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terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Charretes elétricas substituem charretes puxadas a cavalos em Minas

(Por Arnaldo Silva) As charretes puxadas a cavalos, tradicionais nas cidades históricas e estâncias hidrominerais mineiras, vem aos poucos sendo substituídas por charretes elétricas.
Primeira foto de Robson Gondin e segunda, Divulgação em Tiradentes MG
        Cidades como Poços de Caldas, Lambari, Caxambu, São Lourenço e mais recentemente, Tiradentes (nas fotos ilustrativas), vem se empenhando em substituir os veículos de tração animal por charretes elétricas.
        A iniciativa mineira segue uma tendência mundial, iniciada em Bruxelas, na Bélgica, que aboliu de vez os passeios feitos em carruagens para entretenimentos de turistas. A tendência se espalhou por cidades europeias, chegando ao Brasil. Petrópolis, no Rio de Janeiro, foi a primeira cidade brasileira a substituir as carruagens e charretes por carruagens elétricas, uma alternativa ecologicamente correta, já que esses veículos usam energia limpa.
        Além disso oferecem mais conforto e segurança aos turistas, reduz risco de acidentes relacionados com animais, preserva o patrimônio histórico, facilita a inclusão social, a sustentabilidade e ainda preservam o charme as características das charretes puxadas por animais, além de harmonizarem com a arquitetura local.
Por que abolir as charretes puxadas a cavalos?
        A decisão visa atender apelos de entidades de defesa dos direitos dos animais, de turistas e moradores locais, que viam na prática tradicional, um caminho ao contrário da sociedade atual, hoje voltada para proteger o bem-estar e saúde dos animais. Diante de novas opções de passeios e entretenimentos de turistas como as charretes elétricas, o uso de cavalos puxando charretes, apenas para divertimentos e passeios de turistas, foi vista como desnecessária e inaceitável para este século.
        Isso porque, segundo os ativistas da causa animal, o fim dos veículos de tração animal para fins turísticos, submetia os animais a condições climáticas adversas como chuva, sol e frio, além de longas jornadas de trabalho, falta de descanso e alimentação adequadas e ainda puxavam peso por ruas calçadas com pedras e paralelepípedos. O mau cheiro exalados devido o suor dos animais, as fezes deixadas pelas ruas, a urina e emissão de gases, são outros fatores apontados pelos ativistas que protestavam contra a manutenção dessa atividade.
        Esse conjunto de situações gerava um impacto negativo para as cidades que mantinham essa prática em nome da tradição, afirmam os que se opunham ao uso de charretes puxadas por animais.
Busca por soluções
        Com toda essa situação, representantes do Ministério Público, Prefeituras, Câmara de Vereadores e entidades representativas dos charreteiros, se reuniam em busca de um acordo em comum que visasse a preservação da atividade, bem como o bem-estar dos animais, mas também dos charreteiros, que tem nessa atividade, sua fonte de renda e sustento.
        Alternativas compensatórias, destino dos animais, capacitação dos que optaram por permanecer na atividade e facilidades na aquisição das charretes elétricas para os que optassem em continuar na atividade foram os temas abordados. O objetivo era chegar a uma acordo que atendesse a tendência mundial para o fim dessa atividade e garantir emprego dos charreteiros bem como a atividade turística.
        Assim surgindo acordos para substituição gradativa das charretes puxadas a cavalo para charretes elétricas.
Diferença entre charrete e carruagem  
        As cidades europeias tem como tradição o uso de carruagens, que são veículos com com quatro rodas, estrutura de madeira, ferro, cobertura, portas, janelas, bancos e adornos luxuosos, puxadas por dois ou 4 cavalos. São usadas até os dias de hoje pelas monarquias europeias. Já a charrete é um veículo de tração animal menor que as carruagens, bem mais simples, com estrutura em madeira e de duas rodas, puxadas geralmente por um cavalo, com cobertura e bancos. Charretes elétricas
        Em Minas Gerais, são as charretes que predominam nas cidades históricas e estâncias hidrominerais, que usam esse tipo de veículos para passeios turísticos.
        O projeto desses veículos teve como inspiração os automóveis elétricos desenvolvidos no final do século XIX, na Europa e Estados Unidos. Tem a frente que lembra os primeiros "fords" e a parte traseira lembrando as atuais charretes.
        As charretes elétricas são charmosas, silenciosas e livres de emissões de gases, o que garante um ambiente agradável e bastante saudável. A preferência por esse tipo de modelo é para manter o romantismo e charme tradicional das cidades históricas e estâncias hidrominerais, além de se parecerem muito com as charretes puxadas por animais. É uma mistura de tecnologia com o glamour das construções históricas dessas cidades.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

A cidade mineira que mantém forte conexão com os Estados Unidos

(Por Arnaldo Silva) Com população 258 mil, segundo Censo do IBGE em 2022, Governador Valadares está entre os 10 mais municípios populosos de Minas Gerais. Dotado de boa estrutura urbana, bom setor de serviços e economia diversificada, com comércio e indústrias de pequeno, médio e grande portes, atuando na cidade, o município localizado no Vale do Rio Doce, a Leste de Minas e distante 320 km da capital é um dos mais desenvolvidos de Minas Gerais.
