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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Aprenda a fazer pão caseiro mineiro

(Por Arnaldo Silva) Fazer pão é uma arte. Antigamente os pães eram assados em fornos de barro. Hoje com a praticidade da vida urbana, podemos fazer pão caseiro no forno de um fogão normal. Tem gosto e cheiro de infância feliz, lembranças do tempo de nossas avós. O pão é macio, leve, deliciosamente gostoso eleva um pouquinho de queijo. Faça também, a receita é bem simples.
Ingredientes:
. 1 quilo de farinha de trigo + ou -
. 350 ml de água bem morna
. 3 colheres de (sopa) de manteiga caseira
. 3 colheres de (sopa) de açúcar
. 1/2 colher de (sopa) de sal
. 2 ovos caipira
. 250 gramas de Queijo Minas, meia cura ralado
. 20 gramas de fermento biológico seco (cada saquinho tem 10 gramas)
Modo de Fazer
- Coloque a água num copo, junto com o fermento e dissolva bem, tampe e deixe por 5 minutos descansando.
- Numa vasilha acrescente o açúcar, manteiga e os ovos e misture bem.
- Despeje aos poucos a farinha de trigo, mexendo devagar com uma colher de pau. 
- Com a massa ainda mole, acrescente o sal, o queijo, o fermento dissolvido junto com a água e misture devagar.
- Continue acrescentando farinha de trigo, sovando bem a massa, até que esteja desgrudando das mãos.
- Cubra com um pano e deixe descanso por 1 hora.
- Após esse tempo, divida a massa em três partes, faça os moldes de acordo com a fôrma que possui. Use preferencialmente as fôrmas próprias para pão ou bolo inglês.
- Unte as fôrmas com manteiga e enfarinhe, coloque os pães, cubra novamente e deixe descansando por mais 30 minutos.
- Pincele a superfície dos pães com gema de ovo batido e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC e deixe assando até que fiquem dourados.
Está pronto. Agora é passar o café e servir a vontade!
Fotos de @arnaldosilva_oficial

Conheça Varginha: a Princesa do Sul

(Por Arnaldo Silva) A “Princesa do Sul”, como Varginha é conhecida, é uma das mais desenvolvidas e importantes cidades mineiras. Foi considerada uma das melhores cidades do Brasil para se viver, pela Revista Veja, em 2011. A cidade tem cerca de 138 mil habitantes.
          Varginha (na foto acima de Marselha Rufino) está na região Sul de Minas Gerais e a 320 km de Belo Horizonte. Faz divisa com os municípios de Três Corações, Elói Mendes, Monsenhor Paulo, Três Pontas e Carmo da Cachoeira. A cidade está próxima de famosas estâncias hidrominerais do Sul de Minas como Cambuquira, Caxambu, São Lourenço, Poços de Caldas e das cidades da Região dos Lagos como Fama, Alfenas, Boa Esperança, Guapé. 
Atrativos turísticos
           Como atrativos turísticos, Varginha oferece a seus moradores e visitantes, passeios de barcos, jet skis, casas flutuantes sobre o Lago de Furnas, além de atrações urbanas como a Nave Espacial, uma caixa d´água que lembra um disco voador ; Estação ferroviária; Parque Zoobotânico; Parque Novo Horizonte; Represa de Furnas; Museu municipal; Parque Centenário; Casarões em estilo colonial e o Clube Campestre de Varginha, na Ilha Grande do Rio Verde.
          A cidade é banhada pelo Rio Verde, que juntamente com o Rio Sapucaí, forma o braço sul da Represa de Furnas, um potencial atrativo turístico da cidade que conta uma ótima estrutura gastronômica e hoteleira, para receber visitantes, seja a passeio ou a negócios já que a cidade possui um dos maiores PIB do Sul de Minas e do Estado, tendo ainda um IDH-M elevado, com baixos índices de desigualdades sociais. 
Economia e polo cafeeiro
          A economia do município é baseada no comércio e indústrias em diversos segmentos, destacando a indústria automobilística, eletrônica, injeção de plásticos e de grãos, principalmente, a indústria cafeeira. 
          Varginha é polo na produção de cafés de alta qualidade, sendo um dos maiores produtores e exportadores de grãos atualmente no mundo, encontrando-se no município filiais de grandes empresas do comércio cafeeiro mundial. Segundo dados do Índice Sebrae de Desenvolvimento Econômico Local – ISDEL, divulgados em 2018, Varginha é a quinta cidade com economia mais desenvolvida de Minas, atrás de Belo Horizonte, Contagem, Uberaba e Juiz de Fora.
Acesso e aeroporto
          O município é de fácil acesso rodoviário para as principais cidades do país e aeroviário. A cidade conta com o aeroporto, Major Brigadeiro Trompowsky (IATA: VAG, ICAO: SBVG). 
          São 2100 metros de extensão por 30 metros de largura, asfaltados, recebendo aeronaves de pequeno, médio e grande porte na categoria 3C do tipo Airbus A319 e Boing B737-700 de 145 passageiros, credenciado pela Agência Nacional de Aviação Civil. 
          A capacidade do aeroporto é de 165 mil passageiros/ano. No aeroporto são prestados ainda serviços de táxi aéreo. Ao lado do aeroporto, está a Estação Aduaneira do Interior, o Porto Seco do Sul de Minas, em franca expansão. 
O ET de Varginha
          Mesmo sendo um dos principais centros produtores de café do mundo, Varginha é famosa no mundo inteiro pela aparição de Extraterrestre. Falou em Varginha, falou de ET, isso é fato. (foto acima de Carias Frascoli)
          A história começou numa tarde de 20 de janeiro de 1996, quando as irmãs Liliane e Valquíria Duarte e a amiga Kátia Andrade Xavier, afirmaram terem visto uma criatura, bípede de 1,6 metros de altura aproximadamente, cabeça grande e corpo fino, com pés em forma de V, pele marrom e olhos vermelhos e grandes. 
          O fato foi exaustivamente divulgado por todas as mídias, chamando a atenção do mundo inteiro para uma possível aparição de Objetos Voadores Não Identificados, o que fez da cidade o centro das atenções no mundo na época e até hoje, o fato, conhecido como “Incidente de Varginha” é estudado pelos estudiosos das questões de OVNIS.
          Mas esse não foi o primeiro caso de supostas aparições de OVINI´s em Varginha. Em 1971, alguns moradores relataram terem visto um OVNI sobrevoando o município, bem como o mesmo objeto foi visto sobrevoando a Escola de Sargentos das Armas, ESSA, em Três Corações. O relato foi divulgado em 2017 pelo Ministério da Aeronáutica. 
          O ET de Varginha, como é chamado, trouxe modificações na paisagem urbana da cidade, com praças e monumentos lembrando o ET e OVINI´s como estátuas, caixas d´água (na foto acima de Carias Frascoli) em formato de disco voador, etc. A figura de ET e discos voadores na cidade são atrativos para os visitantes.      

