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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Qual o significado dos cruzeiros nos adros das igrejas?

(Por Arnaldo Silva) Já teve curiosidade em saber o significado dos instrumentos e símbolos presentes nos cruzeiros de madeira encontrados nos adros (pátios) das igrejas dos povoados, vilas e cidades do interior de Minas?
          Em Minas Gerais, os cruzeiros de madeira começaram a se popularizar a partir de 3 de maio de 1879 em Nova União, cidade da Região Central Mineira. Esse cruzeiro é totalmente em madeira e com os tradicionais símbolos presentes nos cruzeiros pelo mundo, todos entalhados em madeira. (na fotografia acima do César Reis, o cruzeiro em frente a Igreja de N.S. da Penha no Bichinho, distrito de Prados MG)
          Quer dizer que os cruzeiros passaram a existir em Minas somente a partir de 1879? Não. Os cruzeiros antes de 1879 eram feitos em madeira com parte dos símbolos, como a espada, os pregos, o facão, o martelo, em ferro fundido e alumínio.
          O cruzeiro de Nova União MG foi o marco do início da popularização dos cruzeiros totalmente em madeira pelos povoados, vilas e cidades mineiras.
          Naquela época, a siderurgia e metalurgia ainda está iniciando em Minas Gerais e fazer arte em ferro fundido era uma atividade ainda iniciante. Trabalhar a madeira e transformá-la em arte é vocação mineira. Ao longo de 300 anos a arte em madeira está presente nas igrejas, casas e casarões por toda Minas Gerais. (na foto acima do Sérgio Mourão, o primeiro cruzeiro totalmente em madeira de Minas Geras, datado de 3/05/1879, construído em Nova União MG)
          
A partir do primeiro cruzeiro em madeira, as peças em ferro presentes nos cruzeiros passaram a serem substituídas por peças em madeira. Isso porque o metal enferrujava rápido, era mais caro e sua produção artística mais complexa. A madeira bruta era mais durável, abundante e com entalhes mais fáceis de trabalhar e restaurar.          
          Hoje, os cruzeiros fazem parte da simbologia da religiosidade mineira e por isso mesmo são comuns de serem encontrados em povoados, vilas e cidades do Estado de Minas Gerais. (Na imagem acima do César Reis, um cruzeiro do século XVIII, todo em madeira artesanalmente trabalhada. É um dos mais antigos cruzeiros de Minas Gerais)
O significado dos instrumentos presentes nos cruzeiros
          Os cruzeiros tem como função principal santificar os espaços, pedir orações, agradecer e refletir sobre o martírio de Jesus. Sua origem data dos primeiros séculos do Cristianismo. Era apenas a cruz, usada pelos primeiros cristãos como símbolo do processo de cristianização. Com o passar dos séculos, os instrumentos usados no martírio de Jesus passaram a fazer parte dos cruzeiros. Cada instrumento presente na cruz tem um significado simbólico para os cristãos. (Cruzeiro com todos os símbolos, registrado pelo Elpídio Justino de Andrade no Serro MG)
          A cruz da crucificação simboliza a compaixão, a misericórdia e o amor de Jesus pela humanidade ao dar sua própria vida para salvá-la do pecado. (nas fotos acima do César Reis, o Cruzeiro do Largo da Cruz, o mais antigo e mais curioso cruzeiro de São João Del Rei MG)
          Na cruz estão presentes a coluna onde Jesus foi amarrado, o chicote, a esponja molhada em vinagre, a lança usada para golpeá-lo, os pregos, o martelo, o alicate usado para retirar os pregos, o serrote, facão, os cajados e espadas dos soldados romano, as correntes e cordas usadas na prisão de Jesus, as tochas, o véu da Verônica, o caniço entregue a Jesus, o vaso de mirra, o sudário usado para cobrir Jesus, as 30 moedas de Judas, o Santo Graal (cálice usado por Jesus na Santa Ceia), as mãos que esbofetearam Jesus.
          Tem ainda a escada usada pelos soldados para pregar a inscrição INRI e a caveira com ossos cruzados que é símbolo mundial da morte. No cruzeiro, simboliza que Jesus venceu a morte e ressuscitou.
          Enfim, o que vemos nos cruzeiros simboliza todo o martírio de Jesus a desde sua prisão, condenação, castigos, crucificação, morte e ressurreição. Nem todos os cruzeiros contam com todos esses símbolos. Alguns mais simples contam apenas com as principais simbologias do martírio de Jesus. (na foto acima de Arnaldo Silva, um cruzeiro bem simples, no povoado do Capivari dos Macedos em Bom Despacho MG)
E o galo no topo do cruzeiro?
          O galo? Bem, o galo não tem nada a ver com o cruzeiro e nem com o martírio de Jesus.
          Nas construções de cruzeiros e igrejas no século XX, o galo no topo do cruzeiro passou a fazer parte. Não apenas nos cruzeiros, também nas torres das igrejas, quinas de casas urbanas e de fazendas. Não é uma simbologia bíblica e sim, para orientar a posição dos ventos. Isso mesmo. (na foto acima do César Reis, o galo no topo do cruzeiro no Bichinho, distrito de Prados MG)
          Chama-se Galo dos Ventos. Isso foi acrescentado posterior a criação dos cruzeiros. O galo está em todos os cruzeiros e igrejas, pelo menos as mais antigas. Não tem simbologia com a cruz. É apenas para indicar a posição dos ventos na cidade. O Galo dos Ventos é um Cata-vento que combina uma figura simplificada de um um Galo com a Rosa dos Ventos. Sua função é apontar a direção e intensidade dos ventos. É uma peça artesanal feita de uma estrutura giratória em um eixo vertical, em alumínio e pintada à mão.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A cidade de Ferros e a polêmica pintura de no altar da Matriz

(Por Arnaldo Silva) Esse tema polêmico foi levado para a TV através da obra Hilda Furacão (1991), de Roberto Drumond, jornalista, comentarista esportivo, cronista e escritor, natural de Ferros MG. A obra se transformou em minissérie da Rede Globo e a polêmica do mural de Ferros MG, foi mostrada na minissérie. Na época do ocorrido, anos 1960, a discussão sobre o episódio que  mobilizou a sociedade ferrense e mineira. Não apenas isso, se tornou debate internacional, ao ponto do Vaticano ter que intervir para dar um basta na discussão. 
          Esse episódio ocorreu na década de 1960, com a inauguração da matriz de Sant´Ana em Ferros MG, após demolição da antiga igreja barroca da cidade. O polêmico e efervescente debate foi por causa do mural feito pela artista plástica Iara Tupinambá para o altar da nova Matriz da cidade. (na foto acima do Thelmo Lins, a Matriz de Sant´Ana em Ferros MG)
A cidade
          A cidade de Ferros está situada na Zona Mata Metalúrgica às margens do Rio Santo Antônio, bem no coração de Minas Gerais. A cidade atualmente possui 10 mil habitantes, está a 174 km distante de Belo Horizonte e faz limites territoriais com Joanésia, Coronel Fabriciano, Santa Maria de Itabira, Antônio Dias, Conceição do Mato Dentro, São Sebastião do Rio Preto, Carmésia e Dores de Guanhães. (na foto acima de Arnaldo Quintão, casarões coloniais de Ferros MG)
Origem
          Sua origem começa no século XVIII com a chegada de aventureiros à região a partir de 1712, em busca de ouro e diamantes. Chegaram, desbravaram matas e fundaram um pequeno arraial, iniciando a exploração da região pelas margens do Rio Santo Antônio, à época bastante arenosa e abundante em cascalho. Ao explorarem o Rio Santo Antônio usavam rústicas ferramentas de ferro bruto. Com o uso prolongado e já sem utilidade, essas ferramentas foram sendo descartadas nas proximidades do povoado, às margens do rio, formando um amontado de ferros. Por isso a origem do nome da cidade. (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade, a Igreja do Rosário, do século XIX e abaixo, ponte sobre o Rio Santo Antônio)
          A fundação da cidade é atribuída ao português Pedro da Silva Chaves, devoto de Sant´Ana, que chegou à região posteriormente aos aventureiros. Foi o português quem doou a imagem da santa e construiu a primitiva capela, dedicada a Sant´Ana no arraial dos Ferros. Com o crescimento do povoado e da fé na santa, o arraial passou a ser conhecido como Sant´Ana dos Ferros.
