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sábado, 8 de janeiro de 2022

Esmaltados: origem, tradição e arte

(Por Arnaldo Silva) Canecas, bules, chaleiras, pratos e outros utensílios esmaltados, fizeram parte da vida da maioria do povo brasileiro. Substituídas pelos utensílios de vidro e cerâmica, os esmaltados estão voltando às nossas casas, para uso e até mesmo, decoração.
          São peças com acabamentos simples, mas carregada de beleza, charme e nostalgia, principalmente. Ter um utensílio esmaltado, hoje, é como ter um pedaço de nosso passado em casa. É uma gostosa lembrança, uma saudade da casa da avó, da vida no interior.
          Mesmo que seja uma simples canequinha branca, ela traz sempre lembranças em nossas vidas. É esse o encanto que os esmaltados proporcionam. É nostalgia pura.
Origem dos esmaltados
          Esmaltar utensílios é uma prática bem mais antiga que se pensa. Essa técnica surgiu no século 13 a.C, no antigo Egito. Era usada pelos egípcios na decoração de pedras, utensílios domésticos de cerâmicas, artesanatos e objetos de metal, principalmente joias. (acima, esmaltados da década de 1960 em antiquário em Bom Despacho MG)
          A partir do Egito, a técnica se expandiu para o mundo antigo e passou a ser usada também pelos persas, celtas, gregos, chineses, georgianos, romanos, bretões, etc. 
          Na antiguidade, o esmalte era usado na decoração e ornamentação, joias em metal, utensílios e artesanato em cerâmica e nos ornamentos religiosos.
          Uma técnica revolucionária, desde a antiguidade, presente na decoração dos mais belos templos religiosos e palácios e em detalhes arquitetônicos de cidades.
          Artesanatos e joias esmaltadas da antiguidade, são hoje valiosíssimas peças de museus em vários países do mundo, principalmente na Ásia e Oriente Médio.
O processo dos esmaltados
 
