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sábado, 17 de julho de 2021

A Região Queijeira Diamantina

(Por Arnaldo Silva) Minas Gerais conta atualmente com 11 microrregiões queijeiras, reconhecidas pelo Governo Mineiro, com várias queijarias nessas regiões, já regulamentadas, de acordo com as normais sanitárias da Seapa/MG e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
          As queijarias já regulamentadas, recebem o selo de Identidade Geográfica (IG) e o Selo Arte (SA), expedido expedidos pelos órgãos sanitários estaduais e federais. Isso permite a comercialização dos produtos em todo o Estado e também, em todo o Brasil. (fotografia acima de Giselle Oliveira)
          As regiões queijeiras mineiras, reconhecidas pelo Governo de Minas Gerais, como produtoras de queijos artesanais atualmente são: Canastra, Serro, Araxá, Serra do Salitre, Cerrado, Triângulo Mineiro, Campo das Vertentes, Serras da Ibitipoca, Mantiqueira de Minas, Entre Serras da Piedade e Diamantina. 
Regiões queijeiras reconhecidas em Minas
          São onze regiões queijeiras até o momento, tendo ainda outras regiões queijeiras em fase de estudos para serem caracterizadas como regiões queijeiras, para serem reconhecidas oficialmente pelo Estado e órgãos sanitários.. 
          A caracterização de uma região queijeira, indica que os queijos produzidos nessas regiões, passaram minuciosos estudos sobre suas origens e definições dos tipos de queijos que produzem. Os estudos para caracterização de uma região queijeira são feitos por órgãos governamentais, como Emater/MG e Ima.
          Uma microrregião para ser reconhecida como queijeira, produtora de Queijo Minas Artesanal (QMA), pelas autoridades sanitárias e governamentais, tem que comprovar que sua produção é totalmente artesanal, sem uso de maquinários industriais. E ainda, o queijo tem que ser feito com leite cru, pingo, coalho, casca, maturação natural e principalmente, tenha história e tradição familiar, passada por gerações.
Região Queijeira oficial
          Com a comprovação dos quesitos citados acima, Diamantina, (na foto acima de Elvira Nascimento), juntamente com os municípios de Felício dos Santos, Gouveia, Datas, Couto de Magalhães de Minas, Presidente Kubitschek, São Gonçalo do Rio Preto, Senador Modestino Gonçalves e Monjolos, no Vale do Jequitinhonha, foi reconhecida como região queijeira de Minas Gerais.
          Boa parte desses municípios, formavam, no século no XVIII, o então “Distrito Diamantino”, criado em 1734, com o objetivo de organizar a extração a extração do ouro e diamantes.
          O reconhecimento oficial foi anunciado em 29/03/2022, o que beneficiará, diretamente, cerca de 42 produtores d queijos desse região.
          Diamantina, bem como os outros 8 municípios que formam atualmente a região queijeira, vem resgatando nos últimos anos, a antiga tradição da região, na produção artesanal de queijos. E ainda, buscaram e conseguiram o reconhecimento, como  região queijeira.
Apoio da Emater   
          O processo de reconhecimento foi possível, graças ao empenho dos produtores de queijos da região, e principalmente, do escritório da Emater/MG, em Diamantina. (na foto acima da Giselle Oliveira, os queijos e o Mercado Velho de Diamantina)
          A estatal mineira fez o levantamento histórico, com fotos, fatos, depoimentos de moradores antigos, de famílias tradicionais na produção de queijos, bem como reunindo documentos que comprovam que o “Distrito Diamantino”, tem tradição secular e história na produção queijeira, em Minas Gerais.
          Com total apoio e assistência do escritório da Emater/MG, das equipes multidisciplinares da Unidade Regional de Diamantina e da Coordenação Estadual, entregaram um detalhado e minucioso estudo, para comprovar a tradição queijeira da cidade e região. 
          O documento foi encaminhado à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e  Abastecimento/Seapa/MG, que aprovou, por meio de portaria expedida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), o reconhecimento de Diamantina, como nova região queijeira de Minas Gerais. 
A base do estudo da Emater 
          O estudo elaborado pela equipe da Emater/MG de Diamantina, teve como base pesquisas sobre a história sobre a origem e tradição queijeira da região, com análises, entrevistas e depoimentos, bem como produções anteriores.
          Uma dessas produções foi o documento elaborado pelo Doutor José Newton Coelho Meneses, professor Associado do Departamento de História, da Universidade Federal de Minas Gerais. O documento chama-se: Queijo Minas Artesanal: Patrimônio Cultural do Brasil (Dossiê Interpretativo - volume 1, 2006). Esse documento foi base, para que o Instituto Histórico do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), reconhecesse, em 2008, o modo artesanal de produção dos queijos da Serra da Canastra, Serra do Salitre e do Serro, como patrimônio imaterial, do Brasil.
A tradição queijeira de Diamantina