          A partir do século XIX, após a estagnação pelo fim da exploração mineral, o arraial volta a crescer graças a qualidade de suas terras e ao avanço da agricultura e pecuária. Com isso, foi elevado freguesia em 1832, a vila e distrito em 23/09/1884 e à cidade em 10/07/1886 com o nome de Santana dos Ferros. Em 7 de setembro de 1923, Santana dos Ferros, passou a se chamar apenas Ferros, seu primeiro nome. (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade, a Igreja de São José de Cubas em Ferros MG)
Demolição da velha matriz
          Construída em barro, pau-a-pique, estrutura em madeira já corroída pelo tempo, além de ser bem pequena para o número de fiéis da cidade, o padre José Casimiro da Silva, ao assumir a paróquia da cidade em 1959, percebeu a urgente necessidade de reforma do templo histórico. Mas, devido o péssimo estado de conservação do templo, percebeu a necessidade de uma ampla reforma, com custos bastante elevados. Por esse motivo, o padre optou por demolir a construção histórica e construir a nova igreja de Sant´Ana, maior, em alvenaria e traçados modernistas, da época. (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade, a moderna Matriz de Sant´Ana de Ferros)
          A proposta foi apresentada pelo padre a dom Oscar de Oliveira, então arcebispo de Mariana MG, a qual a paróquia era subordinada. Evitando uma decisão monocrática, dom Oscar de Oliveira recomendou que fosse feito um plebiscito para consultar os paroquianos sobre a proposta de demolir e construir uma igreja nova.  
          Em 1961 a ideia do plebiscito foi colocada em prática e divulgada nas missas, rádios e jornais da cidade, convocando a população católica local a participarem. Teve até campanha pelo sim e pelo não, usando cores. O verde e amarelo seria a opção pela construção da nova matriz. Já a cor vermelha, era para quem defendia a preservação da igreja barroca e histórica. Os moradores da cidade ficaram na opção de preservar a história da cidade, optando por restaurar e ampliar a velha matriz ou demolir e construir outra, optando pela tendência das construções modernistas da época.
          Por ampla maioria, a população optou pela demolição da velha matriz e construção de um novo templo. Foram 3.550 votos a favor e 68 votos contra. Coube ao arquiteto Mardônio dos Santos Guimarães fazer o projeto, tendo como base os traçados modernistas das igrejas da época, como por exemplo, o modernismo da Igreja da Pampulha em Belo Horizonte, do arquiteto Oscar Niemeyer e pinturas de Portinari. Em 1962, a nova matriz de Ferros começa a ser construída.
Iara Tupinambá e o mural da matriz
          Nascida em Montes Claros MG em 02/04/1932, Iara Tupinambá, gravurista, desenhista, muralista e professora de gravura, é reconhecida como uma das mais importantes artistas plásticas brasileiras. Sua arte tem forte predominância figurativa e modernista, com relações com momentos e temos históricos brasileira. É uma artista cuja arte dialoga com o povo e o povo se sente na arte. Por esse motivo, a artista mineira foi a escolhida para pintar o mural do altar da nova Matriz de Sant´Ana de Ferros MG.
          Antes de criar o mural para a nova matriz, Iara refletiu bastante sobre como seria o mural e optou por retratar em sua obra, a criação do mundo. Em declarações ao Jornal O Estado de Minas, a artista detalhou os detalhes das cenas de sua obra: “Fiz a história da religião católica. Começa com a criação do mundo e a separação de água e terra. Em seguida, a criação de Adão e Eva. Daí, vem o pecado do homem e sua expulsão da natureza. Na quarta cena, temos a anunciação, quando um anjo revela a Maria que ela conceberá o filho de Deus. A imagem seguinte é Jesus carregando a cruz. As duas últimas imagens retratam Pentecostes, com a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo e, por fim, após sua morte, uma imagem de santos da igreja saindo de seus ombros. O fiel que conhece o Evangelho vai identificar tudo isso na imagem”. (na foto acima de Elpídio Justino e abaixo do Thelmo Lins, o interior da Matriz de Sant´Ana e o mural de Yara Tupinambá)
          Para fazer o mural, a artista levou 12 meses de trabalho, que contou ainda com a assistência de Sílvia Gaia e Anadali Pita, alunas da artista. A obra foi batizada pela artista de “A árvore da vida”.
A polêmica solucionada pelo Vaticano
          Após a construção da igreja e feito o mural, a cidade de Ferros MG se vê em nova polêmica. Devido a forte tradição religiosa e conservadora do povo mineiro, a obra da artista causou burburinhos na cidade. Embora a população tenha optado por demolir a tradicional e histórica matriz, optando por pela construção de outra em traçados modernos, o estilo modernista do painel criado pela artista, gerou uma enorme polêmica, principalmente entre os fiéis mais fervorosos e tradicionais. A polêmica foi tanta que saiu das divisas da cidade, de Minas Gerais e até transpôs fronteiras, com repercussão internacional. (na foto acima do Arnaldo Quintão, a nova Matriz da cidade, construída na década de 1960, onde está o mural de Yara Tupinambá)
          Isso porque a artista retratou em sua obra Adão e Eva antes do pecado original, ou seja, do jeito que vieram ao mundo, pintados no altar da matriz. O burburinho teve início já primeira missa solene, que contou com a participação da artista. Foi um escândalo de enorme repercussão e discussão na sociedade mineira em geral.
          Na época, o mural despertou atenção de toda a imprensa e da sociedade mineira e brasileira. Durantes dois anos, a cidade passou a ser o centro das atenções, recebendo nesse período, visitantes de todo país, além de várias bispos católicos, vindos de vários estados, que vieram à cidade analisar a obra e emitir pareceres. Sem consenso entre os bispos, a conclusão final sobre o mural foi encaminhada ao Vaticano, no Papado de Paulo VI. 
          Após análises da Santa Sé, a conclusão foi que a obra estava de acordo com a criação bíblica, não constatando nada de ofensivo à moral e aos bons costumes na obra da artista. Por fim, a decisão do Vaticano foi por manter a obra no altar. Assim, por intervenção do Vaticano, a polêmica foi encerrada e a obra está até os dias de hoje no altar da Matriz de Sant´Ana de Ferros MG.
          O mural da artista Yara Tupinambá na cidade de Ferros MG é hoje um das principais atrativos da cidade e um dos lugares mais fotografados pelos visitantes.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Jurema-mineira: a Sucupira de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Sucupira (Pterodon emarginatus Vogel) é uma palavra derivada da língua tupi suku´pira. É um termo que se refere a todas as espécies de árvores da família das fabáceas. Além de Jurema-mineira, as várias espécies de sucupiras são conhecidas ainda por sucupira-preto, sucupira-do-cerrado, sapupira-do-campo, sucupira-açu, cutiúba, sepifirme, sucupira-amarela, sucupira-da-praia, sebepira, paricarana, faveiro, fava-de-sucupira, fava-de-santo-inácio, sucupira-branca, sucupira-lisa, macanaíba e acari-açu.
          É uma espécie de árvore nativa do Brasil, muito comum nas regiões do Bioma Cerrado, principalmente em terrenos secos e pobres, por isso é bastante recomendado o plantio da espécie em áreas degradadas. É comum serem encontradas nas matas nativas do Cerrado de Minas Gerais, Pará, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. (fotografia acima e abaixo de Nicodemos Rosa em Pitangui MG)
          Ocorre ainda nos países de fronteira com o Brasil como a Venezuela, a Guiana, o Paraguai e a Bolívia. Suas flores são pequenas na coloração violeta. Sua altura varia de 8 a 16 metros, na fase já adulta e tronco entre 30 a 50 cm de diâmetro. 
