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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Eriomar de Souza: o artista que transforma pneu em arte

(Por Arnaldo Silva) Eriomar de Jesus Souza, é artesão, natural de Nanuque, município de 35 mil habitantes na região do Vale do Mucuri, distante 605 km de Belo Horizonte.
          Nascido em 5/06/1975, Eriomar de Souza é casado, pai de 2 filhos e trabalha como balconista na Auto Peças Cometa, há 30 anos.
          Há 7 anos, Eriomar de Souza decidiu exercitar seu dom artístico, fazendo peças artesanais, usando pneus velhos doados por amigos. E proprietários de borracharias.
          Com seu talento e sensibilidade, transforma um pneu que seria jogado na natureza, em comedouros de pássaros, vasos para plantas, protetor de árvores e brinquedos para crianças como cavalinhos, carrinhos, motos, tratores, triciclos.
          Sua arte é voluntária e a manutenção dos brinquedos, como pinturas e reparos, são feitos graças a patrocinadores locais. Com isso, Eriomar de Souza contribui para melhorar a vida de sua cidade, principalmente para crianças que tem brinquedos para brincarem. É o próprio artista, com a ajuda de amigos que instala suas peças em praças e locais de acesso público em sua cidade.
          Eriomar de Souza troca suas peças por cestas básicas que doa às famílias carentes. Quando alguém quer comprar ou encomendar seus trabalhos, eles as vende em valores que variam de 50 a 800 reais.
          Depois de prontas, as peças são pintadas com tintas de esmalte sintético, além de usar outros materiais em sua produção como estiles, facas, máquina tico-tico, lixadeiras, pincéis, água rasa e compressor.
          O contato do artista pode ser pelo
WhatsApp: 33 99142-9380 ou pelo Instagram: @souzaeriomar

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Cidade mais rica do Brasil é mineira

(Por Arnaldo Silva) O maior Produtor Interno Bruto (PIB) que é a soma das riquezas total de uma cidade, estado e país foi divulgado no dia 15 de dezembro de 2023, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), feito em 2021, aponta a cidade de Catas Altas, a 120 km de Belo Horizonte, na Região Central, como o município de maior PIB do país, ou seja, a cidade mais rica do Brasil.
 
          Fundada em 1703, é uma das mais belas, acolhedoras e atrativas cidades históricas de Minas Gerais. Além do Santuário do Caraça, suas paisagens naturais, com enormes e impactantes paredões, Catas Altas se destaca em Minas pela sua rica culinária e pela produção de vinhos de uva e principalmente de jabuticaba, desde meados do século XIX. (fotografia acima de Elvira Nascimento)
          A cidade é tão charmosa, que já serviu de cenário para produções da televisão como “Se eu fechasse os olhos agora”, minissérie da Rede Globo, filmada na cidade histórica.
          Com apenas 5.500 habitantes, com média de 22,80 habitantes por km², a base da economia de Catas Altas é a extração de minério e o turismo, nessa ordem. Segundo o IBGE, O PIB acumulado de Catas Altas por pessoa, é de R$920.833,97. Catas Altas tem se destaca no Estado como o maior município extrativista de Minas Gerais.
          Não só isso, além de destaque em Minas Gerais, Catas Altas, segundo o IBGE, ocupa a 1° colocação no ranking dentre as cidades de maiores PIB´s per capita do Brasil, somando R$5.032.358.00.
          A segunda cidade mais rica de Minas Gerais, é São Gonçalo do Rio Abaixo, com 12 mil habitantes, que tem o PIB de R$7.603,851,00, com o PIB anual, per capita de R$684.168,71. (fotografia acima de Shakal Carlos)
          Esse valor todo, não significa que é dividido entre seus moradores, mas serve como base de cálculo. O PIB mensal e anual são divididos pelo número de habitantes de cada cidade. Ou seja, quanto maior o PIB e menor o número de habitantes, maior seria o percentual “teoricamente” para cada habitante.
          As riquezas produzidas na cidade são administradas pelo Poder Público, que usa essas riquezas nas melhores das condições de vida dos moradores em investimentos em saneamento básico, saúde, educação, moradia, esportes, lazer, etc.
Veja a lista dos 5 maiores PIB´s de Minas Gerais
1º) Catas Altas: R$ 920.833,97 - PIB: R$ 5.032.358.000 - Base da economia: Extração mineral
2º) São Gonçalo do Rio Abaixo: R$ 684.168,71 - PIB: R$ 7.603.851.000 - Base da economia: Extração mineira
3º) Itatiaiuçu: R$ 610.779,65 - PIB: R$ 6.934.792.000 - Base da Economia: Extração mineral
4º) Conceição do Mato Dentro: R$ 519.040,92 - PIB: R$ 9.051.036.000 - Base da economia: Extração mineral
5º) Jeceaba: R$ 407.353,20 - PIB: R$ 1.953.259.000 - Base da economia: Indústria da transformação