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Leite ao pé da vaca e a receita de coalhada

(Por Arnaldo Silva) Lembranças e doces emoções sempre marcam nossas vidas. Na roça, antes do galo cantar, todos já estão de pé. Acordava com o mugido do gado no curral que ficava a alguns metros da casa. Abria a janela e aquela cena sempre me vem à mente. Verdes campos a minha frente, ao lado esquerdo plantação de arroz e acima, plantação de café.
          No curral lá estava meu avô, ordenhando. 
          Ia pra cozinha, pegava um copo esmaltado e colocava farinha de mandioca e um pouco de sal e ia rumo ao curral correndo e feliz. Agachava-me e meu avô ia tirando o leite. O copo enchia. Ás vezes me deixava tirar, mas não saia quase nada, porque eu não tinha força nas mãos ainda, era bem menino.
          O barulho do leite enchendo o copo soa como música aos meus ouvidos. Meu avô sabia tirar leite, saia muito e o copo até espumava.
          Levantava feliz, pegava uma colher e mexia e ia de colherada em colherada, tomando meu leite com farinha e sal. Ainda faço isso até hoje.
          Às vezes tomava o leite puro mesmo. O leite saia quentinho e deixava até bigodinho na gente.
          Eu sempre guardava leite para fazer coalhada. É fácil fazer e mesmo criança, eu fazia. Eu enchia um vasilhame de leite, tampava e deixava coalhar. Esperava um ou dois dias e pronto, era a minha coalhada. Comia com açúcar.
          Hoje a receita de coalhada mais usada é essa que segue:
Os Ingredientes são: 

. 1 litro de leite 2 colheres (sopa) de leite em pó integral 
. 1 iogurte natural 
. Canela e açúcar ou mel, se desejar
A noite é o melhor horário para fazer a coalhada porque o leite tem que descansar.
O jeito de fazer é o seguinte: 
- Ferva o leite e espere esfriar um pouco; 
- Enquanto o leite ferve, misture bem o leite em pó no iogurte até formar um creme; 
- Faça isso na vasilha onde pretende que fique a coalhada; 
- Despeje o leite, já na temperatura ideal, sobre esse creme que está na vasilha e misture bem; 
- Tampe bem sem deixar frestas e se quiser, embrulhe em bastante jornal e deixe até o amanhecer.
- Pela manhã, repare se a coalhada está consistente. Caso esteja, coloque na geladeira
          A coalhada, após muitos dias, fica meio aguada, o que é normal. Dê uma mexidinha e coma, sem problemas. Pode usar essa coalhada para fazer outra, sem utilizar mais iogurte.
Fotografias de Fabrício Cândido em Formosinho, distrito de Santos Dumont MG

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Conheça Cristina: a cidade da Imperatriz

