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segunda-feira, 9 de maio de 2016

A sobremesa mineira que conquistou o mundo.

(Por Arnaldo Silva) Certas combinações de alimentos parecem que nasceram um para o outro. É o caso da nossa popular e mineiríssima sobremesa Queijo com Goiabada, que além de agradar o paladar dos mineiros há mais 200 anos, é hoje uma sobremesa famosa no Brasil e em todo o mundo. (fotografia abaixo de Marino Júnior)
     Em Minas Gerais, sempre foi queijo com goiabada. Com sua popularização ganhou o sugestivo e romântico nome de Romeu e Julieta, alusiva ao clássico romance de William Shakespeare, escrito entre 1591 e 1595. 
     Romeu e Julieta formavam um par perfeito. Dai a inspiração para o nome e assim o nosso queijo com goiabada saiu das fronteiras mineiras para todo o mundo como Romeu e Julieta.
     De origem mineira, mais precisamente do Sul de Minas Gerais, esta mistura famosa surgiu ainda no período colonial, quando os portugueses iniciaram a produção de queijo em suas colônias. Não há registros precisos de quando começaram a consumir 
goiabada com queijo e nem o povoado exato, mas a origem é do Sul de Minas.Nessa região se popularizou e se expandiu para outras regiões do Estado, através dos Tropeiros. Acredita-se que essa combinação existia desde meados do século XVIII. 
     O doce preferido dos portugueses era a marmelada e na época não existia o marmelo no Brasil e identificaram na nossa goiaba um fruto capaz de dar um doce igual à marmelada consumida em Portugal. 
     Não ficou igual, ficou bem melhor, para muitos. Gostaram tanto que não chamaram de doce de goiaba e sim goiabada, lembrando a famosa marmelada de Portugal. 
     Os tropeiros e viajantes que precisavam de produtos que durassem muito tempo em suas longas viagens, levavam quilos de goiabada, e também rapadura. Esses dois doces eram consumidos normalmente após as refeições ou como adoçantes. O açúcar já era fabricado no Brasil nessa época mas perecia rápido demais devido a chuvas e calor forte. A rapadura e goiabada resistiam mais, duravam bem mais. Eram então imprescindíveis nas longas viagens.
     Desde a época dos tropeiros, o doce de goiaba com queijo faz parte da cozinha mineira. Doce de leite, figo, de goiaba combinado com queijo Minas não faltam nunca. O preferido sempre foi o queijo com goiabada. E claro, com o Queijo Minas, que tem um sabor diferenciado dos demais queijos. A combinação é perfeitíssima! (foto acima de Aldeia Fazenda Velha, restaurante em Andradas MG)
     Seja Queijo com Goiabada ou Romeu e Julieta, a nossa combinação se expandiu para todo o Estado e ganhou os mais nobres paladares de todo o Brasil e mundo.Em Minas é sempre  presente em nossas casas e oferecidas às visitas. 

sábado, 7 de maio de 2016

Cachoeira da Maria Rosa em Mato Verde

(Por Arnaldo Silva) Localizada no Norte de Minas, no município de Mato Verde, a Cachoeira da Maria Rosa é a maior queda d´água do Rio Viamão, além de ser uma das mais belas cachoeiras do Norte de Minas, na Região da Serra Geral.
          Distante 659 km de Belo Horizonte, Mato Verde faz divisa com Monte Azul, Catuti, Pai Pedro, Rio Pardo de Minas, Santo Antônio do Retiro e Porteirinha. A cidade conta cerca de 12.500 habitantes.
          O município de Mato Verde é dotado de belezas naturais espetaculares, sendo a Cachoeira da Maria Rosa considerada uma das mais belas quedas d´águas, não só do município, mas de todo o semiárido mineiro e da Serra Geral.
          As águas do Rio Viamão despencam em duas quedas d´águas por cerca de 50 metros de queda, formando dois poços de águas cristalinas. Embora seja uma cachoeira só, a temperatura das duas quedas são diferentes, o que atrai a curiosidade dos visitantes.
          Localizada numa região de mata nativa e bem preservada, conta com uma boa estrutura para receber os visitantes como banquinhos, um barzinho próximo, além de áreas para churrasco. É um dos maiores atrativos naturais da região, procurada o ano todo por moradores da região e visitantes.
(Fotografias de autoria de Marcelo Santos)

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Cachoeira dos Cristais e do Sentinela em Diamantina