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Culinária mineira é eleita a melhor do Brasil

(Por Arnaldo Silva) Com sede em Zagreb, na Croácia, a plataforma gastronômica TasteAtlas, um dos maiores guias de viagens e gastronomia do mundo, divulgou recentemente o ranking das melhores culinárias do Brasil e do mundo. No ranking brasileiro, a cozinha mineira ficou em primeiro lugar e a cozinha baiana em segundo.
          Entre as 100 melhores cozinhas regionais do mundo, a culinária mineira ficou em 30° lugar com pontuação de 4,36 e a culinária baiana, em 43° lugar, com pontuação de 4,18. No ranking mundial, apenas a culinária mineira e baiana entram par a das 100 melhores do mundo, eleitas pela plataforma. (na foto acima, pratos do Restaurante Jeitinho Mineiro/@restaurantejeitinhomineirosrj, em Santa Rita de Jacutinga MG)
          A pontuação mínima é 0,5 e a máxima, 5. Na apuração das notas, são feitas as médias que determinam a posição de cada prato e culinária regional, de acordo com os critérios definidos pelo site, como ingredientes, modos de preparo, dentre outras categorias.
          A votação é promovida pela plataforma entre seus milhares de seguidores em todo o mundo, em sua maioria ligados a área gastronômica. As cozinhas regionais que figuram no ranking do site, passam a ser considerados ótimos destinos de viagens e turismo para 2024. (na imagem acima, feita pelo site TasteAtlas/Divulgação, o ranking completo das 100 melhores cozinhas do mundo)
Pratos mineiros e baianos em destaque
         O feijão-tropeiro, tutu de feijão, vaca atolada, biscoito de polvilho e o pão de queijo, além do queijo Canastra, catupiry e pratos feitos com jabuticaba, foram os destaques da cozinha mineira, na avaliação do TasteAtlas.
          Em segundo lugar no ranking nacional e em 43° lugar no ranking mundial, a culinária baiana teve como destaque, na avaliação da TasteAltas, o vatapá, moqueca baiana, bobó de camarão, acarajé, quindim e pimenta malagueta.
Cozinha italiana nas primeiras colocações
          A culinária regional da Itália marcou presença nas primeiras colocações no ranking mundial. Entre os pratos apontados como de destaque na culinária italiana, destacaram-se o macarrão à carbonara, lasanha à bolonhesa e a pizza margherita. 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Quando os avós se vão, as portas da casa se fecham.