(Por Arnaldo Silva) Cristina é uma pequena, aconchegante e charmosa cidade no Sul de Minas Gerais. Tem sua origem nos meados do século XIX. Foi fundada em 19 de junho de 1850. A cidade é conhecida como cidade imperatriz por ter seu nome em homenagem a imperatriz Teresa Cristina, esposa de Dom Pedro II, Imperador do Brasil. Quem nasce em Cristina é cristinense. Está a 1025 metros de Altitude e 416 km de Belo Horizonte. Cristina conta com cerca de 11 mil habitantes. 
           A cidade está localizada no sul do Estado. Faz divisa com os municípios de Maria da Fé, Dom Viçoso, Carmo de Minas, Olímpio Noronha, Pedralva, Conceição das Pedras.        
            A cidade se chamava anteriormente de Espírito Santo dos Cumquibu. Quem sugeriu a mudança desse nome para o de Cristina foi Joaquim Delfino Ribeiro da Luz, que nasceu no município, era Conselheiro e tinha influência na Corte Imperial, tendo também ocupado os cargos de Vice-presidente e Presidente Interino da Província de Minas Gerais e o de Deputado Geral do Império, além de ter sido presidente da Câmara de Vereadores. Foi ele que organizou a vinda à cidade da princesa Isabel e seu esposo Conde D´Eu à cidade em 1º de dezembro de 1868. A princesa veio conhecer a cidade que homenageava sua mãe no nome. O conselheiro foi o anfitrião, hospedando a princesa em sua residência na antiga Rua Direita, hoje, Rua Governador Valadares. Além do Conselheiro, outro ilustre cristinense foi Delfim Moreira, 10º presidente da República.
          A economia da cidade de Cristina é baseada em pequenos comércios, fábricas de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) como de luvas e equipamentos de couro, uma fábrica de batata palha, a Batatas Imperatriz e o laticínio Natalac.
          Na agricultura, Cristina se destaca na produção de cafés especiais, sendo o café produzido na cidade reconhecido internacionalmente como um dos melhores do mundo. Um de seus produtores, o agricultor Sebastião Afonso da Silva, teve seu café premiado por duas vezes consecutivas  do Cup Of Excellence (Copa da Excelência), o mais importante concurso de café do planeta, realizado anualmente pela Alliance for Coffe Excelence para identificar os cafés da mais alta qualidade do mundo. 
          Em Cristina destaca-se também a produção leiteira, atividade que envolve cerca de 200 famílias do município na produção de leite e seus derivados, de forma artesanal e para a comercialização.
          Outra riqueza do município é o turismo. O município integra o Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas e é servido pelas rodovias AMG-1905, MG-347 e MGC-383.
São várias e convidativas  cachoeiras como a cachoeira a da Gruta, mais frequentada pro estar bem próxima da cidade. 
          As paisagens nativas são atrativas para o visitante, com rios, nascentes,  belíssimas montanhas e paisagens maravilhosas, bem como a beleza das fazendas do município e suas construções em estilo colonial. 
          Já na cidade, o destaque são para os belos casarões e a Matriz do Divino Espírito Santo. A arquitetura das construções dos casarões da cidade tem traços do estilo barroco do século XIX e outros, com traços do estilo eclético, do século XX. São singelos, charmosos com traços arquitetônicos bem definidos e atraentes.     
          Vale a pena andar pelas tranquilas ruas de Cristina, conhecer Museu do Trem, que conta a memória da ferrovia na cidade, tendo como atração principal uma locomotiva, toda restaurada, suas belas praças e seus casarões como o Casarão dos Noronha Kauage (hoje transformado em pousada); o Casarão da família Fonseca; o Casarão da família Azevedo; Casarão da família Barcelos; o Casarão da família Alves Ribeiro; o Prédio centenário da Estação Ferroviária (hoje, transformado em Terminal Rodoviário). 
Reportagem de Arnaldo Silva, com toda as fotografias de autoria de Sandra Walsh

domingo, 24 de dezembro de 2017

O Vale dos Dinossauros de Coração de Jesus

(Por Arnaldo Silva) A população total do Município em 2020, segundo o IBGE era de 26.611 habitantes. Coração de Jesus está localizado no Norte de Minas a 82 km de Montes Claros, a 95 km de Mirabela e a 500 km de Belo Horizonte.O município foi emancipado em 1925, com o nome de Inconfidência e em 1928, passou a se chamar Coração de Jesus. É uma cidade pacata, bem cuidada, rica em cultura e hospitalidade de seu povo que é maravilhoso, hospitaleiro, acolhedor e solidário. Típico do povo de Minas em geral.
          Em 2004 achados paleontológicos na zona rural do município, atraiu a atenção do Brasil e do mundo para a cidade, que a partir de então, passou a ser considerada a cidade dos dinossauros. O local onde foram encontrados fósseis de dinossauros, passou a chamar-se Vale dos Dinossauros.
          Segundo pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) os fósseis descobertos em Coração de Jesus era do mais bem preservado crânio de um titanossauro na América do Sul, de 4 metros de altura aproximada e pesada cerca de 10 toneladas. Trata-se de um crânio bem preservado de Foi batizado com o nome de Tapuiasaurus macedoi
          Esse nome tem origem nos Tapuias, índios que habitavam a região e Macedoi em homenagem ao aposentado e artista plástico Ubirajara Alves Macedo que é considerado um guardião da preservação da história e pré-história de Coração de Jesus, participando diretamente da descoberta dos fósseis. Essa descoberta atraiu atenção da imprensa e pesquisadores do Brasil e de várias parte do mundo recebendo muito destaque na comunidade científica e na mídia especializada. Em 2016, foi publicado um artigo na Zoological Journal of the Linnean Society5 sobre a descoberta.
Praça dos Dinossauros
          Como a descoberta dos fósseis do titanossauro colocou o município em evidência, a Prefeitura construiu uma praça denominada Praça dos Dinossauros, inaugurada em fevereiro de 2014. É uma das mais belas praças de Minas Gerais e um dos atrativos mais visitados na região Norte de Minas. As esculturas foram criadas pelo pelo artista plástico Markus Moura e pinturas do artista Daniel Arthes.
Todas as fotos foram enviadas pelo autor, Bezete Leite