          O esmalte é obtido através da dissolução de vidro em pó com outros componentes minerais. As peças já prontas, em metal ou cerâmica, mergulhadas no esmalte. (escondidinho debaixo da cama, estava sempre o penico esmaltado. Peça que fotografei em fazenda do início século XX em Bom Despacho MG)
          Após secarem, as peças são levadas ao forno, onde são aquecidas entre 750°C a 850°C. Com o aquecimento, acontece a fusão do esmalte com o suporte (metal ou cerâmica) ocasionando a incorporação do esmalte às peças, garantindo assim sua fixação e segurança no uso.
A popularização dos esmaltados
          Até o século XVIII, esmaltado era restrito a camadas mais abastadas, já que seu uso era mais comum nas artes e na decoração de joias. Foi durante a Revolução Industrial (1760/1840), na Alemanha, que a antiga técnica egípcia começou a se popularizar. (acima, uma foto que fiz de uma máquina de fazer sorvetes no século passado, em uma antiquário em Bom Despacho MG)
          Com o surgimento da siderurgia, utensílios domésticos em ferro fundido como panelas e canecas, começaram a serem feitos em larga escala. Eram mais práticos e mais resistentes que os utensílios em cerâmica e pedras, que existiam.
          Porém, eram bastantes rústicos, enferrujavam com rapidez e modificavam o sabor dos alimentos, já que desprendiam os metais existentes no ferro durante o cozimento e obviamente, causavam problemas à saúde.
          A necessidade de melhorar a qualidade dos utensílios feitos em ferro fundido, fez com que se buscasse um revestimento que evitasse os problemas causados pelo ferro bruto fundido.
          Além disso buscavam melhorar a qualidade e aumentar a segurança dos utensílios em ferro fundido durante o cozimento e que não encarecesse muito as peças, para que fossem acessíveis à todas as camadas da sociedade.
          Foi aí que a antiga técnica de esmaltar peças dos egípcios começou a ser usada pelos alemães, sendo aperfeiçoada, surgindo assim uma tinta esmaltada que atendesse às indústrias de fundição na época.
          Esse tipo de esmalte garantia a qualidade e beleza das peças, além de torna-las mais resistentes, por exemplo, aos ácidos presentes nos alimentos e evitar a ferrugem e desprendimento de metais.
A popularização dos esmaltados
          Com o avanço da Revolução Industrial e popularização da tinta esmaltada, foram surgindo inovações ao longo do tempo como o uso do esmalte em fogões, utensílios para lojas, hospitais, móveis, sinalizações de ruas, brinquedos em metal, outros utensílios domésticos como penicos, bacias, lavatórios, etc. (na imagem acima que fiz em um antiquário em Bom Despacho MG, bicicletas do século passado)
          Com a industrialização e novas tecnologias, novos tipos de esmaltes foram surgindo, bem como a inovação de cores e produção industrial em larga escala. Antes tradicionalmente brancos, passaram a ter a coloração vermelha, preta, amarela, azul, verde, etc.
          São peças lindas e acima de tudo, refletem a cultura, estilo de vida e tradição de uma família, comunidade e até de uma cidade.
A arte nos esmaltados
          Esmaltar objeto de cerâmica como vasos e jarras, joias e metais, na antiguidade, tinha fins artísticos. Os objetos esmaltados recebiam por fim, acabamentos em pinturas diversas, de acordo com as tradições e estilo de vida dos povos e de quem os encomendava. (a imagem acima de autoria de Sila Moura, mostra um bule e canecas esmaltadas)
          As peças esmaltadas, encontradas no antigo Egito, na Pérsia, Grécia, Roma, China e outros países, mostram claramente isso. São desenhos que retratam a arquitetura, personagens, instrumentos camponeses, animais, batalhas, etc.
          A beleza da arte antiga nos esmaltados, impressiona, principalmente no acabamento final das joias.
Diferencial
          Os esmaltados coloridos e artísticos se destacam, tem personalidade e um diferencial que cristais e peças mais bem trabalhadas, não tem. (a imagem acima da Katita Jardim da loja Trem de Ferro em Belo Horizonte, mostra uma pratos e canecas esmaltadas com desenhos feito pela artesão Fabiana Natalino)
          Esse diferencial é a nostalgia, o laço sentimental e familiar que esses utensílios carregam, até mesmo por gerações.
          Em algumas famílias, esmaltados compõe herança familiar. São relíquias herdadas de pais, avós e bisavós, de alto valor sentimental, que os herdeiros guardam e preservam com muito carinho e dificilmente vendem.
          Isso porque seria como se fossem vender uma parte da vida de seus antepassados, uma parte de suas histórias.
Em Minas Gerais
          Em sua origem, o esmalte era usado pelos povos antigos para fazer pinturas nas peças, em cerâmica e metal. Na produção em larga escala predominava a cor branca, sem desenhos. (acima, uma chaleira esmaltada e com desenhos artísticos feitos por Fabiana Natalino de Espera Feliz MG, fotografada pela Katita Jardim da loja Trem de Ferro em Belo Horizonte)
          Essa prática de mais de 3 mil anos, está voltando aos esmaltados pelas mãos de nossos artistas, que colocam seus talentos na arte de pintar, em bules, chaleiras, pratos, copos e canecas.
          No caso de Minas Gerais, as pinturas nos utensílios esmaltados retratam o cotidiano do interior, a vida na roça, o mineirês e a simplicidade do povo mineiro. (na imagem acima e abaixo, canecas esmaltadas com escrita em mineirês e com direito a caixa personalizada, feita pela Thalyta Moreira/@amoreira_loja em Divinópolis MG)
          Os esmaltados são trabalhados com a arte mineira, com figuras de galinhas, ovos, vacas, carro de bois, fogão a lenha, cavalos, paisagens rurais, café no coador, flores, etc.
As canequinhas
 
          As charmosas canequinhas esmaltadas são as queridinhas, tanto para uso doméstico, quanto para a arte e decoração. Estão mais presentes no cotidiano da vida no interior e também, na vida dos que deixam sua terra natal, para viverem na cidade grande. (a imagem acima da Marluce Ferreira Barros, de Ipatinga, mostra a hora do cafezinho e sempre uma canequinha esmaltada está presente)
          Não tem um que não conheça, tenha em casa ou ao menos, usado um dia na vida uma canequinha esmaltada.
          Elas transmitem simplicidade, nos faz voltar ao tempo e reviver uma gostosa saudade da vida no interior, em família. É a lembrança da casa de vó, da infância, dos cafés da manhã e da tarde nas canequinhas. (na imagem acima, prato esmaltado com desenhos feitos pela artesã Daniela, registrado pela Katita Jardim da loja Trem de Ferro em Belo Horizonte)
          Os esmaltados antigos são difíceis de encontrar. Bem resistentes, pesados, mas charmosos. São relíquias de famílias, encontradas em casarões seculares e em antiquários, mas continuam sendo fabricadas e presentes em nossas casas.
          Tanto as canecas, como os bules, panelas, chaleiras, copos, são práticos, bem resistentes e até os dias de hoje, continuam a nos encantar e emocionar. Continuam ainda acessíveis a todas as camadas sociais sendo feitos em escala industrial.

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