(Por Arnaldo Silva) Quando vivos, a casa de nossos avós é cheia de crianças, de quitandas, de filhos, tios, pais, irmãos, irmãs, primos, netos, afilhados… De comadres e compadres, de vizinhos, de alegria, de vida e união.
          Natal, ano novo, dia das mães e dia dos pais, aniversário da avó, do avó, das bodas e dos dias de fazeção de quitandas e pamonha, tudo era motivo para encontro de toda família, mesmo com alguns morando distantes. A mesa era grande e farta. Cabia todo mundo! (foto acima de Luís Leite em Sacramento MG)
          Fogão a lenha, com a fumaça saindo da chaminé, era sinal de comida gostosa sendo feita. Muita gente da comunidade no fim de semana, sinal que era dia da reza do terço, de moda de viola e cantoria.
          Visitar a casa dos avós é só alegria, mas quando eles se vão, a alegria dá lugar a tristeza. Os móveis são retirados, vendidos ou doados. As plantas levadas ou deixadas sem cuidados. O pomar vai envelhecendo e morrendo. As flores murcham. Os pássaros que cantavam livres, se vão também. As portas se fecham e deixam lá o passado.
          A casa é abandonada, entregue aos cuidados do tempo e com o tempo, esquecida. A outrora alegria e união do passado, ficou por entre as paredes em ruínas, por trás da tristeza de ver o abandono.
          Não tem mais avós, não tem mais reunião de família, nem passeios na roça, leite no curral, fogão com a lenha trepidando no fogo, queijo e linguiça maturando na tábua sobre o fogão a lenha, prosas a beira do fogão, moda de viola. Não tem mais biscoitos, mais bolos, mais carne na lata, mais doces, mais causos, mais alegrias, mais vida.
          Os avós se vão e levam consigo doces momentos de uma família unida em torno deles, na casa dos avós.
          Fechada a porta, fecha-se um passado, uma vida inteira. Fecha-se histórias e momentos que não mais se repetirão. Ao fechar a porta, fecha-se junto doces momentos que não mais retornarão.
          Não tem mais a casa dos avós para passarmos as férias, os feriados, aniversários, o natal e o ano novo. Hoje, almoçar aos domingos fora, é em restaurante. Não tem mais o encontro de primos, irmãos, comadres, compadres, tios e vizinhos na casa dos avós. Não tem mais fogão a lenha aceso. Nem “bença vó, bença vô”. Não ouviremos mais “Deus te abençoe meu filho”.
          Ao andar pelas estradas, comunidades, cidades, as casas dos avós estão abandonadas e ignoradas pelos filhos, os herdeiros. Nela, não querem morar. Nem reformar. Construção antiga, base, assoalho, móveis, em madeira, muito caro. Preferem deixar lá, aos cuidados do tempo, e com o tempo, derrubam e fazem outra casa, um prédio, ou mesmo, derrubam para dar mais pasto para o gado.
          Poucos reformam, preservam o mobiliário, as fotos e tentam manter os laços, a tradição e as lembranças na casa dos avós, e assim, criam novas emoções, lembranças e histórias, mantendo a vida na casa e as emoções em seus corações. (foto acima de Elvira Nascimento em Marliéria MG)
          Infelizmente, é o que aconteceu com minha família. Meus avós se foram, os filhos que antes se reuniam em torno dos pais, não se interessaram pelo casarão. Jogaram fora os “móveis velhos” e deixaram o tempo levar tudo.
          Ficaram em minha mente e coração, os doces momentos da casa de meus avós, que vivi e estão até hoje em meu coração. No lugar onde estava a casa, o curral, o pomar e o jardim, tem pasto para gado. Não tem mais vida, não tem mais casa, não tem mais avós.
          Fecharam as portas da casa, não abriram mais e tudo se foi. Ficam as lembranças daquele tempo, que não mais hão de voltar.