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Conheça a Vila Colonial de Milho Verde

(Por Arnaldo Silva) Milho Verde é distrito da cidade do Serro, nas vertentes da Serra do Espinhaço, no Alto Jequitinhonha. É um local pacato e tranquilo com modo de vida tradicionais. Conta com menos de 2 mil moradores. É um dos mais lindos e charmosos distritos de todo o Brasil. Um dos mais procurados também, tanto pela sua beleza arquitetônica colonial e por suas belezas naturais em redor como serras, vales, cachoeiras e o pico do Itambé. E também um dos cartões postais do Estado de Minas Gerais. (fotografia acima de Raul Moura)
          A Igreja de Nossa Senhora do Rosário (foto acima de John Brandão/@fotografo_aventureiro), construída em madeira e barro é um dos principais pontos turísticos de Minas Gerais. Além é claro das belas paisagens e lindas cachoeiras.
          O distrito também conta com o que Minas tem de mais gostoso. A culinária. Doces, queijos, quitandas, vinhos, cachaças, licores, além da nossa mais fina culinária, está presente nas fazendas, casas e restaurantes do distrito. (foto acima de Tiago Geisler)  
           Milho Verde surgiu no início do século XVIII e segundo conta a história popular, quando os bandeirantes chegaram onde é hoje Milho Verde, já existiam um pequeno vilarejo, com poucas pessoas. A presença dos bandeirantes ajudou no crescimento do pequeno arraial a prosperar (na foto acima de Alexa Silva/@alexa.r.silva mostrando o charme de uma casa na vila)
          Viagem longa, a maioria cansado pelo tempo de viagem pelo sertão de Minas e o local tinha pouco a oferecer. Um morador, conhecido por "Seu Mudesto", para dar boas vindas, deu aos bandeirantes o que tinha no povoado, milho verde. Dai o pequeno povoado passou a ter esse nome.
           Uma outra versão diz que o nome originou-se da lavra de minerais preciosos pertencente ao português natural da Província do Minho, Manuel Rodrigues Milho Verde que viveu na região no século XVIII. (fotografia acima de Raul Moura)
          Ele construiu no local um posto de fiscalização da entrada e saída do então distrito de Diamantina, à  época. A escrava Chica da Silva, nasceu na região do Baú, um pequeno vilarejo que faz parte de Milho Verde, distante apenas alguns quilômetros de Diamantina, onde Chica foi viver. (na foto de Arnaldo Quintão, a Cachoeira do Moinho, um dos mais belos lugares do distrito Serrano)
Milho Verde faz parte dos roteiros turísticos de cunho histórico, cultural e ecológico de Minas Gerais e integra a Estrada Real. (na foto abaixo, de Raul Moura, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário)
          No distrito a Associação Comunitária e a Prefeitura do Serro MG vem trabalhando na melhoria do local com construção de creches, coletas de lixo e outra atividades sócio-culturais-ambientais, visando preservar a qualidade de vida da população, bem como atender a crescente presença de turistas no distrito.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Conheça São Sebastião das Três Orelhas

(Por Arnaldo Silva) O charmoso e pacato bairro rural de São Sebastião das Três Orelhas, em Gonçalves, no Sul de Minas, é de grande importância para a história da cidade, por ter sido o primeiro núcleo habitacional de Gonçalves, emancipada somente em 1º de março de 1963. Antes, Gonçalves pertencia a Paraisópolis. Com a emancipação, São Sebastião das Três Orelhas passou a fazer parte do município de Gonçalves e de sua historia. 
        São Sebastião das Três Orelhas (na foto acima de Fernando Campanella)  é um povoado pacato, cuja vida social gira em torno de uma singela igreja, dedicada a São Sebastião.
          Lugar calmo, tranquilo, rodeado por um charmoso e bem cuidado casario, emolduradas por serras e paisagens nativas da Mata Atlântica.
          Já se chamou Serra de Três Orelhas e Três Orelhas. Por fim, São Sebastião das Três Orelhas, nome oficial.
          Não há confirmação exata do porque do curioso nome dado ao pitoresco lugar, mas há duas versões populares.
          Região montanhosa, tem como destaque natural a Serra das Três Orelhas, formada por três picos: a Pedra do Forno; a Pedra Chanfrada e a Pedra do Barnabé. Esses três picos lembram uma orelha, dai o nome da serra e posteriormente, o nome do distrito. Pelo menos, essa é uma das duas versões para o curioso nome da vila.
      
