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domingo, 21 de junho de 2020

A tradição dos tapetes Arraiolos de Diamantina

(Por Arnaldo Silva) No final do século XV para o início do século XVI, algumas comunidades do povo mouro, povo vindo do Norte da África, praticantes do Islamismo, viviam em Lisboa. Nesta cidade exerciam a arte de fazer tapetes, uma de suas das grandes vocações, já que os tapetes estão presentes constantemente no dia a dia dos povos islâmicos, que usam tapetes em suas orações e para suas refeições, já que boa parte comem assentados sobre tapetes, no chão.
          Fazer tapetes é uma das mais antigas artes do mundo. Em Portugal, chegou entre os séculos XV e XVII,pelas mãos dos Mouros, povos islâmicos que viviam no Norte da África e imigraram para a Europa, se instalando na Penísula Ibérica, Sicília, Malta e Parte da França. (fotos acima de tapetes Arraiolos de Diamantina MG)
Os Mouros em Portugal
          Dom Manuel I, o Venturoso (31/05/1469 – 4/12/1521), Rei de Portugal de 1495 até o dia de sua morte, ordenou a expulsão dos mouros de Lisboa, devido os conflitos com os cristãos. Expulsos, os mouros foram para a pequena vila portuguesa de Arraiolos, pertencente ao distrito de Évora, na região do Alentejo. Arraiolos conta hoje com cerca de 10 mil habitantes.           
          Os mouros continuaram a exercer o ofício de tapeceiros na pequena vila, tornando o lugar próspero e solidificando a técnica da produção de tapetes, se perpetuando de gerações a gerações. Hoje, os tapetes arraiolos estão incorporados à identidade cultural da Vila. O tapete passou a ter o nome da pequena vila, conhecido como Tapete Arraiolo, em todo o mundo. É uma das principais identidades de Portugal e um dos patrimônios do país lusitano. (na foto abaixo de Giselle Oliveira, tapetes feitos por Vânia Ponto do Arraiolo)
          São tapetes especiais, bordados com lã, tingidas em cores diferentes, sobre uma armação em tecido único de algodão, juta ou linho, muito resistente. Feitos de forma artesanal, esses tapetes são riquíssimos em detalhes. 
Características do tapete Arraiolo
           As características principais desse tapete são os desenhos feitos a partir de um ponto cruzado oblíquo, formado por duas meias cruzes, chamado de Ponto de Arraiolo. (imagem acima cedida por Adriano Van Vaar de Passa Tempo MG)
          É a partir desse ponto que os tapeceiros fazem os desenhos. Originalmente, os primeiros desenhos foram inspirados em figuras hispânicas, indianas e renascentistas. 
          São esses desenhos que dão cor e vida aos tapetes. Mesmo hoje, os desenhos originais são os tradicionais, existindo também, tapetes arraiolos, com desenhos com temas atuais. São tapetes especiais, finíssimos e únicos, cuja durabilidade é de ao menos 25 anos.
De Portugal para Diamantina: arte reconhecida
          O artesanato em tapetes Arraiolos é uma das fortes heranças deixadas pelos portugueses em Diamantina (na foto acima de Giselle Oliveira), cidade histórica mineira com 50 mil habitantes, a 300 km de Belo Horizonte, no Vale do Jequitinhonha. 
Arte portuguesa feita em Minas
          É uma das poucas cidades no mundo onde arte de fazer tapete Arraiolos é reconhecida por Portugal como autêntica. Arte esta já inserida nas tradições e representações folclóricas da região, na cultura, fazendo hoje parte da tradição popular mineira. 
          Uma arte de origem portuguesa, feita em Minas e reconhecida como autêntica, podendo os artesãos da cidade usar o nome Arraiolos em seus tapetes, já que a arte segue as tradições de confecção original. 
Heranças portuguesas em Diamantina
          Os portugueses que vieram para o Brasil introduziram boa parte de sua cultura, gastronomia, costumes e estilos arquitetônicos em Minas Gerais, tendo Diamantina recebida forte influência da cultura e gastronomia portuguesa, como por exemplo, na introdução de vinícolas na região no século 18. Antes mesmo da chegada dos imigrantes europeus no Sudeste e Sul do país no final do século 19 e início do século 20, responsáveis pela introdução da cultura vinícola no Brasil, o vinho já era produzido em Diamantina.  (foto acima de Elvira Nascimento)
          Ao longo dos séculos, os costumes portugueses transformaram Diamantina num dos principais centros culturais, religiosos, arquitetônicos, artísticos e gastronômicos do Brasil, com tradições dos tempos do Império preservadas e revividas.
          No caso do tapete arraiolos não foi bem assim. A técnica de fazer esse tipo de tapete não veio com os colonizadores que vieram para Minas e em especial, para Diamantina, no início da colonização, explorar nossas riquezas minerais. (foto abaixo da Giselle Oliveira, tapetes da Vânia Ponto do Arraiolo)
O começo da tradição          
          O começo foi em 15 de junho de 1975, já no século 20, graças à iniciativa do então arcebispo da época, Dom Geraldo de Proensa Sigaud, que convidou o casal de portugueses Milton D. Rosa e esposa para ensinar a arte de confeccionar tapetes para moradores da região, visando criar nova fonte de renda para famílias carentes do Vale do Jequitinhonha. (foto abaixo enviada pela Dirce da Assart/Diamantina)
          