(Por Arnaldo Silva) Uma das mais belas cachoeiras de Minas Gerais, a Cachoeira dos Cristais, em Diamantina MG, Vale do Jequitinhonha está inserida na área do Parque Estadual do Biribiri. A cachoeira fica apenas 12 km da portaria principal, do parque, que está sob responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF/MG). (fotografia acima de Elvira Nascimento)
          Suas águas limpas, geladas e cristalinas, descem em pequenas quedas, formando poços paradisíacos, rodeado por paisagens rupestres características da região. São apenas seis metros de queda, num lugar calmo, tranquilo, natural e preservado. Ótimo para um convívio e contato pelo com a natureza. (foto acima de Edison Zanatto)
Como chegar à Cachoeira dos Cristais?
          Partindo de Diamantina, você deve seguir em direção ao Parque Estadual do Biribiri, no km 587 da MG – 367. (fotografia acima de Manoel Freitas)
A Cachoeira do Sentinela
          A cachoeira do Sentinela esta situada próximo à Vila de Biribiri, em Diamantina MG e está inserida na área do Parque Estadual do Biribiri, distante apenas 6 km da portaria do Parque. (fotografia acima de Giselle Oliveira)
          Lugar de fácil acesso, com estrada de terra bem conservada e belezas naturais espetaculares ao longo do percurso como matas nativas, formações rochosas e belíssimos campos rupestres.
          Suas quedas, em sequências, formam um belos poços de águas cristalinas, limpas e bem geladas. É uma opção ótima para longos e relaxantes banhos.

Conheça a Cachoeira da Casca D´anta

(Por Arnaldo Silva) A Casca D’ Anta está entre as maiores e mais belas cachoeiras do Brasil. São 186 metros de queda livre. As águas do Rio São Francisco, que nasce um pouco acima da boca da cachoeira, despencam sobre um leito de pedras e segue seu percurso. É uma das maiores atrações de Minas Gerais e o lugar mais visitado na Serra da Canastra. É imperdível! A Cascadanta é um espetáculo!
          
 Devido a força da água e pelas formações rochosas do entorno, o poço principal não é recomendado para banho, mas mesmo assim é um privilégio estar aos pés das águas do mais importante rio brasileiro, o nosso Rio São Francisco que nasce em São Roque de Minas, a 350 km de Belo Horizonte.
Como chegar na Cachoeira Casca D’Anta
          O acesso à cachoeira é feito pela portaria 4 do Parque Nacional (única da parte baixa do parque), localizada em São José do Barreiro, distrito de São Roque de Minas. (Fotografia acima  de John Brandão - In Memoriam)
          Ônibus, vans e carros não podem entrar, tem que ficar no estacionamento. Da portaria até a cachoeira são cerca de 2 km de caminhada por uma trilha de mata nativa do Cerrado. 
          É recomentado visitar a parte alta da cachoeira, como podem ver acima na foto. Nesse caso, o acesso é pela Portaria I, em São Roque de Minas. Da cidade, até a portaria e da portaria, até a parte alta que vê na foto acima, são 38 km. É uma vista incrível e ainda você pode conhecer a nascente do Rio São Francisco, que está nesta área. 
          Da nascente até a foz, as águas que nascem em Minas, atravessam 5 estados, percorrendo um total de 2.700 km até desaguar no mar.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

