe ferver;
- Coloque o polvilho em uma panela e vá despejando o óleo com o leite quente aos poucos e mexendo com uma colher de pau.
- Vá escaldando e mexendo
- Mexa bem, mas bem mesmo e até a massa esfriar;
- Depois acrescente sal, o ovo, o queijo ralado e misture com as mãos;
- Sove bastante, até a massa ficar bem firme e lisa.
- Se ficar seca, acrescente mais um ovo e um faça um pouco de leite quente;
- Faça os moldes a seu gosto e frite em óleo frio ou morno pra não estourar.
- Quando esquentar muito, coloque mais óleo frio e assim vai até acabar de fritar todos.
Fazendo isso evita estouros. Lembre-se disso.
Agora é passar o café e saborear essa delícia crocante, saborosa e com gostinho de casa de vó!
Fotografia de Marino E. Santo Júnior - Belo Horizonte

quinta-feira, 2 de junho de 2016

A origem do nome e gentílico de Minas Gerais.

(Por Arnaldo Silva) O território que hoje é Minas Gerais, era chamado de Cataguás, (também conhecidos como Cataguases) por ser habitado por indígenas desta etnia. Os Cataguás eram guerreiros valentes e um povo presente em todo os cantos do território mineiro, a ponto da região, que é hoje o nosso Estado, ser conhecida como “País dos Cataguás” ou até “Campos Gerais dos Cataguases”, denominação que só desapareceu depois de criada a Capitania de Minas Geraes (com E mesmo).
          Devido a variedade enorme de minas de diversos metais encontradas no que é hoje o território mineiro, o primeiro nome dado no período do Brasil Colônia era MINAS GERAES e o gentílico era GERALISTA e não mineiro. Após 1720, no século XVIII, a grafia do nome do Capitania passou a ser Minas Gerais, sem o E. Mas o gentílico continuou sendo geralista. (foto acima de Arnaldo Silva)
          Nessa época, Minas Gerais vivia no auge do Ciclo do Ouro e praticamente todos os moradores das Minas Gerais trabalhavam ou dependiam de alguma forma da exploração de minas de ouro, ferro, prata, bauxita, manganês, estanho, níquel, esmeraldas, diamante, calcário, quartzo, etc.
          Quem trabalhava nas minas era chamado de mineiro. 
          Naquele período, bastava perguntar para qualquer um: o que você é? A resposta era na hora. Sou mineiro! Ninguém falava, sou geralista, falava claramente, sou mineiro. 
          Não tinha o uai completando a resposta não, já que a expressão uai se popularizou somente no século XIX.
          Por esse motivo optaram na época de mudar o gentílico geralista para mineiro. Bem melhor!
De Capitania a Província
          Em 28 de fevereiro de 1821, ainda sob o reinado português, foram criadas novas subdivisões do território brasileiro. As capitanias tiveram seus nomes mudados para províncias, mas sem autonomia, sendo totalmente subordinadas à Corte.
          A Capitania de Minas Gerais passou a se chamar Províncias de Minas Gerais com regulamentações provincianas determina das por Portugal.
          Com a Independência do Brasil, em 1822, as divisões em províncias continuaram a existir e mantendo-se ainda subordinadas ao Império, sem autonomia politica, econômica e administrativa.
           Somente após a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, as províncias imperiais passaram a denominar-se estados. Com o passar do tempo e o avanço da República, os estados passaram a ter autonomias política, administrativa e econômica, além de controle de suas divisas territoriais.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

A mística cidade sagrada de pedras

(Por Arnaldo Silva) São Tomé das Letras é a mística cidade de pedras. A cidade está na região Sul de Minas distante 350 km de Belo Horizonte. Com 1227 metros de altitude, é a quarta cidade mais alta do Brasil. A arquitetura letrense chama a atenção pela simplicidade e fino acabamento. É pedra sobre pedra. Mas não são apenas as pedras que chamam a atenção em São Tomé das Letras. É o misticismo. 