Foto: Zano Moreira
Origem da cidade
        O povoamento no Leste de Minas teve início no século XIX através da exploração da agricultura e recursos minerais. Pequenos arraiais foram surgindo, crescendo e ampliado a partir de 1910, quando foi inaugurada a ferrovia Vitória Minas, com criação de estações ao longo de seu trecho.
        Uma dessas estações foi construída no vilarejo de Figueira do Rio Doce, povoado que deu origem a Governador Valadares. Elevado a distrito em 1937, Figueira do Rio Doce foi elevado à cidade emancipada em 30 de janeiro de 1938, passando a adotar, em 17 de dezembro desse mesmo ano, o nome de Governador Valadares em homenagem a Benedito Valadares Ribeiro, governador de Minas Gerais entre 15/12/1933 a 4/11/1945.
Atrativos urbanos e naturais
Fotos: Sérgio Mourão/@encantosdeminas
        Além de se destacar na mineração, a cidade é famosa em todo o mundo por possuir condições climáticas e geográficas ideais para a prática de voo livre, parapente e asa-delta. Por esse motivo, Governador Valadares é reconhecida mundialmente pela prática desses esportes, sendo considerada a capital mundial do voo livre. Do alto do Pico do Ibituruna, amantes do voo livre, asa-delta e parapente, saltam, sobrevoando a cidade e colorindo o céu valadarense. (fotos acima de Sérgio Mourão/@encantosdeminas)
 Foto acima: A Cardo - Por Zano Moreira
       Além disso, a cidade tem outros atrativos históricos, urbanos e naturais. Entre os destaques históricos, destaque para a Maria Fumaça e a Açucareira, indústria de açúcar e álcool da Companhia Açucareira Vale do Rio Doce (CARDO), empreendimento da Cia Belgo Mineira, produzindo açúcar e álcool para o mercado interno e exportação. A usina funcionou entre 1948 a 1978. 
Foto: Elpídio Justino de Andrade
        Além disso, tem o Rio Doce que banha acidade, o Pico do Ibituruna, a Ilha dos Amores, a Lagoa do Pérola, o Parque Natural Municipal, o GV Shopping, o Museu da Cidade, o Science Park, o Teatro Palavra Viva, o Teatro Atibaia, a Praça da Estação Ferroviária, o Centro Cultural Nelson Mandela, o Santuário Santa Rita de Cássia, a Cachoeira Véu da Noiva, a Cachoeira do Porto, o Parque Estadual Vale do Rio Doce, a Praça do Imigrante, além de bares, lanchonetes, sorveterias, cervejarias e restaurantes que oferecem ótimas opções aos moradores e visitantes, bem como uma rede hoteleira que atende a todos os gostos e bolsos.
A formação de Valadares
Fotos: Sérgio Mourão/@encantosdeminas
        Desde sua origem, no século passado, Governador Valadares teve como base em sua formação a migração. Com a mineração e presença da Estrada de Ferro Vitória Minas, a cidade recebeu um constante fluxo migratório, vindos de várias regiões mineiras e também de descendentes de italianos e alemães, boa parte vindos do vizinho estado do Espírito Santo, bem como os povos nativos, já que a região teve forte presença de povos indígenas até o início do século XIX. 
        A presença dos migrantes de origem europeia e mineira, além das tradições indígenas da região, contribuiu com a sua formação cultural, religiosa, folclórica, arquitetônica e histórica, sendo esses povos a base da identidade do município.
A origem da conexão de Valadares com os Estados Unidos
Boston/USA - Fotos: Norma Suely Bittencourt
        Governador Valadares tem uma forte conexão com os Estados Unidos e não é recente. Essa conexão começou durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Nessa época, Governador Valadares começou a receber um grande fluxo imigratório de americanos para a cidade. O interesse dos Estados Unidos por Governador Valadares foi devido a descoberta de jazidas de mica, na região.
        Esse mineral, também chamado de malacacheta, é essencial para a indústria elétrica, eletrônica e de aviação, além da indústria de cosméticos, na construção civil, em eletrodos para solda, cerâmica, lubrificantes de poços de petróleo, capacitores, transistores, caldeiras de vapor e na produção de tintas. À época, o maior produtor de mica era a Índia, mas um forte bloqueio naval da Alemanha, durante a Segunda Guerra, interrompeu o comércio de mica. Por isso, os aliados tiveram que buscar o mineral em outra região.
        Com a descoberta de jazidas de mica em Valadares, a região mineira se tornou ponto estratégico para os interesses dos países aliados, principalmente dos Estados Unidos. Por esse motivo que os americanos se estabeleceram na região, dando início a exploração e beneficiamento da mica na região, além de abrirem estradas estradas utilizando veículos próprios para o transporte da carga, além de jipes, pouco conhecidos no país, à época.