          Seu crescimento é bastante lento, podendo levar em média 30 anos para atingir a fase adulta. A espécie adulta florida é de uma beleza fulgurante e não tem raízes agressivas, por isso também deve ser usada na arborização de ruas e praças urbanas. (na foto acima do Wilson Fortunato em Bom Despacho MG, detalhes das flores da sucupira)
Ameaçada de extinção
          A partir da segunda metade do século XX, a espécie chegou a entrar na lista de árvores nativas ameaçadas de extinção devido ao desmatamento desenfreado, com cortes contínuos de sucupiras para queima nas carvoarias, além do intensivo uso da espécie pela indústria moveleira na fabricação de móveis e assoalhos para casas, portas e janelas, devido sua bela tonalidade chocolate e por fornecer uma madeira muito resistente, permitindo a produção de móveis de alta qualidade. (fotografia de Nicodemos Rosa em Pitangui MG)
Planta medicinal
          Além disso a sucupira é uma planta medicinal, usada na medicina popular brasileira desde o século XIX. Isso porque a planta, principalmente as flores, folhas e sementes, possuem propriedades medicinais. Sua ação é anti-inflamatória, contribuindo para a redução das inflamações nas articulações. Além de auxiliar no tratamento da artrite, artrose e reumatismo, a sucupira auxilia no alívio de dores e inflamações pelo corpo, com por exemplo, na garganta, além de outros benefícios. (fotografia acima de Nicodemos Rosa em Pitangui MG)
          Em 2010, pesquisadores da Unicamp – Campinas SP, estudando as propriedades medicinais da sucupira, descobriram que o extrato das flores e sementes sucupira tem ação potente contra a dor e até potencial antitumoral. Os benefícios medicinais da sucupira continuam ainda sendo estudados pela ciência. ( foto acima Wilson Fortunato em Bom Despacho MG)
          Hoje a espécie é protegida e estão voltando a germinar novamente nas matas de Cerrado, principalmente na época de sua florada, entre agosto e setembro.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Em Barbacena está uma réplica de abadia medieval de 1060

(Por Arnaldo Silva) A Igreja de São Miguel, inaugurada em 2017 em Barbacena MG, Campo das Vertentes a 169 km de Belo Horizonte, é uma réplica fiel da Abazzia de Sant`Egídio, construção medieval datada de 1060, localizada na vila medieval de Fontanella na cidade de Sotto il Monte, Norte da Itália, na Itália.
          A Abazzia medieval foi edificada a Sant´Egídio ou Abadia de Santo Egídio, o padroeiro dos eremitas, santo católico também chamado de São Egídio e São Gil, é uma das mais antigas da Itália. Egídio nasceu em 650 d. C em Atenas, na Grécia, falecendo em 710 d. C, sendo sepultado na Abadia de Saint-Gilles, um mosteiro em Saint-Gilles, sul da França. Após sua santificação, se tornou bastante popular na Itália, França e na Escócia. (na acima de Wagner Rocha, a Igreja de São Miguel Arcanjo em Barbacena MG, réplica da Abaxia de Sant´Egídio)
          Filho de família cristã, rica e nobre, após a morte de seus pais, decidiu dedicar-se integralmente a Deus. Distribuiu seus bens entre pobres e doentes, optando em viver como um eremita, longe da cidade, em grutas e cavernas, dedicando-se a oração, jejuns e sacrifícios. A Egídio, foi atribuído muito sabedoria e dons da cura e milagres.
A Igreja de São Miguel Arcanjo
          A réplica da Abazzia de Sant´Egídio foi construída na Fazenda São Miguel Arcanjo, sede da Sociedade São Miguel Arcanjo, fundada em Barbacena no ano 1998 pelo italiano Marco Roberto Bertoli.
          A igreja construída por Bertoli é dedicada a São Miguel Arcanjo e não a Santo Egídio. Isso porque Bertoli é fervoroso devoto de São Miguel Arcanjo. O projeto arquitetônico, materiais usados, detalhes, ornamentação, bem como as técnicas de construção, são idênticos à abadia medieval italiana de Santo Egídio.
Porque uma réplica de uma igreja medieval em Minas?
          Construir uma igreja com as mesmas características da Idade Média em Minas Gerais surgiu da fé de Marco Roberto Bertoli, atendendo pedido de seu pai para que construísse uma igreja. Há anos, bastante adoentado, o pai pediu a seu filho que construísse uma igreja. Atendendo pedido do pai, Bertoli decidiu construir na cidade de Barbacena, uma igreja idêntica à Abadia de São Egídio, na Itália. (fotografias acima do interior da Igreja de São Miguel em Barbacena, de autoria de Wagner Rocha)
          O italiano nasceu de uma família muito religiosa. Seus pais ajudavam financeiramente padres europeus em suas missões pelo Brasil. Aos 21 anos, Bertoli abriu mão do conforto de sua vida na Itália e mesmo não dominando o português, decidiu deixar seu país e vir para o Brasil com o objetivo de ajudar o próximo através da caridade.
          Inicialmente, foi para Fortaleza, no Ceará. Em uma viagem de ônibus para São Paulo, o coletivo teve que parar em Juiz de Fora MG, na Zona da Mata, o ônibus teve que parar por problemas mecânicos. Observando bem a região, se encantou e aqui decidiu lançar seu projeto social e construir a igreja, atendendo ao pedido de seu pai e cumprir sua promessa de construí-la.
          Não foi fácil para Bertoli. Bateu de porta em porta pedindo ajuda a empresários e voluntários, até conseguir ajuda do estado, que cedeu um antigo imóvel em Antônio Carlos, no Campo das Vertentes, onde deu início a construção do seu projeto.
          Devoto do arcanjo São Miguel, Bertoli teve certeza de que estava no lugar certo ao decidir comprar um pedaço de terra para ampliar o projeto social. Conseguiu comprar a fazenda São Miguel Arcanjo, na vizinha cidade de Barbacena. O contrato de compra foi assinado no dia 29 de setembro. Em 2001 teve início a construção da nova sede em Barbacena MG, tendo sido construídos em dois anos 12.000 m² de edificações distribuídos em uma fazenda de 320 hectares. Por esse motivo, em 2003, as antigas instalações da sociedade em Antônio Carlos foram desativadas.
          Bertoli acredita que o fato de ter adquirido a fazenda que leva o nome de seu santo de devoção, não foi nenhuma coincidência. “Sabe em qual data do contrato (de compra do imóvel) foi assinado? Em 29 de setembro, dia de São Miguel. Sabe como a fazenda se chamava? São Miguel. Você acha que é coincidência?”, constatou na época o italiano.
Uma igreja da Idade Média no século XXI
          Construir uma igreja hoje é um projeto bastante difícil, devido o alto custo e detalhes arquitetônicos que requer muita mão de obra, conhecimento e mãos talentosas. Imagina construir uma igreja usando as mesmas técnicas e totalmente em pedras, da mesma forma como eram as construções do ano de 1060? Com certeza um desafio dos mais difíceis. Para se ter uma ideia, só de pedras para construir a réplica da abadia foram 200 caminhões. (na foto acima do Wagner Rocha, os fundos da Igreja de São Miguel Arcanjo)
          Era tão difícil que até mesmo especialista em construção, na época, julgavam ser impossível reproduzir uma igreja medieval utilizando matéria similar e técnicas milenares em sua construção, justamente para manter a fidelidade do projeto original.
          Mesmo com opiniões contrárias, persistente e entusiasmado com seu projeto, Bertoli rodou o Brasil e o mundo em busca de recursos para seu projeto. Foi à Itália em busca do projeto original da Abazzia de Saint´Egídio, conseguindo junto a um um arquiteto do Vaticano.