          Místicos, cientistas, ufólogos, sociedades espiritualistas e estudiosos do esoterismo, acreditam que São Tomé das Letras seja um dos sete pontos energéticos da Terra. Essa crença faz com que a cidade receba constantemente pessoas em busca da energia, que acreditam, que São Tomé das Letras tenha. (fotografia acima de Jussara JuAvohai)
Cidade diferente e única
          Chegando na cidade o visitante se depara com um clima totalmente diferente. Tanto pelas ruas e casarios de pedras, quanto pelas roupas alegres que boa parte das pessoas que lá vivem, vestem. Lembram muito o estilo hippie de se vestirem. Além da beleza da arquitetura local, as belezas naturais chamam a atenção. Melhor adquirir um mapa, nos estabelecimentos locais ou nas pousadas para se orientar. (foto acima do Jorge Nelson e abaixo de Jerez Costa)
O misticismo da Pirâmide de Pedras
          Na cidade um dos pontos mais visitados é sem dúvida a "Pirâmide". Toda em pedras, a "pirâmide" está no topo de uma montanha o que possibilita uma espetacular vista do nascer e do pôr do sol e também das estrelas. A noite estrelada de São Tomé das Letras, fascina. Alguns acreditam também que a "pirâmide" é ponto de contato dos terráqueos com os Extraterrestres e Ovnis. Registros e relatos de aparições de discos voadores e Ovnis são comuns na cidade. 
Dicas de passeios
         Uma boa dica também de passeio pelos belezas do município é o Poço Verde onde tem uma bela vista, podendo se ver algumas cidades em torno de São Tomé das Letras. A cidade faz divisa com São Bento do Abade, Baependi, Luminárias, Cruzília, Conceição do Rio Verde e Três Corações.(na foto abaixo do Jorge Nelson, um ponto de ônibus)
          Todo místico que vai à São Tomé das Letras e os amantes da natureza fazem questão de ir ao Vale das Borboletas e curtir as águas da Cachoeira das Borboletas. Sua pequena queda forma um poço de água verde esmeralda, propícia para um bom banho e relaxamento. (foto acima do Jorge Nelson)
          A Cachoeira da Lua (na foto acima de Lucas Vieira) é uma pequena queda com um poço muito apreciado pelos banhistas e amantes da natureza. Uma outra cachoeira muito procurada é a Véu da Noiva. Além dessa tem a Cachoeira do Paraíso e a dos Antares, que é a mais alta de São Tomé. Todas as três são ótimas. Você não pode deixar de ir também na Gruta do Sobradinho. No interior dessa gruta corre um pequeno riacho cujas águas caem mais à frente formando uma cachoeira e depois da queda, segue seu percurso normal.
       Outro lugar legal para conhecer é a Ladeira do Amendoim, onde os carros, desligados e em ponto morto, andam sozinhos e sobrem a ladeira, além de duas pedras com energias positivas e negativas, sendo uma que recarrega as energias e outras, suga por completo as energias. Os místicos afirmam que o fenômeno é causado pelo magnetismo da região. Os mais céticos afirmam que é apenas uma ilusão de ótica. (foto acima e abaixo do Jorge Nelson)
Vida noturna agitada
          Depois de curtir bastante as belezas naturais da cidade, aproveite a vida noturna. Você terá muitas opções de bares, restaurantes. Mas também pode fazer compra no comércio, que é muito variado e em geral, com temas voltados para o misticismo.
          Você vai encontrar lojas que vendem artigos artesanais, roupas e produtos hippies e ciganos indianos e claro, todo tipo de artigos esotéricos. 
          Você pode experimentar também o Locomelo. Uma bebida alcoólica feita com cogumelos que tem um sabor doce e bem forte. O município é propício para a produção de cogumelos, dai a bebida.
Um mundo diferente em cada canto 
          Em São Tomé das Letras você perceberá que boa parte dos seus moradores tem uma concepção de mundo diferente e tem uma vivência maior com a natureza. Isso percebemos no dia a dia, em suas vestimentas e decoração de suas casas, como podem ver acima, na foto da Vânia Pereira, na cozinha da Pousada dos Anjos. Acreditam na energia do lugar. 
          Se conversar com os moradores irá perceber que muitos falam com convicção  que existe vida em outros planetas, que eles vem até nós para nos contatar. Acreditam no misticismo, na energia das pedras, montanhas, água, da terra. 
A Caverna que liga São Tomé a Machu Pichu 
          Na cidade existe a Caverna do Carimbado. Místicos afirmam que essa caverna liga São Tomé das Letras a Machu Pichu, no Peru. Por essa passagem, segundo os místicos, possibilitou a misteriosa fuga dos Incas. Segundo a crença mística, São Tomé faz parte das "Sete Cidades Sagradas". Atualmente o acesso a essa caverna está fechado, por ser uma propriedade particular.