A Igreja local foi toda envolvida no projeto, que chegou a abranger 30 localidades da região, envolvendo cerca de 2 mil pessoas, que aprenderam à tarde de fazer tapete Arraiolos com o casal português. Inicialmente, as aulas eram ministradas na Mitra Arquidiocesana de Diamantina e com o aumento do número de artesãos participando do projeto, foi constituída a Cooperativa Artesanal Regional de Diamantina e Região, em 1978, onde os cursos passaram a ser ministrados. Ao longo dos anos a atividade foi caindo, ficando algumas famílias preservando e exercendo a arte, passando os ensinamentos da arte de fazer tapetes para suas filhas, netas. 
          Algumas famílias deram prosseguimento e continuam até os dias de hoje fazendo tapetes, que em muitos casos, se tornou tradição de família. São hoje cerca de 500 tapeceiras espalhadas em cerca de 17 pontos do Vale do Jequitinhonha que estão tendo o apoio do Sebrae e outros órgãos para que a tradição seja resgatada e ampliada, apoiando as associações e cooperativas dos artesãos locais.
          O objetivo é fazer com que as pessoas mais jovens se interessem pela arte de bordar tapete Arraiolos. Por ser uma arte bem trabalhada, fina, resistente, tem bom preço no mercado, atrai turismo para as cidades e melhora em muito a renda familiar.
Tecnologia favorece o comércio dos tapetes
          A realidade de hoje é diferente de 40, 50 anos atrás quando começaram a fazer tapetes. Na época a única forma de vendas era local, restritas aos moradores da região e turistas que vinham à cidade. (na foto acima da Giselle Oliveira, tapetes da Vânia Ponto do Arraiolo)
          Hoje, com a popularização do celular e o alcance global que a internet proporciona, comercializar os trabalhos artesanais e outros produtos feitos em Minas se tornou mais fácil, principalmente com a consciência dos artesãos e artesãs em se unirem em associações e cooperativas, o que possibilitada divulgação dos trabalhos dos artesãos, bem como um alcance internacional das vendas e divulgação da arte dos tapetes e do artesanato mineiro em geral. 
          Os artesãos e artesãos de Diamantina estão organizados na Associação dos Artesão e Arte da Terra (ASSART), podendo serem contactos por e-mail:assart.diamantina@gmail.com ou pelo Instagram: @_assartdiamantina

5 comentários:

  1. Adorei a matéria! Viva a arte mineira👏👏👏

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  2. Como entro em contato com vocês e para ver os tapetes?

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  3. Vocês parcelam em quantas vezes, no cartão de crédito? Pretendo adquirir um no tamanho 3m X 2.50m, que não tenha vermelho e nem vinho,a não ser em pequenos detalhes. Aguardo retorno. Muito obrigada!!

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  4. Matéria espetacular! Parabéns! Minha avó morava em Diamantina e Conselheiro Mata e ela fez esses tapetes para as filhas, netas e até para a bisneta dela (minha filha); ela faleceu com 102 anos, em 05/11/2021. São lindos demais; valem o que custam! Obrigada!

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