          Para começar a tirar seu projeto do papel, o italiano montou em Barbacena, uma escola de lapidação de pedras, utilizando as técnicas medievais da época da construção da Abazzia de Saint´Egídio, justamente para igreja fosse uma reprodução fiel da obra medieval.
          As obras para a construção do templo tiveram início em 2007 e foram concluídas em 2017, quando foi inaugurada. Foram 10 anos de muita persistência e comprometimento com a promessa que havia feito a seu pai. E conseguiu, apesar de os especialistas julgarem ser impossível! “Deus me deu o dom da ignorância, pois se eu soubesse o quanto seria difícil construí-la, dificilmente teria começado”, afirma Bertoli.
Simbologia medieval nos detalhes da igreja
          Igrejas dedicadas a Santo Egídio, tanto em nossa época e em séculos anteriores existem em alguns países da Europa, em construções de acordo com a arquitetura local e época em que foram edificadas. A Abazzia de Sant´Egídio na Itália segue o estilo arquitetônico medieval romano e este estilo e toda a simbologia desta igreja foi fielmente reproduzido na Igreja de São Miguel Arcanjo, em Barbacena.
          “Toda igreja neste estilo tem uma característica que é a seguinte: a pouca luz que entra no ambiente ilumina (a imagem) de Jesus Cristo. Por isso, a porta é voltada para a nascente do sol”, explicou Bertoli. (na foto acima do Wagner Rocha, o interior da Igreja de São Miguel Arcanjo)
          Além disso a igreja de São Miguel possui 12 colunas, seis de cada lado e 80 cm para cada uma. No meio de cada uma das 12 colunas tem um crucifico simbolizando os 12 apóstolos. Cada coluna conta com uma peça decorativa na parte superior, chamada de capitel, em cada, temos um papiro (uma planta que cuja folha era muito usada no antigo Egito, para escrita de textos). Na idade média, escritas em papiros simbolizavam a transcrição da sabedoria. Na parte inferior das colunas tem ainda folhas de acanto que simbolizavam os espinhos da vida. Segundo Bertoli, essa simbologia nas estruturas significa que “somente tem sabedoria quem vive os espinhos da vida”.
          Os templos medievais são repletos de simbologias, muitas das vezes carregadas de superstições perpetuadas durante séculos. Na Abazzia italiana de Saint´Egídio não foi diferente e todos esses detalhes foram reproduzidos em sua fidelidade.
          Por fora, florestas de eucalipto mostram a simplicidade da construção em Barbacena, toda em pedras lapidadas no estilo medieval. Diferente das igrejas atuais, onde as janelas são enormes, as construções medievais tinham janelas muito pequenas. Isso devido a Idade Média ter sido um período muito sombrio de nossa história, com guerras e invasões constantes. Por esse motivo as portas das construções era bastante reforçadas, na maioria em madeira e ferro fundido.
          As janelas das construções e igrejas medievais eram minúsculas e colocas em posições bem altas. Em caso de invasão de inimigos, rapidamente se trancavam dentro dessas construções para se protegerem de ataques e invasores. Por esse motivo, as construções milenares eram verdadeiras fortalezas.
          A preocupação com a segurança na época medieval podem ser percebidos nos detalhes das portas, fechaduras e tachos de ferro forjado, bem trabalhados, reforçam o cuidado com segurança e proteção do templo que existia na Idade Média. Esses detalhes não foram ignorados na Igreja de São Miguel Arcanjo de Barbacena e foram fielmente reproduzidos.
          No interior da igreja, os fiéis ficam à sombra enquanto raios de luz natural da parte da manhã e da tarde, penetram a igreja pelos oráculo das pequenas janelas. Pela manhã, os raios da luz do dia ilumina ilumina a imagem de Jesus, no lado posto da parede. Já a luz do sol da tarde, entra por uma fissura, ao meio, e ilumina parte do altar, onde está a simbologia do Deus-pai e ainda a imagem de Jesus, que se encontra no Ostensório, em cima do altar, sustentado por quatro redondas que representam os quatro cantos do mundo. (fotografia acima de Wagner Rocha, detalhes da imagem de Jesus , os arcos e as pequenas janelas)
          A luz natural sobre a imagem de Cristo, simboliza a luz de Jesus, que é a essência da fé e os fiéis que estão à sombra, recebem essa luz, vinda do céu. O efeito da luz do sol que ilumina o altar penetram por 3 janelas e chegam até o o altar, simboliza a luz da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
          Outra simbologia no interior da igreja são os três degraus de acesso à fonte batismal. Pode parecer apenas números mas simboliza a sexta, o sábado e domingo, os três dias que antecederam a ressurreição de Jesus. Na vida do cristão, essa simbologia quer dizer que no batismo, ele nasce para uma nova vida, em Cristo.
Pinturas interiores
          Com o objetivo de oferecer cultura e fé aos frequentadores da comunidade, no interior da igreja de São Miguel foram feitas quatro cópias de pinturas religiosas europeias de séculos diferentes, que não fazem parte da ornamentação interna da Abazzia de Saint´Egídio, da Idade Média e sim pinturas presentes em igrejas da Europa feitas nos séculos XVIII, XIX e início do século XX. (na foto acima do Wagner Rocha, podemos ver as 4 pinturas reproduzidas: duas no centro do altar e outras duas, de cada lado do altar)
          As obras são: Imaculada Conceição, assinada em 1767 por Gianbattista Tiepolo; A divina pastora, de Illiam Adolphe Bouguereau (1893); São Miguel Arcanjo, de Loverini (1891) e Jesus Misericordioso, de Eugênio Kazimirowski (1934). Isso permite ao visitante conhecer, além da arquitetura medieval, a arte sacra europeia dos séculos XVIII, XIX e início do século XX, permitindo assim enriquecer mais ainda o conhecimento sobre a cultura e religiosidade dos europeus. A reprodução dessas pinturas europeias tem a assinatura dos artistas plásticos Sérgio Prata e Franciscano Marcelo dos Santos.
A Sociedade São Miguel Arcanjo
          A Fazenda São Miguel, é o resultado de um projeto de assistência social criada com o objetivo de acolher e amparar em tempo integral, crianças e adolescentes entre 3 a 18 anos, que vivem em situação de vulnerabilidade social. No momento, são assistidos pela entidade cerca de 430 crianças e adolescentes. O espaço conta ainda com um espaço para abrigar idosos, atualmente com 13 senhores e senhoras. (na foto acima do Wagner Rocha, a sede da Sociedade São Miguel Arcanjo em Barbacena MG)
          Além de manter serviços regulares de educação, esporte, cultura, lazer e acolhimento, o espaço tem ainda como objetivo “resgatar as perspectivas de vida e amenizar traumas, a fim de alcançar a maturidade espiritual, a integridade moral, a competência e responsabilidade profissional” segundo disse Bertoli, durante inauguração da igreja, em 2017.
          A metodologia de ensino, estrutura da creche e escola de ensino médio e fundamental, tem a parceria com o Colégio São Francisco de Assis. O ensino e estrutura são de alto nível, seguindo a metodologia das melhores escolas brasileiras.
          As crianças e adolescentes estudam em tempo integral. Muitos deles vivem na própria comunidade, que funciona como se fosse uma pequena cidade e com ótima estrutura como com creche, escola de ensino médio e fundamental, cineteatro, laboratório de informática, biblioteca, refeitórios, quadras poliesportivas, ginásio profissional de ginástica olímpica, salas de TV, artesanato, e galpões destinados a atividades profissionalizantes agrícolas, zootécnicas e também de música. Conta também com atendimento médico, fonoaudiológico e odontológico feitos por voluntários, realizados gratuitamente.
          Os recursos para manter as atividades da Sociedade São Miguel vem de doações individuais e de parcerias com empresas e empresários da Itália e do Brasil.