A história de Chica da Silva

(Por Arnaldo Silva) Mulher de fibra, de personalidade forte, corajosa e mitológica. Deixou sua história e legado em Minas Gerais. Estamos falando de Francisca da Silva de Oliveira, ou como é mais conhecida, Chica da Silva. Nasceu escrava, em 1732, numa fazenda em Milho Verde, distrito do Serro MG, tendo sido batizada na mesma localidade na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres. Conseguiu sua alforria, foi mulher do contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira, com quem viveu 15 anos e teve 13 filhos. Faleceu em 15 de fevereiro de 1796 aos 64 anos. (na foto acima de Fernando Campanella, tela de Marcial Ávila, retratando Chica da Silva exposto na sala da casa onde a ex-escrava viveu em Diamantina MG, hoje museu)
O contratador de diamantes
          João Fernandes de Oliveira nasceu em Mariana em 1720. Filho de portugueses, seu pai, era contratador de diamantes desde 1740, e deu seu nome completo ao filho. João Fernandes foi para Portugal ainda jovem estudar. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e nomeado desembargador do Paço em 1752. 
          A partir de 1740, somente podiam explorar pedras preciosas na Colônia quem tivesse contrato com a Coroa Portuguesa, sendo restrito a atividade somente a quem tivesse esse contrato. Quem tinha o privilégio de ter o contrato com a Coroa Portuguesa, era chamado de contratador. Explorar diamantes ou ouro sem contrato com a Coroa, era considerado crime e geralmente as penas eram severas. (na foto de Fernando Campanella, sacada da casa em que viveu Chica da Silva em Diamantina MG, antigo Arraial do Tejuco)
          João Fernandes era culto, formado nas melhores faculdades de Portugal, muito inteligente e de inteira confiança do Rei. Coube a João Fernandes de Oliveira a missão de voltar ao Brasil entre 1753 e 1754, para gerir uma das maiores riquezas da Coroa, as minas de diamantes do Arraial do Tejuco, hoje Diamantina MG.
Retorno a Portugal
          Em 1770, com o encerramento de seu contrato com a Coroa e pressão da sociedade na época, João Fernandes voltou para Portugal, além de ter que resolver questões referentes a herança deixada por seu pai nesse país. Ficou em Portugal até os últimos dias de sua vida, vindo a falecer em Lisboa, no ano de 1779, aos 59 anos. (na foto acima de Raul Moura, a Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres erguida no século 18 em Milho Verde, distrito do Serro MG, onde Chica da Silva foi batizada)
A origem de Chica da Silva
          