As Sete Cidades Sagradas
          Todas essas sete cidades estão em Minas Gerais que são Pouso Alto, Itanhandu, Carmo de Minas, Maria da Fé, São Tomé das Letras, Conceição do Rio Verde e Aiuruoca. Essas sete cidades sagradas estão em torno da capital espiritual do Novo Milênio, que para os místicos é São Lourenço MG, também no Sul de Minas. (foto acima de Vânia Pereira) 
          Independentemente da crença que a pessoa tenha, São Tomé das Letras é um lugar onde o divino se faz presente. Um lugar propício para meditação, oração e contato mais íntimo com Deus, com a natureza e para aprimoramento espiritual. 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Colonização alemã em Bom Despacho

(Por Arnaldo Silva) Na década de 1920, o então presidente do Estado (governador), Artur Bernardes (1918/1922) optou por criar novas colônias de imigrantes em Minas Gerais. Duas colônias agrícolas foram criadas em Bom Despacho MG, Centro-Oeste de Minas, distante 150 km de Belo Horizonte.
          O Governo adquiria as propriedades, dividia em lotes de terras e construía casas para os colonos. Não era doado, os colonos tinham que pagar por lotes. Todo mês tinham que entregar à sede da colônia, 20% do que era produzido em cada propriedade. Quando quitavam o valor acordado, recebiam a posse definitiva das glebas. Isso levava anos. Quando quitadas, a colônia era emancipada e os colonos, donos em definitivo das terras.
          Em cada colônia tinha um casarão sede e uma família responsável por recolher os 20% a produção e repassar para o Governo. O casarão da Colônia Davi Campista é uma construção do século XIX e passou por algumas reformas no século XX e atualmente está sendo reformado pelo atual proprietário. (na foto acima, o pórtico do Cemitério da Colônia Davi Campista, feita pelos próprios alemães)
          Na época, Bom Despacho contava com oficina da Estrada de Ferro Paracatu, escritório, vila operário e um contingente enorme de trabalhos. Estima-se que cerca de 5 mil ferroviários trabalhavam e viviam em Bom Despacho.
          A Alemanha, no início do século XX, era uma forte economia industrial e bastante desenvolvida, bem como sua agricultura. O Brasil estava muito atrás em termos de desenvolvimento. Trazer alemães para o país era uma alternativa para melhorar a qualificação da mão de obra, além de implementar técnicas agrícolas e maquinários modernos.
         Além disso, a experiência de trazer imigrantes alemães para o Sul do país, criando colônias, foi uma iniciativa bem-sucedida nesta região, tornando-a próspera e desenvolvida nessa área, em relação as outras regiões brasileiras. O governo mineiro, na época, queria algo similar, por isso a preferência pelos alemães. (na foto acima colorizada pelo Rogério Salgado, mostra o casarão seda da Colônia Davi Campista na década de 1980)
Imigrantes em Minas Gerais
          Os primeiros imigrantes alemães começaram a chegar à Minas a partir de 1852, em Teófilo Otoni MG, Vale do Mucuri e em 1858, em Juiz de Fora MG, Zona da Mata, através de parceria do governo com a iniciativa privada.
          No final do século XIX e início do século XX, um grande número de descendentes dos primeiros imigrantes, entre alemães, italianos e outros povos, começaram a chegar à Minas Gerais, vindos de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e em maior número, de Santa Catarina e Espirito Santo, estado de maior concentração de descendentes alemães do Sudeste.
As duas colônias agrícolas de Bom Despacho
          14 de fevereiro de 1920 é o marco da criação da primeira colônia agrícola de imigrantes alemães em Bom Despacho. A primeira colônia criada na cidade foi a Colônia Álvaro da Silveira, nas terras da fazenda Capão, a 13 km de Bom Despacho. Esta colônia contava ainda com estação de trem e armazém ferroviário, como podem ver na imagem acima, tratada pelo Rogério Salgado, que mostra colonos e trabalhadores da ferrovia.
          A colônia ocupava uma área de 4.239 hectares, entre Bom Despacho e Leandro Ferreira, cidade limitada pelo Rio Lambari. Nesta época, Leandro Ferreira era distrito de Pitangui MG. Quando famílias foram instaladas de imediato não há informação precisa. Em 1929 na colônia Álvaro da Silveira, viviam cerca 75 famílias com 444 pessoas e outras famílias foram chegando na década de 1930.
          No ano seguinte, em 5 de fevereiro de 1921, era criada a Colônia Agrícola Davi Campista. Ocupava uma área de 1320 hectares nas terras da fazenda Cachoeira do Picão, a 5 km de Bom Despacho. Inicialmente, foram instaladas cerca de 50 famílias, num total de 274 pessoas. Na foto acima, o casarão sede da Colônia Davi Campista em 2012. Hoje seu atual proprietário está restaurando e recuperando todo o casarão.
Chegada à Bom Despacho
          A maioria dos imigrantes que vieram para Bom Despacho eram alemães e também vieram famílias holandesas, austríacas, húngaras, polonesas e suíça, como Rosa Korell, natural de Berna. Era parteira e muito popular na cidade. Na foto acima do Wesley Rodrigues, vista noturna de Bom Despacho.