          A segunda versão, a mais popular e tida como verdadeira, para boa parte dos moradores mais antigos do local, está inserida no site oficial da Prefeitura Municipal. 
          Segundo o site da Prefeitura de Gonçalves MG, a versão popular para o nome São Sebastião das Três Orelhas diz que o nome "faz referência a uma história local, segundo a qual havia um morador dono de algumas terras que tinha um colono que tirava muita coisa do seu pequeno pedaço de terra. Um dia esse colono abateu três dos seus porcos e separou os pedaços. O dono das terras viu as carnes e propôs ao colono que lhe vendesse as seis orelhas de porco, esse recusou (regateou, como se diz em Minas) e após muita negociação concordou em trocar somente a metade das orelhas por um pedaço de terra. 
          Essa história se popularizou entre os moradores e região e o lugar ficou conhecido por "Três Orelhas". 
          Com o crescimento do povoado, foi erguida uma capela dedicada a São Sebastião, sendo que o povo fazia a junção dos dois nomes. Da igreja e do nome do popular do vilarejo. Assim ficou, " Capela de São Sebastião" e o nome do lugar, "Três Orelhas", por fim, passou a ser nome do povoado, São Sebastião das Três Orelhas, tudo junto. 
           A nomenclatura de São Sebastião das Três Orelhas, é oficial e registrada no mapa oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)
          Assim temos em Minas Gerais uma das mais gostosas histórias da formação de nosso povo e de nossos povoados, São Sebastião das Três Orelhas, bairro rural da cidade de Gonçalves (na foto acima de Gislene Ras), uma das mais belas e atrativas cidades de Minas com paisagens exuberantes, pousadas e restaurantes de alto nível e um artesanato riquíssimo.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O significado das gavetas nas antigas mesas em Minas

(Por Arnaldo Silva) Dizem que mineiro é pão duro. Nas casas que eu ia antigamente, tinha uma mesa enorme na cozinha com várias gavetas. Uma para cada cadeira. Quando chegavam visitas, abriam as gavetas com pressa e colocavam a comida para que as visitas pensassem que já tinham feito as refeições. Muitos pensavam que era vergonha porque a comida era muito simples e tinham vergonha de mostrar.
          A mesa existia mesmo e era verdade sim que colocavam a comida nas gavetas quando chegava alguém. Não era por causa das visitas ou da simplicidade da comida que faziam isso. Era por medo somente.
         Boa parte dos imigrantes portugueses que vieram para Minas eram Cristãos Novos, ou seja, judeus convertidos a força para o Cristianismo. Muitos desses Cristãos Novos ainda praticavam o Judaísmo escondidos, por medo de serem identificados e denunciados à Inquisição que vigorava em toda a Europa e também na América até meados do século XIX. Por isso criavam formas de disfarçar as práticas judaicas. Guardar comida nas gavetas era uma delas. Quando um padre ou algum religioso chegava para visitar, tinha na mesa muita carne de porco que já era preparada justamente para quando aparecessem visitas. Não comiam nada, apenas ofereciam ao visitante. Diziam que já tinha feito as refeições. Todos sabem que judeu não come carne de porco. A comida Judaica, Kosher, ficava escondida nas gavetas. Quando as visitas iam embora, tiravam as comidas das gavetas e comiam normalmente. E assim iam vivendo e praticando como podiam sua religião, secretamente.
          Os chamados Cristãos Novos eram muito vigiados e policiados pela comunidade. Evitavam muitas conversas sobre religião, trabalhavam muito e guardavam sempre o que ganhavam. Não existiam bancos naqueles tempos. Guardavam o que ganhavam dentro de um colchão, que era o lugar mais seguro para isso. Raramente gastavam o dinheiro que ganhavam, somente em casos de muita necessidade e urgência.
          Sempre tinham ouro em pó ou bruto, guardado. Conheci um senhor, que praticava uma espécie de sincretismo judaico-católico, que tinha a boca cheia de dentes de ouro. O apelido dele era “Boca Rica”. Ele e a família misturavam crença e práticas judaicas com cristãs e por isso tinham medo de serem molestados pelos cristãos autênticos, como ele denominava os cristãos de origem e caso precisasse fugir ou sair as pressas do lugar que estavam, nem precisava levar nada. Por isso guardava toda sua riqueza na boca, lugar mais seguro, segundo ele.
          Todos faziam isso por questões de segurança. Judeu ou descendentes diretos quando identificados, eram muito perseguidos e sempre tinham que fugir de um lugar para outro. Como não podiam levar muitas coisas, como bois, móveis, e outros pertences, devido às dificuldades de levar tudo, levavam apenas roupas, dinheiro e ouro. Assim, quando chegassem ao destino, já tinham como recomeçar suas vidas.
          Lembro de uma história contada por parentes paternos, que são de origem judaica. Eles diziam que foram os judeus que criaram os bancos. Como eram perseguidos e muitas vezes suas comunidades eram saqueadas e queimadas, criaram uma forma de guardarem suas riquezas, sem que ninguém percebesse. Num porão de uma casa de família normal da comunidade, guardavam suas riquezas como ouro, jóias e dinheiro. Cada família tinha anotado o que guardava. O local era escolhido pela comunidade e a família da casa cuidava para que tudo transparecesse normal. A entrada para o porão era coberta por um tapete e sobre o tapete, ficava um enorme banco para disfarçar. Sentado nesse banco, ficava o responsável por guardar e anotar os pertences da comunidade. Assim ele recebeu o nome de banqueiro, conseqüentemente, o local que antes era porão, passou a se chamar banco. Assim se popularizou as duas palavras.
          A fama de que mineiro guarda dinheiro no colchão, gosta de ouro e fecha a mão para gastar, veio dessas práticas dos judeus e cristãos novos.
          Minha família paterna era uma dessas que mantinham algumas práticas judaicas escondidas dos olhares dos religiosos católicos.
          Esse comportamento dos Cristãos Novos acabou virando tradição e foi se difundindo nas casas dos cristãos normais que passaram a fazer mesas com várias gavetas, a guardar dinheiro no colchão, ter ouro em casa e gastar o menos possível e outras práticas e tradições de origem judaica.
          Mas mineiro não é pão duro e nem miserável. Nosso povo tem o prazer de receber suas visitas e por mais simples que seja sua casa, tem um enorme prazer de mostrá-la, cômodo por cômodo. Mineiro é hospitaleiro. As visitas são bem vindas, comem do bom e do melhor, sem miséria. Mesmo que haja pouca comida em casa, as visitas são tratadas como reis. 