Chica e o contratador foram dois personagens marcantes na história de Minas e principalmente de Diamantina. Uma história de riqueza, amor, poder, preconceito e superação. (na foto abaixo de Giselle Oliveira, o antigo Arraial do Tejuco, hoje Diamantina)
          Chica da Silva era filha de Maria da Costa, nascida na África, na região da Costa da Mina, região hoje formada pela Nigéria e Benim. Foi trazida para o Brasil ainda criança, por volta de 1720. Por isso foi acrescentado o sobrenome “da costa” ao da mãe de Chica. 
          Ao chegar ao Brasil, foi vendida e trazida para Milho Verde, sendo escrava de Domingos da Costa, homem negro e forro.
          Sobre o pai de Chica, pouco se sabe. Era homem branco de origem portuguesa, nascido e batizado no Rio de Janeiro, vindo para Minas, gozava de influência nas vilas de Bocaina, Três Cruzes e Itatiaia, na época, pertencentes a Vila Rica, hoje Ouro Preto.
O sobrenome Silva 
          Chica herdou a condição de escrava de sua mãe, numa época em que os escravos que nasciam na Colônia não tinham sobrenomes. Os que foram trazidos da África, recebia nomes portugueses, normalmente Francisco, José, Maria e Francisca, com os sobrenomes nos países ou regiões de origem. 
          Os que nasciam na Colônia recebiam nomes de acordo com seu grupo étnico de origem ou cor da pele, no caso de Chica, foi registrada como “Francisca mulata” ou “Francisca parda”. Em 1754, quando Chica tinha 22 anos, conquistou sua alforria. Seu nome como forra, passou a ser, “Francisca da Silva, parda forra”. Silva era um sobrenome comum entre os forros, embora seja um sobrenome português, de linhagem nobre, na Colônia era um sobrenome de pessoas sem procedência ou origem definida.
Primeira gravidez e alforria
          Antes de ser alforriada, Chica era escrava do minerador e médico português Manuel Pires Sardinha, que vivia no Arraial do Tejuco. Foi com Manuel Pires que Chica engravidou pela primeira vez, em 1751. 
          Embora não tenha reconhecido em cartório a paternidade, Manuel Pires batizou a criança com o nome de Simão Pires Sardinha, em homenagem ao Capitão dos Dragões do Distrito Diamantino, Simão da Cunha Pereira, que foi padrinho de batismo de seu filho, bem como deu-lhe alforria, colocando-o ainda como um de seus herdeiros em seu testamento e investindo em sua educação, mandando-o para Portugal, onde estudou e ocupou cargos importantes na Corte Portuguesa.
Amor à primeira vista
          Quem alforriou Chica da Silva foi João Fernandes de Oliveira. Assim que chegou ao Arraial do Tejuco, como o novo contratador de diamantes, conheceu Chica, em uma de suas visitas aos nobres do Arraial. João Fernandes, viu Chica e se encantou. Foi amor à primeira vista, literalmente, entre os dois.
          Fez oferta de compra de Chica, o que não foi recusado por seu senhor, que não teve como recusar um pedido de um dos homens mais influentes na Corte Portuguesa.
          Chica foi logo alforriada e passou a viver com João Fernandes como sua mulher. Com o nascimento de sua primeira filha, passou a adotar o nome de Francisca da Silva de Oliveira, mesmo não sendo casada formalmente com João Fernandes e nem podia porque as leis da época proibiam uniões entre brancos e negros.
Chica, João Fernandes e seus 13 filhos
          Nos 15 anos de união conjugal estável, o casal teve 13 filhos: Francisca de Paula (1755); João Fernandes (1756); Rita (1757); Joaquim (1759); Antônio Caetano (1761); Ana (1762); Helena (1763); Luiza (1764); Antônia (1765); Maria (1766); Quitéria Rita (1767); Mariana (1769); José Agostinho Fernandes (1770). Com o filho que teve com o médico Manuel Pires Sardinha, Chica teve ao todo 14 filhos.
          Nessa época, os filhos de homens brancos com escravas ou forras não eram registrados ou se tinham registros, era sem o nome do pai. 
          João Fernandes fez questão de colocar o seu nome na certidão de registros de seus filhos com Chica da Silva e foi além disso. Nunca escondeu seu amor por Chica da Silva e fazia questão de tornar sua relação pública perante todos, sem se incomodar com os julgamentos e preconceitos existentes na sociedade na época. Defendia sua mulher contra as investidas e preconceitos da sociedade.
A separação de Chica e João Fernandes
          O casal se separou em 1770, quando João Fernandes teve que voltar a Portugal. Com João Fernandes, partiu com ele seus 4 filhos homens, que estudaram nas melhores universidades do país, formando famílias e ocupando postos importantes na Coroa Portuguesa, recebendo ainda títulos de nobreza. (na foto acima de Alexsandra Almeida, os fundos da casa em que viveu Chica e João Fernandes, hoje museu Chica da Silva em Diamantina)
          João Fernandes de Oliveira deixou muitas propriedades para sua mulher, que garantiu a ela e as 9 filhas que ficaram, uma vida tranquila e confortável, estudando no melhor educandário da nobreza da época, o Mosteiro de Macaúbas em Santa Luzia MG, a 40 km de Belo Horizonte. 
          Do mosteiro algumas de suas filhas saíram para se casar e algumas seguiram a vida religiosa. Nessa época, as filhas da fidalguia tinham como opção casarem ou se tornarem religiosas.
Mãe zelosa 
          Chica se esforçou para conseguir bons casamentos para suas filhas, com homens portugueses. As que optaram por seguir a vida religiosa, teve o respeito e apoio de Chica, já que na época, eram as únicas alternativas para as moças honradas de família.
          Buscava ao máximo proteger seus filhos e filhas do preconceito social. Na época, famílias formadas por brancos e negros não eram bem vistas pela sociedade branca e escravocrata do Brasil Colônia.
Prestigio e influência
          Mesmo não sendo casada formalmente com João Fernandes, Chica gozava na época de prestigio e respeito por ser a mulher do contratador, vivendo uma vida restrita às fidalgas brancas. Possuía escravos que cuidavam de sua casa e propriedades, frequentava eventos sociais e irmandades. (na foto acima de Elvira Nascimento, a casa de Chica da Silva, ao fundo, em Diamantina, hoje Museu Chica da Silva)
          Irmandades ou confrarias eram união de pessoas com objetivos comuns. As irmandades mais importantes da época eram as religiosas, que construíam e mantinha igrejas. Por sua condição social e poderio financeiro, Chica era aceita e tinha fácil trânsito entre as irmandades tanto de brancos, quanto de negros. Colaborava com doações vultosas e pertencia às Irmandades de São Francisco e do Carmo, formada por brancos e das irmandades das Mercês composta por mulatos e a do Rosário, somente por negros.
          Mesmo após a partida de João Fernandes, Chica da Silva mantinha influência na sociedade, graças a sua personalidade, popularidade e seu poderio econômico. Esse fato pode ser percebido por sua presença nas irmandades do Arraial, bem como quando do seu sepultamento, em 1796.
Sepultamento
          Como era de costume na época, os membros das irmandades tinham o direito de serem sepultados nas igrejas mantidas pela irmandade. Chica, como participava de 4 irmandades, manifestou o desejo de que quando morresse, fosse sepultada dentro da Igreja de São Francisco de Assis (na foto acima de Elvira Nascimento), maior irmandade do Arraial do Tejuco e da comunidade branca. 
          E assim foi sepultada na igreja da irmandade de São Francisco de Assis, composta pela elite branca local, de acordo com sua vontade manifestada em vida.