          Deixaram uma Europa arrasada pela Primeira Guerra Mundial, mergulhada numa crise econômica sem precedentes no Continente, temiam uma nova guerra e piora ainda mais das condições de vida. Deixar a Europa foi a única opção em busca de segurança e trabalho. A América foi o destino escolhido e o Brasil, um dos países que mais recebeu imigrantes.
          Chegaram com poucos pertences e cheios de esperança em uma terra que onde não conhecia absolutamente nada. Cultura, clima, povo, língua, culinária, nada.
          Após três meses de viagem de navio, os imigrantes que viriam para Bom Despacho desembarcaram no porto do Rio de Janeiro e de lá encaminhados para uma quarentena na Ilha das Flores.
Em Bom Despacho  
          Em Bom Despacho, tiveram que passar por um período de adaptação e entenderem na prática, as diferenças entre América Tropical e Europa. O Centro-Oeste de Minas, onde está Bom Despacho, é caracterizado por vegetação típica de Cerrado. Inverno brando, numa média de 14°C graus e verão entre 27 e 35°C graus.
          As construções na colônia, no estilo colonial e bem simples, eram diferentes da arquitetura enxaimel alemã e a paisagem natural, totalmente diferente. Tiveram que conviver com frutas e verduras totalmente desconhecidas, como pequi, bacupari, araticum, jabuticaba, gabiroba, manga, ora-pro-nóbis, jiló, quiabo, dentre outras que sequer tinham ouvido falar.
          As bebidas comuns entre os alemães, vinho e cerveja era raro, já que não existia produção de vinhos na época e muito menos malte e lúpulo, base para fabricação de cervejas. Apenas nas colônias alemãs e italianas do Sul e São Paulo, eram encontradas.
          Existia em Minas o vinho de rosas, feito desde o século XVIII no Mosteiro de Macaúbas em Santa Luzia e vinho de jabuticaba, de Catas Altas MG. Os alemães nem sequer sabiam o que era isso. Aprenderam a conhecer a cachaça e os licores de frutas tropicais, tradicionais em Minas.
          Trigo aqui era inexistente, na época, como até os dias de hoje, era importado. O trigo é o principal ingrediente para pães e bolos e pão é tradição na Alemanha. São mais de 300 receitas diferentes de pães alemães.
          A pouca produção de trigo no Brasil resumia nas colônias do Sul, mas insuficiente. Foram apresentados ao fubá e polvilho de mandioca. Tiveram que aprender a fazer pão com esses ingredientes e também adaptar as receitas típicas alemãs aos ingredientes disponíveis na colônia.
          Pelo menos aqui tinha café em abundância, a bebida preferida dos alemães, além do vinho, cerveja e chás.
          Tinha também carne de porco e boi. Os alemães são apaixonados por salsichas assadas, joelho de porco, porco assado, bolinhos de carne e batata. Pratos com carne bovina e principalmente suína são imprescindíveis na mesa alemã. E também de aves, como o marreco. Mas essa ave era rara em Minas. Tinha era galinha e frango caipira, que gostavam também.
Substituindo ingredientes
          A culinária alemã é secular, cheia de cores e sabores e uma das melhores do mundo. Engana-se quem pensa que a cozinha alemã se restringe a cerveja, vinhos e salsichões. Os alemães em Bom Despacho tiveram que se adaptar à culinária mineira e adaptar na medida do possível, os ingredientes disponíveis à seus pratos típicos doces e salgados como o pretzel, wurstsalat, eisbein, sauerkraut, leberkäse, schweinsbraten, strudel, berline lebkuchen, stollen, rote, grütze, schwarzwälder, kirschtorte, etc.
          Nos pratos alemães com centeio, substituíram pelo fubá. Nos que usavam trigo, substituíram pela farinha de arroz. Como não tinha uva, fermentavam jabuticabas, que era abundante nessas terras e faziam vinhos. Não tinha malte e nem lúpulo para fazer cerveja. Mesmo assim faziam a bebida com milho e arroz. E assim foram adaptando seus pratos preferidos com os ingredientes locais e fazendo também os pratos regionais mineiros.
Costumes diferentes
          As dificuldades no início é se adaptarem aos costumes locais e ao clima. Por exemplo, os alemães estranharam muito o café da manhã do mineiro em geral. Era bem leve, com uma caneca de café simples, broa de fubá e biscoitos. Já o almoço e o jantar, mais pesado, com arroz, feijão, farinha, carne e legumes.
          Ao contrário da tradição alemã. O almoço e o jantar era mais leve. Já o café da manhã bem pesado, farto e variado.