Assombração da Capela Velha

(Por Maria Mineira*) Denominado Capela Velha, esse lugar é cortado pela estrada que liga São Roque de Minas à cidade de Bambuí. O botânico naturalista francês, Saint-Hilaire, por volta de 1820, quando passou na Capela Velha em sua viagem às nascentes do Rio São Francisco escreveu no seu diário:
          (...) A pouca distância da fazenda do Geraldo passei diante da capela de São Roque, onde um padre vem de vez em quando celebrar a missa. A capela fica isolada no alto de um outeiro e é feita de madeira e barro, com paredes sem reboco, e seu estado era miserável. Ao lado foram construídos uma casinha e um rancho, para abrigar os que vêm assistir à missa.
          Há muito tempo, ali havia uma pequena mata de grandes árvores reunidas em poucos hectares. Os antigos afirmavam que a cidade foi instalada lá. Pela dificuldade do acesso à água, foi transferida aqui para baixo, onde hoje se encontra.
          Cresci ouvindo histórias de assombração, acontecidas naquele local. Muitos comentavam sobre uma luz vermelha que vinha do céu, à noite. Ouvi também sobre a boiada fantasma. Outros falam de uma árvore que se originou quando enterraram ali uma escrava benzedeira. A cruz de um galho verde brotou se transformando na árvore mais alta daquele lugar. Conta-se que árvore assombrada se dobra por terra ajoelhando-se toda sexta-feira de lua cheia.
          Movida pela curiosidade comecei a entrevistar antigos moradores e soube de fatos interessantes. Aqui, a narrativa do senhor João, de 70 anos que preferiu não se identificar:
          Indesde qui ieu era mininim piqueno ieu escutava o povocontá esse causo de sombração. Lá perto di casa memo, tinha uma moitinha de bambu qui balangava as fôia memo semventá. Ieu via isso, mais nunca fui minino acismado não. Tanto qui crisci sem incomodá munto cum esses causo de arma penada.
          Certa veiz, ieu já divia tê uns vinte ano, morava na Varge Grande. Nessa época ieu arrumei uma namoradinha que moravamêi longe. Todo fim de semana ieu ia na casa dela e pá mode chegá lá tinha que passá na estrada da Capela Véia. Meus irmão tudo ficava mi acismano, dizeno qui ieu ia vê arma dôtro mundo, lubisome, boiada assombrada...
          Ahh, se um cabocrin invocado cum uma moça bunita ia alembrá de tê medo de sombração! Ieu ria inda falava preles assim:
—Si ieu vê arma penada ieu tiro as pena dela, passo uma rastêra, inda jogo na puêra da istrada.
          Ieu passei muntas vêiz andano di noite naquela estrada. Até a minina qu’eu namorava ficava cum medo de ieu ir simbora suzim. Num dia que tava armano uma chuvona braba inté o pai dela disse:
—Ô João, envém chuva, ispera a chuva passá ô intão posa aqui e dexa pá imbora amanhã cedo.
—Não sinhô, meu sogro. Num tenho medo de nada, não!
          A minina inda tentô fazê ieu ficá, mas ieu aproveiteipá rastá uma malinha emostrá minha corage.
—Ô minha frô, num picisa tê coidado comigo! Tem perigo de nada, não! Num tenho medo de chuva e nem de sombração.
          Dei um abraço na moça, dispidi do povo da casa, inda tomei um golin de cachaça qui o pai dela mim deu, dispois cacei o rumo de casa...