A história de Dona Beja

(Por Arnaldo Silva) Nascida em Grotas de Pains, povoado rural de Formiga, Oeste de Minas, em dois de janeiro de 1800, viveu boa parte de sua vida em São Domingos do Araxá, hoje Araxá, no Alto Paranaíba. Mudou-se para Bagagem, atual Estrela do Sul no Triângulo Mineiro, por volta de 1853, onde faleceu em 20 de dezembro de 1873. Era filha de Maria Bernardo dos Santos e de pai desconhecido. Sua família era composta apenas da mãe, seu irmão, Francisco Antônio Rodrigues e seu avô.
          Estamos falando de Ana Jacinta de São José, a Dona Beja, uma das mulheres mais influentes e importantes de Minas Gerais no século XIX. (a tela acima é de autoria de Calmon Barreto, exposta no Museu Calmon Barreto em Araxá, mostrando Dona Beja moça e formosa) 
          O carinhoso apelido foi dado por Manoel Fernando Sampaio, por quem era apaixonada e noiva. Manoel Sampaio comparava o beijo de Ana como doçura e beleza de uma flor chamada “beijo”.
          Tanto na forma de falar e escrever, do noivo e dos que eram próximos a Ana, a pronuncia era ‘beja” e não “beija” com i, por isso se escreve e pronuncia Dona Beja. 
          Seu noivado seria como o de todas as outras moças de sua época, casar, ter filhos, cuidar da casa, ter uma vida de acordo com os padrões sociais da época. Mas quis o destino que sua história fosse diferente.
A formosa menina raptada 
          Ainda criança, a família de Ana Jacinta se mudou para Araxá, em 1805, quando a menina tinha apenas cinco anos. A menina foi crescendo e sua formosura foi logo sendo percebida. Era tão linda que causava forte inveja entre as outras meninas e mulheres da cidade, que mesmo adolescente, tinha uma beleza fora do comum, que deixava os homens da época extasiados com sua formosura.
          Sua beleza era impactante ao ponto de despertar o interesse de Joaquim Inácio Silveira da Motta, então ouvidor Geral da Comarca, que de passagem por Araxá, ficou fascinado ao vê-la. Logo começou a desejá-la, a ponto de mandar raptá-la, em 1814, quando Beja nem completara 15 anos. A menina foi levada à força para a Vila do Paracatu do Príncipe, hoje Paracatu, sendo forçada a viver como sua amante. (a foto, sem autoria identificada, mostra Dona Beja na meia idade)
          Sua mãe tentou de tudo para ajudar sua filha, mas naquela época era difícil uma ação das autoridades, já que essa prática era comum e pouco podia fazer. Aconselharam-na a comunicar o fato aos adversários do Ouvidor, que não eram poucos. Foi o que Maria Bernardo fez. 
        Ação que surtiu efeito, não de imediato, mas adversários influentes do Ouvidor começaram a agir e a usar o fato contra sua pessoa. Sentindo-se acuado, tentou de todas as formas livrar-se da acusação do rapto da adolescente e ainda ter sua vida devassada por seus inimigos, temendo ser julgado. Foi ai que decidiu deixar o cargo e a cidade, se mudando para Portugal. Assim, Beja se viu livre e retornou para Araxá.
Retorno a Araxá
          Chegando à cidade, Beja recebe com frustração a notícia que seu ex-noivo tinha se casado com outra. Mesmo assim, segundo a tradição oral, Beja ainda nutria amor por seu ex-noivo. Num encontro por acaso, num lugar conhecido como “Fonte Jumenta”, enamoraram-se, tendo Beja ficado grávida de sua primeira filha, Thereza Thomázia de Jesus, nascida em 15/02/1819. (na foto acima de Wilson Fortunato, a cidade de Araxá hoje)
          Além da frustração com o ex-noivo, Beja não foi bem recebida pela conservadora sociedade araxaense. Tratada com muita hostilidade, principalmente pelas mulheres de famílias abastadas, que viam em Beja um risco para os valores éticos, morais e religiosos das famílias, não se importando pelo fato da mesma ter sido rapta e forçada a viver como amante de outro homem. A sua beleza e atração natural incomodava demais e deixaram bem claro que ela era indesejada na cidade, sendo marginalizada pela sociedade da época. 
          Revoltada com a situação e com desejo de vingança contra seu noivo e sua família que sempre foram contra o relacionamento dos dois, Manoel foi morto a mando de Beja. Ela acabou sendo indiciada na época, mas por sua influência e amizades importantes, foi libertada, ficando livre da acusação. 
Beja - Cortesã
          Vingando-se também do moralismo e julgamentos sociais da época, decidiu ainda ser de fato o que a sociedade dizia o que era ela, cortesã. Vingava-se das mulheres que a condenavam, fazendo questão de ser amante de todos os maridos dessas mesmas mulheres que a julgavam. 
          Beja teve sua segunda filha, com João Carneiro de Mendonça. A caçula nasceu em 1838 com o nome de Joana de Deus de São José. 
Filhas e netos
          Sua primeira filha, Thereza, casou-se com Joaquim Ribeiro da Silva e teve seis filhos: Theodora Fortunata da Silva, Joaquim Ribeiro da Silva Botelho, Franscico Ribeiro da Silva, Saturnino Ribeiro, José Ribeiro da Silva e Antônio Ribeiro da Silva. Já Joana, casou-se com Clementino Martins Borges e teve sete filhos: Haideé, Mercedes Ester, João, Clemente, Amaziles e “Nhonhô”. 