          A mesa de café da manhã dos alemães contava com vários tipos de pães, geleias, café, chás, queijo, linguiça, carne de porco cozida, salsicha assada, batata assada e cozida, iogurte natural e cereais. Tradicionalmente tinha vinho e cerveja, mas como não produziam na colônia e nem conseguiam comprar, tinha então vinho de jabuticaba, licor e cachaça. Tudo isso só no café da manhã.
          Um outro hábito alemão, principalmente dos alemães da região da Pomerânia, estranhíssimo para os moradores da cidade era passar banha de porco no pão e comer, no café da manhã. Aqui se passa manteiga, mas banha de porco, nunca viram e nem quiserem experimentar.
          Imagina comer isso tudo nas primeiras horas da manhã e ir para a lida nas lavouras, em pleno Cerrado mineiro com sol a pino, a mais de 30 graus!
Relação com a comunidade
          A maioria dos imigrantes tinham uma relação muito distante dos moradores locais. 
          A vida dos imigrantes ficava restrita à colônia e nas comunidades rurais nas redondezas da colônia. Iam à cidade apenas para resolverem questões rápidas ou fazerem compras nos armazéns. Não eram todos, evidentemente. Muitos também faziam amizades, se relacionavam com os moradores locais e com o tempo, filhos e netos desses imigrantes se casaram com moços e moças da cidade.
          Mesmo os que os ficavam nas colônias, sem frequentarem muito a cidade, eram pessoas alegres, cordiais e recebiam os moradores locais muito bem nas colônias. Tinham cultura e formação profissional acima da média brasileira e muita educação e eram tratados com respeito pelos moradores da cidade.
          Um fato curioso na Colônia Davi Campista era a luz elétrica, na década de 1920. Os alemães construíram uma pequena usina, no fundo da sede que gerava energia elétrica para a casarão. Numa cidade onde a maioria vivia a luz de lamparinas, era uma novidade e tanto. Muitos iam lá só para ver como era a luz elétrica. Ainda restam vestígios dessa pequena usina com a roda d´água nos fundos, como podem ver na foto que fiz acima.
          Eram capacitados, muito trabalhadores e inteligentes. A própria comunidade local percebia isso e seus conhecimentos eram de grande valia para a comunidade. Isso porque contribuíam com a comunidade, compartilhando seus conhecimentos e aprendendo também.
          
Nas comunidades, era comuns festas e encontros de famílias no terreiro das sedes das colônias e também cafés coletivos, chamado de Café Colonial, por terem sido criados pelos colonos do Sul do Brasil. Colonial de colono, por isso o nome. Foram os imigrantes que criaram o café colonial.
          Além disso, lembravam as festividades alemãs, músicas folclóricas e tradições, como podem ver na imagem acima cedida pelo William Araújo/Bar do Tonhão e tratada pelo Rogério Salgado, alemães comemorando o carnaval na Colônia Davi Campista.
Uma dificuldade atrás da outra
          Não era apenas na questão de clima e culinária as dificuldades encontradas pelos alemães em nossas terras.
          Tinha a língua que ninguém entendia, as vestimentas que eram diferentes e a formação profissional dos imigrantes, bastante elevada para os padrões da época, mas estavam num país, na época, agrário e não existia tecnologia para produzir os maquinários e ferramentas que existiam na Europa. Tinham que trabalhar com ferramentas  rudimentares e até mesmo, criar suas próprias ferramentas de trabalho.
          O serviço era pesado e braçal, usando ainda animais de tração, além da falta de dinheiro para investimentos na melhoria de seus equipamentos. Vieram até com ferramentas industriais e muitos sequer, nem as tiraram das bagagens, por não terem como usar na época, por serem ferramentas para indústria e não para a agricultura.
          Em sua maioria, eram profissionais especializados na indústria de fundição, metalurgia e ferrovias. Alguns tinham inclusive experiência militar, como Bruno Kohnert e Frederico Seidler. Ambos lutaram pelo exército alemão na Guerra dos Boxers, na China (1899-1900) e na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Frederico Seidler era ferreiro e trouxe consigo para o Brasil sua oficina. Bruno Kohnert trabalhava com o pai na Krupp, uma das maiores indústrias da Alemanha e Europa na época.
          Além disso, conheceram da pior forma possível as doenças tropicais, como a malária, o tifo, a febre amarela, verminoses e outras doenças. Tiveram ainda que conviver com pragas diversas como bicho-do-pé, piolhos de galinhas, carrapatos, pulgas, barbeiros e percevejos, além de cobras e escorpiões.
