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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Saiba porque o mineiro chama carne de mistura

(Por Arnaldo Silva) Esse termo surgiu na época que as tropas cortavam o sertão mineiro levando e trazendo mercadorias, no século XVIII. Nas paradas para pouso e alimentação, preparavam as refeições sem carne, por ser muito difícil de se obter nas viagens, além de ser difícil de levar, devido as dificuldades de armazená-la na época.
          Hoje, com a migração do povo do homem do campo para as cidades, as expressões antigas acabaram sendo esquecidas ou pouco faladas e até mudada em seu sentido original. Ou seja, mistura no século XVIII era o acréscimo de carne, hoje no século XXI, é tudo que é misturado ao popular arroz com feijão. Apenas em algumas regiões mineiras, mistura é carne.
          Na Região Central Mineira, Oeste, Centro-Oeste, Triângulo Mineiro e Sul de Minas, a influência tropeira, nos modos, costumes, hábitos e linguajar ainda é muito forte, principalmente na formação dos sotaques regionais. Nessas regiões, principalmente povoados rurais, mistura é usada no lugar de carne, bem como outras dezenas de palavras do linguajar tropeiro, hoje incorporados ao dialeto mineiro.
          O paulista do interior pronuncia também mistura ao invés de carne, devido a origem tropeira e bandeirante desse Estado, responsável pela expansão, através das tropas e bandeiras, dos costumes, tradições, modos e hábitos tropeiros em Minas.
          A comida era a base de feijão, farinha, hortaliças nativas, toucinho, além de ovos, que era mais fácil de encontrar. Esse prato passou a ser conhecido no século XVIII, em Congonhas do Norte MG, por “feijão-ferrado”. (na foto acima do Judson Nani, um prato com mistura (frango) e abaixo do Edson Borges, o feijão-ferrado com toucinho, sem mistura)
          Quando tinha carne, era toucinho carnudo ou charque fritado no toucinho e por fim, misturado ao feijão, farinha, ovos, hortaliças, com o torresmo. Assim, quando a carne era misturada ao feijão-ferrado ou em qualquer outro prato, era chamada de mistura.
          Com o tempo, o feijão ferrado, com a mistura, passou a ser o prato mais consumido pelos tropeiros em Minas, que passou a ser chamado de feijão-tropeiro.
          Para os tropeiros, ovos não era considerado mistura e nem verdura, somente carne. É assim hoje. Comida de mineiro tem que ter mistura. (na foto acima do Judson Nani, um prato sem mistura)
          Até hoje, nas casas mineiras, sempre se pergunta qual será a mistura do almoço ou jantar. Ou seja, que tipo de carne será misturada à comida. Ou mesmo, se for visitar uma família mineira para almoçar, irão te perguntar se gosta de mistura ou qual mistura prefere. Se não gostar de mistura, terá a opção de ovos, verduras e hortaliças, que embora possa parecer, não é mistura. Ao menos para o mineiro. (na foto acima do Edson Borges, um prato com mistura)
          Mistura para mineiro é carne de porco, boi ou de galinha no prato do almoço ou jantar.

Um comentário:

  1. Conheço uma vasta extensão do território mineiro onde carne NÃO é chamada de mistura. Acredito que este termo seja usado mais no nordeste e que foi levado para Minas por retirantes que ficaram pelo meio do caminho, notadamente no norte de Minas Gerais.

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