Dinheiro e fama
          Quando retornou a Araxá, Beja construiu duas casas. Uma na cidade e outra na zona rural. Sua casa na cidade era igual às outras e nada de mais acontecia na casa. Ia nesta casa apenas para reuniões e recepcionar visitas, já que era mulher muito influente e conhecida na região. 
          Beja ficava mais tempo em sua chácara na zona rural, afastada da cidade e dos olhares da sociedade. Era um casarão em estilo colonial com espaçoso salão e local para recepção. Era nessa chácara, conhecida como Chácara do Jatobá, que Beja recebia seus admiradores, que viam da região, de São Paulo, Goiás, do Rio de Janeiro e outras localidades.
          A fama e beleza da cortesã estendia-se por todo o Triângulo Mineiro, na Corte Imperial e regiões mineiras. Eram visitas constantes, de gente influente e rica. 
          Nas festas que promovia, recebia presentes dos homens que a visitavam. Mas não era qualquer um que tinha o privilégio de estar com Dona Beja. 
          Recebia presentes como dinheiro, joias e pedras preciosas, mas tinha suas regras e era firme no que decidia. Mulher de personalidade forte, de liderança, não se subjugava a homem algum. Era ela quem escolhia suas companhias, como, quando e do jeito dela queria. Beja era dominadora e se impunha em situação superior em qualquer relação.
Mudança de Araxá para Bagagem
          Por volta de 1853, já na meia idade, Dona Beja decidiu mudar de vida e deixar Araxá com sua filha Joana e seu genro, Clementino. Colocou todos os seus pertences em várias carroças e carros de bois e seguiu em cortejo rumo a Bagagem, hoje Estrela do Sul, num trajeto de 200 km. 
          Naquela época, minas de diamantes tinha sido descobertas nesta cidade, levando uma corrida em busca de diamantes. Com a saída de Dona Beja de Araxá, o conservadorismo da sociedade local na época, agiu de forma a apagar todos os vestígios da presença da Cortesã na cidade. (na foto acima, Bagagem em 1906. A imagem fornecida pelo professor e historiador Mário Lúcio Rosa e nos enviada por Duva Brunelli)
          Em sua nova cidade, Beja se dedicou a trabalhar como mineradora, explorando diamantes nos garimpos, deixando a vida de cortesã para trás, se dedicando ao cuidado de sua filha e netos, fazendo caridade e também, se dedicando à fé religiosa.
Falecimento e último desejo
          Faleceu em 20 de dezembro de 1873, supostamente de tuberculose, agravado pela intoxicação por metais pesados, usados no garimpo. Pouco antes de sua morte, permitiu que fosse fotografada de pé, apoiada numa caseira. Foto hoje presente no Museu Dona Beja em Araxá.
          Antes de morrer, Dona Beja pediu para que seu caixão fosse adornado com enfeites de zinco e que fosse sepultada no cemitério da Igreja Matriz de Estrela do Sul. Naquela época os sepultamentos eram feitos dentro, nas portas e em cemitérios ao lado das igrejas.
Dona Beja não morreu
          A história de Dona Beja não terminou com seu sepultamento. Ao longo dos anos, a cortesã rejeitada e discriminada pela sociedade da época, se tornou uma das mulheres mais conhecidas do Brasil. O espirito de liderança de Beja é reconhecido até hoje. (na foto acima de Thelmo Lins, a antiga Bagagem, hoje Estrela do Sul)
          Era mulher de fibra, de coragem e acima de tudo, amava Minas Gerais e defendia o Estado e suas dimensões territoriais com toda a sua força e coragem, principalmente sua região, o Triângulo Mineiro. (na foto acima e abaixo de Duva Brunelli, ponte sobre o Rio Bagagem substituindo a antiga ponte construída por Beja. A ponte leva seu nome e foi inaugurada em 1985)
          As mulheres do seu tempo que a julgavam, hoje, talvez ninguém saiba quem foram ou sequer sabem seus nomes, mas de Ana Jacinta de São José, a Dona Beja, todos sabem o nome, quem foi e o que fez. 
          Um nome com fortes ligações com a cidade de Araxá, onde o nome Dona Beja está presente em nome de rua, nome cerveja, fonte de água, hotéis, pratos culinários, nome de bairro, etc. (na foto acima de Djacira Antunes, um dos vários casarões coloniais de Estrela do Sul)
          E não é por menos, Beja foi uma das personagens mais influentes, marcantes e intrigantes do século XIX, além de reconhecidamente ter sido uma das mulheres mais lindas de sua época.
          Hoje é uma das figuras mineiras de maior destaque, tendo sua história retratada em novela da extinta Rede Manchete em 1986, tendo Beja sido interpretada pela atriz Maitê Proença. Sua história também foi contada em livros e romances e sua vida e obra registrada no Museu Municipal Dona Beja, inaugurado em 1965, instalado num casarão com mais de 200 anos de existência (na foto acima de Arnaldo Silva), no centro da cidade.
          A partir de 1998, passou a chamar-se Museu Histórico de Araxá – Dona Beja.