          Mesmo com tantas dificuldades, perseveram, já que eram um povo valente e forte. Contavam com apoio das comunidades alemãs mineiras, principalmente de pastores luteranos, a religião predominante entre os alemães. Pastores luteranos vinham sempre de Juiz de Fora MG e Belo Horizonte darem apoios aos alemães das colônias bom-despachenses. Na foto acima cedida pelo William Araújo e tratada pelo Rogério Salgado, a família Walder, em sua casa na Colônia Álvaro da Silveira
A Segunda Guerra Mundial
          Na década de 1930 e início da década de 1940, a situação de vida e trabalho em Bom Despacho e nas colônias tinha melhorado muito. Já melhores adaptadas, prosperavam, mesmo com o mundo em guerra. Mas, tudo começou a mudar quando em 1942, o Brasil entra em Guerra contra a Alemanha e Itália.
          Bom Despacho era e é até os dias de hoje, uma cidade de forte presença militar. Naquela época era maior. Na cidade foi instalado em 1931, o 7° Batalhão de Caçadores Mineiros, hoje 7°BPM, além de contar com um quartel do Exército. Muitos militares bom-despachenses combateram na Revolução Constitucionalistas de 1932 e outros tantos, embarcaram para a Europa para lutarem na Segunda Guerra, integrando as Forças Expedicionárias Brasileiras. Na imagem acima, casal de alemães da Colônia Álvaro da Silveira.
          As notícias das atrocidades cometidas por alemães e italianos chegaram ao Brasil, gerando um clima hostil aos imigrantes e descendentes de imigrantes italianos e principalmente alemães. Em Bom Despacho não foi diferente. Os imigrantes começaram a serem vítimas de xenofobia e preconceito.
          Na medida que a situação da Guerra piorava, começaram a ser perseguidos, espancados e até presos, simplesmente pela nacionalidade, mesmo não tendo nada a ver com o que acontecia na Europa.
          Os alemães que viviam nas duas colônias da cidade ficaram apavorados e com muito medo. Retiraram seus filhos das duas escolas existentes nas colônias. Eram escolas mistas, com filhos dos alemães e dos moradores juntos. Outros, abandonaram suas propriedades e suas casas e começaram a ir embora com suas famílias
          Aconselhados e apoiados por pastores luteranos, migraram-se para regiões de maior concentração de imigrantes, como Santa Catarina e Espírito Santo, onde ficariam mais protegidos. Outros para outros países e alguns voltaram para Alemanha.
          As colônias começaram a desintegra-se. Ficaram poucas famílias alemãs nas colônias. Os que ficaram, não queriam sair da cidade, mesmo com a tensão que cercava os colonos. Tinha negócios, trabalhos, gostavam das colônias e seus filhos e netos, boa parte nascidos nessas terras. (na imagem acima cedida pelo William Cândido, uma das casas de colonos em Álvaro da Silveira)
          Os imigrantes mais velhos foram falecendo e sendo sepultados nos cemitérios das colônias. Até a década de 1980, alguns desses imigrantes ainda viviam em suas glebas, ou na cidade, com suas famílias. Viveram em Bom Despacho até os últimos dias de suas vidas. Acima o cemitério da Colônia Davi Campista, murado. O cemitério da Colônia Álvaro da Silveira não está cercado.
          Aqui ficaram porque gostavam e estavam bem-adaptados, criaram seus filhos ou tiveram outros aqui. Alguns filhos e netos dos imigrantes formaram famílias, casando-se com moradores de Bom Despacho e de outras cidades. Além disso eram respeitados e colaboraram com o crescimento da cidade. Na foto acima, ruínas do armazém da Colônia Álvaro da Silveira.
          Não só eles, mas todos os imigrantes que para Bom Despacho vieram, de alguma forma, deixaram um legado de grande valor para o desenvolvimento social, cultural, econômico e industrial da cidade e isso, é reconhecido. Na imagem acima cedida pelo William Araújo, casa em ruínas na Colônia Álvaro da Silveira.
Descendentes dos imigrantes
          Não é difícil encontrar na cidade, pessoas que carregam sobrenomes alemães. Alguns até leem, escreve e falam alemão fluentemente. São netos, bisnetos e trinetos dos imigrantes das duas colônias de Bom Despacho.
          De acordo com os registros de nascimentos, óbitos e casamentos dos cartórios de registro civil de Bom Despacho e Leandro Ferreira, onde ficava uma parte da Colônia Álvares da Silveira, foram encontrados sobrenomes das seguintes famílias de imigrantes:
Sobrenomes das famílias na Colônia Agrícola Davi Campista: Berber, Bock, Brack, Breitenbaum, Brulhardt, Butschkau, Eckert, Eppenstein, Evers, Feistel, Fischer, Gerards, Hahn, Janson, Karst, Kaulich, Katthagen, Kettrup, Klein, Klezewsky, Klimaschevski, Korell, Lotze, Michalski. Peifer, Polatschek, Reimer, Röppe, Schneidereit, Seidler, Westermann, Zellin.