Visita à Igreja de São Miguel Arcanjo
          Igreja de São Miguel Arcanjo está aberta à visitação aos domingos de 14 h às 17 h.
          Para mais informações, ver fotos da fazenda e do trabalho realizado pela Sociedade São Miguel Arcanjo, bem como doações e outras informações, podem ser obtidas através do site da entidade: sociedadesaomiguel.org.br ou Instagram da entidade: @sociedadesaomiguelarcanjo

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Saiba o motivo de igrejas próximas uma das outras em Minas

(Por Arnaldo Silva) Quem vem às cidades históricas mineiras se deslumbra com a riqueza arquitetônica dos casarões e principalmente, pela suntuosidade e imponência das igrejas mineiras.
          Minas Gerais, no auge de sua povoação, no século XVIII, não foi construída pelas mãos de engenheiros e arquitetos e sim, pelas mãos de artistas, artesãos, escultores e mestre nas artes que fizeram escola e até hoje são reverenciados, como mestres Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho e seu pai, Manuel Francisco Lisboa, Joaquim José da Natividade, Valentim da Fonseca e Silva, Manoel da Costa Ataíde, José Soares de Araújo, Silvestre de Almeida Lopes, dentre outros outros tantos talentos mineiros e estabelecidos em nossas terras. (na fotografia acima de Nacip Gômez as igrejas de São Francisco e de Nossa Senhora do Carmo em Mariana MG)
          Minas não foi construída, foi esculpida por artista e pintada à mão. Isso explica a riqueza e beleza das construções. Mesmo assim, por desconhecimento da história das origens mineiras, principalmente do pensamento e da conjuntura social do século XVIII, simplesmente, analisam o que veem pela conjuntura social atual e pensamento do século XXI. Com isso ficam sem entender porque tantas igrejas em cidades pequenas e até próximas umas das outras, com indagações carregadas de críticas até. Sempre indagam o porque a Igreja Católica construía tantas igrejas e com tanto ouro e suntuosidade e qual era a necessidade de terem igrejas tão próximas umas das outras.
          A questão é que não foi a Igreja Católica a construtora das igrejas mineiras durante o Ciclo do Ouro e sim, as Irmandades.
O Ciclo do Ouro e as Irmandades
          A descoberta do ouro em Minas Gerais, fez surgir vilas e cidades, formada por diferentes povos, que vieram para a então capitania. Vieram de todos os cantos do Brasil e também, do mundo. Foram esses povos, que deram origem a formação social, política, arquitetônica, cultural e gastronômica de Minas Gerais.
          Foi este um período que começou a surgir em Minas Gerais as irmandades e confrarias. Com origem na Europa, eram associações formadas por homens de diversas camadas sociais, ricos ou pobres, que tinham ideais e objetivos comuns, além da devoção a um santo católico, que era a base para o surgimento das irmandades e confrarias. (na foto acima de Peterson Bruschi, o Altar-mor da Basílica Menor de Nossa Senhora do Pilar, igreja de Ouro Preto construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento)
Confraria, Irmandade e Ordem Terceira
          
Embora pareçam ser a mesma coisa, confraria, irmandade e Ordem Terceira, tem suas diferenças. As confrarias eram associações pias, informais, formadas pela união de grupo de pessoas leigas, com o objetivo de fazer caridade. Quando passavam a se constituir formalmente, como pessoas jurídicas, registradas e reguladas por estatutos, eram chamadas de irmandades. (na foto acima da Jane Bicalho, a rua e a escadaria de acesso a Capela de Santa Rita, no Serro MG, iniciada em 1728 e concluída em 1758 pela Irmandade do Rosário dos Pretos da Vila do Príncipe)
          Já as ordens terceiras eram instituições da Igreja Católica, formada por leigos. Eram muito ativas nos tempos do Brasil Colônia, em Minas. Para se fundar uma ordem terceira, os leigos dependiam de autorização dada por uma ordem primeira. Diferente das confrarias e irmandades, que aceitavam entre seus membros, diversos setores da sociedade, o ingresso à Ordem Terceira obedecia 
a critérios rigorosos e seletivos.
          Como exemplos o candidato a ingressar em uma Ordem Terceira tinha que ser rico, ter o sangue limpo, ou seja, seus membros não podiam ser negros, cristãos novos (judeus convertidos), ter origem de “raça duvidosa” ou com descendência de alguns desses povos, além de outras exigências.
          Menos seletivas, as irmandades e confrarias eram mais abertas, formadas por homens brancos, negros, pardos, mestiços e mamelucos, com profissões e classes sociais diferentes, seja rico ou seja pobre. Cada grupo com suas respectivas irmandades e devoção a seus santos, mas geralmente, membros de irmandades diferentes não se misturavam. Os relacionamentos sociais eram geralmente entre os próprios membros (na foto acima de Elvira Nascimento, a Igreja de São Francisco de Assis, em Diamantina MG, construída pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis)
          Ser aceito e fazer parte de uma irmandade ou confraria, era primordial para o reconhecimento social dos homens no período colonial.
A Irmandade dos Homens Pretos
          Entre as irmandades formadas em Minas Gerais, as irmandades dos homens pretos, eram as mais ativas e atuantes. Isso devido à limitação impostas pelos brancos à fé dos escravos, bem como as discriminações, humilhações e preconceitos a que eram submetidos, constantemente. (na foto acima de Ane Souz, a Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da freguesia de Antônio Dias, irmandade fundada por volta de 1717)
          A forma que encontraram para se unirem, com a permissão das autoridades, foi através das irmandades.
          Assim foram surgindo irmandades de homens pretos e pardos pelas cidades mineiras, com o objetivo de se protegerem e construírem suas próprias igrejas. Com isso, conseguiam se fortalecer, protegerem-se uns aos outros, além de preservarem suas tradições, cultura e fé, mantendo ainda a unidade dos homens que formavam a irmandade. 
          As irmandades dos homens pretos nutria grande afeição por Nossa Senhora das Mercês, São Benedito e em especial, Santa Efigênia e principalmente por Nossa Senhora do Rosário.
          A predileção dos escravos pela santa católica se deu devido ao seu rosário, semelhante ao “rosário de ifá”, usados pelos sacerdotes africanos. (na foto abaixo de Ane Souz, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, irmandade fundada em 1715)
A expulsão das Ordens Religiosas em Minas 
          A maioria das igrejas mineiras, durante o Ciclo do Ouro, foram construídas por irmandades e confrarias religiosas. As irmandades foram se formando durante o período da mineração do ouro, devido os desentendimentos entre a Igreja Católica e a Coroa Portuguesa.
          No início do século XVIII, com a descoberta de ouro em Minas Gerais, a Coroa Portuguesa proibiu as ordens primeiras da Igreja Católica de atuarem e de existirem em Minas Gerais, bem como, limitava a circulação de religiosos, nas cidades onde existia mineração. (na fotografia acima de Ane Souz igrejas da cidade do Serro MG)
          O objetivo era manter bem longe de Minas Gerais, principalmente das cidades onde eram extraídos ouro e diamantes, o clero regular. Afastando e expulsando as ordens religiosas de Minas Gerais, a Coroa Portuguesa visava controlar o contrabando, bem como se prevenia de possíveis complicações futuras, pelo fato das ordens religiosas não se submeterem à normas da administração portuguesa e sim, à normas internas da Igreja Católica. 
          Além disso, muitos religiosos e ordens  se envolviam em rebeliões de contestação da atuação da Coroa Portuguesa, sendo vistos como desestabilizadores e incentivadores de revoltas populares. 
O papel das Irmandades na religiosidade mineira
          Expulsar as ordens religiosas foi uma medida drástica. Para evitar descontentamento entre os mineiros, a saída que a Coroa Portuguesa encontrou foi a de incentivar a criação das irmandades, ordens terceiras e confrarias, formadas por leigos. Assim, as manifestações de fé do povo mineiro, continuavam e as regras e imposições da Coroa Portuguesa, respeitadas. Cabia então às irmandades construírem os templos, zelar pelas igrejas, organizar os serviços religiosos, além de construírem e manterem seus cemitérios.
