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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A prática dos sepultamentos dentro das Igrejas

(Por Arnaldo Silva) Quem visita as cidades históricas mineiras, se depara com um fato curioso. Dentro das Igrejas e nas portas de suas entradas, tem sepulturas e ao lado ou atrás desses templos, um cemitério.
          Quem era sepultado dentro das igrejas ou nas suas portas de entradas, geralmente eram os religiosos mais fervorosos, os membros das irmandades e os que construíram as igrejas ou faziam grandes doações. O que significava um sinal de prestigio.
          A prioridade no sepultamento seguia essa ordem: padres, bispos e arcebispos tinham prioridade no sepultamento nos altares. Em seguida, dentro das igrejas ou nas portas de entradas, os que eram destaques dentro das irmandades religiosas e por fim quem tinha poder aquisitivo maior, que ajudava na construção do templo com doações e dinheiro. (na fotografia acima de Peterson Bruschi, cemitério da Igreja de São José em Ouro Preto MG)
          Quando já não cabia mais sepulturas dentro e nas portas de entradas das igrejas, eram sepultados no cemitério ao lado ou atrás das igrejas, como os demais membros. A única exceção eram os suicidas, cuja prática não era aceita pelos conceitos religiosos da época, portanto, não tinham direito de serem sepultados nem no cemitério nos fundos das igrejas. A família do suicida que providenciava o seu enterro, geralmente em lugares bem afastados.(na fotografia acima, de autoria de Thelmo Lins, mostra sepulturas de fiéis da Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Sabará. Cada número no chão da Igreja é uma sepultura)
          A prática de sepultar mortos dentro das igrejas pode ser observada, não só em Minas Gerais, bem como em todas as igrejas de cidades históricas do Brasil e do mundo. Era uma prática natural, desde o início do Cristianismo, há 2 mil anos. (na foto acima, de Arnaldo Silva, sepulturas na porta da Igreja de N. S. das Mercês e Perdões, em Ouro Preto MG) 
          Mas porque isso?  Porque acreditavam na época que, quanto mais próximo das igrejas eram sepultados, mais próximos dos santos estavam. Para garantir que seu ente querido estivesse bem, na presença dos santos, as famílias mais ricas construíam túmulos com características arquitetônicas similares às capelas com materiais de primeira qualidade. Mesmo as famílias mais simples, caprichavam nas lápides.
No início do século XIX começou a surgir as primeiras noções de higiene públicas difundida na Europa por médicos que diziam não ser higiênico sepultar mortos em locais públicos. porque os corpos em decomposição contaminam o ar, o subsolo e o lençol freático, causando doenças. A partir dessa informação, em 1810, a Igreja determinou a proibição de enterros dentro de seus templos e começaram a construir cemitérios mais afastados das Igrejas, prática que continua até os dias de hoje. (Quem vai a Ouro Preto MG percebe na chegada, um pouco distante da Igreja de São Francisco de Paula o cemitério e na entrada, essa placa fotografada por Arnaldo Silva).  
          No interior da Igreja de São Francisco de Paula, existem sepulturas e a prática continuou até a metade do século XIX, mesmo com a proibição da Igreja. Somente a partir de 1850, com maior assimilação da população sobre as novas noções públicas de higiene,  é que essa tradição foi definitivamente encerrada e os cemitérios, que antes eram vistos como locais de proximidade com os santos, passaram a ser vistos como locais de disseminação de doenças e quanto mais longe das cidades, melhor. Por isso que hoje, os cemitérios são bem afastados das cidades. 

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