Sobrenomes das famílias da Colônia Álvaro da Silveira: Anuth, Bartels, Bergerhoff, Bergmann, Berkert, Bobbia, Bokermann, Darge, Darmstädter, Denecke, Egen, Ehlert, Engemann, Escher, Fahner, Falkenburg, Frei Fronzeck, Fröseler, Gendorf, Gimpel, Gölz, Gottschalg, Gurgel, Guy, Hammerich, Hanke, Henrig, Honeker, HungerIsliker, Patria, Jensen, Jung, Kargl, Kling, Klitske, Knischewski, Kohnert, Korell, Koslowski, Köster, Krawzyk, Kresse, Kunert, Kunzler, Ledandeck, Ludgen, Ludwig, Lütkenhaus, Mangels, Mossler, Motskus, Müler, Müllerchen, Niegetrat, Nowasyk, Overlander, Paniz, Primus, Rabe, Reiferscheid, Richter, Roedel, Schierm, Schmidt, Steinbrecher, Tegeler, Tentz, Wagner, Walder, Weiser, Weller, Widmer, Winterink e Zuber.

domingo, 22 de maio de 2016

Cidade do Serro recebe turistas atraídos pelo queijo

(Por Arnaldo Silva) Serro é uma das mais charmosas e encantadoras cidades históricas de Minas Gerais, fica a 320 km de Belo Horizonte, no Alto Jequitinhonha.(fotografia acima de Marcelo Melo)
          Dotada de belezas naturais fascinantes, cada dia mais, turistas vem à cidade conhecer seus encantos, sua arquitetura preservada, sua cultura, sua história, sua gente e seu famoso queijo.  
          A receita e o modo artesanal de fazer o queijo do Serro foram reconhecidos como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais, em 2002 pelo Iepha, e do Brasil, em 2008, pelo Iphan. 
          Fundado em 28 de janeiro de 1714, o Serro guarda tradições, cultura, belezas naturais e uma fantástica história manifestada nas tradições preservadas há gerações, como a Festa de Nossa Senhora do Rosário e o modo artesanal de fazer queijo.(na foto acima, o Queijo do Serro nas escadarias da Igreja de Santa Rita. Autoria de Paulo Sérgio Procópio)
Serro e o queijo
          O queijo do Serro é um dos melhores do mundo, recebendo constantes premiações e medalhas, como nos últimos três concursos do mais importante concurso internacional de queijos, o Mondial du Fromage, realizado na França a cada dois anos. (na foto acima do Marcelo Santos, a escadaria de Igreja de Santa Rita)
          O queijo do produtor Túlio Madureira foi premiado nas três últimas edições com medalhas de bronze. Num concurso mundial, onde só participam a elite produtora de queijos no mundo, ter um queijo premiado é para poucos, ainda mais três vezes seguidas. (fotografia acima de Elvira Nascimento)
Motivos do sucesso do queijo do Serro
          O clima, o manejo do gado, as pastagens, as bactérias lácteas somente encontradas no Serro e claro, a vocação queijeira do povo serrano, que vem de gerações e seu modo de fazer são do mesmo jeito que há dois séculos.
          O processo de fabricação do queijo do Serro é demorado, podendo durar mais de uma semana, fora o tempo de maturação, que pode ser de dias, meses, ano ou mais tempo. (foto abaixo de Tiago Geisler)
          O modo de fazer esse queijo consiste em adicionar um tipo de fermento e um coagulante ao leite fresco. Passada cerca de uma hora, é só fazer o corte da massa e triturar. Em seguida, retirar o soro e a massa juntos e, quando estiver consistente, colocar na fôrma. Espremer, lavar e depois colocar sal grosso em um dos lados são os passos seguintes. Depois é preciso esperar cerca de seis horas, virar e salgar o outro lado. Para ficar no ponto, são mais dois dias até retirar da fôrma e deixar na maturação.
           O modo artesanal de fazer o queijo do Serro foi registrado no filme “O mineiro e o queijo” do cineasta Helvécio Ratton. O filme é uma rica história sobre a tradição queijeira do povo mineiro com depoimentos dos produtores de queijos das regiões mineiras, entre elas, do Serro. 
          E o sucesso do queijo do Serro rompeu as fronteiras regionais e atrai gente de toda Minas Gerais, do Brasil e até do exterior para experimentar e conhecer o modo artesanal de fazer queijo do Serro, bem como conhecer a história, bem como os belos casarões e igrejas dos séculos XVIII e XIX, museus, os distritos serranos como Milho Verde, São Gonçalo do Rio das Pedras, dentre outros. 