          A ligação de Diamantina com queijos, vem desde a fundação do Arraial do Tijuco, em 1713, antigo nome de Diamantina. Na época, o Arraial do Tijuco, era subordinado à Comarca do Serro Frio. Diamantina se tornou cidade emancipada em 6 de março de 1831. Em 1999, foi declarada Patrimônio da Humanidade. (fotografia de Leandro Assis da Queijaria Soberana, com o Passadiço do Glória ao fundo) 
          Com a descoberta dos diamantes e outro em Diamantina, centenas de famílias portuguesas vieram para a região, recém povoada, obviamente, enfrentavam dificuldades em conseguir alimentos, principalmente, azeites, vinhos e queijos, iguarias muito apreciadas pelos portugueses.
          Com a crescente chegada de portugueses à região, trouxeram juntos, gado, galinha, porcos, sementes de plantas diversas, como de uva, oliveiras, arroz, trigo etc., para produção própria.
          Isso devido as dificuldades de encontrar alimentos nas terras recém descobertas e pelas dificuldades de trazer suas iguarias preferidas de Portugal.
          Dificuldades estas causadas pelas longas viagens de navios, da Europa, até o Brasil, bem como a distribuição das mercadorias a seus destinos, na chegada à colônia. 
          Isso, numa época em que o transporte de mercadorias, era feito em carros de bois e por tropeiros. As mercadorias levavam meses para chegarem aos seus destinos.
          Segundo informações presentes no estudo feito pelo escritório da Emater/MG em Diamantina, documentos comprovam a presença de gado bovino no antigo Arraial do Tijuco, nas primeiras décadas do século XVIII. Um desses documentos, datado de 1731, encontrado no Registro de Provisões, Patentes e Sesmarias da Comarca do Serro Frio, a qual o Arraial do Tijuco era subordinado, deixa claro a existência de gado leiteiro na região.
          Nos tempos do Brasil Colônia, queijo era artigo de luxo e caríssimo, fazendo parte, inclusive, de inventários e partilha de bens. Um desses exemplos, relatados no documento de autoria do professor José Newton Coelho Meneses, ocorreu em 1793, no arraial do Tijuco.
          Segundo consta no documento Interpretativo, Dona Anna Perpétua Marcelina da Fonseca, moradora do Arraial do Tijuco, após ficar viúva, incluiu no inventário do marido, bens que tinham e os que foram adquiridos, entre 1793 e 1796. Entre esses bens, grandes quantidades de queijos, curados.
          Outro fato curioso, relatado no documento do Interpretativo, de autoria do professor José Newton Coelho Meneses, envolvendo queijos na região, no século XVIII, relata a existência de queijos trufados.
          Não eram trufados com doces, chocolate ou frutas, e sim, com ouro e diamantes, por contrabandistas. Prática usada para burlar a rigorosa fiscalização da Coroa Portuguesa.
          Sabendo dessa prática, o representante da Coroa na região, o Conde de Valadares, determinou, em 1772, que todos os queijos que passassem pelos postos de fiscalização, chamados de registros de passagens, fossem todos furados pelos fiscais.
Reconhecimento como região queijeira
          Foi assim que Diamantina, na época, arraial do Tijuco, passou a produzir queijos de altitude, no século XVIII, uma das tradições da região, que permanece até os dias de hoje. Com quase 3 séculos de tradição queijeira, os queijos produzidos em Diamantina, adquiriram forma, corpo, textura, sabor e personalidade própria, passando a ser um tipo de queijo único e de características regionais inigualáveis, graças a altitude e seu modo artesanal preservados. São queijos de casca lavada e amarelada e inconfundíveis. (fotografia acima de Leandro Assis)
          O reconhecimento oficial, pelo Estado de Minas Gerais, através das autoridades sanitárias e governamentais, de Diamantina como região queijeira, vem coroar o esforço de várias gerações de famílias queijeiras da região, que preservam o modo artesanal de fazer queijos de altitude. É a valorização e reconhecimento da importância da região como uma das primeiras a produzirem queijos no Brasil.
          Além disso, toda a região será beneficiada com os queijos tendo denominação coletiva, maior valor agregado e atraindo turistas para conhecerem as queijarias, além de novos projetos de divulgação como a união dos produtores de queijos com os produtores de vinhos e cervejas artesanais. Pode surgir com isso a Rota dos Queijos, Vinhos e Cervejas da região, bem como uma festa única, unindo queijos, vinhos e cervejas. 
          Permitirá ainda que as queijarias da região se formalizem, podendo requisitar o selo de Identificação Geográfica (IG), expedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Nacional (INPI), além do Selo Arte, expedido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), que permitirá a comercialização dos produtos em todo o território nacional.

3 comentários:

  1. Parabéns a todos os produtores e aos que propagam está preciosidade mineira.

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  2. Tenho muita vontade de conhecer essas regioes queijeiras,eu amo tudo isso

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