          Ieu andava dipressa, a distança até minha casa era de umas duas légua. Os curisco riscava o céu crariando a estrada. Os truvão quais me dexava surdo. Foi nessa hora quando um dos raio crariô o caminho qui ieu reparei qui tinha mais gente pru perto...
          Ieu tava duma banda da estrada e na outra banda avistei arguém. Ieu nunca tinha visto pessoa feito aquela nessas redondeza. Tavamêi longe, mais deupávê qui se tratava de uma muiê. Ela usava um vistido escuro quais rastano no chão, mais quando mudava os passo dava pá vê umas canela fininha e uns pé discarço. Carregava um punhado de imbornar chei de trem nos ombro, ês paricia tá munto pesado.
          Ieu andava de cá e ela de lá da estrada, nóis nem si oiava. Os dois andava depressa modi num pegá chuva. Acabei ficanomêi sem graça, ieu num tava carregano nadica e era uma vergonha um home dexá aquela veiinha carregá tanto peso nos ombro.
          Travessei a estrada e pedi pá ajudá ela a levá arguma coisa. A muié nem tirô os zoios do chão, mais rancô um dos imbornar dos ombro, me entregô e continuô a andá dipressa.
          Minha Nossinhora! Ieu nunca tinha carregado trem tão pesado! O peso daquilo qui ela levava nos ombro quais qui me discaderô! Custei a levantá o peso do chão. Agora ieu tinha qui guentá. Quem mandô ieu oferecê pá mode carregá, né memo?
          Cuntinuemo a andá... Ieu e a véia isquisita de rôpa preta. Cada um dum lado da istrada. Ieu tava froxim! Num guentava mais aquele saco de trem nas costa. Pu resto ieu já tava é rastano aquilo chão afora. Cê besta de trem mais pesado, sô! Paricia um saco de chumbo! Pió era qui a muié tinha munto mais peso nos ombro e num diminuía o passo. Ieu de cá e ela de lá... Im poco tempo nóis feiz a curva e já entremo na istradinha qui travessava a Capela Véia.
          Vô fala um trem procê, Sá moça: O qui sucedeu ali, ieu nunca mais qui sisquici na vida. Di repente, bem no meio da istrada a véia parô... Sem mi oiá, ela acenô cum uma das mão chamano ieu pa mais perto. Ieu inocentim de tudo, achei qui ela às vêiz quiria prosiá mais ieu.
          De repente ela estendeu o braço pámode pegá o imbornar dela qui ieu tava carregano. Ieu besta inda priguntei pá onde qui ela ia, mode quê ali pru perto num tinha casa. Num sei se os ripio de frio era da chuva que caía em riba di mim, ou se me deu um farta de coragi de chegá mais perto daquela criatura. Ieu parado nomêi da estrada e ela me acenano pra ieu chegá mais perto.
          Numa hora o clarão dum relampo bateu bem im riba de nóis. Aí, nesse prazim ieu pude vê a cara dela, si é que podia chamá aquela ossaiada de cara. Ieu vi foi uma cavêra! Juro qui foi! Ieu num tava tonto, não! E o braço qui ela istendeu pá mode pegá os trem era só osso tamém. As mão, os dedo! A criatura intêra era um esqueleto vestido de preto! Peguei cum tudo quanté santo qui ieu cunhicia. Ieu num era bem chegado numa reza, mais na hora do aperto a gente reza até sem sabê.
          Ieu rezano e tremeno, inté mijano pás perna abaxo, vi aquela muié de osso tacá os trem dela na costa, subi no barranco e sumi mata adentro. Nunca mais fui home de passa suzim ali, nem di noite e nem di dia. Nunca mais abusei nem fiz graça cum arma penada, luz vermêia. Isso acunticeu de verdade, ieu vi cum esses zoios qui a terra há de cumê.
*Maria Mineira é professora e escritora, moradora de São Roque de Minas, na Serra da Canastra