domingo, 1 de maio de 2016

Cachoeira do Tabuleiro: a maior de Minas

(Por Arnaldo Silva) Com 273 metros de queda, a Cachoeira do Tabuleiro é a maior de Minas Gerais e a terceira maior cachoeira do Brasil. Está localizada em Conceição do Mato Dentro - MG, município distante 167 km de Belo Horizonte via MG 010, na divisa com os municípios de Serro, Dom Joaquim, Congonhas do Norte e Gouveia.
          Cercada por um imponente maciço rochoso com tons avermelhados, a Cachoeira do Tabuleiro impressiona por sua beleza única e singular. (foto acima de John Brandão - In Memoriam)
 
          No entorno da Cachoeira, campos rupestres, matas de Cerrado e pequenas manchas de matas de galeria, completa um dos mais belos cenários naturais do Brasil. (fotografia acima de Tom Alves/@tomalvesfotografia) 
As águas que caem a 273 metros formam um poço com 18 metros de profundidade e 700 m² de diâmetro. O fundo do poço é formado por grandes blocos de pedras submersos, por isso, saltos e mergulhos radicais não são aconselháveis e sim, entrar na água naturalmente, desfrutando de sua energia e beleza. Devido a pouca incidência de raios solares e constante correntes de vendo, a temperatura da água do poço formado pela cachoeira sempre fica abaixo dos 20ºC, um convite a um refrescante banho em dias de calor, numa água de tom escuro, natural da região, limpa e cristalina. (fotografia acima de Leandro Leal)
          Suas águas formam seguem o curso do rio Ribeirão, adentrando em grandes vales, formando pelo caminho pequenos poços entre pedras.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Santuário de Nossa Senhora da Piedade em Fabriciano

 (Por Arnaldo Silva) Coronel Fabriciano, município do Vale do Aço, distante 200 km de Belo Horizonte, conta hoje com cerca de 115 mil habitantes. Faz divisa com os municípios de divisas com Ipatinga, Ferros,  Joanésia, Mesquita, Antônio Dias e Timóteo. Fabriciano se destaca em Minas por sua qualidade de vida e desenvolvimento industrial. A fé de seu povo está presente nas manifestações folclóricas, religiosas e em seus belos templos, se destacando o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, santa padroeira de Minas Gerais, situado no alto do bairro Córrego Alto. (fotografia de Elvira Nascimento) 
          Construído graças aos esforços da comunidade da Paróquia Santo Antônio, liderados pelos padres da Congregação dos Xaverianos, Romeo, Sandro e Camilo, foi inaugurado e consagrado em 1998 por  Dom Lélis Lara, então bispo da Diocese de Itabira-Fabriciano. Até 27 de março de 2011 o Santuário pertencia à Paróquia de Santo Antônio, a partir desta data, passou a pertencer à Paróquia de São Francisco Xavier. 
          A arquitetura do Santuário em Coronel Fabriciano possui duas torres laterais no frontispícios com varandas e piso interno em granito. Sua decoração interior é bem simples, seguindo à risca o estilo contemporâneo, adotado para sua construção. Este estilo arquitetônico utiliza linhas retas, superfície lisas e sem muitos detalhes em sua decoração. É um estilo mais funcional e simples, combinando a praticidade e economia que a sociedade atual necessita.   
          O Santuário de Nossa Senhora da Piedade em Coronel Fabriciano  é hoje uma referência da fé do povo Católico da Região do Vale do Aço. 