sábado, 16 de dezembro de 2023

A influência tropeira no vocabulário mineiro

(Por Arnaldo Silva) As tropas que cruzaram o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil entre os séculos XVII até o início do século XX foram as responsáveis pelo surgimento de povoados, cidades e mais que isso, transportavam as riquezas de um país recém-colonizado, principalmente de Minas Gerais, durante os áureos anos do Ciclo do Ouro. 
           Além disso, foram os tropeiros que garantiram o abastecimento das regiões de mineração, trazendo alimentos, mercadorias e utensílios diversos para os povoados e cidades mineradoras. (acima, imagem obtida através da IA, usando como base desenho de tropeiro do século XIX, por Felipe Oliveira/@paulistaniacaipira)
          Eram meses embrenhando nas matas densas, usando as picadas indígenas e abrindo outros caminhos no braço e na potência da força dos carros de bois.
Como se vestiam
          São retratados nos desenhos e pinturas da época montados em imponentes cavalos e vestes elegantes, mas viviam uma realidade bem diferente. Andavam dias e até meses pelas matas, enfrentando intempéries diversas. A maioria andava descalça, tinham barbas e cabelos longos e suas roupas eram velhas e surradas.
          Os donos e os principais líderes das tropas montavam em seus burros sobre um pelego, uma manta feita com couro de carneiro, que servia para amaciar o assento. Vestiam calça larga e camisa de manga comprida, de pareio, que no linguajar tropeiro eram roupas combinando. (na arte acima e abaixo, feitas pelo Felipe Oliveira da Paulistânia Tradicional/@paulistaniatradicional, uma mostra real de como eram as vestimentas de homens e mulheres tropeiras no século XIX).
          Além disso, usavam uma russilhona, que eram botas de couro cru, cm cano longo, chapéu de com bordas reguláveis e barbelas, poncho de couro, uma muladeira ou guaiaca, que é um cinto largo, de couro cru, com bolsas para guardar dinheiro, revolver, facão e outras coisas.
Burros, mulas, jumentos e bestas
          Não tropeavam montados em cavalos e sim, em burros, animais mais fáceis de montar, mais dóceis e mais resistentes às intempéries. As cargas eram transportadas nos lombos de mulas, asnos, jumentos e bestas, animais de baixa estatura, dóceis e bem resistentes. Quando em caso de cargas pesadas, como metais preciosos, usavam carros de bois. (acima, imagem obtida através da IA, usando como base desenho de tropeiro do século XIX, por Felipe Oliveira/@paulistaniacaipira)
          Além disso, eram os tropeiros que traziam e levavam as principais notícias do pais, além de difundirem tradições e sua própria cultura, costumes, modos e palavreados por onde passavam. Muitas dessas expressões e palavras são comuns hoje em dia e até mesmo, tidas como integrantes dos dialetos e sotaques regionais.
Exemplos de palavras e expressões tropeiras
          Com certeza já viu alguém ser chamado de adjetivos como burro, besta, asno, jumento ou mula. Chamar alguém de burro é o mesmo que dizer que a pessoa tem pouca inteligência e de besta, é quando a pessoa é boba ou tola. De jumento e asno é quando a pessoa é bruta e mal-educada. De mula, quando a pessoa é bastante teimosa e não sai do lugar. (acima, imagem obtida através da IA, usando como base desenho de tropeiro do século XIX, por Felipe Oliveira/@paulistaniacaipira)
          Associar o comportamento dos animais ao de algumas pessoas, chamando-as de burra, jumento, asno, mula ou besta, tem origem nos tropeiros.