Contribuição para a saúde e saneamento básico
Foto: Zano Moreira
        Além disso, a presença americana em Governador Valadares foi de grande importância para o crescimento e desenvolvimento da cidade, como exemplo, na área de saneamento básico com construção de redes de água e esgoto, praticamente inexistentes à época, além de darem apoio financeiro e tecnológico aos serviços de saúde pública, como o Serviço Especial de Saúde Pública, que apoiou as iniciativas americanas na área de saúde.
        Os americanos introduziram, na cidade, tecnologias de ponta dos Estados Unidos nas áreas de saúde e saneamento básico, na época. Como resultado concreto, a iniciativa americana contribuiu para a erradicação de doenças no Vale do Rio Doce, como a febre amarela e malária.
        A Companhia Vale do Rio Doce, à época uma empresa estatal, contou com suporte financeiro e apoio técnico dos Estados Unidos para a exploração e transporte do minério de ferr. Os americanos reformaram ainda a Estrada de Ferro Vitória Minas, visando o escoamento da produção de mica.
        A mica exportada a partir de Governador Valadares foi volumosa e intensa. As cifras são altas. Mais de 80% da mica usada na Segunda Guerra Mundial saiu de Minas Gerais.
Decadência e início da imigração
Foto: Elvira Nascimento
        Na década de 1960, a extração mineral de mica entrou em decadência. Os americanos começaram a deixar a região, deixando um legado cultural, econômico, tecnológico, cultural e histórico na cidade. Com o fim da exploração da mica e sem os investimentos americanos, a economia da cidade começou a entrar em declínio, com significativo aumento do desemprego.
        Pelo que conheciam e ouviam dos americanos falarem dos Estados Unidos, o interesse dos valadarenses em viver nesse país cresceu, devido a situação econômica da região, à época. A partir da década de 1960, começa de fato a imigração de valadarenses para os Estados Unidos. Foram em busca do tão falado “sonho americano”.            Uma parte foi para estudar e conhecer a cultura local, mas a maioria, foi em busca de uma vida melhor para suas famílias. Iam com o intuito de juntarem dinheiro, mandar para suas famílias, investirem em imóveis e negócios próprios para enfim, voltarem à sua terra. Não imigravam para ficar ou se naturalizar. A imigração era individual, geralmente um membro da família ia e mandava dinheiro para seus parentes que ficaram em Governador Valadares.
        O rápido crescimento financeiro e a facilidade de arrumar emprego na América à época, fez com que o número de valadarenses que imigravam para os Estados Unidos crescesse substancialmente nas décadas de 1970 e principalmente na década de 1980, quando a imigração aumentou muito, devido a grave crise econômica no Brasil naquela década. Nos 1980, Governador Valadares se tornou o maior fornecedor de mão de obra para os Estados Unidos.
        Não só isso, as notícias de uma vida melhor na América com ganhos muito superiores ao que recebiam no Brasil, incentivou mineiros das cidades vizinhas e de outras regiões mineiras a fazerem o mesmo.
        Na década de 1990, as restrições à imigração para os Estados Unidos começaram a ficar mais duras, fazendo com que brasileiros que desejassem buscar uma vida melhor no exterior, buscassem outros países como Portugal, Reino Unido, Austrália, Canadá, dentre outros para darem uma vida melhor aos seus familiares.
        No século XXI, percebe-se uma mudança no comportamento dos imigrantes. Antes um membro da família imigrava para juntar dinheiro, investir na sua cidade e voltar. Nesse novo século, vão para ficar e ainda, levam suas famílias, inclusive crianças, juntos. Com o tempo, se naturalizavam, recebiam dupla cidadania e ficavam de vez.
A cultura da imigração e o fenômeno "Valadólares"
New York, Milford e Bosto. Fotos: Norma Suely Bittencourt
        A influência americana em Governador Valadares não se limita ao período da guerra e nem ao grande número de valadarenses que imigraram para os Estados Unidos em busca do “Sonho Americano”. Essa ligação com origens na década de 1940, moldou a identidade cultural, econômica e histórica da cidade, formando uma forte conexão entre Governador Valadares e os Estados Unidos.
        Desde a origem da imigração, os dólares que os valadarense enviavam para seus parentes na cidade, movimentava a economia de Governador Valadares e contribuía para o seu desenvolvimento e crescimento. No auge da imigração, 1970 e 1980, o dólar era a moeda que mais se ouvia falar na cidade à época. Por esse motivo, até os dias de hoje, Valadares é chamada de “Valadólares”. Nos anos 1980 era difícil não se encontrar alguém que não tinha ao menos um parente vivendo nos Estados Unidos.
Homenagem aos imigrantes
        A cidade valoriza sua ligação com os Estados Unidos, bem como a contribuição dos imigrantes valadarenses para a cidade, homenageando-os com uma praça. A Praça dos Imigrantes é o símbolo da formação da identidade cultural e econômica de Governador Valadares.
        Os valadarenses se orgulham da história que seus conterrâneos e parentes construíram nos Estados Unidos e na cidade, ao longo de décadas. Por isso mesmo, a cidade mantém uma forte conexão com esse país, através da língua, da gastronomia e da cultura americana, formada durante décadas de imigração dos valadarenses para a América.      

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