terça-feira, 26 de abril de 2016

Conheça a origem e os benefícios da fruta pau-doce

(Por Arnaldo Silva) Nativa do Oriente, especificamente da China, Coréia e Japão, está presente no Brasil desde o século passado, tendo feito parte da infância de muita gente, principalmente em Minas Gerais. Hoje quase não se encontra mais a Hovenia dulcis, o nome cientifico do pau-doce, nome popular da fruta em Minas Gerais. 
          Em outras regiões é conhecida como tripa-de-galinha, macaquinho, pé-de-galinha, chico-magro, uva-do-japão, gomaria, banana-do-japão, bananinha-do-japão,caju-do-japão, caju-japonês, mata-fome, passa-do-japão, passa-japonesa, tripa-de-galinha, uva-da-china, uva-do-japão,uva-paraguaia , amora-do-mato, uva-japonesa e uva-de-macaco. (foto abaixo de Luci Silva em Desterro de Entre Rios MG)  
          É uma espécie de árvore caducifólia ou no popular, caduca, um termo botânico para as plantas que numa determinada estação do ano, perdem as folhas, no caso, o pau-doce. Na fase adulta, pode chegar a 25 metros, com o tronco na cor cinza-escuro e folhagem curta, esbranquiça e ovada. Sua copa é densa, não sendo uma planta adequada para calçadas, mas nas aveninas centrais, praças, parques e quintais rurais são ótimas, sendo uma espécie atrativa a polinizadores, principalmente abelhas. É aina uma árvore excelente para recuperação de matas ciliares, nascentes e lagoas. 
          Além de alimentar os pássaros, atrair polinizadores, alimenta os humanos, já que produz um fruto muito doce e muito saboroso, rico em fibras, carboidratos, aminoácidos, vitamina C e proteínas. Seu fruto lembra pedacinhos de pau, é bem doce, carnudo e com a cor marrom, com polpa branca mais escura. Suas sementes nascem na ponta dos frutos, em pequenas capsulas, como pode perceber nas fotos acima, e se dissemina com facilidade. (fotografia acima de Arnaldo Silva em Ouro Preto MG)
          Pode ser consumido em forma de geleia, salada, compota, doce, suco, como recheio de bolos e pães e da forma mais comum, in natura. 
          Os chineses usam o pau-doce, tanto o fruto, quanto as folhas, há séculos em forma de chá por infusão das folhas, por conter propriedades diuréticas, antipirético, antivirais e anti-inflamatórias, auxiliando no combate asma, problemas no fígado, diarreia e usada ainda para acabar com a ressaca, depois de doses exageradas de bebidas. 

Receita de Licor de Jabuticaba

O licor está presente em Minas Gerais desde os tempos do Brasil Colônia. Um dos licores mais preferidos, desde aqueles tempos, é o licor de jabuticaba, nossa tradicional fruta nativa. Fazer licor de jabuticaba é bem fácil. 
 Veja como fazer o nosso licor:
O passo a passo: 
- Colha as jabuticabas mais vistosas, firmes e bem maduras
- Lave bem com água corrente
- Separe um pote de vidro, bem limpo
Ingredientes
- 1 litro de jabuticabas
- 1 copo de cachaça de Minas
- 500 gramas de açúcar
- 1 litro de água fervendo

Modo de fazer:
- Coloque todas as jabuticabas no vidro.
- Coloque o açúcar por cima das jabuticabas
- Em seguida, despeje a cachaça de Minas.
- Por fim, toda a água fervida
- Espere esfriar para tampar.
- Guarde o pote num lugar escuro e deixe por 30 dias
- Abra o pote uma ou duas vezes por semana para retirar o gás
- Após esse tempo, coe e engarrafe o licor
- Agora é só servir
(Primeira foto do Judson Nani de Barão de Cocais e segunda, de Lourdinha Vieira de Bom Despacho MG)

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