          O animal burro é tido como de inteligência inferior à do cavalo, o animal besta tem um comportamento bem ingênuo, o jumento e o asno ficam agressivos sem mais nem menos, pulam e dão coices aleatoriamente. A mula, é por si mesma, teimosa e quando está bem cansada e com excesso de peso, empaca e ninguém tira ela do lugar. Por isso a associação às pessoas que demonstravam no comportamento essas características, no entender dos tropeiros.
          Na pequenas propriedades do interior, cavalos, bois e vacas tem nome e são chamadas pelos nomes pelos seus tutores. E ainda, entendem quando são chamadas e obedecem. Esse costume comum hoje era hábito dos tropeiros que davam nome a seus animais e os chamavam pelo nome.
          Temos ainda provérbios tropeiros associados a estes animais presentes no linguajar mineiro até os dias de hoje, principalmente no interior, como exemplos: “quando um burro fala, o outro abaixa a orelha”; “larga de cê besta sô”; “deu com os burros n´água”; “desembestou de vez”; “besta-quadrada” (quando a besta ficava bastante agressiva, seria uma besta, matematicamente elevada ao quadrado); “larga de cê burro sô”, ficou emburrado”; cê é teimoso como uma mula”;
          E quando o tropeiro queria apressar a mula, dizia: “se manda, (o nome da mula), que a ferradura guenta, uai!”. E quando a colocação da ferradura era bem-feita, falavam: “mula bem ferrada, vale por duas, uai”!, referindo-se ao bom serviço na colocação da ferradura que não soltava no trajeto, evitando assim o atraso nas tropas; “ ficou emburrado” (parado, sem ação).
          Tem mais, muitos mais. “Picar a mula”, “discutir com teimoso é perda de tempo”; “pelo jeito de andar da besta, se conhece o montador”; “tô com o burro na sombra”, etc.
          Não é só isso, tem mais, muito mais mesmo. Não apenas em provérbios ou expressões, mas também palavras usadas pelos tropeiros, estão hoje presentes no nosso vocabulário, faladas sem saber sua origem e até significado.
          Como exemplo, ao descer de um animal, o mineiro fala “vou apear”. “Bago” são os testículos dos animais. Para chamar a boiada, usavam o berrante, feito com o chifre do boi, prática tropeira. Quando um animal tinha feridas no corpo, era bicheira. Nos cascos, era broca.
          Um embornal era sacola usada para levar caldeirão de comida e cabaças com água e café. Uma bruaca era uma sacola grande de couro que usavam para transportar utensílios de uma comitiva.
          Por falar em comitiva, é também uma palavra de origem tropeira, que é um grupo formado por peões de boiadeiros, capataz, chaveiros, culatreiro, ponteiro, meeiros e cozinheiro. Além de condutores de boiadas, os peões de boiadeiros eram amansadores de burros.
Herança tropeira
          A herança dos costumes e modos dos tropeiros deixadas ao longo de mais de 300 anos, são extensas e não dá para enumerar todas, mas com certeza, fazem parte do dia a dia dos estados brasileiros onde tiveram a presença de tropas, nos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e início do século XX.
          A presença da cultura caipira bandeirante e principalmente tropeira, influenciou nos costumes, modos, tradições, religiosidade e identidade mineira, devido a presença maciça e constante de tropeiros e bandeirantes, vindos de norte a sul, de leste a oeste do Brasil, durante o Ciclo do Ouro.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Mercearia Paraopeba: a mais antiga do Brasil