As belezas naturais serranas
          Vale a pena conhecer também impressionantes paisagens serranas de Cerrado e Mata Atlântica e as belas cachoeiras, como a do Tempo Perdido, do Amaral e do Lajeado (na foto acima Nacip Gômez). Na cidade são encontrados guias de turismo, prontos para orientar os visitantes para que conheçam bem cidade, suas belezas, arquitetura e história.
A Bolerata
          Um evento que está se tornando tradição na cidade são as boleratas (na foto acima de Sônia Fraga) que acontece durante o ano na Praça Israel Pinheiro. Das sacadas dos casarões serranos, bandas locais tocam boleros e outros ritmos para os moradores e visitantes curtirem um pouco a boa música mineira e brasileira. 
O Trem-ruá
          Uma ótima dica é conhecer a grife do queijo Trem-ruá, termo criado pelo produtor Túlio Madureira (na foto acima/Divulgação) inspirado na palavra francesa “Terroir” (pronuncia-se terruá que seria a definição de origem das características de determinados produtos, de acordo com as características geográficas de cada região). É uma escola com cursos ministrados pelo Mestre Queijeiro Túlio Madureira que produz queijo do Serro com leite de gado Gir, sendo um dos queijos mais premiados no Brasil e exterior. 
          Mesmo que não vá ao Trem-ruá para aprender a fazer queijo, pode comprar os famosos queijos do Serro no local que fica na Rua São José, 422. (foto queijos do Túlio Madureira/Divulgação) O telefone da grife do queijo é (38) 99823-4207. O lugar é pitoresco com seu teto de dormentes e ambiente organizado com grandes variedades de queijos e o atendimento é ótimo! 

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Igreja do Carmo: a igreja da torre nos fundos

(Por Arnaldo Silva) A Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Diamantina, no Alto Jequitinhonha, é um dos mais belos templos do período Colonial brasileiro. Datada do século XVIII, teve como benfeitor João Fernandes de Oliveira, o Contratador de Diamantes do Arraial do Tijuco, hoje Diamantina, marido de Chica da Silva.
          A Igreja de Nossa Senhora do Carmo (na foto acima de Elvira Nascimento), foi construída em frente à sua residência. É rica em detalhes, com os altares laterais e o altar-mor da nave banhados em ouro, além de pinturas e obras sacras magníficas feitas por grandes artistas da época como José Soares de Araújo, Manoel Pinto e por fim, a igreja ganhou obras de Antônio Francisco Lisboa, o Mestre Aleijadinho. O contratador mandou instalar na Igreja, um órgão movido a fole, com mais de 750 cânulas e até hoje em funcionando perfeitamente.
          Mas um detalhe nesta igreja a diferencia das outras igrejas da cidade e de Minas Gerais. (foto acima de WDiniz) Não tem torre na frente. A torre principal da Igreja do Carmo fica nos fundos. Mas por quê? 
          Mesmo o todo poderoso Contratador de Diamantes, João Fernandes, não podia burlar as regras impostas pela igreja. Uma dessas regras era clara quanto a entrada de escravos forros ou não dentro dos templos. Pelas normas da Igreja, os negros não podiam ultrapassar o espaço das torres. Ou seja, não podiam passar da porta de entrada das igrejas.
          Nessa regra incluía sua mulher, Chica da Silva, negra alforriada. Não podia passar da porta das igrejas. 
          Essa norma causou desentendimentos entre o Contratador e os membros da Ordem Terceira do Carmo, responsável pelo templo. Esse desentendimento fez com que João Fernandes arcasse sozinho com os custos de construção da Igreja. (na foto abaixo, do Tharlys Fabrício, no fim da rua, a casa de Chica da Silva e João Fernandes em Diamantina)
          Como era ele quem estava pagando todo o custo da obra, ordenou aos construtores que a torre principal fosse mudada no projeto original, saindo da frente da igreja, como era normal e sendo construída nos fundos. Esta foi a solução que João Fernandes encontrou para não causar mais atritos com o Clero. 
          Assim, sua mulher, que para a sociedade da época era amante, pôde frequentar a igreja, com sua corte, sem ferir as leis da Igreja na época. Como a torre fica no fundo e a norma era de que negros não podiam ultrapassar o espaço das torres, ela pôde entrar normalmente dentro da igreja e participar das celebrações religiosas. 
          Essa atitude do Contratador foi uma das várias provas de amor à sua amada mulher, Chica da Silva, demonstrada publicamente.

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