          Mesmo com o impedimento da presença das ordens religiosas da Igreja Católica em Minas Gerais, a administração portuguesa permitia a presença de padres, designados pelos bispos da Bahia e Rio de Janeiro, estados onde não haviam as restrições impostas aos clérigos. Com a expulsão das ordens religiosas de Minas Gerais, era o Arcebispado desses dois estados, os responsáveis por designar padres e orientar as atividades religiosas na Capitania das Minas Gerais. (na fotografia acima de Ane Souz, o interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Ouro Preto MG)
          Os padres que eram designados pelo Arcebispado, tinham que obter licença do governo português na colônia e seguir rígidas regras para atuarem em na Capitania de Minas Gerais. Teoricamente, a atuação desses padres se limitava à ministração dos cultos e serviços dos sacramentos. Quem construía, dirigia, preparava as cerimônias dentro e fora dos templos, dava manutenção e administrava as finanças das igrejas, eram as irmandades e não a Igreja Católica.
O papel social das Irmandades 
          Assim foram surgindo as irmandades e confrarias pelas cidades mineiras, com o objetivo de unir homens em prol de seus ideais comuns, defendendo seus interesses e a devoção em seus santos, dedicando a eles, as igrejas e capelas que construíam. (na foto acima da Elvira Nascimento, a Igreja de São Pedro dos Clérigos e abaixo as igrejas do Carmo e de São Francisco de Assis, em Mariana MG)
          As atuações das irmandades eram vistas com bons olhos pela Coroa Portuguesa, já que esses movimentos, tinham total controle sobre a construção de seus templos, contratação de arquitetos, pintores para ornamentação e decoração de suas igrejas. Eram as irmandades que decidiam como seriam construídas as igrejas, que tipo de adornos e ornamentações que teriam, mobiliário, peças sacras, tudo. Isso eximia o Estado de subsidiar e manter os templos, já que o custo das obras, bem como sua ornamentação e pinturas, ficava por conta dos membros das irmandades. 
          Outro fator importante para o apoio às irmandades pelo Estado, era o serviço de apoio e assistência social que estas prestavam aos seus membros e seus familiares. Além disso, ajudavam os que não eram membros das irmandades, mas tinham devoção a seus santos, mantendo assim afinidades com as irmandades.
          Todos os membros das irmandades tinham por obrigação, ajudarem uns aos outros em tudo que necessitassem. Quando ficavam doentes e necessitavam de ajuda, lá estava os irmãos e confrades para ajudarem. Eram ajudados quando passavam por problemas financeiros e quando eram presos, contavam com assistência jurídica. 
          As viúvas dos membros das irmandades não ficavam desamparadas e as irmandades, ajudavam financeiramente as viúvas e filhos, caso necessitassem. Davam ainda apoio às famílias com velório e sepultamento dignos, além de apoio e conforto espiritual.
          Essas atividades sociais eram importantíssimas paras as irmandades e vistas com bons olhos pela Coroa Portuguesa, que assim se sentia desobrigada de prestar assistência social à população.
          Mesmo assim, a atuação das irmandades era controlada pelo governo português, que exigia que cada irmandade criada, tivesse seu estatuto próprio, com normas que regulava as atividades dos membros da irmandade e registradas nos órgãos de controles e fiscalização da Coroa na região. 
          O estatuto teria que ser registrado e aprovado por uma entidade criada pela administração portuguesa, chamada de Mesa de Consciência e Ordens. Nos estatutos das irmandades, constava suas obrigações jurídicas de acordo com as leis vigentes da época, regulamentação da conduta moral, ética, religiosa, política, familiar e social de seus membros.
          A formação das irmandades e suas atividades, eram acompanhadas e orientadas, pelo Arcebispado da Bahia e Rio de Janeiro, que acompanhava a formação das irmandades em Minas, bem como na orientação de suas atividades religiosas. Recebendo essa aprovação das autoridades, passavam a serem reconhecidas pela Coroa Portuguesa. Caso houvesse necessidade de mudança nos estatutos, as irmandades teriam que comunicar às autoridades, encaminhar as mudanças e aguardar a aprovação. (na foto acima da Ane Souz, o altar da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, no bairro Padre Faria em Ouro Preto MG)
          Por isso a existência de tantas irmandades e confrarias em Minas Gerais e claro, de igrejas. Quanto mais irmandades existia numa cidade, mais igrejas eram construídas.
Quanto mais irmandades, mais igrejas
          Em Ouro Preto, por exemplo, durante o Ciclo do Ouro, existiam 29 irmandades. Cada igreja ou capela ouro-pretana, nessa época, foi construída por uma irmandade diferente. E assim foi por todas as cidades mineiras, surgidas durante o Ciclo do Ouro, como Sabará, Serro, Mariana, Tiradentes, São João Del Rei, Diamantina, etc. (na foto acima do Thelmo Lins, o altar da Igreja do Pilar em São João Del Rei MG, iniciada em 1721 pela Irmandade do Santíssimo Sacramento)
          E era cada um na sua, cada irmão em sua irmandade, cada confrade em sua confraria. 
          As irmandades não viam a carência religiosa da sua cidade em si, mas sim os seus próprios interesses. Sua atuação religiosa e social era restrita a seus membros e devotos dos santos de suas respectivas igrejas. Não se incomodavam e nem se importavam em construir seus templos, próximos a outras igrejas. 
          Isso porque suas igrejas não eram para a cidade, e sim, para a própria irmandade. Inclusive, as sedes das irmandades eram dentro das igrejas, em salões localizados nos fundos. Cada irmandade construía sua igreja, mesmo que à frente, na rua do lado ou atrás da sua igreja, exista outra. Isso era totalmente irrelevante para as irmandades, ordens terceiras e confrarias.
          Por isso que nas cidades históricas mineiras, erguidas nesse período, existem tantas igrejas e todas, bem próximas.
Irmandades, vaidades e poder financeiro
          Havia inclusive disputas de poderio econômico entre irmandades. Notadamente visível na Praça Minas Gerais em Mariana, manifestação clara da disputa de poderio econômico e de poder, entre duas irmandades: a Ordem Franciscana e a Terceira Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Essa disputa resultou na construção de duas igrejas, uma em frente a outra, dedicadas à São Francisco de Assis, construída em 1763 e à Nossa Senhora do Carmo, construída em 1784. (na foto acima do Peterson Brushi)
          A construção de igrejas pelas irmandades, ultrapassava os sentimentos de fé e devoção. Era mostra clara de disputa de poder, com explícita demonstração de poderio econômico. Para conquistar poder ou manter o poder em mãos, as irmandades investiam fortunas em ornamentos em ouro, madeiras nobres, luxo e riqueza. 
          A riqueza estampada nas igrejas mineiras dos séculos XVIII e XIX, eram mostras claras da vaidade e poderio econômico dos mais ricos membros das irmandades e nem tanto da fé e religiosidade.
          O luxo excêntrico e riqueza das ornamentações das igrejas do período colonial em Minas Gerais, saiam dos bolsos dos membros das irmandades e não dos cofres da Igreja Católica.          
          Quanto mais ricos eram os membros das irmandades, mais investiam em seus templos. Quanto mais ouro e ornamentos tinham as igrejas, mais prestigio, fama, poder econômico e social, tinham a irmandades e seus membros.