(Por Arnaldo Silva) As vendas, mercearias e armazéns antigos, tinham como hábitos, anotar e em seus cadernos, os fiados feitos aos fregueses. Guardavam com carinho esses cadernos, que são hoje, relíquias históricas. Em um desses cadernos, registros nos levam ao ano de 1884 e estão bem conservados, mesmo após tantos anos. Esse caderno está na Mercearia Paraopeba.
          Típica venda mineira, onde você encontra de tudo e mais um pouco. Se não encontrar, é porque ainda não vou inventado.

          É uma das mais antigas e famosas vendas do Brasil. Já foi tema de reportagens de jornais como O Tempo, O Estado de Minas, O Estado de São Paulo, dentre outros tantos jornais impressos de Minas Gerais e do Brasil. O Armazém Paraopeba foi tema ainda de reportagens do Jornal Nacional e Globo Rural, da Rede Globo, além de reportagens feitas pela Rádio CBN, Jornal da Alterosa (SBT), Jornal Minas (Rede Minas), além de uma emissora de TV da Austrália, com reportagem exibida para mais de 30 países.
         A tradicional Mercearia fica num antigo casarão, desde o século XIX, do mesmo jeito, passando de pai para filho, bem como a freguesia, que são fiéis há gerações. É uma típica venda mineira, com duas portas na entrada, abarrotadas de produtos pendurados e colocados onde tiver lugar, até mesmo no chão. 
          Por dentro do armazém é assim também, tudo abarrotado de coisas penduradas, colocadas em prateleiras ou mesmo no chão, sem qualquer ordem. Mas com certeza, o dono encontra tudo, rapidinho. O dono é Roney de Almeida, mais conhecido como Roninho, que herdou o armazém do pai, que herdou do seu avô.
          A herança não foi apenas material, mas no carisma, simpatia, simplicidade e amor ao ofício, herdado de gerações. Os fregueses sabem que ao entrar na venda, não estarão comprando apenas alguns itens para sua casa, mas voltando no passado, revivendo emoções de seus pais e avós. Se perdem em meio a tantas emoções, que leva todos a uma poética viagem no tempo da mais pura mineiridade.
          No Armazém Paraopeba você encontra de tudo mesmo, desde sabão feito de torresmo e cinzas, panelas, brinquedos, doces, queijos, banha de porco na garrafa, ferramentas, alho, batata, esmaltados, ovos e por aí vai. A lista é enorme.
          Além da caderneta, outra tradição antiga preservada até os dias de hoje na Mercearia Paraopeba é a prática do escambo. Na época de origem da venda, o dinheiro era uma moeda de pouca circulação, restrita a poucas pessoas. A forma das pessoas comprarem o que necessitavam, era fazer trocas por produtos de valor similar, por exemplo, queijo por doce, carne por querosene, queijo por sal, requeijão por açúcar, etc.
          E em pleno século XXI, essa prática resiste e é uma das bases do Armazém Paraopeba, desde sua origem. A maioria dos alimentos vendidos no Armazém vem de pequenos produtores, que levam outros produtos como pagamento, à sua escolha e de valor similar.
          É tão pitoresco e gostoso o lugar, que ao entrar dentro, não dá vontade de sair mais. Ficar na venda, ouvindo as histórias dos fregueses, que entram e que saem, proseando e ouvindo as prosas, vendo as pessoas comprarem café moído na hora e cerais no quilo, embrulhado em papel e levarem para casa miudezas. Isso nos dá um sentimento de nostalgia, de estarmos voltando no tempo. (todas as fotos acima foram fornecida pelo João da Mercearia Paraopeba)
Onde fica?
          O Armazém Paraopeba fica no Centro Histórico de Itabirito, cidade distante apenas 57 km de Belo Horizonte e 50 km de Ouro Preto, pela Rodovia dos Inconfidentes. Está bem em frente à Igreja de São Sebastião. Itabirito surgiu no início do século XVIII. O povoado que deu origem a Itabirito hoje foi elevado a distrito em 1752, subordinado a Ouro Preto MG. Em 1923 passou a se chamar apenas Itabirito e elevada a cidade em 10 de setembro de 1925. A cidade conta atualmente com 54 mil habitantes. (na foto acima do Thelmo Lins, detalhe do Centro Histórico de Itabirito MG)
           Dentre suas relíquias históricas, se destaca a Mercearia Paraopeba, um dos lugares mais visitados por turistas que vem à Itabirito.O contato pode ser feito pelo fone; 31 99864-5021.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Costumes e cultura dos geraizeiros do sertão do Norte de Minas