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Traição caipira é diferente

(Por Maria Mineira/São Roque de Minas) Houve uma época em que vovô Joãozinho teve um grave problema de saúde. Passou por uma cirurgia e ficou de repouso por vários meses. Muito contrariado viu sua fazendinha meio jogada ao léu. O milharal morrendo no mato, os pastos precisando roçar, o telhado do paiol desabando, o gado cheio de carrapatos... Havia um mundo de coisas a fazer, isso gastaria muitos dias de serviço, e na época vovô não tinha condições de pagar peão. Havia gasto todas as economias com médico e remédios.
          Tenho lembranças fragmentadas desse episódio. Era menina de uns treze anos e passava uma temporada na roça ajudando vó Geralda com os serviços domésticos. Não sei ao certo de quem partiu a ideia, se foi do vizinho Zé Mário ou do Roque Pedro. Sei que num domingo após o terço, sem vovô saber, fizeram uma combinação: iriam passar uma “traição” nele. 
          O que era a tal traição? Creio que hoje isso se tornou uma prática em desuso, mesmo no meio rural, pois, era diferente do mutirão. Apesar de ser também um trabalho solidário para executar rapidamente uma limpa de pasto ou uma capina, a ajuda era espontânea; espontânea, mas organizada.
          Uma pessoa em segredo convidava diretamente a vizinhança para tal dia e tal hora o grupo se reunir na casa de um compadre ou no cruzeiro e de madrugada passar a traição, a surpresa. Por sua vez o convidado estendia o convite ao parente para comparecer ao serviço. Funcionava o boca a boca, pois não havia telefone. Se necessário levavam o almoço pronto para não dar despesa ao “traído”. Quem pedia ajuda ou a recebia, ficava na obrigação de retribuir o serviço prestado, ajuda mútua.
          No dia marcado, os vizinhos esperaram o cair da noite. Lembro-me ter acordado com o foguetório, achei que o mundo estava acabando! Vovô Joãozinho e Vó Geralda se levantaram assustados com o latir do cães, a cantoria, os fogos de artifício, enxadas ou foices, usadas como instrumentos de percussão. Um dos vizinhos abriu a porteira, soltou três foguetes e mandou a turma vir chegando. Foi preciso alguém espantar os cachorros até o fundo da horta, porque queriam atacar os visitantes inesperados.
          Não me esqueço da expressão no rosto dos meus avós. Tadinhos deles! Ficaram tão comovidos que, tremendo de alto a baixo, se apoiando um no outro assistiam aquela manifestação de amizade. Homens e mulheres deram um banho de aguardente nos dois e os carregavam para o terreiro, onde a lua iluminava tudo. Choraram abraçados, não sei se era só de emoção ou se espirrou cachaça, encharcando os olho dos dois.
          Enfileirados com as enxadas nos ombros, os vizinhos cantavam:
os dois istimado amigo
Sá Gerarda e Sô João
Vem recebe seus vizinho
Pra esse grande mutirão.
Abre a porta acende a luiz
Pa podê nos recebê
O dia já tá clariano
Já começa amanhecê.
Nóis trabaia cantano
Pra mostra nossa vóis
Sá Gerarda vai pro fugão
Fazê um café pra nóis.
          O povo veio prevenido. As comadres trouxeram tudo para o desjejum. Antes do dia amanhecer fizeram uma oração e depois forraram o jirau de bambu com folhas de bananeira e colocaram uma grande variedade de quitandas: Pães de queijo, brevidades, roscas, bolos de fubá, biscoitos de polvilho e muitos bules de café quente.
          Mal o sol nasceu o grupo dos homens seguiu para a roça. As mulheres distribuídas pela casa iniciaram as tarefas: lavação de roupas, a plantação da nova horta de couve, debulhação de milho fazeção de doces e quitandas.
          Na roça, o mato sumia, cobras morriam, o coordenador do serviço gritava e a turma não parava. Durantes uma semana trabalharam para meu avô. A roça ficou capinada, os pastos limpos, o gado curado, o paiol e a casinha de queijo foram reformados.
          Era comum cantar durante o trabalho, ora em duetos ou em forma de coral. Havia o puxador e os outros respondiam - parecido com o canto da Folia de Reis ou Canto Responsorial.
          O homens cantavam:
Nóis toma uma cachacinha
Pru nosso peito isquentá
Vamo, vamo minha gente.
O serviço vai começá.
Alicrim despedaçado
Foi cortado e já morreu
Ieu tamém vivo magoado
Por amor que já foi meu
          As mulheres deixaram a casa brilhando, mataram e arrumaram dois capados, encheram as latas de biscoitos e a cristaleira de vó Geralda de doces. Lavaram e trocaram as palhas dos colchões, plantaram uma enorme horta de couve, capinaram todo o quintal e ainda podaram as roseiras, ariaram as panelas de ferro até brilharem.
          Elas trabalhavam cantando:
A lua bria no céu
Inté parece um quêjo
Sodades do meu amor
Faiz mêis qui ieu num vejo.
Si chorano ieu fizesse
Meu amor vim mi buscá
Ieu chorava noite intêra
Inté o dia clariá.
          No último dia da semana, depois de tudo pronto havia uma grande confraternização. Eram servidas tachas de arroz, tutu de feijão, leitoa assada, muito frango com palmito, macarronada com muito queijo ralado, suã de porco com arroz.
          Houve um pagode que durou a noite inteira. Todos voltaram de banho tomado e roupas novas . Os homens de lenço no pescoço, as mulheres vestidas de chita. Antes de começar um animado baile ao som da sanfona, das violas e cavaquinhos, ainda recitaram os últimos versinhos para meus avós que não cabiam em si de tanta felicidade:
Viva as roça capinada
De Deus nóis tudo é fio
Viva a nossa amizade
Viva os pendão de mio
Aqui estamos moçada
Nessa alegre reunião
Viva, viva cumadi Gerarda.
Viva, viva cumpadi João!
Nota: alguns dos versinhos eu lembrava, outros perguntei à minha mãe.
Na foto à direita, o meu avô Joãozinho, meu bisavô Tininho ao centro e sô Josué, um amigo deles. Saudades de todos...

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