A volta das Ordens Religiosas à Minas Gerais
          Com o fim da riqueza gerada pelo ouro, finalizou também a proibição da presença das ordens religiosas oficiais, que voltaram a se instalar em Minas Gerais, passando a administrar as igrejas e cemitérios e demais obras sociais, bem como reformar e construir novos templos. (na foto acima do César Reis, o reluzente brilho do ouro do Altar-mor da Igreja de Santo Antônio, em Tiradentes MG, construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, fundada em 1710)
          As irmandades, confrarias e ordens terceiras continuaram a existir e muitas delas são ativas até os dias de hoje, principalmente nas cidades históricas mineiras. Dão apoio, como entidade leigas, às ordens religiosas e ajudam nos trabalhos das igrejas, que passaram a serem administradas diretamente pelas ordens oficiais católicas, após o fim do Ciclo do Ouro e autorização das ordens religiosas de voltarem a atuar em Minas Gerais. 

sexta-feira, 24 de maio de 2024

A ligação de Minas Gerais com a Ordem dos Cavaleiros Templários

Pela primeira vez em 906 anos, a Ordem dos Cavaleiros Templários tem um Grão-Mestre brasileiro
          Membro do Gran Priorato Templário do Brasil, Cavalaria Espiritual São João Batista, com sede em Carangola, Minas Gerais, o Prior do Sul do Brasil Magnus Officialis Sidení Moratelli trouxe para nós um pouco da história da Ordem dos Cavaleiros Templários. (na foto acima, templo da Ordem Templária em Carangola MG)
          A história da Ordem se divide em três fases: 1ª Fase – 1095 a 1314 – Do nascimento a supressão; a 2ª Fase – 1315 a 1803 – A fase oculta da Ordem e a 3ª Fase – 1804 aos dias de hoje – O neotemplarismo – Ordo Supremus Militaris Hierosolmilitane – Magnum Magisterium (OSMTH-MM).
O nascimento da Ordem dos Cavaleiros Templários
As cruzadas - No ano de 1095, por todos os lados da Europa, se divulgou a mensagem do Papa Urbano II convocando os cristãos para uma cruzada a Terra Santa. No ano seguinte, reuniram-se em Constantinopla vários nobres. Depois de três anos de investidas militares, Jerusalém foi conquistada pelos cruzados em 15/07/1099, sob o comando Godofredo de Bulhões, que se estabeleceu no local que fora atribuído ao “Santo Sepulcro”. Godofredo de Bulhão, foi sucedido por seu irmão, que tomou o título de Rei de Jerusalém – Balduíno I e foi sucedido pelo seu filho Balduíno II. Após a tomada de Jerusalém e a consolidação do Reino Cristão, os nobres europeus que empreenderam na conquista militar, retornaram à Europa, permanecendo em Jerusalém apenas um grupo de 300 cavaleiros. (na imagem acima, festa de São João Batista em Carangola MG)
Nove cavaleiros fundam a Ordem Templária
          Em 1118, um grupo de cavaleiros liderados por Hugo de Payens e Geoffroy de Saint Omer, fundaram uma nova Ordem Religiosa, destinada a Proteção dos Peregrinos. Originalmente conhecida por “Pobres Cavaleiros de Cristo”. Apesar da história assegurar que eles eram nove, só se conhece o nome de oito deles. Hugo de Payens, Godofredo de Saint-Omer, Arcambaldo de Saint-Aignan, Payan de Montdidier, Godofredo Bissot, Hugo Rigaldo e dois registrados apenas pelos nomes de Rossal ou Ronaldo e Gondemaro. O nome do nono Cavaleiro permanece desconhecido. No entanto, existe uma vertente espiritual da Ordem que acredita que o nono cavaleiro era o Mestre Espiritual Oculto. (na foto, Prior do Sul  Sideni Moratelli (com a espada) com Irmãos do Sul)
Obediência a Igreja e ao Papa
          Com a Bula “Omni datum optimum”, de 29 de março de 1139, o Papa Inocêncio II, sujeitou os Templários à autoridade direta do Papa e concedeu-lhes isenções e privilégios que fizeram da Ordem uma estrutura autônoma, com concreta possibilidade de se assegurar uma base econômica forte, de forma a financiar as atividades militares na Terra Santa e na Península Ibérica. (Prioresa de Minas Gerais Maria Aparecida Santana e membros do Priorado de Minas)
          Sucessivamente a Bula “Milites Templi” de 1144, o Papa Celestino II concedeu novos privilégios à Ordem, solicitando doações a favor da causa da Ordem. Dessa forma, os Templários podiam recolher doações diretamente a seus fundos.
O comércio Internacional
          Os Templários foram os primeiros banqueiros da Europa. Desde o princípio, os Templários eram uma organização internacional, embora seus objetivos estivessem na Terra Santa, seu sustento vinha da Europa, onde possuíam terras, recolhiam impostos (dízimos) e recebiam doações. Organizavam feiras e mercados, onde comercializavam sua produção, e com isso construíram uma formidável frota mercante, capaz de transportar peregrinos, soldados e suprimentos, entre a Espanha, França, Itália, Grécia e Alémar. A maioria dos produtos que os templários importavam, tais como, cavalos, ferro e trigo, vinha pelo mar. (na foto, desfile Templário em Portugal)
Declínio e subpressão da Ordem dos Cavaleiros Templários
A queda de Jerusalém - No ano de 1187, mais precisamente, no dia 04 de julho, Saladino avançou pelas terras da Galileia e, nos Cornos de Hattin, travou uma das batalhas mais importantes da idade média, contra o exército cristão, formado pelas tropas do francês Guy de Lusignan, o rei consorte de Jerusalém, o príncipe da Galileia Raimundo de Trípoli e Geraldo de Rideford à frente dos Templários. Estima-se que havia cerca de 60 mil homens – entre cavaleiros, soldados desmontados e mercenários muçulmanos – no exército Cristão; já as forças de Saladino, possuíam cerca de 70 mil guerreiros.
           A estratégia adotada por Guy de Lusignan, contrariando o sugerido por Raimundo, era a de lançar um ataque imediato e pontual, contanto com o apoio dos Templários. O resultado não poderia ser diferente, dada a arrogância de Guy de Lusignan, a derrota foi violenta tendo como consequência: o Rei feito prisioneiro, Raimundo fugitivo, Reinaldo de Chântillon, que combatera em campo, decapitado por Saladino. 
          Após esta batalha, os muçulmanos seguiram para Jerusalém e, depois de um cerco de duas semanas, conquistaram a cidade. Já de posse de Jerusalém (tomada em outubro de 1187), Saladino poupou a vida de Guy, enquanto Raimundo escapou da batalha com sucesso. O pior aconteceu aos Templários, sendo todos mortos em campo, exceto o Mestre, que pouco após foi colocado em liberdade, sob suspeita de que este tivesse se convertido à religião muçulmana para sobreviver.