(Por Arnaldo Silva) Geraizeiro é como é chamado o povo do Norte de Minas, parte do Noroeste e extremo do Vale do Jequitinhonha, na divisa com a Bahia. 
          O povo geraizeiro foi formado às margens do Rio São Francisco, com influência da cultura caipira e nordestina, em seus modos, costumes, vestimentas, cultura, religiosidade e linguajar. Foi essa região e o estilo de vida do geraizeiro que inspirou Guimarães Rosa a escrever o clássico “Grande sertão: veredas” (fotografia acima arquivo Prefeitura de Chapada Gaúcha MG/Divulgação, instrumentos musicais usados pelos geraizeiros)
A presença bandeirante no Norte de Minas
          O povo geraizeiro é mais antigo que os mineiros das outras regiões do Estado, por ter sido essa regia a primeira em Minas a ter incursões e povoação de bandeirantes, vindos da Bahia. A presença bandeirante, vindos diretamente de São Paulo, ocorreu a partir de 1673, no século XVII, com Fernão Dias Paes Leme e ampliada a partir do século XVIII, com o aumento da exploração mineral e busca de novas minas de ouro e diamantes em Minas. 
          Isso gerou um grande aumento da incursão de aventureiros, tropeiros e bandeirantes paulistas vindos de São Paulo pelo Sul de Minas, com o objetivo de exploração do ouro e pelo Norte de Minas, de bandeirantes paulistas vindos da Bahia. Os bandeirantes que vieram da Bahia, se dedicavam mais a agropecuária, atuando na formação de pastagens, criação de gado e produção de alimentos e carne de sol para abastecer a capital, na época, Salvador..
          Essas duas frentes bandeirantes se expandiram pelo Estado, se encontrando na parte baixa do Vale São Francisco, originando assim o povo geraizeiro.
Matias Cardoso, o primeiro bandeirante
          O primeiro bandeirante a fundar uma povoação em Minas, foi Matias Cardoso. Chegou a Minas subindo o Rio São Francisco, a partir da Bahia. Fundou várias fazendas de criação de gado que trazia da Bahia e produção de alimentos. Muitas dessas fazendas às margens do Rio São Francisco, deram origem posteriormente a povoados, distritos, como Brejo do Amparo e até cidades, como Januária e São Romão, formadas às margens do Rio São Francisco. Em uma de suas paradas, fixou-se as margens do Rio São Francisco e fundou, por volta de 1660, a primeira povoação mineira, que é hoje a cidade de Matias Cardoso MG, no extremo Norte de Minas, na divisa com a Bahia.
A formação do povo geraizeiro
          A primeira influência na formação do geraizeiro foi bandeirante paulista, dos povos indígenas que habitavam a região, da cultura nordestina e posteriormente, dos geralistas da região Central, Sul de Minas e do Triângulo Mineiro, regiões de forte influência e tradição caipira. Em termos genéticos, o geraizeiro é um povo mestiço, com traços físicos e costumes próprios, que os diferenciam dos mineiros de outras regiões do Estado. (foto acima de autoria de Lester Scalon - enviada pelo Guia Elson Barbosa de Chapada Gaúcha MG)
Geralista e geraizeiro
          Geralista era como os habitantes da Capitania das Minas Gerais. eram chamados, antes de de ser oficializado o gentílico “mineiro”, devido a imensa maioria dos habitantes das Gerais trabalharem na mineração. Gerais passou a ser ainda a designação do bioma Cerrado norte mineiro por ser uma região de transição entre o bioma Cerrado com a Caatinga, no oeste baiano. Quem vivia nessa região, de vegetação e paisagens gerais, era chamado de geraizeiro. (na foto acima da Prefeitura Municipal de Chapada Gaúcha MG, comunidade de geraizeiros)
          Os geraizeiros são conhecidos também por “agricultores do planalto” e “guardiões do Cerrado”. As comunidade de geraizeiros tradicionais, existentes há gerações, são reconhecidas como sendo “povos de origem”, como os quilombolas, ribeirinhos, etc, embora hoje o termo “geraizeiro” se refira a todos os habitantes do Norte de Minas. Conhecem o Cerrado e suas variações, como a palma da mão.
O geraizeiro de origem
          O geraizeiro tradicional é essencialmente caipira em sua genealogia, costumes, estilo de vida, modo de vestir, na musicalidade, na religiosidade em sua culinária que tem como base pratos feitos a base dos frutos do Cerrado, como o pequi, araticum e buritis, na foto acima do Manoel Freitas.
          É um povo resistente, que se adaptou e se formou no Cerrado e Caatinga, ao longo de mais de 300 anos e aprendeu a viver em harmonia com esses biomas e com comunidade.
          Criaram seu estilo próprio de vida e culinária. Comem do que plantam. Cultivam lavouras de milho, feijão, mandioca, frutas e verduras para subsistência própria. O que sobra é comercializado em feiras e comunidades vizinhas, ao natural ou beneficiados.
          Tradicionalmente, são avessos a cercas, a monocultura e a propriedade privada. Vivem em comunidades, sem muros ou cercas em suas casas.
Vaqueiros e o canto do aboio
          Exercem atividades em comunidades com trabalhos idênticos ao sertanejo nordestino. Lidam com o gado, cortam e preparam carne de sol. São vaqueiros tradicionais. Para se protegerem da vegetação, animais peçonhentos e o sol forte da região, usam gibão de couro, chapéu e perneiras, como seus antepassados. (na foto acima do Tom Alves/@tomalves.fotografia, um típico vaqueiro em ação)
           Conduzem o gado no aboio, que é um canto grave tradicional nordestino, entoado, sem palavras. Esse canto surgiu pela necessidade de acalmar o gado e controlá-lo, já que o gado é criado solto pelos geraizeiros. O som cadenciado, prolongado e macio do aboio ecoa ao longe e o gado obedece. No aboio, a dura lida no trato com o gado, se torna poesia. É uma cultura que emociona.
          O geraizeiro conta suas histórias no ritmo do aboio, cantado, cadenciado, macio, mas nesse caso, usando palavras ao contar suas histórias e dos seus companheiros. (foto acima da Prefeitura de Chapada Gaúcha MG_
          É um povo tradicional, de origem, vivendo a gerações na mesma terra que seus pais, avós, bisavós, trisavós e tetravós viveram, desde a época dos bandeirantes, conservando sua cultura, costumes, tradições, religiosidade, culinária, dialeto, enfim, os guardiões do Cerrado conservam a essência de suas origens.
          Como todo sertanejo, o geraizeiro é ante de tudo, um povo forte e resistente!

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