A inveja de um rei endividado
          Em 1305, o rei da França Filipe IV, “O Belo” resolveu obter o controle dos templários para impedir a ascensão da ordem no poder da Igreja Católica. O rei era primo de Jacques de Molay, Grão-Mestre que ele acabaria mandando para a fogueira em 1.314, o delfim Carlos, era afilhado de Jacques. Mesmo sendo seu amigo, o rei de França tentou juntar a ordem dos Templários e a dos Hospitalários, pois sentiu que as duas formavam uma grande potência econômica e sabia que a Ordem dos Templários possuía várias propriedades e outros tipos de riqueza. Ambicionando a riqueza templária, o rei Filipe IV tentou se filiar à ordem sem obter o esperado sucesso. Com isso, decidiu instaurar uma abnegada perseguição religiosa acusando os integrantes dessa Ordem de praticarem rituais e difundirem crenças afastadas dos dogmas previstos pela Santa Sé. Pressionando o papa Clemente V, o rei da França conseguiu materializar um processo jurídico em que os templários seriam julgados pelos crimes que supostamente cometiam. (na porta do templo em Carangola MG)
O pergaminhos de Chinon
          O chamado Pergaminho de Chinon é um documento histórico, originalmente publicado no século XVII, na obra "A Vida dos Papas de Avignon". Este documento obteve destaque em nossos dias, graças à descoberta pela Dr.ª Barbara Frale. Sabe-se agora que o Papa Clemente V absolvera secretamente o último Grão-mestre, Jacques de Molay, e os demais líderes dos Templários, em 1308, das acusações feitas pela Santa Inquisição. A tradução do texto original feita pelo Comendador Templário, Grã-Cruz, Coadjutor Magistral da OSMTH Magnum Magisterium, Padre Manuel Lopes Botelho, sacerdote da Diocese de Évora, em seu contexto contempla a absolvição dos julgados no ano de 1308, nos dias 17, 19 e 20 do mês de agosto: Frei Jacques de Molay – Grão-Mestre universal de toda a ordem militar do templo, os frades Raybaud de Caron, preceptor das terras ultramarinas; Hugo de Paraud, da França, Geoffroy de Gonneville, de Pictávia e Aqutânia, e Geoffroy de Charney da Normandia. (n foto, o Gran Prior Fernando Bacellar com o Cardeal do Rio de Janeiro Dom Orani, o Capelão da OSMTH Magnum Mafisterium Padre Geraldo e um membro da Ordem de Cristo)
O neotemplarismo
          Carta de Transmissão “Larmenius” - A "Carta de Transmissão" é um manuscrito latino codificado supostamente criado por Fr. Jean-Marc Larmenius em fevereiro de 1324, detalhando a transferência da liderança dos Cavaleiros Templários para Larmenius após a morte de Jacques de Molay. A ela também foi anexada uma lista de 22 grão-mestres sucessivos dos Cavaleiros Templários depois de Molay, terminando em 1804, o nome de Bernard-Raymond FabréPalaprat aparecendo em último lugar na lista, que revelou a existência da Carta em 1804. O documento está escrito em um suposto antigo Codex dos Cavaleiros Templários. (na foto, Dom Albino Neves com o Mestre Robert na Church Templi - Londres)
Ressurgimento da Ordem - Em 4 de novembro de 1804, Fabré Palaprat refundou a Ordem do Templo e revelou a existência da Carta Larmenius ou "Carta de Transmissão". Dentre os feitos do Fabré Palaprat, destaca-se a fundação de uma Igreja Joanita, moldada pelo evangélho de João. Tal fato o levou a prisão. A Regência da Ordem do Templo foi em um estágio seguinte passado para Joséphin Péladan, posteriormente se fundindo com outros grupos ocultistas liderados por Papus, finalmente sendo legalmente incorporado por um grupo belga conhecido como “Ordre Souverain et Militaire du Temple de Jérusalem, OSMTJ”. Atualmente reconhecida como “Ordo Supremus Militaris Templi Hierosolymitani” (OSMTH)
          “Association Belge des Chevaliers de I´Ordre Souverain et Militaire du Temple de Jerusalém – (OSMTH). Em 1933, em Lovaina, o Grande Priorado da Bélgica restaurou o Magistério da Ordem, entregando a regência nas mãos de Théodore Covias, e no ano seguinte (1934) Covias transmite os seus poderes para Émile-Isaac Clément Vanderberg, na qualidade de Regente e Guardião da Ordem.
Sucessão Portuguesa - Em novembro de 1942, durante a ocupação da Bélgica por parte dos alemães, Vanderberg (de origem judaica) considerou oportuno transferir os arquivos do Templo para a cidade do Porto, em Portugal, país neutro em relação a guerra, confiando ao Conde António Campelo Pinto de Sousa Fontes, então regente do Grão Priorado de Portugal, que tomando para si o mandato como Grão-Mestre de todos os Templários. Em 1947, António Campelo Pinto de Sousa Fontes, designou seu sucessor, Fernando Campelo Pinto Pereira de Sousa Fontes, seu filho. E com a morte do pai, Fernando tomou para si o título de Principe Regente. (reunião em Portugal e abaixo reunião na Itália)
          Nesse ambiente controverso, muitos dos Grãos Priorados Internacionais, se auto proclamaram independentes, gerando assim, diversas ramas neotemplárias. Em 2001, a Ordem foi credenciada pelo Conselho Econômico Social das Nações Unidas como uma Organização Não Governamental. Tal reconhecimento, colocou um fim nas pretensões de outras ramas neotemplárias de reivindicarem o título de OSMTJ ou OSMTH.
52º Grão Mestre Templário - Em cerimônia realizada no dia 18 de agosto de 2018, na capela de Fradelos, na cidade do Porto em Portugal, foi aberta a Carta Testamento da OSMTH Magnum Magisterium, onde o então falecido Grão-Mestre Don Fernando de Sousa Fontes, fundamentado no Artigo 11 do Estatuto nomeou como seu sucessor Dom Albino Neves (na foto acima) e outros seis membros da Ordem para formar o Alto escalão. O Grão-Mestre Don Fernando de Sousa Fontes deixou as seguintes nomeações:
• Grão-Mestre: Dom Albino Neves (Brasil)
• Princesa Regente: Maria Suzana Pinto de Fontes (Espanha/Portugal)
• Coadjutor Magistral Geral: Padre Manuel Lópes Botelho (Portugal)
• Legado Magistral Geral: Alexey Andreyev (Rússia)
• Conselheiro Magistral Geral: Nenad Davidovic (Sérvia)
• Inspetor Magistral Geral: Patrick Jouve (França)
• Maria da Glória: Mestre de Cerimônias Magistral Geral (Portugal)
          Em 21 de Agosto de 2022, na Cidade de Castelo de Vide em Portugal, o 52º Grão Mestre – Dom Albino Neves, por decreto magistral cria oito cargos de auxiliares do Grão-mestre denominados de “Audiutor Magnus Magister Scriptor”, escolhidos pela relevância de serviços prestados a OSMTH Magnum Magistérium. Os nomeados para o cargos de “Audiutor Magnus Magister Scriptor”, terão a prerrogativa aconselhar o Grão-Mestre de escolher o novo Grão-Mestre em até 60 dias da vacância do cargo. Nesse período de 60 dias de vacância, assumirá temporariamente o cargo de GrãoMestre o “Audiutor Magnus Magister Scriptor” mais velho. Nesse mesmo evento em Castelo de Vide, foram nomeados: Victor Manuel Chacopino – Grão Prior da Espanha; Nenad Davidovic – Grande Conselheiro General Magistral; Marco Pirillo - Grande Chanceler General Magistral (Itália); Fernando Alves Bacellar – Grão Prior do Brasil; Pe. Manuel Lopes Botelho – Coadjutor General Magistral; Franz Charles – Grão Prior da Bélgica.
          Nesse mesmo evento em Castelo de Vide, Franz Charles – Grão Prior da Bélgica, entregou ao Grão-Mestre Dom Albino Neves, a caneta que pertenceu Émile-Isaac Clément Vanderberg, ratificando assim, da sucessão Belga para a sucessão Portuguesa e por fim, reconhecendo o atual 52º Grão Mestre.
          Em sua visita à Itália em 2019, Dom Albino Neves nomeou como Grande Chanceler Geral Magistral o Cavaleiro Gran Cruz Marco Pirillo que tem conduzido de forma exemplar a tarefa a ele confiada, seja firmando acordos ou na fundação da “International Templar Academy Foundation”, reconhecida pelo Governo de Washington, EUA, tendo o Grão-Mestre sido nomeado como seu presidente honorário.
          Dom Albino Neves já assinou dezenas de acordos entre a OSMTH Magnum Magisterium e Ordem similares, inclusive com a Ordem de São Jorge, acordo que havia sido rompido há 707 anos. Também inaugurou em Portugal o Museu Templário e solicitou a digitalização de mais de 450 mil fichas de filiação da Ordem, presentes em 77 Países do mundo. (na foto acima, o complexo dos templários em Carangola MG visto de cima)
Conheça melhor o Gran Priorato Templário do Brasil visitando o site www.granprioratotemplario.com.br
Contato com a Ordem Templária no Brasil: granprior.brasil@gmail.com

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